ANGOLA DAS CINZAS . RETROACTIVIDADES . Pois, surgiam ocorrências com maka, muzungué de porrada… 5
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Kafundanga tinha muita vaidade no que fazia e, com sincera vontade, muitas vezes ouvia-o dizer que ser-se cozinheiro tinha muito de imaginoso porque a boca era o esconderijo do coração. Amolecia sua alma suspirando na maré dela bonitando sempre suas conversas com Nossa Senhora da Muxima; por vezes, seus olhos amoleciam todinhos exibindo seu peso de saudade ou adivinhações de casos pensados; fazia da vida seu noivado, armazenando punhados de lágrimas no seu labirinto subterrâneo com vontades ainda por realizar.
Lá pelo ano de 1956, meu tio Nosso Senhor de alcunha e Manuel Loureiro de nome escriturado, chegou do M´Puto no vapor Uíge; sua chegada alvoroçou nossas vivências por algum tempo, ávido de novas coisas. Ele, meu tio, comprou um cacho de bananas inteirinho para nós e, com elas lambuzamos nossas gulas por algum tempo até quase as enjoarmos. As últimas já pintalgadas, começamos a partilhar com o saguim do senhor Teixeira um velho vizinho enfermeiro gordo e mulato de cor. O saguim ficava nos fundos do quintal dele, encarcerado de coitado todo o tempo à sombra de um frondoso abacateiro.
À sua volta era mesmo só rede de capoeira reforçada e, nós candengues aproveitando o senhor Teixeira de turno no Hospital Maria Pia saltávamos o muro ficando ali a fazer gaifonas ao pobre macaco tendo por companhia o rafeiro Farrusco que ladrava à toa enciumado; este pelo de arama tinha uma amizade chegada a mim e a Zeca Kafundanga e, por isso impunha seu sentimento de ladrar no desconforme. Naquela casa do senhor Teixeira, naquele quintal e naquela varanda havia cheiros cheirosos, plantas com flores e cores intensas.
O senhor Teixeira era primo de primeiro grau de Óscar Ribas, um senhor que por ali aparecia tacteando o muro, as coisas, cirurgiando o escuro encerrado nos dedos da visão, fazendo festas ao papagaio louro filho-da-caixa que não nos gramava, palrando kimbundices entre fetos verdes; ele, Óscar Ribas tacteava os restos no interdito de tudo e o sacana do Jacó todo submisso às sua caricias; a nós não nos topava, assim que ficávamos ao seu alcance ferrava-nos seu adunco ódio na forma de bico. No entanto, com este senhor cego, eram só caricias, um amor desentendido para nós. Curvava-se todo permitindo festas na cabeça de penas eriçadas e cuspilhando falas que ele, senhor Óscar, parecia entender de topariobé, sundiameno e asneiras nossas desconhecidas!
Nós muito carecidos das compreensões do mundo, esquecidos dos comportamentos por sermos mais filhos da rua do que das nossas casas, emigrávamos nossa condição por todo o bairro da Maianga aonde todos se familiriavam, assim como aparentes parentes. Nossos pais tinham suas próprias governações e, só apareciam quando surgiam ocorrências com maka ou muzungué de porrada e que ai e que ui, e nós invocando nossas razões ponderativas, nossas secretas funções, sigilosos assuntos com dúvidas indignatórias com o tempo correndo do jeito dele…
Monangamba - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).
(Continua…)
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