“O PALAVRÓRIO DA FUNÇÃO ERUDITA” - Parte II
O homem herdou o mundo; a sua glória não consiste em suportar ou desprezar esse mundo…
As escolhas de T´Chingange
Por
JÚLIO FERROLHO…. Professor Aposentado mas pouco (!) - Agricultor nos intervalos da chuva, pastor, professor ainda e sempre!!! – Foi presidente do ISCAL - Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa - Aposentação e reforma após 49 anos de luta diária pela vida dia a dia, sem desistências nem interrupções…
"Coninuo a "estudar"
A ciência é exata? Há ciências exatas?
(AVISO: Este texto pode conter palavreado estranho e aparentemente incoerente. As pessoas mais sensíveis a este fenómeno devem abster-se de o ler).
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O MOTE: Agradeço os seguintes comentários que a nossa querida amiga Maria João Sacagami fez à PARTE I desta série de escritos: “…Só que aí um bando de gente mais curiosa, determinada a provar que a ciência é exacta” e mais …“a certeza científica inexiste. Porque a matéria, ou informação de frequência vibracional que parece ser uma definição mais exacta, acabou se mostrando dependente da atenção e emoção do observador, em seu comportamento”. E também ainda: “…até mesmo com base na observação, a ciência passou a ter outros critérios ao se descobrir que o cientista, Háka observador, influi no resultado da coisa observada a partir das próprias emoções e/ou comportamento deste. Portanto continuamos falando de ciência. A mecânica e a quântica”.
:::1 (…) Afirmei na parte I desta série de escritos, publicada em 15-02-2017, que: “a ciência é caracterizada como o conhecimento racional, sistemático, exacto, verificável e, contudo, falível. Através da investigação científica, o homem vai atingindo uma reconstrução conceitual dinâmica do mundo que é cada vez mais ampla, profunda e exacta”. Receio que houve quem entendesse que eu quis dizer que a ciência é exacta ou algumas ciências são exactas, hoje, no 17.º ano do séc. XXI. O erro é meu porque terei expressado uma ideia não muito clara e desejo corrigi-lo aqui e agora.
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Naquelas minhas frases que acima cito, no entanto, eu escrevi que “o homem vai atingindo uma reconstrução conceitual dinâmica do mundo que é cada vez mais ampla, profunda e exacta” e também escrevi “o conhecimento racional, sistemático, exacto, verificável e, contudo, falível”. Ora o que está em “reconstrução” é porque não está em situação de estabilidade funcional e que se admite que possa vir a ser reconstruído de novo, no futuro; portanto não é um estado acabado do conhecimento, a exactidão é dinâmica. Por outro lado, afirmo que “o conhecimento é falível e, portanto, pode ser substituído por outro.
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Ainda hoje há quem pense que as ciências exactas são as ciências que têm a Matemática, a Química e a Física como peças fundamentais dos estudos científicos. Além das três áreas básicas e todas as suas subdivisões, tais como a Física Quântica e a Físico-Química, entre as ciências que também são consideradas exactas, aparecem a Astronomia, a Estatística, a Ciência da Computação e a Arquitectura. Pensa-se assim porque a principal característica de actuação dos cientistas e dos profissionais destas áreas é o raciocínio lógico. Eu não defendo esta posição.
:::4 - Cabe aqui introduzir o conceito de PARADIGMA e a sua concomitante situação de eventual mudança. Etimologicamente este termo tem origem no grego “paradeigma” que significa modelo ou padrão, correspondendo a algo que vai servir de modelo ou exemplo a ser seguido numa situação concreta. São as normas orientadoras de um grupo de interessados que estabelecem os limites e as orientações que determinam como um indivíduo desse grupo deve desenvolver o seu pensamento em termos científicos. O termo surgiu inicialmente em Linguística. Na filosofia, um paradigma está relacionado com a epistemologia (conceito abordado na PARTE I), sendo que, para Platão, um paradigma remete para um modelo relacionado com o mundo exemplar das ideias, do qual faz parte o mundo das sensações, das constatações.
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O norte-americano Thomas Kuhn (1922-1996), físico e filósofo da ciência, no seu livro “The Structure of Scientific Revolutions” (4.ª edição 2012) designou como paradigma as “realizações científicas que geram modelos que, por um período mais ou menos longo e de modo mais ou menos explícito, orientam o desenvolvimento posterior das pesquisas exclusivamente na busca da solução para os problemas por elas suscitados.” Assim o paradigma é um princípio, teoria ou conhecimento originado da pesquisa num determinado campo científico. Uma referência inicial que servirá de modelo para novas pesquisas.
