Quinta-feira, 1 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 134

NAS FRINCHAS DO TEMPO

- Crónica 3545 -01.02.2024 ::: A CARAVANA.6 – A FUGA

- Escritos boligrafados da minha mochila, aleatoriamente após 1975

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fui.jpeg Continuamos com a descrição de Sonia Zaghetto: Em menos de um mês casei três vezes. Felizmente, com o mesmo homem. E assim deixei minha terra - Angola. Um ano na África do Sul foi suficiente para sabermos que lá não era o nosso lugar. Além da cultura muito diferente, começavam a ocorrer ali os mesmos episódios violentos que havíamos testemunhado em Angola. Decidimos mudar.

Escolhemos o Brasil, país que desde minha pré-adolescência eu sonhava conhecer. Partimos para Portugal a fim de cuidar da burocracia. No dia 7 de Fevereiro de 1977 zarpamos num navio italiano rumo a Santos, onde desembarcamos dez dias depois. Eu estava com seis meses de gravidez. A imensa maioria dos brasileiros nos recebeu de braços abertos, principalmente as pessoas mais humildes.

fumo de caricoco.jpg Alguns, mais abastados, nos tratavam friamente, mas nunca fomos hostilizados. Aos poucos aprendi a amar a terra nova, a querê-la a ponto de ficar amuada quando falam mal dela. Percorri este Brasil quase todo, conheci cada lugar que nem tens idéia, senhor. Andei por picadas, atravessei pontes que eram apenas duas tábuas paralelas, morrendo de medo que elas quebrassem e o carro despencasse.

Comi queijo de coalho em casebres de gente muito simples e coração enorme. Ah, senhor, que país maravilhoso é esse teu Brasil! Descasei, casei de novo. Quando a  saudade dava botes sobre a gente, o Walter fazia a muamba. Comprava cachos de dendê e tirava o óleo em casa mesmo. Era o único jeito de ficar igualzinho ao de Angola. Aqui as frutas são praticamente as mesmas que tínhamos, a temperatura  e as praias também, mas não é a minha casa, entendes senhor?

chai4.jpgAqui eu me sinto bem, mas falta o cheiro da minha terra, falta o cacimbo e a silhueta única do imbondeiro em meio à névoa. Há uma ausência que não consigo definir. Tudo tão igual, mas ao mesmo tempo  diferente. Talvez a gente seja mesmo filho de nosso chão, não sei. Parece que nesta paisagem familiar falta a alma da minha terra, a casa que posso realmente chamar de minha.

Eis-me aqui, senhor, aos 60 anos, com três filhos e dois netos brasileiros. Sou feliz, bem sabes, mas a saudade é bicho traiçoeiro: quando a gente menos espera, ela surge, arrepiando a pele, cravando as unhas na carne, abrindo ocos no peito. Recolho então minhas lembranças, as músicas e fotos de minha terra, e choro mansamente! 

luis33.jpg Angola ainda vive em mim. Como tatuagem de alma…  O relacto de Sonia chega ao fim deste modo e eu T´Chingange, na qualidade de relator, ouso dizer que muitos mais estórias houve nesta odisseia, fuga de Angola. A partir do dia 11 de Novembro de 1975, dia da independência de Angola, mais de 30 países envolveram-se na longa guerra civil que se seguiu, apoiando ao nível logístico e em equipamentos os três movimentos.

A União Soviética e Cuba aproveitaram o momento - a saída de Portugal (as últimas tropas - NT, chegam a Lisboa a 23 de Novembro de 1975) e situação de fragilidade dos EUA, para aumentarem o seu apoio ao MPLA. Pela frente iriam encontrar a ajuda do Zaire e da África do Sul que não queriam ficar para trás no processo de descolonização de Angola.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:40
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Sábado, 8 de Julho de 2023
N´GUZU . LXVI

CONHECER MELHOR O BRASIL

TROPEIROS

Parte - Crónica 3432 – 08.07.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por brasil2.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Na Lagoa do M´Puto

bra1.jpg A viagem da frota aonde ia D. João VI em sua ida apressada para o Brasil, era composta de dezanove navios; transportando entre 12 a 15 mil pessoas, demoraram 54 dias até aportarem a Salvador da Bahia. O destino que era Rio de Janeiro, foi encurtado para Salvador, porque surgiram contratempos de tempestade com sequente dispersão de naus e, cansaço de gente desabituada às agruras do mar.

Chegados a Salvador a sete de Março de 1807, por ali ficaram um mês; D. João foi instalado no palácio “A quinta da Boa Vista”, cedido por um traficante de escravos. Carlota Joaquina, sua esposa (a Rainha), foi instalada em Botafogo com os seus filhos. Muitas casas foram por isso, requisitadas para instalar os demais elementos da corte e séquito de altos funcionários, assessores e suas respectivas famílias. Para isso iniciaram a marcação das casas escolhidas, escrevendo nas respectivas portas as iniciais PR de Príncipe Regente. A picardia Carioca, que já começava a expandir-se em tertúlias marialvas, logo interpretaram como sendo “PR - Ponha-se na Rua”.

