CONHECER MELHOR O BRASIL
– CANDOMBLÉ DO BRASIL e TOCOISMO DE ANGOLA
3ª Parte - Crónica 3412 – 03.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Outra base institucional para a censura aos candomblés apoiava-se num artigo da Constituição (nº 179º), o qual se garantia a “todos” a liberdade religiosa, fixando a condição para o exercício desse direito, ou seja, o respeito à religião do Estado Brasileiro e, à “moral pública”. No entanto, no dia-a-dia repressivo, foram os códigos das posturas municipais, os mais accionados.
A partir de 1830, legislaram sobre a proibição ou cancelamento dos candomblés, batuques, zungus, maracatus “danças de pretos” e “casas de dar fortuna”. As penas envolviam multas, um certo tempo no chilindró e por vezes açoites se, o infractor fosse escravo. As opiniões e acções sobre os candomblés, assim como os batuques negros, nunca conseguiram unanimidade, servindo até de pressão a jogos de interesses não declarados com incidência nos libertos.
No seio de algumas das autoridades não suportavam as livres apropriações negras dos santos católicos, usando musicas e danças como supersticiosas e ofensivas à “moral pública”, à ordem e às leis, havendo algumas tolerâncias segundo a tradição colonial, evitando assim males maiores tais como revoltas. Essa tolerância, proporcionou o arrastar dos costumes proporcionando os canais de suas afirmações ao longo do século XIX.
Entretanto e fazendo um salto ao outro lado do Atlântico encontramos no início do século XX, um dos maiores movimentos cristãos em Angola chamado de “Tocoismo” pelo que, segundo mussendos de Mais Velhos, se faz alguma luz sobre o patrono desta corrente, Simão Gonçalves Toco nascido em 1918 na localidade de Sadi-Zulumongo (N´Taia, Maquela do Zombo, província do Uíge, Angola), tendo recebido o nome kikongo de Mayamona. Após frequentar o ensino primário na missão baptista de Kibokolo, concluiu os estudos liceais no Liceu Salvador Correia em Luanda.
Terá acontecido um acto milagroso que o despoletou à sua missão religiosa: foi o encontro com Deus em Catete a 17 de Abril de 1935. Em 1942, decide partir para Leopoldville (Congo Belga) para colaborar com a missão local e dirigir um coro musical já aqui descrito. Graças ao trabalho que lhe fora reconhecido no âmbito da missão baptista e do coro, no ano de 1946, é convidado, junto com outros dois “indígenas” - Gaspar de Almeida e Jessé Chipenda Chiúla, para intervir nos trabalhos da Conferência Missionária Internacional Protestante, realizada de 15 a 21 de Julho desse ano, na localidade de Kaliná em Leopoldville, Congo Belga.
Simão Gonçalves Toco e muitos dos seus seguidores foram presos pelas autoridades belgas, sob a acusação de alterar a ordem pública. Em Janeiro de 1950, são deportados do Congo Belga e entregues, no posto fronteiriço de Nóqui (província do Zaire), às autoridades portuguesas. Procuram dar por terminado o movimento daquilo que consideravam ser uma "seita perigosa", dividindo o grupo em grupos menores que serão dispersos, no âmbito da política de povoamento colonial vigente à época, em distintos colonatos e campos de trabalhos forçados por toda a colónia.
O líder Toco, é enviado numa primeira instância pelo Vale do Loge e, após passagens por Luanda, Caconda e Jáu, é enviado para a São Martinho dos Tigres, na província de Namibe - Moçâmedes. Pouco tempo depois, é enviado para trabalhar como assistente num farol em Ponta Albina, na mesma região. Em 1961, quando tem início as campanhas de libertação de Angola no norte do país, as autoridades portuguesas, conhecedoras da capacidade de mobilização do profeta, ordenam a sua ida para o Uíge, uma região fronteiriça com o Congo. Por meio dele, pretendeu-se chamar a população que tinham fugido para as matas na sequência de acções militares.
Simão Toco consegue mobilizar milhares de conterrâneos, mas a desconfiança das autoridades portuguesas relativamente às suas intenções faz com que se decidam por enviá-lo para um segundo período de exílio. Desta feita, é enviado para a ilha portuguesa de São Miguel, nos Açores, onde trabalhará como assistente de faroleiro na localidade de Ginetes. A sua permanência nesta ilha portuguesa demorará 11 anos mas no entanto, não esmorecerá no seguimento de sua missão. Ao longo deste período, Simão Toco intercambiará milhares de cartas com os seus seguidores em Angola, com quem construirá um movimento de carácter nacionalista.
Simão Toco é finalmente autorizado a regressar ao seu país ainda colónia, o que acontece a 31 de Agosto de 1974, quatro meses depois do 25 de Abril da tal revolução dos cravos. Recebido pelo então governador em transição, o Almirante Rosa Coutinho, Simão Gonçalves Toco vê finalmente reconhecida a liberdade de expressão e de culto do seu movimento…
(Continua…)
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