Sábado, 17 de Agosto de 2024
VIAGENS .198

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA

- Crónica 3613 – 17.08.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

cuba18.jpg …«Claro - continua o general soviético - que eu compreendia o estado dos meus amigos que certamente viam em mim um homem que estava categoricamente contra a retirada de tropas. E, de súbito, fazia tudo ao contrário. Mais, até incentivava a fazer isso mais rapidamente.»

Após longa retórica, Valentin Varennikov apresenta o seu plano, que não passa de uma espécie de compromisso entre soviéticos e cubanos: «A defesa deve ser profundamente escalonada. Para que o adversário, concentrando realmente grandes forças na direcção escolhida e, desse modo, conseguindo uma superioridade três ou quatro vezes maior do que os angolanos, não rompa a unha defensiva e depois dela não haja nenhuma resistência.

Por isso é que o camarada Fidel nos diz que é preciso fazer recuar - tem-se em vista uma parte determinada das tropas - para a retaguarda até ao Caminho de Ferro de Benguela***. Consideramos que poderíamos deixar cinquenta por cento das tropas a defender as linhas que ocupam agora e a outra metade destas tropas poderíamos deslocar em pontos de apoio, nos caminhos até à linha do Caminho de Ferro de Benguela inclusive.

cuba17.jpg Além disso, na zona da frente e nos flancos deverão ser amplamente colocados obstáculos de engenharia. Por fim, ter uma reserva para manobras. E todas as forças situadas na retaguarda em posições preparadas devem ser prontas a manobrar.

Desse modo, fazendo recuar uma parte determinada de tropas para a retaguarda, até à linha onde se encontram as tropas cubanas, instalando-as em pontos de apoio e preparando-as para manobrar, teremos uma defesa activa profundamente escalonada, na linha final da qual intervirão as tropas cubanas.

Se o adversário quiser avançar, afundar-se-á nesta defesa e jamais conseguirá o seu objectivo». Os cubanos aceitaram este plano e, no fim da reunião, «o camarada Risket - escreve o general soviético - disse-me: "Eu sabia que tudo acabaria bem.

cuba16.jpg Os camaradas soviéticos sabem encontrar saída mesmo onde ela não existe".» Este plano estratégico permitiu estabilizar a situação na frente de combate, mas a guerra continuou. Para os conselheiros militares soviéticos que combatiam em Angola, o pior estava ainda para vir. «Semelhante coisa não aconteceu, nem no Afeganistão»,

O «estalinegrado angolano» - afirmam os soviéticos que já tinham passado pela guerra do Afeganistão sobre a batalha por Cuito-Cuanavale, que começou em Julho-Agosto de 1987. É agora tempo de se falar nas múltiplas tentativas de reconciliação, em uma altura em que elementos do governo de Luanda, já cansados, assumiam alguns erros de governação e,  defendiam abertamente num governo de consenso nacional

guerra19.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…

Nota 3: *** Caminho de Ferro de Benguela, também chamada de Caminho de Ferro Catanga-Benguela, é uma linha ferroviária que atravessa Angola de oeste a leste,...

 (Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:10
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Segunda-feira, 12 de Agosto de 2024
VIAGENS .197

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA

- Crónica 3612 – 12.08.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

luua33.jpg Foram longas as discussões no seio da direcção militar e política sobre a decisão. Por um lado, elas não pretendiam ir contra a opinião de José Eduardo dos Santos e Fidel Castro, mas, por outro, tinham de dar ouvidos às considerações dos generais soviéticos ligados à guerra em Angola. Moscovo acaba por decidir enviar uma delegação militar, chefiada pelo general Varennikov, para estudar a situação no local. Após numerosos contactos com dirigentes angolanos e o comando cubano, bem como de uma inspecção da frente de contacto,

cuba15.jpg Varennikov apresentou o seu plano de defesa aos cubanos, mas vale a pena citar a forma como ele o fez para «não ir contra» a proposta de Fidel Castro. Na última reunião com o comando cubano a fim de se tomar a decisão final, Varennikov usou da palavra: «Após ter estudado multilateralmente a situação criada no sul do país e tendo em conta os possíveis ataques posteriores dos militaristas da África do Sul, bem como as possibilidades e capacidades das Forças Armadas de Angola, chegámos à conclusão de que o dirigente da República de Cuba, …

… Camarada Fidel Castro, previu profundamente os posteriores acontecimentos e agiu sabiamente quando recomendou à direcção de Angola fazer recuar as tropas para a linha do Caminho de Ferro de Benguela. Nós não só devemos apoiar essa proposta, mas também, nos prazos mais curtos possíveis, realizá-la.

Eu fiz uma pausa e olhei para as caras das pessoas que estavam sentadas na sala. Uns olhavam para mim como um homem mortalmente enfermo. Outros agitavam-se com os olhos abertos de espanto e trocavam olhares interrogativos com os vizinhos, olhando para trás.

CUBA14.jpg Compreendi que o objectivo tinha sido atingido: depois de alta tensão, nós apoiámos o nosso amigo e camarada Fidel Castro, que, na etapa actual, é o símbolo da luta pela independência nacional. Apoiámos precisamente por isso, e não porque lhe aconselharam os seus representantes em Angola, sem acordar isso com o conselheiro militar soviético.

Claro que nós, nos nossos actos, devíamos fazer tudo para conservar o rosto político-militar de Fidel Castro, não pôr sob qualquer risco o sul de Angola e, ao mesmo tempo, não colocar à prova o destino da república e o prestígio da União Soviética.»

Recorde-se algo já dito a montante:  «O adversário realizou movimentações de tropas de grande envergadura (tratou-se de uma imitação, era preciso aumentar o medo), o que provocou o aumento da tensão nos quartéis regulares e, nos pontos de comando das tropas governamentais de Angola, bem como nas guarnições das tropas cubanas.

kuito7.jpg É possível que a difusão de boatos (muxoxos), tenha sido obra do inimigo que certamente tinha adeptos seus na mais alta esfera do poder de Angola... ou a complexa situação no sul do país que aterrorizou realmente todos» - recorda Valentin Varennikov.

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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…

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O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:12
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Sábado, 10 de Agosto de 2024
VIAGENS .196

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA

- Crónica 3611 – 10.08.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

luua51.jpg Nesta situação, José Eduardo dos Santos pede ajuda aos comandantes das tropas cubanas em Angola (general Polo e Risquete, secretário do CC do Partido Comunista Cubano), mas estes, depois de avaliarem a situação, consideraram indesejável a participação dos militares cubanos nos combates.

Propuseram, então, que as tropas cubanas reforçassem posições na linha onde estavam instalados (ou seja, na linha do Caminho de Ferro de Benguela) e que as tropas governamentais, a fim de conservarem as suas forças, recuassem até essa linha e não deixassem o adversário atravessá-la. Este plano foi enviado a Fidel Castro, que o apoiou.

Valentin Varennikov revela a carta que Fidel Castro enviou a José Eduardo dos Santos a este propósito: «Caro irmão! São necessárias Forças Armadas para conservar a jovem república. Se perecerem as Forças Armadas, perecerá também a república.

luua52.jpg Por isso, por muito doloroso que seja, nós, na situação actual, só temos uma saída: retirar as tuas tropas para a linha do Caminho de Ferro de Benguela e, nessa posição, juntamente com os nossos combatentes, realizar o grande combate com o adversário.

Estou convencido de que ele será derrotado e as tropas de Angola, depois, poderão expulsar os sul-africanos do seu país. Só o recuo das tropas para a linha citada pode salvá-las da derrota e, desse modo, salvar a república.» O Presidente angolano enviou imediatamente essa carta para Moscovo, pedindo conselho, mas apoiando as recomendações de Fidel Castro.

luua50.jpg Isso levou a uma convocação urgente de uma reunião do Bureau Político do Comité Central do PCUS, onde Boris Ponomariov, secretário do CC, interveio para apoiar a posição de Fidel Castro. lúri Andropov, Secretário-Geral do PCUS, declarou: «damos o nosso acordo prévio, mas os militares precisam de ponderar tudo mais uma vez e informar-nos.»

Valentin Varennikov afirma ter discordado da decisão de Fidel Castro e apresenta os seus argumentos: «Primeiro, as tropas de Angola estavam prontas e em condições de defender o seu Estado; segundo, o recuo dessas tropas provocaria um prejuízo moral irreparável entre os soldados e os oficiais considerariam isso uma traição;

luua9.jpgBiker ...  Terceiro, sentindo o sangue, depois do recuo das tropas governamentais, os lobos sul-africanos continuariam a avançar, até Luanda inclusive; quarto, recuar até à linha das guarnições significaria um recuo de 300 a 500 quilómetros. Por outras palavras, era preciso entregar sem combate ao adversário um terço do país...»

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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…

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O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:34
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Domingo, 4 de Agosto de 2024
VIAGENS .194

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA

- Crónica 3608 – 04.08.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

luua25.jpg Entre os seus subordinados próximos o general Iko Carreira revelava "indiferença" para com os documentos (ordens, directivas, telegramas, etc.) assinados por Pedale, considerava-os estúpidos, desnecessários, que podiam não ser executados... Claro que a situação com o chefe do Estado-Maior da Força Aérea preocupava todos. Entre a direcção do aparelho de conselheiros corria a ideia de "promover" Iko Carreira para qualquer outro cargo.

O motivo, era afastá-lo do posto de chefe do Estado-Maior da Força Aérea. Conhecendo o seu carácter, podia-se esperar tudo dele, principalmente tendo em conta o agravamento da situação político-militar no país». Valentin Varennikov descreve: «O nosso grupo (incluindo a mim) tinha essa opinião - continua Varennikov. - Porém, não era simples fazer essa mudança.

iko1.jpg Por um lado, ele gozava de grande prestígio entre o povo e, entre os políticos de todo o tipo era considerado uma figura de peso, era bem conhecido e influente entre a direcção de Portugal, o que era um importante factor para Angola, que continuava a manter as mais estreitas relações com todas as estruturas portuguesas.

O Ocidente olhava para Iko Carreira de forma leal, talvez por ele ser mulato, exteriormente mais parecido a um europeu do que a um africano»***. Segundo Valentin Varennikov, «no interior de Angola, o chefe do Estado-Maior era uma dor de cabeça para todos. Preocupava-o facto de ele, tendo nas mãos uma força tal, poder constituir um grande perigo se, num dos momentos tensos da agudização das relações com a posição, começasse a vacilar...

A fim de tomar medidas atempadamente para impedir ataques antigovernamentais e antipopulares da parte de Carreira, decidiram rodeá-lo dos oficiais mais fiéis ao presidente e ao ministro da Defesa e, depois, reforçar esse cerco».  Existiam também sérias divergências entre o comando das tropas cubanas em Angola e os conselheiros soviéticos.

iko2.jpg O general Varennikov recorda um episódio: «Quando da análise da situação do país, surgiram discussões, nomeadamente sobre questões de princípio. Por exemplo, eu não estava de acordo com o facto de as tropas cubanas não deverem, em circunstância alguma, participar em combates, salvo nos casos de ataques directos contra os cubanos.

Eles justificavam-se com ordens da sua direcção política. Como mais tarde me explicou o general Kurotchkin, os cubanos reagiam muito dolorosamente à morte dos seus concidadãos (como, a propósito, os americanos), por isso tinham instruções para não participar nos combates... Evidente que era necessário alterar o estatuto das tropas cubanas.

Tanto mais que os nossos conselheiros militares, que agiam a todos os níveis, desde o Ministério da Defesa e o Estado-Maior Geral até às brigadas, inclusive, eram obrigados a combater juntamente com os seus subordinados». «Tínhamos perguntas também a fazer quanto ao fornecimento de armamentos e tecnologia ao exército angolano e ao destacamento cubano de tropas em Angola: aqui, os comandantes cubanos, sem o conhecimento da sua direcção política, estabeleciam o que ficava para Angola e o que ficava para eles daquilo que era enviado da União Soviética»…

guerri6.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…

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O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:19
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Sexta-feira, 2 de Agosto de 2024
VIAGENS .193

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA

- Crónica 3607 – 02.08.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

cuito2.jpg O general Varennikov escreve: «A principal tarefa consistia em estudar o estado das coisas no local e elaborar, juntamente com os representantes cubanos e a direcção militar angolana, medidas para o posterior reforço da capacidade de combate das Forças Armadas da República Popular de Angola, para o aumento da eficácia das acções militares com vista à derrota das formações do grupelho contra-revolucionário da UNITA e rechaçar a agressão da República da África do Sul no sul do país

É importante assinalar os retratos que o general soviético faz dos dirigentes angolanos com quem contactou. O primeiro encontro realizou-se com o ministro da Defesa de Angola. «A meu ver, o encontro com o ministro da Defesa, general Pedale, foi demasiadamente oficial.

As minhas tentativas de tirar alguma afectação, frases gerais não receberam o apoio devido e a posição de Pedale provocou no general Kurotchkin (comandante da missão militar soviética entre 1982 e 1985) uma perplexidade legítima. Mas, depois, compreendemos que Pedale queria fazer figura de pessoa importante, por isso pavoneava-se um pouco. Tinha quarenta anos, era baixo e gordo.»

van05.png Valentin Varennikov encontrou-se também com o novo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos: «Já antes sabia muito sobre dos Santos. Quando jovem estudante destacava-se por capacidades invulgares, tinha um intelecto tenaz, vivo. Era bem desenvolvido fisicamente: jogou na equipa de futebol da primeira liga "Neftchi" (Azerbaijão).

Isto porque estudava na URSS. No nosso país ele casou com uma russa, que lhe deu uma filha (Isabel dos santos), e eles os três foram viver para Angola. As tempestades políticas levaram-no à liderança do MPLA - Partido do Trabalho e, ao mesmo tempo, Presidente.

Claro que ele não podia pertencer a si próprio. Ele tornou-se um dirigente popular.» - «Mas a sua vida pessoal - continua o general russo - desenvolveu-se de forma bastante dramática. Sob pressão das tradições nacionais, teve de deixar a esposa branca e a filha e formar uma nova família: a esposa do Presidente deveria ser negra***.

iko1.jpg Dos Santos sujeitou-se aos costumes do seu povo, mas comportou-se de forma bastante nobre em relação à sua família anterior: deu-lhe uma vila, concedeu à antiga esposa uma pensão e um subsídio à filha. A filha foi autorizada a ir ter com o pai à residência em qualquer tempo livre.»