Por falta de higiene, em algumas das 19 embarcações, desencadeou-se tamanha praga de piolhos que até as damas tiveram de cortar rente suas cabeleiras. Ao lado do Príncipe Regente vinha a senhora sua esposa, Carlota Joaquina que de olhos rebrilhantes, seca de carnes num rosto de nariz e queixo compridos, se via feia de amedrontar.

nauk01.jpgNo meio do séquito desleixado, as mulheres apresentavam-se com turbantes a cobrir totalmente a cabeça; era uma nova moda trazida da europa, assim pensaram as mulheres que recepcionavam a corte. Pelo já descrito, por via da praga de piolhos que grassou em algumas naus, aquelas damas tinham sido obrigadas a tapar as inestéticas carecas. Nos meses que se seguiram, as damas cariocas passaram a usar tal turbante como coisa chique.

E Já em terras de Vera Cruz, de novo se vai falar dos Tropeiros (condutores de mulas) que na interpretação historiográfica, sobre estes, recaiam relatos depreciativos considerando-os de viajantes estrangeiros; aliás muitos comentadores diziam que ter essa função, não era motivo de orgulho para ninguém. Sob o titulo de “transportes arcaicos” foi Pandiá Calógeres jornalista de “O Jornal” no ano de 1927, criou novos contornos à tipologia social do tropeio recuperando-o como lo de aproximação entre o mundo rural e urbano,  como o portador de noticias ou recados que surtiam alguma simpatia entre os populares.

mux0.jpg Em verdade foi através deste transporte com mulas que se impulsionou parte da produção agrícola e exportação ou abastecimento, a partir dos portos e mercados por todo o Brasil. Em meados do século XIX, em Pernambuco, as tropas de mulas foram de mais eficácia do que as carretas conduzidas por bois, principalmente no transporte de açúcar saído dos engenhos em sacas de 60 a 80 quilos.

Em Minas Gerais, sem saída para o mar, por vias terrestes ou vias fluviais, todo o comércio era feito por mulas, ‘inclusive outros produtos de difícil transporte como o vidro. Tudo isto proporcionou o aparecimento de pousos na forma de estalagens precárias, barracões sustentados por pilares e abetos dos lados. As tropas de mulas só começaram a decair quando surgiram estradas macadamizadas aonde as carroças percorriam mais velozes. Ao redor das mudas criavam-se roças, plantações de milho e sequente fixação de gente.

carmen1.jpgCom os seus 170 quilómetros de extinção a via de macadame ligando a colónia de Filadélfia em Minas e o litoral ligando Petrópolis a Juiz de Fora, com pontes metálicas e estações de muda tipo “far west” anunciaram a modernidade com a criação de carreiras regulares do tipo das diligências americanas. O aparecimento das ferrovias declinaram a importância tanto das carroças como das tropas de mulas a partir da década de 1870, impondo-se na ultimas décadas do Império. O “Brasil Império”, uma época da História do Brasil, teve início a 07 de Setembro de 1822 – quando ocorreu a Independência do Brasil. O Período Imperial teve fim a15 de Novembro de 1889 – quando ocorreu a Proclamação da República. 

FIM

O Soba T´Chingange    



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:10
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Sexta-feira, 7 de Julho de 2023
VIAGENS . 23

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA

– Na piscina da Pajuçara, tive a companhia de uma tartaruga com bem um metro de diâmetro…

Crónica 3431 – 07.07.2023 

Porpaju3.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Na Lagoa do M´Puto

pajuçara02.jpg Em minha hidroginástica matinal na piscina da Pajuçara, tive a companhia de uma tartaruga com bem um metro de diâmetro, tomando em conta que sua cabeça que emergiu várias vezes, era do tamanho de um coco de meio porte. Foi a única parte de seu corpo que emergiu da água bastante turva. E, por a água estar turva, não deu para ver o corpo integral a uns escassos 4 metros. O turbilhão de ondas que batem no recife, tornam a água muito cheia de pequenas partículas que se soltam de entre as rochas dando a cor esverdeada à água.

A cabeça desta tartaruga parecia um camuflado castanho os quais se salientavam os olhos por serem grandes e luzidios. Este acontecimento deu-se em cinco dias alternados perfazendo nove aparições e sempre emitindo um som forte de aspiração de água ou o enchimento de seus pulmões – um sopro que me meteu medo pela primeira vez pois que estava sem pé na altura de água e também o foi novidade.

