NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - Depois da “SEXTA-FEIRA SANGRENTA”
Crónica 3627 – 19.09.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Por via da 6ª Feira sangrenta de 22, 23 e 24 de Janeiro de 1993, Mobutu é acusado de ter enviado tropas para auxiliar o braço armado da UNITA. No entanto, quando as ex- FALA's ocupavam militarmente uma das cidades, a Rádio Nacional de Angola, noticiava o que aqui se cita: "tropas zairenses e da UNITA, ocuparam tal cidade", etc.
Alguns jornalistas do Jornal de Angola imprudentes, assinam artigos em que criticavam os supostos zairenses (na realidade, angolanos bakongos), com caricaturas, denegrindo-os de serem responsáveis da miséria do povo angolano. Em meados de Janeiro de 1993, todos os órgãos de comunicação Social de Angola, citam fontes militares que foram capturados no campo de batalha, tropas zairenses.
Essas afirmações da imprensa esquerdoida, no seu modo de ver, constituía prova suficiente da implicação de Mobutu no sucesso de tropas da UNITA no terreno, prometendo apresentá-las numa conferência de imprensa. Na preparação desta, um jornalista que quis saber quais as provas que tinham, a resposta foi simples: falavam lingala!
O jornalista insiste em saber se, nas forças armadas angolanas e da UNITA, não havia militares que falassem lingala, sendo logicamente considerados angolanos. A reunião com imprensa foi anulada "in-extremis", por ordens superiores. Soube-se mais tarde, que os supostos soldados zairenses, na realidade eram angolanos bakongos que falavam lingala, ligados ao partido no poder e recrutados para este efeito.
A campanha de difamação contra Mobutu e os zairenses era tão forte que obrigou o então general da UNITA, Demosthenes Chilingutila a desmentir na rádio portuguesa TSF, qualquer implicação das tropas do Zaire ao lado das suas tropas afirmando ainda que o próprio presidente do Zaire tinha problemas graves no interior de seu pais e, precisando ele sim, da ajuda da UNITA.
Nesse dia, 22 de Janeiro de 1993, um editorial da Rádio Nacional de Angola revela que os Zairenses infiltrados no seio da população angolana, preparavam um plano para assassinar o presidente da República, José Eduardo dos Santos.
E, foi esta a razão que no mesmo dia incutiram e accionaram seu conhecido Poder Popular junto de seus seguidores entre a população de Luanda munidas de armas de fogos pelo MPLA a assaltarem, violarem e matarem à revelia e com toda a impunidade, os bakongos da capital do país – Luanda.
Dias depois, os bakongos, impotentes e frustrados, reúnem-se algures em Luanda, redigem o famoso Manifesto da Sexta-Feira Sangrenta, um memorandum dirigido ao governo de Angola, ao parlamento e às embaixadas acreditadas em Angola. Neste documento, os activistas “bakongo” relatam com pormenor o que se passou nestes dias. O então deputado do partido PDP-ANA, Nfulumpinga Landu Víctor, toma conhecimento do manifesto e interpela a Assembleia para condenar os massacres e levar à justiça os autores.
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto …
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - Angola .“SEXTA-FEIRA SANGRENTA”
Crónica 3625 – 14.09.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
As organizações civís bakongo apontaram mais de 40 mil vítimas através do território nacional, por uma alegada acusação da dita rádio nacional e jornal de Angola, órgãos afectos ao partido da situação e inimigo do povo, que militares zairenses estariam a preparar um golpe de estado contra o presidente; apontavam o povo do norte (Congo), de zairenses, que pretendiam assassinar José Eduardo dos Santos.
Hoje passados 31 anos, o processo continua nas gavetas carunchosas do Miala ou no lixo, de forma tão humiliante, sem humildade, sem moral nem a mínima consideração de um ser humano. E nem os ditos jornalistas foram responsabilizados pela sua chacina criminosa.
De forma tão clara, estes ataques foram metodicamente e sistematicamente orquestrados de forma sínica, odiosa e, por motivos étnicos, por que o povo bakongo sempre foi visto como o primeiro inimigo dos estrangeiros trincheirados no MPLA, pela sua bravura defesa da independência e pelo facto de serem eles, os libertadores de Angola.
Não existe história em Angola, sem os Bakongo. O MPLA, nunca cessou de reduzir este povo afirmando que estes, representam nem 10% da população angolana e, isto não verdade. O Reino do Kongo estendia-se até à Republica Democrática do Congo-Brazzaville e Gabão; nenhum povo de Angola pode comparar-se com esse grande Reino.
Tudo começou, após Jonas Savimbi ter negado os resultados fraudulentos das primeiras e históricas eleições legislativas de Setembro de 1992, que deveriam marcar o fim das hostidades e a reconciliação entre os povos que formam este mosaico. Infelizmente o desejo do MPLA era de continuar subtraindo os autênticos filhos de Angola, humilhando-os a submeter-lhos a uma pobreza extrema, fora e qualquer controlo de poder.
Não só mas, após a fuga de Jonas Savimbi, nos fins de Novembro de 1992 para o Huambo, as FAPLA, a polícia ninja e milícias, fanáticos dos pioneiros e do Poder Popular, tomaram de assalto, as zonas habitadas pelos militantes e cargos da UNITA e, aonde também tombaram heroicamente quadros do auto nível da UNITA que se encontravam em Luanda: os já mencionados Jeremias Chitunda, Alicerces Mango e Elias Salupeto Pena sobrinho de Savimbi…
C,A. - Jonas Savimbi após estes desaires, reorganiza as suas bases militares que ainda se encontravam no norte e, ocupa novamente as cidades do Uige, Soyo, Mbanza Kongo, Caxito, Ndalatando após uma batalha que dura 55 dias. Ocupa a segunda cidade de Angola, Huambo e, aonde o MPLA bombardeia impiedosamente com aviões migs e variado material bélico de longa alcance.
A SEXTA-FEIRA SANGRENTA, para os Bakongo, permanece uma data histórica, dolorosa e de tristeza. Continuamos por isso, a chorar os nossos vitimas passados que são 31 anos. Nós, o povo Bakongo de Angola, continuamos a exigir a justiça, sobre a morte dos nossos irmãos, cujas mulheres foram violadas à vista nua de todo o povo angolano.
Estes ataques foram referidos como sendo ocasionados por motivos étnicos mas, em realidade, tratou-se de conflito pré-eleitoral. Os bakongos foram acusados pela imprensa oficial e afecta ao MPLA, de ter apoiado o partido do Galo Negro. Nasce daí, a campanha mediática contra o Zaire de Mobutu…
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto …
C:A: - Costa Araújo
(Continua…)
O Soba T'Chingange
A ORDEM MUNDIAL - Henry Kissinger*
FRIVOLIDADES CONTEMPORÂNEAS
- Escritos boligrafados na desordem actual - Crónica 3602 - 25.07.2024
Depois de uma larga ausência (desde 17.03.2020), volto de novo ao range rede, da minha preguiça! Já kota, balouço-me na estória da história sem esse tal de Pitu, mas com ciriguela na goela…
Por: T´Chingange (Otchingandji) - O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
C.A. A política é a arte do possível ou a ciência do relativo. Creio que foi Bismark que afirmou algo assim, à sensivelmente 135 anos atrás, por alturas da partilha do Mundo, tempo desenhado num tal “Mapa cor-de-rosa” em África. É pois a única base sólida para ser executada por uma grande potência com um nítido sofisma de egoísmo. Curioso ver isto ser trilhado por figuras de destaque em países diferentemente iguais – uma grande contradição hodierna sublimada num romantismo bacoco e frouxo.
Gratidão e confiança não trarão um só homem para o nosso lado; só o temor o fará, se usado cuidadosa e habilmente. Acho que é assim que Putim pensa e assim procede, situando-se num poleiro demoníaco de sobreviver como sendo o mais forte, o mais terrível. Com Putim sempre ameaçador, blefando como um bom jogador de poker, as amarras da legitimidade, simplesmente, desaparecem.
Em 2014 toma de assalto a Crimeia Ucraniana anexando-a castigando assim a tal “frivolidade” dos políticos de alto coturno da NATO e não só; estrategicamente sub-reptício o quanto baste. E, todo o mundo ficou parado, paradinho, curiosamente, estupfeito no fingimento. E, o certo é o de que, mais tarde ou mais cedo, a história castigará essa frivolidade.
Lembrar aqui a guerra da Crimeia que se desenrolou entre 1853 e 1856 e, aonde o Reino Unido, a França o Reino da Sardenha (Itália), o Império Austríaco e Turquia, tiveram baixas de 224 mil mortos, tendo do lado Russo cerca de 350 mil. Esta guerra que sucedeu tendo Nicolau i e Alexandre II, no comando soviético, foi somente há 164 anos! O mundo Ocidental tendo a Europa no pelotão fontal, não pode, simplesmente entrar de férias, quando uma grande ameaça se consolida num desvairado conceito de legitimidade.
Feitas as contas o planeamento militar dos povos Ocidentais tendo a NATO como gestora, não pode simplesmente ficar nessa tal de frivolidade repartindo-se no conceito de que: “seja o que Deus quiser”. A primeira Guerra Mundial, de há cem anos, além de arruinar a Ordem internacional, originou a morte de 25 milhões de pessoas, um número inconcebível de vidas trucidadas em trincheiras.
Entretanto a já União Soviética manobrava um novo conceito revolucionário submergindo todos os que procuravam ajustar-se em novos conceitos jurídicos e, refugiando-se em soluções de conflito criando a Liga das Nações. E, sempre com muita conversa entre os povos Ocidentais, os Soviéticos, indiferentes às tecnicidades, filosofias e humanidades, iam impondo e espalhando suas romanizadas revoluções numa de que “O povo é que mais ordena”.
Assim, com egos de supremacia, a URSS, ia borrifando as mentes entre a ausência e quase complacência ou até compadrio das suas novas posturas, uma ausência confrangedora do Ocidente, sem significativas e atempadas respostas às transgressões. Assim mesmo, subvertendo ou seduzindo acordos de cacaracá; sem ideias de repressão, reduzindo conceitos e exaurindo a economia do resto do mundo.
Para suprir a tragédia, a Europa e, após a Segunda Guerra Mundial, a fim de superarem a condição de progresso, formulam a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço no ano de 1952. O líder alemão Adenauer, em 1955, assina adesão de seu país à Aliança Atlântica; isto faz recuperar a confiança das recentes vítimas da Alemanha do então Adolf Hitler. O Mundo lentamente despontava da chamada Guerra Fria num equilíbrio de conduta e armamento entre os primos da USA, além atlântico e a União Soviética nas franjas geografias da então chamada “Cortina de Ferro”.
Nota*: Com alguns extractos do livro “A Ordem Mundial” de Henry Kissinger
(Continua, com intercaladas Viagens …)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - OPERAÇÃO PROTEA - 1ª E 2ª BATALHA DE MAVINGA
- Crónica 3596 – 16.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Depois da descrição sucinta dos Congressos Ordinários e Extraordinários da UNITA, voltamos a rever aleatoriamente no tempo, outros eventos de destaque: No ano de 1980 a UNITA fixa-se na JAMBA do Cuando-Cubango. Em Novembro, os antagonistas, UNITA, MPLA, Cubanos e África do Sul envolvem-se na 1ª batalha de Mavinga que resultou em mais de 800 mortes.
O apoio sul-africano à UNITA viria a tornar-se mais efectivo com a invasão da província do Cunene a 23 de Agosto de 1981 na «Operação Protea», e a subsequente ocupação de uma faixa tampão na fronteira sul de Angola numa profundidade de 200 quilómetros, com o duplo objectivo de neutralizar as operações de guerrilha da Organização do Povo do Sudoeste Africano (South West Africa People’s Organization, SWAPO).
O território da Namíbia, então ocupado por protectorado pelo África do Sul, teria de, por outro lado, estabelecer um ponto de partida para novas operações no interior de Angola. O propósito imediato era a consolidação do domínio da UNITA nas províncias do Cunene e do Cuando-Cubango, na perspectiva da criação de um “bantustão” no sudeste angolano..
É nesta altura que o presidente José Eduardo dos Santos pede ao Secretário-Geral da ONU, Pérez de Cuéllar, a convocação do Conselho de Segurança da Nações Unidas – ONU, para discutir a agressão Sul-Africana. Mas a resolução da condenação foi vetada pelos Estados Unidos, de acordo com a estratégia delineada por Washington e pela África do Sul para aniquilar as FAPLA e o MPLA (o comunismo…).
A situação em todo o sul de Angola agrava-se com o aumento das hostilidades. A UNITA reforça-se militarmente em armamento e conselheiros militares e, com o apoio das administrações Reagan (EUA), Thatcher (Grâ-Bretanha) e a ajuda do seu aliado Sul-Africano que desencadeia operações militares contra as bases da SWAPO, do Congresso Nacional Africano (African National Congress, ANC).
Também contra posições das FAPLA, para além de acções de sabotagem às linhas dos Caminhos de Ferro da Benguela (CFB), com destruição de infra-estruturas políticas e económicas e minagem de linhas de abastecimento, entre as populações, aldeias, vilas e cidades do Sul de Angola.
O ano da “Operação Protea” leva ao controlo militar da UNITA com a ajuda Sul-Africana, na Província do Cunene. Estavam ali sediados 8.000 guerrilheiros da UNITA. Porem, até à chegada das forças angolanos, Mavinga recebe um reforço de 4.000 tropas da SADF (South African Defence Force), vindo a confrontar uma força de 18.000 soldados angolanos.
Na visão das FAPLA, Mavinga seria o primeiro passo no caminho para a Jamba - Cueio e, assim, penetrar na Área de Kaprivi. Ao tentar travar o seu avanço, os governamentais são surpreendidos por nova frente dando-se a 2ª Batalha de Mavinga, que provoca mais de 1.200 mortos. A UNITA sai vitoriosa e ocupa a cidade. O ataque a Mavinga foi uma derrota total para as forças angolanas, com baixas estimadas em 4.000 mortos. A manobra de contra-ataque das SADF, nomeada “Operação Modular” foi um êxito, forçando as tropas das FAPLA e das FAR a retroceder 200 quilómetros de volta a Cuito-Cuanavale numa perseguição constante através da Operação Hooper.
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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e RTP - Notícias
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - DO VII ao XII CONGRESSOS DA UNITA
- Crónica 3594 – 11.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
9. VII CONGRESSO
“O Congresso da Mudança” ocorreu em Março de 1991 na base Presidente Kwame Nkrumah, no extremo oriental da Província do Cuando Cubango. O VII Congresso preparou o Partido para a batalha política que se vislumbrava com o desfecho das negociações que decorriam em Portugal. Por delegação Fernando Rocha de Olhão representou-me na qualidade de Coordenador da Zona Sul do M´Puto na Diáspora, (eu próprio – T´Chingange)…
Os delegados escolheram unanimemente o Dr. Savimbi como Candidato da UNITA às eleições presidenciais que viriam acontecer em Setembro de 1992
10.VIII CONGRESSO
Teve lugar no Bailundo, Província do Huambo de 7 à 11 de Fevereiro de 1996. A busca de unidade entre os membros do Partido com vista a implementação do Protocolo de Lusaka foi o maior objectivo.
O aquartelamento, desarmamento e desmobilização das forças e a entrega do território administrado pela UNITA à administração central do Estado, foram as decisões tomadas durante o evento, contemplando ainda a incorporação dos generais nas FAA.
Ocorreu entre os dias 20 à 27 de Agosto de 1996, no município do Bailundo – Província do Huambo. Versou fundamentalmente sobre a recusa da oferta da segunda vice-presidência ao Dr. Jonas Malheiro Savimbi que reafirmou o engajamento da UNITA na implementação do Protocolo de Lusaka.
Este Congresso Ordinário, teve lugar em Viana, Luanda, de 24 a 27 de Junho de 2003 e, depois do memorando do Luena e, que teve dois momentos marcante:
Este Congresso Ordinário, teve lugar em Viana, Luanda de 16 à 19 de Julho de 2007 tendo dois candidatos: Isaías Samakuva e Abel Chivukuvuku. Desta feita Isaías Samakuva é reeleito à Presidência da UNITA. Este Congresso debateu vários aspectos com maior realce na realização das segundas eleições em Angola, 16 anos depois das eleições de 1992, sendo estas, as primeiras eleições gerais.
Este Congresso Ordinário teve lugar em Viana, Luanda de 13 à 16 de Dezembro de 2011 com dois Candidatos; Isaías Samakuva e José Pedro Kachiungo, tendo sido reeleito Isaías Samakuva para o seu terceiro mandato.
Este Congresso Ordinário, teve lugar em Viana, Luanda de 3 à 5 de Dezembro de 2015com três candidatos: Isaías Samakuva, Lukamba e Abílio Kamalata Numa, tendo sido reeleito Isaías Samakuva para o seu quarto mandato.
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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - I e II CONGRESSOS DA UNITA
- Crónica 3591 – 04.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Regressando ao carrocel do tempo e estando eu em vias de seguir então para a Venezuela, tomo conhecimento do IV congresso da UNITA realizado de 23 a 28 de Março de 1977 em Benda. Posto isto, irei recordar todos os Congressos da UNITA para daqui se tirarem conclusões no percurso de Movimento a Partido e, a partir de Muangai, seu primeiro bastião…
1 – I CONGRESSO (Constitutivo)
Muangai que se tornou celebre, é o nome de um serpenteado subafluente do rio Lunguebungu. Os portugueses baptizaram-no com este nome, o antigo posto colonial situado na floresta densa do Moxico e, que viria ser abandonada nas primeiras acções de guerrilha.
Nessa histórica localidade teve lugar, no dia 13 de Março de 1966, o Congresso Constitutivo que marcou o nascimento da UNITA – União Nacional Para a Independência, na presença de dirigentes acabados de chegar da China Popular, autoridades tradicionais e populares da região.
