KIANDA COM ONGWEVA NAS FRINCHAS DO TEMPO - XIX de várias partes…
– Crónica 3294 de 04.05.2022 – Segredos de sua tetravó Zachaf Pigafetta Roxo no Museu do Prado em Madrid…
Republicação a 13.11.2022 em Lagoa do M´Puto
Ongweva é saudade
Por T´Chingange (Ochingandji)
CA - Quase tudo que vou dizer é mentira mas, tende a ser verdadeira. Como disse, foi graças à insistência do Conde de San German que ela, tetravó de Roxo se decidiu a abrir comigo: Sua mãe (de Roxo) kianda negra foi Redufina Kabasa Tsvangirai que se umbigou com um tal de Morgan Tsvangirai. Que nasceu preta-preta retinta mas, no correr dos dias foi ficando assim branquela como o é hoje. Ela a kianda Assunção Roxo deu seu primeiríssimo alerta de vida nas águas do lago Chivero, que fazia fronteira com a fazenda farm de Morgan Tsvangirai.
Pois, tranquilamente disse-me que sua mãe era preta retinta, casada com esse tal de Morgan Tsvangirai, que ganhou a primeira volta nas eleições em confronto com a múmia Mugabe, após vários dos seus apoiantes terem sido assassinados. África é assim mesmo, inconstante, de revoltas permanentes e, aonde o poder vira tribal, mesmo brutal. Zimbabwé era um território farto em acontecimentos irreais (confirmei isto mais tarde a duras penas no lago Kariba). Foi isto que os motivou a transladarem-se para o Kwanza e ficar ali bem perto de Massangano, também um lugar de muita magia, da antiga.
Massangano, aonde os espíritos ainda conferenciam muxima por ser um pambu-n´jila (lugar de afectos especiais com bwé Muxima). A múmia Robert Mugabe venceu as eleições convocadas para o dia 28 de Junho de 2008, sendo reconduzido mais uma vez ao poder, desta feita pela sexta vez consecutiva, por desistência do pai de Roxo. Esses foram momentos conturbados mesmo para Morgan Tsvangirai*, e até para kiandas como nós, disse sua tetravó Zachaf Pigafetta Roxo. Com o apoio internacional, houve uma partilha de poder que durou cerca de quatro anos.
Este Governo de Unidade Nacional revelou-se ineficaz para acabar com as fortes tensões e evitar confrontos sangrentos entre os apoiantes de Mugabe e Tsvangirai. Em 30 de Junho de 2013 Robert Mugabe foi novamente reeleito, apesar da oposição adocicada.
Talvez seja a sina de África ter gente que nunca chega a crescer em definitivo – são na grande maioria crianças até quase morrer e morrem até, sem curriculum vitae… Ficam sábios quando recebem a estrema unção dum quimbanda credenciado nas bocas do Mundo. Acho que Nosso Senhor não andou por ali e ficaram só abençonhados por aquele branco chamado de Livingstone. Em 2018, passei por lá e vi que a nota, dinheiro de maior valor tem três pedras empilhadas no lugar da esfinge dum possível estadista – Vale zero! Os kinguilas vendem-nas aos magotes para malucos coleccionadores, a preço de banana podrida…Aiué!
Posso agora entender do porquê esta kianda Roxo andar assim tanto de um para outro lado irrequieta, sem saber desta sua dupla vida mas, compartilhando xispanços de tinta com maestria. Xispanços de pinceis electrónicos na forma de gigabaites que se traduzem em cores holográficas, fosfóricas e ate cibernéticas; pinturas do paralém de assombros que só kiandas podem executar. A surrealidade está-lhe no equinócio de singularidade primaveril.
Pois! Com tantas nuances – de cada uma das diferentes gradações pode ter uma cor entre o seu claro e o escuro periclitante que, teria mesmo de acabar esta intrincada estória no equinócio de primavera, uma óptima sinalização para quem vive no lugar dos espantos, fenómenos dum Entroncamento. Convém lembrar que o primeiro dia da primavera, o que ocorre todos os anos entre os dias 20 e 21 de Março, este ano, aconteceu no dia 20 de Março de 2022 às 15h33. Pude ver isto nos astros…
Equinócio é uma palavra em latim que aglutina dois termos com significados diferentes. Aequus significa "igual" e nox, "noite". O termo quer dizer literalmente "noites iguais", isto porque nessa altura a noite e o dia têm sensivelmente a mesma duração, 12 horas. Nesta altura da estória tenho de confessar que a kianda Oxor nunca foi vista por mim ao vivo mas, estive lá bem à sua porta no lugar do Entroncamento, terra de fenómenos e assombrações – Se estava com uma nevralgia ou artrite, não pude perceber o cheiro intenso da canfora, dos cremes usados para aliviar dores como o diclofenaco ou dietilamônio. Mas, falando com “Humberto Delgado” durante o almoço das enguias, senti que havia um torcicolo para decifrar com a kianda gémea de Roxo… Assim, ao invés de fataça comi enguia, bem boa!
NOTA*: - Morgan Richard Tsvangirai já desfaleceu, quersedizer, morreu em 2018! Foi em verdade, um sindicalista, activista de direitos humanos e político do Zimbabwé, antigo primeiro-ministro do país, depois do acordo de divisão de poder que foi estabelecido com o então presidente Robert Mugabe depois das eleições presidenciais, em Setembro de 2008…
(Continua com “fricção ficção”…)
O Soba T´Chingange (Ochingandji) – Na Lagoa do M´Puto
Equinócio é uma palavra em latim que aglutina dois termos com significados diferentes. Aequus
KIANDA COM ONGWEVA NAS FRINCHAS DO TEMPO - XVIII de várias partes…
– Crónica 3281 de14.04.2022 em pajuçara de Maceió – Republicação a 28.10.2022 em Lagoa do M´Puto
– Segredos do Conde de Sant German no Museu do Prado em Madrid…
Ongweva é saudade
Por T´Chingange (Ochingandji) – No PortVille da Pajuçara em Alagoas do Brasil e Lagoa do AlGharb
AR - As nações do mundo não se vincularam no reconhecimento do novo país chamado de Rodésia, auto proclamado por Ian Smith. Esta iniciativa prescreveu em 1979 com a entrada do bispo Abel Muzorewa que se torna chefe do governo, constituindo a primeira administração bi-racial (uma utopia africana). O governo de Muzorewa não logra durar muito e, novas eleições são convocadas, desta vez com total liberdade de acção para o bando terrorista de Mugabe.
Naturalmente, com o beneplácito dos areópagos internacionais, a 2 de Dezembro de 1987, Robert Mugabe, o marxista e seus bandoleiros do famigerado “processo político” é nomeado como o primeiro chefe executivo. Mugabe, apaparicado pelos senhores do globo, não tarda em implantar a sua ditadura de partido único através da perseguição, intimidação e eliminação física de opositores. O alvo preferido foi a população branca, fazendeiros e os negros que não aderiram à “revolução”.
AR - Um território outrora pacífico e em franco desenvolvimento, é rapidamente transformado num espaço de opressão, violência, corrupção e ruína económica. Tal como em Angola, uma boa limpeza étnica só o é, desde que feita por negros contra brancos, que é sempre vista com olhos gordos de compreensão. A farsa da obra-prima da ONU e dos senhores do G7 deste planeta vão, paulatinamente continuar em cartaz na terra africana encharcada com o sangue de inocentes (um mundo cão).
Eis as excelsas realizações dos arrojados descolonizadores - “exemplares”, com certeza! Tive de descrever este panorama para chegar à kianda Zachaf Pigafetta Roxo, ao seu irmão Januário Pieter e ao Conde de San German, um destacado embaixador itinerante enigmático no quanto baste. Pois, é ele que me descreve as coisas aqui expostas, connosco comodamente sentados em um amplo salão do Prado e, enquanto os demais vêm e revêm os muitos quadros ali expostos.
Fui assim, inteirado por ele de que as Sereia Roxo e Oxor, eram procedentes do lago Niassa; com sua singularidade provenientes da tetravó Zachaf Pigafetta que por ali permanecia em uma ONG mas, só até que um dia, tiveram de dar o fora! Não havia condições nem para assombrações! O irmão Januário Pieter, que se manteve sempre por perto, tornou-se para mim um extraordinário consultor. A ele devo ter sido registado para o mundo como o único Niassalês em Paris, no primeiro encontro em Jablines de França. Absolutamente, não há nada, que ele não saiba! E, foi também quando pela primeira vez fui à Disneylândia com minha neta Lara! Creio que no ano de 2009 (Tinha ela uns oito anos…)
Eu estava por saber que uma sereia tem de ter sempre uma irmã gémea porque convêm de vez em quanto baralhar os espíritos malévolos; esses que serpenteiam entre difusas brumas como os ácaros do facebook. Brumas que por via de uma arte ficam acrilicamente voláteis, belas e disformes, misto de sonho com pesadelos tidos em luar longínquo parecendo até duma outra galáxia. Depois de tudo isto entendo as formas e contornos reluzidos em perfumadas ondas de quem pinta sem pinceis. Isto só mesmo de bruxas, kiandas ou calungas, falei…
Zachaf Pigafetta a tetravó, desta vez, já no pátio exterior do Museu, falou comigo sem aquela irreverência de kianda superior e, descendo à terra barrenta, à sombra de uma mafumeira (sim! é curioso mas, havia ali essa árvore), quase que me segredou ter sido em Harare que nasceu sua Neta de última geração Assunção Roxo. E, foram exactamente nas coordenadas de 17° 50' S 31° 03' mas salientou que não quer agora, nesta vida de hodiernidade, perturbar sua tetraneta (Nem ela sabe!...)
AR - Nunca se viram cara a cara mas foram-lhes transmitidas veracidades que nem ela Roxo se apercebe e, porque é através do vento soprado que lhe faz chegar as ondas de cinco gigabaites, aquela genica e vontade de papar léguas, mais o gosto pelas longitudes. Em sonhos conversam muito mas, logologo destes são esquecidos, porque ela só é kianda por vezes e, nestes sonhos de ilusão fosfórica. Notei que não me queria dar muitos mais pormenores. E foi graças à insistência do Conde de San German que ela, tetravó de Roxo se decidiu a abrir comigo…
AR - Nota recente: *A kianda Oxor nunca foi vista por mim ao vivo mas, estive lá bem à sua porta no lugar do entroncamento, terra de fenómenos e assombrações – Se estava com uma nevralgia ou artrite, não pude cheirar o cheiro intenso da canfora, dos cremes usados para aliviar dores como o diclofenaco ou dietilamônio. Falando com Humberto Delgado durante o almoço, senti que havia um torcicolo para decifrar com a kianda gémea de Roxo… Assim, ao invés de fataça comi enguia, bem boa!
**Ilustrações de Assunção Roxo…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji
MULOLAS DO TEMPO – 29
RECORDANDO: Nós, bazungus no COMPLEXO PALMEIRAS de BILENE
- Odisseia “HAJA PACIÊNCIA” - 5 de Novembro de 2018 - 49º dia (uma Segunda Feira)
Crónica 3279 – 12.04.2022 – Republicação a 24.10.2022 em Lagoa do M´Puto
Por T´Chingange – No PortVille de Maceió do Brasil e AlGharb do M´Puto
Na cidade de Macia, já conhecida de outros tempos, tentamos ficar nos aposentos meio inaproveitados de José Lourenço, aonde já tinha ficado em anos anteriores mas, não foi possível contactar com seu sogro Pai de Santo, pai de Anita, o zelador do património, nem do bafana que por lá costuma estar. Houve desencontros de telefonemas e, como o Pai de Santo, sempre anda descuidado entre fraldas, não foi possível vislumbrá-lo. O que tem de ser é que vale! Batemos no portão de chapa largo, espreita o pátio e de novo me vejo a dar outra solução, plano B - ficarmos na Praia do Bilene, lugar também meu conhecido de anteriores andanças que fica a mais ou menos trinta quilómetros de Macia.
Assim, tive de recordar minha empregada Mery de Kampala: Vocês, os bazungus velhos como o patrão e, seu amigo Reis das Vissapas com seus carros de tracção às quatro rodas, vestidos com roupas muito cheias de bolsos, quase soldados expedicionários, sempre lhes faltam as pilhas na hora de dar à luz. Ué, como é então? Patrão (só faltou dizer muzungu) nós no Uganda não temos kitar yabulo de xelin, dinheiro para bafunfar só átoa. Desta vez até que tinha razão: a luz falhou. Bem! Da outra vez a garoupa de 3,5 quilos comprada no Xai-Xai de Gaza afinal estava imprópria para consumo; do velho bóher das barbas ao Samuel do hotel abandonado até ao Paulo da igreja, todos me levaram na reles curva da ignorância; o podre da garoupa que não tinha cheiro, no após forno, estava moído, intragável, coisa pútrida.
Daquele outra vez querendo agradar ao Patrão do Ricar, José Lourenço e sua filha Cristina, dei com os burros na água fazendo o papel de otário. Os patrícios do Índico do Xai-Xai, cuspiram-me na consciência de mwangolé mazombo e, francamente, não gostei. Quem gosta de ser enganado? As minhas visitas nobres tiveram de comer salsichas de lata para não desfazer o acolhimento. Havia um compromisso de “jaquinzinhos” trazidos de Maputo pelo gerente-mor do “Luar de Macia” – o doutor da mula ruça com alvará comprado numa tabanca da Guiné, pois desaconteceu. Vamos para Bilene, que já se faz tarde para a missa…
No meio destas confusões, para acalmar os assobios enviesados, resolvemos sim, assistir a uma missa em português e dialecto “Changani” à chegada a Bilene, um dos 60 dialectos falados em Moçambique na zona de Gaza. Os cânticos com a participação de missa cheia tiveram duas horas de duração, entusiasmando-me a basculhar esse mundo da fé. Para se ter uma vida espiritual, não é necessário entrar para um seminário, nem fazer jejum, abstinência ou castidade; basta ter fé e aceitar Deus. A partir daí, cada qual se transforma no seu caminho, passando a ser o veículo dos seus milagres.
E, fomos à missa porque queríamos assistir de novo às explosões de fé bailada, ao som de cânticos com muitas vozes, um espectáculo a não perder, com batuque. E, para encontrar Deus, basta olhar ao seu redor; podemos vê-Lo ao nosso lado, no cacimbo, na estrada, uma borboleta que esvoaça ou numa minúscula planta. Se tivermos a fé do tamanho de uma semente de alpista, podemos fazer milagres movendo pedras e, ser capaz de dominar o corpo e o espírito. Aqui, as gentes foram de enorme gentileza oferecendo-nos assento; só as damas Ibib e Marga usaram dessa bondade – afinal sempre há gente boa, aleluia!
Sendo hoje segunda, 5 de Novembro, aqui estou sentado defronte desta magnifica manhã e, tendo um mar bonito da praia do Bilene do Distrito de Gaza, recordando o ontem recente para não me fugir da memória, falando também com a osga que sempre me olha inchando o papo e, salpicando falas na forma de estalidos como se fosse de origem khoisan. Impressionante, não sei como se desloca mas, sempre aparece curiosa e falando-me baixos guinchos, por respeito, acho! E, se Deus salva as almas, e não os corpos, teremos de ser nós a resguardarmo-nos porque, nem sempre é necessária a culpa para se ficar culpado e, embora o Senhor esteja em toda a parte, comigo e com ela, ámen…
É de ter em conta de que Ele, o Nosso Senhor, às vezes parece não ter tempo para nos olhar de frente mas, deixa para lá, outros dias virão. E, foi hoje que visitamos a casa museu de Eduardo Ruiz com uma mulemba radiante mesmo em frente do seu Complexo Palmeiras. Uma amabilidade na forma de gente que fez o favor de nos esclarecer sobre o problema que áfrica atravessa de momento. Também ele quer vender seu Complexo por dois milhões de meticais, tendo o banco calculado seu património em oito milhões. Tudo tem um porquê!
E, foi na casa de Eduardo Ruiz que a febre de melhor condutor de África dita no início pelo El Comandante caiu na temperatura. Isto há coisas, nem lembra ao diabo, este acontecido. Afinal era sim este senhor o maior corredor de ralis daquele tempo. E, vimos suas vestimentas, suas fotos, seus chapéus e luvas de protecção e símbolos com taças mais os diplomas das marcas com quem ele correu, representou. Não fiz reparo ao nosso Comandante mas, foi sim o culminar de uma ousada vaidade despir-se perante outras evidências. Aqui, a pópia de nosso El Comandante escorreu de suores frios pela crista murcha de encrespamento, Háka patrão…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji
MULOLAS DO TEMPO – 28
RECORDANDO: Nós, bazungus no XAI-XAI no Blue Dolphin Resort, Praia - 2ª de 2 Partes
- Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA” - 4 de Novembro de 2018 – 48º e manhã do 49º dia - (dia 5, uma Segunda Feira)
Crónica 3274 – 06.04.2022 – Republicação a 17.10.22 em AlGharb
PorT´Chingange – No PortVille de Maceió do Brasil
This is África - Esta África tem estas indefinições para baralhar o turista habituado a ver uniformidade na urbanidade e sanidade. Por aqui podiam ver-se farmeiros “Bohers”, Sul-Africanos ou Rodesianos das bandas do Zambeze resistindo no tempo, fazendo turismo junto ao mar, bazungus como nós; Só que eles em geral continuam grandes, gordos, de olhos azuis vivendo seus costumes de andar descalços, como que atestando ser esta a sua terra. Também aqui estava verificando ao pormenor condições de aconchegar a velhice pisando areia burilada entre casuarinas.
