FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “SONHAJANDO A VIDA”
TEMPOS CUSPILHADAS . O Espírito da China! Eles já chegaram …
Crónica 3398 – 19.05.2023 - (publicado um dia antes… estou viajando)
Por T´Chingange (Otchingandji) Na Pajuçara de Maceió do Brasil
Chegado recentemente a Portugal, vindo de Angola na ponte LUALIX no ano de 1975, 48 anos atrás, assisti em pleno Alentejo a uma acção da reforma agrária. Em casa de Maria, via seu marido atarefado andando nervoso de um para outro lado. Fui ficando por ali curioso - seria uma caçada à raposa, perdizes ou coelhos mas, apercebi-me bem rápido que não era nada disto. Era o chamado PREC – Processo de Revolução em Curso…
Ele e um grupo organizado desse tal de PREC, iam caçar fascistas nos montes vizinhos de Escanchados, Daroeira, Buena Madre entre outros montes e mesetas daquela estepe. Tudo era um espanto para mim, atordoado que andava com uma saída apressada da Luua e tendo só de património em mãos, uma máquina de costura Oliva. Sem sítio certo para ficar ali ficaram meus dois filhos até que eu e minha mulher tivéssemos nosso rumo de vida em acção!
Não vou entrar em muitos pormenores para me não magoar muito. Naquela acção de caça aos fascistas e depois de ter vivenciado coisas de esquecer, fiquei aturdido com esta pseudo milícia que de forma voluntária lá iam caçar gambuzinos com caçadeiras e máquinas subtraídas ao patrão; as máquinas retroescavadoras substituíam tanques de guerra – supunha eu inocente na condição de assim ser, por conveniência pois, de nada resolveria apagar qualquer fogo com um bochecho de angústia.
Interrogando-me do que poderiam ir fazer em prol duma mudança só desconsegui obter uma razão plausível. Estamos em 2023, 48 anos depois com um Portugal de uns dez milhões de cidadãos e o estado, continua sugado por políticos que usam a falácia para nos entorpecer. Mesmo sem haver esse tal de PREC sempre haverá um plano novo para dar directivas ao leque de ousadias, assim se chame um PRR - Plano de Recuperação e Resiliência.
Mas, como tudo está de bradar aos céus assim iremos ficar porque nem o Costa morre nem a gente almoça. Além do mais o presidente anda demasiado atarefado com sua colecção de selfies – por alguma razão todos o conhecem por Selfito. Não se nota desenvolvimento, uma lástima de saúde, administração desmilinguida e, educação aos gritos. Uma cambada de gente que nem sabe o que fazer com o dinheiro despifarrando as resiliências pelos amigos, compadres e filiados do partido que se chama de PS.
Naquele ano, as conquistas do vinticinco do povo pelo PREC foram direitinhas para o ralo; as chapadas de trigo, nos lameiros, os montes foram ficando desventradas, sem telhado, ruínas a gritar desespero aos vindouros. Uns fugiram para Trás-os-Montes, outos foram para o Brasil e alguns até escolheram a Argentina ou a Austrália para iniciar vida. Afinal, de nada valeu aquela caça aos fascistas da qual João Cailogo fez parte. Ainda hoje me arrepio de tal façanha.
Ultimamente deram guarida ao negócio de chineses! Agora queixam-se de que estes querem tomar conta não só de nós como de todo o Ocidente. Até há bem poucos anos atrás, o ocidente fechou as portas à possibilidade de compreender a China. Hoje, buscam formas de se entender diplomaticamente com estes, permitindo-lhes a entrada em seus territórios com obtenção de benesses e isenções em sua actividade comercial – vistos GOLD e outros edecéteras.
Tome-se em conta que o peso de impostos que os demais cidadãos nacionais são obrigados a pagar, é bem menos vantajoso do que o oferecido a estes empresários vindos do outro lado do mundo. Deduzir-se assim que os donos disto tudo, só o serão com os países de capital que nos compram divida. Um dia o futuro chega e quase sem se saber, as instituições que eram estatais formam-se de um conjunto de accionistas sem rosto e, dum qualquer país. Se neste futuro vamos ter de ficar entregues a um dragão, teremos de saber um pouco que seja, do que não nos une e divide!
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO, NA PRAIA
– Crónica 3322 de 15.06.2022 – Republicada a 12.12.2022 - Quando tudo nos ultrapassa no tempo, apalpamos as medidas da natureza …
Por T´Chingange (Otchingandji) – No AlGharb do M´puto
O barulho no escuro da noite continuou mais intenso e, já levantado segui para a sala. Pude constatar que o ventilador maior estava soprando sua perene ventilação sem qualquer preâmbulo de coisa ruim; digo isto porque trabalha infindavelmente por meio de um relógio travado com um garrancho feito com rolha de cortiça para enganar o tempo. Sendo assim este dito cujo, trabalha sempre!
Os trinta e nove graus fizeram com que ficasse todo o santo-dia de ontem com as janelas tapadas; o escuro era tanto que tive de usar um pequeno candeeiro para poder ver as teclas do computador. Como devem saber a luz, transporta o calor e vai daí corri os ferrolhos artesanais vedando a luz e ar quente. Foi por isso que liguei os dois estropiados ventiladores que só lançam vento numa direcção – seus botões de rodar pifaram e servem assim mesmo dando vento aos cantos que rodopiam nas esquinas e nossos corpos…
A televisão das antigas com um TDT HD – DTB700PT adaptador, também deu o berro. Aparece o sinal verde mas a TV, nicles de bitocles – Ou alteraram as frequências ou fizeram um cambalacho governamental para nos extorquir mais uns cobres. Esta terra do M´Puto tem mais espertos que grilos no verão! Lá pendurada no tecto a TV, diz que não há sinal! Não dá nada, porra nenhuma – rodei a antena para o lugar de Santiago do Cacem e, nadica de nada! Está na hora de mudar por uma nova com ligação à internet por Bluetooth, uma moderna forma de ficarmos controlados pelos anjos, arcanjos e o capeta chifrudo – estamos feitos ao bife!
Isto é importante saber porque no mundo de hoje o Bluetooth representa uma ameaça mais significativa, pois é um sinal sem fio frequente e constante emitido por todos os nossos dispositivos móveis pessoais. No futuro, que já o é, teremos de aprender como modificar a estrutura de nossa existência e forçar nossas vidas e nossa psicose em moldes novos, alguns ainda mal conhecidos.
Teremos assim de compreender como e porquê perante uma nova primeira vez, um novo potencial surge amolgando-nos no futuro. Todos os dispositivos sem fio têm pequenas imperfeições de fabrico no hardware que são exclusivas de cada dispositivo creio que a propósito – É a nova ordem das coisas!
Aquelas impressões digitais são um subproduto acidental do processo de produção. Estas imperfeições no hardware Bluetooth resultam em distorções únicas, que podem ser usadas como uma impressão digital para rastrear um dispositivo específico. Daqui eu dizer sempre que é muito perigoso pensar, falar, comentar e até muxoxar asneirentas verdades. Para o Bluetooth, isso permitiria que um invasor contorne técnicas anti-monitoriazação, como alterar constantemente o endereço que um dispositivo móvel usa para se ligar a redes da Internet.
Os investigadores, engenheiros das sombras e almas, projectaram um novo método que não depende do preâmbulo, mas analisa todo o sinal Bluetooth. Eles desenvolveram um algoritmo que estima dois valores diferentes encontrados em sinais Bluetooth. Estes valores variam de acordo com os defeitos no hardware Bluetooth, dando aos investigadores a impressão digital exclusiva do dispositivo – nosso ADN
No silêncio da manhã, pardais chilreando, sigo até à padaria do Tonico a comprar o pão bom para se fazer as açordas de poejo ou coentros. Nas ruas daqui aonde estou, nascem poejos nas frinchas, nasce salsa e coentros que só não são usados porque os cães ali fazem javardices mijadas. Passo no antigo posto da GNR do tempo em que usavam cavalos; a porta larga por onde passava a tropa está encimada com um escudo de nobre lembrança e em cima duma cimalha há um leão segurando uma bola mundo – uma esfera armilar à semelhança do Leão de Ceilão. E, o futuro traz-nos senilidade, artérias endurecidas, pele enrugada por frouxas, calvície e uma apetência ao isolamento por não entendimento ou não aceitação. Amanhã será outro dia…
O Soba T´Chingange
LUANDA DO ANTIGAMENTE
Crónica 3314 - 09-06-2022 – A2 - Recordando o Século Mwata Luís Martins Soares
– Republicação a 05.12.2022 no Alentejo do M`Puto
Por T´Chingange (Ot´chingandji)
Em sequência das falas recordadas do livro Mu Ukulu, ir-se-á transcrever o capítulo dos Sabores da Nossa Terra tendo como início uma síntese da estória. A cidade de Luanda foi fundada a 25 de Janeiro de 1576 pelo capitão Tuga chamado de Paulo Dias de Novaes após ter desembarcado na baia de Loanda com cerca de 700 homens (soldados, padres e almocreves). Em 1576 manda construir a igreja de são Sebastião na fortaleza aonde agora se encontra o museu das Forças Armadas Angolanas.
Antes da chegada dos portugueses, Luanda já era habitada pelas gentes do rei do N´Dongo concentrando-se no lugar seguro da ilha de Mazenga a que os portugueses chamaram de ilha das cabras por terem visto ali alguns destes caprinos. Viviam ali os Muxiloandas, oficiais do reino de N´dongo que recolhiam os n´zimbos para transaccioná-los como dinheiro. No ano de 1605 a Vila de São Paulo de Assunção de Loanda é elevada à categoria de cidade pelo governador Manoel Cerveira Pereira que exerceu seu cargo entre os anos de 1603 e 1606.
Não obstante estes dados históricos, o Rei de N´Dongo vassalo do rei do Kongo era o dono e senhor daquele espaço, pois que era ali seu banco central! Isto, depois de N'Gola Kiluanji Inene ter dado independência ao Reino de N'Dongo separando-o do poderoso Reino do Kongo! Quanto ao banco de N´gola da moeda n´zimbo: Seus zeladores Muxiloandas, cipaios e gente miúda laboravam na apanha e sequente selecção atribuindo às conchas o respectivo valor monetário. Relembra-se que quando os portugueses deram início ao processo chamado de colonização que originou na Angola hodierna, diferenciaram grupos sociais com identidades próprias.
Os factores de diferenciação entre as etnias foram: a linguagem, vestuário, formas de penteado, estilos de construção das cubatas, sua forma de expressão musical, práticas fúnebres, e suas comidas entre outros detalhes. Quanto à cozinha angolana ela teve ao longo dos anos alterações por via de produtos levados para ali pelos portugueses; produtos trazidos das américas da ásia e da metrópole - M´Puto. Houve por este motivo miscigenação nos hábitos. Do Brasil Imperial foi levada a mandioca que se tornou básica e generalizada por toda a África.
Com a introdução da mandioca levada pelos Tugas do Brasil os pratos de peixe eram acompanhados com fuba funje, um pirão espesso feito dessa fina farinha. Para alguns dos mwangolés esta nova, será uma surpresa - melhor seria que unissem sua sapiência repondo a verdade, não desconsiderando permanentemente o colonizador Tuga. Requer-se por isso mudanças futuras em sua Constituição e, por forma a reverem a lei da nacionalidade e tornarem as gentes brancas de pele da terceira e quarta geração em cidadãos de facto – Angolanos!
Com a chegada das traineiras abarrotadas de peixe, comerciantes brancos, juntavam-se no local de descarga e, ali, disputavam a compra do produto que era previamente separado de acordo com o destino a ser-lhe dado. Os peixes maiores eram destinados ao consumo de hotéis, pensões e casas de pasto. Lembro-me em candengue desta actividade no antigo porto de pesca situado bem em frente do Banco de Angola (1954/1955) e, aonde ia rebuscar sardinhas rejeitadas para utilizar como isco em minha pescaria na baia da Luua em companhia da minha turma da maré mansa da Maianga, Samba e Praia do Bispo…
Parte do peixe para venda ao público era levado para o mercado situado bem perto do Largo Bressane Leite, bem na baixa de Luanda; mais tarde mudou-se para o Kinaxixe, um belo edifício, património arquitectónico que os mwangolés ávidos de kumbú mandaram deitar abaixo, não sei se por parva retaliação ao colono, se só para encherem seus bolsos de dólares e, também agradarem a esses tantos generais de tugi do governo que surgiram por “feitos heróicos”. Bem! Falando do peixe, o de menor tamanho era arrematado para salgas de onde saía o preparo e seca do conhecido “Peixe Seco”, uma forma bem apreciada por nativos e brancos de segunda ou mazombos (filhos de colonos) como eu.
Este peixe-seco, tão apreciado pelos nativos grunhos (pretos) e gwetas (Brancos) e, pelo facto de se ter tornado um costume, por via de ser barato, espalharam-se salgas um pouco por todo o lado e ao longo da costa desde o Ambriz mais a Norte, passando por Luanda até Benguela e ainda mais a Sul na Baía Farta. O peixe depois de processado, estripado e escalado era posto a secar ao sol usando loandos normalmente elevados do solo por estacas. Este peixe já seco, era depois levado em camionetas por, maioritariamente “candongueiros” até aos lugares distantes do interior na forma de fardos atados com fio de sisal ou mateba. O itinerário destas carrinhas ou camionetas podia ser-se seguido horas e até dias mais tarde pelas picadas seguindo o rasto do cheiro característico que estes lançavam para o mato circundante…
(Continua…)
Recordando o Século Kota Mwata Luís Martins Soares com algumas adendas acintosas de minha lavra…
O Soba T´Chingange
KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
FALA KALADO NA PROMESSA DOS KALUNDU**
- Crónica com ficção* 3312 – 23ª de Várias Partes – 06.06.2022 – Republicada a 03.12.2022 na falsa estepe do M´Puto - Alentejo
Por T´Chingange (Otchingandji)
Ché Guevara depois de sete meses passados no Congo Brazaville e, após constatar a pouca unidade dos soldados africanos em especial os afectos ao MPLA e, dado o pouco interesse do apoio internacional, Che contrariado, decidiu encerrar a primeira missão internacional do regime cubano. Mandou uma carta a Fidel Castro dizendo que o Victor Dreke "era um dos pilares em que confiava" para prosseguir a luta…
Após deixar África, os companheiros de Ché não seguiram pelo mesmo caminho. Ché mantinha vivo o desejo de exportar a revolução e organizou uma nova expedição revolucionária. Na Bolívia, foi capturado e executado dez meses após sua chegada, em Outubro de 1967. Há quem afirme que foi o próprio Fidel a congeminar o fim de Guevara pois que este estaria a ser-lhe sombra em sua liderança (como se o fora uma pedra no sapato). A relação de Dreke com África manteve-se viva liderando missões bem-sucedidas nas guerras de libertação da Guiné/Cabo Verde e República da Guiné. Chegados aqui teremos de nos rever em estórias mais recentes do panorama angolano e, a partir do átrio do Kilombo-Fundação.
Estando eu no D´Jango das alvissaras estivais no jardim tropical da Fundação Zumbi de N´Gola e falando com Rosa Casado, a chefe de protocolo, fui informado que o Comendador Fala Calado, ex-guerrilheiro e ex-Coronel, embora débil, estava dando mostras de evoluir bem aos tratamentos dos remédios provenientes do Laboratório gerido por Andrey Blazhe, o biólogo e médico oriundo da Bulgária; as drogas eram ministrados com atenções esmeradas pelo médico ainda novo Juka Kalandula recentemente chegado de áfrica.
E, enquanto falávamos, ouvíamos um grupo de marimbeiros a tocar melodias bonitas no largo das cassuneiras. Os mesmos que viajaram com este médico, oriundos exactamente do mesmo local: Kalandula de Malange. Fiquei com ideia que se exibiriam pelo estado de Alagoas alegrando em complemento à quadra dos santos populares nas festas Juninas. Aquele gigante negro, guarda costas do Comendador que eu chamei lá atrás de Lothar Mandrak, veio até nós saudar-nos com vénia rasgada acrescentando que seu Mwata FC, estava disposto a receber-me daí a três dias. Neste momento recompunha-se de uma anomalia surgida na forma de craca em sua orelha original (a boa).
Acabado de chegar, o professor de economia, gestor do kilombo, Arrais Castelo de Cantanhede a nós se dirigiu logo após seu gesto ao moço de serviço pedindo desse modo já bem conhecido o café Santa Clara que tanto apreciava! Pois assim que juntando o indicado com o polegar fez o sinal de querer beber algo, algo que só poderia se uma xicara média desse cheiroso café. Sentando-se junto a nós com um comprimento tipo nazi de punho fechado disse: Heil Covid! E, nós entendemos este já tão comum afastamento nesta guerra surda de lutar com bactérias pandémicas e outras salmoneloses de tubarão, também com a real guerra em curso de devastação czarenta, cruel a ponto de assustar o Ivan, o Teerivel…
Posto isto falou-se da saúde do Mwata Comendador vindo-me à ideia do que então falámos lá na Ilha da Fantasia em Petrolina. Do laboratório que já em tempos e em Petrolina tinha encetado a investigação de uma membrana extraída do besouro que conservava por séculos a planta do Calahári de nome Welwitschia Mirabilis. Uma membrana que era capaz de desenvolver tecidos de pele, ossos e cartilagens… Podíamos adivinhar e até congeminar que Andrey Blazhe, o médico biólogo, já teria encontrado algo que minimizasse o problema de alzheimer do Comendador mas, o silêncio deu consistência ao segredo que o tempo fazia prolongar.
Pois, se os pesquisadores foram capazes de criar uma estrutura em plástico biodegradável na qual as células animais se desenvolvem e reproduziram no formato de orelha com a estrutura biológica e anatomia desejada, também seriam capazes de desvendar formas de ludibriar o organismo, por forma a minimizarem os efeitos dessa doença tão debilitadora da condição humana.
