TEMPOS PARA ESQUECER – 02.08.2016 - ANGOLA DA LUUA IX . NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA. … Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo.
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(…) Cada um de nós tem uma lenda! A minha foi preterida por ser o que ainda estava para ser, uma inventação lançada para fugir às realidades da Luua. Para encobrir eventos desonrosos, coisas sem heroicidade, um quarto de hora antes da meia-noite do dia 11 de Novembro de 1975, minha nação, meu barco, levantou âncoras ao largo da Luua. A bandeira do M´Puto era embrulhada num baú dum velho carcamano de colono aonde tiveram de caber todas as ilusões.
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Foi assim que me tornei Niassalês. A bandeira verde-vermelha, tornada num trapo vulgar, estava condenada a criar bolor. Minha nação Niassa fez-se ao alto mar vendo-se de longe os festejos celebrando de forma dantesca o nascimento dum país. Eram tiros e rajadas a fingir de fogo-de-artifício. Já nove meses antes o Sandokam, o Sabata e o Amargoso percorriam Luanda disparando e lançando granadas a eito, matando gratuitamente quem aleatoriamente lhes surgisse no encalço. Estes chefes de grupos populares curiosamente usavam armas oferecidas pelo exército português.
Fazia parte da estratégia, no lançar medo, disparar contra montras, estilhaçar as mioleiras ordeiras. Que se saiba nunca foram apanhados pelas NF (Nossa Forças) e, quando isto se verificou ocasionalmente fez baixas nas NF que já não se sabia bem, se o eram. Tudo causado para provocar o pânico, travar a sociedade e espantar os brancos. E a fuga do tundamunjila fazia-se notar no Prenda, Catambor, Cazenga, Bairros Populares, Cuca, Viana, Corimba, Terra Nova, Caputo, Mulemba e, em verdade de todos os bairros periféricos da Luua.
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Logo a partir de Junho de 1974, começaram a ser infiltradas armas e munições nos musseques de Luanda. Era o Poder Popular a nascer com suas células, fanáticos de Lúcio Lara e Neto, capitães do mato às ordens de Nito Alves e Valódia dos grupos Hoji-ya-Henda; estas armas eram indiscriminadamente entregues a pessoas que as não sabiam manejar. As vítimas eram um pouco de tudo o que pudesse servir de alvo, raivas grandes e pequenas com negros, brancos e verdianos. As mortes foram tão abundantes, ao ponto de a casa mortuária já não ter mais espaço; alguns corpos surgiam mutilados, queimados, desfigurados.
Neto, líder do MPLA afirmava que os portugueses não deveriam ser designados como comunidade branca por não constituírem um grupo coeso, nem terem direitos especiais na realidade pós-colonial. Seu parceiro Rosa Coutinho corroborou em tal posição afirmando: “Os brancos se quiserem ser ouvidos, filiem-se num dos movimentos”. Estas afirmações de Neto estavam bem perto da realidade porque os Tugas tinham como desporto ir à praia, ir ao cinema, ir à pesca à Barra do Quanza, fazer umas farras de quintal ao fim de semana para noivar a filha e, poucos eram os verdadeiramente politizados. Uns ingénuos!
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Foi mais ou menos isto que aconteceu! Os brancos filiaram-se em um, dois e até três movimentos porque pelo sim pelo não tinham de garantir alguma segurança pelo controlo familiar pois estes pseudomilitares viriam a praticar isso, dai em diante. A caminho do sul ou do norte nas barragens diferenciadas apresentava-se o cartão do militar que surgia a controlar; o camarada recebia uns cigarros, mandava seguir na boa.
Mais à frente o irmão mandava parar e com o cartão o mano mandava prosseguir; com os fnelas era igual. Estes para mostrarem sua diferença faziam continência com bater de pés e mandavam seguir desejando uma boa viagem… Havia sempre uns cigarros francês mata ratos, ou Negrita e mesmo caricocos a dar aos zelosos controladores de tráfico e traficantes. Era a gasosa a ser instituída no meio da Luua e arrabaldes; depois generalizou-se juntando uns kumbús de dinheiro macaco: “escudos angolares”.
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Era já o medo a dominar as emoções, uma técnica persuasiva que entra no subconsciente e, por via de inseguras leis que sempre descumpridas ou alteradas, faziam do MFA uma instituição desajeitada, sem respeito ou credibilidade. Portugal já não era confiável; isto tornou-se uma infeliz realidade que viria a deixar sequelas para todo o sempre. Passados que são mais de 42 anos sinto um certo orgulho por sempre me dizer ser Niassalês e, porque foi o último vapor a abandonar a minha terra, o meu país de ilusão e, que agora, já nem sucata o é. Continuo Niassalês, uma inventação que me tranquiliza.
Logo à partida, Melo Antunes aceitou que os brancos de Angola não tinham concessão à nacionalidade Angolana; que apenas os nascidos ali, teriam essa prorrogativa! Mas, até aqui, isto lhes foi tirado com o correr do tempo. Os maiores desaforos vinham exactamente dos máximos responsáveis Lusos! Tudo rolha de má cortiça! Savimbi foi o único que retaliou esta medida e, disse querer um período mais alargado para a data da Independência. Portugal, simplesmente se subjugou ao preceito de descolonização do MPLA de Neto.
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E Agostinho Neto disse isto mesmo aos emissários de Fidel de Castro; que não tencionava repartir o poder com outros movimentos nem conceder-lhes condução de áreas estratégicas e os brancos, estavam ali a mais. Todos se moveram em falsidades e o Governo de Coligação de Angola por via do acordo da Penina, viria a ser uma utópica armadilha. Nada mais do que isto!
Voltaremos aqui mas, entretanto as mortes registadas em Luanda resultavam de tiros disparados por armas do exército português. Isto era demasiado preocupante; era uma traição que ninguém compreendia, ninguém queria aceitar por inaudita. No interior dos Bairros periféricos, suburbanos da Luua haviam já milhares de armas de repetição que, tal como já foi dito faziam baixas nas próprias forças armadas designadas de Nossas Forças…Eram tempos de Rambos matando pokémons, usando a linguagem hodierna…
(Continua…)
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