Sexta-feira, 29 de Dezembro de 2017
PARACUCA . XXIV

MULOLAS DO TEMPO – 29.12.2017 - Mulola é um leito de rio que só o é, quando chove, tal e qual como minha vida verdadeira…

Paracuca: É uma bolacha dura, torrada com açúcar e jinguba…

Por

soba0.jpeg T´Chingange

Passeando meu doutoramento atrofiado, no tempo do M´Puto e pelas calçadas de Coimbra, piso uma titica de cachorro. Pópilas! Disse logologo uma asneira dum tamanho inteiro, desde o presente ao gerúndio, com toda a família até à terceira geração. Logo a seguir vi escrito o bom censo na forma de aviso: seu cão cagou - PF você apanhou! Se fosse camaleão, teria um olho virado para este e o outro para o chão, mas logo isto sucedeu quando lia o partecipamento de alguém falecido de nome Nepomuceno Antunes dos Olivais.

alcaçuz1.jpg E, caía uma chuva miúda e molhada de encafifar doutores, assim para desvanecer-me das vaidades, doutorices empinadas no nariz. Agora cheira isto! Bem feito! Mais à frente e antes de chegar ao Alma Shoping uma pomba esparramada já não mais o era; um qualquer pneu michelim a pisou ficando por ali pronta a ser debicada por um predador, gato ou rato suburbano.

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Também gaviões, corvos ou pardais desavindos dados ao canibalismo. Em verdade nem queria falar disto mas, e porque já está, aqui fica!  Ainda em casa, e ainda sem ver as nuvens do cacimbo-chuvisco por entre as casas, prédios e montes, disseram-me que comprasse no Alma, alcaçuz. Mas que raio é isso? É uma planta, raiz ou chá?

alcaçuz2.jpg Sai de casa com estas indefinidas dúvidas, tendo só entendido ser algo de melhorar o estado fisiológico numa mistura de isto com água fervida. Bom! Aquilo faria bem a qualquer coisa, tratamento de viroses e outras salmoneloses. Como ia eu saber disto com os olhos semicerrados piscando frio e coado nas lembranças de quando ainda era criança e, que só sabia então que a mandioca era boa pra comer.

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Lembrei-me então neste entretanto de quando ainda candengue sem maleitas significativas, tomar rodas amarelas de quinino, beber água da celha com borututu, injecções medonhas de kamoquina ou rezoquina e outras bolungas com óleo de fígado de bacalhau, para não ir cedo pró jardim das tabuletas, diziam os mais-velhos.

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Pois! Ficar assim sempre num corpo magro, alto, um trinca espinhas reco-reco-mamoeiro e sempre calçando sapatos quedes da macambira, ir na escola de bata branco com sacola de ráfia com livros lápis, um caderno de lousa preto para escrever, cuspir e apagar mais uma bola-de-cautchu pra fazer trumunos nos finalmente da escola.

alcaçuz3.jpg Ué- Aiué! Num repentinamente não era mais um kota, encarquilhado, enxovalhado do tempo e metido num kispo tapando as pintalgadelas escuras da pele, mas um candengue de nome Tonito a falar assim, de como então?! Então o quê? Assim mesmo, cruzando as ruas da Luua até chegar na escola Aplicação e Ensaios lá no largo do Dom Afonso Henriques, mesmomesmo em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos.

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Assim feito menino de musseque com aduelas de barril do M´Puto, limpo, arrumadinho e de colarinho ajeitado na hora de berridar práscola zunia na hora do meio-dia voltar na casa da mãe Arminda do Rio Seco da Maianga, pegar depois na linha e anzol comprada no Martins e Almeida, ou talvez no Catonho-Tonho e capiangado da mala de ferramentas de meu pai Manel; depois ir com meus kambas, manos do mar da Samba pra pescar mariquitas, roncadores ou matonas nos anzóis de dois-e-quinhentos angolares.

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Apanhar mabanga, fazer o isco e lançar só átoa no mar da Samba. Ali tem Kixibis, ali talvez peixe pedra ou só mesmo pedra. Sukwama! Pescando da canoa podia ver meu tio Zé no descanso de capataz da fazenda Tentativa sentado num pedaço de barroca; moscas pousando nas pernas e, ele enxotando-as e chamando-lhe nomes feios. Mas depois ficava mesmo só de olhar perdido no mar.

coimbra2.jpg Eu, o miúdo sobrinho, trinca espinhas, reco-reco e alto sentado na canoa a olhar a linha a tremer! E, nada! Não picava. Quando picava, aiué, puxava assim no calmamente pra ele não escapulir-se e… Fugiu! Filho-da-caixa, Sundiameno, tuparioba, e edecéteras; era sempre grande quando fugia, sempre! Nem isca ficava, só mesmo o anzol. Meu tio sempre falava: - Não escondeste o bico do anzol! Olha então! Meu coração me diz que peixe foi matabichar …Vou fazer mais o quê?

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:27
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2 comentários:
De nonamer a 29 de Dezembro de 2017 às 20:17
Que maravilha! Adoro ler estas crónicas. Saudades, são tantas que não há como medi-las.



De ANÓNIMO a 31 de Dezembro de 2017 às 11:07
Procurei um mail, não encontrei, armei-me em descarada e pergunto:

Como se diz Feliz ano novo em kimbundo, o senhor sabe?
E, se sabe, diz-me?

Grata desde já
Feliz Ano novo para si e para os seus
noname


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