CONHECER O BRASIL – 05.03.2019
BRASIL – DIA DE CARNAVAL – Na passagem do primeiro para o segundo tempo* na vida do BRASIL, irei recordar o que são os TROPEIROS- parte UM …
Por
T´Chingange – No Nordeste do Brasil
Aqui na Mata Atlântica à beira mar, no Agreste e depois no Sertão, pode-se comer como acompanhamento a qualquer prato, a farofa, o pirão de mandioca aguado, arroz e feijão preto. Entre muitas das iguarias tem um especial acompanhamento que é o feijão tropeiro. Recentemente, provei um prato de costeletas de vaca ou boi como aqui se diz, feito bem à maneira tropeira. Só carne com salsicha na proporção de um para meio, feito na panela de pressão em vinte minutos.
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Convêm meter no fundo da panela umas quantas rodelas de cebola para não torriscar a carne em caso de descuido, cozida em lume brando e também para lhe dar um certo sabor. Em verdade pode-se acrescentar outros legumes para variar o gosto mas, este é o modo mais simples de se cozinhar. O tropa condutor de mulas não tinha muito tempo para cozinhar sofisticação; o lema dele era chegar ao destino no mínimo tempo levando seus muitos animais e sua carga variada, para as vendas de comerciantes situadas bem por detrás de morros, charcos ou serras medonhas difíceis de transpor.
Ora é por aqui que teremos de explicar o que é isso de TROPEIRISMO. Na historiografia o termo é referido por via dessa actividade estar relacionada desde o século XVIII, com tropas de mulas, animais criados nos campos do Rio Grande do Sul, onde havia uma salinização natural nos pastos, condição de sobrevivência para esta espécie existente tanto aqui nas pampas, terras de Cisplatina, de aquém rio da Prata, ou mais a norte, no Vale do Rio de São Francisco.
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As mulas xucras, percorriam em grande número, por vezes mais de dois mil quilómetros, passando por invernadas, sobretudo nos campos do Paraná, até chegarem às famosas feiras de Sorocaba, na região de São Paulo. No início do século XIX, calcula-se que cerca de vinte mil muares eram anualmente negociados em Sorocaba, passando para cerca de cem mil, na década de 1850 e, declinando para dez mil a partir dos anos 1880.
No ano de 1817 foram importadas cerca de doze mil bestas destas para Minas Gerais. O percurso era trabalhoso, e as tropas eram compostas pelo condutor-chefe, camaradas e cozinheiro, além de cães amestrados que evitavam a tresmalhação dos animais, bem à maneira dos cães da Serra da Estrela ou Caramulo do M´Puto que juntam o rebanho de ovelhas ou cabras. Éguas madrinhas, experientes, enfeitadas com arreios de prata de Cisplatina, guizos no peitoral e Chapéu de pluma na cabeça, dirigiam os lotes de muares.
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Os rebanhos de ovelhas em transumância entre as lezírias e pastos tipo savana do Alentejo, num Portugal de há setenta anos atrás, também eram enfeitados os animais mais nobres do rebanho. Levavam grandes chocalhos a fim de assinalarem o caminho na deslocação para as terras férteis mais a norte das Serras de Montemuro, Leomil, Lapa ou Marofa entre outras e, cada lote demarcado por sinais de ferro eram enfeitadas com duráveis serpentinas nos chifres, também no intuito de as distinguir; estas eram de fulano, aquelas eram de beltrano e as outras eram de sicrano…
A dieta dos condutores consistia fundamentalmente em carne seca, charque ou de sol, feijão, angu de milho, fuba – farinha de mandioca, café e açúcar, produtos transportados em sacolas de ráfia, piaçaba e outras fibras do mato, por mulas cargueiras. É assim que chegamos ao tão conhecido “feijão tropeiro” e o “ carreteiro de charque”. A cachaça sempre presente, era mais usada para evitar gripes do que propriamente para ser bebida avulso; tudo isto era consumido tendo no final uma passa de fumo, para falar bem à maneira moderna; fumo de rolo que funcionava como emplastro contra picadas de insectos e cobras.
A expressão “tropeiro” em verdade, abriga tipos sociais muito diferentes a saber: - o condutor de topas de mulas, eram assim chamados ou também de “peões de conduta” atrás descritos; o negociante era conhecido por isso mesmo, “negociante de tropa”, “solta” ou “carregada” – isto quer dizer que negociava toda a tropa com carga ou o animal solto de carga ou ainda, de só um ou mais animais com sua carga. Havia também o “dono de tropa de mulas” que cobrava pelo frete, assim como se fosse uma companhia moderna de ónibus, autocarros.
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Deveria ser uma vida bem difícil, andar dias e dias em sinuosas travessias e a partir das terras a Sul, terra de Gaúchos. Levar à semelhança dos pastores de ovelhas de Portugal agasalhos, mantas coloridas de Minde e ou mantas de trapos da Beira Alta, pesadas para xuxú, para resistirem às intempéries.
Água ardente feita do bagaço da uva para desinfectar a goela e as feridas. Levar chapéus-de-chuva ou capas feitas em palha para poderem prosseguir andamento debaixo de chuva, nevoeiro e assim aguentar os contratempos; largados das famílias por espaços longos no tempo. Recordo de ainda puto, candengue, pivete, rapaz, observar atrás dos muros, pequena fragas empilhadas a circundar caminhos poeirentos, na espreita a ver longos rebanhos que levantavam pó; levavam horas a passar, uma alegria diferente, com cheiro e sabor…
Eram chocalhos e guizos – eram gritos e apitos no meio dos pinhais das terras altas do M´Puto. Homens encorpados com vestes fortes levando aos ombros mais mantas e até por vezes um cordeiro de tenra idade, balindo por sua mãe no meio do rebanho. Cheiros tão antigos que já poucos se lembram – Tempo do Zé do Telhado lá no M´Puto e do Lampião aqui das terras do Nordeste. Em homenagem a estes homens ainda tomo uma pinga de cachaça no café Santa Clara, uma pinga de aguardente – Que sabor tão divino. Que o diga meu amigo Arrais de Bustos que por aqui anda à bem mais de uma vida vivida…
Nota*: O Brasil tem dois tempos distintos no ano: - Um ANTES e o outro DEPOIS do CARNAVAL… Bem dizia o Presidente De Gaulle: O Brasil não é para ser tomado a sério…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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