Neste então um prego no pão podia ficar por cinquenta meticais, uma água grande cinquenta, e uma cerveja 2 M ou laurentina entre os cinquenta e sessenta meticais. Não é assim tão barato mas, a beleza do lugar parecendo sempre tão distante da civilidade, justificava a carestia. Ao longe as dunas divisoras do Índico tormentoso com choupanas penduradas nas encostas, isoladas entre si, ressalvam o caro das serventias. Num mundo perdulário de vagas promessas e compras sem troco, o acaso vira penumbra de carência: Não tem troco patrão! Sempre a mesma coisa…
Sem subsídios, velhos vagando pelas estradas resvalam conhecimentos de antigos expedientes a troco de meticais. Os profissionais, anunciam suas habilidades na permuta de convincentes percentagens; na terra de cegos, quem tem um olho é rei. Nos povoados não se vêm raparigas como as das cidades, perfumadas e com vestidos de seda; só capulanas, mesmo! Samora Machel, o pai da nação, tem a cara em todos os meticais. Na praça com o seu nome uns quantos catraios arrimam-se num banco escuro que já foi branco por debaixo de uma mangueira de uns trinta metros de altura; ao redor desta, dezenas de frutos ainda verdes, caídos na força do pau e pedra.
Um buraco de incineração de lixo resiste ao tempo por detrás do shoperite (mercado local) não muito distante da caixa de multibanco Millenium. Ao redor da praça muitos e pequenos mukifos na forma de casas apresentam-se a vermelho financiado pela “vodacom”. Tem tanto vodacom publicitado que ficamos sem saber qual é verdadeiramente casa dos telemóveis, dos celulares. Num largo de matope bem ao lado do shoprite naquela rua sem fim, “os chapas” recolhem fregueses com destinos vários: Xokwé, Chicuacuanda, Macia, Bilene ou Chissano.
E, aqui estamos nós e por gosto, de deserto em deserto, de terra em terra, de risco em risco colhendo os frutos das sementes, dos amigos construídos ao relâmpago, tornando-nos ricos porque em todo o lado nos chamam de patrões… Aquele que tem medo de correr riscos em sonhos de um novo agora com vontade e perseverança, torna-se pobre – são as balelas que dizemos quando recordamos aqueles momentos. O que posso dizer é de que nós adoramos áfrica mas ela, África, perdeu o encanto por nós bazungus; o que lhes interessa mesmo são nossos dólares, euros e outras divindades. Mas, em verdade é a de que todos homitem dizer isto!
Um amigo meu, angolano, preto de pai e mãe chamado de Isomar dizia: (…) Nunca a Europa “recebeu” tanta riqueza de África como após a chamada "independência dos Países Africanos"; os novos-ricos africanos apressam-se a “esconder” na Europa os produtos da sua criminosa delapidação, para gáudio dos Europeus - contrariando aquilo que eles próprios evocaram e prescreveram na convocação para a luta de libertação nacional. "Eu ir a Portugal algum dia?.. Nunca!.. Nem morto!"
– Disse em 1980, na idade de ouro do partido único do M, angola, erguendo o punho direito bem alto em sinal de sacro-juramento, em pleno comício em Benguela, um dos então carismáticos dirigentes da "Revolução Angolana", familiar próximo do Eduardo dos Santos. Ainda não muito longe no tempo, ele próprio, não só era frequentador assíduo e brioso de Portugal e "empresário português", como também era o orgulhoso presidente de uma agremiação desportiva portuguesa em Angola. Quase meio século mais uns pozinhos depois, podemos indagar se o IDH dos povos africanos subiu ou regrediu? Somos melhores tratados hoje pelos nossos irmãos dirigentes?
Já a caminho da praia do Bilene fizemos uma paragem na Cidade de Macia e esticando as pernas num jardim podemos apreciar o cacto de Machel, em verdade tem outro nome mas ocorreu-me chamar-lhe assim porque está situado na praça do fundador de Moçambique Samora Machel, bem ao lado do shoprite. Desde o café da Dona Ana em frente ao mercado shoprite e, do outro lado da estrada nacional nº 1, observo o movimento norte-sul e inverso, entre vendedores de castanha de caju que correm a cada paragem de carro, “os chapas", táxis vindos de muitos lugares. Após tomar o café expresso por quarenta meticais (1,11 euros), rumei ao longo do mercado de mukifos seguros com chinguiços ao alto e cobertos com chapas de zinco em desalinho, cartão, plásticos multicolores, a condizer com o mercado das calamidades… Nesta cidade de Macia, cruzamento para outros lugares rumo a Norte além Xai-Xai e Limpopo, seguiremos para a Praia do Bilene. A meio da tarde estaremos lá - as casuarinas, esperam por nós…
Glossário: shoprite: centro comercial; Vodacom: rede de telemóveis de Moçambique; Chapas: táxis combis, pequenos autocarros ou machimbombos; Mukifo: casas cubículos, anexo dos fundos, lugar reservado da casa. Mwadié – Branco; Mujimbo – boato, diz-que diz; Missosso – Conto breve de cariz popular em Angola; Tambulakonta – Toma nota, fica atento; Capulanas: - panos vistosos que servem de vestidos enrolados ao corpo; Bazungus: - turistas brancos, gringos; Mercado das calamidades: - alusão a um ex-mercado de Luanda em Angola aonde havia de tudo, desde pneus roubados a carros ou acessórios…(Após um roubo, dois dias depois poderia encontrar-se esse produto lá mas, adquiri-lo tinha o custo sem desconto mesmo que fosse para o dono da coisa…)
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji
MULOLAS DO TEMPO – 27
RECORDANDO: Nós, bazungus no XAI-XAI no Blue Dolphin Resort, Praia - 1ª de 2 Partes
- Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA” - 4 de Novembro de 2018 – 48º dia - (um Domingo)
Crónica 3271 – 04.04.2022 em Maceió – Republicada a 13.10.2022 em AlGharb do M´Puto
Por T´Chingange – No PortVille de Maceió do Brasil e Lagoa do AGharb
Fomos para lá para ficar junto ao índico e assim tomamos bivaque no aprazível Blue Dolphin Resort… Xai-Xai é a capital da província de Gaza em Moçambique. A povoação foi fundada em 1897 com o nome de Chai-Chai, sendo elevada a vila em 1911. Em 1922 passou a designar-se como Vila Nova de Gaza para logo em 1928 mudar o nome para Vila de João Belo, em homenagem a um antigo administrador português. A vila foi elevada a cidade em 1961, para depois da independência nacional voltar ao nome original, desta vez com a grafia Xai-Xai.
Dista 224 km, a nordeste, de Maputo, situada no vale do rio Limpopo, sendo banhada por este rio alguns quilómetros a montante da sua foz. Moçambique tem uma costa fenomenal e, para além de bonita tem como que um perfume preso em um frasco que se não o usarmos naquele tempo e espaço próprio, ficaremos com dormências na saudade dum porquê não viu isto e aquilo. Pelas muitas carências e falta de trabalho, os habitantes inventam ganhar dinheiro fazendo falcatruas, desenterrando carros, cobrando e, logo a seguir tapam o buraco para outro incauto cair na rede; se me contassem nem acreditava…
Numa vasta planície aonde o Limpopo transborda seu leito quando abunda a chuva, a natureza trata de si: morre um capim, nasce outro. Silenciando alguns instantes, abasteci de calma o estouro da ira em pequenos contratempos; nesta pequena coisa, Chico Xavier, o espirita, possivelmente neutralizou-me os actos com seu perfume metido num frasco de nitrofuranos. A partir dos setenta anos, as pequenas coisas da vida gratificam na continuidade; é o cheiro matinal do café que fumega num alpendre aonde caem flores de cajueiro mais o sol que nasce com quentura por detrás de um trilião de acácias de picos medonhaveis…
Surge o rio Limpopo e naquela curta ponte tivemos de pagar a respectiva "quinhenta", portagem estabelecida por quem de direito, fazendo justiça à nobreza do rio adicionando carecidas necessidades. Em Chiboma paramos p´ra fazer necessidades e meter conversa com amigos de tempos antepassados. As mulheres de capulanas garridas cercaram-nos oferecendo produtos vários, o negócio sobrepunha-se à vontade de comer, talvez sim, ou não, porque elas estavam em algazarrada diversão; no chão estavam desordeiramente expostos os produtos da Machamba.
Demos boleia a Lussinga deixando-a na machamba, um mistério de mulher procurando o fantasma de seu marido e da família só falada porque o resto esfumou-se no tempo das falas dela como a luz fumegando no branco frio do capim, as rolas que gemem, capotas que riscam chão desprendo dele calor de cazumbi. África dos grandes espaços, mulheres curvadas plantando milho nas lezírias contornadas com verdes arbustos de massalas. De pé lançavam uma sachola, cabo comprido, o ferro ancho furando o nó do pau sem cunhas, abrindo buraco no chão, atirava um milho para lá, a seguir tapa com o pé, tudo sem dobrar a espinha, técnica apurada na experiência do pontapé…
Xai-Xai no Blue Dolphin Resort Praia, é um óptimo destino de mergulho, especialmente para iniciantes e crianças com seu recife calmo e protegido, dizia assim num poster grande já semi esfolado pelo arenoso vento. Após se ter percorrido uns quantos quilómetros a passo de caracol, seguindo carrinhas de caixa aberta com suas cargas de colchões, cadeiras de plástico, penicos e plásticos coloridos encimados por bicicletas; tudo queria saltar pela força do vento com areia quente das terras sem chuva por vezes e, noutras com demasiada.
Se és um mergulhador entusiasmado, então vais adorar mergulhar em Xai-Xai O recife offshore corre paralelo à costa por quase um quilómetro e, na maré baixa, expõe um enorme poço de rica vida marinha. Vários pequenos afloramentos rochosos é o lar de uma variedade de peixes incluindo borboleta, wrasse, peixe leão, enguias morais, estrelas-do-mar e até tartarugas que são vistas com regularidade. Xai-Xai é um óptimo destino de mergulho, especialmente para iniciantes e crianças com seu recife calmo e protegido. Apanhei e comi ostras metidas em conchas da Shell – nas mesmas formas que vi em Santiago de Compostela encimando a porta de Portugal
Nas cidades e lugarejos, ao longo da via principal e demais artérias, desordenadamente vende-se de tudo, coisas de comer do lado esquerdo e apetrechos de casas ou indústrias artesanais do lado direito, tudo se encontra exposto ao tórrido sol. Peixe seco, batatas, quiabos, pimentos e demais géneros são amontoados em bacias, antigos baldes de tinta ou amachucadas latas de azeite galo com preço certo para facilitar trocos; ao lado dos moveis um mukifo de esteiras mostrando quadros com queimadas do mato, moldes em ferro para fazer tijolos em barro ou argila, pneus usados já com jantes e por detrás de tudo um amontoado de carcaças de velhos carros indicando haver ali um mecânico. Isto é áfrica (this is áfrica…)…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
COM FALA KALADO - Crónica 3266 – 15ª de Várias Partes – 28.03.2022 m Maceió – Republicação a 08.10.2022 no AlGharb do M´Puto
Por T´Chingange – Na Pajuçara do nordeste brasileiro e Lagoa do M´Puto
CA - A hora aprazada para o almoço com o Comendador, ex-coronel Fala Kalado, era invariavelmente às 12 horas e 30 minutos pelo que tivemos de suspender a visita ao Morro dos Macacos, também conhecido por Serra da Barriga e assim, chegados à entrada do Imbondeiro, um cipaio com cofió, armado com uma espécie de arcabuz, mas moderno, mistura de metralhadora FP com Kalashnikov que, com apresentação de armas à maneira tradicional, nos deu triunfal entrada na casa d`jango do patriarca da Fundação Zumbi de N´Gola…
Havia câmaras por todo o lado e duas fiadas de arame que me pareceu electrificado pois que reconheci haver uns quantos isoladores ao longo da cerca exterior. Já era sabido por mim ter de manter segredo das instalações pelo que nem foto, eu na qualidade de Zelador-Mor ou um qualquer, poderíamos dali tirar. Na antessala do d´jango coberto a capim, um espaço de piso em tijoleira vermelha, já ali estavam esperando a comitiva dos ilustres, da qual eu fazia parte, Andrey Blazhe biólogo da Bulgária, a psicóloga Rita Fiuza, o Arquitecto Luiz Cateriangongo, o geólogo Patriniche de Gusmão e o historiador Vizeu Antunes.
CA - Podia assim depreender estar perante a primeiríssima Reunião Magna para assim se selarem os compromissos de fidelidade à causa. Havia outros elementos dos quais dois fardados a rigor e com medalhas pendentes em seus peitos. Suas fardas eram até um pouco estapafúrdias pois que em tudo se assemelhavam às mesmas vestimentas usadas nas colónias com chapéus feitos em cortiça bem ao jeito dos antigos exploradores em áfrica; também usavam calções folgados do tipo zuarte a condizer com suas balalaicas de muitos bolsos e, suas divisas eram flechas; um tinha duas, o outro, quatro.
Os cumprimentos foram rápidos e após tomarmos uma bebida de bolunga feita de múcua e leite azedo, um pouco ácido até, mas bem refrescante, assim como uma praxe de boas vindas todos entramos a tomar nossos lugares marcados. Estranhei todos eles beberem aquilo que sendo bom, não era habitual e também eu mesmo no meu papel de alta instância, desconhecia – em verdade até bebi a medo, não fosse um daquelas mistelas venenosas; mas, ficaria mal não o fazer! Pópilas, isto de descrever ao pormenor todas estas traquinices, arrepia, arriscar a vida só por um entretém…
CA - Era uma mesa bem comprida. No total eramos dez pessoas e dispusemo-nos segundo as placas a assinalar nosso lugar, oito civis e dois militares-cipaios. Um chefe de cerimónias lá bem no canto, com lacinho e tudo, tocou um sino e ai vem ele. A chefe de cerimónias Rosa Casado, ladeando o Ex-Coronel, Comendador, sentado em uma cadeira de rodas tipo poltrona e, também uma senhora vestida de branco e com uma cruz vermelha no peito, entraram na ampla porta, na que tinha a bandeira actual de N`Gola bem por cima. Um gigante negro parecendo o auxiliar do Mandrak, Lothar, fazia deslocar a cadeira-espacial poltrona.
Aí estava o Comendador FK! Até chegar ao topo da mesa, seu lugar, veio com a mão levantada ao jeito de saudação. Todos nós estávamos perfilados junto a seus lugares e só quando a poltrona encostou à mesa é que todos se foram sentando. O Comendador, ex-Coronel tinha um semblante aberto de sorriso e olhando para mim bem do lado direito, acenou a cabeça como em cumprimento especial à minha pessoa, o seu antigo camarada da guerra do Maiombe, furriel Mike da Companhia do M´Puto 1734. O tempo sentia-se rugir em nossos esqueletos.
Rosa Casado, a chefe de protocolo, fez uma prelação rápida mencionando ser este um momento alto e explicitando as vontades do Comendador ditas ou escritas de quando lucido de seu perfeito juízo pelas consequências dessa tão vil doença de alzheimer. Andrey Blazhe,o biólogo da Bulgária, disse estar já bem avançada uma vacina contra Alzheimer em seu laboratório mas ainda havia muito por fazer. O almoço foi de muitos pequenos requintes, servido por gente de laçarote e destacou-se sim a tal falada muamba de galinha de angola; em verdade eu acho que era faisão bem apodrecido! No final, tiramos uma foto ladeando o distinguido Comendador para que o registo fosse feito com as alvissaras da Torre do N´Zombo…
Podia aqui perder-me em descrições mas, só direi que na mesa e a ladear o excelentíssimo FK estavam os oficiais cipaios de flechas verdes, depois vinha eu, O zelado-Mor do lado direito e tendo em frente o Presidente do executivo da Fundação, Arrais de Cantanhede. O salão era amplo, no tecto havia asnas de madeira trabalhada e, num dos topos, como já disse, havia a bandeira de Angola. No outro topo estavam as fotos em grande de N´Zinga, do Zumbi e Aqualtune. Nas laterais havia quadros de distintos reis de Angola, como Mandume, Ekuicui II, Ana de Sousa, Kiluange Kiassamba, Jinga Ambandi, Jinga Malaio, Jinga Amora e dois destacados cidadãos conhecidos por Kaparandanda e Ganga-Zumba…
lustrações de Costa Araújo
(Continua…)
O Soba T´Chingange
O Soba T´Chingange
MULOLAS DO TEMPO – 26
RECORDANDO: Nós, bazungus no SAVORA LODGE - Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA” - 45º e 46º dias, parte 2 - (02 e 03, segunda-feira em Novembro de 2018…) - Crónica 3264 – 24.03.2022 em PortVille de Maceió – Republicação a 06.10.2022 em AlGhab do M´Puto
Por
T´Chingange – No PortVille de Maceió do Brasil e Lagoa do M´Puto
CA - Ainda no SAVORA LODGE – Conversando com dois praticantes de mergulho, sul-africanos, de quem anotei os nomes de Arthur Muhamed e Charlie Wanderley e, porque tiveram a amabilidade de nos oferecer um peixe grande parecido com a cavala da costa de Portugal, contaram-nos algo bizarro que aqui deixo escrito para salvaguarda de outros futuros bazungus (turistas), amantes das pescarias. O que descreveram mais agudizou em mim a opinião de que não é ali, Moçambique, o melhor lugar para se ter a assertiva tranquilidade.
Posso explicar pelo que disseram: Duas noites antes decidiram divertir-se em uma discoteca em uma localidade que agora se me escapa o nome, talvez Inharrime; um copo e outro copo e logologo apareceram ali a meio da noite a polícia local. Coincidiu naquele momento estarem já de saída quando e abordados por dois matulões fardados lhes foi dada ordem de prisão. Levaram-nos para uma delegacia policial que mais parecia uma venda de mato improvisada para ser cenário de um filme de gângsteres. Se calhar até era.
