TEMPOS PARA ESQUECER – 11.10.2016 - ANGOLA DA LUUA XXII. NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA.
… Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo. A 10 de Julho de 1975 o tiroteio alastra aos bairros da lixeira, Cuca e Cazenga com metralhadoras pesadas…
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(…) Entre os brancos, o novo acordo de Nakuru era mesmo para meter no lixo! Havia um generalizado desinteresse; não depositavam fé nos Movimentos nem na promoção da paz no território angolano. As passagens para o Brasil e Lisboa estavam esgotadas. Os prazos de retirada estabelecidos no Acordo de Alvor eram antecipados; um acordo que só a parte portuguesa fez cumprir com as variantes conhecidas na ajuda ao MPLA com armas, homens, armamento e logística.
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Nas três primeiras semanas de Junho a FNLA e MPLA tinham aprisionado mais de duzentas pessoas, a maioria brancos, nalguns casos com seus familiares. Os edifícios públicos eram simplesmente ocupados pelos Movimentos; coisa sem lei nem roque! A cintura à volta de Luanda erguida pelo MPLA era uma realidade! E, tinha gente treinada na Metrópole propositadamente preparada para fazer parte deste MPLA; militares pagos pelo M´Puto e inteiramente destacados naquele Movimento como se dele fossem, com fardamento próprio do MPLA. Ainda ninguém trouxe isto às claras porque o sigilo estava por demais resguardado e, só alguns oficiais o sabiam.
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Nakuru era folha morta! “Numa situação de guerra em Angola, como e a quem se ia entregar a sua governação?”. – Era o próprio Silva Cardoso, Alto-Comissário, que se interrogava falando baixinho para que os demais ouvissem. Neto reclamava a saída deste! Ele queria que assim fosse e, isto era o bastante! A maioria dos oficiais portugueses andava a assobiar ao vento! Triste ironia desta nítida má-fé e, de quem ainda anda por aí recebendo benesses e até medalhas de bom comportamento.
O golpe de misericórdia à FNLA foi dado a quatro de Julho de 1975 com a batalha de Luanda em que foram usadas de forma continua armas pesadas. A violência, a morte, o saque, a tortura física e a justiça privada foram os factores de realce nas áreas envolvidas nas confrontações. Foi neste então que o MPLA obteve a hegemonia absoluta na capital.
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Na manhã do dia Dez de Julho o tiroteio alastra aos bairros da lixeira, Cuca e Cazenga com metralhadoras pesadas, canhões sem recuo, morteiros de médio e longo alcance, granadas-foguetes LGF. O tiroteio alastra também para a Avenida Brasil e Bairros do Rangel, Marçal, Adriano Moreira e Vila Alice. A guerra chega ao asfalto! As FMM (Forças Conjuntas) receberam ordens para abater todo o civil encontrado com armas de guerra em sua posse.
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Havia atiradores furtivos situados em edifícios altos alvejando quem passava na estrada de Catete e outras vias urbanas consideradas estratégicas. Coisa absurda mas premeditada, foi a entrada em guerra dos profissionais de saúde do Hospital Maria Pia. O Hospital Militar estava absolutamente lotado. Confirmava-se o poderio crescente do MPLA com a surpreendente e generalizada fraqueza da FNLA.
Foi além do mais com todo o poderio bélico uma conquista pela força da liamba; a grande maioria dos homens do MPLA, consumiam disto sem controlo! Eram todos Rambos no meio de tanta fumaça encorajadora. Tudo valia! Andava tudo ébrio com o espírito conturbado de doideira feita coragem. A população sentia um sentimento de insegurança, coisa nunca vista antes do “vinticinco” e, não eram só os brancos, não! Até porque a grande mortandade foi entre a etnia negra.
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O Ministro do Governo de Coligação José N´Dele disse apreensivo a Silva Cardoso que depois do MPLA forçar a saída do FNLA da Luua, não tinha duvidas que se lhe seguiria o seu Movimento; o da UNITA. A Dez e Onze de Julho de 1975 a intensidade de fogo aumentou, dizem ter sido maior que no desembarque de Nurembergue quando da segunda guerra mundial.
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As NF em Luanda recusavam-se a pôr termo aos combates dando livre curso às pretensões do MPLA. A FNLA denuncia em Paris que nos recontros recentes de Luanda tinha havido intervenção directa de alguns oficiais portugueses a favor do MPLA. A CND - Comissão Nacional de Descolonização, já não tinha quórum para reunir. Dois blindados do MPLA foram vistos na Quinta Avenida, perto do Cazenga. Nestes dias, a fase triunfalista do MPLA atingiu seu máximo na Base Aérea nº 9.
Naquela Base eram acolhidos os habitantes do Bairro Prenda enquanto o MPLA atacava a Delegação da FNLA que acabou por ser destruída. Havia uma nítida coordenação entre os populares desalojados e a actuaçâo dos militares. Os desatentos ou alheios caiam no fogo cruzado. Silva Cardoso, duas semanas após o acordo de Nakuru referia: - Que não evocassem o Alvor “para responsabilizar a parte portuguesa”. Bom! Também aqui e agora que são passados mais de 41 anos, dá para rir ou fazer muxoxo destas afirmações.
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É neste então, curiosa a atitude que o MPLA que, criando graves problemas, costurando e bordando do seu jeito, continuava a querer que fossem os portugueses a resolvê-los. Não dava para ter um pingo de credibilidade nesta gente de Túji! Enquanto isto no M´Puto, em Rio Maior é assaltada e destruída a sede local do PCP. Foi aqui que se deu o início da escalada anticomunista do “Verão Quente”. Entretanto Otelo saraiva ia a Cuba tratar da nossa saúde: os brancos de Angola, pois claro! No regresso da sua viagem a Cuba declara: “Mário Soares é uma das esperanças da direita em Portugal (…) O CR não mostrou a eficácia que todos esperávamos.” Isto tinha água no bico!...
A 18 de Julho a Assembleia Extraordinária do MFA discute a proposta do CR de estabelecimento de um Directório (Triunvirato) constituído por Costa Gomes, Vasco Gonçalves e Otelo Saraiva de Carvalho, encarregado de “definir uma orientação política e ao qual seriam dados amplos poderes, mantendo-se o CR, do qual aqueles também faziam parte, para decidir os assuntos de maior responsabilidade”. Ainda bem que tudo isto, só ficou no papel!
(Continua…)
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