RELEMBAR ANGOLA - Não podemos enganar a história nem nos desresponsabilizarmos do mal e injustiças que cometemos, mas também devemos orgulharmo-nos das coisas boas que fizemos…
As escolhas de T´Chingange
Por
ANTONIO JOSÉ CANHOTO
O COLONO
A definição de “colono” para alguns brancos residentes em Angola afectos ao MPLA, partido que governa este país desde 1975, bem para como para muitos negros, o termo “colono” tem sempre cor branca. Para estes o colono teve sempre como objectivo explorar negros, dizem! Nada pode estar mais errado nesta forma radical de definir a palavra “colono” seja o visado de que raça étnica for como um explorador oportunista de negros, índios ou aborígenes.
Filologicamente o vocábulo “colono” pode ser definido como a um individuo que faz parte de uma colónia, que emigra do seu país de origem para uma terra estrangeira ou no mesmo continente e de um país vizinho para a povoar, cultivar por conta própria ou de outrem independentemente da raça do seu proprietário e, se este nasceu ou imigrou para o território.
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Este acto migratório pode ter duas vertentes: a primeira é quando um outro país exerce o controlo ou a autoridade sobre um território ocupado e administrado por um grupo de indivíduos com poder militar, ou por representantes do governo de um país ao qual esse território não pertence e contra a vontade dos seus habitantes quando o país é colonizado e, que muitas vezes, são desapossados de parte dos seus bens (como terra arável ou de pastagem) ou eventuais direitos tribais, culturais e ancestrais que detinham.
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Na segunda vertente emigram a pedido do governo do país ou de empresas privadas que pela falta de conhecimento tecnológico dos naturais se vêem obrigados a procurar mão-de-obra especializada no estrangeiro, para suprir as suas deficiências naturais. Para uma certa classe de portugueses e angolanos brancos e negros enfeudados ao partido do governo a sua atitude maniqueísta é a de que todos que saem fora da “caixinha” do MPLA, pertencem ao “Reino do Mal”, os maus da fita.
Na minha opinião este reaccionário pensamento vindo de negro ou branco chamando indiscriminadamente “colono” de forma ofensiva para todos os portugueses que viveram em Angola até 1975 ou que para lá emigraram depois desta data, aconselho-os a olharem retrospectivamente para os seus passados e dos seus pais ou avós antes de 1975 antes de atirarem a primeira pedra.
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Ingenuamente, pensei que o termo “colono” estivesse a cair em desuso, mas vejo que continua bem vivo nas bocas de alguns, quando comentam alguns textos meus e de outros sobre Angola. Não podemos enganar a história nem nos desresponsabilizarmos do mal e injustiças que cometemos, mas também devemos orgulharmo-nos das coisas boas que por lá fizemos deixamos. Fomos certamente “colonos” durante os séculos que se seguiram à descoberta desse território o qual, ainda nem nome tinha.
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Muitos milhares de portugueses ainda hoje emigram para Angola na procura de melhores condições de vida trabalhando para empresários de várias nacionalidades negros ou brancos. Sedo assim porquê o governo actual de Angola não os trata como “colonos”?
É certo que até finais do século XIX e princípios do século XX muitos dos portugueses que emigraram para as nossas antigas províncias ultramarinas o fizeram na qualidade de verdadeiros “colonos” dando a Portugal benefícios económicos e, a partir da exploração desumana de mão-de-obra negra, contractos quase de escravatura mas, não era esta prática generalizada na última metade do século XX.
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A forma comportamental de alguns “colonos”, nada tinha a ver com todos aqueles que para Angola debandaram ou nasceram depois dos anos 50 com uma mentalidade aberta, iniciando a construção de uma sociedade moderna e multirracial e na qual se reflectia em todos os aspectos da comunidade. Se um empresário negro português tivesse emigrado para Angola, montasse uma empresa e tivesse empregados negros seria considerado um “colono”?
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Sinto-me no dever e direito de desmontar e desmistificar esta falsa questão do “colono” que não pode ser vista interpretada, generalizada com o epiteto de que colono branco é racista e explorador. “Colonos” e colonizadores foram todos os países que nos séculos XV e XVI descobriram à volta do globo, novos territórios habitados por índios nas Américas, indígenas em África e aborígenes na Austrália, num estágio primário civilizacional com perto de 500 anos de atraso tecnológico em relação aos europeus.
Que por via disto, os descobridores precisavam não só de explorar, assimilar, cristianizar e os infectar, mesmo que involuntariamente, com todas as doenças que para lá exportaram. Diogo Cão chegou á foz do Zaire em 1483 sendo a partir desta data que se inicia a conquista pelos portugueses desta região de África a qual era constituída por vários reis e reinos étnica e linguisticamente diferentes que se guerreavam pelo expansionismo regional.
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O primeiro passo pelo Reino de Portugal foi estabelecer uma aliança com o Reino do Congo, que dominava toda a região. A sul deste reino existiam dois outros, o do Reino de N´Dongo e o de Matamba, os quais não tardaram a fundir-se, para dar origem ao Reino de Angola em 1559. As fronteiras de Angola só serão definidas em finais do século XIX, sendo a sua extensão muitíssimo maior do que a do território dos Ambundos, a cuja língua o termo Angola anda associado.
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A Rainha Ginga, seu nome Dona Ana se Sousa “N´Gola”, seu título real em quimbundo foi o nome utilizado pelos portugueses para denominar a região conhecida hoje por Angola. Para além de ser considerada a primeira nacionalista de Angola, na minha opinião também foi a sua primeira grande colonizadora e eu explico porquê? Esta rainha guerreira que morreu aos 80 anos, durante o seu reinado anexou outros reinos e territórios, submeteu e escravizou os seus habitantes vendendo-os aos portugueses que os levavam para o Brasil.
N´´Zinga ou Ginga, torna-se assim cúmplice no esclavagismo, pois que também os usava como trabalhadores escravos nos territórios controlados por ela."N´Zinga" formou uma aliança com o povo Jaga, desposando o seu chefe. Subsequentemente conquistou o reino de Matamba e em 1635 coligou-se com os reinos do Congo, Kassange, Dembos e Kissama. Este pequeno intróito sobe a Rainha Ginga tem apenas e única finalidade, demonstrar que o processo colonizador sempre existiu em todas as latitudes.
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As tribos ou etnias mais fortes, melhor apetrechadas e com melhor armamento dominavam as mais fracas fora dos seus territórios, submetendo-as com o objectivo expansionista, esclavagista e até para sacrifícios religiosos com práticas desumanas e, por via de suas superstições. E, também para se apropriarem das suas riquezas, concubinas, gado, e rebanhos.
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Os portugueses não foram certamente santos pelos territórios que descobriram e colonizaram, mas também não foram totalmente pecadores na miscigenação que desenvolveram e cultivaram com os autóctones. Mais nenhum país o fez do mesmo modo! Aliás, por lá deixaram tudo sem nunca terem sido ressarcidos pelo roubo chamado de descolonização.
A história a ser bem contada, sempre terá de recordar a má utilização que o governo de Angola independente deram ao património que à força foi expurgado os portugueses tais como, casas, aeroportos, portos, cidades, estrada, equipamento, tractores, uma satisfatória rede de escolas e hospitais e administração em geral e, tendo dali saído unicamente com a roupa do corpo. Não confundamos ou associemos a palavra “colono” apenas com a cor branca e muito menos só com nacionalidade portuguesa.
Escrito em 13-12-2016 por A. Canhoto
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