ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XV
- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… Crónica 3181 – 15.08.2021
-Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo não sendo “preto”… Afinal, não o era e, continuo “branco”… No meio do desespero, viria a confirmar-se o quanto era perigoso ter americanos como amigos…
P
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Na Avenida Brasil, que dá para o musseque Marçal, havia ali perto uma sede da FNLA; até era considerada uma das sedes mais importantes mas a “porrada” também ali chegou com toda a cagança de militares nervosos. Na Vila Alice o Chico, amigo meu e do Zorba, punha-se deitado na varanda da casa para gravar o tiroteio, entre a F.N.L.A. da Avenida Brasil, no Marçal e o M.P.L.A. no António José de Almeida na Vila Alice. Parecia uma guerra de brincar mas, no tempo o cheiro do sangue, as carrinhas que passavam com mortos para a morgue ou sei lá, para onde fizeram nosso miolo ter medo. Era esse o propósito. Mandar os brancos para o M´Puto.
Em Luanda, os combates começavam do nada com trocas de tiros de armas ligeiras entre a sede do MPLA e a da FNLA. A casa do Zorba chegou a ter 46 buracos de bala na parede do quarto do sexto andar. Um dia ele espreitou - eles nem sequer levantavam a cabeça para ver onde atiravam; era mesmo só àtoa levantavam a arma acima do muro e despejavam o carregador. Quem é que com raciocínio podia ficar indiferente a isto. Rosa Coutinho, Melo Antunes e toda a pandilha tinham congeminado isto muito bem. O medo vai fazê-los sai! Terão dito os filhos da peste…
Entretanto, nas horas daqueles dias a vida não valia um vintém; tudo ficava ao sabor da sorte. Nestas aflições sem controlo visível, surge a figura de Gonçalves Ribeiro batendo-se pela criação de estruturas àquela que se veio a chamar de “ponte aérea” e, que só se resolveu em pleno quando mais de cinco mil pessoas se juntaram no Largo fronteiro ao Cinema Miramar da Luua pedindo a todas as embaixadas que mandassem transportes aéreos ou marítimos a tirar-nos daquele inferno.
Um dia, a FNLA montou antiaéreas no terraço do prédio, e virou-as para baixo, em direcção à sede do MPLA. Avisaram o pessoal do prédio que era melhor ir embora, não se responsabilizavam pelo que pudesse acontecer e, a coisa aconteceu! E, lá foram embora, para casa de familiares que moravam no Maculussu. Quando o MPLA descobriu donde estavam, a maka recrudesceu com monacaxitos e o escambau! Tudo que tinham de destruir foi usado sem mais nem porquê.
No dia seguinte, Zorba, quando lá voltou, o apartamento já tinha sido atingido por um roquete. Nos dias seguintes, o prédio iria ficar completamente destruído. A FNLA desde algum tempo, mesmo antes da assinatura formal do cessar-fogo com o Exército português, havia metido muita gente na capital, vinda de Kinshasa - Quadros políticos e tropa que falava em francês com sotaque de bumbo dos matos. Não falavam português, e pelo comportamento, eram já donos do pedaço, arrogantes, mais parecendo um exército de ocupação. A coisa não lhes saiu bem; isto já foi parcialmente contado lá atrás nas mokandas mas, não é demais relembrar.
Mês da Independência – Novembro de 1975, e da invasão zairense ao Enclave de Cabinda. O MPLA proclama a República Popular de Angola, no antigo Largo Diogo Cão, bem à entrada do Porto de Luanda. A FNLA e UNITA unem-se no projecto da edificação da República Democrática de Angola (RDA), com a capital na antiga Nova Lisboa (Huambo). Ainda hoje, nas chancelarias internacionais analisam aquela Angola dividida fazendo comparação entre as Coreias do Norte e do Sul.
