TEMPOS PARA ESQUECER – 01.09.2016 - ANGOLA DA LUUA XVIII. NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA. … Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo. Nossa cabeça já não estava segura de nada…
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(…) O relatório da CCPA de Abril de 1975 dizia claramente que se deveria impedir por todos os meios fazer chegar ao poder a FNLA e que se deveria privilegiar um acordo entre a UNITA e o MPLA. Este relatório vincava nitidamente o MPLA como sendo o representante legitimo das forças progressistas angolanas e, que Portugal deveria dar colaboração total a este movimento. Deduzia-se que Savimbi não estava disposto a ser muleta de Neto e este por sua vez, não abdicava de vir a ser o futuro presidente de Angola.
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Sugeria-se nesta fase que Savimbi tivesse um lugar de relevo na hierarquia do novo estado mas, a virulência marxista de Neto, Lúcio Lara e Nito Alves discordavam disto! Com Angola paralisada, géneros a escassear, desordem generalizada, hospitais regionais sem médicos e poucos enfermeiros classificados e escolas sem funcionamento, levava a ninguém entender do porquê chegar-se a isto e, sem perceber o que fazer no outro dia que viria sem volta nem reviravolta para melhor; só revolução!
No Sul, víamos passar caravanas de carros e carrinhas apinhadas a caminho do Sul, da Namíbia. Um destes dias teremos de seguir este rumo, dizia eu! Mas, fui ficando tentando gerir procedimentos no Comité da Caála! Não pensava sair de Angola e a UNITA era o partido mais consensual, aquele por quem mais tinha preferência. Nesta altura era eu um quadro civil da UNITA passando de Secretario de Informação Propaganda em uma inicial formação para Secretário de Relações Públicas. Recordo aqui outros membros tais como Liuanhica, Caputo, Alfredo, Jorge enfermeiro, Maria de Lurdes funcionária do Município, Kalakata (militar) e Camundongo funcionário da JAE que era o Presidente.
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Nossa cabeça já não estava segura de nada. A incerteza era a única coisa certa! Os pioneiros do MPLA marchavam pelas ruas da Caála com paus fingindo armas e capitaneados por uns recém-chegados branquelas, besugos do M´Puto. Falando axim com Karl Marx e Lénine Staline na cabeça, respiravam revolução dos pés às guedelhas. Estes personagens saídos do nada eram estudantes do M´Puto que aqui vinham somar pontos para seus curriculuns nas passagens administrativas das Universidades do M´Puto na mão de comunistas; Militantes do PCP e MDP.CDE ao cuidado do PREC e, aqui colocados ao serviço do MPLA.
Nós interrogávamo-nos uns aos outros mas sempre ficávamos sem resposta! O medo entrava paulatinamente em nossos sentidos. Os militares de brincadeira ensaiavam, emboscavam-se por detrás dos muros das nossas casas, empunhavam armas de fingir e de passo certo seguiam as instruções do guedelhudo, esquerda, direita, esquerda direita e lá iam gritando a vitória é certa com vivas ao MPLA; Aqueles rapazolas guedelhudos estavam a cumprir com um serviço cívico e nós nem o sabíamos… Tudo era um segredo! Mas, duvido que o CCPA não o soubesse. Isto, vinha do Bureau Politico do MPLA com instruções do Rosa Vermelho Almirante da Tuji…
Entretanto no M´Puto o lema era "a terra a quem a trabalha". Na Rádio Renascença os trabalhadores avançam para a greve. O Conselho de Estado fazia reuniões atrás de reuniões. A bem do povo e em nome da Junta de Salvação Nacional e do MFA, o almirante Rosa Coutinho, ligado ao PCP, aparece aos conselheiros de Estado, civis e militares, a sugerir legislação revolucionária. Qual? "Que o MFA não seja a expressão de um simples levantamento militar".
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"Entre as propostas levadas a discussão estava um diploma que permitia prender pessoas acusadas de sabotagem económica ou de não estarem com a revolução", Freitas do Amaral é mencionado nesse então. Passa já das quatro horas de 9 de Fevereiro, quando os conselheiros se manifestam. Os militares põem-se ao lado de Rosa Coutinho. Os civis, a maioria com formação jurídica, colocam-se na trincheira inimiga. Freitas do Amaral, Isabel Magalhães Collaço, Azeredo Perdigão, Henrique de Barros e Ruy Luís Gomes rejeitam o documento do almirante. Não havia volta a dar, gera-se enorme burburinho.
Os militares estão furiosos. Sem ninguém esperar, o spinolista Carlos Fabião mete-se também a deambular: "Parar é morrer. Não há revolução sem leis revolucionárias." Os civis moderados nem querem acreditar. De igual modo, o almirante Pinheiro de Azevedo que não lidava bem com aquela revolução, em tom jocoso levanta-se, esbraceja. "Os Srs. conselheiros civis assinaram a sua sentença de morte! Puseram em causa a Revolução!" Na imprensa, na televisão e na rádio destacam-se notícias denunciando a sabotagem económica, a fuga de capitais para o estrangeiro.
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O Presidente da República anuncia para 12 de Abril eleições para a Assembleia Constituinte. Os partidos à direita do PCP suspiram de alívio; pura inocência. O curso da Revolução seguiria mesmo em diante mas o vice-presidente da CE de visita a Portugal comenta a Vitor Alves considerado um militar moderado: "É necessário ter muita coragem para viver em Portugal". No entanto a adesão à Europa atravessava-se já à frente dos portugueses.
A milhares de quilómetros de distância dali, em Luanda, rebenta um conflito armado envolvendo o MPLA. Bom, quanto mais avança a Revolução maiores as conjecturas à sua volta. Os boatos crescem de tom. Na atmosfera, pesa a conspiração, os capitães ouvem falar na contra-revolução. Do Brasil chegam capitais portugueses, ajudando ao parto do MDLP, organização de direita onde figura o nome de António Spínola.
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Em Coina do M´Puto é ocupada uma quinta, cujo destino final será a integração na Cooperativa Estrela Vermelha. O segredo é agora de polichinelo: o MDLP prepara um golpe militar, com a colaboração da guarda de Belém. Vasco Gonçalves, Melo Antunes, Rosa Coutinho, Pinho Freire, Pereira Pinto, Almada Contreiras, Costa Martins e Vasco Lourenço encontram-se com os líderes dos partidos para discutir a institucionalização do MFA. Entre os civis reina pouca convicção.
Entretanto Vasco Gonçalves, comporta-se como se existisse apenas uma parte da nação, mas fala de alma e coração. "Não estamos interessados em voltar atrás nem o MFA o permitirá". Hostil aos capitalistas, a este respeito actuava sem duplicidade, continua: "A nova constituição não pode ir contra as conquistas que o MFA e as forças progressistas em Portugal já garantiram ao povo português."
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No M´Puto Angola era coisa pouco falada, havia sempre outros compromissos; Angola era um caso menor! Havia que fortalecer os principios de Abril. Lá na minha rua distante duma pequena cidade chamada de Caála os pioneiros iam sendo substituídos por outros militares e, estes já carregavam kalashnikoves G3 e outras indistintas armas de repetição. Mostravam os frisos de balas postas em diagonal pelo corpo exibindo sua petulante forma de valentia; nem sabiam eles, que assim eram usados para amedrontar! E, amedrontavam mesmo!
(Continua…)
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