Entretanto chega o pescador de bicicleta andando na areia compactada de molhada e, por ali estacionou perto do meu local com o património do Conde do Grafanil, composto de uma cadeira inclinável e o chapéu-de-sol e chuva quando ela cai molhada; claro que também ali estavam meus chinelos de pé, a mochila, a flanela, a chave do mukifo - tudo tapado com a toalha mexicana. Chegado ali pelas 5 e 50 horas dou assim abertura à praia ainda deserta de chapéus e gente.

viagens2.jpg Por vezes cai um cacimbo que aqui tem o nome de garoa; nestes dias mais chuvosos esta chuva de molha-tolos dá algum desconforto mas não demora muito o sol desponta inchado de 27 ou 28 graus e, que em certos dias de verão pode mesmo ir até aos 32 graus. Quando a água está quase um espelho é muito agradável andar na água sem pé para lá e para cá ora fazendo de rã ora fazendo de jacaré e por vezes de hipopótamo. Assim e lentamente faço percorrer o chapéu branco com riscas verdes do Palmeiras Futebol Club treinado pelo português Abel Ferreira, ora indo para poente ora para nascente.

O pescador, senhor Zeverino do Jaraguá, entra na água com sua rede de cerco com os seus cem metros; assim enrolada dum certo jeito, espeta um pau comprido na areia que tem o início da rede e, andando com água acima do peito vai dispondo a rede paralelamente à borda água fechando-a mais à frente nesses tais cem metros. Vejo esta tarefa mais ao largo distinguindo a rede pelas bolas brancas de esferovite que proporcionam o boiar da rede. Do fundo os chumbos dispostos ao longo da mesma rede veda por assim dizer a zona do cerco.

viagens3.jpg A finalidade é fazer com que os peixes ali fiquem presos; para esse efeito Zeferino bate na água fazendo com que o peixe se enfie na rede; Não tem sido muito feliz nos dias que tenho observado sua tarefa e por vezes vêm caranguejos chamados de ciris. Mesmo que nada pesque, ginastica seu físico dando vida à sua hora extra. A operação de bater a água é feita simultaneamente com o fecho da rede de forma lenta e na forma circulada de caracol até que já junta é carregada aos ombros para a areia aonde com gestos certos a vai dispondo em monte sacudindo as alas e retirando o pescado quando o há.

Um Trabalho que nem sempre o é eficaz mas, que traduz a verdadeira lei da vida, mexer-se recolhendo o proveito e em simultâneo absorvendo a seda da água com o iodo matinal e a tal de vitamina D com outros sais que nem é necessário enumerar, ressarcindo vontades de resiliência na nata do batom branco das ondas que não muito longe batem nos recifes, formando uma linha branca que confrontar mais álem o horizonte com o azul escuro da água e o escuro azul do céu.   

viagens4.jpg Lá pelas nove horas, com chapéus de todas as cores dispostos ao longo da praia desde a Ponta dos Corais até o Jaraguá com seu Porto Açucareiro, é a hora certa para regressar ao mukifo. É a partir das nove horas que chegam os vendedores ambulantes com panos galhardos de cor, redes, ostras no gelo, camarão ou skol fria – espigas de milho cozido, óculos de sol, bolas e bóias e toda a catrefada de coisas que se possam imaginar. A vida, não é assim tão fácil para estes camelós…

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:07
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Sábado, 17 de Junho de 2023
OT´CHIPULULU . 8

T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DA MENTIRA – Parte 1

TAP - TROIKA AÉREA PERNICIOSA - Mau-olhado

- Crónica 3426 – 17.06.2023

Por boia2.jpgT´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil

demo1.jpg A mentira, usada na forma sofisticada de sonegar a informação, terá de se aceitar como uma nova corrente de democracia (inovadora’). Será?! Plastificando nossa mente, após conhecermos narrativas espantosamente dissimuladas, assim acaba por virar uma verdadeira revolução de indignação, Lá teremos de estudar esta genérica maneira de estar, socializante! No intuito de me inteirar de como as tricas podem bem suplantar as troikas, dei-me ao trabalho de pesquisar tudo o que é sabido acerca da mentira, seu uso e nuances adjacentes, sem sair do plausível em questão de “seriedade”.

Nesta balela costumeira e vezeira como se coisa vulgar o fosse, sairá decerto muito mal na teoria da ciniquisse (vocábulo novíssimo). Chego assim a dados credíveis em tese, de aceitar que, governar, é fazer crer, de acordo com a famosa frase atribuída a Maquiavel. Deste modo consultei via net o Professor Fernando G. Sampaio Reitor da Escola Superior de Geopolítica e Estratégia - Cidadão Emérito de Porto Alegre tendo chegado às falas com muitos “itens”, que se seguem: TEORIA DA MENTIRA  (2001)…

eça5.jpg

Íten1. Governar é fazer crer, famosa frase atribuída a Maquiavel, que nos leva ao centro deste debate, que denominamos de Teoria da Mentira, no sentido em que a Mentira, como instrumento, possui o seu próprio corpo de normas, sua própria estruturação e metodologia, já experimentada, ao longo dos séculos, na arte de governar e, por extensão, na subversão dos governos e das instituições.

