MU UKULU...Luanda do Antigamente – 29.11.2018
Havia muito de angolano nas casas feitas com a cal de mabanga, os forros feitos de bordão…
Por
T´Chingange – Em Johannesburg
Luís Martins Soares – No Brasil
Começo com uma ressalva, para corrigir o que foi dito no Mu Ukulu-VIII. A Barragem das Mabubas sobre o rio Bengo, só foi inaugurada no ano de 1954 e não no ano 1948, conforme diz João Pinto que ainda candengue, ali viveu quando seu pai para ali foi trabalhar, entre os anos de construção entre 1949 e 1954. Antes de se dar continuidade ao desenvolvimento social de Luanda segundo o descrito no livro de Luís Soares, vamos aprofundar alguns conhecimentos da agora grande Luanda, porque quem não é kimbundo irá perguntar o que significa maianga entre outros nomes e lugares toponímicos...
Consultando escritos de José Kaliengue, poderei mencionar que Maianga significa poço de água. Havia a maianga do povo junto ao Clube 1º de Agosto e, cujo avanço urbanístico anárquico, relegou para ruinas; aonde agora é o rio seco era um rio a valer, molhado, que desaguava numa lagoa que era a Lagoa dos Elefantes no actual bairro da Samba e, onde desembocava. Este rio desaguava numa lagoa antes de dar para a baía de mar raso que ali existia.
Aquela era a lagoa dos elefantes, porque era frequentada por estes. Quando os portugueses ali chegaram, e durante muito mais tempo, viam-se por ali elefantes; no decorrer do tempo, estes foram-se refugiando na actual Reserva da Kissama. O que hoje se conhece por Morro dos Veados foi, até ao séc. XVIII, o Morro dos Elefantes, está escrito em mapas, só que estes, foram diminuindo em número. E, foi já no séc. XX, que o Morro dos Elefantes passou a chamar-se de Morro dos Veados.
Uma grande parte da população não sente qualquer relação com o espaço e com as coisas e, também porque não foram alertadas pela nova elite na sua preservação. A não existência de um ordenamento desses lugares; a construção arbitrária e sem qualquer tipo de controlo, originou perdas como valor turismo e sequentemente o económico. Um património difícil de recuperar.
A baía é uma das razões para o nascimento da vila e depois, cidade europeia de Loanda. Foi ela por via de sua topografia circundante que determinou a sua criação; Fundamentalmente por uma estratégia de defesa, mar fundo e lugar de abrigo às caravelas aos ventos dominantes e mar bravio na costa aberta de sua ilha da Mazenga; só mais tarde surgiram outros critérios pela criação de um centro urbano expandindo-se com mercados, estradas, porto de mar ou caminhos-de-ferro.
Note-se que, já nessa altura, finais do século XIX, faltava água em Luanda; isso mantém-se até aos nossos dias. Rios e baías sempre foram um elemento importante na história duma qualquer cidade e Luanda não foge deste conceito. Depois há uma parte importante dessa história que também pertence aos angolanos, e que não dá para apagar! Embora como sendo a parte sofredora, contribuiu para a história: O do comércio dos escravos que já foi aqui superficialmente abordado.
As fortalezas, apesar de símbolos de opressão também pertencem aos angolanos; queira-se ou não José Kaliengue tem razão ao afirmar isto! As igrejas são outro elemento que, não fazendo parte da cultura original, passaram depois a fazer parte da vida das pessoas. Havia muito de angolano nas casas feitas com a cal de mabanga, os forros feitos de bordão, um material altamente isolante e que permitia manter as casas frescas.
Não deve ainda existir sinais de tectos de bordão nas casas velhas de Luanda; também este processo saiu da cultura local. A Igreja do Carmo, estava assim construído até meados do século XIX. Estas edificações existem e, foram feitas com mão-de-obra de caluandas. Agora teremos de recordar o que era na palavra “MU” como sendo coisas do antigamente, mas também uma árvore no dialecto kimbundo. Mutamba é a árvore do tamarindo, árvore que a mutamba não tem.
Posso imaginar nas largas varandas da baixa da Luua e bem junto ao Carmo, as damas brancas comodamente sentadas com requebros de etiqueta, gestos cheios de conveniência, risos de boca fechada, olhares por debaixo das pálpebras mais um leque nos lábios e o dedo mindinho levantado com galanteria chamando o senhor prior. Não muito longe uma mulher negra na esteira de luandos ou de matebeira, num banquinho ou na soleira da porta catando piolhos na cabeça do candengue.
Também homens humorados, o chapéu de couro preso ao pescoço por uma correia, a camisa de algodão cru por fora das calças de zuarte, arregaçadas no joelho, o pé descalço, curto e espalmado, peito liso com cor luzidio de escuro ou cor de cedro á mostra, braço nu e grosso transportando uma viola ordinária feita de lata. Senta-se bem junto daquela mulher catadora, dedilhando as cordas metálicas e, cantando um repenicado linguajar de brincadeira…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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