Tenho para ti uma tarefa especial, disse ele para mim, o Chefe Mwata Comendador! Assim directamente, lá naquele tempo em que não mostrava outras debilidades disse: Necessito de alguém que superintenda as novas frentes de guerra - Gerir a produção de crocodilos, rãs, borboletas e caracóis! E, porquê eu, um kota ressequido pelo sol? Perguntei-lhe nesse então! A resposta foi pronta: Porque tu és um mwangolé branco com kalundu** e, tal porque só o somos no sempre dum espírito único do futuro! Mas, eu não sou preto!… Respondi! Sim, é isto e maisnada, tudojunto! Falando no plural disse: O nosso pensamento sempre anda por lá, por N´Gola e, queiramos ou não agora seremos pretos de coração zebra! Falou, tá falado… Será que quer de novo falar-me disto! É que ele repetiu então assim e, em voz alta: Pópilas - não vale a pena morrer de véspera! Iremos ver o que vai dizer?!… É que para ele tudo, tudo é guerra…
Notas: *Esta é uma estória inventada só no que concerne às mentiras…
**kalundu – É uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza (A entrevista com o Brigadeiro N´Dachala, continuará lá mais para a frente- depois das eleições previstas neste ano de 2022…)
O Soba T´Chingange
DA PRAIA EM TEMPO COM FRINCHAS - Com 77 anos feitos ontem, sinto-me palhaço no particípio passado mas, não dono do circo…
Na savana alentejana sem abetardas. Crónica 3311 – 05.06.2022 - Republicada a 02.12.2022 na praia alentejana do M´Puto.
Malamba é a palavra
Por Soba T´Chingange (Ochingandji)
Passada a horta do Torrica dobrando já a curva da ribeira de Messejana, no monte de Vasa Talegas interroguei-me sobre este nome já pouco usado na linguagem corrente; isto significa uma bolsa de ráfia ou pano-cru aonde se levam coisas normalmente comida, um pedaço de broa, chouriço e frutas a serem usadas como suprimentos em uma tarefa de ceifa, aqui em plena planície alentejana. Neste percurso doirado da falsa savana esperava ver abetardas, sisões, toutinegras ou grous bem ao nascer do dia, mas só consegui ver nas ruínas do Monte dos Reguengos os peneireiros das torres, gaviões pretos, o tartaranhão-caçador mais o cortiço de barriga negra.
O resultado do cultivo de cereais e sequeiro em regime de rotação origina a permanência de aves que não se vêem com frequência em outros lados. Nesta fingida estepe cerealífera pode com sorte, ver-se o roliceiro, o milhafre real em tempos mais frios, o peneireiro cinzento, garças boiadeiras, mas desta feita, vi em meu passeio matinal a presenteira cegonha branca e castanha no topo do convento de S. Francisco em ruinas. Na barragem do Reguengo pude apreciar os lindos patos-reais e mergulhões e até poupas mais a tarambola dourada.
Enfim, um felizardo libertado como aqueles corvos grandes e pretos ondulando seus voos entre mesetas, carros desventrados e trastes espalhados como num cinema de pradaria abandonada com muito funcho, muito carrasco e rascassos. A sombra do Alentejo é só a que vem do céu, abrigue-se aqui menina debaixo do meu chapéu. Pensei nisto no galgar de metros pensados e com o firme propósito de emagrecer, de ter saúde o quanto baste para desbaratar os triglicéridos no lugar dos Maldonados, gente que dizem ter-se endinheirado aqui e nas fazendas em áfrica.
Colhi umas quantas espigas de trigo e fiz um ramalhete com folhas de louro, colhidas no convento abandonado do tal de S. Francisco com um belo brasão na frontaria. Neste entretém deparei com um cão arrebanhando umas quantas cabras na direcção do Monte do Filipe; olhei ao redor e voltei olhar mais à frente procurando o pastor e, nada de gente! Era o rafeiro alentejano que só e mansarrão conduzia o rebanho pelas verduras, duma forma terna e eficaz, conduzindo-as até o lugar que ele, o cão, sabia ser o certo!
O alentejano cidadão, é terno e rude, é tudo ou um deserto; o que nós quisermos, comodistas, papistas ou comunistas; gente às direitas que por vezes se vê obrigado a andar às arrecuas, gente com honradez. De tudo tem como nos mistérios do Evangelho de Jesus Cristo que num domingo de missa, recorda o Martírio de sua morte no Monte Gólgota ao longo dos anos e dos séculos, como se por aqui tivesse andado como o fez na Galileia e Vale do Jordão.
Nunca ninguém o viu passar por aqui no Vale das Talegas mas, também daqui se faz ouvir o sino das Ave-Marias da Igreja Matriz da Praia (entenda-se por Messejana). Foi pena que este Nosso Senhor, o Jesus de Nazaré não tivesse dado uma mãozinha a Dom Sebastião que daqui levou mancebos para essa tal de Alcácer Quibir para matar gente com espadas na forma de cruzes alongadas e, para matar os infiéis - nem por misericórdia voltaram à sua aldeia azul e branca a não se Beringel.
Isto porque a Beringel, regressou um braço conservado em sal, um claro aviso dos Mustafás para não mais ali voltarem. Entenderão agora do porquê ficar taciturno ao ver aquele braço alado segurando uma espada quebrada – símbolo da Vila. Entro no adro da Misericórdia e abençoo-me na cruz que serviu para fingir mais uma vez a morte teatral da ascensão de Cristo! Ainda lá estavam os cordames que o amarraram; não sei se gosto destas representações, assim quase ao tipo dos sacrifícios das Filipinas e, porque estou farto de ver mortes via TV – acontecimentos inexplicados de terror da Ucrânia! Vamos andando, um dia de cada vez neste calvário real!
Na linha tortuosa das ruas, casas com barras azuis a limitar em branco as portas, os indícios moçárabes perfilam sombras dos telhados lusos. No turbilhão da história com foices, defini os limites da ordem de Santiago com os cristãos fustigando mouros com suas espadas em forma de cruz. E, foi em Alcácer Quibir que se deu início ao reverso da história e, já lá vão 443 anos; Aqui, tal como em Beringel, por volta do meio-dia, os perfumes do campo de funcho, poejo e espargo silvestre, adensam seus cheiros a recordar tais nobres tropelias… (nem falo das foices abrilistas para não ferir meus compadres…)
O Soba T´Chingange
A ADIÁFA DOS MOIRÕES E SALAZAR - II
ENTRE 1975 E 2021 – DO PREC AO PRR
Crónica 3205 de 10.10. 2021
Por: T`Chingange em Cantanhede do M´Puto
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O tempo passou e, num dia seguinte, fui buscar os meus filhos ao Alentejo a fim de regressarmos às charnecas do Ribatejo; bem pela manhã ao sair para o quintal deparei com o meu concunhado Cailogo de caçadeira aos ombros agitando-se com os demais camaradas em empolgados esquemas de caça. Fui ficando por ali curioso; seria uma caçada à raposa, perdizes ou coelhos mas, apercebi-me bem rápido que não era nada disto. Era o chamado PREC – Processo de Revolução em Curso…
Iam caçar fascistas nos montes vizinhos de Escanchados, Daroeira, Buena Madre e Pardieiro entre outros montes e mesetas daquela estepe; fiquei aturdido com esta pseudo milícia interrogando-me do que poderiam ir fazer em prol duma mudança. Estamos em 2021, com pouco mais de dez milhões de Portugueses e o estado continua sugado por políticos que usam a falácia para nos entorpecer, mesmo sem haver esse tal de PREC. Sempre haverá um plano novo para dar directivas ao leque de ousadias assim se chame um PRR - Plano de Recuperação e Resiliência…
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As conquistas do povo pelo PREC foram direitinhas para o galheiro; as chapadas de trigo, nos lameiros, os montes estão desventradas, sem telhado, ruínas a gritar desespero aos vindouros. Afinal, de nada valeu aquela caça aos fascistas da qual o meu concunhado Cailogo fez parte. Ainda hoje me arrepio de tal façanha.
Acabei por abalar também para um lugar distante chamado de Venezuela. Foram cinco anos perdidos no tempo da minha aposentação mas, ganhei minha independência. Recentemente, de espanto em espanto, fiquei sabendo que minha suposta Catarina Eufémia de Panoias e de nome Maria, tinha ido a Fátima, ela que em tempos andava barafustando politiquice por nada e coisa nenhuma. Sendo pessoa de família não a posso expor de forma declarada para que minhas vicissitudes não fiquem abaladas…
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Militante dos sete costados e meio e com um crachá da Catarina Eufémia na lapela, Maria, vociferava as injustiças de Salazar e, todos aqueles latifundiários que de pançudos, chispavam untosas banhas desde os calcanhares até às luzidias testas transpiradas de suores – tudo à custa do povo, dizia ela para quem queria ouvir numa língua que só Nosso Senhor perdoaria, valha-me Deus… Uma genuína comunista, digam lá o que disserem!
Ela, minha familiar também colateral, tinha andado desde tenra idade com os moirões a fazer campanhas do trigo, coisas antigas da política de Salazar e, lá saía bem cedo em rancho empoleiradas com muitas mais em tractores que as levavam até aqueles montes. Por vezes juntavam-se a elas galegos morcões vindos do norte de Portugal Era trigo, cevada e outros cereais cortados com a foice ao mesmo jeito da tal Catarina Eufémia morta pela GNR a 19 de Maio de 1954, teria ela uns 15 anos.
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Eufémia supostamente, liderava um grupo de catorze ceifeiras, que exigiam um aumento de salário de dois escudos por jorna. Quando os trabalhadores procuraram encontrar-se com o proprietário, este alertou a Guarda Nacional Republicana, que depressa ali chegou. A partir de certo momento Catarina Eufémia terá caído após ter sido agredida por um agente e, quando se levanta foram disparados três tiros, atingindo-a mortalmente.
As autoridades dizem que esses disparos foram acidentais, procedimento muito comum que ainda o é na defesa da tal ética e a bem da nação. Na altura do seu falecimento, Catarina Eufémia tinha apenas 26 anos. Ora sucede que nestes dias que correm ouvi da própria minha familiar colateral revolucionária, que Salazar era uma óptima pessoa!
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O queixo caiu-me espalhando-me as dentaduras no lamacento chão das surpresas; como é!? Pouco refeito e cambaleando na minha patafúrdia assombração, lá disse o que disse, depois de tantos anos com a língua agarrada aos dentes: que Salazar era uma jóia de pessoa!
Pois bem a coisa decifra-se assim: Em 1961, já casada e com dois filhos, seu marido foi chamado ao serviço militar. Ele, Cailogo foi prá guerra aonde aprendeu a conduzir unimogues, jeeps e berlietes do tramagal. Vai daí Assunção, a Maria da minha estória, sua esposa, escreve a Salazar contando da dificuldade em manter sua família com seu marido incorporado na tropa, solicitando por isso um subsidio para aguentar o tranco da vida!
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Surpresa das surpresas: o subsídio chegou durando todo o tempo da vigência de seu marido na tropa, o encartado em ligeiros e pesados e conduzindo chefes militares do guincho para Peniche ou de Lisboa para Tancos. Pois depois de tudo o contado repus minha esquelética dentária no lugar devido, depois de tando desafora em ouvir diabruras contra os fascistas e latifundiários e nem sei mais o quê! Afinal Salazar, não era assim tão unhas-de-fome. Por aqui me fico com alvissaras, porque a verdade sempre vem ao de cima, como o azeite…
O Soba Chingange
A ADIÁFA DOS MOIRÕES E SALAZAR - I
ENTRE 1914 E 1945 E O AGORA 2021
Crónica 3203 de 10.10. 2021 - Em Cantanede do M´Puto
Por: T´Chingange
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Naqueles idos tempos, enquanto o estado confiscava bens à igreja, fidalgos ou aristocratas feitos políticos, sacrificavam imbecilmente os jovens mandando-os para morrer como tordos nas trincheiras da guerra. Do corpo expedicionário enviado para Flandres de França poucos regressaram e os que voltaram vinham de pulmões afectados pelas gazes ali utilizados. Nesse então, a 1ª República Portuguesa era composta por deputados que faziam absurdos e floreados discursos no parlamento sem sequência na realidade do dia-a-dia. Hoje, estamos quase iguais…
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Eram uns pavões que vendiam petulância nos cafés do Chiado; era ver qual deles tinha mais protagonismo na pópia faroleira do Rossio ou no Café da Arcádia. Neste aspecto, Portugal viveu sempre em crise, (e continua a enfermar desses resquícios) envolto em devaneios de gente acomodada à política de faz-de-conta, devaneios de gente que sempre se sentem insubstituíveis.
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Naquele então, senhores latifundiários, donos de muitos hectares, muito gado, muitos chaparros pavoneavam política em Lisboa enquanto seus ganhões ou moirões lhe garantiam os bolsos cheios. Lá na província, na lezíria, ou seara alentejana, no cortical, olival, nas chapadas de trigo, nas lameiras, enquanto nas courelas havia a míngua – nesse então, ainda não se falava na palavra resiliência…
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Enquanto isso decorria, a Angola distante aonde eu me encontrava, estava quase ao abandono. Estamos em 2021 com dez milhões de Portugueses e o estado ainda vive à míngua sugado por corruptos e corruptores. As conquistas do povo foram direitinhas para a nova casta de políticos que dividem o bolo por quotas, tanto para ti, tanto para mim e, estamos de novo naquela merda desses idos anos; o povo fugindo para o resto da Europa, lugares para onde ninguém pensava ir depois dum 25 de Abril de 1975.
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Será a sina do Portuga, andar pelo mundo subsistindo à tal de resiliência enquanto eleitos, maioritariamente incompetentes singram com grandes salários nas administrações? Gente que assim repartidas pelo Arco-íris político nos torcem e retorcem com impostos com mais taxas em cima de outras já taxadas. Toda a banda larga será inútil se esta gente de mente continuar na festa desta dita democracia.
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Não é normal meter-me nestas citações mas que ando revoltado lá isso ando! Revendo o panorama do após guerra por incapacidade de gestão, Angola após o Abril de 1975 ficou abandonada à sua sorte até que algures no início da Estrada de Catete em Luanda, deram o grito do “tundamunjila” festejando a independência com rajadas de kalashnikov.
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A República Portuguesa tinha sido tomada por panhares com militares empoleirados em sua carcaça agitando cravos na ponta das armas. Surgiram uns oficiais barbudos cheios de hormonas de aviário fazendo alarde duma valentia inexistente, em floreados discursos. Elaboraram regras dum criado MFA, Movimento das Forças armadas que logo desrespeitaram.
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Eles eram os donos da guerra, da opinião, e o povo levantava os punhos em aprovação de suas decisões democráticas – assisti a isto como destacado na Câmara Municipal de Torres Novas; o povo é quem mais ordena e, todos se olhavam entre si ao levantar o braço em reuniões magnas. E, havia por semana uma ou duas destas reuniões; entretanto o Sindicato dos Trabalhadores das Autarquias, por nada nos queriam lá. Passei por isto na fase de Vasco Gonçalves, vendo-o só esbracejar depois de lhe tirar o som da TV.
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O medo era farejado pela astúcia duns quantos autopromovidos a pavões. Guedelhudos que fingiam ser os Che Guevara duma Sierra Maestra, vendendo seu imaginário a custo zero. Desde esse tempo, Portugal viveu sempre em crise, (e continua a enfermar desses resquícios) envolto em devaneios de gente acomodada à política de faz-de-conta, com gente que teima em se sentir insubstituível.
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Em Angola, os ditos Movimentos, digladiavam-se pelo poder morrendo como tordos numa guerra a céu aberto. Recém-chegado a Portugal, com um bilhete de vinda sem regresso, ano de 1975, deram a mim e aos meus, 500 escudos por adulto. Com uma senha de viagem fornecida pelo IARN, Instituto de Apoio a Retornados levei meus dois filhos até o Alentejo. Na Funcheira tinha o meu concunhado Cailogo a receber-me e, lá fomos para a Panoias. Meus filhos ficariam aqui até que em terras do norte orientasse a vida em casa de outros familiares brancos de cor e nome...
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANDO ENKAFIFADO - NA PRADARIA ALENTEJANA - 07.08.2019
Por
T´Chingange - Na Cuba de Colombo, no Alentejo
O tempo não passa pela amizade mas, a amizade passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto existe! Desta feita, eu, um caluanda da Luua, juntei-me aos Chicoronhos do Lubango a festejar nossa existência com aquele Jinga Malaia tão peculiar do Reino Fantasma de Maconge e, secundando os líderes, antes cábulas e agora doutores entre os senhores, com eles cantei. Assim só mesmo por falar como se não tivéssemos passado um único dia sem nos vermos, revisitamo-nos na pradaria alentejana para rever outros tempos, antes dos nossos tempos!
Em plena Maianga da Luua, capital de Angola, meu pai reconfortava-se também com os amigos na taberna do Álvaro, daquele outro chamado Hernâni com uma mulemba, jogando a bisca e à sueca mais o tentilhão, Por vezes era no Simões dos matraquilhos junto ao Clube da Maianga que o urbanismo engoliu; uns malhos redondos e um escopro ao alto a fazer de alvo. Quem perdia pagava um copo de tinto ou um “Pinochet”. O Mundo dá voltas e aqui neste agora e em Cuba assim irmanados na memória, lembramos o Cristóvão que a rodeou, a terra! Já não vi ninguém jogando à malha…
Revi ou vi, alguns em realidade, era a primeiríssima vez! O melhor que os amigos têm a fazer é verem-se cada vez que se podem ver porque o tempo ruge. É verdade que, mesmo tendo passados muitos anos, sente-se o prazer de reencontrar a quem já se pensava nunca mais ver. Saudade! Até agora nunca desconcordei, achando que a saudade faz pouco do tempo e que o coração é mais sensível à lembrança do que à repetição. Coisas de mais-velhos, misturando alhos com bugalhos e melancias com queijo de ovelha destas pradarias…
Ali estávamos, REINO DE MACONGE com nosso guia Valério Guerra, o Soba de Portimão do M´Puto e Barão de Capangombe, recordando em verso os tempos gemidos, o luar de guitarras e de janelas perfumadas de Maconge, suas pedras garridas e serpentinas de raparigas – marés do destino não adormecidas. Depois veio o TESTE DO SUMO D´UVA na adega “País das Uvas” rodeados de potes grandes de barro, vinho de talha e assim, fomos sendo contemplados com o verso do BAMBU.
Bambu trazido pequeno das terras de Lubango, mais propriamente do então Liceu Diogo Cão e que agora já crescido assim foi referenciado: Bambus e mais bambus / que haja mundo fora, / soleníssimo será nenhum / como onde a Academia mora, / e Academia não haver, / majestática e bela / como a da imponente Chela, / nem de presidente constará / virtude fama em anais… / nunca…jamais! De Manikongo levei uma múcua que por via da trincadeira e dum tal de aragonês, ficou só por ali, para ser vista.