Íten2. O conhecimento da Teoria da Mentira é Estratégico. Julgamos fundamental ao estudioso da estratégia no conhecimento do funcionamento da Mentira, já que, não podemos basear nenhuma estratégia em falsidades, em erros, em inverdades, pois então, esta estratégia, estará definitivamente fadado ao fracasso.

Íten3. Por isto, estamos com o professor Robert A. Dahl, que em sua análise política afirmou que “pretender uma análise objectiva da política pressupõe que se dê valor à verdade... é preciso acreditar que vale a pena distinguir o verdadeiro do falso”.

dia95.jpg

Íten4. É justamente, então, que entra a Teoria da Mentira: o objectivo da mentira é impedir-nos de distinguir o verdadeiro do falso. É confundir, é iludir, é enganar e, assim, nos levar a tomar decisões erradas (para nós), mas que beneficiam quem criou e espalhou a mentira.

Íten5. A mentira é, portanto, arma valiosa no arsenal de qualquer beligerante ou assemelhado e serve, tanto para a guerra como classicamente entendida, como para a propaganda política podendo ter utilidade, assim, tanto no conflito externo como nas lutas políticas internas.

CUCO1.jpg

Íten6. O que é mentir? Por definição, a mentira é o discurso contrário à verdade, efectuado com o objectivo de enganar. Daí concluímos que o elaborador da mentira conhece a verdade e efectua deformações intencionais sobre o verdadeiro, para atingir o seu objectivo.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:58
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Sexta-feira, 9 de Junho de 2023
N´GUZU . LXII

CONHECER MELHOR O BRASIL

– QUILOMBOS

Parte - Crónica 3418 – 09.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por lluua04.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

luua12.jpg Antes de me alargar sobre os Quilombos no Brasil, convém saber que a palavra "Quilombo" tem origem nos termos "kilombo" do Quimbundo ou "ochilombo" do Umbundo de Angola, presente também em outras línguas faladas ainda hoje por diversos povos Bantus que habitam a região da Guiné, Congo, Zaire, Angola e quase toda a África Austral. Eram conjuntos de libatas, cubatas ou embalas - lugar aonde os funantes (exploradores), descansavam após andarem dias pelo mato recolhendo mel, cera, marfim e outros produtos adquiridos no interior de África.

Os funantes, negociantes portugueses que, abandonando a costa marítima de Angola, iam comercializar mato afora, ajudados por seus auxiliares pombeiros ou moçambazes que falavam a língua dos indígenas, utilizavam os kilombos para descansarem. No Brasil, foi em Alagoas na Serra da Barriga que se congregaram em sociedade e governo (à revelia) que de certo modo, guardavam os antigos sistemas organizativos africanos que foi o já falado Quilombo dos Palmares.

quilombo3.jpg Nos Quilombos, a vivência, seja em Angola ou Brasil não difere muito daquilo que hoje se chama de sanzala ou kimbo que, quando situadas na periferia de uma cidade tomam o nome de musseque (Angola) ou favela (Brasil). Em verdade, são efectivamente os “escravos modernos”, fornecendo mão-de-obra barata aos senhores da selva de cimento; é tão-somente uma outra forma de escravatura, mais livre, mas sendo os verdadeiros serviçais ou a “arraia-miúda” da urbe que reaproveitando desperdício dos ricos constroem seus bairros de lata, cartão e variados desperdícios de obras.

Embora a escravidão no Brasil tenha sido oficialmente abolida a 13 de maio de 1888, alguns desses agrupamentos chegaram aos nossos dias, por via do seu isolamento. Outros transformaram-se em localidades, como por exemplo Ivaporunduva, próximo ao rio Ribeira de Iguape, no estado de São Paulo. No Brasil, mais propriamente no estado nordestino de Alagoas, no correr do tempo, qualquer representação teatral de índole popular entre afro descendentes, maioritariamente negros, suas danças dramáticas, arraiais ou folguedos com autos de representação carnavalesca, chaganças, reisadas ou umbigadas, em tempos de festas, período dos Santos Populares (festas juninas) ou natal, atribuíram o nome de dança dos quilombos.

quilombo0.jpgNa realidade actual, um Quilombo do interior brasileiro, é um conjunto de casas dispersas aleatoriamente, em um aglomerado próximo de casas feitas em taipa e cobertas a capim rodeadas de currais e galinheiros ou mesmo paliça para rebanhos de ovelhas, porcos ou cabras e também currais para alojar muares ou outro gado; animais que dão o sustento a cada casa, a conjugar com os produtos da lavra ou n´haka (termo angolano) em terras mais húmidas junto a alguma nascente ou borda de rio e também na azáfama de garimpo na busca de ouro (Poconé no Pantanal ou Amazonas). Curiosamente há entre estes, alguns grupos, gente cigana com as características da antiga Hungria ou Croácia e, outros estados europeus de onde emigraram; nota-se na forma de vestir, na consanguinidade fechada entre eles e na forma de comercializarem seus pecúlios... 

No Brasil, os quilombos oitocentistas diferenciavam-se pelo tamanho e pelo tipo de relação que mantinham com a sociedade esclavagista. Um pouco por toda a parte, havia os pequenos quilombos próximos a fazendas e, de pequenas cidades; seus membros formavam grupos que viviam do saque de áreas vizinhas. Neste contexto, ainda hoje podemos verificar procedimentos análogos tanto nos meios rústicos, campos do interior, como urbanos, executados por gente das favelas ou cortiços dos arrabaldes.

QUILOMBO6.jpg Lugar aonde se acoitam gangues de meliantes bem organizados e armados, por vezes com potencial de fogo superior às polícias intervenientes. Surgem amiudadamente helicópteros e policiais actuando nesses sítios indicados que por norma ficam em encostas de morros, no leito de antigos riachos, terenos de má condição para se fazerem obras de boa execução segundo normas de segurança e, aonde tudo parece estar na ilegalidade; há gatos (geringonças) de ligações eléctricas fora do controlo, há tubos de água a abastecer grupos sociais sem contador e tubos de esgoto mal dimensionados, conduzidos para sargetas ou águas pluviais pertencentes à rede municipal. Na maior parte dos casos nem pagam IPTU (IMI) – imposto sobre imóveis…

O aqui descrito também se verifica no novo país de Angola, aonde prevalece o desenrasca com garranchos nas linhas eléctricas e gatos com gatinhos que por vezes produzem catástrofes derivados de curtos circuitos ou enchentes em tempos de chuvas intensas. Um deus dará, dirão mas, assim o é! E, surgem acampamentos de sem-terra, dos sem-tudo por lados que parecem pertencer à dita União, ou seja do Estado Federativo do Brasil, nas margens de rios ou de estradas nacionais; Quase em todos os casos, estes ajuntamentos estão refecidos com bandeiras vermelhas ou brancas e, parece que quase sempre há gente de colarinho branco a servir de tutores e, que por norma os usam como diversão política, tomando terras supostamente sem aproveitamento. Os órgãos de informação tratam este assunto com pinças delicadíssimas por via de poderem entrar num foro de cariz ideológico governamental e, colidindo com interesses mal assimilados pela grande maioria d moradores – jogos políticos…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:50
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Sábado, 3 de Junho de 2023
N´GUZU – LIX

CONHECER MELHOR O BRASIL

CANDOMBLÉ DO BRASIL e TOCOISMO DE ANGOLA

Parte - Crónica 3412 – 03.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por tocoismo5.jpgT´Chingange (Otchingandji)Na Pajuçara de Maceió

tocoismo1.jpgOutra base institucional para a censura aos candomblés apoiava-se num artigo da Constituição (nº 179º), o qual se garantia a “todos” a liberdade religiosa, fixando a condição para o exercício desse direito, ou seja, o respeito à religião do Estado Brasileiro e, à “moral pública”. No entanto, no dia-a-dia repressivo, foram os códigos das posturas municipais, os mais accionados.

A partir de 1830, legislaram sobre a proibição ou cancelamento dos candomblés, batuques, zungus, maracatus “danças de pretos” e “casas de dar fortuna”. As penas envolviam multas, um certo tempo no chilindró e por vezes açoites se, o infractor fosse escravo. As opiniões e acções sobre os candomblés, assim como os batuques negros, nunca conseguiram unanimidade, servindo até de pressão a jogos de interesses não declarados com incidência nos libertos.

tocoismo2.jpg No seio de algumas das autoridades não suportavam as livres apropriações negras dos santos católicos, usando musicas e danças como supersticiosas e ofensivas à “moral pública”, à ordem e às leis, havendo algumas tolerâncias segundo a tradição colonial, evitando assim males maiores tais como revoltas. Essa tolerância, proporcionou o arrastar dos costumes proporcionando os canais de suas afirmações ao longo do século XIX.