Teremos de recordar aqui de forma sucinta o que foi a “Ponte LUALIX” que veio a suceder com a supervisão de Gonçalves Ribeiro, o pai da ponte. A CIA dizia nesse então que Lisboa não tinha um suporte adequado no terreno que lhe permitisse evacuar mais de trezentos mil brancos ainda no território, nem para manter os voos no ar. Era verdade! Mas também havia aqui pressões para em troca da ajuda, Costa Gomes retirasse o vermelho Vasco Gonçalves do governo. E, foi isso que veio a acontecer!
Aquele antigo internado na casa dos malucos, sector militar de Luanda andava esbracejando demais naquele M´puto desvairado de liberdade - Um Tigre de papel! Mas, em verdade, os americanos não dão nada de borla, teria de haver algo na cartola do tio Sam. Jogaram uma rolha e Costa Gomes agarrou-se àquela bóia, pois então, dava jeito! Os retornados, foram em verdade, a moeda de troca; com um só porrete mataram dois coelhos como se diz! Portugal inundado de retornados anticomunistas, vinha mesmo a calhar nesta hora (…ano de 1975). E, o mundo observando estas manobras com o abutre Carlucci a dar palpites ao estado português através de Mário Soares e outros desclassificados diplomatas de cordel que iam ficando agraudados de poder e dinheiro, pois!...
P -Bom! Na N´Gola, as FAP já nem dispunham de bases aéreas para nos escoar; falo na primeira pessoa porque estava lá! Os confrontos permanentes entre todos os movimentos impediam o funcionamento dos aeródromos como o de São salvador, Cazombo, Maquela, Togo, Gago Coutinho, Cuíto Cuanavale e N´Riquita; Henrique de carvalho, Malange, N´Dalatando e Carmona já só tinham estruturas reduzidas, quase sem uso por falta de segurança e equipamento de apoio.
A RDA de Savimbi, falha. No dia da tomada de posse, Holden Roberto e alguns de seus convidados, entre os quais jornalistas e um elemento da embaixada americana em Kinshasa, levantam voo de Carmona (Uíge), rumo a Huambo aonde chegam ao início da noite. A pista do aeroporto estava às escuras. O avião sobrevoa várias vezes a cidade, mas Jonas Savimbi não permite que este aterre, mesmo sabendo que o aparelho podia não ter combustível para o regresso, com a agravante de não poder abastecer em nenhum outro aeroporto, já nesse então em áreas controladas pelos governamentais.
Este relatório que Holden Roberto descreveu mais tarde, poderia ter custado a vida a dezenas de pessoas. Assim, Jonas Savimbi, viria a proclamar sozinho, a República Democrática de Angola. Comentaristas, viriam a chamar a esta como sendo a República Negra Democrática de Angola. Poucos dias depois, a UNITA envolve-se em confrontos com os militares da FNLA ali estacionados, acabando por expulsá-los da Cidade do Huambo.
P - A invasão de Cabinda contou com a participação de mercenários franceses ao lado da FLEC – Frente de Libertação do Enclave de Cabinda, hoje dividida em várias facções e, segundo se consta, subsidiados por algumas companhias petrolíferas que operavam no Enclave e, um batalhão do exército zairense, portador de artilharia pesada. Os invasores foram combatidos e escorraçados pelas FAPLA do MPLA e cubanos, quando aqueles, estavam prestes a tomar a Cidade de Cabinda.
Estamos em Dezembro de 1975. Cuba desencadeia a “Operação Carlota” que fez desembarcar em Angola sete mil militares deste país caribenho. O Senado norte-americano aprovou a “Emenda Clark”, que impede ajuda militar dos Estados Unidos da América à UNITA e FNLA. Viria mais uma vez a confirmar-se o quanto era perigoso ter os americanos como amigos; eles, sempre viriam seus interesses confirmando-se “americanos, são os amigos mais perigosos que se pode ter” – assim foi!
3 Ilustrações de Pombinho ( assinaladas com P)
(Continua…)
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