FRINCHAS DO TEMPO – NO DIA DE CAMÕES
– Crónica 3422 – 13.06.2023
MINHA SINGULARIDADE POR UM DIA - “T´CHINGANGE”
Por
T´Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió
Por um dia fui Camões! Posso explicar: O quinto Centenário da morte do Infante D. Henrique teve dez anos de festividades um pouco por todo o mundo da lusofonia que culminou a dois de Junho de 1960 o ano de seu falecimento, Foi neste ano que se instituiu a Ordem do Infante D. Henrique. Depois deste intróito relembro o ano de 1954, ano em que em Luanda, toda a mocidade estudantil do nível preparatório participou em sua comemoração na Escola Primária nº 8, junto à Liga Africana da Vila Alice. Creio que tinha os meus nove anos de idade e, quando a minha capital do Império era a MUTAMBA…
Teria os meus nove anos quando me escolheram para ser a figura principal do teatro escolar da Luua na Escola nº 8 da Vila Alice – a figura teatral era a do Infante Dom Henrique, o propulsor da navegação portuguesa. Estudava eu na Escola de Aplicação e Ensaios situada na rotunda de D, Afonso Henriques, situada bem em frente do Sindicato dos Metalúrgicos, início da Rua do Cazuno que ligava a Mutamba à Cidade Alta com o Palácio do Governador, passando pela Casa dos Rapazes; era também o início da Avenida Álvaro Ferreira, que passava mais acima pelo Cine Restauração e a Escola José Anchieta aonde estudou meu irmão Zé Kitunda e, tendo na parte posterior o belo jardim do Parque Heróis de Chaves. A mesma terminava no alto e de frente do Hospital Maria Pia
O Cine teatro Restauração passou a ser a Assembleia Nacional depois da independência a 11 d Novembro do ano de 1975. Bem perto ficava o Largo Serpa Pinto de onde saia uma rua que subindo, ia dar ao Liceu Salvador Correia, uma rampa bem acentuada e aonde os candengues da Maianga, iam fazer corridas de fórmula um de fingir em rodas de rolamentos. Esta Luanda antiga ainda só deveria ter uns 90.000 habitantes pois que todas as ruas da Maianga estavam por asfaltar desde o sinaleiro bem perto ao Colégio Moderno aonde também andei algum tempo.
Nesta escola ocorreu até então a maior concentração de alunos do ensino primário das escolas do distrito de Luanda da então Província Ultramarina de Angola. Sendo eu a figura de destaque em representação de Camões, tive de apresentar os vários cenários descritos na obra do maior poeta português. E, foram as cenas do Reino de Castela e de Leão, de Egas Moniz, do Adamastor com Bartolomeu Dias mais Vasco da Gama, da Índia e da Ilha dos Amores.
Os versos que já sabia de cor, fingia ler “As armas e os Varões assinalados, que da Ocidental praia Lusitana, por mares nunca dantes navegados, chegaram mais álem da Tapurbana”. O grande átrio da Escola nº 8, estava repleto de candengues de bata branca, batendo palmas, rindo e exercitando o conhecimento para lá dos horizontes da Mutamba. Posso ainda sentir o cheiro forte do grude da cola de marceneiro que colou ao meu rosto barbas e bigode, e também sentir o tecido branco de zuarte em foles, esticado com farinha de trigo e passado ao ferro de engomar; tecido teso que era a bonita coleira ondulada, que o poeta usava.
Involuntariamente, fui snifado com aquela cola que talvez evoluísse; contínuo sem saber se me alterou partículas dos músculos moles e, até do meu cerebelo. Ver o Tonito filho da Dona Arminda do Rio Seco da Maianga, vizinhos do Almeida das Vacas um antigo degredado colonial, naquele papel maior da história, era algo fora de previsão. Bom! Agora com os meus 78 anos de idade passo até recordar esse evento com um brilho no canto do olho. Ainda haverá gente por aí na diáspora que se lembrará desses idos tempos…
Nesse dia de festa, foi dado a cada um dos alunos assistentes ao teatro um saco de guloseimas e até houve distribuição de sapatos quedes, patrocínio de publicidade da fábrica Macambira. Gostava de usar estes quedes na gimnástica dada pelo Professor Montês na Escola Industrial de Luanda; em verdade sempre que se proporcionava, usava-os com agrado, pois eram leves e frescos.
E, porque pude ser lembrado por mais um dia das Comunidades, posso falar ao de leve o quanto senti ser desgarrado de uma terra que era minha e, só porque era filho de colonos idos pela Companhia Nacional de Navegação num barco de nome Mouzinho de Albuquerque e, também por ser branco fui quase obrigado a abandonar. Só ao de leve posso lembrar que anos mais tarde (1975), me ofertaram um bilhete de avião na ponte Luualix, só de ida para o M´Puto! Algo feio que os generais de aviário fizeram, numa visão tão contrária àquela epopeia de Camões. Não tinha de o ser assim, pois foi mau para quem foi e para quem ficou. Fui!
O Soba T´Chingange

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