TEMPOS PARA ESQUECER – 16.08.2016 - ANGOLA DA LUUA XIII
NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA … Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo - “Consolidação do poder popular” na Luua…
Por
(…) Naquele então, eu e minha mulher fomos da Caála a Nova Lisboa assistir a um espectáculo cultural para comemorar o Acordo de Alvor; também andávamos embalados na falsa genuinidade para ouvir o Zeca Afonso e o Rui Mingas no Estádio da Cidade Alta do Huambo (Nova Lisboa). Ao estado psicológico ainda não era mantido o desejo de ir para o M´puto ou outro qualquer lugar! Tinhamos combinado com uns compadres do Lobito que se as coisas piorassem iriamos em caravana para a africa do Sul (Via Namíbia). Eles foram e por lá ficaram tendo agora a nacionalidade Sul-africana.
O governo saído do Alvor foi empossado na presença dos três ministros do Colégio presidencial: Lopo do Nascimento pelo MPLA, José N´Dele pela UNITA e Jonny Eduardo pela FNLA. Estes tinham designações semelhantes às do governo do M´Puto. Em Luanda as FAP afanosamente apoiavam o MPLA em campanhas de politização e esclarecimento com o lema de “O povo é quem mais ordena” e outras lérias que ainda pareciam não o ser.
Vi estes guedelhudos do PREC mais tarde, talvez Fevereiro ou Março de 1975, dando lições de guerra aos kandengues pioneiros subtraídos às raivas e revelia dos pais. Sem disfarçar rua acima, rua abaixo, marchando por toda a cidade da Caála exibindo estandartes vermelhos e a bandeira do MPLA. Não me contaram, não! Eu vi! Eram jovens “chefes” militantes do PCP muito cheios de revolucionarismo, progressismo e outros ismos, com sotaque do M´Puto, axim-axim, lá seguiam dando ordens de manobras às armas de pau que levavam aos ombros! Esquerda, direita, em frete marche e, atirando pedras no jeito de quem atira granadas.
Em outra qualquer altura esta coisa de fingir teatro, seria caricata mas agora, dava para ver sustos próximos. As praças e ruas públicas eram agora os recintos de instrução a crianças de dez anos. Os guedelhudos eram na maioria estudantes brancos do M´Puto que passavam "ad hoc" assim “passagens administrativas” por seu trabalho cívico em angola.
Eram umas verdadeiras brigadas vermelhas ao serviço do MPLA. Recorde-se que o PCP controlava o ensino do M´Puto. Após a revolução de Abril e, tomando um exemplo, um desenhador fazendo este serviço num organismo de Estado, saia Arquitecto tendo feito um só ano de Universidade! Quem diz Arquitecto diz outra qualquer profissão! Agora estes, são no M´Puto chefes de Divisão…
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O MPLA fazia também politização popular sob o signo de “Consolidação do poder popular”. O estado psicológico era favorável às greves desenfreadas que sucediam por coisa quase nenhuma nem pretexto validado. Lá teria de ser, arrumar os tarecos, fazer caixotes e largar para a África do Sul, talvez! O MPLA com seus comités de acção reuniam a população junto a grandes armazéns e depois, dizia-lhes: “ Vão gamar”, roubar, capiangar.
Fizeram-no nas necessárias vezes no Mercado de São Paulo, Pérola do Minho, Armazéns Gajageira, Armazéns do Japão e outros: “Povo - levai tudo, tudo e vosso”. E, curioso ou nem tanto, os unimogues das NT (Nossas Tropas - portuguesas) eram usados no transporte do povo insurrecto a partir das Comissões de Bairro; depois saíam dali para sítio mais distante para não serem culpabilizados. Também usavam machimbombos da rede urbana da Luua que mandavam parar tendo queimado alguns por relutância do condutor.
Eu disse sim! Que usavam unimogues do exército português para levarem os populares afectos ao MPLA aos lugares dos roubos. Toda a gente que saiu de Luanda ou que por ali permaneceu depois do 11 de Novembro sabe que isto é verdade. O que aconteceu, embora ninguém fale sobre o assunto; uns querem branquear sua postura e outros, simplesmente não querem relembrar. É tempo de deixar de ensaboar as inverdades e episódios encobertos para não parecer mal aos mwangolés! A canalha dessa altura não merece condescendência. Desde então pouco mudou neste conceito.
