ANGOLA, TERRA DA GASOSA . II
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças actuais de escritos antigos - “Havemos de voltar” – Foi em Julho de 2002
– Crónica 3273 de 05.04.2022 – Republicada a 16.10.2022 no AlGharb do M´Puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange
Voo TP, destino Luanda – Uma lufada de ar quente ao sair do Douglas no Aeroporto Internacional de Luanda, “Quatro de Fevereiro” em Belas. Momentos antes na acomodação da aterragem, já lusco-fusco, circunsobrevoavamos a Luua e, ali estava ela cheia de pontinhos de luz dando indicação do crescimento emancipado para mais além do que se poderia imaginar em 11 de Novembro de 1975 e, lá estava a ponta da ilha Mazenga e sua bonita baia de luz reflectida em nuances multicolores, os barcos, edifícios e, também uma nova coisa chamada de plataforma petrolífera, mesmomesmo na embocadura.
Do Morra da Cruz e em círculo, passando por Viana até quase ao Cacuaco, tudo é Luanda, não se distinguindo aonde acaba o musseque e começa a cidade; o centro perdeu-se numa imensidão de cubatas e, aí temos a grande metrópole com quase cinco milhões de habitantes (2002), a transbordar nas barrocas e linhas de água, que já o foram. A catinga sente-se no ar à mistura com estagnados descuidos de águas negras a céu aberto e, sem impedimento de se o notar; o costume habitua-se no urbanismo da normalidade…
Noutro dia e, à luz clara da manhã fresca deu para pisar o pó e as escorrências, sentir os cheiros fortes de mabanga e peixe frito em óleo de dendém, odores de lixo desentulhado com muita gente circulando, fazendo não sei o quê, talvez queimando o tempo e, cruzando arrepiadamente sobrevivências por todo sitio, ruas definhadas, esburacadas, ondulando o passeio, que o não é mais; asfalto malé, aiué…
Na encosta do Prenda cortava-se a carapinha num telheiro meio chapa, meio palha e pedaços de taipa quase que meio por fazer e, mais ao lado neste pseudo cabeleireiro, lá estava a tabuleta “Salão de senhoras Dona Xepa” e no letreiro podia até ler-se: desfrisam-se cabeças. Se havia cor no imóvel, tinha fugido, faz tempo!... Vou tentar cronicar o que vi e, fazer retrato do que me apercebi com as inerentes dificuldades dum branco de segunda, quase preto por defeito e ousadia, que não esquece o calor daquela terra de quando ainda candengue pisou todo aquele espaço.
Espaço que também me viu crescer amulatado de jeitos, crioulo mazombo de imperfeição. Mas, diga-se, o calor continua também naquelas gentes, com vontade de agradar; a amizade faz-se rápido, flui mais repentinamente num abraço de empatia como doença de querer. Desta feita assim ganhei mais um amigo de nome Humberto, rebaptizado de “Bien”. Foi ele o meu cicerone durante vinticinco dias e, é a ele a quem esta crónica é dedicada por agradecimento…
Foi ele, engenheiro Bien, formado em Cubano, natural do Sumbe, que me levou desde a foz do rio Dande, bem perto do Caxito, até ao dito Cantinho do Inferno. Aqui voltarei na descrição chegado seu próprio momento e, para não me perder no fio da meada dizendo do resto aonde me levou que, assim será na ordem cardial e para Sul com o Porto Amboim, Sumbe, antigo Novo Redondo, Canjála, Lobito, Benguela e Baia Farta.
Bien, ex-comandante, formado em Cuba, técnico de Construção Civil. Como tantos outros neste momento (2002) está no desemprego mas, sempre há um mas, desenrasca a vida peneirando diligências aqui e ali furando o esquema; comprou uma roulotte e, lá para os lados do Sambizanga tem uma catorzinha a vender peixe frito, banana assada, pasteis e cachorros quentes de pastas coloridas oriundas dos tomates e outras especiarias, mais cerveja cuca quando a há e, também quando calha, se acomoda com ela nas ternuras do farfalho…
Bien, o ex-comandante, engenheiro de desenrasca, diz que são necessidades fisioterapeutas. Só que lá no Sumbe e Benguela também tem mulher e filhos, pois! Mancomunou a vida aqui e ali soldando avarias pelas técnicas aprendidas em Havana e, ali nas facilidades acostumadas de suas terras, comunga tudo com as saias desprendidas e a isto, disse-me não ser de ferro. Em verdade, há trechos em que nossa vida amolece a gente, tanto, que até num referver de bom desejo, no meio da razão sempre vem um benefício…
Passados que são mais de vinte anos, recordo de novo nesta data para que conste na Torre de N´Zombo do Kimbo, a biblioteca base desta existência…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
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