UM OUTRO DIA . No quatro de Junho, com Salazar de Santa Comba em Coimbra…
Por
T´Chingange
Junto ao Mondego e descendo para jusante com suas águas retidas, andando devagar devagarinho a condizer com um diazito de cadavez como Deus manda e, em consolo de boa idade, deparei com uma bizarra situação que me tem trazido encafifado dos pirolitos e, nem tenho dito isto a ninguém porque nem me iam acreditar, andamos envoltos em tantas mentiras que até ficamos encabulados para contar as sérias coisas que nos sucedem no dia-a-dia. Ali parado junto ao rio a moer o milongo da vida e remédios de chás benfazejos, transpirando brututo com graviola e ipé-roxo, deparo com um homem ou o vulto dele, andando ao redor daquele caixote em cortiça sem janelas e uma única porta vidrada chamado de pavilhão de Portugal.
Era alguém que, muito provavelmente, andava matutando no sentido daquilo ali, como se fosse um relógio a marcar horas ou, ao encontro de uma melhor explicação pensei eu. E, já ia na terceira volta. Parava de vez em quando fazendo assim-assim com a cabeça para baixo e para cima e também para aos lados como estando altamente preocupado com aquela forma estranha de encaixotarem Portugal num isopor, coisa térmica, assim como para fazer perdurar património deteriorável. Mais de perto pude observar que o dito cujo, levava vestidas uma calças debotadas de cor indefinida num tom de uva rosé, polidas no rabo podia ver-se até um rasgão esfarelado em fiapos. Trazia um daqueles coletes que os caçadores usam, cheio de bolsos. A cor deste era de um descorado sinza com manchas que nada tinham a ver com qualquer conhecido camuflado. Este senhor com muita frequência levava as mãos aos bolsos inchados de supostas coisas valiosas, definitivamente este senhor carregava ali naqueles alforges a sua vida; talvez, algumas jóias para depositar ali no mausoléu de cortiça a representarem o equilátero das quinas ou os seus subsídios da Segurança Social.
Eu, que também andava por ali enrijando meu doutoramento naquelas ruas muito polidas de sabedoria, pingando muxima do BI de meu corpo, resolvi seguir de longe aquele velho de cabelos grisalhos. Já na ponte de Santa Clara olhei para a cabra, empoleirada na saliente torre da universidade. Eu e a cabra da Universidade já temos uma familiaridade de tu-cá-tu-lá e em seu balir, esta garante que mandou-me um ofício de meu doutoramento mas, o certo é que o correio fez o favor de o extraviar. Sempre que a miro (a cabra) um sinal de mais se junta à minha cátedra da vida. Já muito de perto deste kota mais-velho começo a ver nela feições conhecidas. Mas não podia ser aquela pessoa em que pensava, o mesmo que escorregou numa casca de banana e ficou passado dos carretos; intrigado fui-me aproximando cada vez mais e eis que na entrada de Portugal dos pequenino, o sujeito, de um dos inchados bolsos tira um banco articulado, senta-se, e colocando seu chapéu bem á sua frente, endireita sua coluna recostando-se na frontaria.
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Naquele pequenino Portugal, estava longe de imaginar, … aproximando-me para lhe ofertar uma moeda de um euro, surpresa das surpresas, o fulano era tão simplesmente o nosso forreta António de Oliveira Salazar. Ambos nos olhamos enternecidos! Quase inconscientemente sentei-me a seu lado e foi quando reparei suas lágrimas deslizarem nas fracturadas e defuntadas rugas caindo em minha camisola de alva brancura. Foi o presente mais original que recebi num dia de meu aniversário, quatro de Junho. Enquanto nestes dias de futebol, minhas sobrinhas se envolvem em recortadas bandeiras verde e vermelhas com esfera armilar enroscada ao pescoço, eu visto aquela flanela manchada de choro. E é, com a pena molhada no tinteiro de Camões, que vos escrevo este mussendo candidatado a criar mofo no meu baú. A vida é assim mesmo; de nódoa a mofo, depois musgo, um dia acaba terra! Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
O Soba T´Chingange
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