Os súbditos Chicoronhos do Reino de Maconge tomaram conhecimento de que para além de qualquer Tapurbana cantada por Camões e, da volta ao Mundo por Cristóvão, Colombo é Cubano! E, se porventura, alguma expedição marítima chegou ao Brasil antes de Pedro Álvares Cabral, na forma lenta dos séculos, este também foi o primeiro. Para nós humanos muito cheios de diplomacia, segredos e feitos enviesados sem vento de bolina sempre teremos os arranjos papais, seu significado histórico! Foi assim porque queremos que o seja e, mais nada!
Eu, soba do reino de Manikongo de nome T´Chingange, afirmo que após o achamento do Brasil por Cabral, o Império Ultramarino Lusitano foi integrado sem essas periclitantes notícias arqueológicas de mirar o osso carunchoso do nosso tempo e de nossos ancestrais através dum microscópio fantasmagórico, não certificado em nossos templos. Meu canto, meu mundo antigo, reaparece embrulhado de saudade, neste torrão embora lhe faltam as fitas da kúkia (pôr do sol)… Cativo, vestido com os meus panos, agarrado aos búzios, amuletos, à undenge ami mu Moamba, desse antigo tempo e lugar…
Assim sendo o Reino de Manikongo galardoado com o badalo de ouro mais alvissaras, do Reino de Maconge no meio deste fascínio e, porque os tempos idos sempre foram de cobiça, selamos o assunto tapando-o com azeite fino de moura tal com o tintol da talha da Aldeia de Frades e arrabaldes. Encerrando o capítulo por agora pois que o Tratado de Tordesilhas já sofreu seus andamentos e aditamentos na altura devida! Em Cucufate assim como estivesse em Meca dei três amorosas cabeçadas naqueles grossos muros como aprovação dos feitos idos por Cristóvão Colombo e Pedro Cabral.
Nesta altivez senti o dever do estímulo, da bandeira e do hino e os ricos atributos que fizeram de nós um grupo de fiéis cavaleiros das terras do Nunca. É vital para o nosso equilíbrio emocional ascender na mesma filosofia do Reino de Maconge ou Manikongo, “abraçar o vento que sopra da Leba” – Neste agora, foram os Chicoronhos que deram a bênção ao nosso portal da Globália, ”Quando se quer, o pensamento viaja por distintos lugares”. Vamos assim, contribuir com o nosso lema “o mais valioso é o direito de pensar” em liberdade de espírito.
Cuba é Vila por Alvará de D. Maria I desde 18 de Dezembro d 1872. A ocupação humana é aqui muito antiga, visível pelos registos arqueológicos que por si só provam a existência de uma civilização megalítica de 300 anos antes da nossa era. Do tempo da ocupação árabe ficou possivelmente o nome de Cuba, talvez uma corrupção da palavra árabe “coba” que significa uma pequena torre. Cá para mim prefiro acreditar que o nome Cuba, advenha das cubas de vinho que ali foram encontradas no reinado de D. sancho II aquando da sua reconquista aos mouros.
Nesta grande misturada, O REINO DE MACONGE com seu Sonho, lenda e fantasia em terras Ultramarinas da Europa, ceamos várias vezes na presença dos nobres e plebeus da Real República de Maconge entre nobres do M´Puto. Com lata, lábia e linha mais aprumo, tratamos assuntos de transcendência, remetendo responso às gerações que virão e, para que não se entre nesse entretém de quem foi que o foi; Após o grito de Ginga Malaia seguido ao toque do chocalho, uma grande ovação com salva de palmas a nós e a quem vier! “Há quem nunca esqueça o chão, os cheiros do coração”. Do reino de Manikongo e, para que conste na Torre do Zombo...
O Soba T´Chingange (Do reino do Faz-de-konta de Manikongo)
O CHOQUE DO PRESENTE SAÍDO DO PARALÉM – 18.08.2019
Num mundo muito redondo nos silêncios dos espaços largos, horizonte a perder de vista- Na Vila de Messejana com John Wayne…
Por
T´Chingange – Em Panoias do M´Puto
Num jeito estranho entre mim e as pequenas calemas espumantes da Praia de Messejana, um mar feito anhara com abetardas ao invés de garças, abutres ou gaivotas, um monangamba escuro que nem um tição, com trancinhas gordurosas e brinquinho, óculos encaixados nos rebeldes cabelos, assim de gingão olhando-me de frente num forma turva, quase uma assombração, deu-me o recado de que o John Wayne estava pedrado na tasca do Celestino no fim da rua do Outeiro. Não seria de admirar pois que pensando estar no seu far west selvagem, matava saudades bebendo cachaça como quem bebe água.
Agradeci tal recado chispando a mão bem à maneira dos desportistas seguido de mais dois toques bem à maneira das modernas rebaldarias dos bate-na-avô, jeito de murro e um V feito com os dedos indicador e o malcriado com a mão acachapada ao peito. Este carapinha da Guiné, nem sabe que após a Revolução Francesa, os Americanos não se sentiam obrigados a tirar o chapéu para ninguém, colocando-o sobre a sua própria cabeça. Seu revolver dava-lhe a segurança necessária e este sim, era tirado quando os limites estavam ao rubro.
Enquanto me dirijo à tasca do Celestino vou relembrando coisas vividas num além e a propósito recordando o próprio Abraham Lincoln que simbolizou isso de não se tirar o chapéu com o uso de uma alta cartola preta; não tinham ao invés dos povos da Europa, leis e decretos usurpando as liberdades do povo; ele, Lincoln, veio a ser assassinado em Abril de 1865 ficando na história como o mártir da democracia representado em um grande memorial em Washington .
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O Texas integrado nos Estados Unidos em 1845 era uma vasta área onde a dureza e a selvajaria competiam entre si. É entre imensos latifúndios com gado pastando à solta em fazendas algumas maiores que muitos países europeus que um tal de Roy Bean instala seu “saloom” na beira de um apeadeiro do caminho-de-ferro. Roy Bean que nem sabia lêr direito, tinha um livro de leis que sempre fingia estudar e, foi comissionado a fazer justiça num território maior que a Holanda. No seu pardieiro chamado de saloom colocou um cartaz que dizia “cerveja gelada e a lei a Oeste de Pecos”.
Naquela vastidão sem lei e sem Deus ele, Roy Bean, foi o único juiz entre os anos de 1880 e 1900; passava o dia sentado na porta do saloom com um rifle entre as pernas. O meu amigo Joh Waine usava-o com uma mão no gatilho com o cano apoiado no braço. Dentro do saloom construiu uma cadeia tendo um urso preto a vigiá-la. Falo disto porque conhecendo seu jeito pode mais logo fazer desacatos na tourada e depois deste chamado à tasca lá terei de ficar atento ao seu modo explosivo.
Aquele Juiz, nos rápidos julgamentos que fazia consultava ou fingia consultar o “The Book” e, rapidamente levava à forca o infeliz numa decisiva batida na mesa com o cabo do revólver; levou assim 170 condenados ao cruel nó da corda ensebada. Sempre com uma garrafa de wisky à sua frente, exigia dos presentes o tratamento por Sua Excelência. Bean, que foi juiz durante vinte anos e, tendo sido considerado uma instituição do Texas como “o Enforcador de Pecos” – “património imoral da humanidade”, fazendo fama em paralelo com Kit Karson, Billy the Kid ou Pat Garrett. Talqualmente como o “cante alentejano” ser agora um “Património Imaterial da Humanidade”.
Estas imagens de terra e gente bravia fizeram o deleite através de muitos filmes entre os anos cinquenta e oitenta do século passado. Já falei da interacção que os putos candengues da minha geração faziam nos filmes deste John Wayne nos Cines Tropical ou Colonial da Luua na Angola Colonial. Em verdade, ainda dá gosto ver aquelas áridas paisagens nos confins dum deserto, cactos empinados entre rochas e uma cascavel zunindo seu chocalho num primeiro plano; um tufo de erva seca que rebola levada pelo vento; um moinho decrépito que faz rodar a ferrugem trazendo água aos chacais.
Atão John que tal está a moenga! Acorda lá! Dito isto dei-lhe dois açoites com o meu chapéu de coiro de búfalo bem no seu de aba larga com uma cinta entrelaçada feita em pele de veado! Num desatino, quase deu um pulo, pegando no seu rifle de canos estriados bem entre as botas muito cheias de arabescos com cornos: - What the fuck is this? What was it? Calma, disse abrindo as mãos e tendo em atenção seu impulso de levar o dedo ao gatilho. Por fim amainou; tinha um bafo de onça carregado mas, dei-lhe um gim com água tónica para amansar os mosquitos e água das pedras. Mas, ele bravo disse: - Do you wanna drown me?
Os compadres já familiarizados com John Wayne e tolerantes como a cachaça, já sabiam que eu era um seu grande amigo, quase familiar e, em verdade notei que ficaram doidos por estarem assim tão de perto com uma celebridade! E, vestido daquela maneira com polainas a condizer com os homens espadas, faziam-lhe perguntas atrás de perguntas e ele, com seu português raspikui, motivado e traduzido por seu anjo Akasha, seu espaço com éter, assim correspondia com o pentagrama da 5º ponta (a ponta apontada para cima), aquela que representa o espírito do paralém... E, não é que se entendiam de maravilha!
A caminho da tourada do Rouxinol, foi-me dizendo querer ir a Paredes de Coura o WOODSTOCK TUGA. Para quem não sabe, o festival de Woodstock não foi nada mais, nada menos do que uma orgia á americana, um grito contra a guerra do Vietname e vai daí, este festival lá nos States de música onde se podia fumar uns charros á desbunda, fornicar até dizer chega e até podiam desafiar os padrões da época que eram entre muitos, andarem nus e fazerem amor com os negros (Foi o Luís de Magalhães que disse…). Sendo assim fiquei de pé atrás mas disse-lhe: - Yes! Na firme convicção de o mandar à fava, quem sabe? Talvez!…
Na tourada, foram o bom e o bonito! Fez um espalhafato de tanta alegria que só faltou saltar para a arena e dar um abraço àquela malta marada dos forcados! Os bois de quinhentos e tantos quilos foram difíceis de forcar! Ele saltava, dava vivas misturando asneira com alegrias e foi mesmo o escambau: Catch him like this, pega-lhe assim e assado, como se ele fosse um entendido, gritava! E, sabendo que ele só era bom no laço, demos-lhe o benefício da dúvida! E batia palmas aos forcados de São Manços.
E estrebuchava-se com a valentia dos forcados de Beja! Mas, o pior foi quando já na terceira tentativa o touro partiu a perna de um, o de caras. Vi-me aflito com O Wayne; queria saltar na arena e num vai e espuma raiva, pega na sua Winchester e… foi neste entretanto que virei a arma para o ar: PUM!...PUM!…PUM! … Três tiros memoráveis! Todo o mundo se levantou à volta da arena a bater palmas. Wayne, teve muita sorte não ser levado para a grelha pelo xerife, digo o sargento da GNR vestido a rigor ao lado do Director da Corrida de seis touros… Uf! Que alivio! Nem sei se irei ao tal de Woodstock Tuga nas Paredes de Coura…
O Soba T´Chingange na Messejana do M´Puto
TEMPOS QUENTES – NO PARALÉM
- EM PANOIAS COM JOHN WAYNE – 15.08.2019
O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios; de novo, John, surge para visitar seus parentes como se nunca daqui tivesse ido – Uma fricção diferente…
Por
T´CHINGANGE – Em Panoias do M´Puto.
John Wayne - Seu verdadeiro nome era Marion Michael Morrison. Ele detestava seu nome e ao entrar para o cinema mudou-o para John Wayne, que tinha mais a ver com um rapaz de 1,92 de ventas largas. Surgiu com destaque no cinema em 1930 em The Big Trail, faroeste dirigido por Raoul Walsh. Permaneceu vários anos estrelando filmes B até consagrar-se no papel de Ringo Kid em Stagecoach, clássico de 1939 de John Ford. A carreira de Wayne foi assim agraciada com esse divisor de águas inestimável, que o lançou ao estrelato. A relação com Panoias é mesmo só uma lenda. Esse filme tornou-se a obra que definiu todas as principais características do faroeste norte-americano.
Longe vai o tempo em que que eu e minha malta da Maianga, Vila Alice e Bairro do Café da Luua íamos ao cinema Colonial em São Paulo para gozarmos as cenas que se passavam dentro da sala de espectáculos. Todos fazíamos parte duma qualquer aventura que este astro levava até nós na pantalha gigante deste ou outro qualquer cine. Aqui era diferente, havia beatas feitas piriscas pelo ar para festejar cada uma das victórias deste nosso amigo fosse em duelos ou atrás duma bissapa aguardando em tocaia os vilões, ladrões de vacas.
Para além das piriscas havia avisos ao grande ídolo Wayne; Quando em surdina um bandoleiro com fúsil longo ou curto o queria apanhar, todos nós o avisávamos da tocaia: - Olha à tua trás! E, sempre ou quase sempre ele, virava-se com o revólver engatilhado e Pum, pum! Por vezes era sua Winchester que ele suportava entre os dois braços – o mauzão caía ali esparramado, gritando tardiamente o may good e, nós… Eu bem que lhe avisei e, num eu avisei primeiro, não! Fui eu! - Passava a outra cena e a festa continuava. Nós, candengues da Luua tinhamos essa peculiar cultura do cinema…
Aqui em Panoias, saí de mansinho da rua vinticinco do abril dez minutos para as sete; o silêncio rondava o lugar do Paralém e, nem o cão rafeiro da rua do Outeiro me ladrou, procedimento incomum, talvez por ser cedo ou por não querer mostrar seus caninos cariados e, voltei à esquerda na rua pisando o asfalto meio quente dos 33 graus, casas caiadas com barras azuis muito a condizer com o Paralém de Messejana, famosa por uma praia que nunca teve.
Passando o lugar aonde os tabaibos dão lugar aos eucaliptos cheiro as horas da manhã, batiam as sete badaladas no sino da igreja da Misericórdia, estando eu em frente do chafariz construído num ano em que quase estava para nascer mas que já não tem água - 1945. Via-se ao longe a ermida da Nossa Senhora de Assunção mas, meu destino era a Funcheira, o lugar da estação ferroviária e, aonde iria receber meu amigo da Luua, famoso John Wayne do Colonial, paredes meias com o B.O...
Pude ler no cruzamento que liga a Conqueiros um cartaz da CDU mencionando uma próxima festa do Avante na Atalaia e fazendo menção do PCP com uma estrela, uma foice e um martelo, e o PEV com um girassol. Eram coisas passadas que o muro exibia com agrados de comunas, socialistas e afins… Ouvi do lado sul e lá longe uns barulhos de petardo ecoando nos cabeços, talvez avisando da festa de Santa Luzia ou Garvão. Não seriam caçadores porque sendo hoje dia de Santa Maria os arcabuzes ficam trancados no mukifo dos fundos.
Um zumbido no ar e olhando o céu, lá estava o rasto dum avião nas alturas a caminho do Sul, Áfricas e, estando assim olhando o azul rasgado ouvi um convincente “Good Morning”… Como é possível, ele estar aqui e assim montado e tudo, estando eu a caminho da estação para o receber! Será ele? Estas coisas de gente que surge do paralém tudo é possível! Mas, que grande susto! Segundos antes não estava ali ninguém e, num repente, saído do nada ali estava o fulano vestido à vaqueiro com polainas, um autentico cowboy americano empanoiado de fantasma!
E, surpresa das surpresas… Ali estava este tal e qual John Waine, vestido como se aqui viesse fazer um western. Não te assustes, disse ele no seu jeito meio fanhoso: -Don´t be afraid! I heard gunshots and came to see!... Em inglês! E, perante o meu franzir de sobrolho continuou a falar, mas agora em português com sotaque de alentejano de Aljustrel, bem cantado e balouçado: - Foi quando falou: -Na minha anterior encarnação andei por aqui e venho agora matar saudades; tenho primos e afins mas quero que sejas tu a ajudar-me nos caminhos! É que isto está tudo bem diferente! Desta vez quero ir à tourada de Messejana.
Caramba! Num repentemente surgiu um puro lusitano a seu lado! Let's ride! Let´s let's go! Vamos, monta! Estava tolhido e, assim tremendo e com a sua ajuda pulei com alguma dificuldade para o lombo do lindo exemplar de cavalo com uma mancha branca na testa. E, lá fomos em direcção à Ermida de Nossa Senhora de Assunção… Foi neste entretanto que lhe dei a novidade de que recentemente roubaram os dois sinos grandes em bronze! Temos de procurar esses larápios, disse ele já espumando vontade de atirar. Calma, disse eu; isso já deve ter sido fundido e vendido! Isto está assim! Estás num M´Puto novo. A justiça anda de muletas…
Fiz um rodeio em direcção a Sargaçal porque sabia ir ali encontrar bois e, lá chegados vi o encanto nos olhos de John! Os bois com os rabos a dar e dar, um e outro lado afastando moscas enquanto a passo rápido se deslocavam da barragem de água para as gamelas de pasto com a suposta ração que nós lhe daríamos; pensaram que seriamos nós, seus cuidadores. Vou tentar reproduzir a imagem, o gado com crias seguiam o rumo da palha levantando o pó do chão, assim como uma mini boiada e mugidos de indicar presença aos bezerros e entretanto o moinho de vento rodando fazendo tric…tric…tric…tric…
Nas palhetas duma pá desmazelada, o vento já riscava com sons de gonzos uma tabuleta que teimava em amachucar um outra torta chapa pelo chik…chuk…chik…chuk, vento de sudoeste que entretanto se levantou! Era mesmo uma cena dum filme e, se gozei na imagem dos muitos filmes que me alegraram, olhos colados ao grande ecrã! Sim, sou mesmo da geração do cinema, das matinés de ver gado despencando com pó, rifles, ladrões e tiros de colt de rodar tambor ou winchester.
