ANGOLA, TERRA DA GASOSA . XII
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
“Angola, quanto tempo falta para amanhã?” - Escritos antigos - Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi - 22 de Fevereiro de 2002)
Crónica 3323 de 01.08.2022 - Republicação a 13.12.2022, no Al.Gharb do M´Puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange – (Otchingandji)
Voo TAP – Destino Luanda – Ano de 2002. A viagem de teimosia ao Lobito e Benguela respirou coerência porque queríamos sentir o ondulado de 180 mil buracos em oitenta quilómetros e, ficarmos zonzos no jeito de internar doidos na reclusão da paciência, mas valeu pela beleza das vistas além asfalto, além urbano, para lá do Morro do M´Gelo. Os sabores da antiga infância, sinuseavam aquela picada promovida a estrada trazendo à ideia o muxoxo da quitandeira lá do bairro e no tempo em que o contentor não era o mini- mercado de alguns desinfelizes.
Assim e sem luz, barulho engasgado do gerador Honda no fundo do quintal, entre queixas de uns e outros com muito sundiameno e toparioba pelo meio, tudo era intercalado com vírgulas de carvalhos sem vê, que isto assim não pode ser e, sem luz nem televisão havia silêncios misturados com prazer – a vida continua! Só o velho Pernambuco, o cozinheiro que sabia fazer lagosta suada como mais ninguém, se desfazia em queixumes silenciosos como essa dor de reumático que lhe entorpecia tudo e até o prazer de viver. Menino, estou nos finalmente, disse ele para mim e, eu fiquei bwé de triste, tristíssimo mentindo-lhe com falas baratas; falas de matrindindi…
Na inventação disto tudo vejo que todos têm um forte compromisso na reconciliação dos direitos do homem, para no fundamental irem para além do marasmo, se solidarizarem com o comprimido aspro e paracetamol a que tudo acode, a tudo do quanto baste. Quinino, Kamoquina ou Rezoquina se houver tremuras com frio. Mas, o fado era mesmo deixa para lá que tudo passa com o que tiver que ser, missangas de vai ser com outras filosofias empoleiradas no varão da coisa fácil, amarrotadas no canto das alvissaras porque em tempo de crise urubu vira galinha, o chuço, talqualmente…
Só mesmo o Bien, engenheiro civil formado em Varadero e Matanças de Cuba, nos poderia levar a estes muitos lugares, em seu carro de muitas verguinhas soldadas no chassi, só mesmo metade do vidro retrovisor do lado dele, do outro só mesmo o espaço oco e enferrujado, era um carro de metades, biónico e ajustado nos ruídos de alerta, chiadeiras dos ferodos do travão com cheiros espaciais, com ajustes devido aos fumos saindo da carcaça sem reflectores, sem pára-choques, a mola da esquerda helicoidal com H e, da direita improvisada de molas de carrinha estiradas, batidas e ajustadas, Uma aranha andante que arrancava com gasolina e depois de virar o zingarelho de arame, gastava petróleo de candeeiro (Bien engenheiro, aprendeu isso em Matanças de Cuba)
Quase na foz do Cubal, junto à estrada das tormentas, o rio sai das alturas por um fundo canal com rápidos e margens escarpadas, cheias de vegetação nas vertentes; dos jacarés que dizem haver não vi nenhum mas, imaginei vislumbrar uns quantos em surdina da frescura. Bem perto, na antiga estrada para a praia do Kilombo lá estavam aqueles imbondeiros, referência da infância na viragem à direita naquela mesma picada. À vez cada qual dos ocupantes tinha vez de ir com a cabeça de fora para não intoxicar (verdade mesmo…)
Nas agressivas barrocas e antes dos tais penhascos misturavam-se um alcantarilha de cubatas feitas a taipa, cor da terra que desciam em presépio pobre terminando num terraço aonde se mantinha uma escola cuidada; na cornija desta podia ler-se “Havemos de Voltar”, penso eu que, uma alusão de que ali as crianças eram oriundas do planalto central de Angola, gente deslocada pela guerra. Recordar que tantas vezes repeti esta pequena referência como busca desenfreada que nunca se proporcionou, por uma qualquer razão até que entardeceu por demais…
Como erva do diabo, o desejável raramente passa no mesmo sítio. Uma erva que existe no Calahári e deserto do Karoo muito para lá da Namíbia. Afinal, esta gente, tal como eu, também foram intornados para ali, lugar possível, foz de um rio chorado nas terras altas do Huambo. Como é necessário refazer os afectos, matutei.
Saindo deste sapal aonde as mil formas de vida contemplam, a natureza sobrepõe-se à resiliência e, faço mais o quê!? - Sigo o rumo febril de cheirar por inteiro a mítica África que me viu nascer só de faz-de-conta no barco Niassa. Já no cair da noite, deixamos o kota da Vata de nome Diogo Cão, seu verdadeiro nome de pescador de lagostas naquele lindo lugar de Kilombo, lugar de antigas salgas de peixe seco; Fiquei a saber por ele que para além daqueles crustáceos há cacusso, também um bagre de nome tipioco e lagostim do bom, parecido com o “pitu” do Rio São Francisco do Brasil…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
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