UMA MALA DE FOLHA-DE-FLANDRES – Velhos quebrantos …
Monangamba - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).
Por
T´Chingange
Com a persistência de uma formiga diligente dou-me apreciando a apagada vida de cronista avulso; corroendo o tempo como o salalé, envolto nos cânticos de cigarra ou a tanajura após as chuvas ou ainda o incansável cupim que desbaste às madeiras apodrecidas. Admiro o austero silêncio no recolhimento das letras, dando continuidade a um entretém buscado nas omissões de acomodada gente. Sem vontade de executar grandes feitos ou correr grandes riscos, busco nas almas pasmadas os sussurros de prazer, cochicho entre uma confusão de vozes discutindo mil assuntos com cheiros de almas, ora novas, ora velhas.
Não raras vezes assentado com a sorte de lembrar, falo baixinho dos costumes portugueses nas noites de São João e São Pedro com as raparigas queimando alcachofra, que plantadas em vasos nos alpendres das janelas, grelavam sortes de namoro. Também estou grelando sortes matutando no antigo costume de ouvir nos bochechos de água à meia-noite o nome de quem nos quer bem. Com requebros de etiqueta, gestos de conveniência e risos de semblante, farisco nem sei o quê nos engomados escritos, esperando serventia com paramentos necessários para os armar em altar.
E, foi em cima de uma mala de flandres já com manchas de ferrugem e pintalgada das moscas que pousei meu manuscrito. Umas travessas em madeira de castanho rebitadas com tachas em tempo douradas, eram encobertas por uns trabalhados naprons pendendo em lantejoulas para os lados. No centro desta havia um tabuleiro de cerdeira encerado parcialmente com as velas usadas, de quando em vez nos castiçais de cedro torneados. Havia uma toalha de rendas de bilros meio enrolada no outro extremo da mala colonial. Por detrás desta e na parede do sótão um Cristo em marfim pendia sua agonia em uma cruz de azinho. Esta mala foi levada para Angola no ano de 1948 cheia de salpicão embebido em azeite de oliva, queijos da serra e presuntos em sal; regressou de lá no ano de 1975 com estatuetas kiokas, missangas e muita saudade prensada entre imbambas de kibaba e indianuno.
O Soba T´Chingange
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