E curiosamente, o encanto não era só meu. John Wayne estava consolado! Sentia-se este mistério. A todo o momento recordava-me: - Já compraste o bilhete da tourada, desse tal de Rouxinol e dos Bastinhas mais os forcados de São Manços… Mas, como é que ele sabia serem estas as vedetas do dia quinze de Agosto!? – Tu nem necessitas de bilhete, disse eu! Notei por um muxoxo suave que só queria ter a sensação de estar vivinho da costa… Vou-vos dizer! Há coisas que nem contadas ao pormenor parecem ser verdadeiras, háka!…
(Talvez continue…)
O Soba T´Chingange
T´Chingange – No Alentejo do M´Puto
Revendo sempre estações da vida na ânsia de satisfazer desejos como um Aladino que busca uma lâmpada mágica, também me revi como filho dum alfaiate de nome Mustafá. Como coisa concertada dispus-me a seguir os escritos que não sendo secretos aludem a feitos de magos, feiticeiros ou bruxos. Em tempos de Mouros ir de Al-calá a Badajam a pé ou a cavalo seria em tempos idos uma aventura perigosa, não só pela inexistência de bons caminhos mas também pelos predadores, lobos e homens salteadores, flibusteiros que então existiam. Hoje existem outro tipo de salteadores como que vindos de lado nenhum mas, e curiosamente escolhidos por nós para usar suas supostas boas qualidades de novos magos.
Desconseguindo fortuna, coçando-me de incertezas aos sons graves de uma melodia sertaneja do Nordeste brasileiro, procuro aqui acerto de ideias; alando-me em quenturas, voo para norte fugindo à agitada borda mar Algarvia. Metido num pego do leito do rio Mira, mergulhado até ao pescoço, quase chafurdando, observo refrescado lá no alto a fortaleza da Cola e a torre da ermida da Senhora do Castro da Cola. Mesmo ao lado já sem uso pode admirar-se um moinho de levada que com as suas duas bocas feitas a pedra xistosa espera recuperação ou morte desmoronada. Vi ali um potencial sítio para se dar a conhecer pedagogia do que era aquele rio em anos longínquos, vida que se desenvolvia com a moagem dos cereais entre os quais o milho e mais tarde o trigo; milho que era britado para matar a fome a muita gente.
Porque o meu destino era Beringel, rumei para ali mas, pouco a pouco fui-me transformando num braço alado à semelhança do braço doiro do brasão de lá; e de espada na mão cortei o ar num ápice, passando por terras de Messejana, Ervidel e Mombeja e, de novo, feito homem poisei ali. Terão de ver em mim uma kianda fantasma que num ápice, ora está aqui ou já se foi pró álem. Já em Beringel, como um alfarrabista iluminado, fiquei a saber que foi D. Dinis que deu a primeira carta de Foral a esta terra, tendo passado a vila por segundo foral no ano de 1519 no reinado de D. Manuel I.
A mira de prodigiosas riquezas em sonhos cristãs, desvaneceu ao encontrar oposição de magos portadores doutras vontades e, das mil e uma noites desejadas, num indefinido alvorecer, por lá ficaram desmembrados os jovens Lusos; morreram com o rei, numa expedição estúpida de vontade imberbe. Também por ideias sebastianistas andei numa guerra de tuji (merda) por vontade alheia de novos sebastianistas gwetas (brancos) como eu. Queriam coisas e desconseguiram tornando-me um participante porque era filho duma Nação. Nação que afinal nem era minha e feito tolo, assim andei quatro anos de minha juventude – Para nada!
TEMPO DE CINZAS ANTIGAS. 04.06.2018
-Ser cleptomaníaco é ter a doença de fanar aquilo que não é seu, um jeito de gamar; A nomenclatura do M´Puto faz isto com tecnicidade de gula, e nós nada! …
MALAMBA: É a palavra.
Por
T´Chingange - Em Coimbra
Estamos a 4 de Junho de 2018, o dia em que nasci lá para trás num tempo de há 73 anos. Não digo o sítio verdadeiro porque sou mazombo e a estória quer que se perdure a ideia de que nasci a bordo do vapor Niassa. Minha vida de tropeço em cavandela foi adicionando dias até que fizeram de mim um Camões. Estudei na Escola João das Regras da Maianga da Luua; andei no Colégio Moderno em frente ao café Bracarense mesmo ao lado do Sinaleiro da Maianga e na 4ª classe andei na Escola de Aplicação e Ensaios no Largo D. Afonso Henriques próximo do Teatro Nacional e tendo em frente o Sindicato dos Metalúrgicos de Angola.
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Assim crescendo na perspectiva de ser um Niassalês sigo minha vida normal estudando na Escola Oliveira Salazar da Luua que entretanto passou para Escola Industrial de Luanda. Trabalhei como brigadeiro nos Caminhos de Ferro da Luua desenhando quilómetros de perfis na Brigada de Caminhos de Ferro do Norte. Querendo subir na vida tiro o Curso de Topografia e Agrimensura na Escola dos Serviços Geográficos e Cadastrais no Largo Bressane Leite aonde tinha funcionado a primeira Escola Industrial…
Como topógrafo sou colocado na Cidade de Robert Williams, mais conhecida por Caála e o Abril de 1975 apanha-me ali passando Demarcações Provisórias de terras que afinal nem eram nossas. Só vim a saber isto ao certo, quando da guerra do tundamunjila tudo entrou em alvoroço e era muito perigoso ser-se branco! Fizeram uma ponte aérea e recambiaram-me para o M´Puto com um voo grátis só de ida! Depois assisti de longe, lá no M´Puto entre o esbracejar dum tal de Vasco Gonçalves que o barco Niassa traria o último nosso património, a bandeira das quinas verde e vermelha com uma esfera e castelos em amarelo.
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Dei voltas pelo mundo com um imbondeiro de Angola às costas e já convencido das inverdades, tomando o calor na lareira do Alentejo, uma terra perto de Panoias, fico conhecedor de outras estórias; de gente que nunca andou por essas enviesadas picadas do Mundo. E, é assim que surge a verídica vida dum senhor que nem conheci de nome Manuel Fonseca -um senhor que tinha a doença de roubar.
Manuel Faneca nasceu com essa doença de cleptomaníaco, isso de não resistir à tentação de roubar as coisas dos outros, de fanar aquilo que não é seu, um jeito de gamar com gula de mais-valia p´ra ficar o rei do pedaço, o maior, talvez, sei lá! Há muita gente assim que nem desculpa tem por ser doente a propósito e porque lhe convêm, é ladrão mesmo! Faneca, regenerou-se após uns dez anos de cadeia aos soluços e num vai e vem periódico na ramona da Guarda Nacional Republicana.
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Ele, efectivamente tem essa doença mas, de vontade própria, forjou uma maneira de se enganar; fora de horas mandava seu chapéu de feltro para dentro do quintal do vizinho ou alheio e depois saltava o dito cujo, para subtrair o seu próprio pertence. Chico Torrica é uma outra típica figura duma outra pequena vila alentejana; ainda jovem namorou uma catraia bonita de encantos de pasmar rouxinóis mas, sendo ele lavrador dum monte, ficou surpreso quando Felismina sua deusa, num repentino fim-de-semana foi vista a passear bamboleando-se com um brasileiro carioca.
Esse carioca, um emigrante bem-sucedido era muito cheio de graveto. Felismina não resistiu à lábia escorregadia do linguajar do bonitão, vestido de popelinas e sapatos brancos mais o seu chevrollet descapotável, rabo de peixe de reluzentes cromados e um verde de constante tentação. Tudo isso relampejou na cabecinha loira de Felismina. Isto não caiu bem a Chico Torrica que de encucamento soluçado e repetido, resultou em uma depressão sem tamanho que nada tinha de platónico. Esta situação perdurou por algum tempo vindo a piorar quando já muito mais tarde lhe mostraram uma foto de sua perdida amada remetida de Cuiabá do pantanal brasileiro.
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A foto mostrava Felismina escanchada em um alazão, algures numa cordilheira de Poconé e, tocando um corno retorcido a que ali chamam de berrante. Isto, na santa terrinha da falsa estepe foi motivo de troça ao já consumido Torrica; por via das falas indicarem que aquele corno de chamar boi tresmalhado era seu maldito chavelho. Esta dolorosa pedrada na já débil cabeça de Torrica deu em o enlouquecer de vez.
Torrica deu em maluco, passado dos carretos como dizia a canalhada, pivetes sem sensibilidade para tal dor de chifre e assim, quando lhe dava na veneta desviava as pedras dos caminhos durante a noite e, não raras vezes ia ao monte, igreja de Nossa Senhora da Assunção e retirava lá de dentro todos os santos nos vários altares. Dizia ele que era para apanharem ar.
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Dispunha os santos em círculo e, ao relento sereno de Agosto, fazia-lhes grandes, eloquentes e entorpecentes discursos, bem à sua maneira. Eram o Santo António, Nossa Senhora da Assunção, Nossa senhora do Ó e do Parto mais o São Jorge de que tanto gostava! – Mas que jeito, estarem vosmecês sempre fechados! Gostam de ser coitados como eu? Passam ali meses e anos sem verem a luz do dia, sem ar nem nada e tudo-o-mais! … Dizia ele, Torrica sozinhado consigo, falando prás sombras escuras da noite.
Torrica assim ficou para todo o sempre virgem na sua solteiríssima pureza de mente descalabriada. Conta-se que por muitas vezes o tentaram internar no Júlio de Matos mas, desistiram porque sempre conseguia esgueirar-se regressando à sua linda terrinha cheia de branco com barras azuis. Numa dessas vezes disse para quem quis ouvir: - Pois, … aquilo lá naquele hospital é tudo doido varrido! …
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Vejam só que me mandaram tirar água dum poço com um cesto igual a este; disse isto apontando seu cesto de vime que acartava no outro braço, feito de vime entrelaçado e, logicamente muito cheio de buracos naturais de seu cabaz de levar pasto de palha seca a sua égua. Aonde já se viu tal coisa? Retorquía ele esgueirando-se num inocente riso trocista de sublimada lucidez. Isto do sublimado, digo eu, mas em verdade sua estória metia dó. Bom! A minha tal como a de tantos outros também deveria meter mas, o Mundo anda por demais esquecido. Nem nunca nos vão ressarcir. Ele, …há coisas! …
O Soba T´Chingange
NAS CINZAS DO TEMPO – 09.03.2018
- Um homem sem religião é como um hipopótamo sem bicicleta… Eu e a Talassoterapia riscando o tempo com uma velha grafonola…
XICULULU : - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça…
Por
T´Chingange - No Nordeste brasileiro
Estava na água ginasticando minha talassoterapia, os peixinhos mordiscando minhas velhas e cascudas peles dos pés, quando recebo uma mensagem telepática oriunda da muito longínqua galáxia de pedra virada, uma estrela super esquecida na nebulosidade cósmica. Era Frank Sinatra que, muito saudoso queria saber novas e velhas, recordando belos momentos passados com a turma da maré rasa na praia de Messejana do M´Puto.
Fiquei assim um pouco destranslucido dos neurónios vendo ziguezagues de minhocas percorrendo meu olho esquerdo. Sem mesmo saber do meu estado, se bem se mal, pergunta-me de rajada se tinha as pranchas de surf preparadas para a faena de tubular ondas gigantes na praia de Messejana.
Em sonho já tinha sido avisado que algo iria surgir de anómalo pois que toda a santa noite andei de feira em feira e cumcamano, nas contas todas, sempre tinha de multiplicar com uma constante de pi que corresponde a uma catrefada de números sendo 3,1415926 elevado à raiz quadrada. Era um sério aviso de que rolava no ar uma mensagem percorrendo ano-luz de contratempos ou alegrias porque o dia ainda estava por nascer.
Era aquele zunir de ouvidos com eco espacial que antecipava ondas da longínqua pedra virada e, logologo do Frank Sinatra. Tens a minha prancha encerada? Quase com medo disse: tenho! Mas em verdade já nem sabia aonde estava tal artefacto de rolar ondas cibernéticas duma praia que só o era digital! Agora lixado, pensei também à velocidade da luz e disse ao calhas que estava por cima da palha do celeiro, mesmo ao lado do lagar de azeite.
Mas já estás a caminho? Perguntei! Não, foi a resposta. Respirei fundo já a pensar em ensaboar a coisa que estava na certa cagada e arranhada pelos galináceos da Assunção Cailogo. No meio de raspagens no espaço com fotões carregados de cargas negativas apercebi-me que não estava só. Frank leu nem sei como, minha interrogação e, disse estar acompanhado de nosso comum amigo ET 325 de olhos grande e achinesados.
Pois disse ter ficado profundamente agradado com aquelas festas quase natalícias que eu promovi lá na Funcheira, Garvão e Barragem de Santa Clara. Das festas com balões na companhia de nossos amigos John Wayne, Jack Palance, Sammy Davis Jr Dean Martin., e o cómico Silva. Fazia anos que não andava em comboio a lenha e vapor e, até recordou a fagulha que inadvertidamente lhe entrou num olho no exacto momento em que apitava.
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Estava animado e deixei-o falar; parecia ter saudades de cantar carências afectivas até. Recordou também o encontro com as meninas da Ribeira do Sado. E, pôs-se a cantar em inglês: "The girls of the Ribeira do Sado are what they are, they dig the earth with their toenails, the girls of Ribeira do Sado are like the sheep, they have ticks behind their ears." (“As meninas da Ribeira do Sado é que é, cavam a terra com as unhas dos pés, as meninas da Ribeira do Sado são como as ovelhas, têm carrapatos atrás das orelhas”). Só me pude rir a bandeiras pregadas para não sair água quente pelas turbulências.
Que quando viesse pra cá, lá no M´Puto (Ele nem sabia que minha pessoa, estava no Nordeste brasileiro). Mas como ele é bruxo que adivinhe, pois então! Como dizia queria encontrar-se com os mineiros de Aljustrel para ondear pra lá e pra cá o cante da planície; gostou muito de partilhar com estes seus cantes e também as borgas com escolha de carne das cabeças dos borregos. Do que ele se lembrou! Só faltou recordar as comezainas de caracóis e açordas de poejos da ribeira de Panoias e os secretos de porco preto de Santa Luzia.
Mando daqui uma saudação a Assunção Roxo, à Zita Falcão, ao Zeca Mamoeiro da Maianga e aos meus compadres de Ourique. Como é então!? Sabia lá eu quem eram os compadres dele! Disse-lhe que só lá para o fim do verão do M´Puto poderíamos juntar esta catrefada de gente para gozarmos umas férias à maneira. Sim! De fazer um grande piquenique na praia do Brito Camacho… Estava assim um pouco perplexo pois que nem sabia essas relações de amizade com estes meus amigos Xis-Pê-Tê-Hó.
Olhando agora o barco grande que desde o horizonte do alto mar leva turistas para Recife de Pernambuco, pensei que talvez fosse melhor sugerir-lhe irmos todos para aí: a Nova Jerusalém de Caruaru e festejarmos a Paixão de Cristo, o maior teatro ao ar livre do Mundo nesta época de páscoa! Mas, nada disse. Só pensei! Julquei melhor por agora deixar as coisas assim mesmo. Em despedida cantou-me o Strangers in the Night por um megafone que riscava o tempo; talvez por estar a muitos anos-luz de mim! Corações ao alto; eram horas de ir comprar o rolo de fita beije à retrosaria da Jatiúca para ornamentar o abajur de dar luzes na minha Pajuçara… Sucede-me cada uma que parece meia dúzia…
O Soba T´Chingange
PANOIAS VI - TEMPOS DORMIDOS - 24.12.2017
-NAS CINZAS DO TEMPO - Salada de MASTRUÇO... Em Garvão, com a magia do Natal com Frank Sinatra e eus amigos…
Por
T´Chingange
Foi só ontem que de novo nos reunimos para comer os pés de rã e pezinhos de coentrada com feijão branco na barragem de Santa Clara no lugar da Achada. John Wayne comunicou-me então que hoje deveríamos esperar na Estação da Funcheira nosso comum amigo Frank Sinatra. Jack Palance que estava mastigando um palito, abanou a cabeça como que confirmando o combinado entre eles através do avançado ipad do além; com tecnologia mais volátil que cacimbo de naukluft da costa dos esqueletos, até por pensamentos se entendiam.
Frank Sinatra viria acompanhado de António Silva, aquele cómico português poliglota nas falas de riso pois afinal, eles eram amigos comuns lá no paralém. Foi com grande contentamento que recebeu o convite feito por John Wayne concebido por nós e da magia de Natal na envolvência de Roxo uma ilustradora muito conceituada nas acrílicas visões de pensamentos, sentimentos e outros edecéteras.
Eram dez horas da manhã quando perfilados no cais da Funcheira, T´Chingange, John Wayne e Jack Palance viram surgir um trem esguio como uma minhoca languinhenta, cor azul celeste silencioso de assombrar. Foi quando num repentemente zuniu um apito estridente de assobios, como vindo não do ar, mas dum portal marinho como se cem golfinhos o fossem.
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O primeiro a sair foi alguém que nem sabíamos que viria; era Sammy Davis Júnior logo seguido de Dean Martin e umas quantas fosfóricas e estapafúrdias senhoras vestidas com cetins, sedas e cambraias rebrilhantes que ao som dum zingarelho de musica parecido com um trombone de varas e saxofone, fosforicavam nuvens coloridas.
Mas que arraial disse eu; vai ser bonita a festa pá! E, o T´Chingange assim vestido como um joker de cartas de jogar sueca, já só era uma figura no meio duma algazarrada! Tudo era feito a contento dum acaso e fazendo reparo disto ao Jack Palance, este deu de costas como se nada tivesse a importância desmedida! Ele estava radiante, rindo com todos os dentes e esgares que só mesmo ele sabia fazer naturalmente.
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Abraços, rodopios, assobios e até foguetes surgiram do nada duma aberta e, lá vem o António Silva de braços abertos em minha direcção com um ar cómico de sábado-à-noite. Então pá, como vai a moenga, disse ele apertando-me como um amigo de há mais de sem com cem anos! Parece que balbuciei algo mas na penumbra do zunido só pude verificar no grande abraço dado entre John Wayne e Frank Sinatra.
Num repente já todos se tinham cumprimentado. Uns e todos falavam desabridamente como se a singularidade do mundo tivesse ali seu despontar. Funcheira engalanada podia ver o António Silva fumando caricocos doces com seu amigo T´Chingange e foi quando lhe lembrei da história inacabada do Evaristo-tens-cá-disto!? Ele riu que nem um perdido mostrando-me um chouriço a servir de amuleto do Paralém.
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O curioso é o de que todos falávamos uma só língua e de espanto passamos ao esperanto sem maiores tibiezas ou confabulações. Já em direcção a um dos machimbombos que nos levaria ao armazém da festa da Achada, ele - o Silva perguntou-me por Assunção Roxo mas e curiosamente olhando para um painel grande mesmo sem fazer qualquer pergunta disse: -É dela não é? E, eu disse que sim! Era um galináceo rascunhado.