Com a presidência do Dr. Jonas Malheiro Savimbi, assistiu-se à entrada em cena política angolana, desta nova força; força esta que veio dar novo impulso à luta de libertação nacional com a participação directa de seus dirigentes no interior do país.
2 - II CONGRESSO
Teve lugar entre 24 e 30 de Agosto de 1969 o seu II Congresso Ordinário, sob a presidência do Dr. Jonas Savimbi, Aconteceu em Sachimbanda, Província do Moxico, com a presença de 80 delegados (55 civis e 25 militares). Neste evento, tomaram parte dirigentes do Partido a vários níveis e representantes do povo da região.
Foi definida a linha política interna e externa da UNITA e, estabelecida a orgânica do Partido e das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola). Foi constituído um Comité Central de 30 elementos dos quais, os primeiros 12 faziam parte do Bureau Político. O Dr. Jonas Savimbi foi confirmado como Presidente do Partido.
N’Zau Puna foi o escolhido para Secretário Geral, Samuel Chiwale como Comandante Geral e Samuel Piedoso Chingunji "Kafundanga" como Chefe do Estado Maior. Neste II Congresso, a UNITA reafirmou a sua linha política de não alinhamento aos grandes blocos.
Assim, por um lado, condenou a «continuação da agressão americana contra o Povo Heróico do Vietname», por outro lado, insurgiu-se contra a «descarada invasão da Checoslováquia pela União Soviética». Miguel N'Zau Puna - afirmaria que foi nesse II Congresso em que se confirmou a bandeira da UNITA.
Foi um tempo difícil em que a UNITA aceitou continuar a lutar pela libertação nacional e, numa altura em que estava desprovida de meios para fazer a luta. É de louvar o espírito de entrega dos militantes da UNITA nessa fase muito difícil da luta armada. Este II Congresso, teve a participação do jornalista Steve Valentine que trabalhava para o Times of Zambia.
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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e de anotações de Isaías Dembo.
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - A HISTÓRIA DA JAMBA
- Crónica 3587 – 18.06.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
No sistema escolar da Jamba, o domínio de Francês e Inglês era obrigatório, por isso TODOS os ex-alunos pelo menos, falam e escrevem uma língua nacional, escrevem e falam bem português e falam pelo menos uma língua estrangeira; Um aspecto importante: Era obrigatório nos liceus a escolha pelo aluno duma língua nacional e a obrigação de apreender sem titubear matemática e português.
Havia um ensino mais ovacionado para relações internacionais e, para isso, tinham em seu curriculum outras incidências técnicas dirigidas para o esforço militar sobretudo. Para o efeito, alguns eleitos, por via de suas capacidades, iam para Bona (Alemanha), África do Sul, Marrocos, Portugal, França, Inglaterra, EUA e lá onde existia cooperação firmada.
No tocante à saúde, todos os lugares e comunas, tinham postos médicos tendo no topo o hospital central da Jamba dirigido por médicos Angolanos; estes hospitais funcionavam tanto para civis, crianças como militares e dependentes dum Ministro da Saúde que coordenava a estrutura de saúde em todo país, gratuitamente. Dos médicos destacam-se Anastácio Sikatu (foi Ministro em Luanda e actualmente deputado), Manassas (foi Ministro em Luanda), Albertina Hamukuaya (foi Ministra em Luanda);
Serafina Gama Paulo (irmã do cantor Mário Gama), Raimundo (foi deputado), etc.; . - Destaca-se ainda o grande cirurgião de nome Tenente que formou grandes cirurgiões e, que são hoje, dos melhores nas FAA e, em vários hospitais públicos e privados. Também Carlos Morgado, antigo médico pessoal de Jonas Savimbi, que morreu em Outubro de 2013, em Lisboa Ex-militante e dirigente da UNITA, Carlos Morgado acompanhou Abel Chivukuvuku, na saída da UNITA e que esteve envolvido na fundação da coligação eleitoral Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), terceiro maior partido angolano.
O paludismo não matava crianças e era impossível existir endemias porque para além do aspecto sanitário os programas de vacinação e saúde preventiva sempre funcionaram. Aspectos sociais: Como os recursos eram escassos, a administração dos mesmos eram feitos com disciplina, sem desvios/roubos, distribuição equitativa, entre outras boas práticas.
Roupas, detergentes e bens materiais eram distribuídos protegendo os mais desfavorecidos (crianças, órfãos, velhos, doentes) premiando a excelência; . Desporto e cultura - O desporto com destaque ao futebol eram obrigatórios e existia campeonato nacional onde se destacavam os clubes Estrela Negra, Estrela Vermelha, Mártires da Liberdade, UREAL, etc.
Ainda vivem muitos destes protagonistas como o Genial Wambu (Chegou a Presidente da Federação de futebol), Lito Kandambu (actualmente Deputado e antigo jogador do Estrela Negra, Vermelha e UREAL), Tito Marcolino (Jornalista do Folha , Félix Miranda, Jessé, Zé Manel, Camilo, Satchiambo (Quadro Do Mirex), Tchituku, Beto Tchindombe, Tony Tchivemba, etc;
Havia o Movimento Sindical e Estudantil - Destaque para o SINTRAL (sindicato dos trabalhadores de Angola Livre) cujo primeiro presidente é Franco Marcolino Nhany (actual Deputado e Secretário Geral da UNITA), da UREAL (União Revolucionária de Angola Livre) cujo primeiro Presidente é o actual Deputado Estevão José Pedro Katchiungo e antigo bolseiro em Portugal e, por algum tempo representante da UNITA no M´Puto…
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e relatórios da Jamba - agência Kwacha UNITA Press (KUP)
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* A HISTÓRIA DA JAMBA
- Crónica 3586 – 13.06.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Do ponto de vista Administrativo a JAMBA funcionava como capital como qualquer Estado do mundo com estruturas que atendiam a Defesa e Segurança, economia, agricultura, pecuária, indústria, educação, saúde, etc. Na Defesa e Segurança, por se estar em período de guerra, todos os seus habitantes tinham a noção clara de que a sobrevivência colectiva dependia basicamente da instrução militar com o adequado uso das diferentes armas.
Assim sendo todos os jovens do sexo masculino ao atingirem a idade adulta tinham de ter preparação militar e política para que pudessem ser úteis a si próprios com a necessária cidadania, prontos para integrarem os mais variados órgãos de defesa, diplomacia e segurança se necessário , aprendendo técnicas de comunicação, informação e contra-informação.
Sua estrutura social que tinha pendor militar e paramilitar exigia que usassem vestimenta adequada ao seu enquadramento e, segundo suas aptidões e funções; assim, todos os homens poderiam ou deverem estar fardados dos pés à cabeça. Os dirigentes, tinham por norma graduações militares, podendo andar armados… Eu próprio (T´Chingange), na diáspora, caso fosse para a Jamba, teria o tratamento do posto de Major…
Como qualquer estado, existiam as polícias (secreta, ordem pública e outras), forças especiais (comandos), batalhões regulares e semi-regulares e forças especiais de guerrilha, etc… Os sistemas de comunicações e intercepções militares que em áfrica, poderiam até superar África do Sul, tinham para além dessa, a Israelita, Alemã e Norte Americana. Tinha a VORGAN, rádio resistência das terras Livres de Angola que tinha por missão dar a informação e esclarecer a forma diabólica de como Luanda fazia passar a noticia - com muita deturpação…
O factor de disciplina e rigor era primordial. A UNITA teve o condão de introduzir códigos feitos por angolanos, usando parcialmente e, de forma conjugada, usando línguas nativas angolanas. Falando de comunicações e intercepções por exemplo, não havia nenhum plano operativo das FAPLA e da sua força aérea, que não fosse conhecido o que, permitia aos chefes militares delinearem planos de ataque e defesa eficazes…
No tocante ao ensino – foram criadas escolas do ensino geral e profissionais essencialmente dirigidas por antigos professoras da Administração Colonial, das missões protestantes e católicas e gente entretanto já formada na Diáspora, em universidades de variados países principalmente europeus e africanos. O Liceu Nacional da Jamba era dirigido pelo Padre Justo Félix.
Leccionavam nos liceus e não só, os melhores quadros que transitaram da administração colonial e do estrangeiro com conhecimentos académicos e científicos certificados. Passam assim à memória os Professores/as: Francisca Prata, Eugénio Manuvakola, Bunju (chegou a ser Ministro da Geologia e Minas de Angola), Elias (vinha dos EUA), Heitor Simões, Toya Tchivukuvuku, Kapapelo, Padre Bongo, Simões Bernardo, Bela Malaquias, Joia Wassuka, Madre/irmã Maria, entre muitos outros e outras.
Na área de ensino de Transmissões Militares por exemplo, não haviam férias e, num ano civil era possível fazerem-se dois anos lectivos, permitindo assim ter em pouco tempo mais letrados e prontos para as tarefas intelectuais. Os melhores alunos (média igual ou superior a 15 valores) eram seleccionados para continuarem a estudar na Costa do Marfim, Senegal, França e Portugal, entre outros…
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* A HISTÓRIA DA JAMBA
- Crónica 3585 – 08.06.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
A história da Jamba tem como seu fundador o Dr. JONAS MALHEIRO SAVIMBI no ano de 1979. É esta a génese da independência dos Ovimbundo em seu ramo político. Jonas Savimbi, o Presidente do Movimento de União Nacional para a Independência Total de Angola – UNITA, decidiu que era fundamental a Direcção do Movimento ficar SEMPRE em território Angolano (só a partir da Grande Marcha e, após a fuga do território angolano, esteve na região do Delta do Okavango na Namíbia).
Para a construção da Jamba contribuíram angolanos que levaram experiência por via da Administração Colonial Portuguesa - Noções de Administração e planeamento do território. De destacar os angolanos autóctones e muitas figuras míticas como por exemplo o falecido Capitão N´djeke (da etnia Kamussekele). Realça-se o Capitão N´djeke e, sua etnia porque ,mesmo sendo minoria, trazia com ele um conhecimento ancestral e lições de como tornar possível o respeito pelo ambiente, seus equilíbrios e usos dos donos da terra, temas obrigatórios que hoje, o são prática comum nos meios urbanos e, em países ditos avançados.
Por seu valor histórico, político e económico a JAMBA, deverá ser transformada em um Município, ser uma das Capitais do Turismo, MUSEU do MUNDO. Isto porque, será a partir deste lugar que se possibilitará ver em estado selvagem a melhor e maior reserva de elefantes do planeta. Mas, entre outros animais destacam-se zebras, cangurus africanos, palancas, chimpanzés ou macacos
Neste ambiente natural, existem variadíssimas espécies da flora, algumas ainda nem catalogadas; é o lugar por excelência de África, ainda virgem para entusiasmar pesquisadores, botânicos e cientistas em geral. Estes recursos naturais terão de ser o verdadeiro suporte promovendo o bem estar para TODOS e, no mais curto espaço de tempo.
Por ora (naquele então), haveria que resistir e sobretudo “contar essencialmente com as nossas próprias forças” transformando “todos os braços e cabeças” em prol da comunidade, mantendo a resiliência possível perante tanta adversidade estimulada e incentivada pelos notáveis resistentes, inventando, muito para além do imaginário.
E, assim tornando possível a vivência a partir do plausível, teremos de rever os heróis que todos foram, cada qual do seu modo singelo ou capaz de entre os mais hábeis, os melhor apetrechados de saber, a dirigirem seu povo civilmente ou militarmente. Assim conhecerão de foram exaustiva nomes que fizeram saber querer. Angolanos como Jonas, Rússia, Tchiyuka, Tchiwale, Jaka Jamba, N´zau Puna, Samakuva…
E,Tchilingutila, T´Chipilika, T´Chitunda, Valentim, Hamukuaya, Tchata, Danda, Antoninio, Liberty, Ekuikui, N´gamba, Kanutula, Camundongo, Tembi-Tembi, Katchiungo, Sakala, Pena, N´dachala, Numa, Kandambu, Assobio da Bala, Tchingundji, Kahombo, Makanga, Morgado, Puna, Tony Fernandes, Hamukuaya, N´delitumbula ou Chivukuvuku…
A lista é grande e, alguns ficarão no rol de esquecidos, somente por omissão. Temos assim, Kavulandungue, Calakata, Vituzi, Kalunga, Tarzan, Vakulukuta, Vahikeny, Tchindandi, Prata, Kalhas, Sanguende, Cinco Reis, Epalanga, Kalinoni , Cachiungu e, tantos ilustres. Por ultimo o actual Presidente da UNITA, Adalberto da Costa Junior. Angolanos e outros anónimos que acreditando nos seus ideais e resistindo a tudo dentro ou na diáspora, colocaram no mapa do mundo a futura capital do turismo mundial: JAMBA.
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3584 – 02.06.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
É tempo de voltarmos à Jamba e esperar na mata, a morte do Agostinho do Sputnik lá para o ano de 1979. Entretanto, um turista bazungo com passaporte de muzungo (branco) Tuga, disfarçado com colete de zuarte, um quiko besuntado de raspas de biltong, destroços de pão duro rusk, muitos bolsos, um canivete macgyver e um crachá da UNITA cozido no forro do colete percorria a tal Faixa de Caprivi.
Procurando-me envolto em sonho, também para que o desse e viesse, com um galo em cerâmica dado a mim, por mérito creio, Issoisso, dado a mim, pelo meu herói de nome Alcides Sakala – um notável da UNITA; assim e, muito bem seguro com boas linhas, cosido no forro deste traje de caçador de elefantes.
Só eu e José Pedro Cachiungo um dirigente do galo negro em funções em Lisboa, sabia chamar-se assim de “Xirikwata – o pássaro comedor de jndungo”… Mas, nem sei como, San Nujoma, o presidente da Swapo, vim a saber que também o soube mas, desmilinguiu-me bem à beira do Okavango – eram os Serviços de Inteligencia a funcionar - ainda bem que assim o foi! Tinha a CIA a proteger-me...
Agora, com minha cuca pintalgada de velhice tipo mapa mundo, recordo se estava mesmomesmo pifado dos carretos, coisas reais dum passado acantonada no luco-fusco da vida e, como se o fora um espião de verdade, um tugangolano - aiué! E, no ano de 1978, aconteceu algo; os rodesianos fizeram um ataque ao campo de refugiados da ZAPU de Joshua N´Komo, em Boma, Sul de Luena, onde foram massacradas centena de pessoas.
Em um ataque ao Lubango no ano de 1979, por bombardeamento feito pelos sul-africanos, morrem 612 pessoas. Este foi também o ano do “massacre de Cassinga” quando militares sul-africanos atacam um campo de refugiados namibianos, chacinando 1.200 pessoas… A morte de Agostinho Neto sucedeu nesse ano de 1979.
A morte de Agostinho Neto, acontecu em Moscovo a 10 de Setembro de 1979, na Rússia. Seu corpo regressa embalsamado a Luanda. Nas exéquias fúnebres, em quase histeria colectiva as pessoas gritam “mataram nosso Netinho”. Referiam-se aos soviéticos, mas a verdade é que Neto sofria de incurável cancro de fígado por via de tanto “chivas regal” e caporroto de Catete – implodiu por dentro, simplesmente!…
Na presidência de Angola, sucede o eng.º José Eduardo dos Santos, nascido no musseque Sambizanga, de pai pedreiro e mãe doméstica, foi aluno do Liceu Salvador Correia de Sá. Formou-se em engenharia de petróleos em Baku, ex-URSS, sendo a princípio contestado pelos radicais do MPLA.
Contestado em Luanda, especialmente por ter decidido congelar todos os processos de condenações à morte; posteriormente aboliu a pena de morte em Angola. Sabe-se sim, por via de muitas denúncias que sofisticaram a forma de eliminar inimigos ou gente inconveniente com venenos de sofisticada elaboração entre outras formas dissimuladas… Entretanto a guerra continua com a UNITA já fixada na Jamba – Cuando / Cubango. Iremos para lá a seguir…
Ilustrações aleatórias de Costa Araújo
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3583 – 29.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977”- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Justino Pinto de Andrade, elemento da Revolta Activa, preso antes do 27 de Maio, conta na primeira pessoa, “Na noite de 23 de Março levaram, para nunca mais voltarem, inúmeras pessoa: Ademar Valles, irmão de Sita Valles, o engenheiro Rosa, que nada tinha a ver com o 27 de Maio, o Cachimbo, um laranja do MPLA que havia assassinado o engenheiro Betencourt Faria, em seu Observatório da Mulemba…
Também o comandante Bogalho, combatente do MPLA, que se juntou a Chipenda em Lusaka… O Bogalho foi trespassado pelas balas ou então, como se ouviu dizer, pelas baionetas dos seus algozes. Foi uma verdadeira “noite das facas longas”. Para muitos e em demasia, foi mesmo o fim! E,, só depois de se localizar o local do enterramento de seus corpos, só então, se poderá cicatrizar essa ferida de tamanho descomunal…
A frase proferida por Agostimho Neto que ficou para os vindouros foi a de: “amarrem-nos aonde forem encontrados”. Manuel Ennes Ferreira um preso político do processo OCA, torturado, relembra: “Às 07h 30 do dia 27 daquele Maio, cheguei ao liceu N´Zinga M´Bandi para dar aulas. As movimentações na rua e os tiros, colocaram os alunos e os professores em polvorosa”.
Dali por três dias, voltei e fui à cantina da universidade para almoçar. O general N´Donzi chegou e, da porta apontou para o Fuso e o Jorge Basófias; como estava na mesma direcção, gelei! Alguns dias depois segui o mesmo caminho, São Paulo e Campo do Tari”
As mulheres detidas eram alvo de violência psicológica e sexual. Nos interrogatórios os agentes e guardas apareciam e, “sobre os seus corpos desnudos despejavam a mais torpe violência” revela Américo Cardoso Botelho, em “Holocausto em Angola”. A comandante do Batalhão Feminino, que tinha conduzido o ataque à cadeia de São Paulo para libertar os apoiantes de Nito Alves, que impedira depois o fuzilamento dos militares da Revolta Activa e da OCA pelas forças revoltosas, acabou por ser detida.
Quando a situação mudou e as tropas fieis a Neto passaram a controlar os acontecimentos, deixaram que aquela , porque estava grávida, tivesse a criança mas, depois, espancaram-na durante três dias e três noites, segundo o livro “Purga em Angola no 27 de Maio de 1977” de Dalila e Álvaro Mateus . Disseram: “ Ela cantava sem parar – a voz enlouqueceu-lhe mas, nunca parou de cantar até ser fuzilada”
Os interrogatórios eram feitos com as detidas nuas ou seminuas . Usavam os mais variados instrumentos para penetrar as vaginas das detidas. A uma portuguesa branca, obrigaram-na a despir-se para limpar com a roupa o sangue nas selas onde decorriam os interrogatórios. Os guardas voltavam a atirar aquela água suja para o chão , obrigando a limpar de novo.
Enquanto isso lançavam impropérios e davam-lhes pontapés aonde quer que fosse. A uma das prisioneiras, massacraram-lhe tanto os joelhos com uma tábua que doente meses ficou desvalida, quasequase sem conseguir andar. Outra foi colocada no centro de um grupo de agentes e militares, inteiramente nua, sob uma forte iluminação, “sendo alvo dos piores insultos com apreciações jocosas de seu corpo, seguida de agressão física”– conta Américo Botelho…
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, de outros referidos em texto e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"LUANDA NOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3573 – 30.04.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Cumcamano, disse eu depois de dizer um chorrilho de grossas asneiras ao pisar bosta de elefante já meia desfeita; assim era este paradisíaco sítio cheio de coisas “good” e, logo a seguir às cubatas feitas de barro e capim entalado em chinguiços. Paus tortos na vertical atados a mateba em outros paus tortos horizontais. Com dois por dois metros, dei-me a matutar de como caberia ali um par de gente sem ficar com os pés de fora.
Era só mesmo para dormir; as outras divisões eram um amplo mato a seguir à clareira avermelhada. Para ir ao cagadoiro, era só seguir o carreiro que levava ao buraco. Saltando um pouco no tempo sem definir datas ou horas exactas, o chefe Miranda referia algumas agruras do mato do Calai, Dírico e Mucusso, posturas antigas nunca esquecidas, a querer relembrar as surucucus de Angola, um pensamento, da sua fuga…
Neste meio tempo de reestruturação da UNITA e construção da JAMBA, vamos desviar a atenção para a Capital Luanda aonde Agostinho Neto se vê em apuros com um suposto golpe de estado. O golpe que ficou conhecido como o Fraccionismo, teve uma data a memorizar esses eventos: - O 27 de Maio!. Quatro homens do MPLA lideram um suposto golpe de Estado contra Agostinho Neto.
Esses homens foram: Bernardo Alves (Nito), Jacob Caetano (Monstro Imortal), José Van-Dunem e o comandante Bakaloff. Situando-nos a 27 de Maio de 1977 e, após as insistências da URSS a Agostinho Neto a fim de aderir ao marxismo-Leninismo, veio a consumar-se com a criação do MPLA-PT. Não obstante, Neto continuava uma pedra no sapato do regime soviético, que na altura era chefiado pela “tróica” de Nicolau Podgorni/Kossinguine/Brejnev.
O episódio é conhecido por Revolta dos Fraccionistas - “dos Frac´s” na linguagem popular. Num discurso após o golpe, Neto afirma que por detrás da rebelião, estivera “uma embaixada estrangeira em Angola”. Para os analistas políticos não restaram dúvidas em apontar de forma comedida o embaixador Kalilnini como sendo o autor intelectual do episódio.
Já dominando os pontos chaves na Capital – Luua, como a emissora de rádio, o golpe aborta, mercê da rápida intervenção militar cubana ao lado de Neto. “Monstro imortal”, armado com uma metralhadora, entra no Palácio da Cidade Alta de Luanda, com o propósito de dar ordens de prisão ao presidente angolano; assim não foi, porque Neto, estava no Futungo de Belas…
Monstro Imortal é preso de imediato. Na onda posterior de repressão, são presos, torturados e passados pelas armas na forma sumária, seguindo-se-lhe milhares de pessoas, incluindo os mentores do golpe, depois de serem sujeitos a dolorosa tortura física. Conta-se que a Nito e o Monstro Imortal, lhes foram arrancados os olhos, ainda em vida.
O último relatório da Amnistia Internacional sobre o golpe de 27 de Maio relata o desaparecimento de prisioneiros – “Noite após noite, durante os meses seguintes, ambulâncias e outros veículos saíam da prisão de Luanda e de outras cidades”. Prisioneiros que foram enviados para o campo de reeducação em Calunga -Moxico, afirmariam que muitos outros prisioneiros foram sumariamente executados, morrendo à fome ou simplesmente, foram alvejados ao tentarem fugir…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3563 – 28.03.2024
“A LONGA MARCHA DE SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Hodiernamente, não sei se voltarei a passar nas ruas da Luua que me viram crescer numa mulola chamada de Rio Seco da Maianga porque, também minha passada irá entristecer-se na recordação, do que foi e, já o não é. A sombra que preside aos tempos de agora (2024) e, que por dá cá aquela palha, se ateia a mente, queimando os fusíveis dos coiros, sempre lembrará o tempo em que o fui, feliz, na compreensão muda e queda, das muitas e, alheias infelicidades circunscritas.
Em 1975, embarquei para o M´Puto sem o querer, pela inquieta, medonha ou desolada guerra do tundamunjila. A terra do futuro ficou tardia, sarando-me das pústulas feitas vulcões na diáspora, comendo sandes na “Tendinha” de Lisboa do Rossio do M´puto, um panado ou posta de bacalhau regada com um penalti. Mais tarde comendo arepas com carne mechada na Venezuela, biltong na África do Sul e coxinhas de galinha no Brasil. Agora, recordo a odisseia da “Grande Marcha de Savimbi”, como uma prometida vontade a mim mesmo: sentir com a UNITA, essa nova era da mudança para Angola.
Algures na mata. «Estávamos preocupados com medo de que algum helicóptero pudesse sobrevoar-nos», disse Savimbi. «Disse-lhes que esta não era a maneira de conduzir uma guerra de guerrilha; não queremos riscos. O povo, porém, disse que não nos preocupássemos, que não fora ainda molestado naquele lugar. Numa aldeia, apenas a dois dias de caminho da base, estavam milhares de pessoas a dançar e a cantar. Disseram que nos acompanhariam até à base.
Respondi ao soba que isto não seria bom, que se a população se portasse assim, não teríamos segurança. Um dia eles seriam descobertos e atacados pelo MPLA e pelos cubanos. Afirmei ao soba que não queria o povo atrás de mim. Chamá-los-ia dentro de uma semana, para um grande comício, já na base. Falhei porém, seguiram-nos sempre, a cantar durante todo o caminho.
Desisti e afirmei, vamos correr o risco. Por isso, eles vieram connosco até o Cuelei e foi este o fim da longa marcha. A base do Cuelei ficava a cerca de 150 quilómetros para sudeste do Huambo. Estava sob o comando do major Katali, que reunira nesse acampamento cerca de oitocentos guerrilheiros e, duzentas mulheres com crianças.
A “Longa Marcha” terminou com a entrada de Savimbi no Cuelei a vinte e oito de Agosto de 1976, cerca de sete meses, com três mil quilómetros percorridos após a sua fuga do Luso, seguido por dois mil adeptos. Destes, apenas setenta e nove, incluindo 9 mulheres, estavam com ele, tendo os demais morrido, sido separados para outros locais ou, simplesmente, ficando para trás.
Foram alguns meses trágicos; porém contra todas as probabilidades e contra todas as espectativas dos estranhos, Jonas Malheiro Savimbi, sobrevivera. A guerra que muitos comentadores anunciaram ter terminado com a victória cubana, em Fevereiro de 1976, iria continuar. Seguem-se agora entre estórias recolhida do baú de lata cravadas com ripas de pau kibaba, o desenrolar da odisseia de sobrevivência de um punhado de gente resiliente com o espirito sempre presente da UNITA…
E, porque já em tempos disse de quem pensa que sabe tudo, um dia vem a saber mais um pouco, de novo o digo. E, para não ficar só no espírito, volto à carga com a estória que me liga a uma felicidade estrangulada. Foi assim que arrumando meus cacifos de memória, achei ser justo neste espírito de letras e valores, passado que é meio século após o ano de setentaecinco, retroceder aos itens de dignidade que persistem passeando um galo de cerâmica na lapela do terno diplomático…
Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3562 – 27.03.2024
“A LONGA MARCHA DE SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Pude ler recentemente - ano de 2024, que já estamos a viver no FUTURO. Que este VÍRUS MUTANTE, pode ser ALIANIGENA, um mecanismo preliminar de nosso salto genético espacial. Partir a gente feitos pedras parideiras algoritmos, que exige especial atenção para descortinar os pensamentos de querer fazer rebelião como algo inerente às "torpes" eficácias cientificas e também duma covarde gravidade vinda de GOVERNOS formatados por gente igual a nós. Não podemos condescender com aqueles que bestializam um passado que já o foi PRESENTE…
Li também que, somos um projecto de bioengenharia e, que tudo começou algures há 75 mil anos atrás, muito antes de Cristo surgir e, muito antes de quando saímos das algas como micróbios alienígenas. A cultura e o conhecimento, elevando-a de parvidades nem consentir com tolices ou pecados, por assim andarmos cativados numa burlesca depravação e, também enfrascados numas quantas hipóteses de vontade libertadora...
Posto isto, relembro o passado, continuando a descrição da saga do Mwata chamado de Jonas – “A grande Marcha de Savimbi”… Naquele dia, já em finais de Agosto de 1976, Savimbi queria dissipar qualquer ideia de que viria a ter ajuda do exterior, antes de o povo se ajudar a si próprio. Afirmou: «Teremos de lutar primeiro e, só depois, vocês verão que as pessoas do exterior quererão entrar de novo em contacto connosco».
O Presidente também afirmou que os cubanos detinham uma vantagem evidente, em termos de qualidade das suas armas e, da crueldade com que estavam habituados a actuar. E, acrescentou «Porém, estavam em total desvantagem em termos de conhecimento do território, da população e da língua».
Savimbi despediu-se do soba e dos mais-velhos duas horas antes do romper do dia vinte e quatro de Agosto. Durante algum tempo, ainda, a coluna caminhou em direcção ao Norte, através da mata que ficava paralela e à vista da estrada. Às nove horas da manhã um comboio de blindados e camiões, transportando tropas cubanas e do MPLA, começou a passar rumo ao Sul.
Ao longo da estrada e à vista dos homens de Savimbi, era perceptível ouvirem o inimigo a cantar de forma descontraída. Os guias da aldeia disseram à coluna que continuasse a avançar, assegurando a Savimbi que os seus homens não podiam ser vistos da estrada. Savimbi tencionava progredir rápidamente em direcção à zona da nova base. Ele sabia que avançava por entre uma cadeia de camponeses pró UNITA.
Savimbi afirmou-se, nessa aldeia, com um perfil bastante mais elevado do que pensava. As patrulhas de guerrilheiros oriundos da área para onde se dirigia, a cerca de 120 quilómetros para oeste da estrada principal, vinham estabelecendo contactos com a coluna e espalhando a notícia, à medida que avançavam, da sua chegada iminente. As pessoas vinham ao seu encontro, em plena luz do dia, com bandeiras, cantando e dançando.
Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3561 – 21.03.2024
“A LONGA MARCHA DE SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
(…) Cada um de nós tem uma lenda! A minha foi preterida por ser o que ainda estava para ser, uma inventação lançada para fugir às realidades da Luua. Para encobrir eventos desonrosos, coisas sem heroicidade, um quarto de hora antes da meia-noite do dia 11 de Novembro de 1975, minha “nação”, meu barco, levantou âncoras ao largo da Luua – Niassa...
A bandeira do M´Puto era embrulhada num baú dum velho carcamano de colono aonde tiveram de caber todas as ilusões. Foi assim que me tornei Niassalês. A bandeira verde-vermelha, tornada num trapo vulgar, estava condenada a criar bolor. Minha nação Niassa fez-se ao alto mar vendo-se de longe os festejos celebrando de forma dantesca o nascimento dum país. Eram tiros e rajadas a fingir de fogo-de-artifício.
Agora que passam já 48 anos desse tempo, relembro a odisseia da “Grande Marcha de Savimbi”, um ano depois de eu já ter saído de Angola, a terra que me viu crescer - A terra que nunca saiu de mim. Estávamos a 23 de Agosto de 1976… O caminho a partir da mata, levou a coluna da UNITA através da estrada do aglomerado central de cubatas e, das demais espalhadas ao longo da estrada, para Norte.
Se tivessem atravessado mais para o extremo Norte, para além dos limites do aglomerado de cubatas, teriam feito com que os cães uivassem e, isso teria atraído a atenção dos cubanos; qualquer movimento na aldeia, por parte dos homens da milícia local, armados apenas com arcos e flechas, não provocaria nos cães qualquer reacção invulgar.
Uma vez do outro lado da estrada, no sentido oeste, os grupos de homens da UNITA caminharam entre o aglomerado principal do kimbo e as trincheiras vazias para um ponto de encontro na mata, a cerca de um quilómetro para sudeste dos limites da aldeia. Completada a travessia, um grupo de vinte aldeões, o soba, os mais-velhos e suas mulheres, reúnem-se a Savimbi na mata.
A coluna e os aldeões caminharam durante mais dois ou três quilómetros para o interior, de maneira a que Savimbi pudesse discutir com os sobas e os mais-velhos, explicando-lhes os seus planos para o futuro e, de que forma os aldeões podiam ajudá-lo. «O presidente argumentou que a UNITA não teria quaisquer probabilidades de sucesso a não ser que o povo estivesse do lado do Movimento».
Fizeram perguntas embaraçosas e, não haveria maneira de essas perguntas poderem ser evitadas. Perguntavam por exemplo se a guerra acabaria em breve ou se seria longa. Era evidente que nenhuma vitória seria rápida; a situação era por demais incerta e periclitante e, só a destreza, a astúcia e a sorte, poderia mudar os acontecimentos. Savimbi, afirmou ao soba que um dia, o inimigo iria descobrir que esta aldeia estava a ajuda a UNITA e, consequentemente, ela seria atacada.
«Aquele povo, deveria sem demora, iniciar a armazenar alimentos na mata, para quando chegasse o dia em que tivessem de fugir», frisou Savimbi. Disse que não podia esconder que todos os amigos da UNITA pensassem que nós não eramos capazes de resistir, que estávamos liquidados. O Presidente disse que a UNITA já não tinha quaisquer aliados efectivos. Teríamos de confiar nos nossos próprios esforços, no apoio da população, nas armas que estavam escondidas e, nas que viessem a ser capturadas…
Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3560 – 17.03.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Algum tempo atrás, desconhecia que podíamos fechar o tempo dentro de casa e, atazanado, comecei a beber dez gotas de cannabis para truncar as vicissitudes, misturando o gosto estranho com kefir, um pouco de café pilão e um pouco de mel com um ou dois croissants para entulhar a malga. E assim, lá pela tarde, na kúkia do sol, meto também num pão tipo da avô os trocadilhos com chouriço e, por vezes pão rust do Calahári…
Intercalando este intróito antes da continuação na descrição da “Grande Marcha de Savimbi com seu povo” e, porque o tempo esvoaçou desperdiçado, a fim de sentir algum prazer de viver matabichando resiliências e, outros desmandos de tantas maleitas sociais, descrevo isto olhando para as roupas manchadas do tempo a abanar no quintal com os pássaros chamados de charnecos e melros a alegrar-me com seus voos e seus cantares.
Continuando a epopeia da UNITA, um dia depois, Savimbi ordenou a cerca de vinte soldados, que tinham rápidamente perdido as forças, que voltassem para trás e se juntassem ao povo, que se ia dispersando da coluna, até convalescerem. Ao fim de mais de um dia, avistaram uma aldeia amiga, na estrada principal. Durante a noite, o soba e os mais-velhos trouxeram comida, reunindo-se a Savimbi na mata.
O soba disse-lhe para descansar ali durante o dia e mudar-se depois, para a aldeia, quando as condições lhe fossem mais favoráveis. Ali ficaram durante dois dias, sendo informados acerca de potenciais pontos e passagem ao longo da estrada fortemente patrulhada. A travessia teria de ser feita aonde os cubanos menos esperassem e, aonde fosse menos provável estarem os seus pisteiros e batedores em acção,
Tomou-se a decisão de atravessar directamente através da berma da estrada da aldeia com cerca de quinhentos habitantes, protegida por uma paliçada e um posto defendido por dez cubanos e, com alguns soldados do MPLA, colocados nas imediações. «conseguimos ver os cubanos e os soldados do MPLA a movimentarem-se à volta da paliçada, empunhando suas armas», disse Savimbi.
«O soba, porém, disse que eles eram tolos. Nunca se dirigiam à mata a pé e, não supeditariam de nada, desde que não fizéssemos barulho. Confiamos nele porque era um antigo membro do nosso partido». Cerca de uma hora antes do anoitecer, no dia da travessia, dia 22 de Agosto, o soba regressou e disse ter organizado um espectáculo na aldeia nessa mesma noite, para os cubanos da guarnição e, também para o professor da escola, um activista do MPLA que fora nomeado pelo governo.
Oito deles, estariam a beber nas cubatas para leste da estrada e, os outros três nas cubatas situadas a oeste. Os homens de Savimbi deveriam atravessar em grupos de quatro ou cinco, guiados por homens das Milicias da aldeia, cujos piquetes dariam o alarme se os cubanos alterassem suas posições. O soba, embora os cubanos não o soubessem, era presidente do Comité civil da UNITA.na aldeia.
A partir do centro da aldeia, as cubatas estavam dispersas e isoladas, numa área de cerca de dois quilómetros ao longo da estrada principal. A vinte e dois de Agosto, á coluna de Savimbi foi reunir-se um grupo de cinquenta soldados, comandados pelo major Bandeira, que fugira do Lobito em Fevereiro e, tomara o rumo do Vale Lungué-Bungo. Com Bandeira, estava Jorge Valentim, um notável da UNITA.
Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3559 – 15.03.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Como parte de um rosário feito de búzios e ao jeito de missangas, continuo a descrever realidades passadas quase-quase como se o fossem de um imaginário tempo, dias de graça com desgraça do já distante ano de 1976, com a “Grande Marcha de Savimbi”. Fazendo fintas ao instinto, driblando premonições entremeadas de medo na busca sobrevivente, olhando o céu para além das copas a conferir os aviões migues feitos urubus pretos.
E, ouvidos à escuta dos abutres camuflados com rotativas e tubos de estrias de fazer tiro tenso procurando dar fim a gente; fugir das abertas clareiras é a condição de sobrevivência. Em sua reactividade humana, a esta estória recordo a frase do espírita pensador Chico Xavier: -Você não pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas você pode começar agora e fazer um novo fim! Desconseguiu-se levar adiante este conselho…
Aquela aldeia estava bastante isolada. Nenhuma patrulha cubana ou do MPLA tinha lá chegado, ainda, mas, ao fim de cinco dias, quando a maioria das pessoas já se alimentava com comida sólida, um helicóptero cubano sobrevoou a zona. «Foi apenas pouca sorte», recorda Savimbi. «Embora os cubanos não pudessem saber que lá estávamos, decerto, assinalaram a aldeia em seu mapas e, eventualmente, regressariam.
Em face disto, ordenei aos camponeses que se dispersassem e, encontrassem um novo local para se instalarem». A sua intuição dizia-lhe que os cubanos e o MPLA tentariam cobrir tantas aldeias quanto lhes fosse possível, para o forçar a confinar-se inteiramente às matas. Mais de metade do grupo de Savimbi ainda sofria muito pela exaustão, envenenamento pelos cogumelos e generalizada fraqueza.
Os mais frágeis, teriam assim de permanecer com os camponeses. Quanto aos restantes, Savimbi ordenou uma marcha rápida em direcção à estrada do Bié, que serve Serpa Pinto e, em seguida, prosseguir paralelo a ela, para a área aonde planeara instalar o acampamento de carácter mais definitivo. Os aldeões cederam dois guias a Savimbi para os conduzirem a um acampamento de guerrilheiros da UNITA, a cerca de trinta e seis horas de marcha.
Uma marcha pedestre pode ir de quatro a sete horas; a lenta pode considerar-se em quatro quilómetros, a rápida com seis e, a muito rápida com sete quilómetros. Isto dará uma ideia das distâncias, pelo que, 36 horas em terreno limpo significa um dia de marcha rápida. Esta marcha seria feita ao longo de um afluente do rio Cuanza. Pela logica seguir para montante era caminhar para sul e, o inverso, seria caminhar para norte, no sentido em que as águas correm.
É muito importante a um guerrilheiro ser conhecedor da topografia da região, saber dos ventos dominantes vendo a inclinação de árvores ou arbustos, o musgo que se acumula nos troncos das mesmas e a ideia correcta de onde nasce e se põe o sol. Neste caso, se o Cuanza corre para norte, em direcção a Luanda, o caminho do afluente seria nessa mesma direcção pelo que neste caso, seguiriam o sentido sul, contrário da correnteza, o rumo à fuga.
O objectivo, era recrutar no acampamento, guias que ainda não estivessem cansados para efectuarem a passagem da estrada. A cerca de trinta minutos de marcha do acampamento, viram dois helicópteros cubanos a metralhar o local e a desembarcar tropas. Savimbi, mudou imediatamente de direcção, cortando a direito para a estrada: mais tarde chegaram até ele notícias, de que mais de trinta pessoas, principalmente mulheres, tinham sido mortas durante aquele ataque.
Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3558 – 11.03.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
A maioria de nós já não é capaz de compreender hoje, os grandes problemas morais do Mundo no passado. Já lá vai o tempo em que era só separar o joio do trigo, rezar um pai-nosso ou uma ave-maria para suspender as preocupações circunscritas, porque o longe era-o em demasia e no cercano, o senhor padre ou o kimbanda, comunicava na missa avisos de alvissaras com umas quantas defuntações, pois que sabia de tudo e até sabia encobrir o que era para não ser sabido.
E, afinal não existe "pedra" em nosso caminho que não possa ser aproveitada para nosso próprio uso em crescimento. Muita sabedoria, luz e prudência, é necessária ter para saber o que fazer com cada pedra que se encontre, tornando-as alicerces de nossas vidas. Observe-se que a diferença não está na pedra mas, na atitude das pessoas perante as inerentes coisas! Desta feita a estória da “Grande Marcha com Savimbi” de 48 anos atrás, em Angola reaviva-se aqui numa permanente angustia, surpresa e penosa admiração :
As peles das bagas eram fervidas de novo, juntando a elas folhas de uma outra árvore. A sopa liquida que daqui resultava parecia óleo vegetal queimado e, ao fim de meia hora, deixava os convivas enfraquecidos, muito mais fracos e inchados. Porém, era uma forma de se alimentarem. Um dos guerrilheiros sabia como colher mel silvestre e, trouxe consigo uma pequena quantidade. Vinoma Savimbi, perita em cogumelos silvestres, conseguir seleccionar alguns.
Porém, cinco soldados morreram envenenados, depois de comerem míscaros, apanhados sem terem consultado Vinoma… Savimbi fez um discurso encorajador exortando os soldados a não se deixarem render perante a morte, porque o povo estava à espera que combatessem. «Esse foi realmente um momento chocante e assustador porque alguns dos soldados não tinham sequer a capacidade física necessária para responder ao seu apelo, embora pudesse ver-se que o desejavam».
« … Muitos conseguiram manter-se de pé e dizer que continuariam a combater mas, alguns instantes mais tarde, caíram por terra». Apesar de tudo isto, o grupo de Savimbi foi ficando mais fraco, por falta de alimentação. Estavam deitados no chão e, ao sexto dia, a maioria, era incapaz de se arrastar pelos seu próprios meios; porém, nesse mesmo dia, uma patrulha chegou com notícias animadoras.
Tinham descoberto uma aldeia a quinze quilómetros de distância, e os seus habitantes eram de há muito, apoiantes da UNITA. A notícia sobre a existência da aldeia actuou como uma injecção vivificante. O soldados estavam anciosos por estabelecerem de novo, contactos com a população comum. Embora tivessem encontrado em si mesmos, forças desconhecidas, a jornada de quinze quilómetros, que teria demorado apenas duas horas em situação normal, legou doze horas.
Os camponeses vieram ao encontro de Savimbi e ajudaram a levar a coluna para suas cubatas. Afirmavam ter sido visitados por comandantes de guerrilha da UNITA, que os tinham informado que Savimbi estava a ser perseguido pelos cubanos e pelo MPLA. O chefe da aldeia desenhou diagramas no pó do chão para mostrar a Savimbi como enviar patrulhas, em direcções diversas, para ajudar a desencontrar a coluna do Presidente.
Os camponeses não tinham grande quantidade de alimento armazenados, mas forneceram milho, mandioca e carne de antílope. Savimbi, valendo-se de seus conhecimentos de medicina adquiridos em Portugal, reuniu os oficiais e, explicou-lhes os perigos que corriam ao comer alimentos sólidos, depois de tão grande período de fome… Em seguida Savimbi ordenou aos seus oficiais que repetissem o conselho à população, pelo qual eram responsáveis, utilizando os mesmos pretextos de subsistência.
Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3557 – 08.03.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Na percepção parcial das vitais contingências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinam o futuro próximo ou distante. Cada um de nós foi o que foi por uma coisa pequena, que sem se lembrar do primeiro choro, outros choros se lhe seguiram e, como um risco feito no chão, nem sempre se escolheu dedo ou arado, nem por onde fazer o rego que influiu na mudança de nossas vidas. E, lembrando esse passado difícil de Jonas Savimbi e seu povo, algures nas matas do Moxico, relembra-se:
Nas margens do rio Cuíto, Savimbi enviou uma patrulha de batedores constituída por três homens, através da escuridão, para o local da travessia da noite anterior. Nenhuma das três emboscadas armadas pelo inimigo se situava ali, mas, apesar disso, Savimbi estava preocupado com o facto de o resto da coluna poder cumprir estritamente as ordens dadas na noite anterior, de começarem a atravessar o rio, e de que fossem descobertos .
Uma patrulha de dois homens vindos do outro lado, tinha atravessado o rio e estavam à espera um pouco mais a norte do local da travessia. A estes, foram-lhes transmitidas novas ordens no sentido de ser abandonada a ideia de atravessarem em massa: a coluna oriental deveria, em vez disso, tomar o rumo do norte, ao longo do rio Cuíto, em direcção à região do Bié e, reunir-se a quaisquer guerrilheiros da UNITA.
Que espalhassem a notícia entre a população de que Savimbi estava vivo e, organizassem a resistência. Todavia, se Mulato fosse encontrado, ele deveria tentar atravessar juntamente com mais vinte homens reunindo-se a Savimbi. Mulato acabou por ser encontrado por um grupo de buscas. Perdera-se ao seguir o rasto de antílopes que ele pensava serem os do grupo de Vanguarda.
Mulato, atravessou o rio e conseguiu juntar-se a Savimbi 24 horas depois. «Quando Mulato se reuniu a nós, elevou-se a moral dos homens», disse Savimbi. «Ele era o nosso companheiro de armas e, gostávamos muito dele. O facto de ele estar a salvo, permitia mantermos os nossos planos inalterados». O grupo era agora formado por 250 homens.
Eram em sua maioria soldados, mas também havia quinze mulheres e dez homens civis, em grande parte, administradores experimentados. O tamanho reduzido da coluna do próprio Savimbi proporcionava certas vantagens. O grupo poderia assim, ser mais facilmente controlado, deixando rastos menos pronunciados e poderia movimentar-se mais habilmente para longe das zonas de maior perigo.
A carne proporcionada pelo gado abatido depressa acabou e, a velocidade da marcha abrandou transformando-se numa caminhada muito lenta. Ao fim de uma semana estavam todos tão fracos que Savimbi foi obrigado a fazer uma paragem. Em defesa da moral dos guerrilheiros, o contacto com os camponeses teria de ser restabelecido para se conseguir comida: o contacto era também necessário por razões politicas.
Foram por isso, enviadas patrulhas desde o local em que descansavam, bivacados na mata, para tentar estabelecer os contactos com as aldeias. Todavia, esta área era esparsamente povoada e, porque os homens estavam muito debilitados, não o podiam por isso, patrulhar a zona a fundo e, não conseguindo encontrar povoados tão rápido como o seria desejável.
Havia pouca caça acessível mas, os guerrilheiros Tchokwes, que eram exímios caçadores há gerações, conseguiram matar um javali. A coluna, esfomeada, comeram não só a carne mas, também os ossos; estes foram fervidos proporcionando uma sopa rala com folhas comestíveis. Sopa de ossos que depois de amolecidos e esmagados o fora bebida, com sofreguidão. A outra fonte de sustento eram bagas silvestres de cor vermelha que após o serem apanhadas, eram cozidas, tirando-se-lhe a pele e seu interior que ere venenoso.
Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3556 – 04.03.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Recordando a “Longa Marcha” no ano de 1976, terei de relembrar que tive e continuo a ter com orgulho de exibir, um galo em cerâmica que sempre ficou agarrado à lapela do meu terno de azul diplomático, oferta como se assim o fosse: um louvor medalhado, por essa gentil pessoa, diplomata e guerrilheiro da UNITA com o nome de Alcides Sakala que anos depois, representaria a UNITA em Portugal, sendo eu coordenador da Zona Sul do M´Puto por ele indigitado…
Nesta descrição, andarei um pouco à frente e atrás para inserir o essencial dos problemas que afectavam milhares de seres como eu e, em iguais circunstâncias; gente que quis esquecer e, que acabou mesmo por assim o ser… Perturbado com os punhos no ar e assembleias a toda a hora, em terra de Otelo Saraiva, zarpei, bazei, fugi de licença ilimitada rumando para a Venezuela de Andrés Peres até ao ano de 1982 …
Mas, lá longe, a “Grande Marcha” em terras do Moxico, em Agosto de 1976, já quase no fim, tinha sua continuidade. A causa pela qual Savimbi combatera durante mais de uma década, parecia perdida. Durante seis meses, ele fora perseguido e incessantemente acossado través destas vastas matas e savanas de Angola pelas tropas cubanas, por aviões e helicópteros: O inimigo aproximava-se ao entardecer, enquanto ele confortava o soldado moribundo.
Savimbi perdera o contacto com os demais grupos do seu fragmentado exército. Os seus aliados do exterior, em África e noutros continentes, tinham-no abandonado… Savimbi parou de confortar o soldado doente para verificar o estado do resto de seu exército. Uma hora depois de ele ter partido, um oficial de ordens, deu-lhe a notícia de que o jovem guerrilheiro morrera. Pouco depois morreram mais dois guerrilheiros.
A travessia dos quatrocentos metros do canal principal do rio, fora muito má. Os hipopótamos, que reclamavam mais vidas humanas do que qualquer outro animal da selva, tinham ameaçado voltar a única canoa que fazia a travessia em vai-e-vem: apesar do risco de as explosões poderem ser ouvidas por patrulhas inimigas, preciosas granadas de mão tinham sido lançadas à água no intuito de assustarem as feras que resfolegavam.
Contudo a parte mais difícil da travessia, fora feito a pé, mergulhados até à altura do peito, através de trezentos metros do pântano inundado que ladeava a margem leste do rio Cuito. As temperaturas geladas e o avanço penoso a pé esgotaram as últimas reservas de energia dos três homens falecidos. «Não podíamos movermo-nos. Não tinhamos escolha. As minhas tropas estavam exaustas após a travessia e alguns estavam já a morrer», recorda Savimbi.
«A minha gente estava separada, uns na margem ocidental e outros na margem oriental, e Mulato continuava perdido. Disse-lhes que deveríamos adoptar posições defensivas e, se os encontrássemos no nosso caminho, lutaríamos. Quando o combate começasse, poderíamos ter já recuperado forças; então, a maior parte da coluna poderia fugir para a mata, enquanto os outros procurariam aguentar o inimigo».
Durante a tarde chegaram mais dois helicópteros e, deixaram mais homens, tendo um deles aterrado a cerca de quinhentos metros do piquete de segurança de Savimbi, na orla da mata. Desta maneira, haveria talvez entre sessenta a oitenta soldados inimigos a patrulhar os canaviais do rio. Antes do cair da noite, os cubanos começarem a tomar posições para emboscadas. Savimbi decidiu que a sua gente teria de se afastar da zona perigosa…
Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3555 – 01.03.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Nesta marcha desesperante, eu branco, descrevo-a imaginando-me a comer raspas de cascas de mandioca, o vai e vem na volta da contra volta, já cansado de esganar a saudade, de esganar a traição, de esganar a mentira da descolonização, ela, esta coisa, deu-se conta e, sem enfado, muito pausadamente disse-me: - O seu azar, assim quase titubeando a verdade para não se ferir, o seu azar, notei a dificuldade de ir mais além; acenei-lhe assim-assim com o dedo indicador rodando, anda, desembucha! E, repete, o seu azar patrão… o seu azar foi ser um branco mazombo! E, foi!
Na diáspora, prometi a mim mesmo não me enganar continuando a ser eu próprio peneirando as opiniões, gerindo silêncios e, mesmo estando naquele então no exterior de Angola, fiz trabalho fiel por quem acreditava ser o futuro em Angola. Saí da UNITA mas, ela continuou comigo recordando grandes nomes com quem tive o privilégio de lidar como Carlos Morgado, Kalakata, Alcides Sakala, José Kachiungo Marcial Dachala ou Adalberto Júnior entre tantos outros. Savimbi, o líder, sempre será visto em um leque alargado que vai do génio ao monstro mas, a UNITA foi mesmo seu grande legado: o da liberdade…
Mas lá, às margens do Cuito, em Agosto de 76, Savimbi transmitiu ordens para que eles que ficaram na outra margem, se escondessem na mata; a travessia reiniciar-se-ia na noite seguinte. Foram lançadas granadas para dentro do rio para afastar os hipopótamos e, provavelmente, elas teriam sido ouvidas pelas patrulha inimigas. Ele temia que os cubanos e o MPLA estivessem na área no dia a seguir.
Na margem ocidental, Savimbi conduziu seu próprio grupo desmembrado através da anhara, deixando atrás de si rastos bem visíveis no capim, coberto de pó e geada. Aqui, de noite, as temperaturas baixam do zero graus; os soldados não tinham fardas para mudar as calças ensopadas em água gelada. Os únicos cobertores que cada um levava também estavam molhados, que para além de serem frios, estavam rasgados. Qualquer um de nós, fica por esta real descrição feito uma pedra de gelo.
Assim foi! Muitos estavam enregelados depois de terem passado o pântano com as inerentes dificuldades do rio e, de tal forma que mal podiam falar. «Estavam exaustos, mal alimentados e tinham as faces encovadas». Savimbi continuava a marchar entre a frente e a retaguarda da coluna, exortando o povo a seguir em frente, com coragem, em direcção à mata , onde teriam de chegar antes do nascer do sol. Deu ordens à sua ordenança para dar suas roupas de reserva aos soldados mas, seus oficiais superiores esconderam dele um conjunto completo para seu próprio uso.
Savimbi calculara que a marcha através da anhara demoraria cerca de meia hora. Em verdade, demorou três horas, dadas as condições de fraqueza da coluna. Cerca das seis horas e trinta minutos da manhã, quando o sol começou a despontar, estavam ainda a meio do capim, pelo que tiveram de reunir forças extras para correr até à mata cerrada. Mais tarde, nessa mesma manhã, dois helicópteros de fabrico soviético MI-8, chegaram ao local aonde fora feita a travessia do rio Cuito.
Pairaram a pouca altura do solo e, de cada um deles saltaram quinze a vinte militares cubanos. Felizmente, para a gente de Savimbi, o sol brilhava num céu sem nuvens, secando o gelo que anteriormente tornava bastante visíveis os rastos da UNITA através do capim. Era o dia três de Agosto de 1976 – Jonas Savimbi, um negro angolano, em tempo estudante de medicina na Universidade de Lisboa, licenciado pela Universidade de Lausanne, líder de guerrilha, sentava-se perto da margem esquerda do rio Cuito, no interior de Angola…
Estava-se no solstício de Inverno na África Austral, quando as temperaturas nocturnas descem abaixo de zero. Savimbi, acalentava em seus braços, um adolescente guerrilheiro que delirava, morrendo de frio e exaustão depois de ter sofrido no corpo a tortura de uma enregelante travessia do rio, que lhe tolhera os membros. Não poderia existir maneira mais deprimente de o líder dos guerrilheiros celebrar o seu 42º aniversário…
Nota: - “Transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3554 – 27.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Da singeleza de tudo, descrevendo o medo com vontade de viver, risco o anseio feito odisseia nas desventuras medonhas de um povo seguindo seu líder. É Savimbi que traça suas argutas, astutas de ladinas, premonições para alcançar a liberdade através da “Longa Marcha”. Atravessando rios, charcos e pântanos com sanguessugas e muitas bichezas rastejantes, risco também e, deste modo, o chão das savanas pisadas pela fuga.
Ungindo sem regras no linguajar, revolucionárias só no pensar, despromovo-me num sonho que ainda sobrevive. Nesta vanguarda estética em que as futilidades suplantam o óbvio, passados quase 48 anos, dizer que desgostei ou o inverso disto, não faz parte do meu adeus à estória que inexoravelmente continua… «Podia ter ordenado a todos que continuassem; porém, queria verificar se o piloto tinha conseguido enviar qualquer mensagem pela rádio», recorda ele – Savimbi.
«Se os cubanos não viessem, era certo que eles não sabiam onde tinha caído o helicóptero; neste caso, estávamos a salvo. Se eles viessem dentro de um curto espaço de tempo, então, é porque sabiam onde fora abatido o helicóptero e, nós saberíamos que eles estavam no nosso encalço com todos os meios de que dispunham, já amanhã». Ao fim de meia hora, os helicópteros chegaram e descobriram imediatamente, o local do desastre.
Sabendo que os helicópteros regressariam às primeiras luzes do dia a seguir, Savimbi ordenou uma rápida marcha nocturna em direcção a oeste. A densidade das matas dessa área dava vantagem aos guerrilheiros, mas estava demasiado escuro porque não havia luar. Por isso, Savimbi teve de ordenar uma paragem. Deu ordens a Ernesto Mulato que fosse à frente e dissesse à vanguarda das tropas para parar também e, assumir posições defensivas para a eventualidade de emboscadas.
A manada, cujo numero baixara para 12 cabeças, de um total inicial de sessenta, não avançou com os guerrilheiros para não se deixar um grande rasto. O boiadeiro, recebeu instruções para espalhar o gado numa frente ampla e, reunir-se mais tarde ao grupo de Savimbi. Após o descanso, Savimbi avançou com o grosso da coluna para se juntar à vanguarda. Mulato não estava lá e ninguém pareceu tê-lo visto. Savimbi ficou seriamente preocupado. Os cubanos poderiam chegar a qualquer momento e Mulato ficaria em perigo de ser capturado.
Isso era particularmente perigoso porque Savimbi tinha tomado a decisão apenas partilhada com N´Zau Puna, Chiwale e Mulato, de abandonar a ideia de adoptar o Muyé como zona ideal para um futuro acampamento-base , em vez disso, estabelecê-la na área do Cuelei, a oeste de Serpa Pinto. Se Mulato fosse capturado seria logico pensar que seria torturado e, pressupunha-se que, eventualmente revelaria o segredo.
Savimbi decidiu avançar mais par oeste: não haveria alteração dos planos durante quatro dias, altura em que se saberia, ao certo, se Mulato se perdera ou não. Os batedores informariam se estavam a ser largados cubanos na retaguarda. Se assim fosse, então Savimbi, teria de concluir que Mulato fora capturado, precisando de traçar planos inteiramente novos. Mais um dia de marcha trouxe a coluna principal para a mata, podendo dali avistar a anhara, bordejando as margens do Cuito.
Savimbi enviara um grupo avançado de três homens, em marcha muito rápida, para tentarem encontrar uma canoa que servisse para se fazer a travessia do rio com 400 metros de largura. Existiam problemas, informaram eles. Apenas tinham encontrado uma canoa que poderia levar três pessoas; isto significava na prática que apenas duas pessoas poderiam ser transportadas de cada vez.
Nas proximidades, a leste da margem do rio, existia uma área pantanosa profunda, com Ceca de 300 metros de extinção. Significaria também que o gado não poderia atravessar o rio… Savimbi ordenou que as doze cabeças fossem abatidas e cortadas em pedaços, de modo a que poessem ser transportadas. Estava-se no início de Agosto e, o gado fora a única fonte de alimento durante o último mês de Julho. As pessoas foram transportadas para a outra margem do rio Cuito durante toda a noite. Sucede que quando Savimbi ordenou uma paragem cerca das quatro horas da madrugada, muita gente do grupo estava ainda na margem leste.
Nota: - Com “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3553 – 23.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Lá nas matas do Moxico a “Longa Marcha com Savimbi”, prosseguia rumo a um futuro incerto, permanentemente atentos aos ruídos de helicópteros, escolhendo os melhores rumos de fuga. Quando a coluna se aproxima das margens do rio Gunde, um afluente do grande rio Cuito, todos se sentiram mais aliviados: o MPLA e os cubanos pareciam ter-lhes perdido o rasto e, não tinham avistado aviões desde o dia de partida.
Às margens do rio Gunde, tal como a maioria das margens dos rios angolanos, eram ladeados por anharas com capim de quatro metros de altura e, nalguns locais com 500 metros de extensão. Savimbi mandou parar a coluna na mata e enviou dez guerrilheiros através das faixas da anhara e, através do rio para se assegurar, que a margem ocidental era segura.
N´Zau Puna levou também consigo cinco homens através da anhara para a margem oriental a fim de encontrar qual o melhor ponto de passagem para a coluna. Foi quando se ouviu um helicóptero que se aproximava, vindo do sul. Savimbi ordenou de imediato a todos da coluna principal, para que se espalhassem sob as árvores. O grupo de N´Zau Puna começou a recuar da margem do rio para um pequeno grupo de árvores formando como que uma pequena ilha na anhara circundante e, a cerca de duzentos metros do Gunde.
Puna e dois dos seus homens conseguiram chegar às árvores antes do helicóptero pairar por cima de suas cabeças mas, os outros três estavam ainda em campo aberto. Foram localizados e, o helicóptero começou a metralhar a baixa altitude. Os três responderam com armas de fogo ligeiras, tiro tenso e, o helicóptero rodou descontrolado, caiu e explodiu a cerca de três quilómetros mais adiante.
Da sua posição na mata, Savimbi observou o percurso da queda do aparelho. Voou para além dos três guerrilheiros que estavam parados, parecendo dali mergulhar em direcção ao solo, ergueu-se de novo para, em seguida precipitar-se em terra. Savimbi calculou que o piloto teria mantido controlo do helicóptero até aos últimos instantes: por consequência; decerto teve o tempo suficiente para transmitir para a base, seu SOS.
Teria via rádio, dado a sua posição com outros breves detalhes sobre o que tinha acontecido. Dentro de pouco tempo outros helicópteros estariam no local. «Todos estavam confusos», recordou Savimbi anos mais tarde. «cada qual davam ordens separadas». “voltem para trás”, dizia Chiwale. “Ide para norte, ao longo da margem do rio”, dizia N´Zau Puna. Eu disse que devíamos seguir em frente, nunca recuar, e ordenei a imediata travessia do rio.
Tinhamos esperado encontrar uma pequena ponte de madeira para pedestres, tipo daquelas que são construídas pelos caçadores locais. Agora não havia tempo a perder. Disse às pessoas que atravessassem em qualquer lugar. «Mergulharam nas águas até o pescoço e, minha mulher, perdeu os sapatos no rio». Tendo atravessado o Gunde, a coluna de Savimbi agora com 350 pessoas, atingiu a mata mais densa a quilómetro e meio para além da anhara. Ordenou a todos que parassem um pouco, dentro dos limites da mata.
Todos nós vivemos em um país, é um facto! É a partir da singularidade legal de uma nação, suas características peculiares e sua identidade conforme a lei que surge o conceito de soberania. Os componentes desta grande marcha buscavam isso! Sua singularidade. Ter uma nação com símbolos próprios com os órgãos instituídos que representassem a sua Nação; com dificuldade, posso imaginar um tal acto de resiliência a pensar numa soberania, visar ter uma identidade naquele espaço no meio do nada, um manto verde onde e aonde, encontrar dois habitantes, já o é: um milagre…
Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3552 – 21.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Enquanto transcrevo a “Longa Marcha de Savimbi” na Luanda de então, a vida mantinha-se claustrofóbica, periclitante e sem saídas fáceis para a província; os corredores aéreos encontravam-se ameaçados. Iam abrindo lojas de kinguilas nos muros de quintais, o trânsito ia ficando já com algum parque automóvel moderno e caro, também muito mais caótico. O contraste da “cidade capital e o musseque” iam ficando entre o abandono e a deterioração com amontoados de chapas de zinco e placas ratadas de fibrocimento.
Ainda se podia visualizar entrelaçadas com velhas portas arrancadas de um qualquer armazém as aduelas de barris de vinho “Camilo Alves” idos do M´Puto e até latas espalmadas de azeite galo ou, latas das grandes de tinta pintal, com ripas de madeira das antigas caixas de sardinha ou atum importadas de Portimão do M´Puto. No centro da Luua as caixas de elevadores dos prédios mais antigos, iam ficando atulhados de lixo vasculhado por gatos e ratos com o mau cheiro inerente…
As ruas da baixa da Luua iam ficavam envoltas em nuvens de fumo com cheiro intenso de gasóleo queimado saído dos escapes de geradores construídos a partir de velhos motores de GMCês, Magiros e Fordes e outras ainda não seleccionados pelos cubanos para levar para Cuba; assim, património como coisas de “tecnologia de ponta”, assim consideradas lá na ilha – troféus de guerra para o Fidel. Esta guerra de Angola que nos era servida, não se diferenciava das atrocidades do Corno de África ou das escaramuças do Iraque.
Mas, lá nas matas do Moxico a “Longa Marcha” continuava com seu líder – o melhor chefe de guerrilha em África. Enquanto Savimbi instruía seus oficiais, o condutor de gado reapareceu como por milagre com a manada de rezes. Savimbi, mandou-o directamente em direcção a sudoeste, caminho que ele pensava seguir com a sua própria coluna. Quando tudo ficou pronto, Savimbi ordenou às colunas de Samalambo e Chimbijika que partissem: a primeira para nordeste e a segunda para noroeste.
Cerca de quatro horas e trinta minutos da manhã, ambas as colunas e toda a gente da coluna de Savimbi, excepto o próprio Savimbi e os cinquenta homens que constituíam a sua retaguarda, tinham partido; a seguir, ele ordenou à retaguarda que também partisse. A coluna de Savimbi não parou de andar até às três horas e trinta minutos da tarde para um descanso, mas já ao romper de um novo dia, os caminhantes ouviram explosões e tiroteio na direcção do local de onde tinham descansado na mata.
Os batedores disseram que os cubanos tinham sobrevoado o local, fazendo disparos de metralhadora dos helicópteros. Decididamente, mais tarde os cubanos informaram dirigirem as suas buscas em direcção às colunas de engodo. O resultado do desencontro com o MPLA e os cubanos, resultou no desmembrar a coluna original de Savimbi em cinco grupos. As crianças, as mulheres e a sua escolta de guerrilheiros permaneceram sem o serem detectados ou molestados durante várias semanas, na que ficou sendo a “aldeia segura” porque nunca o foi visitada por tropas inimigas.
O grupo de Chivinga formada por cinquenta pessoas, manteve imobilizadas as tropas do MPLA, precisamente a norte de Chissima; durante várias horas e, até Chivinga ter sido ferido numa coxa: Em consequência disso dispensaram levando o comandante mas, não conseguiram reunir-se às colunas principais, nem mesmo com a coluna das crianças e mulheres. Só meses depois é que Savimbi recebeu mensagens de que as mulheres, as crenças e Chivinga com seus homens, estavam a salvo.
Quanto ao major Samalambo e ao capitão Chimbijika, estes, conduziram as suas colunas de forma segura para longe do perigo. Durante uma semana, a coluna de Savimbi não enfrentou problemas, excepto quando da travessia atribulada do rio Cuanavale: aí, eles tiveram de derrubar várias árvores para construir uma jangada que os ajudou a atravessar o canal de águas profundas. Isto, deixou-os expostos em campo aberto, durante algumas horas, mas o inimigo não apareceu. Aqui chegados direi (do relator): que a logística do MPLA já nesta fase, alegava ser o dono da história seguindo subserviente à mentirosa versão russa. Isto iria continuar sem se vislumbrar um sine die, com revolta musculada de todo o mundo democrático ocidental – eternas fragilidades das democracias…
Nota: - Com “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3551 – 18.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Entretanto recorda-se (Via Wikipédia): O Presidente da Guiné-Conacri, Ahmed Sékou Touré, foi quem fez a proposição de reconhecimento da RPA na reunião da Organização da Unidade Africana (OUA) de 10 de janeiro de 1976 em Adis Abeba. A 11 de Fevereiro de 1976, a OUA, então presidida pelo Presidente do Uganda Idi Amin Dada, reconheceu a RPA como legítimo governo de Angola, aceitando-o como o 47º. membro da organização.
O General Kamalata Numa da UNITA anos mais tarde em resposta a uma pergunta esclarece ter havido actuação de tropas congolesas ao lado das tropas ditas regulares do MPLA: - É verdade! À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola…
Continuando com a descrição do que foi a grande marcha de Savimbi e, ainda muito longe do seu termo, a coberto da escuridão, Savimbi dividiu em três grupos inteiramente novos, os seus próprios seguidores, os de Samalambo e os do capitão Chimbijika, que os oficiais de Savimbi descobriram ter montado uma base da UNITA com 100 guerrilheiros. Cada um dos grupos partiria durante a noite em direcções diferentes.
Esperavam iludir os pisteiros do MPLA, levando-os a acreditar de que a maior coluna, a de Samalambo, era a que protegia o líder Saviambi. Os três grupos tomaram o rumo das matas mais densas, afastados tanto quanto possível das margens dos rios, estradas e povoações. Os oficiais de Savimbi observaram que os cubanos patrulhavam regularmente ao longo do curso dos rios e das estradas, na sua busca pelos homens da UNITA. Aventuravam-se pouco nas zonas de matas que se estendiam pelas áreas rurais e, com as quais, só os guerrilheiros da UNITA estavam familiarizados.
Às primeiras horas da noite, homens e equipamentos movimentaram-se para cá e para lá, entre os três grupos, através dos muxitos das matas. Savimbi transferiu o seu rádio e operador para Samalambo, que poderia vir a precisar mais deles: ele deveria dirigir-se a uma área sob muito maior controlo por parte do inimigo e estabelecer uma base da UNITA perto do Caminho de Ferro de Benguela.
Savimbi disse aos seus guerrilheiros que dormissem, porém, passou a noite a dar instruções aos oficiais superiores das três colunas. Ele disse: «Como homens do exército, poderiam querer desesperadamente combater o inimigo. Em vez disso, porém, tinham de com firmeza e depressa actuarem, afastando-se do problema». Para conseguirem o que se propunha, teriam de conciliar a necessidade de uma rigorosa obediência por parte de seus homens, com a capacidade de lhes demonstra compreensão numa situação de desespero.
Foi bem peremptório ao dizer-lhes que existiam razões de sobra para terem esperança. O inimigo mostrava que a sua estratégia era fraca. Estavam a actuar como estranhos: Não conheciam o terreno nem tinham o apoio da população, pois, de outra forma, nessa altura já Savimbi teria sido capturado. Estava bem claro, agora, para os oficiais, que a população estava com a UNITA. E Savimbi disse-nos: «Se o povo não desiste, porque razão desistiria eu?».
Nesse mesmo ano, após um veto por parte dos Estados Unidos, a Assembleia Geral das Nações Unidas admitiria Angola como membro 146º, em 1 de dezembro de 1976. Mesmo reconhecendo a independência angolana deste 10 de Novembro de 1975, o Governo Português somente reconheceu a autoridade do MPLA, sob o comando do Presidente de Angola Agostinho Neto a 22 de dezembro de 1976.
Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3550 – 16.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
( Na mata…) Ao Longo da Caminhada Surge a Senhora Vinona que pressentia que a qualquer momento a caravana da UNITA poderia ser atacada não escondendo seu pensamento. «Sinto que vamos ser atacados», disse ela a Savimbi. A voz de Vinona não era uma voz que se pudesse ignorar. Era uma mulher decidida, de poucas palavras, capaz de mobilizar e disciplinar outras mulheres com o seu exemplo. «Savimbi, porém, não lhe concedia privilégios especiais nem se dirigia de maneira diferente à própria mulher. Ela era apenas uma pessoa mais, na coluna».
Savimbi chamou N'Zau Puna e Chiwale e falou-lhes sobre o aviso que Vinona lhe fizera. Savimbi não ignorou completamente aqueles pressentimentos: «É verdade, quando se está há muito tempo numa guerra de guerrilha desenvolve-se um discernimento instintivo, um sentimento de que, vai ou não haver um ataque».
Não obstante, Vinona insistiu que tencionava partir e juntar-se aos filhos, enquanto os pais chegavam da sua aldeia natal para saudarem a filha e o genro. Vinona pediu a Savimbi para vir falar-lhes, antes de regressarem a casa. Savimbi mal tivera tempo de dizer adeus aos sogros, quando Chivinga voltou para trás a correr, com notícias de que tinham sofrido uma emboscada, por parte das tropas do MPLA, justamente a norte de Chissimba.
Fora capturado um guerrilheiro da UNITA e era virtualmente certo admitir por parte da força conjunta MPLA/cubanos, que Savimbi estaria por perto. «Dificilmente acreditei que fosse possível a presença do MPLA», afirmou Savimbi. «Todavia, a minha mulher tinha tido razão na sua insistência por isso, dei imediatamente ordens para partir». A coluna mal podia dirigir-se para sul, na direcção do local da emboscada.
Não ousavam voltar para norte e qualquer retirada em direcção a leste estava bloqueada Quembo. Só lhes restava tomar o rumo oeste, atravessando uma vasta área de cultivo com dois quilómetros de extensão, zona desbastada de árvores. Savimbi reforçou o grupo de Chivinga elevando-a para cinquenta homens enviando-o rumo ao sul para Chissimba de modo a aguentar o MPLA, enquanto fosse possível. Cerca de meia hora depois de Chivinga ter partido, começou a cair fogo de morteiros e rochets no local aonde Savimbi se encontrava.
Por via disto, Savimbi ordenou ao seu grupo que também partisse. Apenas tinham travessado a área cultivada e atingido a mata quando, à distância, apareceram dois helicópteros. «Assumi pessoalmente o comando porque compreendi que estávamos perante uma situação muito grave», disse ele. Mandei que todos se deitassem no chão. Disse que ninguém mais daria ordens, fosse em que circunstâncias fosse, nem mesmo N´Zau Puna ou Chiwale. Não queria confusões».
Havia um posto avançado de guerrilheiros da UNITA acerca de dois quilómetros para Norte do local onde estavam escondidos e aonde Savimbi queria chegar. Eram necessários suprimentos de comida para a fuga e, ele, estava agora a planear com base em informações recentes trazidas por mensageiros: No posto avançado, tinham reunido grandes stocks de carne seca de antílope. Savimbi conduziu o seu grupo mais para o interior da mata e mandou oficiais com instruções para o comandante do posto avançado, major Samalambo.
Quando descansava durante o dia, o povo de Savimbi avistou helicópteros movimentando-se de Chissima em direcção à posição de Samalambo e já quase ao anoitecer, chegaram noticias alarmantes. Um mensageiro de entre os oficiais que tinham sido enviados até Samalambo, disse que um helicóptero o tinha sobrevoado, quando se deslocavam em terreno aberto: estavam certos de terem sido localizados. Não havia tempo a perder. A estratégia delineada para confundir o MPLA e os cubanos, tinha de estar concluída ainda antes da noite acabar…
Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3548 – 11.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Continuando a descrição de Fred Bridgland, a coluna de Savimbi parou, de noite, durante um curto espaço de tempo na pequena povoação de Lucusse, a 135 quilómetros de distância do Luso. Como a estrada para Gago Coutinho era também a estrada para a Zâmbia, Savimbi ficou preocupado com o facto de muitas pessoas poderem pensar que estava a abandonar Angola, a caminho do exílio. «A população estava em pânico».
Fiquei atónito ao verificar como o Presidente lhes conseguia transmitir a sua confiança e organizar uma evacuação calma. «Disse-lhes que não ia deixar Angola e que ia para as matas continuar a combater». Savimbi chegou a Gago Coutinho na tarde do dia 11 de Fevereiro, depois de ter atravessado cerca de doze grandes afluentes do rio Zambeze, que corria para leste. Até ser obrigado pelos cubanos a sair dali, um mês mais tarde, Savimbi utilizou o tempo que passou em Gago Coutinho para se reorganizar.
Mandou soldados voltar para trás, na direcção do Luso, para destruírem todas as pontes de estrada, mas com ordem para deixarem cada uma delas intacta até ao último instante possível, antes de os cubanos avançarem. A população local, em fuga para o Sul, tinha de ter tempo suficiente para atravessar os rios. O dia 13 de Março de 1976 marcou o décimo aniversário da fundação oficial da UNITA.
A população começou a reunir-se no campo de futebol da Escola, em Gago Coutinho, para assistir a uma parada e ouvir um discurso comemorativo proferido por Savimbi que, ao pequeno-almoço, dissera aos seus ajudantes mais antigos que a localidade seria eventualmente bombardeada e que, em consequência disso, eles deveriam preparar-se para dar inicio à evacuação.
Às 10 horas da manhã desse mesmo dia, pouco tempo depois de terem terminado as celebrações do aniversário, os caças MIG-21 atacaram. No primeiro ataque, três aviões bombardearam e metralharam a última ponte do rio que ainda estava intacta, 35 quilómetros a norte de Gago Coutinho. Alguns dos guerrilheiros que estavam de guarda à ponte sobre o rio Luanguinga foram mortos e outros ficaram feridos. O segundo ataque dos MIG foi contra o campo de aviação de Gago Coutinho.
Um pouco antes do pôr-do-sol, os dois aviões MIG sobreviventes voltaram a bombardear as casas de Gago Coutinho. Ninguém ficou ferido, mas Savimbi ordenou os preparativos para uma evacuação completa no dia seguinte, 14 de Março. Ao nascer do sol do dia 14 de Março, uma coluna da UNITA, agora formada por 4.000 guerrilheiros e civis, iniciou a caminhada, abandonando Gago Coutinho.
Embora a segurança da fronteira zambiana se situasse apenas a 70 quilómetros para leste, o povo de Savimbi tomou o rumo do oeste, em direcção ao interior de Angola. A evacuação continuou durante todo o dia: os peritos em explosivos ficaram para trás, para dinamitar alguns edifícios-chave. Savimbi levou consigo três camiões e cinco carros.
Os caças MIG desviavam agora a sua atenção, metralhando a coluna. Os condutores dos veículos mantinham as portas dos carros abertas, à medida que avançavam lentamente, e, sempre que ouviam o ruído dos aviões, levavam os carros para a sombra das matas que ladeavam a estrada. Depois de os MIG voltarem à base, os condutores voltavam à estrada, com os veículos grosseiramente camuflados com ramos de árvores, para se distanciarem suficientemente antes do próximo ataque.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3546 – 04.02.2024
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “O 11 de Novembro de 1975 em Luanda”
- Escritos boligrafados da minha mochila aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Via Wikipédia:
Cerca de 12 horas da tarde de 10 de novembro de 1975, o Alto-Comissário português, Almirante Leonel Cardoso, realizou uma cerimônia solene no salão nobre do Palácio do Governador, onde declarou o fim da administração portuguesa e "entregava a soberania ao Povo Angolano". A passagem da soberania não teve um destinatário, facto que inclusive deu margem para a continuação da Guerra Civil Angolana…
O Alto-Comissário e os membros de seu gabinete retiraram-se do Palácio com destino à Fortaleza de São Miguel de Luanda, onde foi arreada a "última bandeira portuguesa em solo angolano". O Alto-Comissário, seu gabinete e o Comando Militar dirigiram-se para a Base Naval de Luanda, onde embarcaram nos navios "Niassa" e "Uíje", marcando o encerramento definitivo da colonização portuguesa.
Na proclamação de independência o controle de Angola estava dividido pelos três maiores grupos nacionalistas — União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), pelo que a independência foi proclamada unilateralmente, pelos três movimentos em três diferentes lugares.
Proclamação oficial… O MPLA, que acabara de garantir o controle de Luanda, proclamou a Independência da República Popular de Angola (RPA) às 23h de 11 de novembro de 1975 no Largo da Independência (ou Primeiro de Maio), pela voz de Agostinho Neto dizendo, "diante de África e do mundo proclamo a Independência de Angola”, culminando assim o périplo independentista, iniciado no dia 4 de fevereiro de 1961, com a luta de libertação nacional, estabelecendo o governo em Luanda.
Coube a Lúcio Lara, o presidente do "Conselho Revolucionário do Povo" (actual Assembleia Nacional), investir Neto no cargo de Presidente da República Popular de Angola no dia 12 de novembro de 1975, quando era cerca de meio-dia, numa cerimónia que teve lugar na Câmara Municipal de Luanda (actual Governo da Província de Luanda). Foi investido no dia 12 com efeitos retroativos ao dia 11, dado que já era o líder do processo revolucionário de independência.
O Presidente Neto, relativamente a Portugal, afirmava que a luta do movimento que liderava não era contra os portugueses: "Que pelo contrário, a partir de agora, poderemos cimentar ligações fraternas entre os dois povos". O Conselho Revolucionário do Povo aprovou, em sessão conjunta com o Comité Central do MPLA, o hino nacional…
A bandeira e o emblema, bem como a Constituição Angolana de 1975, foi promulgada por Lara no mesmo acto solene de proclamação da independência. O Conselho Revolucionário do Povo aprovou, em seguida, a Lei da Nacionalidade em 1975. A República Popular de Angola é admitida na ONU e reconhecida por vários países. Portugal seria o 88º membro a reconhecê-la formalmente a 22 de Fevereiro de 1996
Mesmo sendo um dos intervenientes na batalha de Kifangondo ao lado da FNLA, com um total de 12 especialistas militares, o Brasil rapidamente abandonou a batalha e, o presidente general Ernesto Geisel decidiu reconhecer em 6 de Novembro de 1975, o MPLA como legítimo representante do povo angolano com as tropas das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) que defendiam Luanda comandadas por Agostinho Neto, estabelecendo relações diplomáticas com a nova República que se instalara unilateralmente. O Brasil fez isso antes mesmo de qualquer país do bloco socialista (cinco dias antes da proclamação a 11 d Novembro)…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3540 -18.01.2024
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
A CARAVANA.1 - Escritos boligrafados da minha mochila
- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Em Outubro de 1975, no dia 23, militares sul-africanos praticam a primeira invasão de Angola, dominando uma faixa ao longo da fronteira com a Namíbia, de modo a travar os movimentos das tropas da SWAPO, então apiadas por Luanda. A Organização de Unidade Africana tenta desesperadamente a reconciliação, enviando a Luanda uma missão que propõe um governo de unidade nacional.
Com o apoio dos seus respectivos aliados (via Wikipédia) o MPLA, a UNITA e o FNLA dão início a uma guerra civil que durará de 1975 até 2002. O principal confronto será entre o MPLA, apoiado pela União Soviética e por Cuba, e a UNITA, na zona sudoeste de Angola; as forças do FNLA encontravam-se inseridas no exército da África do Sul.
Nesta parte final que medeia entre a Ponte Luualix e o 11 de Novembro terei de descrever uma crónica maravilhosa para os meus amigos de Angola, especialmente para os que fizeram a CARAVANA de fuga pelo deserto até à África do Sul.
Já sentiu saudade de sua terra, senhor? “É uma coisa que brota na fundura do peito, percorre bem devagar a pele, arrepia os pelos dos braços, bambeia as pernas. Garra de unhas pontudas, pega o coração da gente e espreme lentamente". Pingam gotas vermelhas que abrem uns vazios na alma dos homens. Houve um tempo em que eu não sabia o que era saudade de casa.
É Sónia que conta sua própria lenda: Nasci numa cidade do sul de Angola, Nova Lisboa. Hoje ela se chama Huambo. Era o dia 2 de abril de 1958 e minha mãe tinha 16 anos. Solteira. Meu avô não queria que eu nascesse, não. Minha mãe bateu o pé e foi enfiada num convento para que eu nascesse lá. Depois eu seria dada para adopção. Minha mãe bateu o pé de novo: agarrou-se a mim – sua carne, seu sangue.
Fiquei. Até completar um ano, vivi entre os hábitos das freiras, ninada pelo som das orações, dos cânticos, dos sinos, filha das Ave-Marias, das Salve-Rainhas, dos Pai-Nossos sentidos.Talvez minha mãe tenha rezado muito, não sei. Talvez os santinhos que me viram chegar ao mundo tenham adoçado o coração de meu avô. O certo é que de repente ele se viu apaixonado por mim. Veio nos buscar.
O que sei sobre essa época é o que minha mãe contou. Eu mesma de nada lembro. O que ela conta é que eu e meu avô não nos separávamos. Alto, de cabelos grisalhos e sorriso largo, ele me carregava nos ombros pra todo lugar e me mimava, me ensinava a ser respondona, não permitia que a mãe me castigasse.
Só ficamos na casa dele até eu completar três anos. Mamãe não tolerava a “madrinha”. A bem da verdade, não era madrinha – era madrasta. Minha avó morreu quatro anos antes do meu nascimento. Assassinada. Estava na cozinha e um homem chegou. Disse estar com fome, pedia comida. Minha avó se compadeceu: sabia dos sofrimentos dos homens negros em Angola. Mandou-o entrar e sentar-se à mesa. Enquanto servia o prato, o homem se levantou. Como uma pantera, veio por trás e a estrangulou. Minha mãe e meus tios menores estavam no quintal, brincando. Nada viram. Ficou a lição de que algumas criaturas – não importam a cor da pele – são diabos. Ah, se são…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3539 – 18.01.2024
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila - Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Naquele dia sete de Agosto, pelas dez horas da noite eu e família, dois filhos, mulher e sogra embarcávamos no vôo 7 da “ponte LUUALIX” como desalojados via LISBOA. Recordando vivências recentes, tinha recebido a minha dose em Kaluquembe; meu carro, um Renault Major, tinha sido sabotado no dia anterior indo eu a caminho do Sul - Namacunde aonde tinha um cunhado; em verdade preparava a fuga de Angola…
O General Kamalata Numa da UNITA, mais tarde, relembra: No dia 8 de Agosto de 75, a UNITA em Luanda, teve de evacuar todos os seus ministros do Governo de Transição. Já se tinha dado o genocídio da UNITA no Pica-pau com o assassínio total de todos os seus ocupantes; todas as precauções estavam na forja da acção.
A perseguição continua até 17 de Agosto de 1975, obrigando todos os dirigentes, demais elementos e simpatizantes Umbundos a fugir para onde quer que fosse para se manterem vivos. Em verdade, quem instalou a lógica da guerra foi o MPLA com a supervisão, beneplácita oferta de material bélico e logística do MFA, dos portugueses …
Em meados de Outubro, o terminal aéreo de Nova Lisboa (Huambo) encerrava, e Luanda passou a receber entre quinze a vinte aviões por dia. Os meios aéreos para fazer chegar a Luanda os refugiados do Lobito, Benguela e Moçâmedes, sendo insuficientes, o Comando Naval arranjou meios marítimos para fazer chegar a Luanda os cerca de 250 mil cidadãos brancos (maioritariamente) mas, tendo também milhares de mestiços e negros; enfim! Seguiam todos aqueles que o desejassem!
O General Kamalata Numa já citado, ainda relembra na primeira pessoa: -Em verdade, o Relatório Final da Comissão de Peritos estabelecido conforme a Resolução 780 do Conselho de Segurança das Nações Unidas definiu a limpeza étnica como sendo: “Uma política propositadamente concebida por um grupo étnico ou religioso, para remover a população civil de outro grupo étnico de uma determinada área geográfica, através de meios violentos ou que inspirem terror”.
Continuando com o General Numa: - Pois foi isto que aconteceu com Umbundos e Brancos… As evidências e as provas de crime são tantas que, não restam dúvidas de que a descolonização da África Portuguesa foi uma limpeza étnica da população branca, Quiocos e Umbundos, promovida pela União Soviética com o total apoio dos partidos da esquerda portuguesa: - PCP e PS.
A finalizar um momento, o General Numa da UNITA refere: - Luanda ficou entregue a gente impreparada, gente racista como Lúcio Lara entre muitos outros e “miúdos pioneiros” que faziam querer tomar o controlo de tudo… Para o MPLA, era incontestavelmente seu líder Agostinho Neto, um sofrivel poeta com formação universitária em Coimbra – O homem escolhido pelos generais e afins do MFA (dizem agora, ter sido o menos mau!). O MPLA fica assim dono e senhor da capital - Luanda.
Pois assim foi. Portugal, tomou logo partido pelo MPLA pois que já antes deste acordo, se tinham reunido em Argel para consertar os procedimentos a que viemos a assistir. As consequências são por demais conhecidas e, assiste-se a uma permanente campanha de imunda falsidade da história com branqueamento de crimes com o apoio da pseudo “elite de Abril”, infiltrada nas escolas, universidade, fundações e observatórios, em quase todos os meios de comunicação de massas e até na figura principal do Estado Português.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3532 – 22.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Ainda sobre a tese de Pesarat Correia – Nesse quadro qual era o papel de Portugal? – Portugal ia diminuindo a sua presença militar em Angola, no cumprimento dos Acordos do Alvor, acção que devia ser compensada com os movimentos de libertação a contribuirem para a formação de uma força militar mista.
Ora, os movimentos de libertação (destaque para o MPLA, o grande infractor…) em vez de procederem nos termos acordados em Alvor participando nessa força, armaram-se constituindo exércitos partidários e entraram em guerra civil, com apoios externos, perante a impotência de Portugal.
Já próximo ao 11 de Novembro, o Zaire via USA entra pelo norte em apoio da FNLA; depois a Sul, a África do Sul ao lado da UNITA e mais tarde Cuba a apoiar o MPLA – O Acordo do Alvor foi rasgado pelas partes…(fim de citação de Pesarat Correia).
Quanto ao "Documento dos Nove" foi em verdade, a primeira demonstração publica de divergências no seio do MFA e a marcação de uma posição clara contra a tentativa de tomada de poder pelo PCP “o caminho que as coisas estavam a tomar, isto é, o caminho de levar Portugal a tornar-se um país cada vez mais próximo do modelo soviético”.
Aquele "Documento dos Nove", defendia um entendimento à esquerda, do qual o PCP não estava à partida excluído, desde que colocasse de lado os seus intentos hegemónicos, de forma a “conduzir o país na ordem democrática e na ordem económica e social”. Para terminar com essa tal de tese de Pesarat Correia refiro o que diz em seu final: “A participação de Portugal na descolonização nas colónias de África foi a que tinha de ser feita” - Esta foi a frase de Melo Antunes que acompanho, diz Pesarat Correia. Nunca tão poucos decidiram por tantos na passividade e anuência de um povo do M´Puto gerido por um rolha e um louco - Costa Gomes e Vasco Gonçalves…
E, pude assim ver-me no mato de Angola, quando uma delegação do MFA foi ao Lungué Bungo em 15 de Junho de 1974 negociar a cessação das hostilidades com a UNITA; Foi aqui que Portugal reconheceu a UNITA como movimento de libertação. E pude visulizar Savimbi a defender a transição de Angola para a sua independência em sete anos e dizendo preto no branco que angola não dispunha de quadros e, nem os movimentos estavam preparados para governar a curto prazo.
O nosso entre aspas, presidente Rolha Costa Gomes referiu então que: “Se fossem cinco já ficava contente. Até dois anos seria tão bom!”. Afinal quem prevaricou no pensamento? O matumbo pré-mwata da mata ou o Sua Excelência, o Rolha Presidente do M´Puto! Hoje tudo, mesmo tudo, pode virar verdade num milionésimo de segundo e logologo virar uma descarada mentira! Eu, T´Chingange, sempre o disse: é muito perigoso pensar!...
Mas, e, então aonde ficam os dez mandamentos!? Nós ficamos só assim, feitos sementes; numa obra dum acaso iludido assim como um imbondeiro de raízes ao ar. Sem nunca ter interpretado as intermitências da morte ou separação de duas febres sem arco-íris. Arco que por linhas tortas me é explicado por Deus, num espesso nevoeiro e aos soluços! Sempre! Bem que tudo o podia ser, bem mais claro, sem ter que puxar pela minha cachimónia de fundir a cuca!
Usukula mundué ú hima kujibha nzapá... Tradução: lavar a cabeça ao macaco é desperdiçar sabão! Mensagem: Por mais conselho que se dê ao tolo, jamais chegará a sábio! Aiué…
(Continua…)
O Soba T´Chingange - (Otchingandji)
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3531 – 20.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Convém agora relembrar o que alguns notáveis do M´Puto afirmaram em seu tempo, já após os acontecimentos no qual tomaram parte - Nos escritos de Pesarat Correia em Histórias de Abril pode ler-se: Sem o 25 de Abril Portugal teria falhado o seu encontro com a descolonização. No livro editado pela BKC – Book Cover Editora, Lda pôde confirmar que “até julho de 1974”, a guerra não só prosseguia morna como se suavizava em alguns teatros de operações.
Só a UNITA aceitou negociar nas condições inicialmente propostas por Portugal. Acresce, que os movimentos de libertação eram apoiados pela ONU e OUA nas exigências que faziam a Portugal. Assim, só com a “Lei n.º 7/74 Portugal reconhece o direito das colónias à autodeterminação e independência.” – Portanto, é a lei n.º 7/74 que conduz, digamos assim, às negociações para o acordo de cessar-fogo e, mais tarde, às transferências de soberanias.
- O MFA e os militares estiveram sempre na liderança do processo que, evidentemente, contou com a participação de civis, nomeadamente, Almeida Santos e Mário Soares, em virtude das funções políticas que ambos desempenhavam. Os dois tiverem papéis importantes inseridos num contexto geral que era “determinado por militares”.
– Os membros da Junta de Salvação Nacional e todos os militares que, no seu conjunto, representavam uma emanação do MFA; a Comissão Coordenadora do MFA que tinha uma força política determinante; o primeiro-ministro Vasco Gonçalves, o ministro sem pasta e depois dos Negócios Estrangeiros que passou a ser Melo Antunes; e ministros e secretários de Estado com influência decisiva, caso de Vítor Crespo que foi o primeiro ministro da Cooperação.
– Quem teve a maior importância nas transferências de poderes em Angola foi Melo Antunes - primeiro como ministro sem Pasta, depois como ministro dos Negócios Estrangeiros. – Na altura da transferência de poderes do colonizador para os representantes das antigas colónias que então se tornaram novas nações, meio milhão de portugueses regressou à “Metrópole”, número onde se destacam os oriundos de Angola que representam 61 por cento desse universo.
Em sua tese, Pesarat Correia diz que Portugal foi ultrapassado e não teve capacidade para evitar a derrapagem do processo. Via Wikipédia pude saber do surgimento do Grupo dos Nove, um grupo de oficiais liderados por Melo Antunes pertencente ao MFA de tendência moderada. Publicaram em 7 de Agosto de 1975 um documento que ficou conhecido como "Documento dos Nove". Em realidade Rosa Coutinho e Otelo Saraiva de Carvalho do PREC, já tinham deteminado tudo; pintaram e bordaram como bem o quizeram. Tudo a contento emudecido dos ilustres camaradas da Abrilada e Costa Gomes, o presidente Rolha mancumunado com Castro de Cuba e Cunhal do PC da URSS... O homem do pingalin, botas de cano alto, luvas pretas e monóculo da banga de nome Spinola, já era carta fora do baralho...
Este documento tinha em vista a clarificação de posições políticas e ideológicas opondo-se às teses políticas do documento "Aliança Povo/MFA”, apresentado a 8 de Julho de 1975. Os nove conselheiros da revolução foram: Melo Antunes, Vasco Lourenço, Pedro de Pezarat Correia, Manuel Franco Charais, Canto e Castro, Costa Neves, Sousa e Castro, Vítor Alves e Vitor Crespo.
Os pressupostos do Acordo do Alvor nunca foram cumpridos, a guerra civil instalou-se e foi agravada ainda por interferências externas. Com os EUA muito presentes no terreno e a URSS a apoiar a intervenção cubana, contribuiu para que a guerra civil se reacendesse mais intensamente e arrastasse as intervenções externas. Por motivos desvirtuantes ao processo, o MPLA foi tendo a preponderância consentida e auxiliada pelas NT (digo eu) acabando por retirar do processo os outros dois movimentos: UNITA e FNLA…
(Continua…)
O Soba T´Chingange - (Otchingandji)
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3530 – 18.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Em Luanda, a partir de certa altura eram os proprietários dos haveres que faziam a estiva de suas coisas, seus haveres e carro entre outros… As minhas, saídas da Caála, não chegaram a passar para além do crivo de balas em Ganda que impediram sua chegada ao porto do Lobito! Adeus fotos, adeus relíquias, adeus pertences e madeixas de cabelos dos filhos, recordações de uma vida!
Terei de dizer isto muitas vezes para que alguém com tino refaça a verdade e nos peça desculpas, Portugal e Angola, claro! Evidentemente que vou esperar sentado; não vejo um qualquer governante ter essa nobre postura! Ainda tive alguma esperança quando Marcelo do M´Puto chegou ao poleiro mas, desencantei-me. Eles lá no topo, só serão estadistas a sério quando nos pedirem desculpas… até ver, os ávidos ao poder, os ambiciosos, sobressaem na maioria…
Há muita gente amiga a considerar-me saudosista porque sempre desenterro o passado, mas quanto mais olho para o posfácio do futuro mais me interiorizo no tempo imaginário de direcções indistinguíveis no espaço, visto do meu postigo. Um copo quando cai e se parte, estilhaça-se em canecos; daqui saem para ser reciclados feitos vidro ou simplesmente deitados ao lixo.
Se andarmos segundos para trás, verse-a o copo ainda inteiro a cair e um pouco antes, ele estará de novo inteiro pronto a ser usado, cheio, vazado, cheio de novo e despejado repetidas vezes e, por aí… até que de novo volte às caldeiras da usina e, feito fogo liquefaz-se, o que ainda antes só era uns grãos de areia, sílica. Pois assim seremos também, pó!
Mas, desconhecendo o que está por acontecer, será como um filme ao retrocedermos as imagens de nossas vidas, trinta, quarenta ou cinquenta anos lá para trás! Em câmara lenta consegue ver-se o ínfimo pormenor. E, a vida surge-nos num truque no espaço-tempo imaginário calculado nas respostas de estórias. Falas somando eventos com mentiras bidimensionais, manobras de diversão tridimensionais; falas que em seu tempo muito mal nos fizeram neste universo observável!
Quando isso me sucede caio em mim dizendo na primeiríssima pessoa: - Não sou mesmo nada! Não pude desfazer ou adivinhar o futuro imediato de meses e anos, muitos anos; fui sempre um ponto no traço da própria virgula mal metida num texto aonde me encaixaram para compor um ramalhete de família, de bairro, de nação! E, chamaram-me de colono e colonialista mais muitas coisas para justificar a matumbice de suas cabeças retorcidas!
Fizeram de nós gatos-sapatos; sapatos quedes da macambira ou chinelo de pé, pneu vulcanizado de marca michelin. Também dum qualquer pneu ainda com rasto de picada, com rascunhos de asa de salalé pisoteado; e fiquei assim mesmo desclassificado Niassalês matrindindi de nação sem escolha! Porra… o tonito da maianga, da Dona Arminda gweta da Luua nunca chegou a general – nem no sonho!...
Só mesmo atirador de primeira com mauser, G3 e bazuca mais fisgas do M´Puto kandengue com seus manos do Rio Seco da Maianga da Luua, uma mulola que classificamos como nossa Universidade. E dali, saímos como katedráticos inaproveitados. Se ali estivéssemos juro mesmo sangue de cristo na terra de N´Gola, a coisa estaria muito para melhor. Depois só fui mesmo brigadeiro dos caminhos-de-ferro desenhando muito mais de dez mil quilómetros de curvas de nível no rio kwanza acima, no Luinha a jusante e muitas linhas de água que nem os guerrilheiros fantasmas do MPLA conheceram.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3529 – 16.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Os meios aéreos para fazer chegar a Luanda os refugiados do Lobito, Benguela e Moçâmedes, sendo insuficientes, o Comando Naval arranjou meios marítimos para fazer chegar a Luanda os cerca de 250 mil cidadãos brancos (maioritariamente) mas, tendo também milhares de mestiços e negros; enfim! Seguiam todos aqueles que o desejassem!
Na vinda ou ida dos refugiados de um para outro lado (como kissondes) mas e, principalmente para os lugares de embarque da Luua, praticamente não havia triagem; o controlo era precário. Nunca pude entender esta falta de cuidado na logística das coisas. Não havia tempo para decidir de quem estava ou não nas condições de perseguido, refugiado ou o que quer que fosse.
Não importava ser-se quem era e de onde vinha ou do porquê de estar ali. Era tudo ao monte e fé em Deus num sofrível seja o que Deus quiser, aos magotes com o natural berreiro e choros de adultos e crianças, ordens e contra ordens desencontradas ou nem tanto. Cães, gatos e outros animais de estimação foram largados ao descaso como heresia apócrifa!
Era mesmo um Adeus dado aos trambolhões às coisas, à casa, ao carro chevrolette, ao motor da GMC a fazer de gerador, dos gansos guardadores, mais o pavão e as galinhas fracas debicando miudesas debaixo do DKV. Ele, Deus, era só uma questão de fé interior, a vontade de querer e acreditar, mas Ele não surgiu a muitos; a lei da vida e da morte era um traço disforme, desfeito em cotão a confirmar que só somos enquanto somos, uma ilusão!
Desde sempre e, que me lembre de ser gente, observei que as leis foram inventadas pelos fortes para dominarem os fracos que são muitos mais; mas aqui não havia fracos ou fortes, só deprimidos… Num repentemente viramos escarro, nada ou ninguém - triste; cada qual cuspia para onde quer que fosse que nem monandengues. E entre estes, até surgiam rufias catadores de desaconchegos, gente do MPLA usando prepotência.
Aqueles rufias, para além dos cigarros, exigiam com um extremo desprezo tudo o que lhes aprouvesse, pedindo relógios ou valores para se ficar sem dissabores nesta hora de partir; uma forma de pressionar o medo ou resquícios de ódios. Havia uma restea de ordem por alguns militares de Nossas Tropas mais conscientes! Valha-nos isso porque nem todos viam este desmando na forma do PREC, dos guedelhudos do M´Puto às ordens do diabo.
As leis, as atitudes, o MFA, nossos patrícios do M´Puto, os generais de aviário, mesmo que absurdas, já nos parecia tornarem o impossível em admissível e hoje, que penso muito e rezo pouco, recordo isto, procedimentos sem que ninguém averiguasse as diferenças aturdidos por pudor. Pudor, palavra complicada de entender - qual pudor qual quê!? Era um acaso feito lei, ali…
E, a frio, ora marcial ora uma prepotente aberração feita de coisa feito gente, drogados no cérebro, nas kinambas ou nos calcanhares. Nesse então, nós gente desavinda, podíamos ver já a força da crise com roubos subtraídos pela lei dos homens, pelas nossos guardiões militares com seus amigos, nossos algozes – o MPLA, sem lei - nem velha nem nova ou tampouco ordinária ou arbitrária, nenhuma! Um salve-se quem puder! Mas, ainda há quem use paninhos de flanela para amenizar o inadmissivel…
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3528 – 15.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Nós retornados, fomos veículos de chantagem e tornados coisa pouca nas cabeças dos militares revolucionários do C.R. A 23 de Agosto o Diário de Luanda, noticiava a tragédia marítima ao longo da Costa dos Esqueletos na Namíbia. Várias traineiras saídas do Lobito, Benguela e Moçâmedes com centenas de refugiados desapareceram quando demandavam o porto de Walvis Bay na Namibia.
De uma flotilha com mais de vinte embarcações, três ainda não haviam chegado. No dia 30 de Agosto, dois draga minas da Marinha Sul-africana realizavam buscas na Costa dos Esqueletos. Nessa semana tinham desaparecido quatro pequenos barcos de pesca com sessenta refugiados a bordo. No deserto namibiano eram resgatadas 201 mulheres e crianças duma coluna automóvel que andava perdida e já, quase sem combustível e viveres.
A carta de Costa Gomes no pedido formal aos EUA chegava às mãos de Gerard Ford a 27 de Agosto. Dois dias depois o Governo de Vasco Gonçalves caía dando lugar a Pinheiro de Azevedo. A partir daqui a ponte de LuuaLix foi reforçada com a ajuda dos primos britânicos e dos franceses. Entretanto em Luanda o MPLA instigava os estivadores do Porto de Luanda à greve, para deste modo dificultarem o carregamento de bens.
Os Portugueses de N´Gola estavam a ser espoliados do tudo o que lhes pertencia. Visto à distância e com quase 50 anos, os brancos deveriam ter feito política de terra queimada – é a opinião de muitos espoliados devido à má conduta posterior dos mwangolés do MPLA! Também me custa muito dizer isto mas, guerra é guerra! Houve demasiadas e arrogantes injustiças que o tempo não sanou de todo. Tamanha injustiça não desmereceria bem esta revolta, esta forma de indignação. Pois então, fazer arder tudo o que em vida lhes dava vida! Não pactuo com isto mas aqui fica o forte lamento do olho por olho, do dente por dente…
Ainda bem que nada disto sucedeu não obstante se receber dos mwangolés desdém com prepotência e desaforos muito ruins para serem curtidos. Era em verdade o que o MPLA merecia! Estou-me nas tintas para quem pensar de outra forma. Eles não foram merecedores de nossa benevolência! Numa directiva não declarada oficialmente, Henrique Santo (Onambwa) os operários recusaram-se a trabalhar com forças militares portuguesas dentro do Porto de Luanda! Traidores, muitas vezes!
Pandilha de gente que tomou as rédeas do mando… Estes exigiam serem substituídos pelas FAPLA, um claro truque para não serem tomados como coniventes com o MPLA. Uma falácia para dar cobertura ao recente criado sindicato portuário, gente do mesmo gabarito. Isto foi claro! Os civis Tugas da Luua, colonialistas, não aceitaram esta postura tendo daí sido atribuídas tarefas à Policia Portuária com a segurança do cais e da Armada.
No carregamento de caixas, caixotes e haveres havia um mal-estar entre os Adidos e Desalojados que cada vez mais dificuldades viam no correr do tempo. A pretensão do MPLA era controlar o porto e as saídas de bagagens. Muitos destes fiscais do MPLA eram mazombos como eu, brancos, mestiços e alguns negros que vendo seu rabo a arder de medo, uma forma de falar, também embarcavam para o M´Puto!
Nada de mal disto! Havia muitos funcionários que pela lei dos Adidos, supostamente, teriam seu lugar garantido na metrópole; mas em verdade, tudo isto era demasiado confuso. Ninguém tinha a certeza de nada! De manhã havia uma dica e à tarde, várias outras - muitos boatos - muitos muxoxos... Alguns destes até aí eram também fiscais aduaneiros por parte do MPLA, retirando ouros e coisas valiosas aos agora “fujões”. A partir de certa altura eram os proprietários dos haveres que faziam a estiva de suas coisas, seus haveres, carro entre outros…
(Continua…)
O Soba T´Chingange - (Otchingandji)
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3527 – 12.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
(…) O Batalhão do Luso, o de “pé descalço ou em cuecas” (Segunda comp.ª do Cart/Bart 6221/74), deixou armas, rádios, munições e até material cripto. O comandante deste batalhão disse ter preferido ser enxovalhado do que pôr em risco a vida de 600 civis, deslocados com mulheres e crianças. Uns dias depois a UNITA apresentou oficialmente desculpas a Ferreira de Macedo, o interino Alto-comissário.
Este procedimento das tais NT, foi uma nodoa negra que se justifica talvez porque só tinham 3 meses de comissão; deduz-se que os instrutores seriam esses tais do PREC do CR que foi mandada para uma Angola desconhecida. Recordar que a UEC – União Estudantil Comunista chefiada por Zita Seabra tinha por função em Portugal de provocar a tal de IPA – Inssurreição Popular Armada que logologo, se estendeu até às hostes do MPLA em Angola.
Eu próprio (T´Chingange), vi na Caála – Robert Williams, estudantes da UEC a darem instrução milirar aos candengues pioneiros do MPLA – jovens com seus 10 a 12 anos carregando armas de fingir feitas em madeira. Alguns militares daquele Batalhão do Luso, vim a saber que eram estudantes daquela leva da UEC e. que por este facto, ao regressarem tiveram passagens administrativas nos cursos que acabaram por concluir.
Muitos destes, passaram a gerir serviços técnicos nos organismos camarários e outros oficiais sem estarem minimamente preparados. Saíram arquitectos quando nem desenhadores se poderiam considerar e, por aí! Outros técnicos de aviário fizeram e fazem carreira sem terem a correcta aptidão para além de o serem uns abnegados militantes da esquerda, da onda do Ché Guevara via Zita Seabra (…) - gente preparada átoa, com devaneios por ideologias e, sem apego ao brio e ética.
Aquele despontar sem preparo de oficiais de aviário espetando os peitos abrilescos, heróis de cinco minutos, o suficiente para a fotografia, fizeram a merda que fizeram. O baixar de guarda desta feita foi demasiado humilhante para um exército que se preze! Dá para entender todas estas ocorrências entre Agosto e o 11 de Novembro com escandalosa ajuda ao MPLA. Alguém disse e eu terei de concordar - “tropa de cáca”.
Nunca cheguei a saber se o Furriel indignado que deu uma chapada a um soldado das FALA foi ou não fuzilado como já li em qualquer parte! As fontes só dizem que foi levado para ser fuzilado ao qual o comandante afirmou: Fiquem com tudo, mas não façam mal a ninguém! Só quem lá esteve, poderá confirmar e acrescentar se sim, ou se não; se o Furriel foi mesmo fuzilado!
As confrontações em Sá da Bandeira tiveram início no dia 21 de Agosto pelos militares das FAPLA do MPLA acantonando as FALA e ELNA no quartel português; no dia 22 de Agosto, Costa Gomes, o presidente rolha do M´Puto, pediu formalmente o auxílio dos EUA. Precisava de ajuda para evacuar os restantes 330.000 refugiados que queriam sair de Angola. Carlucci reiterou as instruções chegadas a ele desde Washington para não negociar com o Governo de Vasco Gonçalves.
O auxilio dos EUA só se tonaria viável com a remodelação do governo do M´Puto com a saída de Vasco Gonçalves “o doidinho da esquerda” e, também as FAP em Angola não darem apoio ao MPLA (o que não se verificou…). Nós “retornados ou refugiados!” fomos a moeda de troca para virar Portugal para a direita pró USA! Fomos manipulados por nossos supostos irmãos do M´Puto… Fomos uns milhares de carneirinhos despojados de tudo; do periclitante direito à cidadania, do direito aos seus haveres, do direito à dignidade. Isto, nunca irei deixar de dizer, nem que me matem de morte morrida…
(Continua…)
O Soba T´Chingange - (Otchingandji)
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3526 – 10.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Em meados de Agosto de 1975 a luta era generalizada em Angola atingindo zonas que até aí tinham estado relativamente calmas. O MPLA dominava praticamente todo o litoral com excepção do distrito do Zaire. O Director da Companhia Mineira do Lobito, Horta Carneiro foi morto nas hostilidades entre a UNITA e o MPLA. Tornava-se cada vez mais difícil a deslocação das colunas militares portuguesas devido à falta de garantias por parte da UNITA.
Pela UNITA, havia o receio de serem atacados, acossados que estavam pelos constantes atropelos e, pela razão de as tropas portuguesas designadas de NT, sempre ajudarem o MPLA. No Luso, o Batalhão e população civil que deveria ter saído no dia 16 de Agosto, teve de ali ficar retido por via das confrontações. Na base do Luso ainda havia 600 pessoas para retirar e só tinham alimentos para mais seis dias.
A coluna que seguia para o Luso em apoio àquelas 600 pesoas, foi barrada na noite de dezoito para dezanove; pela UNITA foi-lhes apreendido todo o material, inclusive as viaturas que iam nos vagões; foram saqueados, insultados e obrigados a se desfardarem. Chegaram a Nova Lisboa em cuecas e descalços tendo o próprio comandante do Batalhão Luso sido espancado e posto de forma igual aos demais.
Um Batalhão em cuecas e sem botas! Jorge Serro recorda que isto ocorreu com o Batalhão de Caçadores do Moxico. Se não erro, Rui Perestrelo, um amigo, com quem nunca dialoguei sobre este assunto, neste então, era o indigitado Governador por parte da UNITA. Também ele acabou por se juntar como refugiado para o M´Puto usando a ponte e instalando-se em Silves no Algarve. Veio a ser funcionário da Câmara Municipal de Lagoa e empresário na Vila de Carvoeiro (actualmente, algures em Angola).
Após a morte de Savimbi, acomodou-se de novo junto à nomenclatura situada na Luua vendendo talvez a alma ao diabo – que sei eu…; um procedimento que se tornou no tempo, típico a qualquer militante e, de um qualquer partido. O Kumbú (dinheiro) sempre falou mais alto! A lassidão do trato português era tão elástica que tudo veio a rebentar-lhe na cara com a máxima tensão.
Em Portugal ainda se coabita com gente que ou foi carrasco ou procedeu duma forma desleal e, no entanto foram aceites como funcionários sem retaliação notória. Também esta, pode se considerada uma forma de trair! O lugar de muitos, seria em outro qualquer lugar, menos no M´Puto. Mas, quanto ao Batalhão de “pé descalço ou em cuecas” deixou armas, rádios, munições e até material cripto.
Foi o próprio Chiwale, segundo comandante militar da UNITA daquela região, que ordenou esta acção contra este Batalhão; diz ter sido como represália ao comportamento das NT que era de lamentar… (quando escrevo estas duas letras até me arrepio) em Sá-da-Bandeira houve sim altercações por parte da UNITA. E, porque conteceu ser verdadeira esta afirmação! Pois, porque foi assim com as FAP a distribuíram armas ao Poder Popular na tutela do MPLA do Lubango! A eles entregaram todo o armamento da “OPVDCA” fardas, variado equipamento e explosivos…
Quem lá permaneceu neste meio tempo, no pré e pós-independência, sabe que isto é verdade! Mentem quando tentam sanar o envolvimento do exército português; também por ali havia bastantes comunistas que se enfileiravam na victória ou morte mas, também para eles a coisa mudou e, lá foram regressando dizendo-se refugiados; uma coisa diferente daquele carisma típico adquirido por retornados! Uma hipocrisia que só em surdina reconhecem! Muxoxos de N´Gola! Dirão agora:- como fomos torpes! Muitos amigos sabem disto e até já nem o escondem! Será bem melhor darem a conhecer ao mundo o que em verdade, se passou! Assim se ressarcirão de algo menos correcto…
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O Soba T´Chingange - (Otchingandji)
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3524 – 05.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Havia uma junta Governativa em Angola mas o MPLA fazia tábua rasa desta, assumindo suas antigas funções ministeriais, assinando diplomas sem respeitar a restrição imposta pelo Decreto-Lei de 14 de Agosto de a 1975. O Ministro Said Mingas (Dias Mingas), um meu antigo colega de carteira na E.I.L. por uns bons cinco anos, introduzia restrições à exportação de viaturas, só autorizando a saída de uma viatura ligeira por agregado familiar.
Em verdade o MPLA estava a proceder como um governo sem cumprir os acordos preestabelecidos com as demais partes do Acordo de Alvor - Penina. Seria obrigatória a verificação aduaneira rigorosa de todas as bagagens e mercadorias com destino ao exterior de Angola. O curioso de todas estas medidas foi ver mais tarde gente que fazia o controlo de bagagens nos portos e Aeroportos inscreverem-se em Portugal no Quadro Geral de Adidos e ocuparem até lugares públicos no aparelho de Estado Português.
Não se verificou nenhuma retaliação ou marginalização a estes caras-de-pau que dizendo-se uns mwangolés de primeira apanha, fugiram também para a segurança da Metrópole. Outros houve destes pseudopatriotas mwangolés que nem sendo funcionários no Ultramar arranjaram testemunhas e por declaração integraram-se como funcionários no M´Puto; a mesma que eles tanto abominavam.
Não vou aqui denunciar este ou aquele nominalmente embora me tivesse inteirado desta irregularidade grave; gente com quem lidei e que ainda anda por aí. Uma grande parte de quem lê esta Viagens, sabe que isto é uma verdade. Pode dizer-se assim que os carrascos, os mesmos que nos retiraram os anéis, ainda tiveram o gozo de usufruir benesses quando mereciam o inverso - ficar confinados às suas masmorras. Para estes vou só dizer: “Usukula mundué ú hima kujibha nzapá...” (lavar a cabeça ao macaco é desperdiçar sabão!)
Nenhum destes que retornaram a Angola, agora bem acomodados por lá e, alguns pertencendo à nomenclatura do governo podem dizer que foram destratados no M´Puto. Entretanto as FAP (Forças Armadas Portuguesas) limitavam-se só a garantir a integridade dos refugiados sem actuar na gestão da governação. Em meados de Agosto, Mingas, assinou o Decreto que limitava os levantamentos de depósitos bancários a vinte contos por mês em vez dos quinze contos semanais permitidos e, passava a ser interdita a saída da moeda angolana do país bem como a loteria premiada.
Leonel Cardoso, o novo inquilino como Oficial Superior do sinistro C.R. mais Ferreira de Macedo, o Alto-Comissário interino, mantinham-se encerrados no Palácio da Cidade Alta servindo os interesses do MPLA por imposição do Concelho da Revolução, em verdade o auto intitulado governo - os genuínos donos de Angola por afronta permitida. Forneciam a estes dados estratégicos e fotografias aéreas para desmantelar tanto a FNLA como gente descontente.
Muitos portugueses foram parar às prisões da Boavista ao Bungo e praça de toiros do Bairro Caputo. Muitos saíram de lá metidos em lençóis para as covas do Cemitério de Catete ou para os jacarés do Lifune, Kifangondo ou Panguila. No Caxito, havia avanços e recuos da FNLA e MPLA; O ELNA controlava a 13 de Agosto a Barra do Dande tendo reconstruido a ponte e mantendo três colunas militares em suas margens e um outro menor grupo na estrada do Cacuaco.
As FAPLA recuavam para Sul da picada da Barra do Dande-Kifangondo. Em Cabinda as FAPLA eram donas da situação em todo o enclave. O alargamento da guerra para Sul leva milhares de pessoas a efectuar uma penosa epopeia, romaria sem retorno em direcção ao deserto do Namibe com muitas e variadas peripécias de chantagens como garantia de protecção, isto ate chegarem ao Sudoeste Namibiano.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3523 – 03.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
(…) E, tinha gente treinada na Metrópole (Lisboa), propositadamente preparada para fazer parte deste MPLA. Do vinticinco de abril de 1974 até ao 25 de novembro de 1975 muita coisa se fez à revelia da vontade do povo e, por muito pouco não ficamos debaixo da alçada da União Sovietica. Alguns, irão sempre dizer que não, pois que em realidade parece uma peta feita mentira; o certo é a de que militares pagos pelo M´Puto, com ideário afecto ao Concelho da Revolução ficam inteiramente destacados naquele movimento terrorista como se dele fossem, com camuflado igual ao do MPLA.
Havia gente seleccionada pelo PREC de Otelo Saraiva (o Ché tuga…) Ainda ninguém trouxe isto às claras porque o sigilo estava por demais encafifado e, só alguns oficiais o sabiam; os não alinhados destes ou do contra, seriam logo conotados como fascistas. Até surgiu um selo mentiroso do M´Puto alusivo ao MFA com dois populares, um com um chapéu de campino e outro segurando uma arma. A mim sempre me pareceu muito feito a propósito por o ser verdadeiro!
Nakuru era folha morta! “Numa situação de guerra em Angola, como e a quem se ia entregar a sua governação?”. Era o próprio Silva Cardoso, Alto-Comissário, que se interrogava falando baixinho para que os demais ouvissem. Neto reclamava a saída deste! Ele, Neto, o poeta, queria que assim fosse e, isto era o bastante! A maioria dos oficiais portugueses andavam a assobiar ao vento!
Triste ironia desta nítida má-fé e, de quem ainda anda por aí recebendo benesses e até medalhas de bom comportamento, tornados heróis como se isso o fosse de forma “avulso”. O MPLA venceu a Batalha de Luanda expulsando a UNITA e a FNLA com a inequívoca ajuda do glorioso MFA do M´Puto (isto sempre o será repetido…)
Em verdade a Batalha de Luanda resumiu-se ao duelo entre MPLA e a FNLA, enquanto os soldados e militantes da UNITA, sem armas para retaliar, se tinham simplesmente resignados a fugir. Os que não puderam fugir, foram simplesmente massacrados aos milhares (maioritariamente negros mas e também, alguns brancos). Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo…
(…) A UNITA não permitia a entrada da tropa portuguesa em Nova Lisboa (Huambo) alegando que em outros pontos do território as FAP assumiam atitudes favoráveis ao MPLA e tinham toda a razão para assim procederem. A UNTA deu 24 horas às FAPLA para saírem de Nova Lisboa e assim veio a acontecer com a escolta protectora das Nossas Forças (NT) até ao Dondo, um bastião carbonizado em posse do “glorioso” MPLA…
Pode notar-se nesta descrição o comportamento diferenciado por parte da UNITA em relação às outras forças; certo que tudo iria descambar mais tarde para coisa ruim mas as contingências da guerra aberta e sem mando capacitado, já não permitiam manter o aprumo desejável. Neste então a UNITA deu tempo às FAPLA para recuarem ao invés destes e das FALA que atacavam sem prévio aviso e com todo o potencial mortífero.
No Cunene, as tropas da UNITA já faziam rusgas aos trabalhadores Sul-africanos nas barragens de Caluéque e Ruacaná por se recusavam a regressar ao trabalho. Recorde-se que estas estações hídricas estavam cercadas pelas FALA, o braço armado do MPLA e os naturais Ovambos negavam-se a trabalhar sem garantias de segurança; foi assim que a queixa de Pretória chegou à Embaixada Portuguesa.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3522 – 30.11.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
O Presidente do Congo Brazaville N´Gwabi aceitando as propostas do MFA do M´Puto na pessoa de Otelo Saraiva mancumunado com o Presidente rolha Costa Gomes (o sempre em pé…), e solicitação de Fidel de Castro, dá apoio com hospedagem a mais 142 instrutores cubanos, declarando-se oficialmente apoiante incondicional ao MPLA de Neto.
Este apoio tinha sido concertado em uma viagem que N´Gwabi fez a La Havana. Havia fortes indícios de que o MPLA estivesse a preparar uma declaração de independência unilateral, sem consulta a Portugal e aos outros dois movimentos conforme o estipulado no Tratado de Alvor. No M´Puto, pode entretanto, apreciar-se um comportamento de insubordinação de má-fé entre os colaborantes militares de aviário de Abril.
Enquanto que tudo faziam numa óptica de práfrente camarada, avante, Costa Gomes via-se em palpos de aranha agradando aos mais resolutos. Aqueles revolucionárias imberbes, maioritariamente estudantes enquadrados por Zita Seabra* e comunistoides militares do PREC, estavam a mijar nitidamente, nas boas graças dos estrategas. Pois sim! Aconteciam permanentes assaltos aos organismos opositores e embaixadas. Estávamos em inícios de Outubro de 1975…
À margem das negociações, os retornados, cidadãos nacionais e da Província Ultramarina de Angola, estavam a ser moeda de troca no fornecimento de aviões para a ponte LuuaLix poder realizar-se no tempo aprazado. Nesta guerra de tundamunjila (brancos, fora - para a vossa terra) a estória ainda anda a ser fabricada! Sempre teremos de rebuscar os caixote e baús para refazermos verdades que se deitaram a propósito no lixo e, porque assim interessava à esquerda, aos interesses obscuros acobertados pela midia…
Quanto às justificações que surgem, há sempre um misterioso MAS: "Mas, uma facção dos comunistas, pressionados pela URSS, queria controlar o processo". Em Angola, as N.T. já nem saíam dos quarteis! Tinham sim um enorme desejo de serem rendidos e regressar à Metrópole do M´Puto. Nem pareceria ser relevante acudir a casos graves em defesa de gente Lusa. As teses do PCP vingavam em Portugal e Angola. Foi só no 25 de Novembro de 75 que se repôs alguma legalidade; no entanto, muitos lugares chaves da governação já estavam tomados por ideias de principios tóxicos…
Os novos mandantes a reboque deste PCP mudariam funcionários, quadros e militantes com acções reais no terreno. A toxicidade foi tão bem aparelhada que perdura ainda nos dias que correm (estamos no ano de 2023)! Preparava-se mais uma cimeira no Quénia mas ninguém acreditava nisto; Nem os próprios intervenientes! Face à situação, quatro presidentes africanos reúnem-se numa mini-cimeira em Dar-Es-Salaam, capital da Tanzânia, país surgido da fusão das antigas Tanganica e Zanzibar.
Nenhum acordo é conseguido. Julius Nyerere da Tanzânia e Samora Machel de Moçambique, defendiam o domínio do MPLA de Neto sobre Angola (ideias de URSS a funcionar em plenitude…). Kaunda da Zâmbia e Sir Seretse Khama do Botswana, eram partidários de um governo de unidade nacional que incluísse representantes da FNLA e UNITA. Era chover no molhado…
Nas três primeiras semanas de Junho a FNLA e MPLA tinham aprisionado mais de duzentas pessoas, a maioria brancos, nalguns casos com seus familiares. Os edifícios públicos eram simplesmente ocupados pelos Movimentos; coisa sem lei nem roque! A cintura à volta de Luanda erguida pelo MPLA era uma realidade! E, tinha gente treinada na Metrópole (Lisboa), propositadamente preparada para fazer parte deste MPLA.
NOTA*: Zita Seabra, liderou a fundação da União dos Estudantes Comunistas (UEC) antes e depois do 25 de Abril. Escreveu para diversas publicações clandestinas do PCP, como o Avante, O Militante, o Jornal das Camaradas das Casas do Partido e os jornais da UEC…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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