Ali ficaram amarrados por uma hora em cima de um enxergão sebento. Quiseram saber do porquê estarem presos daquele jeito ao que na forma desinteressada lhes foi comunicada terem audição para o seguinte dia, na presença do inspector e um advogado por via de eles serem estrangeiros. Meia hora depois foi-lhes dito que tinham sido denunciados como portando droga e já o tinham confirmado: havia dois pacotes de tal produto, assim e assado, tudo mentira de faz-de-conta mas, eles em verdade ficaram a tremer de medo.
Bem que disseram que não de forma repetida; chegado o momento certo do plano o polícia foi-lhes dizendo que para saírem daquele imbróglio poderiam proceder até airosamente sem seguir com o tal inquérito, coisa regulamentada com decreto, quesitos regulamentares e edecéteras embrutecedores. Que lhes fosse dada umas soluções que a aceitariam duas vezes sem pestanejar, afirmaram os encarcerados “bifes”. Como podemos resolver isto para sairmos daqui rápido? Um riso de escarnio e maldizer foi a resposta seguida de um muxoxo e uma cuspidela para fora da janela, janela também muito sebenta de cores horripilantes (parecia sangue, disseram eles).
O polícia foi, o policia veio e voltou, até que falou: o chefe diz que se cada um de vocês pagar cinco mil meticais, não fazerem denuncia e edecétera e tal, tudo ficava como entre amigos; a outra solução era ir a tribunal e ficarem sujeitos a tantas outras nefastas situações. Eles, Arthur e Charlie quase em uníssono disseram que sim, que pagavam mas, não tinham ali dinheiro, só cartões. A resposta foi a de que não há problemas, vocês deixam um papel assinado com uma ocorrência normal, levamos-vos até uma caixa multibanco e após termos o dinheiro, poderão ir tranquilos e, no vosso carro. O curioso é que até lhes foi dito que se porventura fossem parados num qualquer controlo, mais à frente, mostrassem esse papel que assim, teriam logologo via livre.
Prometi-lhes que não contaria esta triste odisseia, o medo era visível neles e, só nos contaram porque também eramos bazungus como eles. Não foi uma razão assim tão ponderosa no acreditar porque a cada trajecto nosso, tinhamos cenas a contar – terra em que ver um polícia é quase ver um bandido fardado ao jeito dos macacos volantes que acossavam o cangaceiro Lampião, lá no Brasil de há 82 anos atrás – pois foi em 1939 que cortaram a cabeça a esse rei que se tornou uma figura mítica entre o povo…
O lugar de Zavora seria mais bonito se não houvesse estas verídicas passagens a contar. Em África as amizades tornaram-se imprevisíveis e acreditar num talvez, pode causar bastantes dissabores. Tal como em Angola houve tantas e tantas passagens de sócios que formaram empresas, tudo na lei e depois aconteceu num qualquer amanhã apresentarem-lhe um oficioso papel a lhe retirar a sociedade, a residência, a seriedade por via de uma qualquer inventação. Tudo reconhecido pelo tribunal da comarca, do Juiz e demais cadeias de gente desclassificada e, carimbo de homologado!
Há casos que ainda nem foram retirados do baú porque sempre vem ao de cima atitudes, procedimentos nojentas de cambalachos, subornos e coisas inconsequentes de gente do Governo, gente do topo, uma real merda fedorenta! Connosco da odisseia “Haja Paciência” voltou a acontecer na estrada, sermos parados entre Zavora e Inharrime e, lá tivemos de pagar suborno de metade da multa por excesso de velocidade! Ainda havia coisas por acontecer – serão contadas no decorrer destes quase desabafos e, só para quem neles quiser acreditar.
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
KIANDA COM ONGWEVA NAS FRINCHAS DO TEMPO - XVI de várias partes…
– Crónica 3262 de 22.03.2022 em PotVille de Maceió – Republicação a 04.10.2022 em AlGharb do M´Puto - Em Madrid, no Museu do Prado com Jerónimo Pieter e, um tal de Conde de Sant German.
Ongweva é saudade
Por T´Chingange (Ochingandji) – No PortVille e Lagoa do M´Puto
AR - Dando uma volta no tempo avancei para estórias mais recentes pelo que aparentemente mudo o rumo mas, é só uma marola no contexto e, porque o espírito da gente é cavalo que escolhe estrada. Assim, lendo as memórias de Iam Smith que interessaram particularmente aos portugueses, euro-africanos genuínos e pioneiros, cumpre ressaltar as páginas elogiosas que este dedica a Salazar e a Portugal.
Salazar, a quem rende sincera homenagem à nação euro-ultramarina que, com a nobreza da simplicidade e a força do carácter, cumpria a sua missão histórica do povo, defendendo com determinação seus “legítimos” direitos e interesses perante os mais fortes do mundo. Sobre Salazar, dizia ser este um estadista excepcional, cuja craveira intelectual e moral deixaram nele uma impressão única e indelével.
E, foi o Conde de San German que destrinçou esta parte da estória que os historiadores pulam por conveniência ou falta de caracter. A Grã-Bretanha, empenhada na sua demissão histórica, anuncia a dissolução da Federação das Rodésias e da Niassalândia com vista à formação de Estados “independentes governados por maioria negra”. Smith é o único do seu partido a manifestar oficialmente a sua desconfiança em relação à proposta explicitada por Londres.
AR - Para ele, a Inglaterra, no afã de obter a simpatia dos afro-asiáticos, Estado-Unidenses e Soviéticos, estaria disposta a liquidar o seu “problema colonial” com o abandono puro e simples da população branca - os mesmos indivíduos que no conflito mundial de 39-45 deixaram a paz dos seus lares para irem arriscar as próprias vidas no socorro à Grã-Bretanha; que foi o caso dele (Ian Smith).
Em 1964, dez anos antes da abrilada portuguesa, Ian Smith é eleito primeiro-ministro. Numa visita oficial a Lisboa encontra-se demoradamente com Salazar e este diz-lhe declaradamente que os rodesianos seriam traídos pelos ingleses; que Portugal prestaria o auxílio necessário a Salisbúria. Pouco depois, aqueles a quem Fialho de Almeida chamou de “carrascos ruivos do Tamisa”, concretizavam o que o estadista português sentenciara.
São estas periclitãncias esquecidas por quem faz estória com agá, que me levam a fazer desvios ausentando-me até das lides e bizarrias de minhas personagens de Zachaf Pigafetta e seu irmão Januário Pieter. Em verdade neste momento estavam a consultar com apoio de uma lupa, literalmente embebidos num quadro mais esguio que aqueles já vistos em Toledo e Granada. Era o Baptismo de Cristo, pintado por El Greco (inconfundível por esticar as figuras…)
Sem me desgrudar do Conde de San German, absorvia por completo sua quase palestra a dois; o tema portava agulhas e fios que com sovelas consertava minhas alpercatas cerebrais. Cinco estrelas! Continuando: - A lembrança daquele encontro profético em São Bento ficou para sempre gravada na sua memória, plenamente convencido de que, se Salazar tivesse vivido dez anos mais, a Rodésia, hoje Zimbabwé, teria sobrevivido.
AR - Em 1965, na sequência de demoradas e infrutíferas negociações com o governo britânico, Smith declara a independência da Rodésia. Sua vida política passa então a reger-se quase que exclusivamente por duas constantes: a neutralização dos efeitos das sanções impostas pela ONU, sob a batuta de Londres e Washington; e o combate ao terrorismo e à guerrilha de obediência comunista que faziam a sua desumana entrada no território com a anuência de seus patrícios. Como sempre digo, aqueles primos, americanos e britânicos não se podem ter por amigos o tempo inteiro, são perigosamente esguios…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
MULOLAS DO TEMPO - 24
RECORDANDO: Nós, bazungus em INHAMBANE no hotel ÁFRICA TROPICAL – DE 29 A 31 DE OUTUBRO DE 2018 - Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA”
Crónica 3256 – 15.03.2022 em PortVille de Maceió – Republicada em 27.09.2022 na Lagoa do AlGharb
Por T´Chingange – No PortVille de Maceió do Brasil e AlGharb do M´Puto
INHAMBANE, terça-feira, 30 de Outubro - No África Tropical de Inhambane, de novo conferenciei com a osga amiga que se passeia no tecto para lá da fechada malha de rede anti mosquito, curiosamente, igualzinha às de Vilanculos ou Chimoio. Meio recostado na cama com falta de ripas, acomodado com almofadas, leio o livro de Eduardo Agualusa e, releio aquele episódio duma mulher ambiciosa e ambicionada: “Ela despiu o corpo como se fosse um vestido, guardando-o num armário e, agora passeia-se pelo mundo com a alma nua”. Ela era uma professora que ensinava ética…
O hotel tem talvez o preço mais acessível da cidade, logo à chegada comi um prego no pão com bastante jindungo como se estivera sentado no Baleizão da antiga Luua. Do restaurante esplanada coberta podia ver-se o jardim interior com árvores grandes pelas quais sobem trepadeiras bem vistosas. O melhor do África Tropical é mesmo seu jardim com uma variedade razoável de plantas chamativas, buganvílias floridas.
Os quartos são bem rústicos; a TV não funciona e a internet também não; as lâmpadas são de uma decoração pimba; Muito improviso nas coisas quebradas ou beliscadas por falta de manutenção. As tomadas eléctricas são perigosas, meio despedaçadas. No bar restaurante, não há muita escolha mas, pudemos contentar-nos com pregos com ovo a cavalo bem à maneira Tuga do M´Puto…
O proprietário, senhor Eduardo era um português ali radicado; podemos falar longamente com o senhor ouvindo suas estórias de quando estava metido na política da M´Putolândia; disse mal dos governantes, de seu partido PSD - o diálogo acabou por se prolongar noite adentro na companhia de uns whiskyes e gim com água tónica bem ao gosto de El Comandante. Era ver qual mais mentia… Deixei-os na penumbra de minhas interjeições desculpando-me com um afazer: que tinha de dar banho às osgas, porque cão, não havia. Em realidade, as osgas eram muitas, sinal de fartura de mosquitos; a rede, já um pouco amarelecida lá nos deu alguma tranquilidade mas, os zumbidos da “aviação do senegal” eram bem audíveis.
No outro dia para espairecer demos uma volta à cidade de traça colonial, um puco esfolada no tempo mas digna de se apreciar nos alçados - arquitectura peculiar da gente Tuga. Fomos só ver a praia do Tofo que fica a cerca de 20 km. No topo da alameda de Inhambane e bem à beira da marginal fixei-me na figura de Samora Machel, uma estátua com o dobro de sua real altura, apontando ao ocidente bem ao jeito de Lenine, talvez com aquela cartilha vermelha de ditar leis que ainda rolam e enrolam como bactérias o cerebelo de muita gente.
Entre tanta coisa vista, pude recordar àquela osga à espera no mukifo o quanto aquela terra era forte e, que tal como aquela mulher professora de ética, também se despiu ficando com a alma nua! Pude ver neste porém a osga a virar-se e assolapar-se no reposteiro a ouvir comodamente minhas falas revirando os olhos em 360 graus: -Sabes Papoila, foi este o nome que lhe dei, que me veio ao pensamento – Ando de terra em terra, por África, revendo sombras do passado e sonhos alheios com formas de bichos de cornos retorcidos mas, há momentos fui até à praça da revolução ou da independência…
Verdade mesmo! Pude até sentar-me no canhão de outras guerras, canhões que os Tugas deixaram apontando a baía e, tendo do outro lado a vila de Maxixe… Surpresa mesmo… Lenine a saudar seu povo? Pópilas, esta osga fala – é inteligente! E continuou: não existe nada de semelhante entre uma larva e uma borboleta e, no entanto há sempre uma larva no passado de cada borboleta! Caramba! Até é filósofa! Bem dizia o Agualusa, é só dar um pouco de atenção e até derrapam nas conversas. Pois é, por vezes parece ser bom abandonar o corpo inteiro e trocá-lo por outro. Tenho visto muito disto, sabes! Disse eu. Num repente estava a falar com um jacaré gordo empoleirado no reposteiro – ela mesmo. Há coisas tão verdadeiras que até perecem mentiras.
Quanta gente também naqueles anos de 1961 e 1975, se despiu de vontade ficando com a sua alma nua! Ela, a osga engasgou-se de tanto rir; chiou que chiou até grunhir engasgada! Por momentos até pensei que gozava comigo - já quase pronto a atirar um chinelo à sua figura, parei quando ela retorquiu: - Já não quero falar desse tempo; Eu, fui essa mesma que durante muitos anos professorei a estória num centro de recuperação de mutilados e, posso afiançar-te que um homem, ao longo do tempo, ao longo de sua vida, muda muitas vezes de corpo. Frisou piscando-me seu olho enevoado de choro…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
MULOLAS DO TEMPO - 21
RECORDANDO: De CHIMOIO a INHASSORO – Ainda no 36º dia da Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA”. Nós, bazungus através de África no Yellowfin Lodge em Inhassoro …
Crónica 3250 – 05.03.2022 em Pajuçara – Republicada a 20.09.2022 em AlGharb do M´Puto
Por T´Chingange – Na Pajuçara do Nordeste brasileiro e AlGharb do M´Puto
Entre Chimoio que fica perto da reserva Gorongosa e Inhassoro e, por cerca de 420 quilómetros, foi um autêntico desespero de calvário de roídas falésias nas margens de betume da estrada nacional N1. Ranhuras sucessivas de fazer virar carros, com buracos de não deixar alternativa – ter de pisar! Ou só mesmo passar devagar, devagarinho. Nos escassos quilómetros com piso bom, lá estava a polícia para exercer sua autoridade. Fizeram-nos alto lá num lugar do nada e, mostraram a máquina parecida como um megafone a marcar 85 Km em luz vermelho. Pois!
O senhor vinha a mais de sessenta, tem de pagar multa! O polícia, viu a carta e os demais documentos sem nada ler, fitando o pensamento só com os olhos do cerebelo, os dois mil meticais a sacar ao gweta bazungu, um genuíno angolano branco, esperto como a surucucu, uélélé. Ordens são ordens, disse o supranumerário filho da mãe em primeiríssima geração, disfarçado de um gordo polícia. Não há como fugir - fiquei fulo depois de andar tantos quilómetros com o eminente perigo de ficar ali numa qualquer pothole (buraco)!
Saí barafustando do carro – quase gritando que era um desaforo armar tocaia na única recta com bom piso em 420 quilómetros. Cá por mim não pago nada, levem-me preso! Saí e, sentei-me no muro da Vodacom, um mukifo promovido a quiosque entre milhares pintados de vermelho e pertencente à empresa de celulares telemóveis! Um negócio que deve ser bem próspero, pois toda a gente tem um “micro-ondas” por onde se pode comunicar e até assobiar com muxoxos espaciais! Salvo as naturais diferenças, rosnava como um cachorro…
Ué! Com palavrões dentro da cabeça, tento reconstruir minha disposição com estranhos nomes esvoaçando raiva de mim aos poucochinhos, buscando novidades sem figas nem juras por sangue de Cristo porque quem anda por gosto num cansa, tal como disse aquele mwadié do Chimoio! Assim deveria ser mas, não o é! No Yellowfin Lodje, a Rosália limpa nossos quartos e retira uma cobra escondida nos tapetes na varanda lateral – uma boa recepção. Sebastião é o administrador, jardineiro e pau pra toda a obra; foi ele que lavou o jeep Nissan 4x4 de el comandante já com uma soma de 7500 km nesta odisseia de bazungus.
Já noite, fomos a pé e pela areia da praia até ao restaurante da Luna Park da Estrela do Mar de Inhassoro ali perto, propriedade dum arquitecto português já com a nacionalidade moçambicana e, que ali se fixou montando uma escola de hotelaria. Tanto a garoupa grelhada como a pescada cozida estavam de requinte; o jindungo era do bom, daquele de aquecer os neurónios no cocuruto do templo. No Yellowfin há um espaço de esplanada do tipo self-service para fazer comezainas e com um espaço bray (lugar de fazer churrasco) já fornecido de lenha. Também há mesas, geleira e fogões de uso comum com os artefactos usuais mas, deparamos com dois casais sul-africanos que açambarcaram quase todo o espaço.
Estes dois casais que tinham um carro apetrechado para safaris, levaram com eles arcas frigoríficas, um armazém de géneros e outos requisitos para dar suprimento a milionários gringos, carcamanos dos estate (EUA) que querem aventuras de caça, de pesca e da forma completa de gozar áfrica em sua plenitude. Bazungus ricos… Escrevo estas linhas tendo duas beatas de dois grossos charutos cohiba cubanos num cinzeiro, desperdícios de seus hóspedes oligarcas que por aqui andam bem assessorados, tomando whisky caro e a granel como se fosse água. Porventura serão até donos de petrolíferas que por aqui andam disfarçados de gente comum, vá-se lá saber! Nós nem perguntamos para não constranger os fechados personagens gringos.
