ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XVIII
- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… FRACCIONISTAS DO 27 DE MAIO DE 1977
- Crónica 3188 – 03.09.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – A independência era para isto!? - Nós e os mwangolés…
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Em crónicas anteriores fiz referência à proclamação da Independência unilateral do MPLA do 11 de Novembro de 1975 como tendo sido no Largo Diogo Cão mas, em verdade, foi no início da Estrada de Catete, um largo com descampado bem perto do cinema Império e da antiga Escola Industrial de Luanda. Consultando um artigo de Gabriel García Márquez, extraído da 53ª edição da revista Tricontinental, de 1977, dá como início da primeira etapa da “Operação Carlota”, a cinco de Novembro, seis dias antes daquele pronunciamento por Agostinho Neto.
O autor Garcia Márquez, conclui com a derrota das forças que invadiram a nação angolana e o início da retirada gradual das tropas cubanas, em 1976, quando parecia que tudo tinha concluído. Contudo, tal como acordaram os presidentes Fidel Castro e Agostinho Neto, um número mínimo de tropas ficou em Angola para garantir sua soberania. A situação começou a complicar-se, e a luta se intensificou de novo, mais uma vez a África do Sul interveio, de maneira que se iniciou uma nova etapa da “Operação Carlota”, que concluiu só 14 anos depois, com a derrota definitiva dos sul-africanos e UNITA; o último soldado cubano retornou no mês de maio de 1991.
Numa declaração oficial, os Estados Unidos revelam a presença de tropas cubanas em Angola, em Novembro de 1975. Calculavam que tinham sido enviados cerca de 15 mil homens. Três meses depois, durante uma visita breve a Caracas, Henry Kissinger disse em particular ao presidente Carlos Andrés Pérez: “Parece que nossos serviços de informação estão muito deteriorados porque só soubemos que os cubanos iam para Angola quando já estavam lá mesmo”. Contudo, nessa ocasião corrigiu que a cifra enviada por Cuba era de 12 mil homens. Naquele momento em Angola havia muitos soldados, especialistas militares e técnicos civis cubanos, muito mais do que Henry Kissinger supunha.
O primeiro contingente era composto de 4.000 homens que aumentaram rápidamente para 18.000. Em 1976 já eram 36.000 e em 1988 já totalizavam 55.000 quando da Batalha de Cuíto Cuanavale, o maior confronto militar da Guerra Civil Angolana, ocorrido entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988. O local da batalha foi na região do Cuíto Cuanavale, província de Cuando-Cubango, onde se confrontaram os exércitos de Angola (FAPLA) e Cuba (FAR) contra a UNITA e o exército sul-africano. Foi a batalha mais prolongada que teve lugar no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial. Os cubanos saíram em 1991, enquanto a Guerra Civil Angolana teve continuidade até o ano de 2002. As baixas cubanas em Angola totalizaram cerca de 10.000 mortos, feridos ou desaparecidos.
A DISA, a polícia política da altura do chamado “28 de maio”, alusão ao período logo após o 27 do golpe, sob a direcção de Ludi Kissassunda e Onambwée, tendo como principais executantes António Carlos Silva, Carlos Jorge, Pitoco, Inácio Osvaldo, Eduardo Veloso, Norberto Castro Pereira, Margoso, José Maria, Manuel Carmelindo, José Vale, Nascimento, Domingos Cadete, Victor Jeitoeira, Cristian André, José Baião, João e Henrique Beirão, Zeca França, José Baião, Júlio Rasgado, Miguel de Carvalho, entre outros, prende, tortura e mata sem qualquer controlo.
As cadeias ficam sobrelotadas; os presos são alvo de todo o tipo de sevícias: espancamentos com martelos, paus, barras de ferro, soqueiras, cintos, chicote, pedaços de mangueira cheios de areia, mesas, bancos, cadeiras, bancos; violentamente amarrados com os braços atrás das costas até perdem a sensibilidade dos braços e mãos; suspensos e deixados cair no chão, com os braços e as pernas amarradas; queimados com pontas acesas de cigarros, também um torniquete colocado na cabeça e, que à medida que é apertado, causa fortíssimas dores e a perda de consciência; choques eléctricos nos genitais, etc, etc… A imaginação dos algozes não tinha limites em sua bestialidade. O sangue corre às golfadas como um mar, os gritos de dor dos seviciados são insuportáveis…
Ainda do relatório da Amnistia Internacional: - “ Segundo prisioneiros que foram enviados para um campo de “reeducação” em Calunda na Província do Moxico, muitos outros prisioneiros foram sumariamente executados, morreram à fome ou foram alvejados ao tentarem fugir – tiro ao alvo, dizem. A última execução em massa de pessoas presas em conexão com a tentativa de golpe e, que foi pelo menos, de 15 pessoas, terá ocorrido a 23 de Março de 1978. Alguns dos prisioneiros foram condenados à morte ou à prisão por um tribunal especial, mas nenhum foi submetido a nada que se assemelhasse a um julgamento imparcial.”
O governo angolano negou alegações feitas em carta aberta por um partido politico, de que 30 mil pessoas haviam desaparecido durante os anos de 77 e 78, em consequência da Revolta dos Fraccionistas. Limitou-se a admitir “excessos” declarando compartilhar “ a legitima preocupação dos familiares das vítimas, interessadas em saber o que acontecera aos seus parentes”. O governo angolano disse ainda que talvez fosse criada uma comissão para tratar do assunto”. Em realidade, nada foi feito e, as indicações posteriores de gente desgarrada do processo e, despeitada com seus superiores, declarou no exílio da diáspora, aquele número ser de 80 mil…
Ainda no ano de 1978, os rodesianos fizeram um ataque ao campo de refugiados da ZAPU de Joshua N´Komo, em Boma, Sul de Luena, onde foram massacradas centena de pessoas. Em um ataque ao Lubango no ano de 1979, por bombardeamento feito pelos sul-africanos, morrem 612 pessoas. Este foi também o ano do “massacre de Cassinga” quando militares sul-africanos atacam um campo de refugiados namibianos, chacinando 1.200 pessoas; e da morte, em Moscovo , de Agostinho Neto, cujo corpo regressa embalsamado a Luanda. Na exéquias fúnebres, em quase histeria colectiva as pessoas gritam “mataram nosso Netinho”. Referiam-se aos soviéticos, mas a verdade é que Neto sofria de incurável cancro de fígado por via de tanto “chivas regal” – implodiu por dentro, simplesmente!…
Na presidência de Angola, sucede o eng.º José Eduardo dos Santos, nascido no musseque Sambizanga, de pai pedreiro e mãe doméstica, foi aluno do Liceu Salvador Correia de Sá. Formou-se em engenharia de petróleos em Baku, ex-URSS, sendo a princípio contestado pelos radicais do MPLA, especialmente por ter decidido congelar todos os processos de condenações à morte; posteriormente aboliu a pena de morte em Angola. Sabe-se sim, por via de muitas denúncias que sofisticaram a forma de eliminar inimigos ou gente inconveniente com venenos de sofisticada elaboração entre outras formas dissimuladas… Entretanto a guerra continua com a UNITA fixada na Jamba – Cuando / Cubango…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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