TEMPO CINZENTOS . 2ª Parte
– 04.02.2016 - Pelas frinchas do tempo, sinto o cheiro pestilento do dinheiro… É mais fácil passar um camelo no buraco de uma agulha do que um rico no reino dos céus…Na dúvida entre o ser-se agnóstico ou coisa nenhuma faço gaifonas à liberdade!
Por
T´Chingange
(…) Dizia eu que por ter andado tanto no inferno agora mereço o céu! De botas borrifadas com petróleo para eliminar carrapatos boiadeiros tocava os trabalhos de campo para a execução da estrada a ligar o lugarejo vila de San José de Tiznado em Venezuela. Teríamos de levantar uma faixa de terras e, por forma a depois de ser transposto ao desenho se desenvolvesse o traçado longitudinal e perfis transversais.
Com os dados de campo surgiriam as curvas de nível a partir dos dados de altimetria geométrica e taqueométrica. Apareceriam também todos os acidentes de terreno como rochas, linhas de água e rios em uma planta topográfica muito coberta de números correspondentes às cotas de elevação e mancha de vegetação: por vezes também se incluía o tipo de solo fazendo referência às sondagens caso fosse o caso.
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Surgiria mais tarde tanto a directriz em planta como e a partir daqui os perfis longitudinais mostrando a rasante definida por traineis inclinados ou não e, segundo as tolerâncias necessárias para os veículos poderem vencer os declives. Através das rasantes e perfis transversais determinava-se o volume de terras a retirar ou a repor após o cálculo de áreas e volumes.
Tudo isto e segundo o cálculo com Gráfico de diagrama que traduz a movimentação de terras em obras, sobretudo viárias, constituído por curvas com tramos ascendentes que indicam a predominância de escavação e tramos descendentes que indicam a predominância de aterro. Amarelo a romper, vermelho a aterrar. O gráfico de Brückner, determinaria a maquinaria a usar, camiões, vagonetes ou caçambas para transladar terras e inerentes custos.
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Ainda se tinha de considerar dados geométricos de limites de propriedade, nomes de seus donos com valor venal, valor matricial, com número de registo cadastral nas finanças, dados para futuras indeminizações por acordo ou expropriação. Haveria também de observar e registar a densidade de vegetação e espessura de matéria vegetal inerte composta de troncos velhos e o manto de folhagem depositado ao longo dos anos. Saber a espessura do manto vegetal determinando a área e volume de terras a retirar, depositando-as em local apropriado a fim de repor mais tarde a camada vegetal dali originária. Será esta a melhor compostagem a utilizar na cobertura superficial das feridas de cortes e aterros.
Fiz uma descrição das tarefas técnicas para assim ficarem com uma vaga noção do envolvimento e tecnicidade na execução de um projecto de estrada. Coisa que me era inerente bem como o cálculo e posterior implantação. Não era ser-se só operador como também saber-se de leis de terras, agrimensura ajuramentada e todo o cálculo da obra. Entre os trabalhadores mais cientes eram dadas tarefas de fazer trompos ou estacas a partir de varas cortadas no local que serviriam para assinalar o perfil e dali com estacionamento de nível ou teodolito fazer levantamento ou simples leitura de nível.
Os demais contratados cortavam mato, transportavam equipamento e água, umbrela ou chapéu para sombrear o operador e outro equipamento de apoio. Quando necessário fazer-se comida um ou dois eram escolhidos entre voluntários para esse efeito. Nos lugares pantanosos havia um elemento incumbido de fazer fumo com ramos secos de bananeira ou outras folhas e, contendo bosta de boi para afugentar os mosquitos e miruins ou maruins (mosquitos muito pequenos e super chatos).
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Os tramos rectos eram assinalados com uma ou mais varas, dependendo da extinção, pintada e referenciada com o número de ordem. Era naquelas mudanças de rumo que depois e, em projecto surgiria uma curva simples ou composta e até com relevé, inclinação segundo o tipo e os dados de velocidade. Todos estes dados eram indicados em plano e perfil longitudinal com todas as outras referência para a futura implantação ou piquetagem de estrada.
Bem! Em um dos muitos dias e por mais de uma vez sucediam contactos imediatos com cobras, iguanas, veados, macacos, sapos e sapões, rãs, escorpiões de várias cores, lagartos e, até caimãs, jacarés pequenos. Olhando o rumo a seguir e depois de afastar o ramo lá estava uma cobra a assustar-me com sua língua bífida. Depois daquela mamba negra quasequase me ter mordido em Cabinda, enclave de Angola, todas as demais que surgiam eram coisa pouca para mim; pela certa tinha guias a me protegerem, só pode!
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Habituei-me a elas e num lugar aonde no mundo todo, mais gente morre com suas mordeduras. Não calhou esse destino para mim, ficar espumando até receber um soro antiofídico, coisa que não tinhamos. Recordo que no caso da Cobra mamba, fazia eu serviço militar em Cabinda como Furriel, incorporação de Angola; uma terra que afinal não era minha; que só o foi para a engrandecer e, tendo como agradecimento o vai-te-embora branco, tundamunjila.
E, caso a dita cuja me mordesse, teria somente quinze minutos para receber o antiofídico e isso era inviável porque eu e minha secção de serviço à lenha naquele dia, estávamos longe do quartel base. Isto aconteceu lá longe entre 1968 e 1969 num lugar chamado de Miconje, o primeiro quartel a entregar-se ao MPLA (coisa feia e desrespeitadora). Nosso destino não é previsto com hora marcada, só sucederá um dia e, no tempo que por comodidade e ordem inventamos e fragmentamos. Fico aqui neste agora…
O Soba T´Chingange
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