Mas, sempre soubemos que seu trajecto foi planeado ao centímetro pois que foram de avião para Casane no Botswana do Shoba, Delta do Okavango em Maun, Victoria Falls, caçaram trofeus na Zâmbia e agora, aqui, pescando nos mares de Inhassoro usando rápidos gasolinas até Bazaruto – bazungus com muito cumbú. Pois! Há gente que já nasceu borboleta sem passar por larva. Mas isto é o menos pois que li recentemente que Salvador Dali em um momento de excrescente angustia atirou uma vaca de um avião sem ter ido para o livro do guinness book; se não for mentira, acho que a vaca deveria ir em um Nord Atlas. Digo isto porque, também estes gringos devem a andar em busca de actos exóticos…
Aqui temos feito levantamentos com cartão nas caixas multibanco mas, nem sempre aceitam o que tenho da África do Sul; Nesse então eu escrevia: Hoje tive de usar o meu cartão do Totta Santander do M´puto para levantar 10.000 meticais. Está escrito: hoje é 24 de Outubro, quarta-feira – iremos continuar aqui no Yellowfin Lodge até o dia 26, sexta-feira; depois seguiremos para sul, via Vilanculos. Já deitado de barriga virada ao tecto a osga gorda estuda-me com seus olhos oblíquos. Acena por várias vezes, parece cuspir qualquer coisa e depois refugia-se no escuro ficando a espreitar entre a esteira e o pau avermelhado da asna no tecto de capim. Já estávamos na mordomia do dia 24 no encanto do mato ao lado do grande Oceano Índico, seus cheiros e ruídos; em África, eles, os sonhos, são tão especiais que ofuscam a mente com espíritos.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO - XII de várias partes…
Crónica 3244 de 21.02.2022 na Pajuçara de maceió – Republicada a 07.09.2022 em Lagoa do AlGharb, M´Puto
- KIANDA COM ONGWEVA – Com Zachaf Pigafetta Roxo a kianda tetravó de Roxo e Oxor vinda do Niassa…Quando eu fiquei Minkisi
Por: T´Chingange – Na Pajuçara, Alagoas do Brasil e Lagoa do M´Puto
E, por fim tinha ali em frente dos olhos a Kianda Zachaf Pigafetta Roxo a tetravó da Assunção, uma mulher radiante de beleza, assim estonteante que se ondulava em imagem, ora era, ora não era nem deixava de o ser, quasequase um holograma falante. Depois daquele pulo desassombrado aquietei-me recordando-me estar entre o desejo de saber a verdade e o pavor que lhe tinha, porque zunia na minha cabeça legionários pensamentos.
Recordo aqui que, involuntariamente houve em mim um ligeiro pestanejar de reluzir comoção, quasequase como um vaga-lume comovido de pirilampo. O meu espanto maior foi saber que ela a Kianda Zachaf sabia que eu era o T´Chingange relembrando que socorri no futuro, sua trineta lá na praia do Guaxuma do Brasil, assim e assado com todos os pormenores de barbatana com o Zé Peixe de Sergipe. Na descrição original desta saga das Kiandas, Zé Peixe ainda era vivo e continuava a tomar banho só com a água do mar, sua Kalunga…
CA - Assim, e sem mais edecéteras e vírgulas espantadas de interrogação disse-lhes que sim! Era eu inteirinho da Costa, nascido e desfalecido num vapor chamado Niassa. Foram muitas as perguntas e interjeições com muxoxos de parte a parte! Era agora que íamos pôr os pontos nos iis rebuscados nos pensamentos apócrifos, atrofilados e outros oriundos de rebuliços. Sabes, temos algo em comum, disse ela: - Tu e eu nascemos em um lugar com o mesmo nome. Sei agora, neste ano pandémico de 2022 que àquele lago chamam de Malawi porque abraça totalmente aquele antigo país de Niassaland…
Niassa! E, isso torna-te também um agente kalunga porque tens um espírito forte; para além das águas, nascente num barco com o nome do meu lago tornando-te um Minkisi*, um agente de ligação entre seres humanos e o físico divindade ou espírito das águas, que somos nós. Referia-se a mim!? E, Januário Pieter ali caladinho ouvindo sem intervir, sem definir o verbo derrogar alterando a estrutura dum regime etéreo...
Sentia-me diluir nas pernas e de novo belisquei-me; doeu e, sendo assim e com dor, só podia ser um humano. Estava em pulgas! Foi quando Januário Pieter assim no seu jeito cavernoso me disse: Eu e Zachaf Pigafetta somos irmãos! Uau! Isto, eu não podia imaginar e, continuou: Nossos pais fizeram uma longa travessia desde o lago Niassa, nesse então chamado Zachaf e o Kwanza. Os nossos mais-velhos assentaram arraiais em Cabo Ledo e, foi a partir daí que o destino me fez kianda itinerante da Globália.
Esta estória para além de longa começava a ser demasiado intrincada. Encontrei Januário Pieter pela primeira vez em Jablines a nove quilómetros de Disneyland. Recordo que foi lá que este me contou coisas que desconhecia terem-se passado em Angola nos tempos recentes e, também lá detrás desde os tempos em que Luanda estava na posse dos Mafulos com os Tugas recolhidos em Massangano e do qual fizeram uma segunda capital de N´Gola nas margens do Kwanza. Bom! A estória decerto iria ser bem interessante.
Acontece que a hora já era tardia, "El Pátio Riconcillo" estava para encerrar e, teríamos de fazer uma pausa, remoer o acontecido e ganhar folga para os próximos episódios. E Pieter foi dizendo que eles tinham muitas mokandas na cabeça para contar: - O mais importante nesta minha vida de kianda da Muxima é falar dos entretantos esquindivados de Kwanza acima, Kwanza abaixo relembrando meus tempos de candengue. Minha mana, disse Pieter, terá outras estórias que decerto te encantarão. Estamos aqui para isso; mungweno! Foi assim que nos despedimos por agora.
GLOSSÁRIO: Minkisi: - Agente de ligação entre seres humanos e o físico, elementos de fogo, água, ar e terra; Kianda: - Fantasma, assombração das águas das lagoas, rios e mares ou Kalungas; Kalunga: Junção de espíritos na forma de água, divindade abstracta. O Soba T´Chingange muxoxo: - silvo produzido pelos lábios de vento aspirado entre dentes; esquindiva: - fazer revienga, finta, fazer piruetas, bazar dali.
Nota*: Minkisi: Similar aos orixás dos candomblés de Angola e do Congo. No panteão dos povos de língua quimbunda originários do Norte de Angola, o deus supremo e criador é N´Zambi; abaixo dele, estão os Minkisi ou Mikisi, divindades da mitologia banta. Wikipédia
O Soba T´Chingange
MULOLAS DO TEMPO -19
RECORDANDO: Do dia 21 para o 22 de Outubro de 2018, na cidade de TETE em Moçambique - 35º dia da Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA”. Nós, bazungus através de África e no Hotel Zambeze, bem em frente da ponte sobre o rio que vem de Cabora Bassa…
Crónica 3243 a 18.02.2022 – Reeditada a 06.09.2022 no AlGharb do M´Puto
Por T´Chingange – Na Pajuçara do Nordeste brasileiro e Lagoa do AlGharb
Ainda sinto um ligeiro arrepio quando a maluca da gata caiu lá do 5º andar. E, como hoje é o dia dos gatos relembro que a dita cuja de nome Yacha com suas sete vidas só ficou meia tonta e com os olhos arregalados, depois deu-se-lhe uma cortisona do tipo KH3 e recuperou-se milagrosamente. Até há bem pouco tempo, dizia o quanto eu na primeiríssima pessoa, tinha de vocação para terrorista. Ouvi até em tempos e, em surdina alguém dizer referindo-se a mim:- Ele conhece muitas estórias, é um inconveniente. E, porque nunca me conformei por nunca me entenderem, fico aqui de novo pensando nesta insensata atitude daquela gata Yacha; acho que foi um descuido sim – foi ao inferno e voltou!
Saltar para o parapeito da janela, correndo o perigo de só parar lá em baixo, no passeio, esborrachada. Aquele dia aconteceu. Acho que a teoria do tal de Isak Newton também é válida para gatos mas bem tolerante, pois que até parece que têm paraquedas no lombo da alma. E, pelo facto passado, pelo observado também aqui em terra de bafanas, eu sempre caía no estremo de dizer o quanto os moçambicanos bem como os angolanos, deveriam estar gratos por terem os Tugas como colonos e, não andar a pedir gasosa por dá-cá-aquela-palha. Pois que aqui verifica-se que para além do mato que cresceu, pouco mais há feito de novo e, por eles.
Sempre caía naquela satírica forma de dizer: - Os moçambicanos tal como os angolanos estão cheios de razão, os Tugas deveriam não só ter levado para o M´Puto as suas estátuas, Diogo Cão, Maia da Fonte, Norton de Matos entre outras mas e, também os prédios, escolas, pontes, hospitais, igrejas, barragens; ter deixado tudo exactamente como a encontrou o próprio Vasco da Gama, em 1498, aquando da viagem marítima para a Índia fazendo cambalachos com o xeique árabe que ali governava - "Mussa Ben Mbiki" ou "Mussal A'l Bik" e também o tal de Diogo Cam, 500 anos antes do achamento do rio Congo ou Zaire que pensava ser a dobra do cabo Bojador a caminho da Índia…
Em áfrica sempre se tem de ponderar gastos para não irmos mais além do plausível mas, há lugares que nem raspas do plausível existe! Esta missão exploradora serviu para revestir-me de uma armadura contra as megalomanias daqueles que julgam possuir todas as chaves de abrir todos os becos, todas as quelhas, todas as picadas sem declarar seu próprio fisco à sua alma. Ali, é fundamental ter dólares! Nosso comandante Vissapa, desconhecia. Sem isto, a apologia de se ir ao acaso tolhe o instinto, cega a fé, mesmo que se repita muitas vezes “valha-me Deus”. As caixas electrónicas funcionam mas, tem um mas..., talvez lá mais para a frente o diga...
O Hotel Zambeze foi o lugar em que permanecemos; satisfatório para África mas não tão eficiente de como o era lá atrás na época colonial, diz-se! Ficamos instalados no 1º andar mas, para irmos ao refeitório panorâmico lá no 6º andar, tinhamos de subir escadas porque o elevador não funcionava; pópilas, não se compreende esta gestão economicista. Da vista do restaurante divisava-se a linda ponta sobre o rio Zambeze, a mesma que atravessamos pagando os respectivos meticais da portagem.
Aqui em Moçambique todas as pontes pagam portagem e, sempre se vai encontrar um militar parando-nos para contar uma estória de carência; e, porque não tem dinheiro para ir ao funeral do tio e edecéteras mais intrincados, solicita uma gasosa, pois claro!... Possivelmente, utilizando este método já deve ter morto toda a família, Ascendentes de Gungunhana e até descendentes que ainda estão por vir. Aldrabões que chegue!? Só mesmo o Mia Couto para contar amabilidades dos genuínos patrícios – kiákiákiá…
Como recordo a minha empregada Mery, natural de Kampala no Uganda, das ditas verdades sobre nós bazungus, brancos turistas em África com montes de artelhos e zingarelhos e câmaras de fotos e mais caixas e caixinhas de lentes e binóculos, mais o tal de canivete que tudo resolve chamado de MacGyver com uma lanterna regulável para ler nos olhos dos mabecos... E assim andei, feito pateta gastando dinheiro a rodos para ver a bosta de camelo mais a outra de elefante com as carochas do egipto, fazendo bolinhas de merda para armazenar no seu mukifo ecológico, vou-te falar!?
De repente via a Mery, chispando muxoxos, meditando até que o troço de tabaco se apagasse com o tição feito morrão dentro da boca, como se fora um pavio de fazer explodir a pólvora dum canhão. Ué! Talqualmente a lavadeira lá do Caputo da Luua de N´Gola, a Joana Kitunda, que também o fazia assim fumando grossos charutos com o tição dentro da boca horas a fio. Creio que enquanto fumam meditam com os anjos e arcanjos e kalungas que desconheço. Sempre fingi que não sabia e, nunca a tinha visto matar saudades de Kampala desta forma tão invulgar ou peculiar. Tocou-me a vez de fumar por um matope de pau-ferro, fumando o futuro! Estas peculiaridades exóticas fazem meu coração bater desordenadamente, latejando-me nas têmporas com um puta-que-pariu, matumbo até morrer. A seguir, vamos para Chimoio…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
MULOLAS DO TEMPO -18
RECORDANDO: Dia 21 de Outubro de 2018, na fronteira entre o Malawi e Moçambique - 34º dia da Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA”. Nós, bazungus através de África… Crónica 3242 - 15.02.2022 na pajuçara do Brasil; 04.09.2022 no AlGharb do M´puto
Por T´Chingange – Na Pajuçara do Nordeste brasileiro e agora, no AlGharb do M´Puto
Ainda sinto um ligeiro tremor de raiva a arrepiar-me as carnes, o cérebro, quando me lembro daquele polícia de fronteira, impecavelmente preto, impecavelmente vestido, impecavelmente sóbrio e com divisas de chefe reluzentes, que ali naquela fronteira de Bozwé, entrada de Moçambique dize que só aceitavam dólares; numa terra em que o dinheiro tem o nome de Meticais. Por seis horas e sentados num muro de pedra ao acaso, tivemos de esperar pelo visto que viria de Tete.
Assim, de braços moles, de mãos frouxas, pescoço bambo quase abotoado ao estomago, crepitando febres, olhava um desconsolo como coisa nunca vista. Ando assim, a tomar chá rooibos misturado com borututu para defumar as raivas mal contidas. Sim! Para me curtir das cólicas. Ontem, até dei comigo a examinar quinquilharias de artesanato, assim minuciosamente como se nunca as tivesse visto. Agora, lá terei de inventar lendas para neles, me improvisar airosamente como um holograma…
Neste dia de 21 de Outubro de 2018 escrevia: Estamos na fronteira de Zobwé que liga o Malawi à cidade de Tete e Cabora Bassa em Moçambique. Já estamos há cinco horas esperando pelos vistos que em princípio irão chegar da Cidade de Tete. Nosso comandante, guia, o melhor condutor de África, empertigou-se com o polícia que nos atendeu ao balcão do lado de Moçambique e neste compasso de espera creio até ser de castigo por excesso de lábia de nosso angolano genuíno de nome, alcunha bangão Vissapa.
Armou-se aos cucos e desatou a dizer que era jornalista e que iria contar ao mundo, que fazia e acontecia, por este desaforo de espera; tinham passado duas horas e foi-nos explicado que os selos dos vistos acabaram ali e, então teríamos de esperar até que o funcionário chegasse vindo de Tete, lá na margem do Zambeze. Sucede que o comandante não aceitou estas explicações, como se não conhecesse estes procedimentos nas fronteiras de áfrica e vai daí, óspois, cinco a seis horas passadas, já muito próximo do fim de dia é que com outro polícia em um outro turno fomos chamados a pagar o visto: cinquenta dólares!
Como só eu estava apetrechado com dólares tive de proceder aos trâmites e, eis que chegada a vez do comandante Vissapa os dólares não serviam, eram demasiado velhos, sujos, teriam de ser novos. Vai daí procurei o bafana cambista de rua do tipo kinguila que me cambiou e nada de o encontrar. Tive de comprar novos dólares para libertar Vissapa. Ainda ando com estes sujos 50 dólares na carteira para recordar tamanha recheira muito impregnada de bazófia de m´bika dum m´putista bangão – Sucede que o prejuízo já foi pois nunca vi a cor, nem a hipótese dessa devolução pois que e, até já nem o quero pra não azarar meu parco futuro…
Escrevia nesse então: Zobwé - Fronteira muito cheia de kazukuteiros a esmifrar os mezungos ou bazungus brancos! 50 Dólares americanos não sujos custaram-me 1000 randes! Fiquei a arder… nunca pedi resgate disto mas ficou uma raiva que criou ranço de bolor neste tempo todo. As Exorbitâncias são feitas à sociedade - compadrio com as autoridades da fronteira... Há laia de rascunho: -São necessários muitos dólares para satisfazer a apatia reinante dos preguiçosos serviçais da lei... Moçambique, é terra para esquecer; iremos ter mais pela frente…
Nossos bolsos esvaziam nas fronteiras... De todos e até aqui, os mais honestos foram os Malawianos...Os mais ladrões e prepotentes foram mesmo os Moçambicanos... É estranho isto, noé!? – Não é! No entanto, pelo que se vê as infraestruturas aceitáveis de agora foram aqui deixadas pelos Tugas. É bem melhor ver África pela Nacional Geográfica... O maior calor teve o maior preço... Foi no Malawi no Mvuu Liwonga subsidiado por fundações europeias (já aqui descrevi…)! No entanto não aceitam pagamentos em Euros! Ando encafifado! Turista t'chindere em África, sofre e paga para isso! Raiuspartaqueospariu (tudo junto)...
Sem pretender vulgarizar o verdadeiro sentido das coisas, aqui estou escrevendo missossos, muxoxos, mujimbos ou mokandas nos trezenos e sessenta e cinco dias dos anos comuns, para arredondar abraços XXL aos verdadeiros gestores do bem-querer. Pelo que podem ler, áfrica é para esquecer! Nesta afirmação, existe uma inevitável armadilha, que chamamos de cultura subordinada a um outro potencial de fingimento, pois que o real entrelaça-se com o possível dando forma à fricção, uma nova forma de ficção. Coitadinhos deles, dizem… Amanhã estaremos em Chimoio… A ver vamos…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
MULOLAS DO TEMPO . 15 – 28.01.2022 - Na Pajuçara do Nordeste brasileiro
RECORDANDO: 26º e 27º dias. Nós, bazungus no ALCON COTTAGE em MONKEY BAY às margens do lago NIASSA do MALAWI a 16 de Outubro de 2018
- Crónica 3234 – Republicada em Kimbo Lagoa a 14.07.2022
Por T´Chingange (Otchingandji) – No AlGharb do M´Puto
Por terra, andamos vendo um deslumbrante espelho de água até chegar aqui a Monkey Bay na parte Sul do Lago e no lugar de Alcon Cottage, um lodge de um indiano com piscina e árvores frondosas com o nome de Juliette. Sereno, selvagem, tranquilo, invade-nos com uma misteriosa paz e invulgar quietude. É o nosso 26º dia de viagem da “Odisseia Potholes”. Aqui, a intermete não funciona em pleno embora tivéssemos pago 2000 KwN (25 €).
Por aqui, fiquei a saber que na língua chinyanja (ou chinhanja), falada na orla moçambicana do lago, Niassa significa "lago", tal como o próprio nome do povo que usa aquela língua, os Nyanjas, significa povo do lago. Em chichewa, uma das línguas do Malawi, a palavra malawi significa o nascer do sol, visto que, estando a ocidente do lago, é dessa forma que os malawianos vêem nascer o dia, sobre o lago.