Claro que fiquei encafifado com o barulho destes machimbombos, chocalhos mais pandeiretas e estas premonições a confirmar coisas que nunca tinha sentido. Sabia lá que eram amigos doutras paragens. E assim, comendo frases disse-lhe: - Ela não veio; parece que está lá por Oeiras repartindo arcos-íris com amigos.
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Lá no m´bukusho e descendo do machimbombo Jack virando-se para mim! -Tenho novidades para ti! -Sim! -Mais logo, falaremos! No chuço do m´bukusho (lugar do churrasco) tinha em mente falar e mas, mesmo só pensando as horas passavam sem nos apercebermos. O tempo era um só e volátil. António Silva revia com alegria muito do que revia. Nem foi necessário falar nestes nomes do paratrás! Era Natal
Cheguei ao item 11 sem quase falar no Frank Sinatra e seus amigos Davis Jr. e Dean Martin. Estávamos em cima da festa e só pude revê-lo com seu chapéu de malandro, rufia das seitas do tempo, rodopiando entre seus amigos. Frank foi um dos mais populares e influentes artistas musicais do século XX, com mais de 150 milhões de discos vendidos. Frank Sinatra era filho de imigrantes italianos: Seu pai, Antonino Martino Sinatra era um Siciliano, analfabeto e boxeador, imigrado para Nova York em 1903. Nem o Trump sabe disto, agora que anda bulindo com os imigrantes…
O Soba T´Chingange
TEMPO COM FRINCHAS - 15.12.2017 - Em terras de M´Puto . III
“Os donos disto tudo - DDT” - “ Não há confiança ilimitada em amigos. Há amizade”; no berbicacho traseiro de falso couro do meu chapéu do panamá e, com as mesmas dimensões da testeira estão fixas duas estrelas já secas, cortadas da carambola com a inscrição dum indefinido ”AMOR”…
Por
T´Chingange
Aquela primeira frase supra, entre aspas, foram ditas pelo Presidente Marcelo do M´Puto ao referir-se a Ricardo Salgado, o chefe da máfia dos Bancos DDT. Apetece-me por vezes ser um Lampião cangaceiro e falar só mais uma vez das periclitãncias que a crise trouxe a todos nós aqui no M´Puto, juntando àquela frase a outra, a segunda, também entre aspas…
Seria preferível passar de lado tudo isto, ficando longas horas e, lá longe, nas terras de Vera Cruz, jiboiando numa rede oscilante da Pajuçara, sebenta de uso e abuso, curtindo uma preguiça que nem o chega a ser, porque nem sempre a ocupação é suficiente e, a frescura da maresia tem forçosamente de ser apreciada.
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Fazendo ostentação do meu chapéu de couro ornamentado de vaidades escondidas e forrado com pele colorida de alpaca do Peru, vestindo uma catrefada de roupa pelo frio, botas de inverno com suplementares palmilhas de pele de ovelha pura, solto longas falas de neurónios folgados, alentejanados. A entreajuda e a forma característica no vestir fazem de mim, um deixa para lá - o desmiolado, o T´Chingange que nem sabe o que diz.
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Assim neste estado de cacofónica tensão, desfriso na lista de imparidades as nove maiores devedoras às instituições que nos puseram de tanga, geradas na gestão de Armando das Varas e Carlos Santos Ferrugem como: Artlant - La Seda; Efacec; Vale dos Lobos; Auto-estrada do Douro Litoral; O Grupo E. Santo; o Grupo Lena; o António Mosquito; a Royal Urbis e a Fimpro SCR e Banif …
Claro que e, em verdade, as instituições do regime político-partidário em que vivemos em Portugal (M´Puto), simplesmente não quiseram fazer o trabalho de investigação de quem concedeu esses créditos e, sem a devida precaução de riscos. É a mesma estória de que cornos que dão de comer deixá-los crescer! Estão a ver este filme de putarias!? Uma comparação a que os políticos de todas as bandas viram, mas fingiram que não, assobiando pró lado.
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Pelo mau uso e abuso do nosso dinheiro na banca, todos mas e, principalmente os gestores da CGD, deveriam ser responsabilizados. O dinheiro dos contribuintes foi abusivamente desbaratado! Isto levou-me a desprezar todos os políticos, embora haja gente boa entre eles…
O próprio Ministério Publico suspeita que terá havido tratamento de favor de alguns devedores em que, os gestores que concederam os créditos, poderiam ter recebido comissões por baixo da mesa, por não exigirem garantias e, esconder falhas de pagamentos ao longo do tempo. E, tudo fica assim mesmo! Talvez esperando prescrição! A culpa morre solteiríssima da silva…
E, foram só 2,5 mil milhões de euros. O regime político-partidário não deixou que a CPI – Comissão Parlamentar de Inquéritos chegasse a bom termo, recusando-lhe documentos factuais; ninguém quis colaborar com a verdade. Os deputados de todas as bandas colaboraram e ajudaram à festa, fazendo tudo para boicotar os trabalhos da CPI. E, queixam-se eles dos submarinos!? Como se não tivessem em sua malga peixes voadores! Nada ficou provado, reactivamente a suspeitos quanto a favorecimentos, nem de influências politica sobre os gestores. Nós, cidadãos somos todos burros! Assim nos fizeram ser.
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Aquela CPI – Comissão Parlamentar de inquérito, constituída para apurar o que se passou na CGD desde o ano 2000, paga pelos contribuintes portugueses, terminou sem conclusões. Sim! É por estes exemplos que o Povo Português despreza os políticos e, desrespeita as instituições. Qual justiça, qual quê!?
Desta actual geringonça salvam-se, valha-nos isso, o Senhor Presidente Marcelo que segura as pontas com muita habilidade e, que torna o M´Puto quase num regime presidencialista mais o Ministro das Finanças Mário Centeno, o tal de patinho feio que agora prepara a fuga para outros mares… Estamos quilhados! Melhor, sem quilha!… Se, não me prenderem irei continuar a repetir no meu jeito, o já dito por José Gomes Ferreira em seu livro de coragem “ A Vénia de Portugal ao Regime dos Banqueiros”
O Soba T´Chingange
PANOIAS V - TEMPOS DORMIDOS - 06.12.2017
-NAS CINZAS DO TEMPO - Salada de MASTRUÇO... Em Garvão, com a magia do Natal
Por
T´Chingange
No domingo e, naquele café do “Cú da Mula” Jack tinha mais pormenores a dizer sobre o uso do mastruço mas, fui obrigado a dizer-lhe deixar isso para amanhã. E o amanhã tornou-se hoje e, mais um outro numas feiras frias mas com um sol radiante. Naquele lugar de cheiros de arrúdia com urtigas refazíamos nossos traços sem melancólicos soluços, sem choros nem ranger de dentes, troçando até de nossas mazelas furunculosas.
Como ressuscitados numa amizade de infância que, morta no ilusório sucedeu a nosso contragosto e em nossa contramão aqui, e por uns dias fintávamos o destino sem aquela fúria suicida dum hiato que mata no tempo o passado desleixado de sem futuro. É algo que se sente pulando das margens encantando corações, rendas belas desenhadas em talento. Sei lá! Talvez isto ou, uma coisa assim parecida.
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Já eram quase onze horas quando fui tomar meu matabicho com meus amigos Jack e Wayne no café do Cú da Mula de Garvão. Elas, as visitas do paralém já tinham comido seu café com leite e pastéis de belém e ficaram a olhar-se de soslaio enquanto comia a minha torrada de pão de Garvão com azeite da horta do cabo, barrada com compota de pitanga e queijo de cabra curado da Quinta da Carvalheira; arregalaram os olhos quando tirei meu frasco de jindungo da minha jaqueta e pintalguei tudo aquilo, compota, tiras finas de queijo e azeite do lagar.
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John Wayne quis provar e, logologo após meter à boca deu quase um grito! - My God! How can you eat this? Tentou também falar em português mas saiu de atravessado: -Tu, maluco! Como ser possível eat, cuspo de diabo. Eu, silenciosamente fui comento rindo só por dentro; estes gringos são fracos! Jack bateu com os pés no chão repetidamente rindo como um chocalho de cascavel. Tu ser fraco, You are very weak, my friend Waine e, olhando para mim, abanou o polegar em seu punho fechado, para baixo e para cima como que a congratular-se com esta minha ousadia.
Foi quando lhe perguntei se sabia do resto da estória dos mastruços pois que ainda faltava dar mais dicas sobre as vantagens desse capim. Oh ... Yes, yes! My maternal grandfather always said that in the estates, sim, lá dos America… Fiquei todo-ouvidos para ele. Só depois de uma baforada de fazer balões e argolas de índio no seu charuto cohiba é que se dispôs a explicar
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- Para estimular a digestão e as funções do fígado, colocas uma colher de sopa de folhas, sementes picadas e flores de mastruz em uma chávena de chá; acrescentas água fervente; tampas o púcaro e aguardas dez minutos; coas e bebes o chá de mastruço assim – uma chávena de chá 2 vezes por dia, antes das refeições principais. Claro que tudo isto foi dito numa mistura de ruça tempera e, eu arrulhei a coisa a meu modo no jeito dos pombos para que vocês possam entender.
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Quanto a diabetes disse: -Para anemia e diabetes os benefícios da erva-de-santa-maria quanto ao sistema imunológico, é importante falar da capacidade da planta em fornecer vitamina C e, portanto, auxiliar as defesas do organismo, aumentando a imunidade e evitando infecções, entre outras doenças. Quem tem problemas respiratórios, é fumante, sofre de asma, aerofagia, congestão nasal ou bronquite pode ser beneficiado pelo consumo do mastruz.
Caramba, estás a falar como um Kimbanda entendido! Disse eu. Mas o que eu fui dizer! Eu não sou bruxo; este é o legado de meu avô tuga, tás ouvir! Cuspiu Jack… Caramba, devem-lhe ter dito que isso de kimbanda era coisa ruim e despejou sua ira soprada com assobios de insultar cachorros. Assim, I dont play! Disse pela segunda vez. Está bem, desculpa, não foi por mal! Pensei que já tinha dito tudo, mas continuou:
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-A erva favorece o sistema respiratório de várias maneiras, como já te disse. E ainda acrescento aqui sua acção no alívio de crises de rinite e sinusite. Em alguns casos, basta uma xícara do chá de mastruço para obter melhora, uma vez que ele promove a limpeza do muco e do catarro. Pessoas com indigestão e gastrite frequentes ou com gases intestinais também costumam buscar ajuda no mastruz, assim como indivíduos com prisão de ventre, coceiras ou ferimentos na pele. Disseste rinite! Isso é o que todos os santos dias me fazem espirrar treze vezes. Fiquei por aqui porque poderia pensar estar no gozo.
Já estava bem capacitado sobre este capim de mastruz mas, agora que estava lançado no entusiasmo, foi acrescentando: - Como podes observar, seja na forma de chá ou preparos para colocar na pele, não é difícil entender as razões pelas quais o mastruz é uma das ervas medicinais mais tradicionais e conhecidas nos tempos do meu avó que sofria de vários males entre os quais, o de peidar-se só átoa. Esta foi boa! Este Jack estava a sair melhor que a encomenda
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As flores, folhas e sementes do mastruço devem ser lavadas em água corrente e enxutas; depois, precisam secar à sombra em lugar ventilado. Para conservar suas propriedades terapêuticas, o melhor é armazenar a erva em vidros escuros ou sacos de papel. Ufa! Que seca… Pensei mas, nada disse. Como podemos aprender isto com gente que já foi passado e só aparece em forma translucida.
John Wayne que já estava cansado de tantos mastruços fez um sinal ao senhor Torrica para que lhe trouxesse um tintol do Convento da Vila de Borba e assim do mastruços passamos para a trincadeira, aragonez, castelão e touriga. Acabei por almoçar com eles um ensopado de borrego. Entusiasmado tive a ousadia de pedir um cohiba ao Jack e ali ficamos deitando fumo de conversa fora, toda a tarde. Combinamos no dia seguinte irmos comer pés de rã e pezinhos de coentrada com feijão branco na barragem de Santa Clara.
Lá no m´bukusho! Disse Jack virando-se para mim! Achou graça ao nome e acabou por grava-lo desta forma. Sim! No chuço do m´bukusho (churrasco do kavango). Tinha em mente falar-lhes da festa que iria surgir antes do Natal para festejarmos a vida, falar-lhe dos convivas Frank Sinatra e do cómico António Silva por sugestão de nossa madrinha maga virtual Assunção Roxo, mas achei que o deveria fazer só amanhã quando estivessem mais sóbrios. A alegria era mais que muita e se lhes fosse agora falar nestes nomes do paratrás e paralém não sairíamos daqui hoje e eu, até tenho mais que fazer…
O Soba T´Chingange
PANOIAS IV - TEMPOS DORMIDOS - 03.12.2017
-NAS CINZAS DO TEMPO - Pela primeira vez, comi salada de MASTRUÇO... Na magia do Natal
Por
T´Chingange
Nessa caixinha do tempo e em terras do Alentejo tenho muitos bilhetinhos de amores com mambos desconhecidos até aqui. Eu bem que ouvia falar de mastruços mas, isso para mim, neste tempo de estupor, terra do fiado “civilizado”, de sem respeito, currículo suspeito e outros edecéteras, desconfiado das falas, lá comi essas ervas um pouco picantes, tendo como amigos gente vinda do paralém tais como Jack Palance e John Wayne.
Eu, um axiluanda camundongo, como no tempo dos Mafulos, dei como um sonho na praia de Messejana; vestido com os meus panos de libongo, agarrado aos búzios duma praia seca do M´Puto, distraído no muxima-ami com amuletos de missangas coloridas, ximbicando n´dongu nos cânticos de belas kiandas feitas kapotas, comi capim que até aqui só era comido pelo pica-no-chão. Gostei…
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Esta erva, nativa da América do Sul, o mastruço ou erva-de-santa-maria, oferece grande quantidade de benefícios à saúde, além de inúmeras formas de uso. É uma óptima fonte de vitaminas e minerais - entre eles as vitaminas A, C e do complexo B; potássio, ferro, zinco, fósforo e cálcio.
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E ainda fornece uma bebida que ajuda a manter o bem-estar em cada dia, disse-me o Jck Palance assim como se fosse um genuíno indígena desta terra. O chá de mastruço! Disse. O que eu descubro neste Alentejo profundo; coisas que se comem esquentadas como as tengarrinhas ou beldroegas.
O mastruço, quando usado externamente, tem acção cicatrizante, pois suas folhas contêm boa concentração de óleos essenciais. A planta também é sedativa, antifúngica, aromática, expectorante, tónica dos pulmões, vermífuga, digestiva, abortiva, antibiótica, anti-inflamatória, antiviral e antimicrobiana. Haka! Como é que este carcamano sabe disto! Coronopus didymus é seu nome oficial. Fiquei rendido, pois ele falava até latim como um experto na matéria.
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Como podia adivinhar! Já conhecia a rúcula, cuentros, catacuzes, a beldroega mas esta planta da família mastros, mastruço-do-índio, erva-formigueira, mastruz-miúdo, mentruz-rasteiro, entre outras formas de chamar também cresce no Brasil. E, foi dizendo: é uma opção para auxiliar no tratamento de gota, infecção respiratória, contusão, bronquite, anemia, ácido úrico, dores nos músculos, raquitismo, reumatismo, disfunções hepáticas e traumatismos.
Rendido a esta sabedoria limitei-me a escutá-lo! John Wayne mantinha-se ali ao lado sem nada dizer enquanto ia sorvendo uns medronhos, fazer cara feia e acenar com a cabeça. Foi neste entretém que fiquei a saber e, aqui registo na sua forma de uso: Como expectorante das vias respiratórias, coloque 1 colher (sopa) de folhas, flores e sementes picadas de mastruço em 1 chávena de café; adicione água fervente; deixe abafada a mistura por 10 minutos; coe-se e acrescente 2 colheres (café) de açúcar e leve ao fogo até o açúcar dissolver completamente.
A recomendação é de ingestão de 1 colher (sopa) do preparo acima três vezes ao dia, sendo que, para crianças, o ideal é somente a metade da dose. Esta receita favorece também a expectoração do catarro pulmonar, dos brônquios e do peitoral, além de fluidificar o muco.
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Nquele café do “Cú da Mula” Jack tinha mais pormenores a dizer mas fui obrigado a dizer-lhe deixar isso para amanhã porque, hoje domingo, tinha que fazer o preparo de colocar o burro e a vaquinha no presépio no largo da praia. -Jack, amanhã falas dos benefícios para pessoas diabéticas! OK, disse ele já com ao beata a roer-lhe o beiço. Nos finalmente do dia ali os deixei fermentando falas, as quinambas cruzadas remendando restos de rasgos antigos recordando estórias. Deixei-o no momento exacto que cuspia sua beata para o canteiro …
O Soba T´Chingange
T´Chingange
Durante a noite fiz uso do meu quico toytoy-zulu com as cores garridas da África do Sul espetado até às orelhas; Após as diligências de arrumo pessoal, coloquei as minhas botas de Uzinto de Durban e dispus-me a ir comprar torresmos de flor mais costeletas do cachaço de porco preto em Santa Luzia. Tive de parar bem no centro da vila para comprar dois pães de cabeça ao senhor António padeiro.
Enquanto percorri este espaço de caminho fui pensando nesta crónica analisando em conjunto a natureza real, interrogando-me se este vazio era também uma ausência de existência. Não o era! Num lugar em que toda a gente cumprimenta toda a gente, o Bom-Dia surge com magia diferente. A sociedade, tão mudada neste mundo actual alterou regras sem zero e, sem o zero é impossível contar! Magia de natal.
Mal refeito aparentemente, olhei de arregalado sua pessoa, seu perfil altivo e respondi enquanto olhava seu cão negro e peludo, um cão-de-água de raça tuga. - Sim! Aqui os perros podem quedar-se sim problemas! Bolas! No estupefeito do caso dei por mim a falar espanhol confundindo cães com porcos. Sim! Repeti cirurgiando a sua figura: - Sim, here is a black pig.
