TEMPOS PARA ESQUECER - 02.01.2016 - ANGOLA DA LUUA XXVII.
NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA. “Vai para a tua terra, branco” era o que mais se ouvia na Luua de 74/75… Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo…
Por
T´Chingange - (Otchingandji)
A retirada do General Silva Cardoso do posto de Alto-Comissário sem o prévio conhecimento à FNLA e UNITA e, com atitudes obscuras em benefício do MPLA levou Jonas Savimbi a reclamar. Sob protesto, anunciou que não teria mais contactos com as autoridades portuguesas empossando José N´Dele destas atribuições. O MPLA, na manhã do dia 7 de Agosto, com as suas FAPLAS atacam a delegação da UNITA na Avenida dos Combatentes. O ataque ao Pica-Pau da UNITA já tinha acontecido.
As FALA (exército da UNITA) abandonam ao longo deste dia sete todas as instalações recolhendo-se junto dos quarteis do exército português de onde seriam evacuados para o Luso e Nova Lisboa. Nas escolas os alunos comentavam de forma propositada para os professores ouvirem: “ branco vai para a tua terra”; “a casa do professor é nossa”; “o carro do professor é nosso” e, por aí! Um pouco assim e por todo o lado!
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Nos três últimos meses tinha morrido mais gente do que em 14 anos de guerra colonial; algo nada lisonjeiro para os novos nacionalistas Neto, Savimbi e Holdem com responsabilidades acrescidas para os vendilhões militares de Abril do M´Puto de mãos dada com o poeta ébrio Neto. A FNLA e o MPLA colocavam armas pesadas no topo dos edifícios. O MPLA praticava acções simultâneas e concertadas em Luanda, N´Dalatando e Malange criado zonas tampões nas quais ninguém podia sair ou entrar.
Os Angolanos de etnia negra, não estavam a mostrar em sua esmagadora maioria dignidade pela oferta recebida; não eram merecedores de apreço das pessoas de bom senso; todos andávamos desapontados sem saber o que fazer tal como o kissonde quando é disperso em sua linha, carreiro de vida. Os brancos protestavam; queriam sair de angola da forma possível!
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Também nos quartéis do M´Puto as notícias são de boatos de golpes e contragolpes; as secretas: alemã, francesa a CIA e o KGB convivem entre os portugueses, assistem ao levantar de punho incitados por Vasco Gonçalves e animados pela pandilha de Mário Soares e outros que a história terá de lembrar.
Na Luua (Luanda), no dia 4 de Junho, as FAPLA bombardeia a Delegação da UNITA no Bairro Pica Pau (Comité da Paz). Morreram todos os seus ocupantes! E, foi com tudo! Lança granadas, metralhadoras pesadas e ligeiras. No Pica-pau esquartejaram e arrastaram corpos vertendo sangue no asfalto (mais de 200 jovens pioneiros da UNITA). O MPLA não queria em Luanda nem fenelas nem kwachas nem gwetas (brancos)!
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A UNITA estava também a ser erradicada da Luua. Quem ouvisse os discursos de Agostinho Neto ou um qualquer quadro de destaque do MPLA, verificaria sem esforço no prevalecer das palavras de ódio contra os brancos, ovambos ou afectos à UNITA, gente do norte afecta à FNLA e gente ligada à FLEC de Cabinda. Angola era só para eles, os kazukuteiros feitos heróis. Silva Cardoso sentia-se impotente para resolver estes ataques que tinham o acordo de seus subordinados Tugas de mãos dadas com o MPLA. Só lhe restava pedir a demissão porque estava permanentemente a ser traido! E, isto aconteceu!
A FNLA estava a revelar-se ser um “tigre de papel”; fugiam ao primeiro tiro, largavam armas e de forma desordenada desapreciam a receber protecção nos quartéis portugueses. Eram como crianças crescidas que com uma arma na mão faziam coisas diabólicas, matando gente como quem mata galinhas; gente nada confiável!
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Neste dia sete de Agosto e pelas dez horas da noite eu e família, dois filhos, mulher e sogra embarcávamos no voo 13 da “ponte” como desalojados via LIX. Tinha recebido a minha dose em Kaluquembe; meu carro tinha sido sabotado no dia anterior e a caminho do Sul, Namacunde, aonde tinha um cunhado.
Meu carro, do nada, incendiou-se, alguém tiha feito um golpe no tubo de alimentação ao motor. Capotou e eu, ali fiquei morto, estendido. Minha alma saiu do corpo e voltou fracturada. A clavícula estava partida. Foi o Drs Roy e David Parsom do Longonjo que me tratou. Neste então eu pertencia ao Comité da Caála como Secretário de Relações Públicas. Não me arrependo do que fiz enquanto fiz! Até então tudo estava sob controlo naquele recanto do Huambo.
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Em Lisboa os funcionários da Cruz vermelha e afins dão-nos as boas vindas: “por causa destes ranhosos estamos aqui neste castigo” acabando por nos dar 5000 escudos por adulto e, para as primeiras impressões! A guia de voo ainda a tenho - nela não consta o regresso! Esta era a definitiva entrada num território até então longínquo. A minha capital da N´Gola e na Luua era, sempre tinha sido a Mutamba. Coisa para esquecer!
Para além de nossos corpos tinhamos umas roupitas e de valor só mesmo “uma máquina de costura Oliva” para servir em nossa sobrevivência. Esta máquina estava adaptada como mala e foi o único valor do meu património como mazombo filho de colono. Meu pai foi o Único que ficou até que um dia e já passados dois anos foi raptado e deixado como morto por detrás do aeroporto. Foi em Torres Novas que retirou a bala que por sorte não o gangrenou. Ainda o vejo no aeroporto de Lisboa, feito uma bola de sangue, um bolo de porrada só porque era branco!
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Em Angola Savimbi mandava retirar o seu pessoal político e militar. Pediu à Marinha e à Força Aérea para que evacuassem todos os seus militares das FALA e apoiantes para o Sul; de todos os que se mantinham para além de Luanda, Carmona, cabinda e santo António do Zaire. A partir do dia 9 de Agosto de 1975 o Governo de Transição de Angola ficava reduzido ao MPLA e à parte portuguesa. Ainda faltavam 94 dias para o dia da largada, o 11 de Novembro de 1975.
O novo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Ruivo, reconhecia oficialmente o Óbito do Acordo do Alvor. Para tal proclamaram o estado de emergência com a criação de uma Junta Governativa para substituir o defunto Governo de Transição que só durou cerca de seis meses. Neste molho de brócolos, o Governo de Transição foi extinto mesmo sem que para tal estivesse autorizada a sua substituição em caso de incapacidade. Mais uma medida no âmbito revolucionário feita em cima do joelho pelos generais e políticos de aviário. E, o Mundo só assistia a isto!
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
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