ANGOLA, TERRA DA GASOSA . IV
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças actuais de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)
– Crónica 3280 de 12.04.2022 – Republicada a 26.10,2022 na Lagoa do M´puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange – Em PortVille da Pajuçara de Maceió
A lufada de ar quente da chegada a Luanda foi há dias atrás; neste meio tempo li levemente a obra do sociólogo Paulo de Carvalho com o subtítulo desta crónica e que, só por si, revela a preocupação na mudança das coisas. O desejo de Kianda do Maurício dos Santos Pestana (Pepetela) também vem demonstrar que hoje as vivências fazem-se num confronto de ambivalência e das coisas confundidas no seio deste povo; o mesmo sol da secura e aridez que amadurece os produtos e, a chuva que tudo inunda, é a mesma que os rega.
A linguagem mitológica, a verdade das coisas é colhida entre o falso e o verdadeiro, baralhando o conceito da razão; no entretanto destas divagações de um Niassalês, que sou eu, vamos a caminho do Sumbe, (Ex Novo Redondo), lá aonde se situa o Cantinho do Inferno. Até ao Sumbe são 320 quilómetros. Passada a Samba, vem o Rocha Pinto, a Corimba, o Benfica, o Futungo, os Morros dos Veados e da Cruz. Aqui, a capela foi promovida a Museu da História da Escravatura.
Em verdade, a criação deste Museu tem razão de o ser pois que foi dali, pertença do reino de N´Gola que saíram milhares de escravos para o Brasil. Chegados aqui, que fique claro que quando o Diogo Cam chegou à foz do rio Kongo surpreendeu-se com a prática dos indígenas comercializarem as suas gentes; usavam os prisioneiros de outras tribos, das guerras constantes que mantiam entre si, transaccionando-os como uma qualquer mercadoria.
Esta prática usada entre as muitas tribos em África e particularmente em Angola, veio a calhar para colmatar a falta de mão-de-obra para nas muitas culturas em expansão no grande território do Brasil; os engenhos da cana-de-açúcar estavam carentes de gente no seu trato, no amanho das longas extensões de terras como o café, algodão ou cacau. A partir daqui surgiram empresários negreiros que sem controlo, fizeram fortunas tratando as gentes oriundas de várias partes, ocasionando riquezas desmedidas de agentes em Angola e Brasil. A palavra infortúnio ainda não estava inventada…
Foi esta disseminação de gente de tez negra para as américas que originou a grande diáspora alterando os conceitos de raça por via normal de miscigenação. Na escola básica, aprendi que no Mundo havia quatro principais raças, a branca, a negra, a amarela e a vermelha. Os sociólogos tiveram muita dificuldade em estabelecer padrões na sua classificação e, muito rápidamente o conceito de raça humanizou-se simplesmente em raça humana; nesta questão fica bem evidente a globalização com a forte participação portuguesa.
Continuando a viagem, usando a visível marcação do meio-fio e, quase sem buracos chegamos ao rio Kwanza. Aqui o controlo é mais refinado, mais pelos veículos do que propriamente pelos passageiros, a ponte suspensa tem alguma relevância mas, a destoar sucede o facto de alguns militares que por ali estavam espairecendo preguiça, nos terem abordado pedindo gasosa, a mesma pedinchice que sempre nos acompanhou por todo o lado e, desta feita perante o nosso semblante de surpresa, o militar de camuflado ao jeito explicativo e indicando os demais companheiros, encostado ao varão da ponte disse:
- Kota, ajuda só… é para levantar a moral! E, com este pretexto desinibido de vergonha escorregamos com cinquenta kwanzas correspondendo a duas frescas cucas e ainda sobram cinco kwanzas para o engraxador do Sumbe… Cabo Ledo fica em plena reserva da Quiçama mas, até aqui não vimos qualquer espécie de bicho. Acerca da área de serviço aonde paramos, a de Cabo Ledo, trata-se de um amontoado de chinguiços amarrados com mateba e cobertos a capim e, só simplesmente amontoado.
Estas estruturas da área de serviço, têm “empresárias de sucesso” que superintendem caixas térmicas com gelo e frias sagres, taifel, hansen ou cuca. A acompanhar há galinha assada no espeto, talqualmente e, umas batatas-doces assadas no fogo. É quase uma paragem obrigatória pois que o calor é intenso. As empresárias de sucesso, amigas de Bien e Xico seu primo, com rudimentos falíveis de higiene aprendidas no funaná Bye Bye My Love, cursadas em sobrevivência, transformam a fome em petico de espanto. O frango no espeto marchou sem entretantos e, com muito jindungo; deu para notar as onduladas conversas de sussurradas popias de muitos atarraxados encantos…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
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