Entretanto e fazendo um salto ao outro lado do Atlântico encontramos no início do século XX, um dos maiores movimentos cristãos em Angola chamado de “Tocoismo” pelo que, segundo mussendos de Mais Velhos, se faz alguma luz sobre o patrono desta corrente, Simão Gonçalves Toco nascido em 1918 na localidade de Sadi-Zulumongo (N´Taia, Maquela do Zombo, província do Uíge, Angola), tendo recebido o nome kikongo de Mayamona. Após frequentar o ensino primário na missão baptista de Kibokolo, concluiu os estudos liceais no Liceu Salvador Correia em Luanda.

tocoismo3.jpgTerá acontecido um acto milagroso que o despoletou à sua missão religiosa: foi o encontro com Deus em Catete a 17 de Abril de 1935. Em 1942, decide partir para Leopoldville (Congo Belga) para colaborar com a missão local e dirigir um coro musical já aqui descrito. Graças ao trabalho que lhe fora reconhecido no âmbito da missão baptista e do coro, no ano de 1946, é convidado, junto com outros dois “indígenas” - Gaspar de Almeida e Jessé Chipenda Chiúla, para intervir nos trabalhos da Conferência Missionária Internacional Protestante, realizada de 15 a 21 de Julho desse ano, na localidade de Kaliná em Leopoldville, Congo Belga.

Simão Gonçalves Toco e muitos dos seus seguidores foram presos pelas autoridades belgas, sob a acusação de alterar a ordem pública. Em Janeiro de 1950, são deportados do Congo Belga e entregues, no posto fronteiriço de Nóqui (província do Zaire), às autoridades portuguesas. Procuram dar por terminado o movimento daquilo que consideravam ser uma "seita perigosa", dividindo o grupo em grupos menores que serão dispersos, no âmbito da política de povoamento colonial vigente à época, em distintos colonatos e campos de trabalhos forçados por toda a colónia.

candomblé6.jpg O líder Toco, é enviado numa primeira instância pelo Vale do Loge e, após passagens por Luanda, Caconda e Jáu, é enviado para a São Martinho dos Tigres, na província de Namibe - Moçâmedes. Pouco tempo depois, é enviado para trabalhar como assistente num farol em Ponta Albina, na mesma região. Em 1961, quando tem início as campanhas de libertação de Angola no norte do país, as autoridades portuguesas, conhecedoras da capacidade de mobilização do profeta, ordenam a sua ida para o Uíge, uma região fronteiriça com o Congo. Por meio dele, pretendeu-se chamar a população que tinham fugido para as matas na sequência de acções militares.

Simão Toco consegue mobilizar milhares de conterrâneos, mas a desconfiança das autoridades portuguesas relativamente às suas intenções faz com que se decidam por enviá-lo para um segundo período de exílio. Desta feita, é enviado para a ilha portuguesa de São Miguel, nos Açores, onde trabalhará como assistente de faroleiro na localidade de Ginetes. A sua permanência nesta ilha portuguesa demorará 11 anos mas no entanto, não esmorecerá no seguimento de sua missão. Ao longo deste período, Simão Toco intercambiará milhares de cartas com os seus seguidores em Angola, com quem construirá um movimento de carácter nacionalista.

candomblé3.jpg Simão Toco é finalmente autorizado a regressar ao seu país ainda colónia, o que acontece a 31 de Agosto de 1974, quatro meses depois do 25 de Abril da tal revolução dos cravos. Recebido pelo então governador em transição, o Almirante Rosa Coutinho, Simão Gonçalves Toco vê finalmente reconhecida a liberdade de expressão e de culto do seu movimento…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:17
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Terça-feira, 23 de Maio de 2023
N´GUZU - LVI

CONHECER MELHOR O BRASIL BATUQUES

Parte - Crónica 3401 – 23.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por tonito16.jpgT´Chingange (Otchingandji) Na Pajuçara de Maceió

kilo01.jpg Nestes encontros, celebravam identidades étnicas e até mesmo ensaios de levantes (revoltas). Algumas revoltas aconteceram ou foram planeadas para os dias de festa, como o grande levante dos Malês da Bahia no ano de 1835; esta aconteceu com o ciclo das festas de Nossa Senhora do Bonfim e com a celebração muçulmana do ramadão. A disposição que os escravos apresentavam para realizar os batuques, dificultavam as autoridades pelo efeito de dissimulação, bem à madeira moderna da política chinesa...

Isto indica que em volta da subordinação e resistência havia sempre reticências pela forma ordeira com que tudo faziam por sequência da disciplina laboral, uma forma de treino permanente que dava motivos de preocupação nas alturas dos batuques: dali poderia advir sempre algo de surpresa ou espanto. Nos municípios do Império sempre procuravam estar estabelecidos com preocupação mas nem sempre havia anuência ou unanimidade entre os detentores do mando.

socie2.jpg O controlo sobre a festa negra, sempre requeria cuidados reforçados. No Rio de Janeiro, capital do Império eram proibidos os ajuntamentos de pessoas, mais propriamente de escravos; com “tocatas, danças e vozerias” facilitavam-se os “batuques, cantorias e dança de pretos dentro das casas e xácaras”, desde que não perturbassem os vizinhos.

