DO M´PUTO - DO LIVRO PROIBIDO . I
DE
JOSÉ ANTÓNIO SARAIVA - O que não pude (ou não quis) escrever até hoje.
Sobre Sócrates (Pág161)
«O melhor do jornalismo é aquilo que não se pode escrever», disse-me a jornalista Ângela Silva quando lhe confidenciei que estava a escrever este livro. Por que o terá dito? Porque os jornalistas ouvem muita coisa, vêem muita coisa, falam com muita gente, mas não podem escrever tudo o que vêem e ouvem. Mesmo quando tal não lhes é explicitamente pedido, há regras a cumprir e afirmações que se subentende não se destinarem a publicação.
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E quando um jornalista não cumpre as regras, perde a confiança daqueles com quem se relaciona. Ao longo de mais de 40 anos como comentador e jornalista - 23 dos quais como director do Expresso e nove como director do Sol -, conheci pessoalmente quase todos os políticos de primeira linha, com uma excepção: Francisco Sá Carneiro. De resto, mantive conversas privadas com todos os Presidentes da República eleitos desde o 25 de Abril e com todos os primeiros-ministros dos Governos constitucionais, exceptuando António Costa (que só conheci em criança).
Com quase todos almocei ou jantei, sabendo-se que as conversas se soltam à mesa, onde as pessoas são mais abertas. Entrevistei muitos deles várias vezes, para a televisão ou para a imprensa. Com alguns mantive longas conversas e frequentes contactos telefónicos. Mas nestas relações nunca confundi os planos. Mesmo quando me faziam confidências de natureza pessoal, eles sabiam que estavam a falar com um jornalista. Um jornalista em quem depositavam confiança, mas um jornalista. E essa distinção é importante, pois é ela que permite um livro deste tipo - que seria impensável se as relações tivessem passado do plano profissional para o plano, necessariamente mais íntimo, da amizade.
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A única pessoa que me fez confidências a este título terá sido Margarida Marante, e isso está claramente referido no texto respectivo. No momento em que deixo profissionalmente o jornalismo - embora não a colaboração na imprensa - sinto ser o momento de divulgar aquilo que não pude (ou não quis) escrever até hoje. Inconfidências que me foram feitas e que entendi não dever revelar na altura, algumas com mais de 20 anos.
Assim, quase todo o material deste livro é inédito, excepção feita a um ou outro episódio solto publicado nos livros Confissões de um Director de Jornal e Confissões. Para reconstituir as conversas e os episódios aqui descritos recorri à memória mas também às páginas de um diário que escrevi em certos períodos da vida. Nestes casos, o texto é impresso em itálico. Há quem procure ver neste tipo de livros memorialistas oportunidades para vinganças ou ajustes de contas.
Pelo meu lado, nunca o fiz, não o faço e não o farei. O objectivo deste livro é deixar contribuições para a História - e, se não o fizesse com verdade, mais tarde ou mais cedo assaltar-me-iam os remorsos. A vingança, como o crime, nunca compensa. O leitor pode, pois, confiar naquilo que vai ler. Se houver incorrecções ou inexactidões, foram absolutamente involuntárias: foi a memória que me atraiçoou. Mas mesmo isso, a acontecer, será raro e pouco relevante.
J. A. S. - Junho de 2016
José Sócrates em privado é uma pessoa muitíssimo diferente - e bastante menos brilhante - do que aparenta ser em público. Direi mesmo que é um homem banal. A diferença entre uma pessoa e «outra» chega a ser estranha. Não tem grandes ideias e fala às vezes de temas a despropósito. Em 2001, quando era ministro do Ambiente, convidou-me para um almoço no restaurante italiano Il Gattopardo, no Hotel D. Pedro, nas Amoreiras, que estava muito na moda e que ele frequentava.
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Falámos de vários temas, e ele deu-me um lamiré que se confirmará: a escolha pelo Governo socialista de Emídio Rangel (que tinha deixado a SIC) para director-geral da RTP. Comento essa escolha - manifestando surpresa e mesmo alguma estranheza - mas não me alargo nas observações até porque sei que Sócrates e a namorada, Fernanda Câncio, se dão com Emídio Rangel e Margarida Marante.
Pois bem, Marante dir-me-á uns dias depois referindo esse almoço: «Tu passaste a refeição inteira a dizer mal do Emídio!» Fico estupefacto. Primeiro, porque não era verdade; segundo, porque só estavam duas pessoas à mesa. Pergunto-lhe quem lho disse e ela confirma que foi Sócrates. Sabendo que eu e Marante éramos amigos, foi fazer aquela intriga para meter veneno entre nós - e, claro, entre mim e Rangel. Era este o estilo de Sócrates.
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No fim deste almoço no D. Pedro, Sócrates dá-me boleia para o Expresso no carro do Ministério. Mas não mostra qualquer pressa. Com o carro parado, fica imenso tempo a queixar-se, com o motorista a assistir, da perseguição que o José Manuel Fernandes lhe move no Público. Parece de cabeça perdida. Penso para comigo: «Mas faz sentido um ministro incomodar‑se tanto com coisas destas? Que importância tem isso?» Ele achava que o J. M. F. estava obcecado com ele - mas o certo é que ele também estava obcecado com o J. M. F.
(Continua…)
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