O CHOQUE DO PRESENTE - O maravilhoso universo paralelo dos deputados - Porquê regular as relações dos grupos de pressão com o Governo e entidades públicas e deixar de fora os deputados?
As escolhas de T´Chingange
Por
Luís Reis Pires nasceu em Elvas há 29 anos. Licenciou-se em Economia no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), optando depois pelo jornalismo. Começou a trabalhar no Semanário Económico em 2007. No ano seguinte, entrou no Diário Económico, onde é redator principal e segue as áreas de macroeconomia e contas públicas. É também responsável por acompanhar os assuntos europeus. Seguiu de perto todo o programa da Troika em Portugal.
Tive o primeiro contacto com os bastidores do Parlamento português no final de 2004, à conta de uma reunião com um então líder partidário. No bar, dois deputados, de partidos diferentes, lanchavam e conversavam sobre um qualquer favor que um deles precisava de uma Câmara que pertencia ao partido do outro. Aproximaram-se depois do balcão, ambos fazendo questão de pagar a conta do outro. "Quanto é?", Perguntou um. A resposta veio pronta, não chegava a um euro e meio. "Epá, e ainda dizem que o país está em crise", gracejaram. Riram-se muito, pagaram e voltaram para o hemiciclo.
E pronto, assim se desfaz a ilusão de um miúdo universitário sobre a forma séria como funciona a elite política. Não precisei de muito mais tempo e encontros após essa vez para perceber que o Parlamento é um universo paralelo e os deputados vivem numa realidade alternativa à do Zé Povinho, cheia de hipocrisia e episódios lamentáveis, mas infinitamente mais ‘cool'. Uma realidade onde os deputados dos diferentes partidos não se entendem em nada, a não ser na hora de arranjar maneira de meter mais uns trocos ao bolso (não, não me esqueço do lamentável episódio da reposição das subvenções vitalícias dos políticos, no último Orçamento do Estado).
Não, "eles" não são todos iguais, como tantas vezes gostamos de dizer. Mas, infelizmente existem muitos mais Josés Lellos do que Marianas Mortáguas... Esta semana, mais um exemplo desse maravilhoso mundo alternativo do Parlamento. O Governo vai avançar com a lei do lobby, que vai regular as relações dos grupos de pressão com as entidades públicas e com o próprio Executivo, tudo em prol da transparência. Quem fica de fora? Os deputados, claro. Faz, obviamente, todo o sentido, porque os membros da Assembleia da República nem são o principal poder legislativo do país. Quando era miúdo, havia uma senhora que vendia gomas e gelados à porta da escola, numa banquinha que hoje em dia faria as delícias da ASAE. Claro que a minha mãe me proibiu desde o primeiro dia de aulas de ir lá comprar doces (o início dos anos 90 foi uma mina de ouro no que diz respeito a receios relacionados com droga em chocolates).
É claro que eu nunca deixei de comer os doces da dona Assunção. Não ia lá, não fosse a minha mãe ver-me, mas dava o dinheiro aos meus amigos e eles compravam para eles e para mim. Agora façamos de conta que a lei do lobby é a minha mãe, eu sou o Governo e as entidades públicas, e os meus amigos são os deputados... Quem acompanhou as novelas da energia, da banca e das telecomunicações durante os anos da ‘troika', sabe bem o quão urgente é aumentar a transparência nas relações entre o poder político e empresarial.
Porquê deixar o Parlamento de fora de uma lei que vai nesse sentido? A explicação de que este é apenas um primeiro passo e o objectivo é aprofundar a lei no futuro fica coxa - sobretudo porque o actual Governo está prestes a dizer adeus e não há garantias de que quem vier a seguir pegue no assunto. "Bater" nos deputados é fácil, é verdade, e chega quase a ser popularucho, reúne simpatia do povo. Mas, entre um ou outro lanche a um euro e meio no bar, a questão que os próprios deviam colocar-se é: "Se ninguém gosta de nós, será que estamos a fazer as coisas bem?"
Texto publicado a 19 de Junho de 2015 no suplemento E+
Opinião: Após a leitura deste texto e de várias leituras sobre as mordomias dos ditos deputados, penso que os "boys" de cada partido falam muito, discutem muito e estão completamente nas tintas para a população portuguesa, isto é, como é sabido. Dou o exemplo de um trabalhador em funções públicas que têm como subsídio de refeição a mera quantia de € 4,27 para almoçarem. Não esquecer o "Milagre das Rosas" que o governo fez em aumentar o ordenado mínimo nacional para € 505,00. No parlamento, que deveria ser o exemplo para os portugueses, comem e bebem ao preço da "uva mijona" e podem usufruir de creche (neste caso não sei se é de graça ou o custo também é simbólico.
Estes senhores poucas vezes lá estão... têm assuntos para resolver nos seus negócios ou nas respectivas Sociedades de Advogados. No meu local de trabalho, quando trabalhava, só podia ir a consultas médicas após o expediente e se por acaso tinha de faltar por uma situação excepcional, tendo de explicar a razão e meter um dia de férias ou lá o que fosse. Estes senhores têm as férias que têm e ainda por cima faltam quando querem... protegem-se uns aos outros! Algo vai muito mal neste país, a começar pelos deputados no parlamento! Uma das muitas vergonhas nacionais!
Muxoxo: é uma espécie de estalo que se dá com a língua aplicada ao palato, em sinal de desdém ou contrariedade…
A opção com meia opinião do Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA