UM DIA ESPECIAL . Um milagre no dia de Portugal, 10 de Junho…
Por
T´Chingange
Porque não danço o Zumba, tenho de praticar outro exercício de forma a esticar a saúde adequando-a à minha idade de kota. Não precisando compreender meios sofisticados de postulados científicos do “como, do porquê e para quê”, em minha actividade de nada fazer, desci os mais de duzentos degraus até chegar à quinta de S. Jerónimo de Coimbra, percorri todas as rotundas até chegar à ponte da rainha Santa Isabel. Contornei as linhas urbanas até chegar ao início do parque verde ribeirinho do bazófias. Rodeei aquela caixa térmica feita em cortiça escurecida; sem portas nem janelas e tecto amarrotado em ondulações brancas, fiquei intrigado na tamanha sobriedade e já de frente para aquele caixote alongado e de costas para o rio dei-me conta que aquela coisa de cortiça, sem portas nem janelas era um pavilhão. O alçado frontal, todo em mármore e com uma única porta vidrada tinha em cima escrito em letras maiúsculas o nome PORTUGAL; tudo a condizer com a condição soturna da actualidade. Entre carvalhos robles, salgueiros e choupos brancos, por ali fiquei admirando a perspectiva de tal mono entre os sons alegres do grasnar de simpáticos patos; como que dando-me ânimo a admitir vibrações de sanar velhas feridas recitavam-me duvidosas vitórias sobre o pecado, a doença e a morte.
Recitando em surdina uma Avé Maria segui em frente passando pela ponte à outra margem aonde vi bogas pretas de rio, berridando entre algas dum canal de água; este canal era fornecido por um tubo de água santa, inaproveitado como lava-pés de beatos, era em verdade uma drenagem do Convento de Santa Clara que se afundou no lodo no correr do tempo. Atravessei a ponte embandeirada de Santa Clara e já no largo António de Aguiar desci a rampa junto ao lindo edifício do Banco de Portugal; nesta parte velha da cidade dos doutores, também afundada a um nível inferior do rio, parei em uma montra mostrando duas bacias de pé, daquelas de banheiro, simetricamente coladas e recobertas com croché de várias cores e desenhos variados. Junto, uma etiqueta, tinha o nome da artista Joana de Vasconcelos. Coisa mais idiota esta de brincar com a arte já feita. Reparei mais ao lado em outra loja dois quadros com os dizeres: Quem dá aos pobres empresta a Deus! O outro dizia: quem dá, recebe em dobro! Este conjunto de visões fizeram-me matutar pelo supérfluo e inverosímil mas chegando á escadas da rua Visconde da Luz, quase em frente do café Nicola, um pedinte de perna esfacelada quase com a tíbia à mostra, com marcas de rugas fúnebres, estendeu-me a mão - Uma esmolinha! Pediu ele.
Tendo eu lido aquele dizer de quem dá recebe em dobro, taciturnei-me por instantes e, num ás botei a mão no bolso traseiro de meus calções de ganga e dei-lhe todas as moedas; somadas davam dois euros e cinquenta cêntimos. O pedinte, de contente, rogou por minha alma e recitou aquilo que me pareceu ser um Pai-nosso. Contente por minha própria boa acção, mal reparei no Convento de Santa Cruz iniciado em 1131 às ordens de D. Afonso Henriques, nosso primeiríssimo rei. Subi em direcção ao mercado e atormentado pelo cheiro inebriante de coisas boas saídas do restaurante do Jardim da Manga esperei o autocarro. Ali mesmo, tomei o autocarro nº 7 do Tovim que me lavaria até os Olivais. Lá chegado, saí junto à igreja e, encafifado na quarta dimensão cósmica subi a escadaria da igreja sentando-me bem em frente de Santo António.
Pelo meu pensar desfilou o filme da última hora e, a uma pergunta ao santo sobre a veracidade daquele dizer de que quem dá recebe em dobro ele, o santo, piscou-me o olho sorrindo; logicamente que fiquei deslumbrado, numa quinta dimensão. Sai dali e caminhei até o meu destino na Rua António Jardim, subi ao segundo piso já transpirando de todos os poros pelos 47 degraus vencidos e, já no quarto mudei-me de roupa, sentando-me para descalçar os sapatos. Foi neste então que algo me tilintou na cachimónia da moleirinha; aquele desconforto de uma pastilha elástica, shwingame agarrada ao meu sapato desde o jardim da manga! Foi quando dispus a perna em cima da outra para desapertar os cordões que vi: cinco euros colado na shwingame da sola do sapato! Assombradamente, fiquei numa sexta dimensão. Aquilo de receber em dobro aconteceu! Era mesmo verdade! Um milagre! Só neste então entendi o sorriso matreiro com a piscadela do pícaro Santo António dos Olivais! Deus escreve a verdade por linhas tortas e, creiam… ainda ando confuzio por tal acontecido. Ele, … há coisas verdadeiras, que até parecem mentiras. Terei que declarar isto no IRS às finanças?
O Soba T´Chingange
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