TEMPOS PARA ESQUECER … 29.06.2016 - ANGOLA DA LUUA . VI
… O Mundo sempre andou mentiroso - Também, e por isso, as fronteiras mentais transportadas por mim em estórias, embora aumentando em capacidade de criar ilusões, diminuem-me a veracidade (Não há meias verdades). Na guerra de tundamunjila
Por
Em Outubro de 1974, no Norte e no Leste de Angola eram diariamente registados incidentes com vítimas mortais, actos de vingança contra capatazes ou gerentes de fazendas e trabalhadores em geral. No Uíge (Carmona) assistia-se ao fenómeno de bandalheira com os soldados da FNLA atirando a gosto para o ar, sem qualquer aparente motivo, homens fardados e armados com espingardas de repetição. Ao longo das estradas do Norte como as de Quissesse e Songo, podiam ver-se centenas de famílias de bailundos escorraçados das fazendas de café ocupadas por soldados do ELNA (exército da FNLA) maioritariamente quicongos a falar francês; uma tropa fandanga.
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Ateavam fogo a tudo! Só neste mês de Outubro, registaram-se um total de quinze fazendas ocupadas por grupos, nem sempre identificados; faziam ataques contra madeireiros, seviciando-os e queimando-os tornando-os irreconhecíveis! As fontes de riqueza dos brancos e de negros não colaborantes eram vandalizadas, o gado morto a tiro ou catanada; os saques passaram a ser uma rotina. Usando petróleo regavam os produtos tais como batatas, mandioca, feijão e café ateando fogo em seguida; os bailundos eram mortos a sangue frio. Diga-se em verdade ter sido a etnia mais sacrificada, a mais sofrida em toda a pré-guerra de Angola. Era a guerra do tundamunjila (de dar o fora).
Os movimentos com seus braço armados, por toda a Angola e, inicialmente em suas áreas de influência e sem coordenação visível, faziam barragens nas estradas supostamente para controlar, devassando, partindo louça, pisoteando sem jeito e ou retendo géneros e aprisionando coisas que poderiam ter algum interessa para eles. Podia ver-se pseudo-soldados completamente embriagados ou drogados pegando nas armas de qualquer jeito. Eles não tinham noção de como funcionavam as armas que empunhavam. Eram nitidamente bandos de drogados. Não sabiam o que era uma culatra ou o cão da mesma…
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Em uma viajem que fiz de Nova Lisboa (Huambo) a Luanda com minha sogra idosa, em uma destas barragens feitas por gente do MPLA e, indo eu na carreira da EVA e, em Muquitixe, fizeram alto, mandaram sair todos os passageiros e ali ficamos encostados a um casebre já arruinado com guardas armados atá aos dentes apontadas a nós. Um dos militares estava tão drogado que pegava a arma de cano longo com o gatilho virado para cima. Revistaram tudo e valeu-nos um furriel mestiço que seguia connosco, que se identificou como sendo do MPLA e por fim mandaram-nos seguir!
Reparei no percurso, que o Dondo estava literalmente abandonado, as quitandeiras vendiam peixe seco e bolachas, únicos alimentos que se podiam comprar! Depois vi Cassoneca, Colomboloca, Zenza do Itomba, Maria Tereza maioritariamente incendiadas, gente deambulando por ali, bandeira do MPLA hasteada aqui e ali, tropa meio fardada aos magotes fazendo coisa nenhuma. Nenhuma indicação de comércio a funcionar! Foi a imagem desta viagem que me convenceu de que tudo estava perdido! Eu vivi este drama; ninguém me contou!
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Nas barragens militares podiam ver-se os homens em cima das fordes ou chevrolletes seleccionando o que lhes convinha! Isto fica! E jogavam ao camarada. Isto também fica! E o montão de coisas por ali crescia, no pó da terra! E, ai de quem reclamasse, seria sempre de um desenlace imprevisto. Uma humilhação sem qualificação! Melhor assim, diziam com a desilusão de uma vida tornada nada.
Aqueles homens na maioria sem um comando credível pretendiam apenas roubar, rebaixar. E, se houvesse por um acto de repulsa por parte de alguns militares portugueses, tentando tomar conta da situação, estes eram recebidos a tiro; poderia relatar lugares mas este procedimento era generalizado! Há por aí muitos militares que sabem ser isto verdadeiro. Sabia-se mais tarde que estes exemplares militares da FAP (Forças Armadas Portuguesas) eram substituídos por não serem colaborantes com eles; E, eles eram o grupo do MPLA de Agostinho Neto! Houve oficiais que por se oporem foram presos e recambiados para o M´Puto. Houve oficiais superiores a terem voz de prisão por furriéis cabeludos… Lá chegaremos!... Como admitir isto!?
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Posso assim referir como terras de tundamunjila, Catete, Cacusso, Kassuma, Dondo, N´Dalatando (Salazar), Bula Atumba, Puno Andongo, Bango Azongo, Camabatela, Songo mas, sempre será uma pequena parte de uma longa lista. Os guerrilheiros do tundamunjila usavam nas incursões catanas, G3 fornecidas pelas FAP ou kalashnikovs, mais granadas penduradas a gosto e imaginem uns tubos tipo bazucas! Sei lá, talvez os mona-caxitos. Para quê este disparate! Dá para rilhar o dente, mesmo estando no futuro daquele espaço, quarenta e dois anos depois….
Em Luanda podiam ver-se militares do MPLA passearem a fazer estilo banga com cintos de munições atravessados ou cruzados e espingardas de repetição, de tambor, longas e curtas e as tais G3 oferta do M´Puto; assim aos ombros, eram autênticos rambos a brincar às guerras. Como é possível, tanta gente ter assistido a tudo e, agora andarem com a língua agarrada aos dentes como se nada se tivesse passado! Gente gerenciando o verbo da teoria do esquecimento. Ando desiludido com muita gente que faz de conta! Como gostam de ser enganados! Oh gente miúda!
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No Rio Seco da Maianga, logo no dia um de Outubro lançaram uma granada para dentro de uma casa matando um cidadão branco! Isto sucedeu também junto da Cruz Verde e no cinema Tivoli no Bairro da Samba. Os automóveis eram apedrejados em andamento e, ou incendiados à porta de casa ou trabalho dos respectivos donos! Pergunto a tantos que nos interrogam: Tinhamos condições de ficar? Fiquem por aí que o grosso da matéria está para vir… Esquecer! Nunca… Pena é a de que olho para trás e, neste caminho, neste carreiro, neste fiote, só vejo a minha sombra e uns quantos, muito poucos que me dão ânimo. A estes, eu digo obrigado!
(Continua…)
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