Ele, Jack Palance deu um pulo de satisfação. O quê: - John Wayne está aqui!? Pois, ainda ontem estive com ele em Aljustrel disse eu; mas bazou, nem sei para onde em seu cavalo holográfico. No seu sentido de eloquente grandeza, girou seu espaço em cento e oitenta graus e fez estalar os dedos de contentamento! Sua alegria era mais que muita. Enquanto fui comprar os lombinhos, ele ali ficou solitariamente taciturno afagando seu cão de água, creio que jogando inúmeras tristezas ao vento semi quieto dizendo, este mundo é mesmo uma ervilha.
Meu artista preferido nos filmes de índios e gente robusta do frio norte, lugar meu desconhecido, aproximou-se ao meu chamamento. Foi quando lhe mostrei as ilustrações do John feitas por Roxo. De novo rodopiou 360 graus de contentamento, tirou seu chapéu e, com energia bateu-o em sua perna direita. Bem! Mostrei-lho no mapa o caminho para a Barragem de senhora da Rocha aonde ele Wayne, deveria estar a comer churrasco à mbukusho… My friend, thank you! Deu-me um grande braço e lá seguiu munido de suas carnes de black pig de santa Luzia…
TEMPOS DORMIDOS - 30.11.2017
- O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios... Encontrei-me com John Wayne no Pingo Doce de Aljustrel. Desta vez contei-lhe meus apegos...
Por
T´Chingange
Enquanto tomávamos café, outras pessoas e até o padre de Messejana, um preto da Guiné, olhavam para nós como se fossemos gente do além! Não era para admirar pois que ambos estávamos vestidos com os ceifões e capotes do frio. Ou então, era pela celebridade de John. Perante isto foi ele que quis saber do porquê de eu andar por aqui, de onde vinha e outros edecéteras; estava desconfiado que as atenções eram mesmo para mim...
Eu, que tanto teimava em me esquecer, fui de novo obrigado a desfrisar minhas periclitarias:- Nasci em águas internacionais, num vapor chamado Niassa, disse! Sou cidadão do mundo, Angolano na diáspora, Mazombo por condição; ando pelo Mundo à procura de mim! Tenho cédula de brasileiro, Bilhete de Identidade do M´Puto mas, ando às arrecuas para fugir ao meu paradigma.
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John Wayne mostrava-se também ávido de rever aquilo que foi sua infância em uma outra encarnação e, neste relembrar tentava encaixar-me no mesmo fardo. Ele só sabia que em tempos idos, fui seu duplo, nas quedas de cavalo - filmes de "El Dorado" entre outros; nada mais sabia!
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Ele, não tinha certeza absoluta se aquela sua infância longínqua foi passada em Aivados ou Alcaria e tem até uma ligeira certeza de que tinha familiares em Panoias pois que, refere estar em um alto, lugar de poder ser vista de muitos horizontes. A todo o momento parávamos para apreciar as coisas ínfimas; tirava suas fotos amarelecidas da balalaica que se viravam em hologramas 3 D. E, estas até exalavam cheiros. Deveria ser uma tecnologia avançada do paralém.
Entendo agora do porquê, em nosso último encontro ele apanhar uns cardos de cor amarela e mete-los em seu alforge, como aqueles que os cowboys usam; nem lhe perguntei, pois tudo nele, era inusitado.
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Afagou uma minúscula carriça que lhe saltou para o ombro, vinda não sei de onde e de repente apeou-se junto a um frondoso sobreiro da foto que me mostrava e, de novo falou em seu inglês rachado: - You know the difference between a sobreiro and the azinheira? Rsss… Se eu sabia distinguir o tronco do sobreiro e azinheira? Pópilas! Estas variações rápidas confundiam meus zingarelhos. Ali ao lado e, num repentemente saltar para a foto! Só mesmo doutro mundo.
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Só sei que a azinheira dá bolotas comíveis enquanto as do sobreiro não prestam, melhor são intragáveis! Disse eu! - Pois então fixa-te nisto disse ele, o tronco do sobreiro é de casca grossa, rugosa, irregular de fendas e nódulos irregulares enquanto a azinheira tem a casca fina, fendas regulares e longitudinais além de ter as folhas mais pequenas e, como dizes as bolotas comem-se.
Estive quase a dizer-lhe que os quatro pombos bravos que comi recentemente tinham em seu papo bolotas inteiras; que afinal não eram só os bácoros que comiam isto mas, deixa para lá, nada disse!
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Lá na paralaxe do além de onde venho, utilizamos muito esta glande para nos dar energia atómica, podermos assim a partir de suas partículas radioactivas de nos transmutarmos num ápice de um para outro lado! - Assim como levitar e andar só de pensamento? Interroguei-o! Estava tudo explicado. Este Wayne era mesmo um ET.
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Ele tentou então explicar-me: - Quando olhamos para o espaço, em seu conjunto, a distância das estrelas é tão grande que perdemos a noção de profundidade, num primeiro momento. Todas as estrelas parecem então estar à mesma distância, coladas numa grande esfera, a esfera celeste. Mas, na verdade, elas não estão à mesma distância, sendo o método de paralaxe usado para medir algumas dessas distâncias.
Agora sim, estou feito ao bife, pensei! Belisquei-me e doeu, estava vivinho da costa. É aqui que nos movemos, na sombra da paralaxe, continuou. Estava explicado este seu entusiasmo em ver as moléculas expansivas alimentadoras de seus iões ou catiões feitos nuvens, assim como um orvalho cacimbado.
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Mas eu, mesmo querendo, não consegui entender a cem por cento, mas disfarcei que sim... Estava tudo nos conformes! Mais ou menos isso, teletransporte nos iões espaciais! Disse ele. Isto é demais para a minha caminheta, afirmei sem nada dizer, só mesmo para mim! É melhor ficarmos assim! Notei que ele não gostou deste meu momentâneo desinteresse.
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Neste entretém ouvimos um kwé-kwé de um pássaro grande e preto por mim nunca visto! Seriam os seus guardiões dessa terra do Paralém. Podíamos ouvir tudo ao mesmo tempo, um fenómeno até aqui nunca por mim observado, mas eram os badalos dos bois e das ovelhas não visíveis dali, que sobressaiam desta amálgama de sons.
O curioso é o de que em momento algum saímos da cafeteria do Pingo Doce de Aljustrel Eu estava leve como uma pena, fazia quase tudo, eu que tenho tanta dificuldade a atar os sapatos pela manhã; parecia ser um ser gasoso.
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Saímos dali com toda a gente desfrisando os olhares em nós. Montamos de novo nossos cavalos holográficos e num repente estávamos bem no átrio da ermida da nossa Senhora de Assunção de Messejana. De novo apeamos e, ambos nos sentamos no muro largo feito daquele xisto caiado.
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Num encantamento, tirou nem sei de onde uma gaita-de-foles e começou a tocar uma musica volátil que trazia aos sentidos o cheiro de plantas distantes, pode dizer-se paradisíacas… Foi quando vi as nuvens virem até nós e fundir-se em uma senhora, pairando ali bem perto sem qualquer assentamento; tudo indica ter sido a Nossa Senhora de Assunção…Nunca tinha sentido assim uma sensação de tanta tranquilidade…
Não demorou muito meu microonda tocou! Eram as fotos nossas enviadas por Assunção Roxo mostrando suas fosfóricas versões de tudo do que falávamos antes; John Wayne ficou encantado e, logo após eu ter transferido estas para o seu caderno holográfico escafedeu-se! É sempre assim...
(Continua…)
O Soba T´Chingange
TEMPOS PARA ESQUECER – 12.11.2017 - ANGOLA DA LUUA XXXIV.
NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA - Não se fizeram só generais de aviário não! Foram muitos outros em muitas áreas que como políticos fizeram demasiados desmandados…
Por
T´Chingange - (Otchingandji)
De entre os regressados a Portugal cognominados de retornados e, após o funcionamento do IARN e Adidos, era notório haver privilegiados nas colocações no aparelho de estado. No imediato e no meio da balburdia a desatenção era relegada. Cada um tentava do seu modo solucionar sua saída da crise; arranjar trabalho, colocação aonde quer que fosse - sobreviver. E, eu tinha dois filhos para criar.
As solicitações dos municípios para o IARN em colocações de funcionários já levavam um nome para a pessoa a destacar e no desvario da revolução as colocações eram feitas preterindo os rebeldes conotados como os anticomunistas como eu que tinha preferido a UNITA em detrimento da FNLA e MPLA e da qual fui membro activo com o beneplácito de Jonas Savimbi que conheci em Nova Lisboa, hoje Huambo! Anos mais tarde Alcides Sacala da UNITA deu-me posse de Coordenador da Zona Sul de Portugal. Isto trouxe-me inúmeros problemas como escutas telefónicas entre outros contratemos que não cabe aqui enumerar.
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Recuando um pouco, minha base era a Caála chamada de Robert Williams, uma pequena cidade que ficou com o nome de um abnegado dirigente dos Caminhos de Ferro de Benguela. Até nisto se podia apreciar o quanto o aparelho do estado tinha sido tomado pelas pessoas ditas “progressistas”. Eu próprio fui rejeitado em detrimento de gente que ao chegar de Angola, mesmo muito depois do 11 de Novembro era colocado. Era gente conotada à esquerda! Hoje posso ver com mais claridade o que era essa força do Partido Comunista com suas células e comités de intervenção.
Ainda anda por aqui e ali muita gente com quem temos amizade e que dão um encolher de ombros às lembranças de então. Prometi a mim mesmo não me enganar continuando a ser eu próprio peneirando as opiniões, gerindo silêncios. Só muito mais tarde e a partir do 11 de Março de 1976 as coisas começaram a tomar outro rumo. Tive a sorte de ser colocado como destacado em um município tendo na presidência um elemento do MDP-CDE. Nesta descrição andarei um pouco mais à frente e atrás para inserir o essencial dos problemas que afectavam milhares de seres como eu e, em iguais circunstâncias; gente que quis esquecer e, acabou mesmo por assim ser.
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Convém aqui dizer que eles, os gestores do MDP-CDE, jogavam na sorte de obterem um técnico a ser moldado no pós-ingresso mas enganaram-se. Dias-a-fio, era assediado para ingressar em suas fileiras e ir comandar a tropas de insurrectos da reforma agraria no Alentejo e eu sempre escapei a este confronto. Não estava disposto a desalojar patrões pelos ganhões. Havia gente que me esclarecia do seu procedimento e da forma de ficar incólume nesta viragem da vida. As assembleias de trabalhadores eram mais que muitas e tudo se decidia de punho no ar.
Nunca eu levantei um braço e os olhos detectavam meu comportamento. Não saí ileso mudando-me para um Gabinete de Apoio Técnico com gente maioritariamente saída de Angola. Tinha de sair deste gueto Ribatejano com tomadas diárias de fábricas em mãos dos trabalhadores; decisões arbitrárias e execuções sumárias nas atitudes do PREC e cartilhas da revolução vermelha. Entretanto na televisão podia ver vasco Gonçalves em fúria espumar ódio ou lá o que era deitando para a multidão cravos.
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Era uma carta fora do baralho! Inscrevi-me para uma organização em Lisboa, CIME, Comissão Internacional de Migração Europeia e pouco tempo depois fui chamado, tinha colocação na Venezuela mas, teria de ir em barco. Eu vou sim! Nem que seja de barco à vela e, fui mesmo! Foi o melhor que poderia ter feito. Levei uns doze dias a curtir férias no paquete Flávia cheio de turistas saídos de Itália, destino Caracas com descida em La Guaíra.
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Mas convém aqui dizer o que era esse tal de MDP-CDE: Depois do 25 de Abril constitui-se como partido político, fazendo parte de todos os Governos Provisórios, com excepção do VI de Pinheiro de Azevedo. Concorreu à eleição para a Assembleia Constituinte de 1975 sozinho e, a partir de 1976, em coligação com o PCP, formando a APU. Em 1987, em dissidência com o PCP, já não participou na coligação eleitoral CDU, apresentando-se às eleições com listas próprias.
Nessa mesma data, alguns militantes dissidentes formaram a Associação de Intervenção Democrática (ID), que até hoje continua a integrar, como independente, as listas do PCP - Partido Comunista Português. Em 1994 fundiu-se com o grupo editor da revista "Manifesto", dando lugar ao movimento Política XXI, que veio a ser uma das correntes fundadoras do hoje Bloco de Esquerda.
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Em Portugal, havia gente do PCP a fazer triagem na colocação dos regressados do Ultramar Português em órgãos de Administração. Faziam listas, procuravam-nos e colocavam-nos nos lugares mais aprazíveis a contento destes. Que me fuzilem se estou a dizer uma inverdade! Os revolucionários do Pós-25 do PCP e MDP-CDE e o magote de gente que lideravam tomaram de assalto os Serviços de Educação, da Reforma Agrária, na Industria, Comércio e Sindicatos.
Recordo que o Sindicato da União de Autarquias Locais - do Sul, STAL a dado momento recusou o ingresso de técnicos em suas estruturas. Foi quando me senti relegado para a masmorras dum barco que passou a ser a minha pátria, lugar aonde guardei minhas mágoas, meus desaires num baú: - O NIASSA… Falo por mim, mas muitos outros tiveram que trilhar caminhos muito iguais. Para não me mentir, terei de continuar esta senda até que julgue estar ressarcido em parte dos desmandos, assim seja para desabafar porque, outra coisa não posso esperar. Este arquivo vai ficar morto como coisas do passado!…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NA PRADARIA ALENTEJANA . 12-08-2016
A FESTA DA VILA DA PRAIA, SEM MAR, SÓ ONDAS DE CALOR.
Por
Ando no meio de uma festa festejando a alegria, curtindo a juventude que resta, lembrando as farras do fundo do quintal da Luua e, vendo as netas dos amigos e a minha também rodopiando em graçolas e risos contagiantes. Assim deixando o tempo abraçar os cabelos grisalhos e os sulcos dos anos. Pois, vou fazer mais o quê?
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A conversa começa do nada com o senhor Casquinha, amigo do Cailogo, marido da Assunção. Conversa desajeitada; a possivel.E chega um neto dele pedindo umas moedas para comprar uma lanterna pirilampo. Não demora muito e ali está ele fazendo gaifonas na cara do avô com aquela lanterna. Quanto custou pergunta o avô? Cinco euros, diz o petiz. Caramba! E, não regateaste? Qui é isso avô!..
Pois… outros tempos! E sem mais remata: - Os amigos cada vez mais se vêem menos. Parece que era só quando éramos novos, trabalhávamos e bebíamos juntos. Víamo-nos as vezes que queríamos, sempre diariamente, quer-se-dizer todos os dias. Na taberna do Álvaro, daquele outro chamado Hernâni com uma mulemba, jogando a bisca e à sueca mais o tentilhão; uns malhos redondos e um escopro ao alto a fazer de alvo. Quem perdia pagava um copo de tinto ou um pirolito.
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Hoje andam por aí feitos loucos procurando bichos chamados de pokémons debaixo dos chaparros. E no maior à-vontade, coisa muito perdida, porque não tínhamos mais nada para fazer senão trabalhar. As conversas misturam-se na memória e sai o que sai. O anteontem misturado com o amanhã se Deus quiser.
Casquinha dizia quase sozinho, coisas repetidamente faladas. Ainda bem que é assim! Falava comigo por falar e, com ele sem convicção, só mesmo por falar como se não tivéssemos passado um único dia sem nos vermos. Em realidade era a primeiríssima vez!
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Nada falha! Na excitação de contar coisas e partilhar ninharias, disparamos novas como se nos estivera, e está, na massa do sangue; as risotas por piadas de há muito repetidas; as promessas de esperanças que por décadas estão por realizar. Os sonhos das pradarias; nossos desertos, palhas retesando-se ao vento.
Há grandes amigos que tenho a sorte de ter, que insistem na importância da Presença com letra grande. Até agora nunca desconcordei, achando que a saudade faz pouco do tempo e que o coração é mais sensível à lembrança do que à repetição. Coisas de mais-velhos, misturando alhos com bugalhos e melancias com queijo de cabra dos montes hermínios.
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Enganei-me! O melhor que os amigos têm a fazer é verem-se cada vez que se podem ver. É verdade que, mesmo tendo passados muitos anos, sente-se o prazer de reencontrar a quem já se pensava nunca mais ver.
O tempo não passa pela amizade mas, a amizade passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto existe! Somos amigos para sempre mas entre o dia de ficarmos amigos e o dia de irmos pró paralém, vai uma distância tão grande como a vida.
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Agora ouço a Kizomba sem ter nada contra, confesso que prefiro o merengue e o bolero mas, até sou capaz de não trocar de estação! Qual estação! Bolas! Estou na festa de Messejana! Mas, isto é só da loucura, de ouvir com gosto num carro cheio de amigos a caminho da praia como nos temos de kandengue nas idas para o Mussulo, Samba ou ponta da Ilha da Luua.
Com "10 músicas seguidas sem parar", deveria chamar-se "5 músicas seguidas intercaladas por 5 Kizombas". Casquinha diz que não tem paciência, prefere o acordeão e os ferrinhos num arrasta pé, meche quinambas, musica pimba. Tinha de ser mais um corridinho! E, vai um corridinho mais uma valsa e são horas de dormir que o fresco chegou! E lá fui eu para a rua da misericórdia, uma estreita rua aonde os fumos cheiram a charros.
O Soba T´Chingange
TEMPOS QUENTES – NO PARALÉM – 4ª de 4 partes - O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios…
Por
T´CHINGANGE – Cidadão do Mundo - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa a caminho de Angola…
(…) Era oito de Setembro, estava eu na festa romaria da Nossa Senhora da Cola escarrapachado bem no alto e no muro daquele sítio dos primórdios da pedra lascada e ainda ali empilhadas em forma de casas e cercas. Esta romaria era já, no século XVIII, a mais importante da região, um dos lugares de peregrinação mais importantes do Baixo Alentejo. Pesquisas arqueológicas indicam que a ocupação deste sítio remonta a um castro ou citânia do período neolítico, com particular expressão durante a Idade do Ferro. Foi ocupada por Fenícios e Cartagineses, sendo os vestígios relativos ao período Romano escassos.
São significativos os testemunhos do período Muçulmano, a partir do século VIII, que indicam uma comunidade baseada na actividade agrícola e pecuária, onde a tecelagem tinha um importante papel. Na reconquista cristã da península, passou para as mãos dos portugueses no reinado de D. Afonso III (1248-1279). Por razões hoje desconhecidas, a estrutura do forte, foi abandonada por volta do século XVI, vindo a cair em completa ruína. E, aqui estou eu, nesta minha talvez décima segunda encarnação, apreciando o colorido da procissão, gente da diáspora vindas no mistério do vento que agora se entretinha apenas em alizar as ervas dos restolhos.