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Distingamos paradigma de hermenêutica, que são conceitos diferentes mas que aparecem por vezes misturados. Esta também é uma palavra com origem grega e significa a arte ou técnica de interpretar e explicar um texto ou discurso. O seu sentido original estava relacionado com a Bíblia, sendo que neste caso consistia na compreensão das Escrituras, para compreender o sentido das palavras de Deus. A hermenêutica também está presente na filosofia e no campo jurídico, em cada um com seu significado. Segundo a filosofia, a hermenêutica aborda duas vertentes: a epistemológica, com a interpretação de textos e é aqui que se poderá confundir com paradigma, e a ontológica, que remete para a interpretação de uma realidade. Etimologicamente, a palavra está relacionada com o deus grego Hermes, que era, entre outras representações, um dos deuses da oratória. (Ver nota 1 de fim de página)
:::7 - As mudanças de paradigma em cada ciência exigirão que as leis científicas sejam alteradas, melhoradas e até revogadas e substituídas por outras que os novos paradigmas propuserem.
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As ciências ditas exactas estão entre as mais antigas que surgiram e se desenvolveram. Desde a antiguidade, o homem utilizou a Matemática e a Física para resolver muitos dos seus problemas e moldar da melhor forma a natureza e a sociedade. Foram as designadas ciências exactas que proporcionaram que os antigos egípcios construíssem as pirâmides, que os gregos erguessem as suas acrópoles e os seus monumentos que chegaram até nós e também que o homem realizasse a viagem espacial à lua no século XX.
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Mas serão mesmo estas “ciências exactas”? De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, "exacto" significa "que não contém erro", "que tem grande rigor ou precisão", "perfeito", "irretocável". E é um costume dominante referir-se a matemática como uma ciência exacta. Esta designação, "ciência exacta", frequentemente tem levado pessoas - entre leigos e até profissionais - a crerem que a matemática e as outras ditas ciências exactas, são ciências livres de erros, com grande rigor e precisão, perfeitas e irretocáveis (que não precisam de reconstrução).
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Uma coisa é a impressão que a designação "ciência exacta" pode fazer, do ponto de vista meramente intuitivo. Outra é o que a prática matemática mostra no cotidiano de experientes cientistas e investigadores. Antes de mais nada, é preciso lembrar que matemática é uma actividade intelectual desenvolvida por seres humanos. E seres humanos, como toda a gente sabe, menos os lunáticos ou os desprovidos de senso, e mostra a prática, são criaturas falíveis.
:::11 - Aquele (ou aquela) que se condena a uma visão absolutamente clara de mundo, prática, inquestionável, inexorável, exacta, perde o contacto com o que há de mais fundamental em cada um de nós: somos todos seres humanos. A Matemática, a Química e a Física não são actividades extraterrestres, desumanas, mecânicas, previsíveis, inquestionáveis. Bem pelo contrário, são afectadas também por sensações, emoções, alegrias e tristezas.
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É sobretudo por esta razão que concluo que não se pode afirmar que elas sejam ciências exactas. Diz muito bem a Maria João Sacagami que “até mesmo com base na observação, a ciência passou a ter outros critérios” (novos paradigmas, acrescento eu) “ao se descobrir que o cientista, observador, influi no resultado da coisa observada a partir das próprias emoções e/ou comportamentos”
:::Notas
(1) Hermes era o deus mensageiro, dos pesos e medidas, dos pastores, dos oradores, dos poetas, do atletismo, do comércio, das estradas e viagens e das invenções. Era considerado, na Grécia Antiga, o patrono dos diplomatas, dos comerciantes, da ginástica e dos astrónomos. Após a Grécia ser conquistada pelo Império Romano, a figura e o mito de Hermes sofreu um sincretismo com o deus romano Mercúrio (deus do lucro, do comércio e também o mensageiro dos deuses). Este é um dos meus favoritos, pois está representado no emblema da escola de toda a minha vida como estudante, como professor e como dirigente de um instituto público, o ICL /ISCAL
25-02-2017
JCF
(Continua)
::: T.1 (T - De T´Chinhgange) - PEROLAS II – Foi publicada no Facebook na página Kizomba e, entre vários comentários António Monteiro referiu: - Professor Júlio Ferrolho, os alunos estão chegando! Nós, alunos, vamos ser bem comportados e falar de coisas tão transcendentes que terão necessidade de explicações adicionais! Isto só será possível se não nos sublimarmos!... (Não somos feitos de água!?)... Mas mesmo assim, talvez possamos virar rubis ou diamantes! Quem sabe! E, dito isto foi ver o entrudo…
:::::T.2
Assunção Roxo em uma sua opinião faz menção de que António Monteiro, o T´Chingange da kizomba, iria “reformatar” o tema em tratamento diferenciado! Não! Não se trata de reformatar (quem sou eu para tais desígnios?) o que quer que seja mas sim adendar outras perspectivas e também dar uma visão mais clara do que é um Paradigma em nossa sociedade. O assunto é longo mas vale a pena escalpelizá-lo como sugerem Luís de Magalhães e Edgar Neves com a chancela de “leitura obrigatória”.
:::::T.3
O essencial da mensagem em Pérolas I e II ultrapassam o âmbito das ciências exactas e naturais como é dito pelo professor Júlio Ferrolho pois que as questões em volta das mudanças de paradigma interessam a historiadores, filósofos, sociólogos e teólogos. A arte de comunicar ciência tem perspectivas tão interessantes que sendo eu um pé-de-chinelo curioso, só me debruçarei sobre esta hodierna revolução.
:::::T.4
As teorias que não colidam com outros paradigmas teóricos têm grande probabilidade de aceitação. As Teorias Novas que colidam com paradigmas teóricos têm grande probabilidade de sofrerem rejeição devido aos conflitos de ideias e seus mecanismos nos conceitos velhos e novos, competindo para o mesmo fim; estes poderão dominar muitos outros factores culturais sociais e psicológicos.
:::::T.5 - Talvez tenha de reflectir sobre o já dito por Maria João Sacagami para interpretar os fenómenos de rejeição que descrevem condicionantes ao sociocultural determinados porque, para estes, não há leis Universais. Fenómenos são fenómenos!
:::::T.6
O Mundo é complicado e a mente humana não o pode compreender completamente. Sendo assim, o conhecer, significa dividir e classificar para depois se determinar relações sistemáticas entre o que se separou. Se Galileu é um grave exemplo de pecado dos homens e da hierarquia da Igreja, entre outros; será exemplo de um obscurantismo grave por parte dos homens de ciência.
:::::T.7 - A história das políticas sociais revela-nos que a estrutura das ciências, afinal, não é, por vezes, tão “lógica” como se julgava. Em jeito de epílogo, talvez eu tenha razão e tales alguém mais não a tenha; mas também é bem possível que nenhum de nós a tenha! Foi Karl Potter quem assim falou.
:::::T.8
Vou agora descrever o que é na prática corrente o tal de paradigma.
A palavra “teoria” provem do grego “ver” e, quer seja uma teoria ou um modelo teórico serão imagens do mundo material, inventadas para o tornar compreensível. Surgem deste modo as teorias ou convicções cujos espíritos nem sempre credibilizam o testemunho dos olhos. Os caminhos que a leis da física nos proporcionam por via da natureza, até ao limite do cosmos e do microfísico, revelam-nos filosofias diferentes das que o Mundo do quotidiano permitem estabelecer.
:::::T.9
A separação entre o homem e o Mundo perde-se nos limites da microfísica com a relação de incerteza de Heisemberg e a visão probabilística da mecânica e matemática quântica. É o espaço-tempo que se esbate no limite das altas velocidades com anos-luz que volatilizam o imediato nas teorias de relatividade.
:::::T.10
A abstracção da lógica matemática, forma superior do conhecimento científico, parece não poder ser formalizada totalmente nos recursos do intelecto humano pois a mente, tem sempre a possibilidade de inventar meios de demonstração que os ultrapassam. Em busca da verdade, rebusquei em tempos, conhecimento em Coimbra; não na cátedra mas, na vivência entre amigos e, entendi melhor o que é um Paradigma em nossas vidas.
:::::T.11 - «Mostrar, apresentar, confrontar» - é um conceito das ciências, teoria do conhecimento que define um exemplo típico ou modelo de algo. É a representação de um padrão a ser seguido ou um pressuposto filosófico como matriz… uma referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas. Para entender melhor este conceito terei de explicar o que ali vivifiquei:
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- Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão. Isto repetiu-se e sem interrupção. Depois de algum tempo, de cada vez que um macaco tentava subir a escada, os outros quatro agrediam-no.
:::::T.13
Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação provocada pelas bananas. Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que este fez foi subir a escada, sendo rapidamente retirado dela e, à força pelos outros. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada.
:::::T.14 - Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, no massacre do novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se a história. Mais um quarto e, finalmente, o último dos veteranos, foram igualmente substituídos, e de igual modo se desenrolou a mesmíssima situação.
:::::T.15
Os cientistas ficaram então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam a agredir aquele que tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: - Não sei, por aqui as coisas sempre foram assim!...
:::::T.16
Moral da história: “É MAIS FÁCIL DESINTEGRAR UM ÁTOMO DO QUE UM PRECONCEITO”, (Albert Einstein)
Colaboração do Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
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