É um lago único no mundo por formar uma província biogeográfica específica, com cerca de 400 espécies de ciclídeas descritas endémicas. O nível da água varia com as estações do ano e tem ainda um ciclo de longa duração, com os níveis mais altos em anos recentes, desde que existem registos. Estou a gozar o vento aprazível que vem do lago e debaixo de uma frondosa árvore chamada de Juliette.
Nosso destino e, dentro de dois dias iremos para o Liwonde National Park mais a Sul, um lugar já muito próximo da fronteira com Moçambique e por ali iremos permanecer uns dois dias fazendo nosso bivaque com as tendas pois que ficaremos num lugar de camping. Elas foram compradas para isto mesmo mas até aqui sempre ficamos em lodges ou hotéis; uns em beira de estrada e outros com as características típicas de chalés com cobertura em palha.
E, porque já descrevi os lugares de nosso percurso, vou agora descrever qual o fenómeno de existir um conjunto de lagos, uma fiada disposta ao longo do centro de África. Temos os lagos Tanganyka, Victória, Rukwa e Albert entre outros. Estes, fazem parte do Grande Vale do Rift, também conhecido como Vale da Grande Fenda - um complexo de falhas tectónicas criado há cerca de 35 milhões de anos com a separação das placas tectónicas africana e arábica.
Esta estrutura estende-se no sentido norte-sul por cerca de 5000 km, desde o norte da Síria até ao centro de Moçambique, com uma largura que varia entre 30 e 100 km e, em profundidade de algumas centenas a milhares de metros. Ao pernoitar em Karonga pensei neste hífen da viagem periclitante, coisa pouca a comparar com a fractura do RIFT da África. Pernoitando também em M´Zuzu, pude alhear-me do cicerone chato como a potassa e, apreciar todo o lago Niassa ou Malawi em toda a sua costa ignorando o “El Comandante”.
Este Grande Vale do Rift, tem a característica de ser considerada como uma das maravilhas geológicas do mundo, um lugar onde as forças tectónicas da Terra estão actualmente tentando criar novas placas ao separar as antigas. Mas, como é que essas fendas se formaram? Uma revista de publicação local, diz-me que o mecanismo exacto da formação correta, é um debate contínuo entre os cientistas. Este East African Rifts, assume que o fluxo de calor elevado do manto está causando um par de "protuberâncias" térmicas no centro do Quénia e na região Afar do centro-norte da Etiópia.
De anotar aqui que a história da Etiópia está documentada como uma das mais antigas do mundo. Recorde-se Lucy, esse achado arqueológico importante que desvenda nossa natureza humana, descoberta no Vale de Awash nessa mesma região - Afar da Etiópia. À medida que a extensão continua, a ruptura litosférica ocorrerá dentro de 10 milhões de anos, a placa somali se romperá e uma nova bacia oceânica se formará. Aquelas protuberâncias podem ser facilmente vistas como planaltos elevados em qualquer mapa topográfico da área ou visualmente como o é este presente caso...
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO - IX
- KIANDA COM ONGWEVA NO CONCILIO DAS KIANDAS – Salaam Aleikum, com as kiandas Roxo, algures numa ânfora do tempo em Alcazar…
Crónica 3230 de 20.01.2021em Kizomba no PortVille da Pajuçara em Alagoas - Republicado no Kimbo Lagoa hoje: 11.07.2022
Por T´Chingange (Ot´Chingandji)– No AlGharb do M´Puto
As técnicas apuradas no trato do aço ali em Toledo, já vinham da idade média; N´kondis ancestrais a pedido de Simbas também antigos, num tempo mais recuado chamado na Ibéria de época medieval tinham trazido dedos de N´Zambi para retemperarem na dureza o tal aço batido, esfriado e de novo batido; tratava-se de pequenas pedras de meteorito trazidas das terras do fim-do-mundo, lá da Ovamboland, terras de Oshakati e Okaukuejo no reino dos Himbas.
Do Runda e Urunda que se designaram mais tarde por Cuango e Lualaba, que significam em umbundo terras abandonadas ou de difícil acesso, vulgo no cú-de-Judas. Terras remotas aonde os N´Dele Mwene-puto, Tugas, surgiram como “filhos do mar”; assim diziam os nativos pertencentes à corte do João Imperador, o Rei de Abexi de quem o Rei do Kongo tinha temor.
De lembrar aqui que o padre jesuíta D. Gonçalo da Silveira internando-se na Mocaranga e tendo baptizado o Monomotapa foi morto por este por intriga dos Mouros! Estes Mouros que ainda hoje continuam fazendo barbaridades. Até Camões daqueles idos tempos escreveu em verso: Vede do Monomotapa (Mwenemutapa) o grande império, de selvática gente, negra e nua, onde Gonçalo de morte e vitupério padecera pela fé, sua santa. Tudo tem uma explicação!
Em Toledo, eu o Soba T´Chingange, não resisti à mística; comprei uma destas facas. Como N´kondi e seus Bandokis que ainda andam por Toledo feitos bactérias, passo a descrever em síntese o poder de magia que estes ainda exercem: - Usam um boneco fetiche feito de pequenas conchas coladas com resina natural com dois espelhos receptores de encomendas mágicas, um na barriga, outro no topo da cabeça, coberto com uma pele de cobra.
Na mão direita carrega uma lança de pedra tipo ónix mostrando agressividade no seu carácter. O boneco, todo ele, é encrustado de várias substâncias usadas durante as cerimónias envolventes ao Concílio e, em que os pacientes contam as suas estórias de infelicidade evocando a vingança que desejam infligir ao suposto culpado. Háka! Isto e tão mistico que até eu que sou feiticeiro fico enrrugado de cagufa...
- A vingança é feita espetando o prego num determinado sítio do corpo do fetiche - O N´Kondi também recorre ao imbondeiro chamado de N´kondo Ikuta M´vunbi espetando nele o prego; assim a vítima morrerá inchada como a árvore garrafa, o baobá - O descrito prego de aço é o mais eficaz pois nele tem impregnado todo o mal dos homens. N´Kondi quando das várias permanências nos aposentos subterrâneos de Alcazar de Toledo, foi consultado pela infortunada esposa de D. Pedro I do M´Puto, “El cruel”, a rainha Dona Branca, ali prisioneira.
CA - Vários bonecos fetiches de N´Kondi N´Gola ainda podem ser vistos graças ao meu antepassado Soba Aragonês Romero Ortiz. Um dia tinha de revelar isto… Isto pode maçar os não eruditos em áreas destas tão periclitantes, mas prometi a Assunção Roxo e seu espelho Oxor explicar tim-tim por tim-tim toda a estória lá detrás que antecedeu em suas vidas repetidas. Agora que me meti nesta perfilharia intrincada, terei de ir até ao fim dos desacontecimentos.
As coisas intrincadas são assim, mas tudo o que acontece de ruim é para melhorar, dizem! Tudo isto é tão verdadeiro que até parece mentira, mas não é! Deus N´Zambi, dá-nos força para seguir, “ N´Zambi a tu bane n´guzu mu kukaiela!” As buscas da Torre do Zombo deram nisto…vou fazer mais o quê? Até o cronista Fernão Lopes, acerca do rei D. Pedro I do M´Puto, o cruel, dedicou um capítulo que intitulou "Como El-Rei D. Pedro mandou capar um seu escudeiro porque dormia com uma mulher casada".
AR - GLOSSÁRIO:
Mutakalombo: - Espírito das águas com incidência nos animais que nela vivem divindade das águas; Monomotapa, situa-se na África austral, com ligações a portugueses e luso-africanos (antigos negros); N´Gola: - Palavra bantu que quer dizer Angola; Simbi: - Espíritos ancestrais saídos do Kikongo com dois firmamentos, céu o lugar de deuses e terra, domínio dos mortais, na hierarquia espiritual são os avôs dos vivos; Suko: - Pessoa prodigiosa ou alucinada; N´haka: lameiro, sítio de plantio húmido, horta; Rundu ou Runda: - Sítio de difícil acesso, vulgo no cú-de-Judas…
Notas: Texto originário da N´Haka do sobado na Torre de N´Zombo do Kimbo com o nome de Cafufutila…
(Continua…)
Soba T´Chingange
Actualização no Kimbo Lagoa Crónicas 3228 e 3229 por acerto com a numeração do blogue, prevalecendo a ordem deste: Crónica 3229 como se o fora uma só…
MULOLAS DO TEMPO . 11 – 16.01.2022 - RECORDANDO: Nós, bazungus no povoado de Matumbo – Perto da Tanzânia Border… 16º dia - Óh mundo de túji, ainda teremos de atravessar a Tanzânia para chegar a Dar es Salaam… Crónica 3228 - (Escrita manual feita a 07 de Outubro de 2018 – Um domingo…)
Por T´Chingange (Ot´Chingandji) no AlGharb do M´Puto a 10.07.2022
Vissapa mostra sua identidade de angolano a qualquer bafana pé-rapado. Não sei porque nunca fez questão de me mostrar essa cédula esverdeada! Nem vocês que me lêem, saberão decerto o porquê deste procedimento tão bizarro, considerando termos já feito tantas viagens por tantos outros lados e, em outros tempos - até para sul dos montes Atlas nos confins de Elrrachidia; terra berbere, do sudeste de Marrocos… O comportamento das pessoas, quase me levam no dia-a-dia a lamber pensamentos confusos, aonde faltam traços e virgulas no parágrafo de entendimento, sem índice nem prefácio…
Ali, longe de tudo, em um qualquer lado de África, manter a personalidade, seriedade e serenidade seria bem melhor para suportar o vento que soprando de várias latitudes, trazem areia para nossos olhos. Na área de serviço de M´Pika, uma bomba savana-rust-chop de novo o “my friend” mostra seu cartão de angolano aos bafanas lavadores de carro – terreiro de terra avermelhada e uma mangueira que encharca a lama. Na área de serviço com aspecto de uma velha e decadente mercearia, há prateleiras com latas e pacotes de farinha, feijão, ovos, vários cereais e até frascos com mopane, as larvas chamadas de catato em Angola.
Lá terei de descrever ao pormenor este sítio comum, para poderem absorver a fotografia com cheiros ladeados por pneus carecas a cercar espaços de bancas improvisadas e também ladeadas de sacos de carvão, pilhas de lenha, sacos de maças, laranjas, bananas e várias quindas com sal das minas. A secção de Car-Wash era suportada com vários baldes e paus a suportar tapetes, pedaços de pano para limpeza, usados pelos dois profissionais. Uma meia hora de espera e ficou completa a lavagem de nosso (salvo seja) Jeep “ford by ford”. Levaram 150 kwachas pelo serviço que dentro das condicionantes, ficou perfeito.
Desapareceram as dedadas nos vidros, os riscos das rilheiras do pó e os pelos alheios de chacais presos na mistura com pasto fino, manchas de besouros esparramados na vidraça e até moscas e formigas cadáver. Bem que a minha empregada do Uganda Mery me avisou: Patrão! Tu vais sofrer andar nessas lonjuras de mato, garganta seca, a golos de água quente choca. Vais ver como até os espinhos vão ter contigo. Tambulakonta!
Háka! Senti mesmo isso pois que logologo e pelas manhãs o comandante “my friend” já estava nervoso, desvairado da silva. Só podiam ser os espíritos dos “photoles”, buracos e mais buracos, os ziguezagues aos camiões e dos cabritos atravessando no momento errado. Patrão, tu vais sofrer! Vinha-me sempre ao pensamento esta sapiência de Mary de Campala. Minha sonolência ficava atormentada fingindo também que tinha sangue de barata – só por vezes debelava minhas farturas de matumbice – um homem não é de pau.
Mandei um whatsApp a Mary de Campala do Uganda a recordar das suas razões ao que veio uma resposta seca: Quem anda por gosto, não cansa - aiué. E, entretanto já estávamos a chegar ao povoado de matumbo, um sítio mesmo a condizer com o panorama. Meu filho Ricar de Johannesburg mandava entretanto uma mensagem dando a indicação do câmbio da moeda na Tanzânia: Um Euro valia neste dia 2.637 Shillings tanzanianos… Fazendo contas em meus papeis coloridos, ia apaziguando meus conflitos de viagem, mudando no possível o humor! Será bem melhor.
Tratando das finanças do “ford by ford” ia anotando 1€ = 834,51 Malawi Kwachas – 1 rand = 59,56 Malawi Kwachas. No leka-leka-shop M´zuzu vi um barbeiro em seu mukifo cortando o cabelo com uso de uns cabos que saiam directo de uns pequenos painéis de sol, para sua máquina de cortar cabeças, entenda-se por cabelos, carapinha e, fui deixando de ficar enkafifado com estas tecnologias de ponta e com sol...
Estando em África, em um qualquer momento, ao se olhar para dentro de si mesmo, se deparará com um quadro que são mesmomesmo tecnologias de ponta, uma verdadeira resiliência como se diz hoje. Aiué patrão…é o ideal. Talvez se sinta o coração quebrantar-se pela consciência da própria fraqueza e se entristeça profundamente apesar de se saber que a alegria é um componente do fruto espiritual. Um dia virá em que na presença de um ser superior, a “plenitude de alegria surgirá, tirando até águas das mulolas com um cesto de vime, assim se acredite nos milagres da vida. Amanhã será outro dia! - (Continua…)
O Soba T´Chingange
PARACUCA . XLI
MULOLAS DO TEMPO . 12 – 18.01.2022
RECORDANDO: Nós, bazungus depois de TUNDUMA Border Zâmbia / tanzânia… 17º e 18º no Utengule Cauntry Hotel - Óh mundo de túji, ainda teremos de atravessar a Tanzânia para chegar a Dar és Salaam… Crónica 3229 - (Escrita manual feita a 11 de Outubro de 2018 …)– No Nordeste do Brasil
Chegamos já era noite fechada a M´Billize-M´Beya no itinerário que nos levaria a Dar és Salaam; a estrada estava entupida de motorizadas e, foi um grande problema chegar a este agradável Utengule Cauntry Hotel inaugurado com a visita de Kofi Atta Annan, um diplomata ganês que era nesse então o sétimo secretário-geral da Organização das Nações Unidas; o mesmo que foi laureado com o Nobel da Paz em 2001. Exerceu funções entre Janeiro de 1997 e Dezembro de 2006. Numa das paredes da recepção podia ver-se o grande quadro com este personagem. Ficamos aqui por indicação de um alemão quando tratávamos dos trâmites da fronteira em Tunduma.
Nós, quatro pessoas, pagamos por dois dias e dois jantares a quantia de 661 US$, dólares americanos. Achamos caro o preço de 150 US$ por noite mas, a paisagem circundante desvaneceu esta superficial arrelia. A partir desta operação fui destituído das funções de secretário da economia pois que havia dúvidas permanentes quanto ao câmbio que praticava tendo como base o Rand Sul-africano. Em realidade já estava farto de fazer as contas do deve e haver do “ four by four”. No meio de espontâneos obséquios seria fácil ser tomado por intrujão e, isso repuxava-me más raivas…
Por via das incursões dos jihadistas do Boko Haram que aterrorizavam a região de Rovuma a norte de Moçambique e, por via dos avisos que nos chegavam dos familiares do M´Puto o comandante do “four by four” decidiu fazer uma inflexão para sul cruzando todo o Malawi. Pagamos o dobro do que era normal para tirarmos o visto na fronteira da Tanzânia para aqui ficarmos uns escaços dois dias. O planeamento aqui falhou e eu, que tinha tanta vontade de ir até ao Norte ver o Serengeti caí em mim desiludido, numa lazeira de sertão com a alma meio adoecida…
A Tanzânia é um país da África Oriental conhecido por suas vastas áreas selvagens, como as planícies do Parque Nacional de Serengeti, uma das mecas do safari e habitada pelos cinco animais de grande porte mais difíceis de serem caçados (elefante, leão, leopardo, búfalo e rinoceronte). Outro destaque é o Parque Nacional de Kilimanjaro, onde fica a montanha mais alta da África. Em alto-mar, estão as ilhas de Zanzibar, de influência árabe, e de Mafia, com um parque marinho que abriga tubarões-baleia e recifes de corais. O sonho de ver parte disto, desvaneceu-se para calibre de cão sem trela.
Passadas as cidades de M´beya, Tukuyu e Ipinda, chegamos a Songwe Border, fronteira com o Malawi. Deste modo, forçado à ponderação, a ideia de ir a Arucha lá no Serengeti, ficou posta de lado. Quem vai até aqui de avião, é depois e sempre acompanhado por guias dos respectivos parques e em carros de tracção. Há por muitos lados filas de turistas que aceitam pagar caro por mordomias exóticas. Entretanto fui fazendo actualizações do câmbio pelo meu microondas e anotei: Um euro valia 835 kwachas malawianos e um Rand correspondia a 60 Kwachas malawianos.
De M´Beya até à fronteira, ainda na Tanzânia pode-se ver grandes plantações de chá embelezando as encostas daquele espaço montanhoso, muito bananal, campos de batata, café robusta, florestas de mangais, e lavras de mandioca. Estas terras altas pelo que se via, eram boas para qualquer agricultura pois que por ali a chuva, a bençoava. As fronteiras em África são sempre problemáticas e demoradas no trato de expedientes, pagamento de visa e o respectivo seguro obrigatório do carro; aqui, também não foi diferente!
Tivemos de usar nosso cartão multibanco por seis vezes a fim de obter a quantia certa para pagar os 75 US$ e ficar com mais algum. Uma vez que só eu tinha dólares, não seria conveniente desfazer-me deles pois poderiam vir a faze falta mais à frente, tal como veio a acontecer. O pagamento aqui poderia ser pago em Kwachas malawianos e, para o efeito ficamos com um bom molho de notas em carteira. Nestas três a quatro horas que ali permanecemos, ocorreu algo que me levou a considerar ser o povo malawiano mais honesto que dos demais países.
Tive de faze uso dos balneários para urinar e procurando, fui dar a um cubículo sem tecto nem porta, tijolos sem reboco nem pintura e um pano encardido a fazer de porta; tinha uma pia turca como única peça e, tive de pagar pelo uso. Sucede que não tendo os 200 kwachas (mais ou menos 25 cêntimos do Euro$), paguei com uma nota de 5 US$ e, sem esperar o troco fui para as instalações da aduane do lado de Malawi aonde permaneci sentado. Qual o meu espanto quando passado pouco tempo surge o moço bafana com os 5 US$ trocados em kwachas. Aceitei e dei-lhe 1000 kwachas de gasosa! Gostei de no meio de tanta carência e tanta trambiquice, haver uma atitude de honestidade… Sim! vale a pena visitar o Malawi, é terra de gente boa!
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XVII
- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… FRACCIONISTAS DO 27 DE MAIO DE 1977
- Crónica 3186 – 27.08.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – A independência era para isto!? - Nós e os mwangolés…
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Sem a preocupação gramatical, com o sujeito cutucando o verbo mais o predicado…, sem a métrica do fado, uma emergência confusa deste tempo pandémico, sem a rima versejada, a metáfora triste e saudosa, bonançosa quanto baste mas, de alma torturada…, sem pátria idolatrada, jogando búzios na zuela do feitiço do tempo, com algum esforço intelectual, remexo nas panelas do esquecimento de N´Gola!
Muito me convenço da inutilidade das bagatelas que nos preenchem o dia, por isso relembro o passado recente e longínquo para espairecer ressarcimentos que ainda podem chegar; que deveriam já ter acontecido mas, neste capítulo de descolonização as coisas só desacontecem - vou esperar deitado porque as kinambas, andam roídas pelo salalé. Sem ser convocado, assisto avulso só por assistir, às periclitãncias do socialismo, tendo até medo de comentar disparates grosseiros. Assim sendo, só poderei responder com muxoxos malcriados, refugiando-me atrás do balcão de minha modesta venda de vaidades.
Vamos situar-nos a 27 de Maio de 1977 e, em um após as insistências da URSS a Agostinho Neto a fim de aderir ao marxismo-Leninismo, o que veio a consumar-se com a criação do MPLA-PT. Não obstante Neto continua uma pedra no sapato do regime soviético, que na altura era chefiado pela “tróica” de Nicolau Podgorni/Kossinguine/Brejnev. Quatro homens da ala esquerdista do MPLA lideram um golpe de estado contra Agostinho Neto. Foram eles: Bernardo Alves - Nito, Jacob Caetano – “Monstro Imortal”, José Van Dunem e o Comandante Bakaloff.
O episódio é conhecido por Revolta dos Fraccionistas - “dos Frac´s” na linguagem popular. Num discurso após o golpe, Neto afirma que por detrás da rebelião, estivera “ uma embaixada estrangeira em Angola”. Para os analistas políticos não restaram dúvidas em apontar de forma comedida o embaixador Kalilnini como sendo o autor intelectual do episódio. Já dominando os pontos chaves na Capital – Luua, como a emissora de rádio, o golpe aborta porem, mercê da rápida intervenção militar cubana ao lado de Neto. “Monstro imortal”, armado com uma metralhadora, entra no Palácio da Cidade Alta de Luanda, com o propósito de dar ordens de prisão ao presidente angolano; assim não foi, porque Neto, estava no Futungo de Belas…
Monstro Imortal é preso de imediato. Na onda posterior de repressão, são presos, torturados e passados pelas armas na forma sumária, seguindo-se-lhe milhares de pessoas, incluindo os mentores do golpe, depois de serem sujeitos a dolorosa tortura física. Conta-se que a Nito e a Monstro Imortal, lhes foram arrancados os olhos, ainda em vida. O último relatório da Amnistia Internacional sobre o golpe de 27 de Maio relata o desaparecimento de prisioneiros – “Noite após noite, durante os meses seguintes, ambulâncias e outros veículos saíam da prisão de Luanda e de outras cidades”.
Hermínio Escórcio, chefe do protocolo da presidência, descreve mais tarde como sucederam as manobras dessa revolução: “ Na manhã do dia 27 estava em casa quando me apercebi que a Rádio Nacional de Angola – RNA, havia sido tomada. Fui para o meu gabinete no Palácio e de lá telefonei para o Futungo de Belas (Presidência da República) mas de caminho pude avistar o Onambwé e o Delfim de Castro que, dentro de um tanque, se dirigiam para as instalações da RNA, onde já estava no ar o programa radiofónico “kudibanguela”. Depois da retomada da RNA fui o primeiro dirigente a lá entrar”.
Continuando: “saí da rádio e fui até à Avenida Lisboa para ver se havia rastos de sublevação. Liguei o Neto, disse-lhe que estava tudo calmo e, ele prontamente afirmou: “Então posso ir até aí!” Disse-lhe que por uma questão de segurança, talvez fosse melhor ficar pelo Futungo. Dito isto, acrescentou que ia chamar a imprensa para fazer o ponto da situação. Mal sabia ele que o Saidy Mingas, o Eurico e o Garcia Neto já tinham sido mortos. Também desconhecia que alguns comandantes haviam caído em emboscadas montadas pelos Fraccionistas à 9ª brigada. Neto, quando soube de tudo isto, ficou completamente transtornado”.
Neto vai à televisão e proclama o salvo-conduto para o banho de sangue: “Não haverá contemplações…Certamente não vamos perder tempo com julgamentos”. Os fuzilamentos sumários passaram logo a ser norma. Convêm dizer aqui que os cubanos após retomarem a Rádio Nacional, abrem fogo sobre todos os amontoados de população que eventualmente estavam ao lado dos revoltosos e, acto contínuo retomam o controlo das cadeias. Mila Coelho, mulher de Rui Coelho fuzilado a 2 de Junho de 77 e, que na altura era chefe do gabinete do Primeiro-Ministro Lopo do Nascimento, conta assim: “ Esperava Rui, vindo de Argélia e a 1 de Junho com a tragédia do 27 a decorrer, notei nele muita intranquilidade. No dia seguinte, dois de Junho, vieram buscar-nos a casa”.
“Dois soldados armados de metralhadora, exigiram que fôssemos com eles. Levaram-nos para o Ministério da Administração Interna aonde permanecemos toda a tarde, sentados em um banco corrido. Nessas horas falamos pouco; estávamos horrivelmente destroçados. Era já noite quando nos foram buscar; meteram-nos num cubículo escuro e pela madrugada levaram-nos para a Cadeia de S. Paulo. A separação de homens para um lado, mulheres para o outro afastou-nos definitivamente um do outro para nunca mais nos virmos”…
Nos fios de gastas crenças, tão corcovado, tão enrodilhado em suas macias filosofias de mineiro de volfrâmio, recordo meu pai Manuel, embebido, travado e suspirando baixinho, revendo sua miúda indecisão de viver, vendendo volfrâmio a Hitler para sobreviver. Um dia de repente, com um trejeito de esforço, endireitou-se emperrado e cresceu! E, falou: - Amanhã vou à Companhia Colonial de Navegação inscrever-me - Vou para Angola! E, foi… Ora sucede que neste 27 de Maio veio da Luua inchado de porrada e com uma bala nos joelhos; esperei-o no Aeroporto da Portela de Lisboa. Seguro por duas muletas parecia um Cristo! Tirou essa bala e, não mais voltou… Impôs-se assim uma forçada regra de vida: - A liberdade de sermos saudáveis ou morrer por coisas impensáveis…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NUM TEMPO COM CINSAS - AZUCRINADOS - Portugal e os bafos dos desabafos… Crónica 3084
Meu futuro é amanhã! Ontem, foi meu prefácio… Termos de acreditar que algum visitante do futuro nos traga toneladas de esperança para se acabar com a crise… 21-11.2020
Por
T´Chingange – no Algarve do M´Puto
Despairecendo meu espírito, olhei-o escondido com medo do fogo e do capeta feito diabo que sai por toda a parte lambendo os beiços. Com modos sortidos, nas entrelinhas, esbarra em lugares de kotas mais velhos e, assim átoa feito peste, quebra a renitência da idade. E, porque não posso tomar medidas energéticas providenciais, requebro-me nas charadas alcoviteiras para enfeitar penicheiras provocatórias, estendendo a crítica a vulgares patifarias de caixeiros feitos doutores e, até políticos…
Engomando, cozinhando, ou limpando-nos o pó como se fôramos trastes dum estado só deles, precisamos de algo a que nos apegarmos para que a fé não vacile para além do suficiente. Na vontade de fugir espantado, remoçado, muito inchado de iguarias macabras, algumas idiotas, meus espíritos passeiam-se-me no cérebro às apalpadelas azucrinando-me.
Sem a preocupação gramatical, com o sujeito cutucando o verbo mais o predicado…, sem a métrica do fado, uma emergência confusa deste tempo, sem uma rima versejada por poeta que se preze, esganiço-me a fazer conversa sem sobejar esforços de conversinhas, na fé da promessa e até, sem a vergonha de estar esmolando metáforas antiquíssimas. Ninguém ainda sabe, só umas raríssimas pessoas de olhos rasgados…
Jogando búzios na zuela do feitiço, com algum esforço intelectual, remexo panelas de caldeirada muito me convencendo da inutilidade das bagatelas que nos preenchem o dia, refugiando-me atrás do balcão de minha modesta venda de vaidades. Metendo num pão que vai ao forno os trocadilhos e chouriço e enquanto espero, vejo os estudos feitos pela OMS que apontam uma estatística mundial como havendo 300 milhões de pessoas, de todas as idades, com depressão, considerando ser este o mal do século…
Algum tempo atrás, desconhecia que podíamos fechar o tempo dentro de casa, atazanado comecei a beber dez gotas de cannabis para truncar as vicissitudes misturando o gosto estranho com kefir, um pouco de café pilão e um pouco de mel. E assim, meto também num pão tipo croissant os trocadilhos com chouriço, por vezes morcela, no fim de sentir algum prazer de viver…
Escrevo isto olhando para a árvore gigante que meu vizinho alemão da Alemanha construiu no seu quintal, a mesma que me tira o sol de inverno porque baixou demasiado no varão, agora ensombrado; lá estão as duas máscaras que foram lavadas com sabão macaco mas, ainda não sei quanto tempo o capeta pode ficar naquela superfície de pano.
Menos mal que o meu outro vizinho que veio de França e, que tudo indica ser evangélico está com o Espirito Santo. Deste modo lá serei abrangido nessa coisa do wifi… O tal padrão Wi-Fi que opera em faixas de frequências que não necessitam de licença para instalação. Acho que também serei apanhado no leque de ondas embora o tipo, tenha subido o muro até aos limites da minha altura só para não ver sua filhinha vinda das arábias a fumar por aqueles esquisitos cântaros com uns tubos de fazer borbulhar o Alibabá...
Ainda que eu falasse a linguagem dos santos, para além de me ser exigida a fé suficiente, teria de me posicionar diante da minha intuição; os meus olhos teriam de me fitar, de me desafiar a enrolar silêncios nas pretensões, sem me sentir temeroso e, quanto a isto, enfeito-me de liberdade com a suficiente e possível humanidade sabendo de antemão que viver, mesmo, é um descuido prosseguido…
O Soba T´Chingange
MOKANDA DO EDU - Nós e os bichos - Crónica nº 3078
Eles, os Leões, não sabem o que é isso de “paradigmas”
HISTÓRIAS DE VIDA - SELVA - 08.11.2020
As escolhas do Kimbo
Por: Eduardo Carvalho Torres – No Barlavento Algarvio do M´Puto
Estou a pensar no ser humano, no animal selvagem e na inteligência. E do animal selvagem, vou falar do leão, o rei da selva, e da leoa, sua companheira; das semelhanças e diferenças de procedimento entre um, o animal selvagem, e o outro, o ser humano.
Este, é dotado de inteligência, pensa, cria condições de vida, vive em sociedade organizada, estabelece um padrão de vida que evolui de acordo com o avanço da tecnologia, muda sistemas, cria interesses que muitas vezes se sobrepõem à vida para determinar a morte, tão depressa é um salvador como se torna num assassino!
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O homem tanto pode ser egoísta, como solidário, julga poder salvar o nosso planeta sendo que na maior parte dos casos está a destruí-lo. Fabrica guerras para conseguir a paz, e muitas vezes, arranja guerras porque não consegue viver em paz. E o animal selvagem? Como procede ele? Cuida do ambiente, do seu "habitat ", sabe que tem de preservar para poder sobreviver, destrói o indispensável, não polui o ambiente e procura viver de acordo com as suas conveniências.
Pratica sexo nos períodos indicados para o efeito, não é egoísta relativamente à fêmea e respeita os principios da sua própria criação. Será que ele pensa? Eu acredito que sim. O leão, mais a leoa que é verdadeiramente a caçadora, quando estendida à sombra duns arbustos, com os olhos semicerrados, de boca entreaberta, que o calor abrasa, não estará ela a pensar porque deixou escapar a presa, no cerco prudentemente efectuado e que resulta quase sempre? Porque terá falhado então?
Será precisa uma nova estratégia? O animal que escapou, esse pensará decerto que foi um golpe de mestre, que conseguiu enganar a companheira do rei, por que foi mais esperto, usou a rapidez como o trunfo forte para combater a força e a técnica da opositora. É a lei sobrevivência. O leão, ou leoa, matam apenas para saciar a fome.
Não destroem indistintamente a vida, pelo prazer ou necessidade de destruí-la. Apenas por necessidade de comer. Respeitam as leis da selva, a leoa ensina as crias a caçar, para quando adultas, seguirem o seu caminho, defende-as enquanto sob a sua protecção; o leão cumpre uma das suas funções, procriando, num ambiente da liberdade e de respeito. E o ser humano, com a sua inteligência, a sua capacidade de criar e de inovar, quem será que vive verdadeiramente na selva?
Basta olhar em nosso redor, perceber de que é capaz o ser humano para atingir os seus objectivos, matar se para isso acontecer desimpedir o caminho que o leve a atingir determinada finalidade, e quantas vezes sem a certeza de o conseguir.
A nível individual ou colectivo pode ser solidário, criar associações humanitárias, mas pode matar, criar guerras por questões politicas ou comerciais, e destruir nações em nome de uma paz inventada. Não sei mesmo onde se situará a verdadeira selva de procedimentos.
ECT
MULOLAS DO TEMPO . 9 – 17.10.2020
Nós, bazungus na Cidade de Livingstone – Zâmbia border… 14º dia
Óh mundo de túji e, ainda temos de atravessar a Zâmbia para chegarmos à Tanzânia…
- 04 de Outubro de 2018 – Quinta-feira … Crónica 3070
Por
T´Chingange – No M´Puto
Com um interregno de dois anos, volto a falar na ODISSEIA HAJA PACIÊNCIA – NINGUÉM É SANTO e, desta feita estamos no 14º dia a atravessar a ponte que liga o Zimbabwé à Zâmbia. Querendo levantar dinheiro na caixa electrónica em moeda local, o KWACHA tenta e tenta e nada, o estrupício da máquina estava ali só para instituir civilidade mas, as tentativas foram em vão. Eu e Dy (O melhor condutor de África…), lá tivemos de ir ao hotel mais próximo desse lado da Zâmbia para levantar dinheiro em KWACHAS. E, vai daí, metemos as kinambas a andar até chegar ao hotel Royal Livingstone hotel.
Foi aí que levantamos um bom pacote de kwachas no Absa-ATM situado quase ao lado da Livingstone Way. Eram talvez uns dois quilómetros mas, para mim pareceu-me ser no cu de judas; reparando que havia um largo com táxis e porque Dy ia em jeito de gazela, resolvi perguntar ao chofer bafana quanto era em dinheiro ir à tal caixa indicada e voltar à alfândega. Resulta então que o regresso já foi de táxi a cair aos bocados. Recorrendo aos meus papéis de cor laranja posso relembrar os preços: 600 Kwachas por visto de passaporte e 20 dólares pelo carro transitar no país.
Ao táxi border demos 100 kw e ao bafana que se intitulou de guia demos 50 Kw. Nas fronteiras de África há sempre uns quantos bafanas a oferecer-se como guias–solicitadores para preencher papeis e diligências, coisas dum mundo ainda por descrever, solicitudes de sobrevivência. Os cambistas kinguilas são às dezenas, chatos como a potassa a falar todas as línguas e mais estalidos de muxoxos sonoros como a destratar os t´chinderes. Foi o que senti e, não posso aldrabar-me só para agradar quem me lê.
Muito papel, muito solicitador, muita burocracia tonta e, muita falta de paciência. Tivemos de lavar as mãos supostamente em um desinfectante que me pareceu ser da pura água do rio Zambeze e depois ficamos por um tempo rápido em frente a uma câmara a fim de medir a temperatura por via da malária; posso ver um écran tipo TV com várias cores que se desfazem a partir de um inicial arco-íris. Pode até ter sido para detectar gente com SIDA. Daqui, podiamos ouvir sempre o barulho das quedas, cataratas que caem do lado Zambiano em uma grande extensão.
Chegamos à Zâmbia border às oito horas. São já 10,45 horas e ainda aguardamos despacho ao visto do carro Jeep Nissan BV-889-GP-(ZA). 11,45 horas, recomeço da rota pré definida de acordo com a informação recolhida no Rest Camp Victória por um português a residir há muitos anos no Zimbabwé e, cujo modo de vida era vender peles de animais aos turistas. Podemos ver a carroceria de sua carrinha tipo Chevrolet cheia de peles já curtidas de vários animais mas, sendo maioritariamente de zebras.
Pela estrada T1, aqui chamada de Musi-Ao-Tunya, seguimos em direcção a Lusaka tendo ficado no lugar de Mazabuka. Passamos por lugares de longas savanas ora de mata seca e rasteira e com árvores de algum porte nas bacias dos rios que iam aparecendo em nosso percurso. Passamos por Kalombo, Choma, Mouze e, em fim de tarde assentamos bivaque em um Lodge Sucre-In, um conjunto de casas e bungalows pertencentes à Companhia de Assucar da Zâmbia.
Podíamos ver aqui grandes extensões planas com canavial sacarino. Ficamos em dois treileres equipados com ar condicionado ao preço de 400 Kwachas por treiler, com pequeno-almoço incluído (sensivelmente 30 Euros). Este percurso desde as Cataratas Victória até aqui, foi bem cansativo pois que não podíamos ir além dos 80 a 100 quilómetros por via de haver muito trânsito e estarmos condicionados por vários e longos camiões que transportavam barcos para os lagos Tanganica e Vitória mais a norte.
Neste percurso monótono do 14º dia, comi em um restaurante de estrada um “T-bone end chips” que veio exageradamente torriscado! Os restantes companheiros preferiram nada comer porque pelo trejeito tiveram algum asco. Assim com egos demasiado exultantes, fiquei com a nítida impressão que era eu o mais preparado para estas peculiaridades da vida em áfrica (a betoneira…). Entre afrontas de prosápia lá fui roendo irascibilidades alheias numa odisseia de paciência…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
MOKANDA ANTIGA - ODISSEIA ANGOLA . Parte I de IV - AGOSTO DE 1975
Crónica: 3042
Emocionante. Uma crónica maravilhosa para os meus amigos de Angola, especialmente para os que fizeram a CARAVANA de fuga pelo deserto até à África do Sul. Vou notificar alguns amigos que sei que lá estiveram nas caravanas e seguiram na travessia do deserto Kalahári e Costa dos Esqueletos…1975 - 2020
As escolhas do Kimbo
Por
Sonia Zaghetto
"Já sentiu saudade de sua terra, senhor? É uma coisa que brota na fundura do peito, percorre bem devagar a pele, arrepia os pelos dos braços, bambeia as pernas. Garra de unhas pontudas, pega o coração da gente e espreme lentamente". Pingam gotas vermelhas que abrem uns vazios na alma dos homens. Houve um tempo em que eu não sabia o que era saudade de casa.
Nasci numa cidade do sul de Angola, Nova Lisboa. Hoje ela se chama Huambo. Era o dia 2 de abril de 1958 e minha mãe tinha 16 anos. Solteira. Meu avô não queria que eu nascesse, não. Minha mãe bateu o pé e foi enfiada num convento para que eu nascesse lá. Depois eu seria dada para adopção. Minha mãe bateu o pé de novo: agarrou-se a mim – sua carne, seu sangue. Fiquei. Até completar um ano, vivi entre os hábitos das freiras, ninada pelo som das orações, dos cânticos, dos sinos, filha das Ave-Marias, das Salve-Rainhas, dos Pai-Nossos sentidos.
Talvez minha mãe tenha rezado muito, não sei. Talvez os santinhos que me viram chegar ao mundo tenham adoçado o coração de meu avô. O certo é que de repente ele se viu apaixonado por mim. Veio nos buscar. O que sei sobre essa época é o que minha mãe contou. Eu mesma de nada lembro. O que ela conta é que eu e meu avô não nos separávamos. Alto, de cabelos grisalhos e sorriso largo, ele me carregava nos ombros pra todo lugar e me mimava, me ensinava a ser respondona, não permitia que a mãe me castigasse. Só ficamos na casa dele até eu completar três anos. Mamãe não tolerava a “madrinha”. A bem da verdade, não era madrinha – era madrasta.
Minha avó morreu quatro anos antes do meu nascimento. Assassinada. Estava na cozinha e um homem chegou. Disse estar com fome, pedia comida. Minha avó se compadeceu: sabia dos sofrimentos dos homens negros em Angola. Mandou-o entrar e sentar-se à mesa. Enquanto servia o prato, o homem se levantou. Como uma pantera, veio por trás e a estrangulou. Minha mãe e meus tios menores estavam no quintal, brincando. Nada viram. Ficou a lição de que algumas criaturas – não importam a cor da pele – são diabos. Ah, se são…
A casa do avô, em Nova Lisboa, tornou-se lugar das férias até os meus 10 anos. O avô trabalhava de sol a sol na chitaca. Levantava às 5 da matina e ia pros campos de sisal, abacaxi, laranja, goiaba, tangerina, caju. Às 9 horas, eu e os primos levávamos o matabicho para ele e prós trabalhadores. Era bom aquele tempo de brincar, nadar no lago, subir nas árvores, cravando os dentes nas frutas colhidas no pé, correr atrás de patos e galinhas e dar cigarro aos camaleões só para vê-los mudar de cor e despencar do galho completamente chapados.
Até hoje, senhor, não encontrei comida melhor que a da senzala. Todos juntos, brancos e negros, comendo pirão ao molho de dendê e peixe-seco. Que saudade agora me dá de pegar o pirão com a mão, molhar no dendê e depois lamber os dedos besuntados. Não há nada melhor, viu?
Quando eu e minha mãe saímos de Nova Lisboa, fomos pra Luanda. Ela trabalhava como costureira. Foi assim que me criou, sentada na máquina de costura. Cresci entre tesouras, linhas e tecidos, rendas e fitilhos. Grandes espelhos reflectiam as senhoras elegantes que chegavam a toda a hora. Minha mãe era a melhor: só trabalhava pro high society de Luanda. Noivas? Eu juro, senhor, que perdemos a conta de quantas ela vestiu – uma mais bela que a outra.
Adolescente, estudei num colégio de freiras, o melhor de Luanda, o mais caro. Era bolsista e tinha a obrigação de ter notas altas. Entrei no colégio por recomendação do presidente da Câmara de Luanda, cuja esposa era cliente da minha mãe. Gosto de lembrar desse colégio. Ali fiz grandes amizades, algumas duram até hoje, embora separadas por oceanos. Foi lá, também, que aprendi a me defender. Filha de mulher solteira, quantas vezes me chamaram de bastarda? Nem lembro. Eu reagia. Não nasci para baixar a cabeça, não senhor.
Morávamos num apartamento bem pequeno. Quarto e sala, cozinha, banheiro e uma sacada minúscula, de frente para o mercado municipal, que a gente chamava de Kinaxixi ou Mercado da Maria da Fonte. Na época de provas eu acordava às 3 da madrugada. Quando os feirantes começavam a arrumar as bancas, eu aparecia na sacada e berrava para que parassem de fazer barulho, que eu precisava estudar. Eles riam e moderavam a barulheira. Depois de um tempo, eles se acostumaram a conferir: se a luz do quarto estava acesa, já gritavam “Hoje vamos ficar quietos. Vai estudar, miúda!”.
(Continua…)
Sónia Zaghetto
O LIVRO ESCOLHIDO:
1 - A minha Empregada - Editorial Estampa de - Maggie Gee ... 26.04.2019
Por
T´Chingange - No Nordeste brasileiro
Livros em cima do criado mudo (mesa da cabeceira)
1 - A minha Empregada - Editorial Estampa de - Maggie Gee
2 - O ano em que Zumbi tomou o Rio - Quetzal - José E. Agualusa
3 - O Último Ano em Luanda - ASA - Tiago Rebelo
4 - BURLA EM ANGOLA – Burla em Portugal - Guerra e Paz – Susana Ferrador
5 - História da riqueza de brasil – Estação Brasil – Jorge Caldeira
6 - GLOBALIZAÇÃO de Joseph E. Stiglitz
7 – VIDAS SECAS – Graciliano Ramos
8 - A viagem do Elefante – José Saramago – Da Caminho
9 - O Livro dos Guerrilheiros de José Luandino vieira - Da Caminho
10 -O CORTIÇO - Romance de Aluísio de Azevedo – IBEP – S. Paulo, Brasil.
11 - O Romance “A Pedra do Reino” – José Olympio editores …Ariano Suassumal.
12 - O PADRE CÍCERO que eu conheci - Olímpica editora de Juazeiro - Amália Xavier de Oliveira...
De epilogo em epilogo sigo-me como um sonho que ora está no M´Puto, ora está em Angola, ora está na Pajuçara do Brasil lambendo as águas como quem lambe o tempo. De cavandela em cavandela sempre me vai dando mais tempo para beber a minha estória e, com ou sem profundidade recordar alguns relâmpagos.
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Lá se vai o tempo de me preocupar com o jardim a ficar cheio de grama ruim, o mato a crescer, as amêndoas por apanhar, os arames a enferrujarem e o tecto do sótão a se desmanchar. Renovando tubos oxidados para no mínimo ter água corrente, reinventando isto e aquilo tal como eu, reformulando-me...
O esmalte lascado do lava louças com suas manchas a ficar amareladas por via desse tempo que não para de me atazanar com remendos enjorcados para durar um pouco mais, retirar as bikuatas sem uso que só juntam ratos. Essa mania de amontoar coisas que não mais se vão usar.
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Tenta-se que as coisas sejam diferentes mas, tudo custa dinheiro e, este, está cada vez mais caro. Sim! Tentei que as coisas fossem diferentes mas, no suficiente de entre todas as oportunidades, foi o melhor. Assim falando com a minha empregada Mery de Kampala, vou-lhe dizendo que o tempo anda atulhar-me de velhice...
Que para isso necessito espairecer bebendo sua estória aqui ou ali, aonde quer que esteja porque cada vez mais, menos vontade tenho de ir ao seu Uganda. Sei ver o quanto sou cansativo quando falo do ontem e no antes de anteontem, mesmo sem consultar qualquer terapeuta.
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Como é que ia dizer a ele, terapeuta, que nestes últimos dias tenho andado cheio de gases, gases de peidos com flatulência duvidosa e desclassificada. Assim fazendo da escrita remédio para substituir o aspirina 100, torno o sangue mais fluido fazendo dele, o peido, a ponte entre o êxito e os cruzados abismos, ou de outro jeito de entre o breve e o já partido.
De vez em quando falo com Mery: Eu (disse ela) andava na Universidade de Makerere, a melhor universidade de África; vim para aqui (Inglaterra) trabalhar porque foi através de um cartão que tomei contacto: «Família simpática precisa de mulher a dias qualificada» Qualificada? que quereria aquilo dizer?
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Eu era qualificada para ser professora ou mesmo escritora! Disse assim para mim na primeiríssima pessoa. O que não levei a sério foi essa de dizeres que Makerere é a melhor universidade de África! disse eu, acrescentado: - Claro que é o que todos dizem, sobretudo quem lá andou!
O sorriso de Mery disse quase tudo: - Olha! sempre concordo com quem diz isso mas, aquilo está a cair aos pedaços! Mas, uma empregada a valer tem de saber aonde ficam todas as porcarias para limpar, esses hábitos secretos de aonde deixam o ranho, o penso higiénico, a fruta que apodrece nos cestos deles, os da casa e destinados a papeis... Está bem! disse eu para terminar a conversa nada relevante.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
Urbano T´Chassamba (T) - O verdadeiro comandante das FALA
- T´Chingange (t) na Diáspora (Miai de Cima de Couripe- Brasil)
-Em ANGOLA o racismo oriundo da burrice (matumbice) é que nos remete ao estado de miséria que vivemos .Você não sabe que para ser Angolano Genuíno é primaz nascer em solo pátrio e não ser, negro, branco,mulato ou cor de rosa.Um negro que nasce na Inglaterra é Angolano? Deve ser Africano!!
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CARTA DE T´CHASSANHA Carta Aberta aos militantes da UNITA e aos Angolanos em Geral - Angola não pode esperar mais...
:::::T5 - Drs Jonas Savimbi e Carlos Morgado
:::::T8 - Adalberto da Costa Junior
:::::T9 - Jonas Savimbi
:::::T12
:::::T13 - Samakuva e José Cat´chiungo
Na minha frente tenho dois tocos de charutos meio fumados aonde se pode ler “connectu” - 28-10-2018
São pertença do “bife-gringo” que veio até áfrica caçar um búfalo…
Por
T´Chingange – Em Inhassoro de Moçambique
Porque cada homem é um mundo, tem que ao tempo, dar-se tempo… O homem, feito de sobrancelha grande e grave, também gordo, deve ser dono dos petróleos lá nas terras do Alasca porque do que se soube, foi aos mesmos lugares que nós fomos, só que, de avião! Pode notar-se, serem desses tais ricos pra xuxú pois que andam aos saltos folgando-se das odisseias das fronteiras e dos milhões de buracos das estradas.
Delta do Okavango em Maun, Casane do Choba, Victoria Falls e agora, aqui pescando nos mares de Inhassoro em rápidos gasolinas. Estando aqui refastelado, parece ser tudo seu e, afinal, é um turista como nós só que se supõe ter guita - têm um casal de jovens sul-africanos aqui radicados para lhe fazerem a papinha, traduzir dissabores com grossos trocados de notas verdes.
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Hoje é ainda quinta-feira e estamos no Yellowlin Lodge; sairemos amanhã para Vilanculo e aí, talvez possamos ir de barco até à ilha de Bazaruto ou uma outra que ao largo da costa aguarda a chegada de corsários turistas; daqui podem ver-se os morros carecas da ilha de Santa Catarina com manchas verdes em suas encostas e vales.
Ibib está preparando os três quilos de mexilhões que comprei a um conhecido de Sebastião, o fiel depositário e guarda-mor dos bungalows dum patrão sul-africano. Há certos lugares que traduzem certos pensares nos quais nem a decadência é sincera, lugares em que as folhas viram sujeira e até se traduzem num cardápio de bizarras esculturas pintadas no lado menos positivo – é só um estado de espírito…
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Também os mwangolés brancos de angola, t´chinderes perdidos numa ficção de sonhos de conhecimento na diáspora, se vão transferindo com devaneios ou arrogância, num raiar de petulante envaidecimento; a falar é que muitas vezes nos desentendemos e, nem sempre me sinto destribalizado no humor que sempre, quando negro, me arranha os neurónios, assim como um buzio que sempre tem cheiro de sapato se não for bem lavado com água sanitária.
Deitado de barriga virada ao tecto a osga gorda estuda-me com seus olhos oblíquos. Acena por várias vezes, parece cuspir qualquer coisa e depois refugia-se no escuro ficando a espreitar entre a esteira do tecto e o pau avermelhado da asna tecto de capim. Ainda não eram horas de dormir mas estava relaxando ainda do almoço feito de chocos e mexilhões apanhados entre Inhassoro e o matope da lagoa.
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Não sei nem porquê, aquela osga era-me familiar porque, num repentemente dei-me conta de que só ela sabia alguma coisa da minha origem. Sim! Quase percebi, chamar-me de Niassalês – sentia-me reduzido a um ponto de interrogação; acho mesmo que aquela gorda osga via pessoas que mais ninguém via ou conseguiria ver. Nesta questão de instantes o tempo murchou-me a vontade de entender se o pior era eu não suportar o balanço das potholes ou as quezílias de gémeos.
Dos longos silêncios remoídos na sustentação das mentiras ou verdades sobre africanos, sua terra e sua origem, gente sem nenhures; como entender tudo numa longínqua aridez de secura, um investimento de leveza desocupada, fazendo nada ou parecendo nada fazer. E assim ia ficando meio anestesiado, ficando osga com jeito de pessoa que mais ninguém conseguia vislumbrar…
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Foi então que vi um sujeito mulatão de nome comum de Zé Manel, meio a dar para indiano, um meio monhê a viver de expedientes na cidade do Chimoio; com colares de missangas penduradas ao pescoço e um cofió colorido – enfim, um mwadié fantasiado de africano a repetir-me: - Só quem anda por gosto, não descansa! Isto, foi quando me queixei com azedume dos muitos buracos.
Vissapa - o comandante, ainda lhe disse que era angolano de gema, que edecéteras e tal e, até lhe mostrou o bilhete de identidade. Era um branco, sim senhor mas genuinamente africano! Ele, filho dum acaso mal feito, torceu seu nariz achatado, deu uma baforada com rolos de índio no ar no bar K.2 do senhor Couto. Filosoficamente disse que aqui em áfrica tudo é de todos, menos dos brancos. E, assim, engolindo desaforos ficávamos num nada, feitos genéricos. Menos mal que eu só era mesmo – sou Niassalês…
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O filho da mãe, negociante de diligências, vendedor de picos de acácia, pelos vistos não podia conceber um índio sem uma zarabatana na mão! Virou-se para Vissapa e disse assim como cuspindo vinagre feito bolinha de visgo: - Tu, branco, quereres ser africano!? Isso é uma tua miragem, meu! Eram horas de bazar, nossas mulheres esperavam-nos no Bidjou Vermelho de Chimoio; ali mesmo ao lado da linha do caminho-de-ferro. Já em casa, de papo para o tecto pisco o olho àquela gorda osga…
O Soba T´Chingange
MU UKULU...Luanda do Antigamente – 10.09.2018
Entra-se num outro capitulo - o tempo dos Mafulos ou Holandeses enviados a propósito para conquistar terras de N´Gola…
De
Luís Martins Soares – No Brasil
T´Chingange – Em Johannsburg
O Governador Pedro César de Menezes no dia seguinte, 25 de Agosto de 1641, abandonou o arraial de bivaque no Morro de S. Miguel de Loanda, deixando a povoação de trincheiras no poder dos Mafulos Neerlandeses. A coroa portuguesa que neste então estava sob o domínio espanhol não pode manter os entrepostos comerciais e possessões que mantinha ao longo de toda a Costa Africana. Assim, estando em guerra com os Holandeses, estes atacaram todos os lugares aonde estavam os Tugas com principal incidência na costa de África.
Pedro César de Menezes retirou-se para o lugar de Bembem não muito longe do lugar a ser conhecido por Massangano bem à beira do rio Kwanza e na zona de Kambambe aonde os portugueses mantinham suas áreas de influência. Era um ponto de excelente posição estratégica por proporcionar para além da defesa a acostagem de naus, canoas e outras barcaças desde a barra até Muxima da Kissama.
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O Padre António Vieira interrogava-se de como poderia Portugal prevalecer contra Holanda e Castela? Nesse então os Holandeses tinham onze mil navios de gávea mais outros três mil navios e duzentos e cinquenta mil marinheiros adiantando: “…os dois nervos da guerra são gente e dinheiro; e que gente e que dinheiro temos nós hoje? A gente é tão pouca, que para qualquer rebate de Alentejo é necessário tirar os estudantes das universidades, os oficiais das tendas e os lavradores do arado.
Vejam o quanto é interessante vasculhar na história para entendermos as dificuldades dum país tão pequeno! E dizia o Padre Vieira: - Pois com que gente havemos de acudir às quatro partes do mundo, e em cada partes destas a tantas partes? Os Mafulos em Holanda têm quatorze mil barcos; nós em Portugal não temos treze. Na Índia têm cem naus de guerra de 24 até 50 peças; nós na Índia não temos uma só.
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No Brasil têm mais de sessenta navios na maior parte poderosos vasos de guerra e nós temos sete, se ainda os temos”. Os Holandeses estão livres do poder da Espanha; nós, temos todo o poder de Espanha contra nós. É curioso ler os relatórios e missivas do padre António Vieira por sua arguta visão mostrando ser um observador mais militar do que a maioria dos mestres de guerra de então e, refere “Os holandeses em Europa não tem nenhum inimigo; nós não temos nenhum amigo. Isto veio a acontecer muito mais tarde à mistura com traições em 1975 que, de forma desavinda tiveram de abandonar Angola como escorraçados.
Eles, os Mafulos, têm mais de duzentos mil marinheiros; nós em Portugal não temos quatro mil”. Reconhecia que “um sucesso quase milagroso” a saber da vitória de Guararapes em 1648 no Brasil, tinha mudado a opinião de muitos até então favoráveis à entrega, mas ninguém deveria contar com milagres, “pois os milagres são sempre mais seguro merecê-los que esperá-los.
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Os milagres! Fiar-se neles, ainda depois de os merecer, é tentar a Deus”. Reconhecia que a companhia estava economicamente exausta mas, a melhor solução era a da entrega de Pernambuco, pois os Holandeses não admitiam a proposta de compra. Os documentos mostram porém que a memória erudita do Padre Vieira traiu o Jesuíta. Sempre o M´puto teve em simultâneo grandes homens de grandes feitos e grandes traidores. Traidores que só a estória sem agá fala.
Felizmente que a propaganda de tristes alvitre não teve eco em Fernandes Vieira e essa saga de Luso-brasileiros, os verdadeiros próceres do Brasil. De notar que refiro Fernandes vieira como o herói de Guararapes que tendo nascido na Madeira aqui elevou nossa condição de gente ilustre. Só relembro isto porque foi do Brasil que mais tarde saiu uma campanha capitaneada por Salvador Correi de Sá e Benevides para retirar os Mafulos de Loanda. Angola e Brasil sempre estiveram ligados e, daqui poderão extrair nota do muito desconhecimento que temos da nossa posição Lusa no Mundo.
O Padre António Vieira em 29 de Julho de 1648, transmitia por carta ao Marquês de Niza as notícias do sucesso da primeira batalha de Guararapes do seguinte modo: “… de maneira Senhor, que temos Pernambuco vitorioso, o Rio-de-Janeiro socorrido, a Bahia com armada e Angola com a esquadra de Salvador Correia (….), todo o debate agora é sobre Angola e, é matéria em que os Mafulos, não hão-de ceder, porque sem negros, não há Pernambuco e sem Angola não há negros e, como nós temos o comércio do sertão, ainda que eles tenham a cidade de Loanda, temem que nós tomemos outros portos”.
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O poder da Holanda unido ao da Companhia das índias (Ocidentais e Orientais) era o maior da Europa, pois a história mostrava que a Espanha sem guerras externas, abundante de dinheiro e armas e agora, em paz com toda a Europa, ainda tinha Portugal sobre sua sujeição. Por este acontecido que durou sessenta anos com os reinados dos Filipes I, II e III, Portugal, perdera a soberania que tinha sobre o Ultramar.
Em pouco tempo os Mafulos ficaram com as possessões daquele Portugal debilitado perdendo muitas praças nas Índias Orientais, na costa africana, na Bahia, e por último Pernambuco. Os danos para Portugal pela perda de soberania a favor de Espanha e por via daquela companhia das Índias, foram-no na índia, Ceilão, Angola, S. Tomé, Maranhão, Bahia e Pernambuco. De notar que João Pessoa tinha o nome derivado do nome Filipe – chamava-se Filipeia. Nem os brasileiros, mais se lembram disto.
Fugi um pouco do tema de Mu Ukulu da Luua de Luís Martins Soares mas, em seu tempo voltarei às malambas do século (mais-velho)…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
KIZOMBA DA LUUA – 09.07.2017 -Mujimbos com borututu, coisa antiga…
Por
T´Chingange
O tempo não conta - a verdade é sempre actual – Julho de 2017
O kota Liuanhica, de bravura esquecida sozinhava-se na praia da ilha. Luanda estava no outro lado pendurada na água com prédios e barrocas sujas. Aquela reflexão também o escorria em descontentamento. Debruçado sobre si mesmo na areia, após uma noite trespassada de kizomba, recordava a grande noite cultural com passagem de modelos no Miramar; para ele, homem de antes quebrar que torcer, de peito desfeito, o que viu tornava-se num grande desaforo.
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Aquele, era um dia de domingo. Sua vida estava feita num esquecimento desde que sua filha N´Riquitita desanovinha virou modelo naquele concurso da Maianga. Os amigos à boca pequena iam falando entre risos sarcásticos das altas qualidades de sua filha m´boa pra chuchu que aparecia com frequência nas colunas sociais e ao lado de cantores famosos, estrangeiros e outros dali mesmo, cheios de kuduro nos poros com catinga de corrumba, mas badalados nos meios de comunicação.
No sábado de ontem ele viu mesmo; estava lá na certificação descodificando a verdadeira verdade dos mujimbos da cacimba do Rio Seco e Catambor. N´Riquitita apareceu espevitadamente enroscada a Nelson Ned e, talvez pelo tamanho deste, os kaluandas do bairro gozavam a cena. Compreendeu ali o porquê dos kotas rindo com todos os dentes da boca; isto para Liuanhica era um demasiado e desclassificado contratempo de vergonha; sua filha assim nas más-línguas despidas até os tornozelos.
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Os kasucuteiros, kuribotas do Catambor, roíam-lhe todos os dias a paciência com muxoxos mujimbados de diz-que-diz daquela garina, que tal e coisa, mais enfim, que tu sabes ou adivinhas. Com saudades do antigamente o impensável passou a possível e a nostalgia do tempo colonial transbordou na sociedade da Luua. Perdido naquela oblíqua contraluz duma imensidão de pensamentos, recordou os exemplos de vida que seu pai Sambo lá no planalto do Huambo lhe transmitiu. Traçou uma bissetriz no pensamento n´dele e, assim mesmo tomar decisão sem catetos nem hipotenusa da sua própria desconfiança.
Tinha de voltar à sua terra, agora que a revolução se estava a tornar num estorvo, com o fim da guerra o melhor mesmo era voltar ao seu Quipeio, lá aonde ainda resistiam uns manos estudantes daqueles idos tempos. N'Riquitita tem já vergonha do seu Kota pai, evita-o a todo o custo, atarefada entre banquetes milionários e concursos de misses em tudo o que é lado, exibindo roupas e jóias nas kizombas de alambazados.
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Passaram uns meses... Kota Liuanhica voltou ao planalto, juntou-se ao seu primo Siripipi juntando ervas, raízes e folhas seguindo as pisadas do seu pai Sambo, grande conhecedor na cura de maleitas e malazengas através de plantas; envia estas em cartuxos para Luanda que, por sua vez, são reencaminhadas para o M´Puto. Tornou-se assim um especialista de sucesso no trato do borututu e, à noite, no ximbeco de Zacarias vai dando informações às pessoas de tal produto. Num poucoapouo de malembelembe N´Riquinha passou ao esquecimento...
Naquele vila do Quipeio ele, era o maior conhecedor das plantas do mato – Chi patrão!!! Brututo é bom mesmo! Dizia Zacarias detrás dum velho balcão colonial propriedade do meu pai de faz-de-conta. Isso! De vender carapau frito e farinha de milho mais fuba só vendido em medidas de quartilho; espólios trazidas de Trancoso da Beira fria do M´Puto cheios de chouriço defumado com lenha de pinho e giesta brava. Enquanto isso, eu e meu pai de faz-de-conta, conhecido por Caluviaviri, comíamos uma kizaca acompanhada com quiçângua trazida da Catata.
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Meu pai de faz-de-conta era um estudioso nestas coisas de plantas e bichos, por isso aproveitou dar largas ao seu conhecimento do borututu - Desde há muitos anos que o borututu é usado como chá ou em simples lavagens; colonos e indígenas tinham sempre uma vasilha com raiz de borututu num sítio fresco, ou frigorifico, para beber a qualquer hora. Uma forma de tratar deficiências biliares por ter nele substâncias com propriedades purificadoras e antioxidantes.
Esta planta é um dos mais poderosos desintoxicantes naturais para o fígado. Protege o sistema digestivo e o aparelho urinário - Como prevenção ao paludismo usavam um filtro de pedra chamado de selha que ia escorrendo gota a gota a água para um vaso ou garrafão, com um pau de borututu dentro. A água ficava com uma tonalidade de âmbar.
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Pois então - Curava as doenças hepáticas, entre as quais a hepatite, icterícia, biliosa, doenças de estômago em geral, vesícula, baço e todo o aparelho urinário - Se quiserem desintoxicar-se de tanta coisa ruim que hoje se come, reduzirem o colesterol e riscos de trombose tomem isso, acrescentou Liuanhica. O meu tio-avô Guerra do M´Puto que curava a ciática cortando um nervo atrás da orelha não sabia nada disto.
Lá aonde ele estiver, no sítio que Deus tem, vai ficar contente desta nova do seu sobrinho neto T´Chingange que no correr da vida se tornou quase um Kimbanda de Rooibos. Agora até tomo o borututu como um ritual de pura satisfação espiritual! Às vezes junto-lhe um pouco de mel derivado do pólen de tília para agradar o sabor; desta forma talvez chegue aos 333 anos.
Imagens de Costa Araújo Araújo
Glossário
Kizomba – dança, festa com baile ou eventos teatrais; Mujimbos – boatos, falatório; Cacimba – cisterna, depósito de água; Kazucuteiros – trambiqueiros, aldrabões ou que vivem de expedientes menos claros; Caluanda - nativo de Luanda (N´gola); kuribotas – fanático, tendencioso, curioso, espia; Kizaca – saca folha, folha de mandioca pisada cozinhada tipo esparregado; Borututu – raiz curativa; Ximbeco – negócio, boteco, loja ou venda; T'chizangua / quiçângua – bebida feita de milho fermentado, normalmente de sabor adocicado; Quipeio – povoação do Huambo (Angola) Catambor – bairro suburbano de Luanda, confinante com a Maianga; Miramar - cinema esplanada; M´Puto – Portugal; Caluviaviri - um bicho do tipo do guaximim que mija mau cheiro; alcunha do meu pai de faz-de-conta porque tinha medo de se afogar e cheirava mal pra caramba...
O Soba T´Chingange
TEMPO COM FRINCHAS – A amargura facilmente infecta e destrói as nossas vidas no dia-a-dia… Quantos milagres iremos ter e de quantos santos necessitaremos?
Malamba é a palavra
Por: Ricardo Pedro
NO DIA DE TODOS OS SANTOS
Ao longo de nossas vidas, vamos todos experimentar uma luta de um tipo ou outro. Não estamos sozinhos, quando nos deparamos com desgosto, morte ou doença. Mas quando o pior dos tempos vem, quando somos forçados a enfrentar essas provações, nosso objectivo não deve ser para deitar os sorrisos fora, ignorar a dor e o sofrimento, ou a enfiá-los para baixo num profundo, escuro lugar. Então, o que deve ser nosso objectivo?
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Cheio de pânico no meio da tempestade com os amigos inquietos num barco, com a mente em branco, esquecer-nos-emos de quem está ao nosso lado a assumir o pior. O pânico não pode ser o nosso próximo passo! Porque em verdade, tudo que é pânico, nos impedirá de tomar quaisquer próximos passos. Também é fácil deixar este trabalho de nosso desejo em guisado boiando à superfície, resultando em raiva e depressão duma falsa felicidade.
Iremos encontrar alguém para culpar, se Deus ou médicos ou outros, ressentindo-me ao longo de todo o dia. E, a amargura facilmente infecta e destrói as nossas vidas no dia-a-dia. Nossas situações dramáticas ignoram o maior plano da natureza ao usarmos a amargura como um peso que nos impede de avançar sem frustração. Também pode ser seu Deus! Daqui não virá mal ao mundo.
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O que fazer, então? Que acções ou medidas podemos tomar quando tudo parece perdido? Em nenhum lugar a bíblia faz Deus promete-nos uma viagem segura em nosso percurso de vida. Não poderemos afirmar que há um botão mágico para levar todas as nossas dores a nos libertar da nossa luta. Também não é contar-se histórias sobre indivíduos que pulam pela vida completamente ilesos. Esse não é o modo como funcionam os milagres.
Se você é alguém que, quando se deparam com algo ruim ou experimentando um conflito, imediatamente entra em modo de resolução de problemas e procura a solução, o meu conselho para você é para abrandar. Muitas vezes é bom nos momentos de dificuldade para começar a resolver problemas de imediato, mas às vezes, quando a notícia não é risco de vida, não devemos responder de imediato com um plano de acção.
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Quando as emoções estão bombeando através de nossos sistemas em cem milhas por hora, não é a melhor hora para tomar grandes decisões na vida. É importante manter a calma nestes momentos. Eu sei que parece tolice, mas quando você experiência trauma, é as coisas práticas que tendem a esquecer primeiro. Dormir em um total de oito horas e depois, quando já se acalmou e ganhou uma perspectiva saudável, você pode fazer algumas escolhas racionais.
Fragmentos com permissão de razoável esperança por chad veach, direitos autorais chad Charles Veach. Publicado por Thomas Nelson
As opções do Soba TChingange
TEMPO COM FRINCHAS . NA ÁFRICA DO SUL - O amanhã, não pertence a ninguém!... - 2ª de II Partes
MALAMBA: É a palavra.
Por
: T´Chingange
Governo que tem na sua gestão de cúpula pessoas que, pela política ali foram postas, incompetentes e corruptos que sempre querem tirar sua comissão em obras estatais. Crê-se que a continuar assim a África do Sul bloqueará dentro de pouco tempo! Politico que qundo se juntam nos kimbos batem o pé em marcha Zulu, grandes rebitas, levantam o punho ou a marreta desejando morte ao branco, esse eterno "sacana explorador"! Todos seguem seu mwata, uma mumia que governa Àfrigca de nome Robert Mwgabe, que só sabe incutir o ódio contra os farmeiros retirando-lhes as terras e, entregando-as a gente que nem sabe lidar com uma charrua. Os governantes do partido do topo ANC, ganham fortunas medonhas, de assustar consciências e a corrupção é de tal forma que ninguém quer acreditar nas cifras monstruosas. Por outro lado dificultam ao máximo a entrada de gente capacitada do exterior para sustentar a sua teoria da “política afirmativa” dar o mando ao Sul-africano negro mesmo que este, esteja incapacitado para o cargo.
Entretanto a comunidade Tuga, cada qual faz sua vida de forma independente, recolhidos em suas fortalezas de altos muros, guarda privada de fazendas ou plotes, escondendo-se dos verdadeiros problemas, cada qual em sua concha, muito fechados, e mostrando sua virilidade através das Associações do Bacalhau, em tudo muito diferentes dos Bóhers que estão sempre em contacto ou em alerta das previsíveis eventualidades nefastas. O Tuga esmera-se na vaidade, com Comendadores ao desbarato que se pavoneiam em seus círculos no jeito de beneméritos. Exibem-se nas colunas sociais do jornal O Século de Joanesburgo nesta ou naquela efeméride que é motivo para enaltecer suas comendas e brilhos de medíocre valor. Uma coceira de coisa miúda, vulgar panaceia de dar vertigens ao ego dos demais; Coisa pimba mas, muito engravatada com descabidos polimentos.
Nota-se pouca coesão entre eles Tugas, porque a vaidade tapa-lhes a visão do colectivo. Viva o Sporting, o Benfica ou Maritimo da Madeira. Se houver uma mudança, ai Jesus que o M´Puto não nos acode! Sempre, sempre a mesma arrogância, vaidade e mesquinhez e trabalhando desmedidamente para aforrar e mostrar aos seus mais próximo sua ascensão, a compra do último grito de carro, dum tal de mercedes com tecnologia de ponta, tracção às cinco rodas e um GPS muito cheio de funções e o Deus dinheiro, sempre na primeira linha.
Não tomam em consideração o que se passou em Angola e Moçambique. Isso de problemas é com os outros, um mal que infelizmente perdura. Filme a que já assisti amargamente! Sem directivas do governo de Lisboa andam ao Deus dará pagando preços descaradamente caros por prestação de serviços nos Consulados a ponto de, em muitos dos casos se resolverem com o país vizinho de Espanha porque são cidadãos Europeus. Estranho que ninguém fale nisto; talvez por covardia ou, naquilo já dito de se acomodarem até ver aonde as coisas vão parar.
O Soba T´Chingange
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