Não escaparam à atenção do general soviético as divergências existentes na direcção do Governo angolano, nomeadamente a questão da «despromoção» do general Iko Carreira de ministro da Defesa para chefe do Estado-Maior da Força Aérea de Angola: «Sendo um homem orgulhoso e extremamente ambicioso, claro que Iko Carreira ficou ofendido. Ele não expressava isso externamente, mas mantinha-se afastado e independente, como se a Força Aérea não fizesse parte das Forças Armadas de Angola.

iko3.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…

Nota 3: ***Pode daqui deduzir-se o quanto tinham de racistas os governantes de então, com efectivos do MPLA. Retirar o branco de toda ou qualquer gestão militar ou civil, era mais que evidente – tudo escandalosamente silenciado pelos mídias mundiais – fruto de uma descolonização enviesadamente esquerdoida…  

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:00
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Terça-feira, 30 de Julho de 2024
VIAGENS .192

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA

- Crónica 3605 – 30.07.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)**– O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

CUBA13.jpg O alferes Nikolai Pestretsov, o ex-prisioneiro, continua sua descrição:«- Mas davam a entender que se eu fizesse as declarações necessárias, não sofreria nenhuma pena.» Mais tarde veio a revelar-se que as tropas sul-africanas estavam bem informadas sobre as tropas que defendiam Ondeia e sobre os militares soviéticos que aí se encontravam.

Assim era porque o comandante angolano de uma das brigadas desertara na véspera e, transmitira todas as informações ao adversário. A detenção do alferes Pestretsov provocou tão grande incómodo na direcção soviética que foram dadas ordens .para o libertar a qualquer custo: «A Embaixada em Luanda empreendeu os passos mais decididos para libertar Pestretsov e resgatar os corpos dos cidadãos soviéticos.»

Por exemplo, Vadim Loguinov, antigo Embaixador da URSS em Angola, membro da União dos Veteranos de Angola, contou-nos que, logo após ter sido recebida a notícia de que Pestretsov foi feito prisioneiro, «pedi pessoalmente, várias vezes e de forma insistente, ao dirigente da SWAPO, Sam Nujoma, para realizar uma operação e aprisionar na Namíbia um qualquer oficial sul-africano importante, para, depois, o trocar pelo alferes soviético.

luua01.jpg Os nossos conselheiros soviéticos que trabalham em Angola para a Direcção de Reconhecimento Central (GRU, espionagem militar) e o KGB testemunham que semelhantes operações foram planeadas e realizadas pelo comando da SWAPO com a participação activa deles. Porém, não conseguiram fazer prisioneiro nenhuma figura digna para a troca.»

O alferes e os cadáveres dos militares soviéticos mortos foram trocados por dois pilotos americanos e os cadáveres de soldados sul-africanos em 20 de Novembro de 1982. Entretanto, a situação militar em Angola continuava a deteriorar-se, nomeadamente porque as autoridades militares angolanas não conseguiam organizar forças armadas regulares.

roxo10.jpgVassili Lavreniuk, capitão soviético que prestou assistência militar em Angola entre 1983 e 1986, descreveu assim o estado das FAPLA: «O exército de Angola apresentava um quadro bastante triste. Na sua esmagadora maioria, os soldados eram analfabetos, prestavam serviço para receber um salário e a ração alimentar. As companhias e os batalhões só podiam contar com todos os soldados quando pagavam os salários ou distribuíam produtos.»

E, continua sua narrativa: -«A propósito, pode parecer uma anedota o caso em que, no dia seguinte à distribuição das rações alimentares nas tropas governamentais, era impossível encontrar os soldados e comandantes. Quando se perguntava para onde tinham ido, recebia-se a resposta: "Hoje Savimbi paga salários e dá produtos alimentares".» O capitão Lavreniuk chama também a atenção para o facto de os especialistas soviéticos não estarem preparados para a guerra em Angola.»

Com enfase diz: -«O que mais espantava era que os nossos homens não estavam prontos para aquela guerra, conheciam mal a situação nesse país africano. Mas seria possível outra coisa se na cúpula, em Moscovo, não compreendiam o que se passava em Angola? Nós tínhamos de enfrentar um forte adversário. Basta apenas dizer que o número de soldados da UNITA era superior a 55 mil. Eles tinham à disposição 155 tanques, lança-granadas, artilharia, mísseis "Stinger".» A situação militar agravava-se rapidamente e a direcção soviética decidiu enviar uma importante delegação militar a esse país, dirigida por Valentin Varennikov.

zem4.jpgNota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…

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O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:28
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Segunda-feira, 29 de Julho de 2024
VIAGENS .191

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA

- Crónica 3604 – 29.07.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

CUBA14.jpg Valentin Varennikov recorda como ambas as partes utilizavam os dados de espionagem recolhidos pelos pigmeus: «Os nossos agentes, além das observações pessoais, utilizavam também os serviços pagos dos pigmeus. Eles vivem principalmente nas florestas do Congo, Zaire, Zâmbia, Rodésia, Namíbia, situadas em redor de Angola. Eu vi-os em África apenas uma vez, mas ouvi dizer muita coisa sobre as suas capacidades.

O principal é que os pigmeus têm, tal como algumas espécies de animais selvagens, um faro, audição e visão raros. Algumas horas antes de uma catástrofe natural (inundações, tempestades, sismo, etc.), o seu organismo já "sabe" da aproximação da desgraça. Por isso, os pigmeus tomam medidas e ocupam os seus refúgios protegidos.»

No início dos anos 80 do séc. XX, Luanda perdeu o controlo de amplos territórios do sul e do este do país, onde a UNITA, com o apoio das tropas da República da África do Sul, dera início a mais uma forte ofensiva militar. A 27 de Agosto de 1981, as tropas sul-africanas iniciaram a operação «Protea» na região da cidade de Ondjiva, onde se encontravam 14 soviéticos: «nove militares e... cinco mulheres, esposas dos especialistas, que eles tinham chamado da URSS…

cuba15.jpg Esses especialistas, não esperavam que a província angolana de Cunene se transformasse tão depressa num verdadeiro inferno devido aos ataques dos sul-africanos.» Dos catorze soviéticos, nove conseguiram sair do cerco vivos, dois oficiais conselheiros e duas mulheres foram mortos nos combates e o alferes Nikolai Pestretsov foi feito prisioneiro por soldados do 32° batalhão especial «Buffalo» das tropas sul-africanas.

O tenente Leonid Krasnov, tradutor militar da 11ª brigada de infantaria das FAPLA, um dos que conseguiram escapar ao cerco, recordou: «No dia 25 de Agosto fomos cercados pelos sul-africanos. Ondjiva foi atacada por via aérea e panfletos foram lançados, cujo texto dizia que quem apresentasse o panfleto juntamente com prisioneiros ou oficiais das FAPLA, comunistas e soviéticos assassinados por ele, teria o direito de sair do cerco.

Um cenário quase ideal para Hollywood! E apenas um dia para pensar! O dia 26 de Agosto foi incrivelmente calmo. Até os animais se acalmaram. Na véspera, os serviços de comunicação da 11ª brigada receberam um texto cifrado do conselheiro do comandante da 5ª região militar com o seguinte conteúdo: "Aguentar até ao fim. Não se entreguem vivos..."»

valentina3.jpg Isto era feito para que nem a UNITA, nem a África do Sul provassem à comunidade internacional que os conselheiros e especialistas militares soviéticos combatiam do lado dos cubanos e das FAPLA. «A guerra aumentava gradualmente em Angola, ao país chegavam já não dezenas, mas centenas e milhares de conselheiros soviéticos.

Oficialmente, considerava-se que eles não participavam nas acções militares. Por isso, os feridos e mortos, normalmente, eram considerados como 'Vítimas da malária, desinteria, picadelas da mosca tsé-tsé"» - escreve Serguei Kolomnin. Porém, desta vez, as tropas especiais sul-africanas conseguiram aprisionar o alferes Nikolai Pestretsov, que passou mais de um ano em várias prisões da África do Sul. «Fiquei espantado por eles saberem praticamente tudo sobre mim (patente, cargo, etc.). Assustavam-me com a possibilidade de apanhar 100 anos de prisão por ter assassinado um soldado sul-africano.

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:49
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Quarta-feira, 24 de Julho de 2024
VIAGENS .189

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RETIRADA CUBANA DE ANGOLA

De Gbadolite a Bicesse - 1988/1991 - Crónica 3601 – 24.07.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

bicesse5.jpg Os países observadores, EUA e URSS, comprometeram-se igualmente a pôr termo ao abastecimento de material bélico às facções envolvidas no conflito. Todas as forças beligerantes seriam integradas nas Forças Armadas Angolanas, cabendo ao Estado Português, através das suas próprias forças armadas, ministrar a formação necessária.

Este Acordo permitira um armistício temporário na Guerra Civil de Angola entre MPLA e a UNITA. No entanto, os efeitos de Bicesse nunca se sentiram e a paz foi ténue e incompleta, para além de efémera, pois os conflitos logo em 1992 rebentaram numa espiral de violência ainda maior, não mais cessando. Seriam necessários mais dez anos para se pôr termo à guerra…

O ”CESSAR-FOGO” - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas da LUUA, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – A independência seia para isto!? Era a pergunta que corria feita muxoxo…  Após 15 anos de permanência em Angola, o último soldado cubano retorna à ilha no mês de Maio de 1991.

Ochoa1.jpg Convem aqui. fazer-se um curto desvio para descrever seu regresso e, de forma sucinta dar detalhes do que então se passou: Na madrugada de 14 de julho de 1989, o general Arnaldo Tomás Ochoa Sánchez o herói chefe das forças expedicionárias em Angola, a terceira figura militar mais poderosa da ilha de Cuba, depois do Comandante em Chefe Fidel Castro e do General Raúl Castro é fuzilado pelo crime de traição.

O que se esperava ser uma verificação de antecedentes de rotina antes do anúncio, o governo acusou Ochoa de corrupção, na venda de diamantes e marfim de Angola e a apropriação indevida de armas na Nicarágua. Há quem afirme que seu comportamento no campo de Batalha em Cuito-Cuanavale foi-o em permanente oposição às ordens de Fidel e, que tudo o demais foi um pretexto…

Voltamos assim aos anos de oiro da diplomacia portuguesa comemorando em Março de 1990 a independência da Namíbia. Durão Barroso tem o primeiro encontro a sós com o presidente Dos Santos. Começa a desenhar-se o papel mediado de Portugal (M´Puto) na placa giratória que conduziu a Bicesse.

O Prof. Cavaco Silva vai a S. Tomé encontrar-se com Eduardo Dos Santos e desloca-se a Paris para dialogar com Jonas Savimbi. Durão Barroso inicia viagens a Luanda e Washington; dois elementos do seu gabinete, António Monteiro e José Queirós de Ataíde, desdobram-se em contactos e esforços.

bicesse3.jpg Em 24 e 25 de Abril de 1990, dá-se o primeiro encontro das partes sob mediação portuguesa em Évora. De 16 a 18 de Junho de 1990 dá-se a segunda ronda negocial, no Forte de S. Julião da Barra, Oeiras. Discute-se a formação do futuro exército único de Angola e fiscalização do cessar-fogo. Durão Barroso afirma na altura: “Os méritos ou desaires das negociações cabem exclusivamente aos angolanos”.

A 23 de Julho de 1990, Jeffrey Davidow, subsecretário do gabinete de Cohen, encontra-se com Dos Santos. Logo a seguir, o governo angolano desencadeia uma ofensiva diplomática encabeçada por Venâncio de Moura e, pela primeira vez, em mais de quinze anos, fala da UNITA empregando a expressão “nossos irmãos”, em vez de “fantoches”.

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Adenda: Por um leitor do Facebook - Carlos Alberto Martins Tavares

Os Cubanos além de cobrar mais de US$ 10.000,00 por soldado ao governo de Angola, roubaram tudo o que encontraram pela frente. Roubaram toda a estrutura de máquinas da Usina de Açúcar da Catumbela!!! Levaram todos os autocarros da EVA e de outras empresas de viação de Angola, Levaram todos os carros dos Portugueses que estava nos portos para embarcar para Lisboa. Levaram todos os aparelhos de procedimentos médicos dos Hospitais de Luanda!!! Roubaram as pedras de mármore das campas dos cemitérios. Além de ladrões sequer deram qualquer colaboração efetiva ao desenvolvimento de Angola!!! Uma maravilha!!!

araujo173.jpgC.A,

Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto, RTP-Notícias e Wikipédia…

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:32
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Domingo, 21 de Julho de 2024
VIAGENS .187

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA*BATALHA DE CUITO - CUANAVALE

RETIRADA CUBANA - Crónica 3599 – 21.07.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

cuelei3.jpg A Batalha de Cuíto Cuanavale foi assim,  o maior confronto militar da Guerra Civil Angolana, ocorrido entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988. O local da batalha foi na região do Cuíto Cuanavale, província de Cuando-Cubango, onde se confrontaram os exércitos de Angola (FAPLA) e Cuba (FAR) contra a UNITA  (União Nacional para a Independência Total de Angola) e o exército sul-africano.

Foi a batalha mais prolongada que teve lugar no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial. É considerada também a segunda maior batalha de terreno do século XX, superada apenas pela batalha de Kursk. Ambos os lados do conflito reivindicaram vitória, e até hoje as narrativas e memórias sobre a batalha são objecto de debate.

Não obstante, o evento tornou-se o ponto de viragem decisivo na guerra que se arrastava há longos anos, incentivando um acordo entre Sul Africanos e Cubanos para a retirada de tropas e a assinatura dos Acordos de Nova Iorque, que deram origem à implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU.

cuelei6.jpg É a resolução 435/78 que conduz à independência da Namíbia e ao fim do regime de segregação racial, que vigorava na África do Sul. Em 23 de Março de 1988, trava-se a batalha decisiva. O Alto Comando das tropas sul-africanas decidiu passar à ofensiva. As forças conjuntas SADF/UNITA, após intenso fogo de barragem, lançaram-se numa derradeira ofensiva contra as posições angolano-cubanas.

Aquele ataque, foi rechaçado ao fim de 8 horas de combates, com as forças revolucionárias a desencadearam uma contra-ofensiva, obrigando-os a recuarem… Em Dezembro de 1988 o MPLA e a UNITA, assinam o Acordo Tripartido na cidade de Nova Iorque, acordando com a retirada das forças estrangeiras do conflito angolano. Na mesa das negociações, o regime da África do Sul vê-se obrigada a aceitar os acordos aqui supra citados (Afirmações generalizadas, afirmam que  é quem perde que cede...)

Desfecho Final: -O impasse militar de Cuíto-Cuanavale foi reclamado por ambos lados como uma vitória. O lado angolano afirmou que, em situação inferior, impediram a invasão do território angolano, pelas forças da África do Sul. Porém na África do Sul, os partidários da guerra proclamavam como triunfo o facto de o exército deles menos equipado mas melhor treinado, ter impedido o avanço do comunismo.

cuito9.jpg Em Janeiro de 1989 os cubanos iniciam a sua retirada de Angola, pelo que o representante Episcopal, Cardeal D. Alexandre do Nascimento difunde a mensagem de “Reconciliação e Paz”. A 22 de Junho de 1989, Eduardo dos Santos e Savimbi encontram-se em Gbadolite, no Zaire, sobe mediação de Mobutu. No plano negocial apresentado por Luanda, o “caso especial Dr. Savimbi” é o ponto 5 da agenda que exige a retirada temporária do líder da UNITA da cena politica angolana.

Inicialmente, Jonas Savimbi concorda em afastar-se. Chega a estabelecer-se um cessar-fogo, mas a euforia nas frentes de batalha de um e outro lado, foi breve. As armas voltam a crepitar, quando Savimbi dá o dito por não dito anunciando que não se retirará de Angola. O MPLA utilizando 20.000 homens e 400 tanques lança a “Operação Último Assalto” para recuperar Mavinga. O objectivo não é conseguido pelos governamentais pois que não conseguem o pretendido - atingir a Jamba.

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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e  RTP - Notícias e Wikipédia…

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O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:26
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Quinta-feira, 18 de Julho de 2024
VIAGENS .186

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA*OPERAÇÃO PROTEA - 1ª  E 2ª BATALHA DE MAVINGA

- Crónica 3597 – 19.07.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

cuito9.jpg Em 1984, assina-se o 1º acordo Luanda/ Pretória para a retirada das tropas cubanas e constituir-se uma comissão especial, militar/mista, de verificação das operações de recuo, no entanto, por várias vezes, os sul-africanos regressam a Angola em apoio da UNITA, utilizando o “Batalhão Búbalo”.

O “Batalhão Búbalo” era composto essencialmente pelas topas da “Revolta do Leste”, de Daniel Chipenda além de voluntários de várias nacionalidades, entre os quais alguns portugueses. Foram necessários mais quatro anos com repetidas pressões internacionais, para se chegar à primeira reunião tripartida de Londres, na qual pertenciam Angola, Estados Unidos da América, Cuba e África do Sul.

cuito8.jpg Seguem-se novos encontros, em Brazaville, Nova Iorque e, finalmente, a assinatura firmada em Washington. Estes acordos, garantidos pelos Norte-Americanos e Soviéticos, tornaram possível a independência da Namíbia com a sequente retirada de 55.000 cubanos estacionados em Angola, no prazo de 27 meses.

Pretória anuncia a retirada total dos sul-africanos de Angola, mas e, em contrapartida, os Estados Unidos da América, levantam o embargo de nome “Emenda Clark” passando a apoiar a UNITA – Estava-se em Julho de 1985… Seguindo uma série de tentativas frustradas de dominar a região em 1986, oito brigadas da FAPLA realizaram uma ofensiva, conhecida como "Operação Saludando Octubre" em Julho e Agosto de 1987.

cuito7.jpg Esta «Operação Saludando Octubre», que envolveu a 16.ª, 21.ª, 47.ª, e 59.ª, Brigadas das FAPLA tinha como objectivo a captura dos «SANTUÁRIOS DA UNITA» no Sudeste de Angola. Após um período de acumulação de material e grandes concentrações de infantaria, as forças armadas angolanas, as FAPLA, desencadearam essa ofensiva.

E, foi-o com toda a força, contra os centros vitais da UNITA em Mavinga e Jamba. A logística da operação  partia das vilas de Luena e do Cuito, contando com o apoio de artilharia pesada, de caças e bombardeiros soviéticos MIG-23 e SU-22, tanques T-62 e helicópteros de ataque ao solo MI-24/25.

cuito6.jpg Em verdade, as forças governamentais, foram com tudo, contando com apoio de unidades motorizadas cubanas. A ofensiva das FAPLA colocou a UNITA numa posição insustentável; as bolsas de resistência criadas pela UNITA sob pressão contínua dos governamentais, tinham séries dificuldades em articular-se na perfeição.

Perante a eventual derrocada das forças de Jonas Savimbi e a pedido deste, os sul-africanos, a partir das suas bases instaladas em território angolano e na Namíbia, desencadeiam as operações «Moduler8» e «Hooper», com o objectivo de parar a ofensiva angolana, lançando as suas melhores tropas e material militar de última geração, nomeadamente caças Mirage F1 AZ e aviões de ataque Impala, Lançadores Múltiplos de Foguetes (Multiple Rocket Launcher, MRL) e obuses G59…

cuito5.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e  RTP - Notícias e Wikipédia…

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O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:56
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Terça-feira, 16 de Julho de 2024
VIAGENS .185

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* -  OPERAÇÃO PROTEA - 1ª  E  2ª BATALHA DE MAVINGA

- Crónica 3596 – 16.07.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

cuito1.jpg Depois da descrição sucinta dos Congressos Ordinários e Extraordinários da UNITA, voltamos a  rever aleatoriamente no tempo, outros eventos de destaque: No ano de 1980 a UNITA fixa-se na JAMBA do Cuando-Cubango. Em Novembro, os antagonistas, UNITA, MPLA, Cubanos e África do Sul  envolvem-se na 1ª batalha de Mavinga que resultou em mais de 800 mortes.

O apoio sul-africano à UNITA viria a tornar-se mais efectivo com a invasão da província do Cunene a 23 de Agosto de 1981 na «Operação Protea», e a subsequente ocupação de uma faixa tampão na fronteira sul de Angola numa profundidade de 200 quilómetros, com o duplo objectivo de neutralizar as operações de guerrilha da Organização do Povo do Sudoeste Africano (South West Africa People’s Organization, SWAPO).

cuito2.jpg O território da Namíbia, então ocupado por protectorado pelo África do Sul, teria de, por outro lado, estabelecer um ponto de partida para novas operações no interior de Angola. O propósito imediato era a consolidação do domínio da UNITA nas províncias do Cunene e do Cuando-Cubango, na perspectiva da criação de um “bantustão” no sudeste angolano..

É nesta altura que o presidente José Eduardo dos Santos pede ao Secretário-Geral da ONU, Pérez de Cuéllar, a convocação do Conselho de Segurança da Nações Unidas – ONU, para discutir a agressão Sul-Africana. Mas a resolução da condenação foi vetada pelos Estados Unidos, de acordo com a estratégia delineada por Washington e pela África do Sul para aniquilar as FAPLA e o MPLA (o comunismo…).

cuito3.jpg A situação em todo o sul de Angola agrava-se com o aumento das hostilidades. A UNITA reforça-se militarmente em armamento e conselheiros militares e, com o apoio das administrações Reagan (EUA), Thatcher (Grâ-Bretanha) e a ajuda do seu aliado Sul-Africano que desencadeia operações militares contra as bases da SWAPO, do Congresso Nacional Africano (African National Congress, ANC).

Também contra posições das FAPLA, para além de acções de sabotagem às linhas dos Caminhos de Ferro da Benguela (CFB), com destruição de infra-estruturas políticas e económicas e minagem de linhas de abastecimento, entre as populações, aldeias, vilas e cidades do Sul de Angola.

cuito4.jpg O ano da “Operação Protea” leva ao controlo militar da UNITA com a ajuda Sul-Africana, na Província do Cunene. Estavam ali sediados 8.000 guerrilheiros da UNITA. Porem, até à chegada das forças angolanos, Mavinga recebe um reforço de 4.000 tropas da SADF (South African Defence Force), vindo a confrontar uma força de 18.000 soldados angolanos.

Na visão das FAPLA, Mavinga seria o primeiro passo no caminho para a Jamba - Cueio e, assim, penetrar na Área  de Kaprivi. Ao tentar travar o seu avanço, os governamentais são surpreendidos por nova frente dando-se a 2ª Batalha de Mavinga, que provoca mais de 1.200 mortos. A UNITA sai vitoriosa e ocupa a cidade. O ataque a Mavinga foi uma derrota total para as forças angolanas, com baixas estimadas em 4.000 mortos. A manobra de contra-ataque das SADF, nomeada “Operação Modular” foi um êxito, forçando as tropas das FAPLA e das FAR a retroceder 200 quilómetros de volta a Cuito-Cuanavale numa perseguição constante através da Operação Hooper.

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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e  RTP - Notícias

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O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:54
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Sábado, 27 de Abril de 2024
VIAGENS . 161

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3572 – 27.04.2024

 “DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI” Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba16.jpg A Jamba, “Estado Livre de Angola”, estava a ser preparada para em segurança, receber seu líder e seu Estado Maior no firme propósito de ali permanecer sem o serem bombardeados pelas chamadas forças governamentais coadjuvados por cubanos e assessores russos. A Jamba, que se tornaria numa dimensão mítica, estava a ser instalada. Neste meio tempo, a ausência de Savimbi prolongava-se  por períodos que poderiam ir até três meses.

Na ausência de Savimbi, Eugénio Manuvakola assumia interinamente o cargo de presidente, tendo Abel Chivukuvuku como seu secretário. A partir de meados de 1979 Savimbi iria instalar-se em JAMBA, a base que já tinha todos os requisitos para funcionar com os requisitos técnicos optimizados e as infraestruturas  básicas como por exemplo os misseis  do tipo Sringer .

jamba17.jpg No tempo que medeia entre a formação militar dos enquadrados instruendos da UNITA nos campos Delta, Quadado e Ómega e, até se dar o  início  das actividades na Jamba em 1979, a inteligência militar da UNITA sabia tudo sobre cada unidade das forças armadas do governo do MPLA e aquartelamentos cubanos - a logística, por meio de seus oficiais formados em vários países com o aberto beneplácito dos EUA estava afinada e refinada…

Os novos oficiais da UNITA, eram já conhecedores das mais modernas e diversificadas  tecnologias de guerra, nomeadamente da Segurança do Estado Stasi da polícia secreta da Alemanha Oriental, mas e também  Israel, Marrocos entre outros afectos aos estados Unidos da América. Aos formandos foi-lhes proporcionado saber qual o melhor modo de pensar do MPLA e das forças expedicionárias comunistas.

malawi3.jpg Eram conhecidas as comunicações internas do regime de Luanda e até do próprio presidente Agostinho Neto e Eduardo dos Santos;  Conheciam ao pormenor os relatórios da CIA e sabiam ao momento, vendo imagens de satélites espiões. Havia assim um perfeito conhecimento entre os movimentos do Galo Negro na interacção e utilização de armas estratégicas que lhes haviam sido fornecida tais como os misseis FIM – Stinger.

Qualquer disparo saído da Jamba, e outras bases estratégicas moveis, feito pelas FALA, acto continuo haveria comunicação de dados excênciais, do como e porquê segundo os parâmetros obrigatórios tai como coordenadas UTM entre outros meios criptografados com os Serviços de Inteligence Militar Sul-Africano e, com o Estado Maior das FALA.  Isaias Samakuva era o oficial responsável  situado na base Quadrado – Rundu.

jamba18.jpg A base “Quadrado”, era um lugar de máximo secretismo  algures situado na Faixa de Kaprivi e, inserido na logística global das bases Delta e Ómega. As actividades de Abel Chiukuvuku que estava à frente dos Serviços de Inteligência, Informação e contra-informação, fazia-se notar pela  lucida aptidão e ligeireza optimizada. Com valentia, o general Arlindo Pena (Ben-Ben), coadjuvado pelo general  Demósthes Amós Chilingutlla  sobresaiam em logística moderna na confluência entre os rios Lomba e Cuzumbia.

As actuais e futuras gerações aprenderão também lições da história política dos mais-velhos, militar, administrativa, de resistência em Angola e sequente trabalho de opinião e influenciação das individualidades e mentes públicas efectuada na diáspora, gente incógnita que na dissimulação tal como passarinhos que apagam com gotas de seu suor, incêndios na mata. Saberão como, uma parte de Angolanos que começaram em Fevereiro de 1976 numa caminhada para Sul, construíram uma capital dum Estado invicto e funcional - JAMBA…

araujo19.jpg Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa

(Continua…)

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:28
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Segunda-feira, 22 de Abril de 2024
VIAGENS . 159

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3570 – 22.04.2024

 “A 2ª MARCHA – DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI”Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba5.jpg Respirando a noite, metido em calções de caqui, o bafo quente de África contorcia-me a mente como num remoinho de orgasmo. O encanto do mato, seus cheiros e ruídos, em África, são tão especiais que ofuscam a mente com espíritos. As vozes rugosas entrecortadas com choros de hiena e latidos de mabecos arrepiavam ao cair da noite.

Sem pálpebras no olhar, o escuro da Faixa de Kaprivi era mais inebriante  que qualquer outro, a lua feita um risco com nome de nova; o cacimbo miudinho fazia levantar um aroma extasiante, a luz difusa do xipefo vulgo candeeiro de petróleo,  tracejava-o ondulante para além do mato cerrado da margem do Okavango. Para lá desses matos a cagufa latejava nas temporas amargando a boca de gosto rançoso de minha antiga guerra, no lugar aonde também andou esse tal de Ché…

jamba4.jpg Ali e, naquele agora cada burro poderia carregar entre trinta a cinquenta quilos, resistindo bem ao calor e à sede. Foi desta forma que passados uns largos dias, cinquenta por aí, os guerrilheios de Savimbi chegaram à base de Cuelei, acarinhados por cânticos e danças fazendo renascer o Galo Negro das cinzas. A ajuda Sul-africana, foi a partir daí bem substancial, permitindo à UNITA tornar-se mais forte que nunca.

Em Dezembro de 1976, tendo já o apoio do regime do apartheid, da China e dos Estados Unidos, algures  na base de Malengue e, tendo Jonas Savimbi recuperado das longas marchas, preocupado que estava em reagrupar e reorganizar o que restava da UNITA, tendo a seu lado Samuel Chiwale, N´Zau Puna,Tito Chingungi e Altino Sapalalo, conhecido por Bock, dirige-se aos dois jovens corajosos que proporcionaram o encontro destes com os Bóhers na Faixa de Kaprivi dizendo:

jamba3.jpg - Depois do feito destes jovens por sua determinação, estou verdadeiramente convencido de que vamos sim, formar um exército! Tratava-se dos jovens saídos da Missão do Dondi, Abel Chivukuvuku e Vituse que fizeram um primeiro contacto com as autoridades Bóhers da fronteira sul de Angola, a chamada Ovoboland, entre a cidade do Rundu e o Divundu.

De forma eufórica, Sabimbi, levantando seus braços afirmou: Dentro de quinze anos a revolução trunfara! Os jovens guerrilheiros ficaram bem taciturnos, bem dismilinguidos de frustração  com esta firmação, do mais-velho! Tanto tempo, assim! Nesse entretanto, ali na base de Malengue, em um outro dia, foi lido aos soldados um conjunto de despachos. Chendovava era promovido a major tendo como adjuntos os capitães Bock e Tito Chingungi.

jamba2.jpgA Companhia dos “jovens intelectuais” que entretanto tiveram três meses de instrução e especialidades, é dissolvida. A cada soldado é dado o específico destino como soldado da UNITA. Uns irão para o Rundu, mais propriamente para as bases Ómega e Delta da Faixa de Kaprivi, na Namibia adquirir formação em explosivos.

Ouros, terão formação em comunicações, logística militar de defesa antiaérea, formas de disciplinas militares e outras tecnologias modernas em uso de armas inteligentes.  Formas de informação, de desinformação e controlo aéreo. Outros, têm a missão de prosseguir os estudos em países africanos e europeus. A  Chikukuvuku foi-lhe destinado ir para a base secreta do Rundu, a secreta Delta na Faixa de Kaprivi num dos acampamentos, juntamente com Aniceto Cavala e Jardo Muekalia.

jamba11.jpgNota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.

Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa

(Continua…)

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:20
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Domingo, 14 de Abril de 2024
VIAGENS . 157

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3568 – 14.04.2024

 “A 2ª MARCHA – DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI”Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba13.jpgAnos mais tarde, com João Miranda Khoisan e sua filha Ana Maria, em Suclabo Lodge propriedade duma madame de nome Suzi e, que mais tarde tomou o nome de Divava Okavango Lodge e Spa, cinco estrelas de “elegant style and luxury”, do outro lado do Okavango relembraríamos. Foi ali o  bivaque base Ómega aonde a UNITA, na pessoa de seu presidente Jonas Savimbi, entabularam negociações com os bóhers da África do Sul.

Sabendo de antemão que neste mundo só os anjos não têm costas, ouço de novo João Miranda: - Isto é mato, amigo!; assim falou estalando a língua assolapada ao seu céu bem ao jeito dos bosquímanos.  Continuando a descrição encetada no Cuelei, naquele então, fins do ano de 1976, decorridas largas horas, o coronel  Philip du Preez, regressando de seu périplo vistoria às suas tropas ao longo da fronteira, desceu de seu helicóptero, entrou na tenda com seus homens, e  todos eles comeram e beberam.

jamba11.jpg Comeram e beberam sem se cuidarem ou lembrarem sequer dos angolanos que os aguardavam lá fora, com uma fome negra. Assim é descrito no livro de “Vidas e mortes de Abel Chivukuvuku” por Agualusa mas, quanto a mim, acho desmedida esta inventação de narrativa. Uma grande desfeita nada peculiar conhecendo-se a estatura e,  até diplomacia dos intervenientes.

A descrição do encontro surge assim com detalhes sórdidos e inusitados. Aliás, nem creio que aquele coronel bóher assim se tenha comportado por me parecer pouco natural, até bizarro. Ter este calibre de comportamento com esta gente guerrilheira, parece-me ser de um torpe e grosseiro descuido, por o serem já tão conceituados e, sobretudo tendo essa conhecida figura, como chefe da delegação - uma afirmada lenda de guerrilheiro africano chamada de Jonas Savimbi.

jamba12.jpgPois então, seus homens tiveram de esperar ainda algum tempo fora da grande tenda, antes de finalmente, conseguirem matar a fome. Aleluia! Por fim houve tempo para discutir ao que os levava ali às terras do Fim-do-Mundo. De forma brejeira é dito que o coronel du Preez, começou por sugerir que os guerrilheiros da UNITA se juntassem ao recém formado Batalhão 32; Sabimbi, indignado, recusou…

A UNITA era um Movimento de Libertação angolano. Não o seria, nunca, assim frisou indignado o Mwata guerrilheiro Jonas Savimbi, um simples instrumento de guerra nas mãos dos bóhers. Philip du Preez, duvidou da firmeza com tenacidade dos guerrilheiros angolanos: - Vocês estão mesmos dispostos a enfrentar sozinhos os cubanos? Têm coragem para isso? Sim, temos! Assegurou com firmeza Savimbi.

jamba10.jpg E continuou falando: - Necessitamos de vocês, nesta fase periclitante, para que nos forneçam material de guerra; é só o que queremos, reafirmou. E, vocês precisam de nós para conter o avanço do comunismo junto às vossas fronteiras. O Coronel Philip, prometeu nessa mesma noite falar com os seus superiores de Pretória, despedindo-se em seguida, subindo para o helicóptero bem à justa de forma a alcançar sua base ainda de dia…

Na percepção parcial das vitais contingências, tecidas e compostas nas coincidências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinam o futuro próximo e distante. Com encontros decisivos de nula ou muita importância, um simples dia de vida com rooibos tea and rusk bread, Windhoek lager, biltong bóher e bacorinho no espeto, assado pelo Thinus de Outjo, o mais genuíno carcamano bóher da família Miranda do Mukwé, a vida acontece…

Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:38
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Quarta-feira, 3 de Abril de 2024
VIAGENS . 153

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3564 – 03.04.2024

 “APÓS A LONGA MARCHA ” No Cuelei, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

cuelei6.jpg O tenente general Philip du Preez, oficial sul-africano, representando seus militares, relembra anos mais tarde que, em Agosto de 1976 e, após a “Grande marcha”, estavam no Moxico, começando nesse então a cooperar com a UNITA. Era um pequeno número de pessoas e com poucas munições, mas tomando conta do grupo líder que até então estava sob o comando do major Katali. Acomodámo-los e treinámo-los", salientou o oficial sul-africano na reserva.

O tenente general Philip du Preez indicou ter estado na origem da formação de comandos africanos angolanos em Angola para combater as forças governamentais e, que começaram então a ser apoiados pelos soviéticos e cubanos, numa guerra civil que só terminaria em 2002. O mesmo oficial afirmou: Que em Angola e, "Após o final da grande guerra de  TUNDAMUNJILA 1975, que se estendeu até Fevereiro de 1976, quando parou.

cuelei5.jpg Os militares sul-africanos aconselharam Savimbi a não tentar avançar no terreno sem mais nem menos (para combater as forças governamentais), mas entrar sim num esquema de guerrilha. Savimbi preferiu flectir para o leste, para a província do Moxico, para descansar e preparar as suas tropas", sublinhou…  E, o tenente general Philip du Preez continua: "Depois enviámos uma mensagem a Savimbi a perguntar se queria a nossa ajuda, que nós enviaríamos pessoal para o Moxico.

Parece não ter sido bem nestes moldes mas, nas descrições que se seguirão serão percebidas as narrativas; veremos isso, quando se descrever o encontro na Faixa de Kaprivi no estão Sudoeste Africano - Namíbia. Disse que sim e enviámos cerca de 100 pessoas. Consegue imaginar o mapa da Angola de então?

cuelei4.jpg Do Moxico (Luena, base principal) para Catuiti (província do Cuando Cubango, próximo da Faixa de Kaprivi, na Namíbia) são cerca de cerca de 1.200 quilómetros. Andaram e andaram e andaram. Foi a verdadeira expressão … O oficial sul-africano lembrou que já não estava presente na criação do Batalhão 32 (ou Batalhão Búfalo), pois entregara a operação a um "jovem militar, muito bom", o então coronel Jay Breytenbach, militar de infantaria do exército sul-africano.

E, Continua: -"Pegou nesse grupo e foi para a guerra, não como Batalhão 32, mas como o “Grupo Bravo”, a que se juntariam, em fins de Agosto de 1976, vários outros elementos, maioritariamente da UNITA, que criaram o muito eficiente Batalhão Búfalo", explicou.

cuelei3.jpg Questionado pela  agência  Lusa sobre as razões de o exército sul-africano ter decidido envolver-se na guerra civil em Angola, lembrou que, na altura a palavra "comunista" era "muito, muito mal vista" na África do Sul e que a presença de militares soviéticos e cubanos nas proximidades do então Sudoeste Africano não agradava a ninguém do mundo ocidental.

Philip du Preez  em síntese disse: -"Trabalhámos muito com Savimbi, de 1975 até 1976 e, depois, até 1990", lembrou o oficial sul-africano, que considera o líder histórico da UNITA como um homem "muito carismático, um grande líder e adaptável". "Estive presente quando falava com os reis tradicionais locais, com os seus súbditos. Não se pode imaginar a impressão que causava. Falava sempre com uma linguagem popular e não havia nenhum chefe tradicional que se lhe opusesse. Nós, sul-africanos, gostávamos muito de Savimbi", realçou…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:55
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Sábado, 30 de Março de 2024
VIAGENS . 152

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3563 – 28.03.2024

 “A LONGA MARCHA  DE SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba1.jpg Hodiernamente, não sei se voltarei a passar nas ruas da Luua que me viram crescer numa mulola chamada de Rio Seco da Maianga porque, também minha passada irá entristecer-se na recordação, do que foi e, já o não é. A sombra que preside aos tempos de agora (2024) e, que por dá cá aquela palha, se ateia a mente, queimando os fusíveis dos coiros, sempre lembrará o tempo em que o fui, feliz, na compreensão muda e queda, das muitas e, alheias infelicidades circunscritas.

Em 1975, embarquei para o M´Puto sem o querer, pela inquieta, medonha ou desolada guerra do tundamunjila. A terra do futuro ficou tardia, sarando-me das pústulas feitas vulcões  na diáspora, comendo sandes na “Tendinha” de Lisboa do Rossio do M´puto, um panado ou posta de bacalhau regada com um penalti. Mais tarde comendo arepas com carne mechada na Venezuela, biltong na África do Sul e coxinhas de galinha no Brasil.  Agora, recordo a odisseia da “Grande Marcha de Savimbi”, como uma prometida vontade a mim mesmo: sentir com a UNITA, essa nova era da mudança para Angola.

vermelho 04.jpg Algures na mata. «Estávamos preocupados com medo de que algum helicóptero pudesse sobrevoar-nos», disse Savimbi. «Disse-lhes que esta não era a maneira de conduzir uma guerra de guerrilha; não queremos riscos. O povo, porém, disse que não nos preocupássemos, que não fora ainda molestado naquele lugar. Numa aldeia, apenas a dois dias de caminho da base, estavam milhares de pessoas a dançar e a cantar. Disseram que nos acompanhariam até à base.

Respondi ao soba que isto  não seria bom, que se a população se portasse assim, não teríamos segurança. Um dia eles seriam descobertos e atacados pelo MPLA e pelos cubanos. Afirmei ao soba que não queria o povo atrás de mim. Chamá-los-ia dentro de uma semana, para um grande comício, já na base. Falhei porém, seguiram-nos sempre, a cantar durante todo o caminho.

jamba2.jpg Desisti e afirmei, vamos correr o risco. Por isso, eles vieram connosco até o Cuelei e foi  este o fim da longa marcha. A  base do Cuelei ficava a cerca de 150 quilómetros para sudeste do Huambo. Estava sob o comando do major Katali, que reunira nesse acampamento cerca de oitocentos guerrilheiros e, duzentas mulheres com crianças.

A “Longa Marcha” terminou com a entrada de Savimbi no Cuelei a  vinte e oito de Agosto de 1976, cerca de sete meses, com três mil quilómetros percorridos após a sua fuga do Luso, seguido por dois mil adeptos. Destes, apenas setenta e nove, incluindo 9 mulheres, estavam com ele, tendo os demais morrido, sido separados para outros locais ou, simplesmente, ficando para trás.

arau1.jpg Foram alguns meses trágicos; porém contra todas as probabilidades e contra todas as espectativas dos estranhos, Jonas Malheiro Savimbi, sobrevivera. A guerra que muitos comentadores anunciaram ter terminado com a victória cubana, em Fevereiro de 1976, iria continuar. Seguem-se agora entre estórias recolhida do baú de lata cravadas com ripas de pau kibaba, o desenrolar da odisseia de sobrevivência de um punhado de gente resiliente  com o espirito sempre presente da UNITA…

E, porque já em tempos disse de quem pensa que sabe tudo, um dia vem a saber mais um pouco, de novo o digo. E, para não ficar só no espírito,  volto à carga com a estória que me liga a uma felicidade estrangulada. Foi assim que arrumando meus cacifos de memória, achei ser justo neste espírito de letras e valores, passado que é meio século após o ano de setentaecinco,  retroceder aos itens de dignidade que persistem passeando um galo de cerâmica na lapela do terno diplomático…

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:00
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Domingo, 18 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 140

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3551 – 18.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

moxico1.jpg Entretanto recorda-se (Via Wikipédia): O Presidente da Guiné-Conacri, Ahmed Sékou Touré, foi quem fez a proposição de reconhecimento da RPA na reunião da Organização da Unidade Africana (OUA) de 10 de janeiro de 1976 em Adis Abeba. A 11 de Fevereiro de 1976, a OUA, então presidida pelo Presidente do Uganda Idi Amin Dada, reconheceu a RPA como legítimo governo de Angola, aceitando-o como o 47º. membro da organização.

O General Kamalata Numa da UNITA anos mais tarde em resposta a uma pergunta esclarece ter  havido actuação de tropas congolesas ao lado das tropas ditas regulares do MPLA: - É verdade! À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola…

moxico01.jpg Continuando com a descrição do que foi a grande marcha de Savimbi e, ainda muito longe do seu termo, a coberto da escuridão, Savimbi dividiu em três grupos inteiramente novos, os seus próprios seguidores, os de Samalambo e os do capitão Chimbijika, que os oficiais de Savimbi descobriram ter montado uma base da UNITA com 100 guerrilheiros. Cada um dos grupos partiria durante a noite em direcções diferentes.   

Esperavam iludir os pisteiros do MPLA, levando-os a acreditar de que a maior coluna, a de Samalambo, era a que protegia o líder Saviambi. Os três grupos tomaram o rumo das matas mais densas, afastados tanto quanto possível das margens dos rios, estradas e povoações. Os oficiais de Savimbi observaram  que os cubanos patrulhavam regularmente ao longo do curso dos rios e das estradas, na sua busca pelos homens da UNITA. Aventuravam-se pouco nas zonas de matas que se estendiam pelas áreas rurais e, com as quais, só os guerrilheiros  da UNITA estavam familiarizados.

moxico2.jpg Às  primeiras horas da noite, homens e equipamentos movimentaram-se  para cá e para lá, entre os três grupos, através dos muxitos das matas. Savimbi transferiu o seu rádio e operador para Samalambo, que poderia vir a precisar mais deles: ele deveria dirigir-se a uma área sob muito maior controlo por parte do inimigo e estabelecer uma base da UNITA perto do Caminho de Ferro de Benguela.

Savimbi disse aos seus guerrilheiros que dormissem, porém, passou a noite a dar instruções aos oficiais superiores das três colunas. Ele disse: «Como homens do exército, poderiam querer desesperadamente combater o inimigo. Em vez disso, porém, tinham de com firmeza e depressa actuarem, afastando-se do problema». Para conseguirem  o que se propunha, teriam de conciliar a necessidade de uma rigorosa obediência por parte de seus homens, com a capacidade de lhes demonstra  compreensão numa situação de desespero.

moxico5.jpg Foi bem peremptório ao dizer-lhes que existiam razões de sobra para terem  esperança. O inimigo mostrava que a sua estratégia era fraca. Estavam a actuar como estranhos: Não conheciam o terreno nem tinham o apoio da população, pois, de outra forma, nessa altura já Savimbi teria sido capturado. Estava bem claro, agora, para os oficiais, que a população estava com a UNITA. E Savimbi disse-nos: «Se o povo não desiste, porque razão desistiria eu?».

Nesse mesmo ano, após um veto por parte dos Estados Unidos, a Assembleia Geral das Nações Unidas admitiria Angola como membro 146º, em 1 de dezembro de 1976. Mesmo reconhecendo a independência angolana deste 10 de Novembro de 1975, o Governo Português somente reconheceu a autoridade do MPLA, sob o comando do Presidente de Angola Agostinho Neto a 22 de dezembro de 1976.

Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:39
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Quinta-feira, 8 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 136

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3547 – 08.02.2024

O 11 de Novembro de 1975 no Huambo” - “A LONGA MARCHA” 

- Escritos boligrafados da minha mochila, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita1.jpg Proclamação de Independência paralela – No Ambriz e Huambo, Holden Roberto, líder da FNLA, proclamava a Independência da República Popular Democrática de Angola (RPDA) à meia-noite do dia 11 de Novembro, no Ambriz. Nesse mesmo dia, a independência da RPDA foi também proclamada em Huambo, por Jonas Savimbi, líder da UNITA.

Reconhecimento internacional e consequências das 3 prolamações: Logo depois das três declaração da independência em Luanda, Ambriz e Huambo, reiniciou-se a Guerra Civil Angolana (que já estava em curso desde Fevereiro de 1975) entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e, sobretudo, a UNITA não se conformaram nem com a sua derrota militar nem com a sua exclusão do sistema político.

mocanda32.jpg Uma parte considerável da população rural, especialmente a do Planalto Central e de algumas regiões do leste, fugiu para as cidades ou para outras regiões, inclusive países vizinhos. Em Fevereiro de 1976, deparamos com o rápido avanço do MPLA com cubanos para a tomada do Lobito, Benguela e Huambo à UNITA a sul e, a norte o Soyo, a antigo Santo António do Zaire sob a alçada da FNLA.

A seguir, o Comité Político da UNITA abandona Huambo e inicia a retirada para Sudeste. Savimbi inicia, juntamente com duas mil pessoas, aquilo a que se veio a chamar a “Longa Marcha”. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, viria a atingir o Cuelei só a 28 de Agosto, milhares de quilómetros percorridos, apenas com 79 resistentes.

unita2.jpg Lendo Fred Bridgland, este, conta o que a seguir se trancreve com a devida vénia de algumas passagens do que foi  “A Longa Marcha de Jonas Savimbi...”. Tudo começa a 8 de Fevereiro de 1976. Aconteceu quando as colunas blindadas de cubanos entraram no Huambo, o quartel-general político da UNITA, durante os seis meses anteriores.

Com a ocupação do Huambo, a vitória fora, virtualmente, completa para os cubanos e o MPLA. No dia seguinte, Savimbi abandonou o seu quartel-general no Bié e voou em direcção ao Leste, para o Luso... Ao principio da tarde do dia 10 de Fevereiro, o capitão “Bock” Sapalalo ouviu os camiões cubanos e do MPLA que se aproximavam da última ponte a norte do Luso...

unitao1.jpeg Alcides Sakala

Savimbi dormia, pela primeira vez em 70 horas, quando as primeiras bombas explodiram no Luso, às 4 da tarde. Foi acordado do seu sono profundo por Chiwale. A população estava em pânico. Savimbi convocou rapidamente uma reunião para lhes dizer que a UNITA iria retirar e organizar uma nova guerra de guerrilha.

Meia hora depois de terem caído os primeiros morteiros, três aviões MIG bombardearam violentamente a cidade tendo morrido cerca de 50 pessoas. Imediatamente após o ataque aéreo, foi ordenada a evacuação do Luso. Cerca das 5 horas e 15 minutos da tarde, os primeiros veículos da UNITA abandonavam a cidade: na coluna de carros diversos e Land-Rover seguiam cerca de 1000 guerrilheiros que Chiwale conseguira reunir. Alguns milhares de civis, com os seus haveres, seguiam pelas bermas da estrada. O cortejo tomou o rumo sul, em direcção a Gago Coutinho, que distava dali cerca de 350 quilómetros.

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:48
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Quinta-feira, 25 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 131

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3542 -25.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.3 A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

valentina3.jpg No Baleizão comi prego no pão com Coca-Cola. Nos bares à beira da praia comi santola, camarão, peixe no molho de dendê, muamba com pirão de milho. Eu nem sabia, senhor, que fabricava as lembranças mais caras. Um dia elas seriam os retalhos coloridos da minha colcha de saudades.

Tudo mudou em Abril de 1974. Angola ansiava pela justa independência; estávamos numa entressafra de tranquilidade. O terrorismo de 1960 quase não existia mais – não sentíamos isso. Os guerrilheiros tinham sido rechaçados pelas tropas portuguesas. Porém, com as mudanças na política de Portugal Continental, tudo mudou nas colónias lusitanas da África. Grândola Vila Morena deu a senha para os cravos florescerem nas armas. Marcelo Caetano caiu!

luua9.jpg O socialismo venceu em Portugal: Álvaro Cunhal, Mário Soares e seus camaradas no poder de então, apoiaram a independência e o Movimento Pela Libertação de Angola (MPLA), liderado por Agostinho Neto e patrocinado pela ex-URSS, Cuba e Alemanha Oriental. Mas no país existiam também a Frente Nacional de Libertação de Angola, de Holden Roberto, apoiada pela França e pela Bélgica; e a União Nacional pela Independência Total de Angola, de Jonas Savimbi, apoiada pelos Estados Unidos. FNLA e UNITA não aceitaram os favores de Portugal ao MPLA.

Iniciou ali, senhor, a grande guerra civil que devorou o meu país por três décadas. A violência aumentava a cada dia. Balas perdidas, rajadas de metralhadora, morteiros de bazuca e granada passaram a ser rotina. Quantas vezes, tínhamos que nos jogar no chão, dentro da sala de aula ou do cinema? Lembro de um dia em que Jesus Christ Superstar estava na tela enquanto eu, deitada no chão no cine Tivoli, ouvia as balas assoviarem por cima.

xiricuata5.jpg Era difícil para todos, mas quem tinha pele branca, como eu, caia em um limbo. Eu não era colonizadora, nem exploradora. Era uma adolescente angolana, pobre e agora considerada inimiga. Em meados de Março de 1975, começamos a cumprir o toque de recolher. A partir das 16 h, brancos não podiam andar nas ruas sob pena de serem presos ou mortos por grupos guerrilheiros. Estes não eram mais chamados terroristas e sim aclamados como heróis da libertação.

Havia assassinatos de homens brancos todo santo dia. As mulheres sofriam mais: eram seviciadas antes de morrer. Minha mãe rendeu-se ao medo: em Junho daquele ano me mandou para Nova Lisboa, onde tínhamos familiares e as coisas estavam mais tranquilas. Muitas famílias estavam fugindo do norte do país e indo pra a nossa região, onde recebiam apoio da Cruz Vermelha Internacional para deixarem o País com destino a Portugal ou à África do Sul.

camionista1.jpg Comecei a trabalhar como voluntária num dos postos da Cruz Vermelha. As caravanas do norte se multiplicavam. Eram tantas, que houve dias em que não dormíamos. Engolíamos pedaços de pão enquanto limpávamos ferimentos, distribuíamos comida e dávamos informações. Quando conseguíamos parar por alguns minutos, encostávamos o corpo nas caixas de alimentos e dormíamos em pé mesmo.

A multidão rugia em desespero. Gente à procura da família, gente abatida e sem rumo. Derramavam grossas lágrimas, lamentavam-se em alta voz pelos parentes mortos, pelos bens perdidos, pelas emboscadas às caravanas. O bicho homem é bruto, meu senhor. Lembro muito bem, ainda hoje, de uma caravana. De um dos carros desceu uma família atacada na estrada. A mãe tinha uns olhos perdidos e carregava o filhinho no colo. Seu choro era um chicote que arrancava lascas da gente e tingia de cinza o vasto mundo. Implorava que lhe salvássemos o menino, mas ele, senhor, já estava morto. Nesse dia, lembro-me bem, rompi com Deus. Reneguei-o. Era bem certo que nenhum ser supremo e bom poderia ter criado tal humanidade perversa e tanta dor a fustigar as costas dos inocentes.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:11
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Sábado, 9 de Setembro de 2023
VIAGENS . 73
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3473 – 08.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila, “de Maun a Francistown - Botswana ”
Entre os anos de 1999 e 2010
Por sertão2.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Fracistown1 Hoje, o certo é de que quanto mais se sabe mais se sofre. Há fastio de inteligência! Há tédio! Há vontade de mandar tudo fora e partir vidraças, emudecer brilhos, despedaçar bocejos. Mas, desde quando um carneiro tem orgulho? Tão abarrotado de civilização, espreito os meses farejando raças sob o abrigo de suas telhas ou, carraças em suas orelhas.

Telhas vãs no calor da lareira, panela atestada de couves tronchas, frigideiras com unto branco de porco, uns chouriços de pendão, panelas tisnadas, trempes de ferro sempre aquecidas entre troncos de oliveira e borralho esparramado: Nestas visões passadas de meus ancestrais, revejo como todos os dias se processam milhares de pensamentos como estes, aonde pequenas decisões determinarão através de mecanismos intrincados que, tudo o que os sentidos captam (odores, sons, imagens) causam impressões indeléveis na mente.
Com destino à cidade de Francistown, lá prosseguimos viagem a partir de Maun do Botswana, por estrada pavimentada, pisando o Kalahári, quilómetros na savana, vendo de quando em vez, aglomerados de kimbos no meio de muxitos, tufos verdes e palmeiras com folhas acerosas. Com o planeado destino, rolamos quilómetros na savana, observando o já dito, burros atravessando a estrada sem rumo, abanando as orelhas a saudir moscas, abutres fazendo círculos aqui e mais além. Bebendo água mesmo sem ter sede para não desidratar e, para alimentar as glândulas dos olhos e garganta, falavamos e viamos pelos cotovelos, miragens virarem paisagens de água.

Fracistown2 Muita água feita oceano com barcos à vela e vapores… Andamos assim, somando falas ao longo da distância, coisas que ocorreram antes e durante os longos anos da crise Angolana, após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional; assuntos correspondendo à diáspora de muitos angolanos e afins chamados de refugiados, retornados e transtornados, espalhados pelo mundo, como se o fossem salalé tresmalhado, pontapeados por ideários gravadas à exaustão no excepcional computador - nosso cérebro.

Verdade: - Na Dipanda, nossas vidas têm muitos kitukus (mistérios). A roleta da vida dá muitas voltas, quando por vezes sentimos o peso do mundo que carregamos às costas, como se fosse um embondeiro; noutros, mercês de circunstâncias inesperadas, haverá o privilégio de estarem sentados confortavelmente no topo dele, usufruindo em ter ao seu redor um batalhão de servos pagos para adivinharem e satisfazerem todos os caprichos ou fantasias sonhadas – os funcionários da nomenclatura…

francistown01.jpg A cada ai, a cada ui, aparecerão centenas de comentadeiros a decifrar porque assim tossiu, assim baliu, assim mugiu, lendo nas entrelinhas e supondo ter nas cuecas maços de falsas notas verdes, feitas dinheiro… Neste deserto que atravesso, Botswana, vejo figuras rarefeitas entre bandos de estorninhos migrantes, diluídas na essência ondulada dum ar que tremelica no calor da miragem, também do que se pode ver em uma falha, na textura de uma velha casca de árvore com um lagarto pré-histórico camuflado de fenda. Pode!?

São formas escorregadias da realidade guardadas em meus armários, baús, que preenchem o quase-tudo do grande nada de minhas vivências. Observá-las com verdadeira atenção, transformando-se em centenas de momentos sagrados, só meus. E, sempre na busca de uma vida interessante, aventureira, apaixonada e diferente, trilhando trilhado por África procuro-me entre anharas, savanas e desertos de longas e altas dunas, lugares do cu-de-judas ou terras do fim-do-mundo sem os banais pormenores das urbes, cheias de semáforos…

francistown03.jpg Lugares de sermos confundidos como caçadores de elefantes por tanto pó salobro das tortuosas picadas, expostas ao sol impiedoso; ao calor abrasador dos dias e dos frios cacimbos húmidos a envolver noites com manto de espesso escuro; bem perto uma hiena parece chorar ao redor de uma carcaça fedorenta, carniça de vida sobrevivente. Lugares longinquoas de grandes metrópoles, com gente empoleirada até ao céu. A caminho de Francistown– Vou – Vamos! O sol tem ondas de ferroadas quentes que machucam na ida da vinda de nossos dias…

(Continua...)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:42
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Quarta-feira, 6 de Setembro de 2023
VIAGENS . 71

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3481 – 05.09.2023

- Escritos boligrafados da minha mochila - Em Maun Rest Camp, cidade de Maun no Delta do Okavango…

Por maun001.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

maun9.jpg Aqui andamos remendando longos silêncios remoídos na sustentação das mentiras ou verdades sobre africanos, sua terra e sua origem, gente com gestores, chefes sofríveis por desclasificados; como entender tudo numa longínqua aridez de secura politica, geográfica e climática, um investimento de leveza desocupada, fazendo nada ou parecendo nada fazer, subsidiada pelo G7. Os cadernos coloniais referem que nestas suas correrias e naquele tempo de descobertas, estes, vendiam ao desbarato dentes de elefantes, borracha, escravos e mel.

Recordar que o major de infantaria, o sertanejo Alexandre de Serpa Pinto, realizou a viagem de Luanda ao Natal, em 1879; que também, os oficiais de marinha Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, em 1885 exploraram todo o sertão de Moçâmedes a Quelimane, num percurso de 4.500 milhas no intuito de ligar Benguela de Angola à Beira de Moçambique passando por Tete às margens do rio Zambeze e, terminando ali às margens do Oceano Indico.

maun04.jpg Estas viagens causaram a admiração da Europa e glorificaram o nome de Portugal mas… Mas, tem sempre um mas! Naquele tempo havia um Inglês que dizia que aquilo era tudo dele – do país dele chamado de Reino Unido; chamava-se Cecil Rodes e este, pretendia fazer uma linha de caminho-de-ferro desde a Cidade do Cabo nas terras descritas pelos portugueses como do Adamastor ou das Tormenta até ao Cairo no Egipto.

Pois este, não fez, nem deixou fazer. Um imbróglio que mete o tal mapa Cor-de-Rosa que nunca desabrochou como flor. E, tudo apenas para numa farsa diplomática cortar o mapa Tuga a meio... Sabemos desde esses tempos idos  que este "rail" chega à Tanzânia mas, diga-se que mais depressa chegaram os portugueses com o CFB (Caminho de Ferro de Benguela) à fronteira do Zaire no rio Luau (antiga Republica Popular do Congo)...

Em terras do fim do mundo, no Botswana, convêm relembrar que os aborigenes habitantes ancestrais, foram os bosquimanos (bushmens), khoisans, caçadores-recolectores que se espalharam pelo grande Kalahári e Karo. Em uma outra minha viágem anterior, tive oportunidade de observar estes indígenas errantes no seu meio natural. Foi no Kalahári Gemsbok National Park entre Twee Rivieren e Bokspits, um lugar ermo, divisão de fronteira, picada em mulola de um rio seco aonde só corre água quando chove: paramos ali para fornecer água a esses pequenos seres de tês parda, secos de carnes, vestindo pequena tanga tapa-rabos. Andava então à procura do caracal – um gato grande com as orelhas empinadas, que acabamos por avistar.

maun05.jpg Deslocavam-se em pequenos grupos com algumas lanças, apetrechos simples aonde as mulheres se distinguiam por levar ornamentos na forma de zingarelhos nos artelhos. Enchemos suas cabaças entre linguajar de estalidos do geito de makankala misturados com sopros de suspirose aspirações gututrais do qual nada entendemos.

As mulheres levavam corotos, imbambas de cozinha e trastes envoltos num saco em cabedal que era suportado nas costas por uma tira que se ajustava à testa. Agradou-me ver as várias etnias, brancos, negros e mestiços, muçulmanos e cristãos, laborarem o progresso sem tumulto. Ao invés disto, em Angola a gadanha da morte feito catana, para muitos e, para vergonha de Portugal, coisas manobradas por capitães de aviário em uma abrilada enviesada, felizmente, não chegou aqui ao país Botswana.

maun9.jpg Admirei-me até, nesse então, ver organogramas, gráficos que representam a estrutura formal do governo, com algumas caras brancas, coisa que a propósito foi posta de lado em Angola, terra dum Tundamunjila vergonhoso chamado indevidamente de descolonização; Ali, em Angola, a maldade, chegou antes do tempo. Por isso a necessidade de filosofar falas, porque no consciente do povo subjugado – NóS - fica a repulsa, nojo, repugnância e asco de governantes que se perpetuaram imerecidamente no poder do M´Puto…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:29
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Domingo, 27 de Agosto de 2023
VIAGENS . 64

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3474 – 27.08.2023 - Foi no ano de 1999

- Escritos boligrafados da minha mochila - dois himbas fotografavam a morte da minha infância…

Porkunene.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

ARAUJO216.jpg Ainda nas margens do rio Cunene, para lá da picada pedregosa, sentados em penedo elevado, com uma expressão de circunstância infantil sorriam com naturalidade ao meu espanto. Eu, um turista t´chindere, nas terras do fim-do-mundo a ser fotografado por pastores hereros de tanga. Aqui há coisa! Estou a ficar chanfrado! Passado dos carretos! Háka. Himbas - cafecos do kunene.

Pressentia-se vagamente o aparecer da tarde aonde a calma esmorecia um pouco a sombra dos troncos retorcidos de embondeiro alongando-se pela terra gretada e poeirenta. No horizonte desenhavam-se seios erectos reluzindo fogo entre pedregulhos de onde nasciam cactos em forma de candelabros. O silêncio da planura ondulava uma aprovada expectativa impassível, estirando labaredas num céu incendiando o horizonte.

edu59.jpgAs narinas arfavam nervosamente o suave cheiro de capim que de pontas viradas ao céu davam término em abrupta falésia; lá em baixo, na margem fustigada pelas ondas de águas rápidas farfalhavam mornices de verão pisoteadas por “nemas” chifrudas em movimentos leves, até graciosos. Era o rio Cunene.

Naquele instante e depois – em todos os instantes, sentia que me afastavam de tudo de quanto amava, e chorei disfarçadamente como se nunca mais ali voltasse. Dissimuladamente, limpava-me assim, como se finge limpar o suor.  De novo e agora, a nostalgia das terras do fim-do-mundo transcenderam no tempo fantasmagórico longos bocejos feitos admiração.

A partir dali iria passar por Fiume – um pedaço de estado livre, depois o “Epupa Falls do Okavango em Sepupa)” já no Botswana mais o Delta do Okavango. O rio Cubango ou Okavango que em seu curso, passou a a desbravar aventuras ora seguindo mansamente, ora rápidamente entre desenhadas figuras em  rochas com espuma branca e, mais longe não pude ir, nem voar

ÁFRICA18.jpgFaltava um todo o terreno ou um ultra leve para prosseguir a ver as quedas feitas rápidos,  deslumbrantes deste rio que vai para o Delta. Demasiado descuidado no agora, tempo de regenerações, usando pensos higiénicos fosforescentes dando bufadelas coloridas como os carroceiros boéres mais a sul; dos hábitos quase secretos que só eu mesmo abençoo entre as porcarias pálidas que se evaporam nas notícias mentirosas poluidoras  do Mundo.

Não se deve abandonar o nada de que se goste, e por amor amarrámo-nos às coisas da natureza como se ama alguém que nos é querido. Naquela universidade ou diversidade, aprendemos que as plantas comunicam entre si, por isso o elefante tem de andar muito, e contra o vento para que a coisa apetitosa, deixe de o ser.

epupa01.jpg Eu explico: - As plantas saborosas ao elefante são devastadas até ao extermínio e estas por feromonas lançadas ao vento, avisam as demais da mesma espécie que rápidamente passam a ter um sabor desagradável, expelindo ou misturando na sua seiva fluidos repugnantes ao sabor; o paquiderme “Jamba” predador, tem assim de contornar a selva ocupando um grande espaço da mata. E. fiquei a saber da importância que tem o salalé na limpeza da floresta eliminando troncos e folhas em decomposição, criando nutrientes para outras espécies se desenvolverem com mais pujança.

(Continua)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:07
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Sábado, 26 de Agosto de 2023
VIAGENS . 63

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3473 – 26.08.2023 - Foi no ano de 1999

- Escritos boligrafados da minha mochila - Aquele Bóere* das batatas do Vaal deveria ter mesmo olhos nos pés!

Por baú de coiro1.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

BATATAS4.jpg Aqui há diamantes? Perguntei à suricata empinada numa pequena elevação que nada me disse, pudera! Sem se importar com essa brilhante pedra que ofusca gentes, fugiu para um dos muitos buracos ali espalhados; terra fresca denotando trabalho árduo para assim se refrescar daquele calor tórrido; calor que chega a ir a mais de cinquenta graus no pico do verão. Coisa para se dizer, Pópilas!

Pois aqui, damo-nos conta de que afinal, sempre há povos a descrever teorias ou filosofias novas clareadas por meio de metáforas que a natureza lhes ensina. Aquela de os pés dos bóeres têm olhos vuzumunava minha kuca com lantejoulas rupestes. Nestes espaços abertos dissociamo-nos dos conflitos sociais; das metáforas criadas pelo homem a justificar coisas sempre compreendidas numa forma de agradar.

BATATAS6.jpg As artes criativas dos homens continuarão a florescer com brilhantes expressões saídas da imaginação; novos níveis de conflito ou sedução e, porque a arte por vezes é a mentira a nos mostrar a verdade. Ué… Lembrei-me do professor Souares, um espiritualista com manias de mwata a enfeitar minha testa com unguentos de salsaparrilha e xixi de guaxinim fedorento, tentando resolver meus problemas de mau-olhado.

Este eterno conflito foi-nos legado pela inteligência que tende a evoluir no tumulto com velhas ou novas criticas - velhas teses ou teorias diferentes deste mwata Kimbanda da mututa que me quer desfrisar uns kumbús como assim, na saúde, na doença e o escambau… Um teste de vida de tendência evolutiva legada por Deus, porque pensar o contrário disto, será decerto uma imperdoável heresia. Nos vínculos efectivos do antes, agora, depois e, enquanto gente, vamos rever humanidades antigas de quando passamos de animais quadrupedes a pessoas com mais de 600 centímetros cúbicos de capacidade craniana. Se agora temos 1.500 centímetros cúbicos de capacidade, tudo leva em crer que no futuro, nossas cabeças serão tão grandes que só se nascera de operação cesária.

BATATAS5.jpg Este problema sempre presente e cada vez mais remanescente, não reside na natureza nem na existência de Deus mas, nas origens biológicas que pela mente cataloga o auge evolutivo na biosfera. Poderá dizer-se nesta pequena imagem de vida real que cada homem está por assim dizer num estreito nicho como numa burocracia de curral. A parede deste nicho esmaga-nos individualmente a personalidade levando-nos a não poder extravasar nossa euforia como se fossemos bois confinados só a mugir até serem defuntados com um urro levado na ponta dum facão. Por ali, entre os khoisans, busquimanos, que se saiba, nunca andou  sequer um profeta escrevendo na areia qualquer mandamento…

As nossas atitudes em relação às coisas, reflectem critérios de valor fundamentais tornando a relação homem-coisa em algo cada vez mais transitório. Se eu fosse professor catedrático teria de vasculhar os termos para não falar tão fora dos parâmetros convencionais. A ideia de usar um produto-coisa uma única vez ou durante um curto espaço de tempo, substitui-lo ou deitá-lo ao lixo, contraria a sociedade ou os indivíduos com uma herança de pobreza.

batatas8.jpg As gentes do meu tempo, septuagenárias, que nasceram antes da invenção do plástico e do aparecimento do transistor, muito antes de haver computadores e inteligência artificial e ajuda dos algoritmos, não estão tão habituadas a produtos de utilizar e deitar fora; até conservam seus casamentos para lá dos cinquenta ou mais anos; preferem reciclar a vontade de fazer querer, em detrimento do só querer. Hodiernamente já nem vou a casamentos para não me sentir defraudado com a curta duração do umbigamento; quando muito, mando um pouco do meu laço de solidariedade com umas escassas centenas de kumbú para não o ser ovelha ranhosa na família… 

Comecei esta em querer falar no homem das batatas da África do Sul mas tudo escorregou na ladeira mais fácil a fim de não perturbar as mentes, pois sempre ouvi dizer que a fé move montanhas. E, num lugar ermo como este do Calahári, aonde o estio é brutal, um homem semeou batatas no deserto e, porque acreditou em Seu Senhor, foi abençoado com toneladas de tubérculos. Contaram-me, vi até um filme que mostrava aquela arides. Ao seu redor havia descrença e a surpresa apanhou-os de boca aberta; Também eu  fiquei confuso vendo tanta batata saída da terra. Terra que, com  vento, só leventava pó. Este bóere do Vaal devia ter mesmo, olhos nos pés!

khoisan04.jpg Bibliorafia: Bóere: Na África do Sul, os bôeres (africânderes) foram a base social principal do regime do apartheid, que durante muitas décadas vingou na África do Sul. Ao mesmo tempo, foram o grupo chave para o desenvolvimento económico da África do Sul e a posição de vantagem deste país na economia mundial… (Dados da Wikipédia…)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:34
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Quarta-feira, 23 de Agosto de 2023
VIAGENS . 61

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3471 – 23.08.2023

- Escritos Boligrafados da minha mochila - Foi no ano de 1999

Por koisan7.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

khoisan001.jpg Um amigo receitou-me pimenta Caiena para controlar a pressão arterial – passeava então o esqueleto no reino bushmen. Estando eu no Reino Xhoba, reino sem rei com cerca de 100.000 súbditos, pertença de vários países de África, não posso deixar de falar deles. Soube porque li em algum lugar que o anterior presidente da África do Sul, Nelson Mandela atribui a estes um território de quarenta mil hectares.

Ora se um hectare tem dez mil metros quadrados, quatrocentos ha darão 400 Km quadrados. Se para aí transplantarem o cacto Xhoba, vai dar muito cacto para amaciar barrigas inchadas por esse mundo. A maioria do povo bushmen também designado de khoisan, continua a viver em casas cobertas a capim em pequenos aglomerados, por vezes a centenas de quilómetros de distância da cidade mais próxima.

Estas palhotas são circulares tendo a altura de uma pessoa no seu centro. Para sua execução juntam uma boa quantidade de paus direitos que depois são curvados e enterrados no solo pelas extremidades. Estes são amarrados ao centro com mateba, uma casca retirada de uma árvore que entrelaçada faz de corda. Com outras varas mais finas e longas formam uns arcos progressivamente maiores à medida que são postos do centro da cobertura para o solo.

Leão5.jpg Estes paus tipo verguinhas mais finas, são amarrados aos outros mais grossos que estão na vertical tipo meridianos. E. porue é necessária uma prta de entrada, deixam um pequeno rectângulo por forma a permitir a entrada e saída de uma pessoa.

Os seus instrumentos são bem escassos pois com muita frequência, mudam de sítio por via de seguir a caça, seu sustento. Seu património pode bem ser transportado em uma mochila. Seu instrumento mais precioso será uma  lança com ponta de ferro como nossos primitivos ascendentes o faziam. Envenenam-nas com banha de um verme que apanham ainda em estado de casulo.

Chegam a matar girafas com o uso de sua astucia e modo felino de andar na mata, pé ante pé e sempre nas mesmas pegadas, sem fazer estalar qualquer tronco seco. Como disse, usam lanças e arcos de flexas, transportando mantas para suportarem o frio das noites que chega a graus negativos. Seus pratos são feitos de aboboras e os copos de massala ou maboque.

busq2.jpg São óptimos pisteiros e conhecedores de raízes cheias de água que espremidas são usadas directamente do produtor ao consumidor ou para vasilhas feitas de ovos de avestruz ou cabaças. As autoridades estão dando alguns apoios por meio de lhes facilitar a fixação colocando-os em sítios estratégicos com poços de água alimentados por energia solar!

Creio também que lhes fornecem mantas e facilidades de transporte para levar seus frutos a postos de venda na intenção de os tornarem mais “felizes” e com uma vida mais adequada aos dias que correm.  Fazem artesanato a partir de espinhos de porco, ovos de avestruz, cascas de massala e lindos colares de missangas com frutos seos do mato. Usam uma quinda ou balaio maleável aonde colocam seus parcos pertences.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:28
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Domingo, 13 de Agosto de 2023
VIAGENS . 54

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3464 – 13.08.2023

- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha

–Ondundozonanandana -  Foi no ano de 1999

Por negro3.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

Namotoni2.jpg Assim foi: Pai António T´Chingange (condutor), mãe Ibib, dois filhos “angolanos” e Isabel a mãe de Lara, a caçula que ontem fez 22 anos (estamos em 2023 - o tempo ruge…). De Sul para Norte depois do Orange River, descansando no “Ai-Ais” e subindo o Canyon do “Fiche River” procurou-se pinturas rupestres, pegadas de dinossauro e vestígios de meteoritos.

No meio de triliões de anos petrificados, “rosnávamos em muxoxos” ininteligíveis admirações brilhando argumentos tirados à pressão duma nuvem feita visão. Há noite, entre zunidos e guinchos vindos da negra escuridão em assalto nocturno, olhávamos as fagulhas saltando da fogueira explodindo térmitas; improvisando jantar, assamos carne de “Orix” e “Biltong” que gulosamente deglutimos com rega de cerveja “Ansen”, “Whindooek Laager” e chá “Rooibos”.

No majestoso deserto do “Karoo”, um fragmento do Calahári. Já tinhamos passado por isto, mas num pois, e foi assim, e assado sempre recordávamos Upington, Augrabies e Moon Roc no Orange River: E aquilo! E, foi! Aconteceu! Assim repetíamos uma e outra vez o já muito descrito. E, dito e feito - fomos a caminho de Etoscha de Ondundozonanandana e Oshakati passando pelos buracos de Otjikoto lake bem ao lado da Estrada Nacional B.1 e, perto de Tsumeb – Por aqui andávamos…

monteiro6.jpg A vida em África desperta com o nascer do sol e, é nas primeiras horas matinais que deveremos buscar os vários antílopes e os “big five” tais como o gnu, girafa, elefante, rinoceronte, zebra, kudu (olongue), impala, macacos, hiena e até mabecos. Com sorte, assistiremos ao banho de terra dos elefantes que junto aos buracos (bebedouros) quase fazem um teatro de coreografia divina, cores de pó em múltiplas facetas e contrastes com o sol do poente com os cheiros fortes que deles tresandam.

Já dentro do Etoscha, no Buraco Okaukuejo  -  só gente do staff pode sair da área do arame farpado depois do cair da noite. Não havia chalés disponíveis para aquela noite e o recurso foi montar as duas tendas que levávamos na mala do “four bay four”, no espaço disponível entre a cercadura da reserva e os balneários do campismo e caravanismo. O buraco de observação de animais ficava relativamente perto.

aug12.jpg Pouco tempo depois deram indicação de que uma manada de elefantes sequiosos estava a chegar; todos os restantes animais e até dois rinocerontes deram espaço ao verdadeiro rei do Etoscha; cansado que estava da viagem não demorei muito a adormecer feito um cepo e fiquei muito indignado de não me terem acordado quando apareceram os leões a beber lá pelas dez horas da noite. O “Okaukuejo Camp“ em forma de quadrado deve ter uns 800 metros de lado, um agrupamento de chalés para turistas, uma zona de residências com telhados em capim para funcionários, e bem ao centro uma torre de onde se divisa o horizonte, ora mata, ora chana aberta em forma de clareiras.

Das várias vezes que por ali passei vi sempre os místicos leões, quase sempre em grupos de três ou quatro em lugares de vegetação rasteira. Em África, o sol põe-se depressa e de forma abrupta pelo que, convêm não se arriscar andar muito afastado do acampamento nas horas de quase fecho de portão escolhido para pernoitar, Okaukuejo, Halali ou Namotoni. Tenho ainda na retina, a planura de Okaukuejo, bem perto do acampamento base “main camp”, a agilidade de uma cheeta na perseguição de uma springbok

aug6.jpg Gazela que de rabo a abanar e orelhas atentas a qualquer ruído pastava; bem atrás, sorrateira, uma cheeta, pata ante pata, avançava com todos os cuidados de visão e barulho normalmente contra o vento; num dado momento e já muito perto da presa lança-se em correria; em simultâneo a gazela pula e pula em saltos coordenados ziguezagueando a linear corrida do felino. Desta fez a correria deu em nada pois o antílope soube sobreviver. Ali, a quebra de vigilância significa uma morte rápida.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:32
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Quinta-feira, 25 de Agosto de 2022
PARACUCA . XLV
MULOLAS DO TEMPO -(16.02.2022) - 25.08.2022
RECORDANDO: Do 30º ao 32º dia da expedição – sexta-feira, “HAJA PACIÊNCIA”. Nós, bazungus no PARK MVUU LODGE do Malawi… manuscrito de 19 de Outubro de 2018 - Crónica 3236
Por soba0.jpegT´Chingange - No M´Puto 
:::::1
Saímos do PARK NVUU LODGE de Liwonga aonde ficamos as noites dos dias 17 para 18 e a seguinte até o dia 19 no Mvuu Camp do Chiwambo ao lado do Shire River. Ficamos estas duas noites em tendas nossas e montadas no Camping de mato rodeado de locais para fazer churrascos brai e outras acomodações própria de um campo de campismo. Muxitos de verdura a fazer-nos sombra, mesas com bancos corridos com rede sombreadora, acesso a piscina e demais infraestruturas de restaurante e lavabos.
Foi aqui que tivemos de estudar a montagem de uma tenda familiar que meu filho Ricar a morar em Johannesburg comprou para o efeito. O maior problema na montagem era ficarmos com olho nos muitos macacos babuínos com focinho de cão que tentavam roubar-nos tudo o que fosse de comida ou volumes que a eles lhe parecesse ser. Acabaram por levar uns pacotes de batata frita, pertença do comandante Vissapa e pelos gritos de kwata-kwata sempre ficou algo remanescente.

paracuca25.jpg De mim levaram um pacote de cebolas que comprei no percurso mas, logo o largaram no meio das bissapas por não gostarem do conteúdo. Antes de aqui chegarmos passamos numa barragem chamada de Liwonga na lagoa do Shire River em construção; falamos com uns encarregados de construção de nacionalidade portugueses que nos deram as indicações solicitadas, como chegar e pormenores desconhecidos. Disseram que sim era boa opção ir até o Mvuu Lodge e, que aí iríamos encontrar os Big Five e várias espécies de antílopes.

O Lago Malombe fica a montante do Shire River e faz parte da linha dos lagos Niassa ou Malawi que tenho vindo a descrever. Lugares aonde andou Livingston, o mesmo que chamou de preto ao sertanejo Serpa Pinto, aquele que lhe deu os pormenores do que viria a encontrar e, de que a história se cuidou em esquecer. Estes lagos ligados por canais naturais de rios ao longo da East African Rifts, são parte da enorme fenda aqui já descrita que divide em dois a África - um complexo de falhas tectónicas criado há cerca de 35 milhões de anos com a separação das placas tectónicas africana e arábica.

paracuca27.jpg Aquelas águas vão desaguar no rio Zambeze aonde e a montante deste, se situa a barragem de Cabora Bassa construída pelos portugueses no tempo colonial. Aqui no PARK NVUU LODGE, foram momentos TOP porque vimos milhares de hipopótamos, dezenas de elefantes que passaram bem ao lado de nossas tendas, centenas de boksprings, antílopes vários como o watterbugs ou songues. Pela primeira vez e nesta expedição Potholes, vimos várias palancas pretas e vermelhas (diferentes das de Cangandala de Angola) e kudus às centenas.

Também pela 1ª vez vi alguns porcos do tipo de javalis que em Angola têm o nome de Gimbo e que se alimentam maioritariamente de formigas, das mesmas que constroem seus casulos chamados de morros de salalé. Vimos Hartogues (javalis) às centenas. Valeu a pena sim mas, ficou extremamente caro se compararmos os preços aos da Namíbia praticados em parques ou reservas animais como Okaukuejo, Halali ou Namotoni no Etosha… aqui neste Mvuu, as infraestruturas são bem piores do que as da Namibia e pior geridas…

paracuca17.jpg Pagamos pelos dois dias a quantia de 130.000 Kwm, pelos dois dias, mais o camping e passeio de barco para ver hipopótamos ao pôr-do-sol e duas ligeiras refeições. Pagamento na recepção do Nvuu Lodge. Com entrada e no total ficou em 192.892 Kwn que dá em euros a quantia de 1.279,70 €. Muito caro para as condições de atendimento e espera. Coisas só mesmo param “bazungus ricos”. Só as refeições ligeiras ficam em 25 US$ por pessoa – um preço elevado em qualquer parte do mundo. Os amigos dos bichos aqui, têm de pagar bem caro para os ver!

E, tudo continuava difícil no lidar com o comandante, o Hemingwey branco e angolano. Sua irreverência e pedantismo, faz ferver meus zingarelhos da memória; a todo o momento tenho o desejo de que o tempo passe rápido, chegar ao fim. Digo com custo, quanta paciência para suportar o egocêntrico feitio que sempre saia de si na forma de nuvens imaginativas, o quanto baste. Não fazia falta vir a África viver este castigo vindo de um mwadié cheio de loucuras absurdas; já lá vão mais de 3 anos e, este compasso de espera viralizou ainda mais minha complacência. Haja paciência…

(Continua…)
O Soba T´Chingange
 
 


PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:54
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Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
MUJIMBO . CXXIV

SER OU NÃO SER COMENDADOR - FUNERAL SEM CHORO

- É costume ouvir-se dizer: " foi-se sem deixar de si saudades”...  Crónica 3063 - de 08.07.2021

monteiro2.jpg

Por soba04.jpgT'Chingange, no AlGharb do M'Puto

Não me lembro de ter ouvido falar nem de ter assistido a alguma cerimónia fúnebre em que as faltas “ou pecados” da pessoa falecida tivessem sido destacadas pelos oradores. Elas podem até ser amplamente conhecidas, mas o bom senso manda que se realce só os aspectos positivos; afinal, todo mundo tem defeitos misturados nas virtudes e, nunca o inverso disto.

Certamente deixamos a marca do que fazemos positivamente, ou do que fazemos e que não deve ser imitado. Entretanto, é certo que ninguém quer imaginar ser mencionado em nenhuma ocasião, muito menos depois que tiver morrido ainda em vida, por causa dos seus defeitos ou procedimentos não usuais. Nem no livro sagrado da Bíblia, se escondem as falhas de nenhum de seus personagens, mesmo dos mais destacados heróis, entre os quais não está o rei mencionado em este nosso verso explanado em texto co o nome adulterado de Joe! A Joe, o que é de Joe… A Berardo o que é dele! Joe e Berardo são uma só pessoa…

soba21.jpeg E, lendo “ao calhas” ou aleatoriamente o livro dos livros camado de Bíblia, leio que Jeorão era filho primogênito de Josafá que reinou pouco tempo, mas deixou um histórico lamentável. Para começar, embora fosse rei e tivesse a maior parte no espólio deixado pelo pai, tão logo assumiu o reinado, de olho na herança dos irmãos, matou-os à espada. Já naqueles tempos havia formas bizarronas de tratar a vida...

A esposa de Jeorão, Atalia, filha dos ímpios Acabe e Jezabel, mais tarde tentou acabar com a linhagem de Davi. Jeorão rejeitou as advertências e promoveu a decadência moral e espiritual dos moradores de Jerusalém e de Judá. Finalmente morreu acometido de uma terrível enfermidade, que deixou suas entranhas expostas.

roxo135.jpg De acordo com um costume da época, os reis, ao morrerem, eram colocados em uma sepultura especial, em um local chamado “sepulcro dos reis”, algo como se fora um panteão. Não foi esse o caso de Jeorão. Quando morreu, não recebeu nenhuma homenagem por via de seus graves desvios às regras sociais de então.

