ANGOLA DA LUUA XLVIII - TEMPOS PARA ESQUECER – 17.03.2019
Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, sentado na praia de Pajuçara, ouvi um sussurro de voz: -Ainda contínuas de pé!?… Era Tiago Rebelo, o autor do “Último ano na Luua”.
- Estava a pensar em ti, disse-lhe numa sobressaltada estranheza…
Por
T´Chingange – No Nordeste do Brasil
Tiago Rebelo é o autor “ de “O Último Ano em Luanda”. Efectivamente pensava em publicar o epílogo de seu livro em BOOKTIQUE e, assim terá de ser por via deste desassossegado encontro mas, desta feita inserido nesta MOKANDA. Olhando as cordas de chuva a despejar no horizonte azul pensei: - É estranho pensar, de que nunca fomos os donos daquela rua, daquela cidade, daquele bairro, daquele país! Pois! Quem ouvisse os discursos de Agostinho Neto ou um qualquer quadro de destaque do MPLA, verificaria sem esforço no prevalecer das palavras de ódio contra os brancos, ovambos ou afectos à UNITA.
Também é estranho que todos se virem para o outro lado (até o presidente de todos os portugueses), peidando completamente à vontade esquecimentos profundamente adormecidos. Um mundo de sonâmbulos que só falam a dormir! Antes de se escafeder, ainda lhe disse: - O teu romance da Luua é muito real, vou ter de copiar teu epílogo porque a dizê-lo eu, seria igualito ao teu! Foi quando uma abelha escura esvoaçou em frente ao meu nariz deixando um cheiro a áfrica, um misto de formiga cadáver com lavanda (só poderia ser o Tiago).
NOITE DO ÚLTIMO DIA EM LUANDA NO ANO DE 1975: - Estão todos presos – ouviu o comandante das FAPLA dizer: - Não estão nada presos – retorquiu Antero, adoptando um tom autoritário logo a abrir as hostilidades. – Eles são portugueses e vêm comigo para bordo. – Quem disse? – Assanhou-se o comandante (um antigo cabo refractário do exército tuga). – Digo eu, que sou capitão do exército português. – Você já não manda nada aqui.
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- Mando, mando. A Independência só entra em vigor à meia-noite. Até lá, o senhor vai libertar estas pessoas e ordenar aos seus homens que se retirem desta base. Estamos entendidos? Não estavam. Formalmente, Antero teria razão, mas na prática o comandante das FAPLA tinha as suas ordens e elas eram muito específicas no que se referia a ocupar a base naval que os portugueses haviam abandonado.
O ronco profundo e cavernoso dos motores do NIASSA fez-se ouvir minutos antes da meia-noite daquele onze de Novembro. Levantava ferro. Nuno recolhera à enfermaria do navio assim que embarcara, mas depois insistira em subir ao convés para assistir à partida e ver Luanda pela última vez. Agora, ali estava em silêncio, um braço por cima os ombros de Regina, uma mão apoiada na amurada. A frota seguiu para norte em comboio. Ao bater da meia-noite, o céu de Luanda iluminou-se com as balas tracejantes que festejavam a independência de Angola.
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Mais a norte, nas margens do rio Bengo, em Quifangondo, os fogos das armas pesadas era a sério. Nuno e Regina testemunharam a batalha na linha da frente, vendo o céu iluminar-se com explosões no horizonte, como se fosse uma noite de trovoada. Silva Cardoso tinha-se sentido impotente para resolver os últimos acontecimentos; seus subordinados estavam de mãos dadas com o MPLA. Tudo continuaria a ser assim… Nuno desviou os olhos para Regina e viu o rosto dela iluminar-se com os clarões, também mantinha sim, um sorriso agradecido. Estamos vivos!
Naquele mês de Novembro, o MPLA venceu a batalha de Luanda e, com a logística militar portuguesa e dados do reconhecimento terrestres e fornecimento de armamento pesado, com a ajuda das topas cubanas e o apoio bélico da União Soviética, neutralizou a FNLA e empurrou as topas sul-africanas e zairenses para fora de Angola.
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Durante décadas, o regime de partido único manteve-se no poder, sobrevivendo até aos dias de hoje a um golpe de Estado e a uma mortífera guerra civil travada com a UNITA, a qual acabaria em Fevereiro de 2002 com a eliminação física do seu presidente, Jonas Savimbi (Sua localização foi denunciada por via de utilização de um sofisticado celular ofertado por seus amigos americanos…).
Para a estória, ficaram anos de combates, as negociações de paz mal resolvidas (a preceito de Portugal, diga-se) e as eleições patrocinadas por mediadores internacionais, cujos resultados pouco ou nada valeram para acabar com o conflito armado. Lembro-me bem, em Muquitixe já tinha visto as estrias duma kalashnikov! E o soldado ébrio segurando a arma de forma desajeitada deu-me o alerta final! Vai-te embora branco… Esta não é a tua terra! E quem vai dizer o contrário com um canhangulo nos olhos…
A maior vitima dos erros da descolonização conduzida com leviandade pelos responsáveis portugueses, da intervenção militar de potências mundiais e regionais a pedido de Portugal e, finalmente, do egoísmo inveterado dos governos angolanos, foi sempre o povo, o qual, com guerra ou sem guerra, continua a soçobrar numa miséria e numa violência nunca vistas nos quase quinhentos anos de soberania portuguesa em Angola. O Niassa e o Uíge, acabaram por virar ferro velho, vendidos a peso pelo preço de saldo - muitas vidas, uma faustosa desilusão.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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