DO M´PUTO - DO LIVRO PROIBIDO. IV
DE
JOSÉ ANTÓNIO SARAIVA - O que não pude (ou não quis) escrever até hoje. «O melhor do jornalismo é aquilo que não se pode escrever»
Sobre Sócrates
Sócrates mostrou‑se muito naïf quando disse que num mestrado que fez (ou está a fazer) lhe explicaram como se cultivam relações - (…) Numa perspectiva exclusivamente interesseira e instrumental, claro. Mas, à parte eu fiquei com a ideia de que é um homem ainda imaturo, pareceu‑me uma pessoa serena, cautelosa, não ansiosa - o que é importantíssimo num país que parece histérico e onde a tendência para a instabilidade é enorme.
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Mas Margarida Marante faz uma revelação: que tem um orientador espiritual, um padre do Opus Dei, que tem sido fundamental para a sua pacificação de espírito e para «deitar cá para fora o ódio». Mas anda a tentar equilibrar‑se depois dos solavancos (enormes) provocados pelo fim da relação com Rangel - na qual tinha apostado tudo e pela qual tinha posto tudo em causa: a família, o bem‑estar, a tranquilidade.
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Essa discussão acalorada sobre a Justiça entre Sócrates e Marante foi para mim inesperada, e já parecia vir de trás. Nem percebi bem o que discutiam. Parece que Sócrates já adivinhava que iria ver -se a contas com a Justiça, pois enervou -se sem razão aparente e começou a levantar a voz - tendo eu de lhe chamar a atenção pois já estava toda a sala a olhar para nós.
A situação era ainda mais acabrunhante dado o facto de Marante e Sócrates serem pessoas muito conhecidas. É no entanto curiosa essa observação que faço sobre Sócrates no Diário, dizendo ser «um homem sereno e não ansioso». Porquê? Quando abandonávamos o restaurante, um aparelho de TV colocado perto da saída transmitia um telejornal onde se dava uma notícia pouco simpática para o então primeiro-ministro Santana Lopes.
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E Sócrates comentou: «Espero que o Sampaio tenha a lucidez e o bom senso suficientes para não ceder aos apelos para demitir o Governo e convocar eleições antecipadas.» E parecia sincero. Só que, um mês depois, no início de 2005, Sampaio demitirá mesmo Santana Lopes. E Sócrates, comentando publicamente o facto, afirmará que o Presidente da República não tinha outra alternativa senão demiti-lo. É assim a política... Diz -se o que convém no momento. No que se refere a Sócrates, esta afirmação não poderia ser mais verdadeira.
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Almoço com o Sol em S. Bento - Quando fundámos o Sol, em 2006, José Sócrates convidou toda a direcção para almoçar em S. Bento, na residência oficial do primeiro-ministro. Fui eu, o José António Lima, o Mário Ramires e o Vítor Rainho. A refeição teve lugar na sala grande do rés-do-chão, à direita da entrada, que antes era sala de espera (e depois voltará a ser).
Sócrates chega acompanhado por vários colaboradores, entre os quais Luís Patrão e Luís Bernardo, um assessor de imprensa tido como maquiavélico. Sentam-se de um lado da mesa - e nós sentamo-nos do outro. Como sucede naqueles encontros entre delegações partidárias em que as partes se sentam frente a frente. A conversa assumirá contornos surrealistas.
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Há discordância de opiniões e os ânimos exaltam-se. Depois, Sócrates começa a desenvolver uma teoria sobre o condicionamento político dos meios de comunicação social. Diz que é estúpido os políticos quererem comprar ou influenciar os jornalistas ou os directores de jornais, pois é muito mais eficaz - além de ser muito mais fácil – condicionar os patrões dos grupos de média.
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Curiosamente, será esta a teoria que Sócrates aplicará no caso Face Oculta, tentando condicionar os grupos de média através dos accionistas. É caso para dizer: com a verdade me enganas... Nestas conversas (ou discussões) em privado, assim como nos almoços a sós, Sócrates era - como ficou dito - muito pouco brilhante a argumentar.
Parecia uma pessoa banal, com uma conversa banal. Ora, nas intervenções televisivas, era acutilante e eficaz, às vezes quase brilhante, mesmo quando não tinha a razão do seu lado. Perante as câmaras de televisão ou o público, Sócrates superava-se. Ou então, como alguém disse, tinha uma capacidade de memorização invulgar e preparava previamente essas intervenções, limitando-se no momento a debitar o discurso que tinha preparado. Não sei qual será a verdade.
(Continua…)
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