MULOLAS DO TEMPO -17.12.2006 - O ESQUECIMENTO EXISTE EM NÓS PARA QUE NOS SEJA POSSIVEL SUPORTAR AS MINUDÊNCIAS DA VIDA…
Por
T´CHINGANGE - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano na diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Sente-se e respira Angolano, tem cédula de Brasileiro, B. Identidade do M´Puto. Anda por África às arrecuas para fugir à regra, um paradigma novo, só seu.
São seis horas da manhã e está um vento frio e mar encrespado; as ondas de maré-alta lambem-me os pés. Ontem a NASA tinha dito que não haveria sol intenso em virtude de haver uma explosão solar e que por via das poeiras a Terra iria ficar de um nublado carregado mas o que verifico são haver nuvens como em qualquer outro dia. Tomando o iodo com a vitamina D, eu e Ibib tentamos pendurar os dias respirando a natureza entre as seis e as nove horas da manhã porque depois desta hora o sol queima demais. Na orla e caminhando pelo calçadão ginasticam-se donzelas perfumadas aos magotes.
Velhos e novos bronzeando também seus suspiros de Deus apreciam enquanto caminham os enfeites natalícios que mostram árvores, botas, trenós, os Reis Magos Melchior, Baltasar e Gaspar e luzes trepadoras que se estendem coqueiros acima. Aqui e junto à quadra em areia de futbolei vão armando as redes. Não demorará nada a iniciarem seu jogo, dois de cada lado usando o tronco a cabeça e os pés. Eu fico vendo-os deliciado com sua capacidade física.
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Ontem, aconteceu que um homem de meia-idade encarquilhado de corpo e creio que da cabeça com cabelos empestados de sujeira de esterco, homem morador de rua que fica aonde o deixam ao relento, por debaixo de uma amendoeira ou coqueiro, fez suas necessidades bem perto de nós. Assim, destapando o fiofó para o infinito do mar, meio curvo lançou suas quezílias no verde-mar, pluf-pluf.
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Fiquei surpreso mas ele na maior, despreocupado do mundo, de rabo alçado ao céu de Nosso Senhor foi limpando suas intimidades meio tapadas por um calção que em tempos foi verde e, muitos atilhos empeçados nos trastes, seus pecúlios de riqueza.
Isto acontecer em uma praia nobre, brada aos céus mas nós já em horas de regresso zarpamos dali depois de comprar dois cocos frios para amornar ruindades do pensamento. Do meu lado esquerdo posso admirar ao longo da língua da areia branca da Pajuçara as velas triangulares das jangadas quietas que levam mais tarde os turistas até o largo, mar rasteiro, maré-baixa, água límpida bordeada com rochas, recifes e corais com peixes de cores variadas.
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Estou em Maceió do Brasil revendo pensamentos, cortando pedaços de polpa de cocos, distribuído pelos muitos pombos que deambulam em meu redor. São estes os limpadores naturais desta praia; em outros lados são os urubus. Ibib aqui a meu lado lê em voz alta um livro que fala de encarnações de vidas. E fico preso à narração: Uma neta que teve um bom relacionamento com a avó em vida mas, esta morreu tinha ela desaseis anos.
A moça ficou muito zangada, sentiu-se abandonada, começou a ter sonhos perturbadores em que a avó estava sempre partindo deixando-a só. Os anos passaram, sua vida foi aplacada mas, esses sonhos reapareceram quando ficou gravida. No sétimo mês de gestação começou a sentir pela casa o cheiro do perfume que a avó Oscélia usava.
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A neta Cese, quando viu a filha recém-nascida, sentiu-se com a sensação de ter tido com ela uma antiga familiaridade. Pouco antes da menina Dee completar dois anos começou a dizer e a fazer coisas que a deixavam bem pensativa. Quando a criança tinha cerca de um ano e oito meses, no supermercado, Dee deu seu gritinho de prazer dizendo: Olha mamãe, olha a minha amiga Berguer aqui! A senhora Berguer? Isso mesmo… sou eu! Disse a própria olhando a pequena, sem contudo a reconhecer.
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A senhora Berguer e a avó Oscélia tinham sido vizinhas durante 35 anos. Tempos mais tarde a mãe Cese resolveu levar a filha Dee a um salão de chá ande era costume ir com sua avó. Aqui a Dee falou com alegria: “eu gosto deste lugar!”. Quando se aproximou a empregada, garçonete, uma senhora já de certa idade, Dee exclamou: Lá vem a Elen! Quando esta se aproximou pode ler seu nome no crachá “Elen”; esta ficou pouco à vontade porque, nunca tinha visto aquela menina.
Saindo de um outro sítio e em outro momento tendo Dee dois anos, em um cruzamento da cidade e sem motivo nenhum, ela começou a chorar dizendo para a mãe: Mamãe, você aqui tem de ter muito cuidado, visse; aqui é muito perigoso, a gente se machuca! Chegada a Casa Cese falou com sua mãe que lhe confirmou ter tido a avó Oscélia um atropelamento em esse mesmo cruzamento; tinha nesse então nove anos, disse a mãe.
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Foram estes pequenos actos de leitura que me levaram a pensar seriamente sobre a reencarnação, coisa que a Igreja católica nunca aceitou! Neste pequeno evento de vida posso recordar coisas que nem sempre podem ser faladas. Ainda teremos de aprender a conviver com as coisas de agora e que estarão por vir. Os espíritos embora escolham voltar, quase todos encaram com relutância a vida que se aproxima.
Vêm-na mais como um dever algo desagradável que têm que fazer para alcançar o desenvolvimento espiritual. Não é difícil imaginar a relutância do espírito em deixar um lugar de amor incondicional para retornar a um mundo imperfeito e aonde há luta dor; no desejo de iluminação o anseio por unir-se a Deus é mais forte do que qualquer sofrimento na Terra.
Ilustraçõs de Assunçao Roxo e Costa Araujo
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