ANGOLA – HUILA . O REINO DOS “CAMURÇOS”
Por
Dy - Dionísio de Sousa (Reis Vissapa)
Se havia algo que era um símbolo de convivência social naquele longínquo planalto da Huíla eram as vilas que rodeavam o Lubango e onde cresceu e morou tanta gente boa. As minhas raízes são “Chibienses” e “Huílanas” algo que me dá e sempre dará imenso orgulho. Eu e o meu primo Jinguba temos muita coisa para contar acerca dessas datas festivas, diria mesmo coisas do arco-da-velha. O encanto dos bailaricos era muito mais apelativo e vencia com facilidade qualquer resistência mais temerosa. Os recintos de festa eram todos irmãos gémeos em matéria de arquitectura e decoração desde a Bibala, Humpata, Chibia, Palanca, Caconda, Caluquembe, etc.
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De forma rectangular, telhado de capim e estrutura em madeira de aspecto rústico. A decoração também não fugia à regra com correntes de argolas de papel de seda partindo do centro e atravessando os salões em todas as direcções. Os bares com uma série de tábuas empoleiradas em barricas de vinho, faziam as vezes de balcão, uns tantos alguidares de cores garridas para lavar os copos com um camarada respeitável para servir a clientela. Na entrada para o recinto, estreita e única, estava outro cidadão cobrando uns patacos por uns bocadinhos de papel de cor indefinida a servir de senhas. Tudo de um encantamento invulgar; mesas dispostas ao redor da pista ornadas com jarrinhas com malmequeres silvestres.
O grande virtuosismo destas festas, eram as orquestras ou conjuntos dependendo do elitismo da comissão organizadora. As bandas eram compostas de músicos que de pai para filho, se foram dedicando à sanfona, bateria, violão e até ao violino ou trompete. Os microfones gemiam de dor fazendo ranger os dentes aos dançarinos. Após o um, dois e três os músicos, cada um para seu lado iniciavam com a marcha da Carmélia Alves sucedendo-se Luís Gonzaga num baião sertanejo. O “Calhambeque” do Roberto era apoteose total do pessoal acelerando nas Cucas e Nocais e o ambiente tornava-se demasiado volátil, propício à confusão; a nossa perna ousava-se entre as pernas das meninas num baião forrobodó. A marcha, não permitia muita aproximação aos “Maboques” das meninas, coisa chata. Por serem precedidos por jogos amigáveis do futebol da tarde entre “Nativos” e “Estrangeiros” do Lubango, era vulgar aparecerem no recinto umas carolas enfeitadas com ligaduras e não raro uns braços ao peito.
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- Porque raio é que o Mosca o nosso guarda-redes havia de se lembrar de atravessar o campo todo e marcar o décimo segundo golo aos Camurços? Onze zero já chegavam muito bem. – Comentou o Jinguba que tinha no cocuruto uma cicatriz de trinta e dois pontos fruto de uma pedrada de um fanático do Humpata Futebol Clube. Duma vez, a turba enfurecida atrás do autocarro arremessou tudo o que tinham à mão, desde o vulgar calhau, garrafas de Macieira vazias e até cadeiras; nesta feita, o Jinguba amolgou-se. Outra vez e, em Caconda onde cumpríamos o serviço militar foi agendado um jogo de futebol de salão entre os Magalas e os “ Nativos” escolhidos na rapaziada local. Um comerciante da terra e velho amigo dos meus tios fez questão de convidar a nossa equipe para uma almoçarada de leitão à moda da Bairrada. Uns Martinis de entrada e algumas garrafas de Cartaxo deixaram-nos maravilhados e gratos. Eu conhecendo histórias da “Peça” devia ter desconfiado de tanta gentileza. Estávamos a envergar o equipamento quando o Jinguba deu o toque a rebate borrando-se pelas pernas baixo e dando inicio a um corrupio geral às latrinas do quartel que acabaram por entupir com tanta caca. Claro que anémicos e desidratados levámos uma coça de seis a zero dos “Nativos de Caconda”.
Certo dia, sem nada de interesse no Lubango resolvemos ir ao arraial do “Reino dos Camurços”. Eu e o Jinguba montámos no meu Mini-Moke e lá fomos empinocados para a Humpata com camisinhas de botãozinho no colarinho e calças à boca-de-sino e claro,… Brilcream para sustentar as popas. O recinto estava praticamente vazio mas, havia uma quantidade aceitável de moçoilas que nos olharam com alguma cortezia. Tudo foi bem até o Nelson Ned começar a entoar no gira-discos, “ Tarde de Domingo”. Quando o romântico brasileiro se calou o descontentamento estava estampado no rosto dos velhos e das velhas que não tinham apreciado lá muito a nossa maneira de agarrar suas filhinhas, convenhamos com algum aperto. Fiz sinal ao Jinguba para irmos até ao bar e de caminho segredei-lhe que o ambiente estava pesado… pronuncio de desgraça.
Os bravos de Caluquembe
Nestes lugares, toda a gente é família… Um é primo de Beltrano que por sua vez é primo de Sicrano e por aí fora; por essa razão não é fácil arranjar aliados em tempo de fuga.
- Duas Cucas por favor. – Solicitou gentilmente o Jinguba, tendo presente na memória o azarado jogo de futebol. O cavalheiro de suíças longas, pele curtida e um farto bigode negro olhou-nos como se fossemos uma praga de salalé, enquanto retirava de uma celha apinhada de gelo as duas cervejas. Pespegou com elas na tábua do balcão com tanta força que foi um milagre não se estilhaçarem; este gesto ameaçador devia-nos ter alertado para encetarmos uma fuga a duzentos à hora. Quando o Jinguba em má hora pediu dois copos ao Humpatense e estes os colocou à nossa frente sujos de vinho, senti um arrepio na espinha - Mas esses estão sujos de vinho; reclamou à cautela o meu amigo - Estão quê? Eu já te dou os sujos. – Rosnou o Camurço. Não pensei duas vezes, larguei uma nota de cinco escudos no balcão e gritei ao Jinguba: – Foge que se faz tarde “mermão”. Acho que bati a milha até à porta estreita do recinto onde levei um pontapé nos fundilhos do primo do Bigodes. Abençoado Mini-Moke que não tem portas e onde entrámos de mergulho. O ponteiro bateu nos cento e oitenta a descer a serra.
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