Numa solidão de muitos quilómetros este sítio ficou muito cheio de barulhos com tendeiros alinhados ao longo da única estrada de acesso e, eram tachos, travessas, ratoeiras e chocalhos a barulhar espíritos com cães ladrando em guarda das carroças e furgonetas exibindo louça de barro e ferragens entre quinquilharias em plástico de carros carrinhos e palhaços de madeira rodopiando. Assim pensativo nas lonjuras com mitos fruindo a magia deste instante, sem desfalecer na dignidade virei-me a ver o andor e deparei de novo com a kianda assombração do já amigo John Wayne que desta vez vinha acompanhado com Yul Brynner. Claro que fiquei espantadíssimo! Logo dois artistas que me deram tantas alegrias num passado recente.
Decerto, John despertou a curiosidade do careca ruço Yul de origens mongol e aí vieram os dois à terra lusitana ver suas ancestrais vivências e, eu muito contente aceitei aqueles dois abraços tão cheios de curiosidade por tudo. John com um ramo de oliveira na mão com azeitonas ainda verdes, sempre sorrindo assim como um epílogo ao susto por via de seu Paralém, olhando e apontando aquele ramo e, excitado de contente disse assim: -Hoje ganhei anos de luz; este ramo que aqui vês tirei-o à momentos de uma árvore com 2850 anos; é quase do tempo dos homens destes Castros que se chamavam de Celtas e Iberos fundindo-se nos Celtiberos e muito mais tarde Lusitanos. Yul Brynner, atento à conversa só abanava a cabeça em tom de concordância.
E continuou: - Estiveram por aqui muito antes dos Romanos, ainda nem de se adivinhava que Cristo por aí viria! Fiquei até aparvalhado recebendo estes ensinamentos dum cowboy amarelecido no tempo. Após um muito breve silêncio Yul Brynner falou: -Foi com um ramo igual a este que uma pomba retornou a Noé da arca nos primórdios do tempo, após o diluvio das géneses. Mas, o que apreendo com estas figuras holográficas que viajam à velocidade da luz, aqui entre os ventos das falsas estepes alentejanas! Muito mais que naquela quadratura do círculo de gente terrena da tevê que falam de todos como se os demais fossem seres sem eira nem beira, nem pombas do Santo Espirito no cocuruto.
Nós os três, continuamos dialogando até depois da missa à qual nem assistimos. Como outros, dispusemos o farnel em uma manta de retalhos de Minde e, debaixo de uma oliveira que também o era, muito velha por via de suas rugas escanchadas e enegrecidas. O mundo é mesmo um mistério, e nós, queiramos ou não, somos uma ilusão. Já tarde prolongada rumei para o meu castelo refúgio das estepes falsas no lugar de Messejana mas, só após ter dado um fraterno abraço a John Wayne e outro a Yul Brynner, gente virtual que me prometeu recomendações lá no Paralém deles. Não sei se tornarei a ver estas divertidas assombrações mas, o que fica disto, é algo muito de divertido e bonito!
O Soba T´Chingange
TEMPOS QUENTES – NO PARALÉM – 3ª de 4 partes - O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios…
Por
T´CHINGANGE - Cidadão do Mundo - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa a caminho de Angola.
(…) John Wayne sentia-se em casa olhando a secura alentejana e, num repente de trote com seu alazão passou a galope por algum tempo detendo sua montaria junto a um velho olival; desceu da montaria, deu volta a uma velha oliveira e exclamou à minha chegada: My Good! This tree predates the coming of Jesus Christ! Meu deus! Esta árvore é anterior à vinda de Jesus Cristo!? Repeti eu, a mesma exclamação em jeito de assombro. Já junto a ele detive-me a apreciar aquela velha oliveira muito escanchada com musgo do neolítico em parte do seu interior oco. Uns ramos verdes davam vida ao resto do velho tronco.
Isto disse ele apontando a árvore, tem bem mais de dois mil e quatrocentos anos! E sem retirar o olhar da velha e rugosa árvore acrescentou: -E pensar que ela assistiu daqui a ida de Cristo para o calvário e sua crucificação num pau destes e em forma de cruz para nos crismar na vida! Já no largo em frente ao Café central de Panoias amarramos as montarias e perguntamos a um magote de mais-velhos se sabiam aonde morava o senhor Maldonado, um também mais-velho, um primo em quinta ou sexta geração, com uma verruga junto à orelha, ferrador de profissão e agora aposentado.
Num instante quase todos apontaram na direcção do primo em causa bem em frente do café e aproximando-nos apresentamo-nos sem grandes explicações de minúcia! Após estes preâmbulos mal entendidos pela lonjura no tempo, tudo ficou assim mesmo sendo seu sorriso escarrapachado com alguns dentes amarelecidos por via de ser um fumador inveterado. John assombração deu-lhe um abraço cósmico e das faíscas empáticas saiu um venha daí um tinto! E foi um tinto, uns quantos brancos e até uma aguardente de Conqueiros com presunto de pata negra, entrecosto curado à lareira e até toucinho com pão da terra.
John Wayne, a todo o momento dava seus ares de alegria, espanto olhado nos largos horizontes com a barragem da Rocha ali por perto, Santa Luzia e Garvão lá mais distante. Good, good, repetia ele intercalando um nice, um beautiful enquanto emborcava uns copázios, bem à maneira de suas recordações na paralaxe do tempo cósmico.
O dia já estava longo e, foi decidido que ele por ali ficava em casa de Maldonado porque eu tinha mesmo de recolher ao meu refúgio de Messejana. Porque estávamos já perto da data do oito de Setembro iriamos encontrar-nos na procissão do Castro da Cola, um lugar com história desde o tempo dos Celtiberos. Foi assim que nos despedimos, com um até lá…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
TEMPOS QUENTES – NO PARALÉM – 2ª de 3 partes - O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios…John Wayne estava encontrado neste sítio encantado …
Por
T´CHINGANGE - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano na diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Tem cédula de Brasileiro, B. Identidade do M´Puto. Anda às arrecuas para fugir à regra, um paradigma, só dele.
John Wayne mostrava-se ávido de rever aquilo que foi sua infância em uma outra encarnação. Ele não tinha certeza absoluta se aquela sua infância longínqua foi passada em Aivados ou Alcaria e tem uma ligeira certeza de que tinha familiares em Panoias pois que refere estar em um alto e de poder ser vista de muitos horizontes. A todo o momento parávamos para apreciar as coisas ínfimas, tirava fotos que viravam um holograma em 3 D com cheiro e forma de impressionar. Não sei do porquê ao apanhar uns cardos de cor amarela e mete-los em seu alforge; nem lhe perguntei, pois tudo era nele inusitado. Afagou uma minúscula carriça que lhe saltou para o ombro e de repente apeou-se junto a um frondoso sobreiro e de novo falou em seu inglês rachado: - You know the difference between a sobreiro and the azinheira? Rsss… Se eu sabia distinguir o tronco do sobreiro e azinheira?.
Só sei que a azinheira dá bolotas comíveis enquanto as do sobreiro não prestam, melhor são intragáveis! Disse eu! - Pois então fixa-te nisto, o tronco do sobreiro é de casca grossa, rugosa, irregular de fendas e nódulos irregulares enquanto a azinheira tem a casca fina, fendas regulares e longitudinais além de ter as folhas mais pequenas e, como dizes as bolotas comem-se; Lá na paralaxe do além de onde venho, utilizamos muito esta glande para nos dar energia atómica, podermos assim a partir de suas partículas radioactivas de nos transmutarmos num ápice de um para outro lado! - Assim como levitar e andar só de pensamento? Interroguei-o!
Ele tentou então explicar-me: - Quando olhamos para o espaço, em seu conjunto, a distância das estrelas é tão grande que perdemos a noção de profundidade, num primeiro momento. Todas as estrelas parecem então estar à mesma distância, coladas numa grande esfera, a esfera celeste. Mas, na verdade, elas não estão à mesma distância, sendo o método de paralaxe usado para medir algumas dessas distâncias e, é aqui que nos movemos, na sombra da paralaxe. Estava explicada este seu entusiasmo em ver as moléculas expansivas alimentadoras de seus iões ou catiões feitos nuvens, assim como um orvalho cacimbado. Mas eu não consegui entender.
Mais ou menos isso, teletransporte nos iões espaciais! Disse ele. Isto é demais para a minha caminheta, afirmei; É melhor ficarmos assim! Notei que ele não gostou deste meu momentâneo desinteresse. Neste entretém ouvimos um kwé-kwé de um pássaro grande e preto por mim nunca visto! Seriam os seus guardiões nesta terra do Paralém. Podíamos ouvir tudo ao mesmo tempo, um fenómeno até aqui nunca por mim observado, mas eram os badalos dos bois e das ovelhas não visíveis dali, que sobressaiam desta amálgama de sons. Eu estava leve como uma pena, fazia quase tudo, eu que tenho tanta dificuldade a atar os sapatos pela manhã; parecia ser um ser gasoso.
Montamos de novo nossos cavalos holográficos e num repente estávamos bem no átrio da ermida da nossa Senhora de Assunção. De novo apeamos e, ambos nos sentamos no muro largo feito daquele xisto caiado. Num encantamento tirou nem sei de onde uma gaita-de-foles e começou a tocar uma musica volátil que trazia aos sentidos o cheiro de plantas distantes, pode dizer-se paradisíacas… Foi quando vi as nuvens virem até nós e fundir-se em uma senhora, pairando ali bem perto sem qualquer assentamento; tudo indica ter sido a Nossa Senhora de Assunção…Nunca tinha sentido assim uma sensação de tanta tranquilidade…
(Continua…)
CAFUFUTILA, (kifufutila): - Farinha de mandioca torrada misturada com açúcar. Do Kimbundo de Angola
O Soba T´Chingange
TEMPOS QUENTES – NO PARALÉM – 1ª de 3 partes - O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios…John Wayne estava encontrado neste sítio encantado …
Por
T´CHINGANGE - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano na diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Tem cédula de Brasileiro, B. Identidade do M´Puto. Anda às arrecuas para fugir à regra, um paradigma, só dele.
Seu verdadeiro nome era Marion Michael Morrison. Ele detestava seu nome e ao entrar para o cinema mudou-o para John Wayne, que tinha mais a ver com um rapaz de 1,92 . Surgiu com destaque no cinema em 1930 em The Big Trail, faroeste dirigido por Raoul Walsh. Permaneceu vários anos estrelando filmes B até consagrar-se no papel de Ringo Kid em Stagecoach, clássico de 1939 de John Ford. A carreira de Wayne foi assim agraciada com esse divisor de águas inestimável, que o lançou ao estrelato. Esse filme tornou-se a obra que definiu todas as principais características do faroeste norte-americano.
Era o último domingo de Agosto; saí de mansinho da rua da Misericórdia faltava dez minutos para as sete horas da madrugada; o silêncio rondava o lugar do Paralém e, nem o cão rafeiro da rua do Outeiro me ladrou, procedimento incomum, talvez por ser cedo ou por não querer mostrar seus caninos cariados e, voltei à esquerda na rua de Alvalade pisando o asfalto, casas caiadas com barras azuis muito a condizer com o Paralém de Panoias, famosa por uma praia que não tem com o nome de Messejana. Passo a rua da Fonte Nova, que me fica às 10 horas, como dizem os aviadores, portanto à esquerda; já descendo noto no desperdício de figos da índia que caem na barreira sem aproveitamento.
Os tabaibos deram lugar aos eucaliptos cheirosos a esta hora da manhã, batiam as sete badaladas no sino da igreja da Misericórdia estando eu em frente do chafariz Afonso Gomes construído a 15 de Julho de 1880. Via-se ao longe a ermida de Nossa Senhora de Assunção. Pude ler no cruzamento que liga a Rio de Moinhos um cartaz da CDU mencionando uma próxima festa do Avante na Atalaia e fazendo menção do PCP com uma estrela, uma foice e um martelo, e o PEV com um girassol.
Ouvi do lado sul e lá longe uns barulhos de petardo ecoando nos cabeços, talvez avisando da festa de Panoias ou então de caçadores dando tiros aos coelhos ou rolas, não tenho certeza disto mas eram estrondos aliados a um zumbido do ar e olhando o céu lá estava o rasto dum avião nas alturas a caminho do Sul, Áfricas e, estando assim olhando o azul rasgado ouvi um convincente “Good Morning”…
Mas, que grande susto! Segundos antes não estava ali ninguém e, num repente, saído do nada ali estava um homem vestido à vaqueiro, um autentico cowboy americano! E, surpresa das surpresas… mesmo espanto! Era nem mais nem menos que John Waine, vestido como se aqui viesse fazer um western. Não te assustes, disse ele no seu jeito meio fanhoso: -Don´t be afraid! I heard gunshots and came to see!... Em inglês! E, perante o meu franzir continuou a falar, mas agora em português com sotaque de alentejano de Aljustrel, bem cantado: - Na minha anterior encarnação andei por aqui e venho agora matar saudades; tu podes ajudar-me nos caminhos, agora tudo está diferente! Quero ir até Alcarias, Panoias e Aivados, lugares aonde ameninei nesse meu passado.
Caramba! Num repentemente surgiu um puro lusitano a seu lado! Let's ride! Let´s let's go! Vamos, monta! Estava tolhido e, assim tremendo e com a sua ajuda pulei com alguma dificuldade para o lombo do lindo exemplar de cavalo. E, lá fomos em direcção à Ermida de Nossa Senhora de Assunção… Fiz um rodeio em direcção a Sargaçal porque sabia ir ali encontrar bois e, lá chegados vi o encanto nos olhos de John! Os bois com os rabos a dar e dar, um e outro lado afastando moscas enquanto a passo rápido se deslocavam da barragem de água para as gamelas de pasto com a suposta ração que nós lhe dariamos; pensaram que seriamos nós, seus cuidadores.
Vou tentar reproduzir a imagem, o gado com crias seguiam o rumo da palha levantando o pó do chão, assim como uma mini boiada e mugidos de indicar presença aos bezerros e o moinho de vento rodando fazendo tric…tric…tric…tric nas palhetas duma pá desmazelada mais o riscar de uma tabuleta que teimava em amachucar um outra torta chapa pelo chik…chuk…chik…chuk, vento de sudoeste que entretanto se levantou! Era mesmo uma cena dum filme e, se gozei na imagem dos muitos filmes que me alegraram, olhos colados ao grande ecrã! Sim, sou mesmo da geração do cinema, das matinés de ver gado despencando com pó, rifles, ladrões e tiros de colt e winchester. E, curiosamente o encanto não era só meu. John Wayne estava consolado! Sentia-se este mistério.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
TEMPOS CUSPILHADAS – Passeando o esqueleto num reino outrora moiro...
Por
T´Chingange
Ainda não eram sete horas da manhã quando iniciei a marcha do dia por duas horas na falsa estepe alentejana. Saí da minha Misericórdia, cruzei a rua do Outeiro entrando na Casal Ventoso e logo cheguei ao muro da Horta Nova aonde em outro recuado tempo botavam penicadas porque não havia como hoje quartos de banho; Foi com a chegada dos magalas da guerra em áfrica e, depois de 1971, que a gente da terrana, na sua maioria, começou a ter quartos de banho em suas casas; antes não havia saneamento básico nem água canalizada.
Desta Rua da Eirinha e um pouco mais adiante, virei à direita pela principal Rua de Alvalade. Pude ouvir as sete badaladas da Torre do relógio quando já descia para o cruzamento que liga a Rio de Moinhos à direita mas, eu iria seguir em frente via Alvalade como disse mas, aproveito recordar que em outros tempos se fazia ouvir os sinos da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios lá no topo e junto às ruinas do castelo mouro; eram as avé-marias da terra, o toque das doz horas, tempos de terços e rosários cantados ou rexzados aonde quer que se estivesse.
Esta Igreja Matriz pode ser vista de todos os lados. Parei por momentos no chafariz de Alonso Gomes construído a 15 de Julho de 1880 uma veia de água que dizem sair debaixo do altar da Nossa Senhora dos Remédios; conta-se que em recentes tempos havia uma fonte uns cem metros mais ao lado e na chapada da colina; que a mesma fornecia de água para beber a todo o povo, lembro-me de ter bebido dela e que o dono proibiu às gentes irem ali se aprovisionar. Depois deste acontecido, a fonte que sempre deitou água secou completamente pelo que se disse logo ser o castigo da Santa pela proibição e eis que o dono, reconsiderando, a tornou a abrir e milagre, a bica recomeçou a botar água.
Nesta terra de xistos, falsa savana, pode ver-se muitas carriças ou calhandrinas acompanhando-nos aos solavancos de funcho em funcho, de cardo em cardo. Pude ver e ouvir rebanhos de ovelhas com toques de variados timbres com chocalhos e badalos em clareiras de erva doirada com envolventes chaparros, sobreiros e oliveiras seculares. E lá está o pastor com o cajado acilhando o corpo ao chão mais o rafeiro Alentejano, estirando a preguiça na sombra do dono, duma azinheira ou sobreiro. Alentejo não tem sombra senão a que vem do céu e os abrigos nem sempre estão aonde a necessitamos. Tiradores de cortiça lançavam no meio do montado seus machados aos troncos descascando os sobreiros deixando-os como que despidos com um amarelo cruo.
No topo de outra colina talvez a uns três quilómetros da anterior, lá estava a ermida de Nossa Senhora de Assunção com sua traça muito igual a tantas outras, de duas torres e riscada a azul nos cunhais e vigamentos fazendo um quadro bonito de se ver ao perto e lá detrás perfilando no horizonte também azul. Mais longe e já quase de regresso, passada que estava uma hora, lá estava a escola de Vale de Água, que em outros tempos dava ensinança aos putos de alguns montes por ali dispersos. Agora é um clube meio descuidado de pescadores, caçadores e outros mentirosos. No regresso retive minha atenção no desvio para o lugar da Aguentinha do Campo que de monte passou a turismo rural; transformações que os tempos obrigaram a que se fizesse por novas técnicas agrícolas com o uso de maquinarias variadas.
A Buena Madre foi ficando para trás e já coçado pelo atrito pelos mais de dez quilómetros percorridos, comecei a ficar arrepelado nas peles das bochechas celulitosas. E, pude ver ainda pequenos tufos de papoilas do campo dum vermelho vivo entre outras de cardos em tons amarelos, brancos, azuis e violetas. Também dei pontapés a fungos na forma de velas, peidos de velha do qual sai um pó amarelo com cheiro de mofo.