Em uma das principais áreas da cafeicultura chamada de Vassouras, no século XIX, as posturas permitiam “ danças e candomblés” apenas para escravos de uma só fazenda; sobre o caxambu (um derivado de batuque), existiam proibições nas ruas e casas das cidades mas, era autorizado pela polícia no meio rural. Em Porto Alegre, o código se posturas, não abria excepções, proibindo “batuques, zungus e candomblés” em qualquer local e hora.

ROXO13.jpg As posturas das cidades de Pernambuco, também seguiam esta linha mais dura do sul do Império proibindo as “danças de pretos escravos ou maracatus” nas ruas e praças, os “sambas ou batuques de caixa” em casas públicas ou particulares, assim como a “farsas públicas” – origem do bumba-meu-boi. As diferentes restrições por posturas municipais, longe de controlarem os batuques, revelavam um impasse entre senhores e autoridades sobre a melhor forma de se lidar com aqueles…

Na Bahia quando os indícios de rebelião chegavam a vias de facto, na década de 1830, os “batuques lundus” de negros foram terminantemente proibidos em qualquer hora e local, Surpreendentemente, com seus contínuos ressurgimentos, a Assembleia Provincial, em 1885, determinou a proibição de “batuques e vozeiras em casas públicas”.

praga3.jpg Ao longo do período Imperial, do “Brasil, do mundo Luso, Oriente, Timor, África, Algarves e edecéteras de escambau”, o batuque sempre haveria de encontrar um espaço como o candomblé, nas negociações entre autoridades que vigiavam e, a liberação para a diversão, ainda a melhor forma de controlar os conflitos entre os senhores coronéis e os escravos. Relembrar que os Povos Lusófonos eram comandados a partir do Rio de Janeiro.

Registe-se neste epílogo do assunto batuques, que na Colonia de Angola, o procedimento era análogo e, posso ainda lembrar-me do controlo feito por auxiliares da Administração do Posto, em Luanda, os cipaios africanos que exerciam sua autoridade usando bastões chamados de cassetetes. Era normal vermos estes polícias de Bairro, africanos com um chapéu de cofió enfiado na cabeça, cor vermelha e, tendo uns fios a penderem para os lados. Estávamos então no inico da segunda metade do século XX. A jurisdição da Maianga era o Posto de Belas e, nesse então, era o famoso chefe Poeira que mandava na cipaiada.

FIM

O Soba T´Chingange                             



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:31
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Domingo, 21 de Maio de 2023
N´GUZU - LV

CONHECER MELHOR O BRASIL – BATUQUES

2ª Parte - Crónica 3399 – 21.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por entrudo1.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

batuque1.jpg As cavalhadas de batuque na colónia de Angola, do outro lado do Atlântico tiveram maior impulso nos fins do século XIX saindo dos seus nichos habituais dos vários musseques e, tendo maior expressão na marginal de Luanda que então tinha o nome de Diogo Cão, em meados do século XX. Os grupos eram patrocinados dela Organização de Turismo Colonial. Também tinham grande expressão as manifestações na Cidade do Lobito mais a Sul.

Em ambas as cidades havia magotes de gente brincando o carnaval com batuque e lançamento de farinha uns aos outros, ficando todos mascarados de brancos. Tal como o jogo da bassula originária de Lândana de Cabinda, a acompanhar o batuque era usada a dança de uma forma acrobática como um jogo de pega e larga para enganar a proibição das autoridades.

batuque2.jpg Em dias de carnaval tudo era tolerado; os batuques de tambores ecoavam por toda a Luanda suburbana. O batuque para além de acentuar indecências, sua licenciosidade era ciente de sua imoralidade com o caracter selvagem e grotesco, pelo movimento das ancas, o trepidar do mataco, (bunda) na presença de instrumentos inebriantes e de sempre surgirem apelo de contenção da elite, dos nobres e outros suspensórios sociais.

No Brasil e em Angola os métodos de abordar o entrudo era bem tolerado. O batuque em realidade era uma forma de proporcionar ambientes de bebedeira, muito vinho a martelo, baptizado pelos comerciantes locais com água e outras catchipembas fermentadas em barris situados lá no fundo de quintal da venda  para disfarçar cheiros fortes.

entrudo01.jpg Tanto em Luanda como no Rio ou São Paulo do Brasil, os ambientes curtiam-se do mesmo jeito. Em Loanda ainda me lembro do vinho comprado em garrafão da marca Camilo Alves, uma zurrapa que subia rápido ao cérebro e cerebelo. No Brasil havia a particularidade de se jagunçar a festa com matanças; havia crimes sem se desvendar o móbil do acto e também um desperdício do trabalho dos escravos, sobretudo nos encontros propícios a movimentos revoltosos.

