ANGOLA DAS CINZAS – RETROACTIVIDADES – A maka da guerra com raivas independentistas riscavam os mandamentos de Deus; de um e outro lado chovia metralha… 7
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Zeca Kafundanga é um personagem criado por mim porque a necessidade faz o engenho, recordo que ainda eu não era nascido e Kafundanga já por ali calcorreava os quintais da Maianga furtando pitanga, goiabas, gajajas e maçãs da Índia dando berridas aos cães alheios que sempre apareciam a perturbar Sputnik seu fiel amigo, o cachorro doméstico da família Monteiro Cabeças.
Durante dois longos anos Zeca Kafundanga manteve-se por ali perto de casa lidando com vizinhos e outras pessoas conhecidas; para ele preto de nascença, era por demais periclitante porque as atrocidades dos outros, provocavam raivas aos mais claros, nos mais brancos; nosso quintal de terra e areia andava limpo, quase lambido porque Kafundanga sem expedientes a fazer lá por fora, além-fronteiras do quintal ocupava-se varrendo com os cuidados para não poeirar. Com tempo em demasiado, ajudava também nas limpezas do quintal do senhor Teixeira, um enfermeiro mulato gordo e solteiro a prestar serviço no hospital Maria Pia como já foi dito.
Zeca queixava-se de que assim não tinha jeito de se ser gente, fechado ali com medo das rusgas gwetas, das justiças só átoa e, foi neste então que me confidenciou estar namorando com uma malangina com que queria fazer alembamento; que as saudades saiam-lhe nos poros na forma de catinga e na volta do contorno dos problemas só tinha mesmo seu saliente conforto na arte de cozinhar. Já com vinte e três anos, ano de 1963, tendo eu menos cinco anos e já com o curso de Electricidade, decidimos ir a convite de meu pai até às obras de construção da Fábrica de Cimentos Cecil no caminho do Cacuaco; ele, meu pai, era ali encarregado, responsável pelas drenagens, alvenaria e movimentos de terras.
Tinha em mente uma coisa em relação a Kafundanda, queria mesmo alisar as pedras dele porque minhas memórias diziam-me que sim, era preciso saber ver e arredondar suas penedias porque aquela tal de malangina pisava seu milho nas covas dos rochedos desse meu mano preto, e ele comia no pensamento a funje dela, de milho com peixe seco. Eu tinha mesmo de amaciar seu leite coalhado no cerebelo dele e arranjar maneira de mandar vir aquela malangina. Falando com o engenheiro Raposo, ficou acordado que Kafundanga ficaria ali numa barraca de pessoal menor e seria um dos cozinheiros para ajudar no refeitório, fazer assim mais produtiva a gente miúda no trabalho de multifunções, mesmo as desclassificadas de fazer argamassa e molengueiros. Este engenheiro Raposo era um práfrentista em gestão de pessoal.
Só sei que Zeca ganhou o suficiente para mandar vir de comboio sua amada Chiquinha Provisória só de nome; eu e ele fomos buscá-la ao Bungo e assim medonhando crepitâncias em fogo suspenso, arredondaram alambamento e, ela e ele por ali ficaram na felicidade com passos líquidos e definitivos, ela arrumando conservas, batendo o pilão, lavando e secando roupa, dinheiro extra de lavar cuecas surradas e pintadas. Ele cozinhando fuba com peixe seco do Sumbe e do Cacuaco, até do Lifune e, outo peixe muito cheio de gerações de ondas do mar. Nós víamo-nos de vez em quando nas miúdas passagens com minha cabeça tecendo novas ideias com tecnologia de ponta e até astral, levando lâmpadas florescentes e outras bugigangas ao observatório da Mulemba de Bettencourt Faria. Tudo a ser reciclado para observar os astros e contactos com a NASA.
Monangamba - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).
(Continua…)
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