ANGOLA E OS QUILOMBOS DO BRASIL – 13.02.2019
Angola e os Quilombos - Na Cerca dos Macacos…
Por
T´Chingange – No Nordeste do Brasil
Estive lá no dia 14 de Março de 2009 (há dez anos atrás), na Serra da Barriga e, do que vi e li, concluí o que antes e a seguir descrevo. O termo de Muxima que é a saudade dos mwangolés - quimbundos, pode ler-se no quadro de entrada na Serra da Barriga: “Muxima dos Palmares é uma homenagem aos Comandantes-em-Chefe que formavam o Conselho Deliberativo do Quilombo dos Palmares - São eles: Acaíne, Acaiuba, Acutilene, Amaro, Andalaquituche, Dambrabanga, Ganga-Muiça, Ganga-Zona, Osenga, Subupira, Toculo, Tabocas, e seus principais lideres: -Aqualtune, Ganga-Zumba e Zumbi, Banga, Camoanga e Mouza, que resistiram depois da morte de Zumbi, aqui também são homenageados, assim como todos os negros e negras, guerreiros e guerreiras.
Todos aqueles que ao longo de quatro Séculos lutaram (e ainda lutam) pela liberdade racial”. Uma outra placa com fundo preto e letras salientes reconhecido no final pelo Governador Alagoano, Engenheiro Ronaldo Lessa a 20 de Novembro de 2002: -“Homenagem aos Heróis Quilombolas que tombaram lutando pela liberdade em 06 de Fevereiro de 1694: Ganga Zumba, Dandaro, Acotirente, Andalaquituche, Aqualtune, Gana Zona, Ganga Muiça, Acaiúbo, Toculo”.
A SERRA DA BARRIGA - “CERCA DOS MACACOS” O termo Sanzala ou Senzala em Angola é um povoado normal enquanto que no Brasil está conotada com as casas de tortura, da canga, dos grilhos, da chibata, da bola, da máscara de sino e correntes. Kimbo é o nome de sanzala na região de fala Umbundo em Angola, planalto Central com suas casas, libatas como montar uma loja virtual ou embalas.
Todo este trabalho de pesquisa, foi objecto de promessa minha ao fiel depositário do Guardião da cultura em União dos Palmares e Zelador do Museu de Maria Mariá, Senhor Paulo de Castro Sarmento Filho, que teve amabilidade de me mostrar o actual mocambo de Muquém, a Serra da Barriga e descrever o seu trabalho ainda em esboço duma Cartilha Pedagógica, um projecto de cultura viva. Acompanharam-me nesta visita que durou todo um dia, a Dra Rosa Casado, natural daquela cidade de União, e filha de um dos últimos prefeitos de União dos Palmares de quem me prezo ser amigo. Ficou a promessa de uma futura visita aos mocambos de Cajá dos Negros e Palmeira dos Pretos, povoados em que ainda são visíveis os costumes antigos trazidos de África.
Vivem da agricultura, da venda de artesanato, potes em cerâmica, feitos de forma manual. Estar ali, é o mesmo que estar em qualquer sanzala de Angola nos dias de hoje. Por todo o interior de Pernambuco, perto Guaranhuns e Alagoas em União e Palmeira dos Indios, as características levam-nos à África longínqua
Sintetizo aqui, o essencial com algumas e poucas introduções de meu foro - “A África revelada por Arnon de Mello” e publicado no jornal Gazeta de Alagoas. No século XVII, Alagoas oferece reduto para os negros formarem os inúmeros quilombos que prosperavam em todo o território brasileiro, mas que tiveram na Cerca dos Macacos da Serra da Barriga, nos Palmares, sua maior simbologia. O Brasil foi o país com a maior concentração de escravos negros do mundo com dados indicadores de 3,5 milhões. A liberdade, por meio de fuga, consolidava-se pela anormalidade da vida administrativa e económica da capitania de Pernambuco.
Palmares, perdurou por 64 anos, capitulando no ano de 1696. O governador da capitania relata ao rei D. Pedro II, o pacífico, a morte de Zumbi dos Palmares. Senhor - O Governador de Pernambuco Caetano de Melo de Castro em carta de 25 de Março deste ano de 1696, dá conta a Vossa Majestade de como se houve a certeza de haver conseguido a morte de zumbi. Para que nenhuma dívida se fizesse, para aquietação dos povos e para exemplo dos negros que o julgavam imortal, e para demonstração do que se diz se envia cópia da acta feita pelos oficiais da câmara de Porto Calvo e, por ela se sabe que o grosso das tropas paulistas na pessoa do Capitão André Furtado de Mendonça que conseguiu a morte do negro no sumidouro que este artificialmente fizera na serra dos dois irmãos.
O corpo que se apresentou aos ditos oficiais, pequeno e magro, em cujo exame se viram quinze ferimentos de bala e muitos de lança vendo-se que o membro da virilidade do dito negro se havia cortado e enfiado na boca, também lhe faltando um olho e se lhe cortara a mão direita; que perante os oficiais da câmara juraram as testemunhas pertencer o cadáver ao negro Zumbi, a saber, um cabo maior que se apanhara vivo na companhia do dito, os escravos Francisco e João, o senhor do engenho António Ponto e o lavrador de partido António Souza, que todos haviam conhecido em pessoa o açoite daqueles povos; que se lavrou na acta do reconhecimento do cadáver do negro Zumbi, e que para que se pudesse isso mostrar ao governador de Pernambuco Caetano de Melo de Castro deliberou-se levar ao Recife somente a cabeça ( Nesse então, era habitual esta prática).
Pela impossibilidade de levar o corpo todo; que no pátio da câmara presente todos os oficiais, um negro decepou a cabeça a qual se salvou com sal fino, o que tudo se faz constar na mesma acta, que assim pode ele governador Caetano De Melo e Castro à vista da cabeça e da acta, da câmara ter a certeza da morte do negro que tantos danos fizera à Real Fazenda e aos moradores das capitanias de Pernambuco. Este documento será assinado em Lisboa a 2 de Setembro de 1696 pelo Conde de Alvear, por João de Sepúlveda e Matos e José de Freitas Serrão.
É este, um modesto contributo a juntar à história dos países Lusófonos intervenientes, Angola, Brasil e Portugal. E, para que conste na “Torre do Zombo do Kimbo” aqui ficam os agradecimentos a Paulo Sarmento, Governador Assistente do Rotary Internacional, Distrito 4390 e Rosa Casado, Advogada aposentada, que me proporcionaram horas de encanto e convívio.
Ilustrações de Costa Araújo (Mano Corvo)
Referência Bibliográfica: A África Revelada, ensaio de Arnon de Melo.
Da lavra (n´Nhaca) – 14 de Março de 2019
Soba T´Chingange
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