CONHECER MELHOR O BRASIL – BATUQUES
2ª Parte - Crónica 3399 – 21.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
As cavalhadas de batuque na colónia de Angola, do outro lado do Atlântico tiveram maior impulso nos fins do século XIX saindo dos seus nichos habituais dos vários musseques e, tendo maior expressão na marginal de Luanda que então tinha o nome de Diogo Cão, em meados do século XX. Os grupos eram patrocinados dela Organização de Turismo Colonial. Também tinham grande expressão as manifestações na Cidade do Lobito mais a Sul.
Em ambas as cidades havia magotes de gente brincando o carnaval com batuque e lançamento de farinha uns aos outros, ficando todos mascarados de brancos. Tal como o jogo da bassula originária de Lândana de Cabinda, a acompanhar o batuque era usada a dança de uma forma acrobática como um jogo de pega e larga para enganar a proibição das autoridades.
Em dias de carnaval tudo era tolerado; os batuques de tambores ecoavam por toda a Luanda suburbana. O batuque para além de acentuar indecências, sua licenciosidade era ciente de sua imoralidade com o caracter selvagem e grotesco, pelo movimento das ancas, o trepidar do mataco, (bunda) na presença de instrumentos inebriantes e de sempre surgirem apelo de contenção da elite, dos nobres e outros suspensórios sociais.
No Brasil e em Angola os métodos de abordar o entrudo era bem tolerado. O batuque em realidade era uma forma de proporcionar ambientes de bebedeira, muito vinho a martelo, baptizado pelos comerciantes locais com água e outras catchipembas fermentadas em barris situados lá no fundo de quintal da venda para disfarçar cheiros fortes.
Tanto em Luanda como no Rio ou São Paulo do Brasil, os ambientes curtiam-se do mesmo jeito. Em Loanda ainda me lembro do vinho comprado em garrafão da marca Camilo Alves, uma zurrapa que subia rápido ao cérebro e cerebelo. No Brasil havia a particularidade de se jagunçar a festa com matanças; havia crimes sem se desvendar o móbil do acto e também um desperdício do trabalho dos escravos, sobretudo nos encontros propícios a movimentos revoltosos.
Posso imaginar o que se poderia dizer das actuais danças tão incentivadoras ao sexo e de uma forma abusada e tolerada por todos – gestos obscenos de “kuduro”, de fazer corar donzelas virgens… Enfim, destes ritmos bizarrocos de fazer espichar o vermelho do mais puritano do que não é bonito, banalizado no ridículo que ironicamente se banaliza numa de “pois é moda” deitando o ridículo na lixeira para tudo terminar num jogo amistoso.
Relatos antigos referem imagens da época permitindo rever algumas marcas do género com coreografia de danças em círculo movimentos ati-relógio, de anti vergonha ajustando ao gosto da bunda, mataco e obscenidades. Obscenidades ao jogo com versos e desafios, contestação a tudo com dançarinos rebolando sós ou em pares, improvisando-se em sexualidades estranhas.
A moderar tudo surgiram novos conceitos a que chamaram de “festas juninas” de cariz social evitando as umbigadas, massembas e, usando o bater de mãos associado ao canto. Danças com cariz religioso de acalmar famílias tradicionais de costumes bem conservadores. Em torno do batuque, no tocar de bombo e, a partir destes, tornava-se possível fugir ao trabalho tecendo relações de solidariedade entre escravos e libertos, entre africanos e crioulos…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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