CONHECER MELHOR O BRASIL – BATUQUES
1ª Parte - Crónica 3397 – 18.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Batuque, é dança com acompanhamento de tambores. Era ao longo do século XIX, genericamente, para designar danças, músicas e tambores negros de características populares. Em criança, candengue e, na ainda colónia de Angola, capital de Luanda, morando eu no subúrbio (Maianga) e perto de alguns musseques (favela aquilombada), podia ouvir o toque de tambores durante as noites de sábado para domingo. Fui influenciado por esses firmes traços do povo banto que legou ao mundo e em especial ao Brasil, além da música, a forma de nutrição, folclore e a sua mística.
Enquanto em São Tomé, mulheres com lenços amarrados na cabeça como baianas desfilam seus longos e largos vestidos coloridos, com os seus balangandans, com seus tabuleiros à cabeça, com doces, batendo os pés com os bons sapatos que Deus lhes deu, exibem a sua dança do Kongo ao som do batuque. Isto da Lusofonia, aqui descrito, não é mais do que o auto do Cucumbi ou Kongo na forma de cavalhada ou Folia de Reis, relembrando as batalhas de funantes em que prenderam a irmã da rainha N´Zinga. Pois assim, foi em terras de N´Dongo, no bastião dos nobres de Pungo Andongo numa batalha chamada de M´bwila do outro lado do Atlântico.
Foi, a raiva dançada ao estilo de capoeira que os escravos de N´Gola levaram para o Brasil, encrespada nos tempos, de fedorentos porões de navios, lembranças do chicote no poste da sanzala, dos grilhões, da canga e infortúnio; era a camangula e a bassula com finta e a esquindiva que depois de transferida foi cantada com um fio e um pau, instrumento chamado de berimbau. Sim! Foi aí em Lândana do enclave de Cabinda, com os originais povos imbindas, que tudo começou. No centro da paliçada chamada de terreiro (sambódromo), o Rei traja gibão e calças brancas e manto azul bordado, tendo na cabeça uma coroa dourada tal e qual como o rei N´Zinga-a-N´Kuvo, baptizado em 1509, o primeiro rei a ser cristianizado pelos Tugas.
Esse rei, N´Zinga-a-N´Kuvo tomando o nome de Dom Afonso I deu a seu filho, o nome cristão de Henrique; foi mandado para Portugal estudar as artes da magia da Cruz, tendo dali regressado em 1521 padre de estola com todos os rituais. Vale a pena referir essa luta da bassula, finta ou esquindiva utilizada pelos pescadores imbindas do Kongo (Cabindas e Boma do N´zaire).
Foram também os Muxiloandas da ilha da Mazenga da baia de Loanda e Mussulo (Kaluandas ou Camondongos) da região dos Dembos e foz dos rios Dande, Bengo e Kwanza que como escravos, levaram isso para o Brasil derivando na Capoeira, uma forma de dança para ludibriar o patrão fazendeiro, usando a falsa ginástica de dança como luta com um dá e um larga sem agarrar, usando a força do adversário com suaves e mágicos “toques de bassula” ou “toque de finta”. A “negralhada” seminua dançava e cantava alegremente, livre do senhor do engenho e do feitor com seus ralhos (era assim que diziam seus patrões)
E o batuque veio junto, com as galinhas d´Angola, o pregão que surgiu já depois da proibição do tráfico de escravos. Dizia o pregoeiro mazombo, indo de fazenda a fazenda, de engenho a engenho; não quer comprar, coronel? Esta festa negra chamada de batuque, poderá ser vista como sinonimo de Lundus, sambas, caxambus e maracatus, segundo as variações regionais. As posturas municipais do Rio e São Paulo, documentam discussões nas câmaras, jornais e relatos de viajantes como sendo os batuques uma reunião de negros – escravos, africanos ou libertos, em variadas ocasiões.
Aos domingos e dias santos, nos locais, nas fazendas, nos cortiços da periferia das cidades, podem observar-se momentos altos desse costume. Surgem associações de batuques conhecidos como “danças de pretos” ou “baile do Kongo” que reafirmam o quanto esta prática estava envolvida com valores culturais trazidos de África, expressando nesse então, uma identidade muito distante das marcas alcançadas pela “civilização” europeia salientando-se visões preconceituosas.
Embora não se referisse nessa época, o termo de preconceito, veio no correr do tempo a se relacionar com o racismo. Por outro lado, foi a partir destas associações que surgiram as “escolas de samba” originando o carnaval - evento tão afamado no mundo cujas características deram ao Brasil a quase exclusividade. De lembrar que tendo sido os europeus, mais propriamente os portugueses, a levarem o entrudo com cavalhadas para as colónias de Angla e Moçambique, estes, por sua vez - os indígenas locais, deram largas a seus teatros de fingir, terminando nestes batuques.
(Continua…)
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