TEMPOS CUSPILHADAS – Passeando o cachorro no reino da aroeira...
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Ontem levantei-me bem cedo! Ainda era noite mas o lusco-fusco do dia já se fazia notar pelas frinchas das persianas; já se ouviam os melros e gaios lá fora piando suas espertezas. Rodei na cama para a esquerda, para a direita e não havendo hipótese de ficar na sorna de olho aberto, preparei-me ao jeito de passear o cão e, de roupas folgadas e com minhas botas de galgar o Kwazulu Natal, calções de caqui, fiz-me ao caminho, ao carreiro habitual. Assim que saí pela porta dos fundos, a do barlavento Suão, o Faísca, meu cão proletário, um chouriço com leves traços de collie barbudo, saudou-me com suas quatro patas. Eu, naqueles propósitos, não lhe foi difícil adivinhar que iriamos passear à praia, andar na falésia por cima das furnas.
Peguei na coleira e na varinha de bambu de enxotar bichezas rastejantes e, lá fomos nós por entre fragas, no fundo do vale e nos cumes do reino das aroeiras, um reino de largas vistas e de onde se vê o horizonte curvo, redondinho na suavidade longa da terra. Um mar enorme confundindo-se com o céu e sem uma nítida separação do distante nevoeiro trazido pelos ventos alíseos com um cheirinho do Saára ou da brisa do Siroco. Rascunhei-me em cardos, arruda, estevas e chorões com flores em cores vistosas e subi arfando, e desci resvalando com o cão soluçado em vapores e de língua de fora.
O Infante D. Henrique que morreu em 1460 sem saber içar uma vela ou, toscamente ximbicar um remo duma qualquer canoa ou chata, não andou por aqui mas, no jeito que a história conta, ficou como sendo um grande navegador alterando o destino do mundo, descobrindo novas terras sem nunca lá ter posto os pés. Neste meu passeio foito entre gaivotas e toutinegras, gralhas e pombos bravos encimados em buracos escarafunchosos e esbarradoiros, as lagartixas miram-me curiosamente como se fosse um agente do além.
Aqui, terras do meu latifúndio, ondulado por barrancos verdes e clareiras avermelhadas, por falsos outeiros secos e ressequidos de matagal, oliveiras bravas, carrascos, arranha-cão e zimbros entre pedregulhos calcários, corro o risco de apanhar carrapatos, mas tal como os afoitados desbravadores de terras por conhecer, adentro-me aquém bombordo mirando o estibordo como um tal de Cadamosto que às ordens do D. Henrique e de cabo em cabo chegou à Gâmbia.
Antigamente, nas alturas com lajedos rodeados de pinheiros pude ver raposas entre os charcos enrugados, pequenas piscinas aonde se alapavam coelhos e lebres e também os tais pombos-bravos das falésias. Havia, e ainda há codornizes, tordos e gralhas em bandos enxotando-me dos seus ninhos. Nestes cimos eriçados com carreiros sinuosos, exercito-me alongando-me no mar ali bem perto e lá em baixo barulhando-se; ora perto, ora manso, ora encapelado.
Por aqui ando esticando os ossos, construindo a cada passo uma estória ao meu modo; um mussendo, um missosso entre ave Marias encavalitadas de prefácios que se baralham e que logologo se esquecem; e vem outro e mais outro muxoxo como que cumprindo ordens dos meus espíritos a quem risco na areia os sinais do cho-ku-rei, do sei-he-ki e outros símbolos do reiki. Um lugar nobre e muito cheio de adrenalina com iodo que de certo modo nos inebria.
Aquele senhor Cadamosto, que descreveu as primeiras descobertas além-fronteiras do M´Puto cumprindo ordens do Senhor rei e príncipes consortes, desconhecia todas estas modernas finuras de dialogar em coisas etéreas. Sempre veremos coisas novas se o quisermos, se tivermos vontade para isso e, não é forçoso ter um qualquer rei por detrás, um presidente ou um outro qualquer decadente. Chegado a casa escrevo os lembrados prefácios encavalitados nas arbitrárias e aleatórias recordações daqui e dali, do meu mundo, só para ginasticar a mente. Um dia de cada vez.
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