No dia quatro de Fevereiro o MPLA celebrou em comício, mais um seu aniversário; foi no Campo de São Paulo com a presença do presidente Agostinho Neto. Do discurso deste só saiu desaforos com incentivo às paralisações, aos roubos, aos desacatos e outras aberrantes diabruras, coisa pouco comum de gente que se dizia um poeta de fina extirpe africana, que se pensava ser suficientemente civilizado para dizer coisas pouco dignas! Era o álcool que falava por ele dizia-se, talvez e, ainda droga para se estimular.
Nesse mesmo dia do comício com Neto quarenta autocarros, machimbombos das carreiras dos bairros da Luua foram queimados. Foi quase a totalidade da frota e, que originou a paralisação da Capital no transporte de pessoas para seus trabalhos. Luanda definhava a olhos vistos! Foi um soma e segue sem qualquer controlo por parte das autoridades legitimadas pelo Acordo o Alvor a que eu chamarei acordo de tuji! E, houve muitas mortes, principalmente de gente de fala Umbundo, naturais do Sul aonde eu me encontrava. Ainda hoje me parece impossível haver alguém a defender estes pulhas…
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Não vale a pena fazer uma descrição refinada dos muitos acontecimentos, prisões arbitrárias, das mortes, dos raptos e violações, porque só dar uma genérica visão revolta o mais sonso dos mortais. Os Comités de Bairro da Luua, gente do MPLA, ameaçavam escorraçar os “fenelas” de suas sedes e, também os da UNITA que sempre procuravam manter-se fora das situações, das muitas makas. Por este tempo os Movimentos disputavam entre si os quarteis abandonados pela FAP.
Havia constantes fricções, sitiavam-se mas, em verdade, as melhores instalações já tinham sido entregues ao MPLA, aos seus pioneiros fardados às pressas, gente vinda dos comités de bairro, gente sem qualquer preparação militar; rufias em verdade! Em meados de Fevereiro de 1975 a ELNA da FNLA seriam uns 11500 homens tendo no Zaire mais uns 6000. O MPLA tinha 13000 homens, a maior parte sem qualquer formação militar; A UNITA tinha 20000 estando 13000 destes em formação.
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Havia ainda a revolta do leste com 2000 efectivos bivacados no Moxico. Até aqui a UITA tinha-se mantido prudente de espírito conciliatória sem interferência nas altercações e com uma grande adesão por todo o sul de Angola mas depressa a intoxicação chegou a estes. Como que por simpatia as atitudes do MPLA e FNLA passaram a ser copiadas em actos provocatórios a cidadãos especialmente brancos e gente dedicada à superstição, bruxos e afins.
E as ameaças, insultos, agressões e intimidação com detenções ilegais e entrada abusiva em residências e comércios do mato registando-se saques e utilização injustificada de armas de fogo! Tudo isto se veio a verificar. A 12 e 13 de Fevereiro de 1975, Neto exortou os seus apoiantes a radicarem a revolta do leste sediada m Luanda. Nessas noites o “poder popular” com as FAPLA atacaram cinco instalações da Revolta de Chipenda e, foi com tudo: utilizaram granadas, metralhadoras ligeiras e lança-granadas. Sucedeu na Avenida do Brasil, Rua Rei D. Dinis e Casa Branca.
Foram os Dragões das NF que lhe deram a protecção necessária em sua retirada. Estava acabada a revolta de Chipenda na Luua! Houve cinco mortes do lado de Chipenda e quinze do MPLA; entre estes confirmava-se a morte de Valódia, o comandante responsável pelo cerco às sedes de Chipenda; o balanço foi de vinte mortes e bastantes feridos. Valódia de nome Joaquim Domingos Augusto, formado pela academia militar de Sarajevo e pertencente à coluna Cienfuegos, teve o seu funeral a 15 de Fevereiro de 1975.
(Continua…)
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