LUANDA - O sungadibengo guardava a morte no sovaco; a catinga já cheirava a cadáver.
Mussendo: Conto curto de raiz popular, missiva em forma de mokanda (carta) do Kimbundo de Angola (N´gola) durante o tempo colonial.
Por
T´Chingange
I Isto é a pura verdade. Chateiam-me esses tipos que trazem a morte com eles! Que só falam nela! Que se repetem, no se ainda cá estiver e coisas deste calibre! Não se afastam do cano da arma ruím com estrias de ceifar vidas; caté fazem fila para ocupar o meio do carro de fumo a cheirar tifa, pesticidas múltiplos e triplos. Mas se têem tanta corda de sisal desperdiçada por aí, porque não a usam e param de chatear quem quer viver. Eu sei que é difícil ter respeito pela morte e que nessas horas, o cão ladra e morde no coração com essa dor ordinária que deixa ranho a escorrer no nariz; os dentes postiços a rir do véu, do céu e dos cabelos lisos e escorregadios a cheirar catinga do sovaco. Meu amigo, sungadibengo, xaxáta a uafa nos dias todos do ano e traça-lhe na sabedoria de rabo-de-junco que o que só come, bota fora no imediatamente. Ele sungadibengo uatoba à-toa com a uafa e diz que falta, ainda! Ele trata a morte por tu e diz ser a sua uatouabinha!
O fidacaixa tem a mania de capangar-me e rir com os dentes todos, fazendo-me pouco, que ele assim apalpando também todos os dias a morte, 365 no ano, lhe dá berrida! A morte, diz o maleducado do prenda, meu quase vizinho, tem medo de ser apalpada! Eu, fico na mesma de matumbo sem entender, nem bem nem mal esta filosofia e, com os seus muitos kixibus, dá, não sei como, bassula nos seus mais de oitenta anos. Este mais-velho, deve ter muita sabedoria; nunca ninguém que falou coisa assim de que apalpa a morte todos os dias, a meter-lhe medo. Ri com seus dentes do tamanho de sacholas e, olho no olho fala-me: que os brancos todos, todos mesmo, não são genuínos, que somos todos genéricos como os bagres do Lifune e Kifangondo! Eu, claro que fico kilhado, lixado e muito de encafifado com ele. O fidacaixa fala assim para mim que sou mazombo de pai e mãe. Enu uatobo kala sanji! Ué … Aqui, eu estava fulo de raiva: - Seu sundiameno, fala lá isso de novo em língua do M´Puto! Vocês t´chinderes são como as kapotas! Como assim? Refilo inchado de má cara. O sungadibengo respondeu: - É, … Os brancos, só falam estou fraco! … estou fraco! Num é! … Exclama abrindo mãos e pregando susto … Isso é fala de kapota, não de gente pessoa, quase concluí!?
Tem mais, as baronas brancas são todas das Dores; quando se juntam as Marias fazem missangas de suas dores. Eu tenho uma dor aqui! Eh! … A outra diz, isso não é nada, a minha até me retorce a moleirinha! É ver qual delas tem a dor mais dorida e mais importante! Claro que eu não gosto disto! Cada qual deve ficar com a sua dor sem chatear os demais, agora bangularem-se e bajularem sua dor sem lhe dar bassula, acho mal! Há gente que morre à-toa falando todos os dias nela; só mesmo o sungadibengo é que lhe faz frente. Um dia vi-lhe espetar com um alfinete um desautorizado vulcão amarelo na forma de furúnculo em seu mataco e falar-lhe no directo discurso: - Este não é o lugar do teu mata-bicho! Num repentemente tirou-o e depois cuspiu-lhe uma bolunga para desinfectar e mais um morrão de cigarro caricoco. O tal de furúnculo desautorizado escafedeu-se para sempre. De sungadibengo, tenho-lhe muito respeito.
Glossário das palavras sublinhadas: sungadibengo, xaxáta a uafa – mulato ordinário apalpa a morte; uatoba – faz pouco; uatouabinha! Cesta doce!; capangar-me – agarrar-me; kixibus – cacimbos.
O Soba T´Chingange
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