O povo não lhe queimou incenso, ele não foi sepultado no sepulcro dos reis, e o cronista diz a respeito dele que “se foi sem deixar de si saudades”. Em contraste, Ezequias “foi sepultado na colina onde estão os túmulos dos descendentes de Davi. Todo Judá e o povo de Jerusalém lhe prestaram homenagens".

berard1.jpg Os bons exemplos, por norma, eram e ainda o são, enaltecidos pela sociedade. Por vezes leio a Biblia e, fico com vontade de não mais a ler porque são muitos desaires e até comportamentos bárbaros no meu entender. Em verdade, nem carece estarem esparramados no livro dos livros! Vejo no estágio de um qualquer curriculum, não ser pecaminoso desejar ser estimado, mas isso é resultado do bem que a pessoa espalha ou espalhou, difundiu ou influiu em seu meio, noé!? Será que posso entender este caso tão antigo com o de JOE BERNARDO, um ilustre cidadão português que, num repente, MORREU, estando vivo…

berard2.jpg Morreu, por fruto da hipocrisia dum povo que o bajulou, de governantes e gente com poder nas instâncias bancárias, que o embalaram e subsidiaram; mesmo de altos dignatários que lhe deram guarida e ajudaram, com dolo para todos NÒS, ao ponto de merecer medalhas de mérito e comendas como se o fora: um exemplo a seguir… Isso! Do amor e perdão que reparte, da acolhida que oferece e do serviço prestado, com altruísmo e lealdade - supostamente!

berard3.png Acima de tudo, é importante que sejamos conhecidos e lembrados por nossa fidelidade aos nossos com o beneplácito superior... Ele, Bernardo, lá terá a sua fé... O filme continuará com este e outros ilustres TRAPACEIROS… Com o suceder de TANTOS ERROS E AZARES, corremos o risco de ver O M´PUTO cair novamente, engolido num culto de personalidade com ataque á já frágil democracia…

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:51
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Terça-feira, 25 de Maio de 2021
XICULULU . CXXXVIII

MULOLAS DA VIDA

Crónica 3153 - NÓS E OS GERENTES DE UM PLANETA CHAMADO TERRA... 25.05.2021

mulola1.jpg

Por soba24.jpg T´Chingange - no Algharb do M´Puto 

E, pensar que Deus colocou o HOMEM no jardim do Éden para o cultivar e o guardar (Gênesis 2:15) - São recorrentes os avisos de que o descuido com o meio ambiente pode levar o nosso planeta ao caos. Eles, os avisos, são veiculados pela mídia, em campanhas educativas promovidas por instituições governamentais e não governamentais. Já nos anos 1960, livros e artigos em revistas advertiam contra os danos naturais causados pelo uso de pesticidas químicos.

mulola2.jpg No início do ano 2000, pesquisadores norte-americanos do Fundo Mundial para a Natureza, esboçaram um cenário caótico para o planeta até o ano 2100: extinção de espécimes de aves e animais, inundações, nevascas, furacões, ciclones e outros fenômenos como o actual vírus covidesco, ceifarão milhares de vidas. Há cerca de quatro anos, Stephen Hawking, falecido em 2018, falando a estudantes da Universidade de Oxford, fez previsões sombrias para a Terra também para os próximos 100 anos. Como solução, sugeriu que o ser humano precisa encontrar outro lugar no espaço para sobreviver.

mulola4.jpg Posso adivinhar poder estar daqui a 100 anos, a ser perturbado pelas cavadelas de um qualquer paleontologista ou arqueólogo a fim de medir a estrutura da minha tíbia e, não será por causa da engenhosidade humana que me considerarão primo da Luzia,  um revolucionário zulu. E, pelas catanadas riscadas em seu, meu crâneo, dirão ter sido originadas na gruta de Cango Caves aonde  saberemos que a partir das nervuras, “toda a criação, a um só tempo gemeu e suporta ainda angústias, até agora”... Somos muitos a gemer, infelizmente...  Em meio a discursos sábios a favor da preservação ambiental, ouvidos com reservas por desenvolvimentistas, ou enfatizados com forte colorido ecumênico de grupos religiosos, precisamos relembrar nosso papel na qualidade de  subordinados aos tais gerentes deste planeta.

mulola3.jpg O Senhor confiou ao ser humano a tarefa de cuidar da natureza e preservá-la, não agindo como destruidores dela em benefício próprio, noé!?  Por isso, entre muitos, o filósofo Douglas Groothuis afirmou: “A visão cristã nem deifica a natureza nem denigre seu valor. A criação é divina e não deve ser cultuada. Porém, ela não é má nem ilusória  devendo ser tratada com respeito”...

Felizmente, demorando muito ou o suficiente, virá o fim, e tudo o que foi estragado pela desobediência e rebeldia dos "maus gestores" tudo virá a ser renovado de acordo com o plano original. A plena harmonia entre seres humanos, animais e o restante da natureza será restaurada pela eternidade - dizem!; será?

kuvale5.jpg Então, se me  transladarem para Marte, ficarei assim  nessa esperança de dar sentido à vida largado neste  mundo, vítima do egoísmo humano. Pelo sim pelo não, já tirei senha para ir até Marte! Só falta tratar do meu passaporte verde das vacinas...

O Soba T'Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:16
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Sexta-feira, 4 de Maio de 2018
MALAMBAS . CCIII

NAS FRINCHAS DO KALAHÁRI - KIMBERLEY –  5ª de Várias Partes

- XOXOLOSA TREM . JÁ EM CAPE TOWN31.08.2018 – Na Waterfront e Shopping de Cape Town…

Por

soba15.jpg T´Chingange - No Nordeste brasileiro

Estamos a 04.Maio.2018; Continuando a passar a limpo meus gatafunhos do baú do Karoo do Xoxolosa Trem, irei desde Maceió do Nordeste brasileiro até Cape Town, uma das cidades mais lindas do Mundo. Os antigos armazéns do porto no Watwerfront, são agora modernos espaços de lazer com uma vasta área comercial; envolvendo os canais com acesso aos lagos têm comportas desniveladas para chegar de iates aos hotéis de gente VIP, maioritariamente saídos dos Emiratos árabes. Pode notar-se pelas roupagens…

xoxolosa6.jpg Neste espaço que antes era mar, ali fomos passar o dia com a neta, lugar aonde nos distraímos assistindo a grupos itinerantes de animação, música e folclore africano: sempre diferente nos gestos e na forma de vestir, cultura ubuntu-xhosa e Zulu aonde nós, certamente, eramos vistos como mulungus do kumbú (brancos com dinheiro). Lugar bem aprazível, tendo sempre presente lá no alto a sua majestosa Mesa da Montanha e a Cabeça do Leão, lugar que já escalei até seu topo, há dezoito anos atrás. 

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Tendo nós, já dado uma volta pelo centro da cidade, podemos verificar uma degradação na vida citadina, fazendo relação com o tempo de há dezoito ou vinte anos atrás! Nesse então pude reparar haver muito indiano e muito mulato; seus nomes eram bem portugueses como Pereira, Moreira, Cerejeira ou Manuel da Silva. Eram tempos em que a Academia do Bacalhau abrilhantava o quotidiano daquele corno sul de África com grupos de danças saídos do Minho ao Algarve do M´Puto.

xoxolosa5.jpg Eramos agora a embaixada da diáspora dum povo aventureiro; pelo que observei, os tempos já não são os mesmos de então; entre edifícios de beleza impar há degradações, montes de desalojados da vida, emigrantes do Zimbabwé, do Malawi, Tanzânia, Congo  ou Moçambique. Viam-se por todas as ruas, arrumadores de carros, brancos, mulatos ou negros retintos, desfrisando seus gestos de capatazia, deslocando baldes e panos num desenrasca de tarefa, os coroinhas da urbe, das gasosas.

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Gente pedindo dinheiro para comer, fora e dentro dos restaurantes, um vigia à coca enxotando estes milhares de homens ou mulheres que vieram à rédea solta para dar votos aos seus manos do ANC. Gente amontoada nos subúrbios de qualquer jeito entre amonturas de lixo e barracas apertadas na sobrevivência insalubre aonde as ruas são becos de gatos ramelosos. Passar assim pelo centro da cidade, assediados a todo o momento e, a cada esquina dá um desconforto bolorento. Cruzamo-nos com muitos brasileiros que não estranham tanto este reboliço urbano…

oxo136.jpg Rapidamente, regressamos ao solar rosa vitoriano a fim de apreciar as pombas gordas que quase comem na mão do senhor Amadeu. Enquanto escrevo esta memória de recordo a Dona Cora Esteves vinda da Luua de Angola, dona da agência Mundial e, a quem paguei em dinheiro vivo, 3.858 Rands para os três nómades da minha tribo; viagem de rape Town para Johannesburg: Eu, Bibi e Lara Mendes, minha neta (chata como a potassa).

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Na própria rua da mansão Rosada de Don Elaine, na Iaton Road notei algo de curioso, um senhor negro sentado bem no início, no nº 3, vestido com um colete amarelo igual ao dos muitos outros arrumadores de carros nas ruas, tinha a particularidade de ir a cada uma das casas impares saltitando em suas muletas pedir um café. Era seu pretexto para solicitar qualquer sobejo das lidas de cozinha de cada qual.

cape2.jpg As moradias tinham suas próprias garagens mas este, também recebia propina cidadã de quem ali estacionasse o carro. Calculo que era um ex-soldado do exército Sul-africano desmobilizado por ter ficado sem uma perna. Em Moçambique já tinha passado por algo semelhante. O Sr. Amadeu referia-se ao desaforo deste em solicitar lanche! Nada disto pude verificar nas anteriores idas à cidade de cape Town. Creio que a AD – Aliança democrática que governa agora o Cabo, deu facilidades a estes para colmatar a falta de trabalho.

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Só faço menção destes pormenores para demonstrar a gravidade de não poder ser dada assistência a tanto cidadão sem ocupação. Por outro lado, dificultam ao máximo qualquer cidadão não negro a obter o visto de trabalho, mesmo que tenha formação superior e curriculum dos melhores. Só por portas travessas e com propina se consegue aligeirar tal pretensão.  Fazendo ali tanto frio de noite, observei haver gente a dormir em terreno descampado tendo como tecto uma manilha, uma alcantarilha como tecto.

cape8.jpg E, por mais que tente compreender esta transitoriedade de África, fico apreensivo por ver as ondas de detestabilidade governamental agravando os empresários maioritariamente brancos; Parece seguir as burradas de Robrt Mugab, numa ânsia negra e doentia de obter as mordomias dos brancos; tal e qual como sucedeu em Angola! Mas, se estes saírem em massa, como vai ficar o país? Correm o risco de seguirem as passadas erradas de Angola, Zimbabwé,  Moçambique  entre outros países africanos…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:53
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Sábado, 21 de Outubro de 2017
MALAMBAS . CLXXX

NAS FRINCHAS DO TEMPO - POTHOLES . I

- 24.07.2017 – Da minha mochila. Aqui no Pilanesberg de África, apaziguando rijezas adversas, perfilando anjos com a singularidade do mundo …

Potholes são buracos

Por

soba0.jpegT´Chingange

Saímos de Pilansberg às 10 horas depois de tomarmos o café da manhã, o breakfast com ovos e esparregado de espinafre e borrabwós, umas salsichas de búfalo e torradas de pão integral. Depois de três horas e meia de caminho pela R 516, R33 e R555 chegamos a uma aldeia característica do Limpopo, casas dispersas construídas com os materiais mais diversos. Chapas de zinco dos lados e em cima com pedras ou pneus a dar suporte; Tudo serviu na construção daquelas barracas podendo deduzir-se serem algumas feitas de tambores de gasóleo cortadas e achatadas a marreta. 

bak1.jpgVistas de longe parece uma favela desordenada cruzada com ruas de terra, mal definidas, cubatas primitivas se a confrontar com as luxosas casas de Bela-Bela, Johannesburg ou outra cidade de maior destaque. Mas também as vi ao longo de largas vias em plena cidade de Johannesburg. Em um dia que nos deslocamos ao Casino Carnival City sobressaltei-me com o fumo que soprava daquelas casas e reparei depois que este saia das frinchas daquelas casas insalubres, com um simples janelo ou mesmo nada ao redor delas (uma casa um fogo de lenha)

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Foi-me dito que ali mora gente saída do Zimbabwé, do Malawi, de Moçambique; gente aos milhares senão milhões que correm para a África do Sul na esperança de aqui encontrarem trabalho. Um mulungo (branco) empresário ou dono de farm (fazenda) que lhe dê trabalho. Nunca vi isto em Angola; ali os musseques eram disciplinados e as cubatas eram feitas de adobe ou de taipa, tinham janelas e as portas não eram umas simples chapas de zinco presas por uns arames, como aqui.

bak3.jpgMas, diga-se que também vi grandes mansões em lugares de destaque, propriedade de negros, um pouco por todo o Johannesburg e outras cidades. Vi brancos a pedir esmola nas ruas tal como negros, atirando bolas ao ar e até descalços, mal cuidados; creio que a viverem entre papelões e jornais nas sacadas dos lugares comerciais mais centrais. A cada cinquenta metros em um centro de cidade ou centro comercial há um branco ou preto a dar indicações de arrumação a troco de uns cinco randes. Nunca em anos anteriores, tinha visto tamanha proliferação de carências humanas aqui na África do Sul.

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Em nossa viagem e depois de Rossenekal na R 555 e R532 viramos por uma estrada de terra bem ruim para o turismo alugado que levávamos, com ondinhas e pedras soltas, picada própria para um four-by-four e após 10 quilómetros chegamos ao Valley of the Rainbow, uma farm com tendas de lona junto a uma lagoa e situada na encosta arborizada de um morro. O escudo do Valley tem três gansos e três peixes, lugar certo para observar aves, e ficar ali por horas à pesca.

bak4.jpg O Witpport River passa ao lado envolto com árvores de grande porte; e, foi aqui que ficamos na rustic-tent nº um assente em uma base, ripados de madeira com gretas de quase centímetro. Era bem ampla com uma varanda e um avançado também de lona com uma churrasqueira de fazer ali o característico brai, um quarto amplo com quatro camas e uma grande casa de banho com água quente e fria. Na varanda havia um armário fechado com os apetrechos de cozinha tais como torradeira, máquina de café, garfos, facas e pratos variados. Também tinha um frigorífico e cinco cadeirões com uma mesa central.

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Havia café e chá rooibos em sacos assim como açúcar e a respectiva cafeteira de aquecer água para as habituais sopas pré-feitas e as papas de mitabix. Estávamos num rústico sítio fresco de verão, mas demasiado frio para estas noites de agosto a chegar aos menos 4 graus. Esta temperatura foi sendo suportada com três pares de meias e camisas grossas de algodão. E, foi assim que todos dormímos envoltos em flanelas e sacos cama.

limpopo1.jpg Chegamos aqui ao Rustic-Camp do Valley of the Rainbow perfazendo 999 quilómetros de viagem vindo pela R 555 e chegando exactamente às 4.44 horas, dezasseis minutos antes de fecharem a recepção; 444+555=999. Parece até uma estória de cabalística, uma numerológica visão revista em astrologia pela minha neta Lara Mendes Monteiro quase a completar os 16 anos. Uma neta muito cheia de sabe-tudo que me fazia rodar os neurónios amiudadamente e me punha os zingarelhos descontrolados.

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O custo da tented-challet ficou em 750 randes, o correspondente a uns cinquenta €uros, um preço aceitável! Não tinha intensão de voltar aqueles dez quilómetros por aquele caminho horrível de noite e sem booking em outro qualquer lugar! Aventura é aventura! Sempre sucedem coisas diferentes e, não previstas nos planos B ou C.

limpopo3.jpg Como disse, acabamos por dormir vestidos, com os tais três pares de meias e deixando as malas e sacolas no VW Up Wite alugado no First Car Rent de Rynfield de Benoni. Há oito dias que andamos sem internet mas usando os dados moveis (data) para através do Smarthpone 0636.1696.03 da Vodacom podermos ter O GPS e mapas. Nosso destino é Grascop, terras altas de largas e bonitas vistas não muito longe do Kruger Park.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:02
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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