Tive este grato prazer de ver coisas que parecem não ser notadas por outras pessoas! Será que sou eu uma abetarda neste paraíso e, na forma de espírito. Belisquei-me e senti dor; era eu, mas não estava escrito que aqui viria passar meus setenta anos nesta “Mesjana” que em árabe quer dizer Messejana e que significava prisão. Seria aqui um campo de concentração dos Cristãos numa jihad islâmica do antigamente. A curiosidade é mesmo uma coisa se só alguns têem…
Mulungu: É uma arvore de grande porte com flores vermelhas; existem no Brasil e em Angola
O Soba T´Chingange
DA ESTEPE ALENTEJANA - OS CANTOS DA VIDA…
Por
T´Chingange
A vida é feita de nadas, de grandes serras paradas á espera de movimento. Relembro as palavras de Torga numa terra pintada de branco, barras azuis com cheiros de poejos, urzes e estevas duma falsa estepe aonde ainda subsistem algumas abetardas, cisões e falcões peregrinos ou da torre. Nesta terra de silêncios dorme-se horas a fio no balanço do vento suão; o mesmo que trás murmúrios muito antigos do rei Dom Sebastião, um jovem nobre que por aqui passou aliciando outros jovens imberbes para lutar com os berberes, muçulmanos de lanças curvas.
Aqueles jovens de então arrebanhados á pressa e sem prática e técnicas de guerra estavam destinados a ficar em terras de Alcácer Quibir com seu líder, um jovem homem rei do M´Puto, senhor das terras de Aquém e de Além mar, dos Algarves, Brasis e Etiópia, Abissínia, Índias e terras de Preste João que detinha funções de patriarca e rei, imperador da Etiópia, um legado que instigou a imaginação de tantos e tantos aventureiros. Com arredondados deste antiquíssimo reino, dilatei junto daqueles jovens a fantasia, substituindo incenso e mirra por poejos, orégãos e tomilho.
Esta noite que passei um sono sem intervalos, sonhando ser um cavaleiro desse tempo já enferrujado e, de castelo em castelo vi-me sitiado pelos Mouros em Ourique. Vendo as noticias recentes dou-me conta que na síria o EI, esse autoproclamado Estado Islâmico avança no norte desse país provocando a fuga de milhares de Curdos em direcção à Turquia e que caças Franceses lançaram ontem os primeiros ataques no Iraque contra esses jihadistas. Em 48 horas, os revoltosos capturaram 60 cidades curdas criando ao mundo ocidental "um conjunto de situações" da qual se pondera uma "reacção eficaz" a esses actos terroristas. Se assim continuarem sem forte oposição seremos em breve alvo desses jihadistas que com rancor incontrolado quererão recuperar estas terras de Silves, Alcáçovas ou Alhambra de Granada, lugares simbólicos da áurea de Alá ou de Aladinos.
O Soba T´Chingange
CINZAS DE ABRIL . Nosso ego “crucificado”
Oh... Baleizão, Baleizão (mitologia tuga)
Por
Na mitologia grega, Argonautas eram tripulantes da nau Argo que, segundo a lenda grega, foi até à Cólquida em busca do Velocíno de Ouro (O velo de ouro ou tosão de ouro; em grego: Χρυσόμαλλον Δέρας) é na mitologia grega a lã de ouro do carneiro alado).
Às vezes a saudade por algo ou alguém, bate tão forte que até faz doer. As realidades obrigam-nos a refazer a vida a confirmar a filosofia dos Tibetanos que afirmam em sua cultura e, para si, que a vida é mudança e, que o sofrimento resulta na incapacidade de aceitar essa cruel verdade. Muita gente em Portugal sente-se despojada, desempregada, sem um rendimento suficiente para se suster a si e á família; deprimem-se despojados em absoluto de valores em que acreditaram em tempos de abastança num passado recente. Humilhados por reduzidos à insignificância, relegam-se para um trapo sem valor e sem dignidade para nada. Nós que ainda há seis anos íamos de férias com a família para o Caribe, Santo Domingo ou Varadero de Fidel, usando o dinheiro que o banco implorava que aceitássemos com juros de uva mijona.
Como é que fomos cair na situação de agora, nem termos dinheiro para visitar a família em Panoias de Cima, a sul do rio, fronteira das tágides de Camões. Saídos de uma festa em um vinte-e-cinco de Abril onde, lá dentro digo, dizem no antes, era proibido abraçar e beijar, termos hoje no púlpito muitas marcas de lágrimas a recrutar revolta extra-social, nas compridas filas da Segurança Social solicitando um emprego. Desta maneira e à boleia do subsídio esmorecem o carácter polido na convicção de atitudes e passos correctos do ávante camarada ávante. Como o estado nação quer! Atrelados à obediência sem perseverança. O mesmo estado que em uma noite construiu uma ponte a unir os sonhos do Norte às ilusões do Sul; sonhos lindos com musas e ninfas e uma Catarina Eufémia do Baleizão, enfeitadas de cravos e foices reluzentes.
Todos, racionalmente arrojam a vida com os pés no chão de cabeça nas nuvens. É a vontade de Deus dizem alguns como consolação. Será? Com murmuração silenciosa e inquietude mortificadas, a sonhada paz interior como brotos de cravos, fluem na aparente mansidão de dócil humanidade; Diga-se em verdade, algo admirável que muito surpreende a muita gente. Agora, uma lança poderá trespassar-nos ou simplesmente penetrar-nos no peito a constatar-se que estamos em realidade, moribundos. Nosso estado, nosso ego, está quase-quase no estado de “crucificado”. Hó Balaeizão, baleizão, teremos de reinventar qualquer outra coisa, inaltecedora.
O Soba T´Chingange
“ALENTEJO” - TERRAS FANTASMAGÓRICAS – 2ª de 2 Partes
Por
T´Chingange
: Estamos em Agosto de 2013 com talvez menos de dez milhões de Portugueses e, o estado vive à míngua sugado por corruptos e corruptores. As conquistas do povo foram direitinhas para a nova casta de políticos que dividem o bolo por quotas, tanto para ti, tanto para mim. Cá na província, na lezíria, ou ceara alentejana, no cortiçal, olival, nas chapadas de trigo, nos lameiros, os montes estão desventradas, sem telhado, ruínas a gritar desespero aos vindouros. Afinal, de nada valeu aquela caçada nos tempos loucos de caçar fascistas. Ainda hoje me arrepio de tal façanha vivida por mim com pesar e, em euforia de Abril ou Abrilada pelos demais, mais que muitos, infelizmente! Acabei por me desterrar, abalado para um lugar distante chamado de Venezuela, mais tarde Brasil. Os tempos passaram mas os anos prósperos foram por má gestão mandados p´ro galheiro.
D. Sebastião I de Portugal - Foi o décimo sexto rei de Portugal, cognominado O Desejado por ser o herdeiro esperado da Dinastia de Avis, mais tarde nomeado O Encoberto ou O Adormecido. Aos 14 anos assumiu a governação. Solicitado a cessar as ameaças às costas portuguesas e motivado a reviver as glórias do passado, decidiu a montar um esforço militar em Marrocos, planeando uma cruzada após Mulei Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono. A derrota portuguesa na batalha de Alcácer-Quibir em 1578 levou ao desaparecimento de D. Sebastião em combate e da nata da nobreza. Isto, levou Portugal à perda da independência para a dinastia Filipina e ao nascimento do mito do Sebastianismo.
Voltando à lagoa da barragem do Monte da Rocha, não é muito diferente do que se pensa fora de água em que ninguém quer saber da azáfama dos outros, cada qual por si, chapéus há muitos como dizia o humorista e repentista Vasco Santana. Ontem à noite prestei vénias a D. Sebastião que veio dar vida em cortesia de soberania recriada à morna terra pintada de azul e branco de Messejana. Se ontem D. Sebastião veio dar vida, há muitos anos atrás em sua realeza imberbe, ocasionou morte a todos os jovens que com ele foram embalados numa aventura de conquista a norte de África; iam destemidamente dar cabo dos Mouros, os hereges infiéis, Berberes e Tuaregues que não perfilavam com o Cristo e seus seguidores arianos. Alá, já nesse então, nada o fazia alinhar com o deus ariano que desfilava amor com armas em forma de cruz estilizada, a espada.
O oxalá deles, mouros, não tinha seguramente o mesmo sentido que nós arianos lhe davamos. Os jovens assediados pelo jovem rei D. Sebastião, com ele foram mas, jamais voltaram; por lá ficaram em Alcácer Quibir encharcando a terra árabe com seu sangue num amontoado de corpos. O vento Suão nunca os trouxe de volta e, por eles muitas mães choraram, muitas noivas enviuvaram prematuramente carregando dos pés à cabeça seus lutos. Esta aventura de conquista e submissão de África continuou através dos tempos e séculos. A riqueza soberana do puto, era nesse então e, sempre, pequena demais para as ansiedades do povo Tuga e, foi assim que muitos dos nossos ancestrais, nossos avôs e pais se aventuraram a iniciar novas vidas para além do desconhecido em um terra que diziam também ser a sua. Tal como eu, branco de segunda, muitos foram o fruto desta estória sem hagá, Angola, Moçambique, Guine entre os demais. Por má gestão e usura, nossos ditos irmãos deixaram-nos ao deus-dará; um dia a história fará justiça. Oxalá que assim seja!
Ilustrações de Costa Araujo, meu Mano Corvo (O Deserto é de minha autoria)
O Soba T´Chingange
“ALENTEJO” - TERRAS FANTASMAGÓRICAS – 1ª de 2 Partes
Por
T´Chingange
No dia de ontem, quinze de Agosto, dia de todas a Marias, percorri a savana alentejana entre Messejana, Panoias, Santa Luzia e Garvão admirando o silêncio doirado da ondulada planície sarapintada de chaparros e sombras. No ar sentia-se um zunir morno, brisa suave de uma apavorada expectativa, impassível por baixo de um céu azul; um azul espalmado em todas as latitudes. As narinas arfavam nervosamente o cheiro do pasto farfalhando mornices de verão com mais de quarenta graus as terras de latifúndios, fome e solidão de recentes tempos. A nostalgia das terras do Alentejo são fantasmagóricas, transcendem-se no tempo com bocejar de sonhos perenes.
Já nadando ou gesticulando nas águas espelhadas da barragem do Monte da Rocha embrulhado em pensamentos, dizia só para mim que um escritor nunca se aposenta. É quando carregado de sabedoria que se tem de recolher ao isolamento; creio que sucede isto com todos aqueles que teimam em deixar testemunhos de vida: escrevem para o vento emulando-se nas descrições que só eles sentem, só eles cheiram. Vivem povoados de fantasmas feitos fantasias, alongam suas descrições, suas visões, para além do inimaginável. São gente só, isolados quanto baste para poderem trespassar a vida feita de nadas. O tudo ou sonho, entre o real e a ficção convenceram-me e, embora de forma incerta, um encontro com a literatura. De quando em vez afugento o desencanto pela força transformadora do tempo, porque só o tempo depura, mas isto decerto, não fará de mim um escritor. Simplesmente, escrevo!
Um pato acerca-se de mim na água. Imagino que ele vê uma ilha com a forma de um chapéu de palha enquanto se movimenta lentamente ao meu redor. Nesta pequena imensidão de lagoa, e nesse preciso momento, este pato é o meu único aconchego de vida. É, para todos os efeitos o meu espírito santo, o meu mais próximo ser naquela tranquila lagoa. Ele mergulha rápidamente seu bico na água e faz luzir um pequeno achigã que se retorce em seu bico. Distraído com a deglutição do seu manjar, não se apercebe que naquele chapéu tem gente.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“Mokanda . 39 anos depois”
AMIGOS DA GLOBÁLIA
UMA MOKANDA DE VERDADE ( Igual a tantas outras! )
Amigo Nelo, estou de novo a enviar notícias nossas com mais um pouco das nossas odisseias, pois não sei se será viável encontrarmo-nos pessoalmente. Apesar de estarmos no mesmo país a distância ainda é considerável. Gostaria imenso de nos encontrarmos e darmos aquele abraço do reencontro 39 anos depois.
Em 7 de Agosto de 1975 deixámos Luanda com muita mágoa e chegámos a Lisboa ainda mais magoados. Foi terrível descer aquele avião e ter à nossa espera umas sras da Cruz Vermelha ou de outra organização qualquer, que nos deram uma esmola de 500 escudos por adulto, como se pedintes fossemos.
Fomos para Torres Novas porque aí vivia uma cunhada, irmã de meu marido. Eu fui logo tratar de concorrer ao quadro de professores agregados do distrito de Santarèm e meu marido inscreveu-se no Quadro Geral de Adidos e também na imigração. Ele detestava estar em Portugal, por isso queria sair nem que fosse para o fim do Mundo de barco à vela. Fomos muito mal recebidos pelo povo português que nos considerava ladrões, nós que chegámos de mãos e almas vazias!
Meus filhos foram com minha mãe para o Alentejo, para casa de minha irmã que idolatrava a Catarina Eufémia que, até andava com o seu retrato no peito enquanto o marido destelhava montes de ricaços latifundiários. Era um poder popular besta em que Vasco Gonçalves queria tornar todos uns pobretões. Os generais de aviário queriam meter-nos no Campo pequeno e passar-nos na quentura da metralha Estivemos um mês sem os ver, separados deles pela 1ªvez.
Comecei a trabalhar a 17 de Outubro em Alcanena (14kms de Torres Novas)
Meu marido só foi colocado em Novembro.
Meus filhos, por caridade das freiras do colégio Santa Maria, começaram a frequentar o infantário.
Só comecei a pagar o infantário quando recebi o 1º vencimento... Tantas mudanças,... tudo tão diferente!
Meu irmão, por caridade do director, foi com a família para a Casa Pia de Beja, onde tinha crescido. Enfim, lá nos fomos aguentando. Hoje fico por aqui. Não te quero massar. Espero que nos contes as tuas odisseias, se achares bem.
Houve tempo em que não conseguia falar disto, só queria esquecer, mas o tempo tudo suaviza e até já consegui ir a Angola ( no ano que mataram Savimbi ) e apesar das mudanças, gostei de ir. Envio uma foto recente do nosso filho,que está a trabalhar na África do Sul. Ele já está com 38 anos e ficou careca muito cedo. Quando tiver fotos recentes do outro filho enviar-tas-ei. Creio já te ter enviado da minha querida neta Aral.
As nossas vidas também foram descolonizadas.
Dá muitos beijos à tua linda família. Um grande abraço do Soba. Um beijão saudoso da tua irmã adotiva Ibib.
PS: Manda teu nº de telefone para ouvir a tua voz, ok
22 de fevereiro de 2010
Dá notícias,
Maria Ibib
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
O SAPO CURURU, ajudante de Kianda
O braço alado de Alcácer Quibir
É mesmo assim, para ver se estava vivo!
Explico!... Estou no meu segundo termo de vida.
«O primeiro foi passado com Dom Sebastião. Segui-o como pagem para o norte de África e com ele morri
Os meus guias apoderaram-se dele, o braço; deixou verdadeiramente de ser meu e, desde então conduzem-no a seu belo prazer escrevendo coisas inéditas e até inacreditáveis».
É assim,... Estórias cheias de makutu como esta. O sapo continua a dissertar coisas:
- A vida atrai a vida, com o teu sonho alimentas o teu saber sempre, quando e enquanto esperas o teu silêncio, num lugar aonda jamais estiveste.
Estas palavras enigmáticas deixavam-me ainda mais confuso. No imediato só pensava ter uma cubata de taipa de 32 palmos de cumprimento por 20 de largura, coberta a colmo, um espaço amplo à frente tendo uns 500 por 1000 palmos e tudo isto rodeado de 4 mulembeiras e um embandeiro ao centro. Terei de divisar os rápidos dum rio na encosta nascente aonde irei buscar água. Ao redor e em circulo mais cubatas dos súbditos do reino tendo na retaguarda de cada parcela um quintal de fundo com árvores frutais. Do lado poente a floresta com N´hiwas e cassoneiras a contrastar o pôr do Sol. Afinal é um sonho simples de realizar mas o raio do sapo cururu referia-se a dez palmos de terra na vertical; só podia ser “ um lugar aonde jamais estiveste”.
- Tu que conferenciaste com uma mamba negra de Belize no Mayombe, que fumaste cigarros caricoco com um pássaro no lugar da Manhanga de Luanda, que pulaste o poço de Ot´xicoto Lake com M´c Giver onde as ninfas lambem rochas e que morreste pela segunda vez na curva da morte de Kalukembe, estás preparado para tudo.
Estupefeito pelo rápido curriculum dos ácaros da minha vida, pestanejei incrédulo. A minha cabeça num repente entrou em parafuso de pavor e, sem perder a noção do meu poder, neste preciso momento não queria mais ouvir o feio sapo. Defini seis mosaicos da varanda ao redor do sapo com o indicador esticado e ordenei:
- Até que eu me destine continuar as falas contigo, ficas aí prisioneiro nesse quadrado a hibernar.
Tinha de primeiro, refletir em tudo para arrumar os carretos e só depois decidir.
De boca aberta ali ficou o sapo preso na quadratura do circulo de olhos esbugalhados feito estátua. Tinha de rever os tratos com a kwangiade Januário Pieter e só depois assumir um compromisso de como continuar. De momento recordo o que ficou escrito quando do ultimo encontro com Januário,
« E, foi assim que nos despedimos das antigas terras de Abd-Allah e, sem limite de tempo, ficou uma vaga esperança de um novo encontro nas terras do rio de “
(Continua... Os mazombos de Sacramento...)
O Soba T´Chingange
CORRESPONDENTES DO KIMBO
UMA RAPIDINHA
MONTE ALENTEJANO - SERPA
Encontram-se dois alentejanos
Pergunta um deles: "Atão compadri, já conseguiste a carta de condução?"
Responde o outro: "nam, chumbê"
Pergunta o primeiro: "como é que foi isso?"
Resposta: "ora cheguê a uma rotunda onde tava um sinal a
dizer 30!"
"E atão ?"
"Dê 30 voltas à rotunda"
"E depois"
"Chumbê"
Diz o primeiro: "atã,... contaste mal?"
O Embaixador do Kakuacu
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
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BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA