MULOLAS DO TEMPO – 25
RECORDANDO: Nós, bazungus no SAVORA LODGE - Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA”
- 45º e 46º dias (02 e 03 de Novembro de 2018…)
Crónica 3263 – 23.03.2022 em Maceió – Republicação a 05.10.2022 no AlGharb do M´Puto
Por T´Chingange (Otchingandji) – No PortVille de Maceió do Brasil e Lagoa do M´Puto
SAVORA LODGE – Estamos a ficar longe no tempo para poder recordar todos os detalhes e, se não houve rascunhos naquele então, ainda mais difícil fica. Sei que a caminho de Inharrime na Estrada Nacional nº1, tomamos uma estrada de terra à esquerda com piso em argila regularizado. Anotei a indicação lá no início do troço de Savora Lodge, cursos de mergulho aquático no Pacifico; passamos por várias pequenas povoações destacando-se nelas as igrejas pela cruz de estrutura modesta mas bem conservadas e, com um átrio frontal, nalguns casos ajardinados.
Divisando-se já as dunas da costa podia ver-se de longe pequenas manchas ao jeito de casas entrecortadas no meio da vegetação rasteira muito característico desta costa por via da humidade sempre presente da brisa marítima. De um e de outro lado da picada, havia lagoas muito cobertas de vegetação rodeadas de mangue e com grandes áreas da praga aquática chamada de jacinto. Chegados lá no topo da duna aparcamos os carros e fizemos inscrição para duas noites. O ambiente era de aficionados da pesca à linha e de mergulho podendo ver-se estirados nas cordas os fatos emborrachados da prática de mergulho bem como as barbatanas de pés longos.
Almoçamos na esplanada disfrutando do Oceano Pacifico e, por momentos lembrei-me daquela outra esplanada chamada de “Two Oceans” bem no estremo sul de áfrica, mais propriamente no Cabo Boa Esperança ou das Tormentas. Mas aqui e pela primeira vez provo a primeira cerveja de mandioca conhecida do mundo. Cerveja lançada pela empresa Cervejas de Moçambique, dona das marcas Laurentina e 2M. Quando José Moreira, administrador da empresa, anunciou a criação desta cerveja de mandioca ao mundo deu-lhe o nome de Impala; No dizer dele, tinha um sabor parecido ao das cervejas de malte, tendo a vantagem de poder ser oferecida ao povo por um preço mais baixo.
Aquela cerveja foi desenvolvida com um duplo objectivo: para ser consumida pelas camadas mais pobres da população, que se alimentam sobretudo desta raiz, e para ajudar os pequenos agricultores do Norte de Moçambique a escoarem os excedentes de mandioca que ficavam a apodrecer nos campos. Podia imaginar Manuel Teixeira, o criador desta cerveja, sentado na esplanada do restaurante Piri-Piri, em Maputo, também a recordar no seu tempo: pedia uma cerveja Laurentina ou uma 2M e os empregados traziam-lhe um prato de camarões para acompanhar - «Eram os nossos tremoços»! Tal como nós em Angola no Baleizão ou na Biker, com Cuca ou Nocal e, com os acompanhamentos de carapau frito e até dobrada com feijão.
Naquele então dizia ele, Manuel Teixeira: Foi há mais de 35 anos e a cidade, então chamada Lourenço Marques, era a capital da província ultramarina de Moçambique. O empresário português, que ao longo das últimas décadas viajou para o país regularmente e, que foi testemunha da prosperidade da época colonial, da miséria dos anos da guerra civil (Moçambique chegou a ser o país mais pobre do mundo) e do renascimento da última década em que os índices de crescimento atingem os sete por cento ao ano.
Podia rever-me num esboço gatafunhado encontrado ao calhas e a cores, amarelo, azul e descolorido, uma escrita misturada de experiências, com contas de somar, subtrair e cambiar. Faço isto por vezes para ver quanto gastei em Euros, agudizando-me na curiosidade de ver contas de números altos em dólares, randes, kwachas, xilins tanzanianos, pulas, dólares zimbabwanos e agora, meticais.
Bom! Se não era um gatafunho meu, só poderia ser de Mary a minha antiga empregada de Kampala, e dai, ainda mais curioso ficava porque ela dizia assim: Patrão, mas…, a gente de Kampala não vai em safaris como vocês muzungos (brancos); só mesmo os bazungus (turistas) que gostam mais dos animais do que das pessoas! Gostam de leões, de crocodilos, e até das cobras! N´Zambi me livre, só mesmo de pensar já estou de arrepiada, diria ela agora. Eu não gosto, diz Mary e, continua com suas falas: tornei-me até muito amiga das cabras que dão leite de beber, porque só gostava mesmo do meu namorado que as guardava. Pois! Disse eu, aquele bafana para quem tu tanto falas ao microondas…
Mas, os bazungus velhos assim como o patrão e, seu amigo Reis das Vissapas com seus carros de tracção às quatro rodas, vestidos com roupas muito cheias de bolsos que parecem soldados como antigos expedicionários, e com o equipamento de combate pendurados, binóculos, máquinas de vídeo, celulares, bengalas e garrafas de água. Ué, como é então? Eu sou assim mesmo? Ela, nada disse, só mesmo oscilou os braços e fez um muxoxo a comprovar ser verdade com um sorriso de quem canta vitória.
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
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