Posso imaginar o que se poderia dizer das actuais danças tão incentivadoras ao sexo e de uma forma abusada e tolerada por todos – gestos obscenos de “kuduro”, de fazer corar donzelas virgens… Enfim, destes ritmos bizarrocos de fazer espichar o vermelho do mais puritano do que não é bonito, banalizado no ridículo que ironicamente se banaliza numa de “pois é moda” deitando o ridículo na lixeira para tudo terminar num jogo amistoso.

batuque4.jpg Relatos antigos referem imagens da época permitindo rever algumas marcas do género com coreografia de danças em círculo movimentos ati-relógio, de anti vergonha ajustando ao gosto da bunda, mataco e obscenidades. Obscenidades ao jogo com versos e desafios, contestação a tudo com dançarinos rebolando sós ou em pares, improvisando-se em sexualidades estranhas.   

A moderar tudo surgiram novos conceitos a que chamaram de “festas juninas” de cariz social evitando as umbigadas, massembas e, usando o bater de mãos associado ao canto. Danças com cariz religioso de acalmar famílias tradicionais de costumes bem conservadores. Em torno do batuque, no tocar de bombo e, a partir destes, tornava-se possível fugir ao trabalho tecendo relações de solidariedade entre escravos e libertos, entre africanos e crioulos…

(Continua…)

O Soba T´Chingange    



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:41
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Quinta-feira, 18 de Maio de 2023
N´GUZU - LIV

CONHECER MELHOR O BRASIL – BATUQUES

Parte - Crónica 3397 – 18.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por amendo5.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

festa 2.jpg Batuque, é dança com acompanhamento de tambores. Era ao longo do século XIX, genericamente, para designar danças, músicas e tambores negros de características populares. Em criança, candengue e, na ainda colónia de Angola, capital de Luanda, morando eu no subúrbio (Maianga) e perto de alguns musseques (favela aquilombada), podia ouvir o toque de tambores durante as noites de sábado para domingo. Fui influenciado por esses firmes traços do povo banto que legou ao mundo e em especial ao Brasil, além da música, a forma de nutrição, folclore e a sua mística.

Enquanto em São Tomé, mulheres com lenços amarrados na cabeça como baianas desfilam seus longos e largos vestidos coloridos, com os seus balangandans, com seus tabuleiros à cabeça, com doces, batendo os pés com os bons sapatos que Deus lhes deu, exibem a sua dança do Kongo ao som do batuque. Isto da Lusofonia, aqui descrito, não é mais do que o auto do Cucumbi ou Kongo na forma de cavalhada ou Folia de Reis, relembrando as batalhas de funantes em que prenderam a irmã da rainha N´Zinga. Pois assim, foi em terras de N´Dongo, no bastião dos nobres de Pungo Andongo numa batalha chamada de M´bwila do outro lado do Atlântico.

Francês1.jpgFoi, a raiva dançada ao estilo de capoeira que os escravos de N´Gola levaram para o Brasil, encrespada nos tempos, de fedorentos porões de navios, lembranças do chicote no poste da sanzala, dos grilhões, da canga e infortúnio; era a camangula e a bassula com finta e a esquindiva que depois de transferida foi cantada com um fio e um pau, instrumento chamado de berimbau. Sim! Foi aí em Lândana do enclave de Cabinda, com os originais povos imbindas, que tudo começou. No centro da paliçada chamada de terreiro (sambódromo), o Rei traja gibão e calças brancas e manto azul bordado, tendo na cabeça uma coroa dourada tal e qual como o rei N´Zinga-a-N´Kuvo, baptizado em 1509, o primeiro rei a ser cristianizado pelos Tugas.

Esse rei, N´Zinga-a-N´Kuvo tomando o nome de Dom Afonso I deu a seu filho, o nome cristão de Henrique; foi mandado para Portugal estudar as artes da magia da Cruz, tendo dali regressado em 1521 padre de estola com todos os rituais. Vale a pena referir essa luta da bassula, finta ou esquindiva utilizada pelos pescadores imbindas do Kongo (Cabindas e Boma do N´zaire).

frances.jpg Foram também os Muxiloandas da ilha da Mazenga da baia de Loanda e Mussulo (Kaluandas ou Camondongos) da região dos Dembos e foz dos rios Dande, Bengo e Kwanza que como escravos, levaram isso para o Brasil derivando na Capoeira, uma forma de dança para ludibriar o patrão fazendeiro, usando a falsa ginástica de dança como luta com um dá e um larga sem agarrar, usando a força do adversário com suaves e mágicos “toques de bassula” ou “toque de finta”. A “negralhada” seminua dançava e cantava alegremente, livre do senhor do engenho e do feitor com seus ralhos (era assim que diziam seus patrões)

E o batuque veio junto, com as galinhas d´Angola, o pregão que surgiu já depois da proibição do tráfico de escravos. Dizia o pregoeiro mazombo, indo de fazenda a fazenda, de engenho a engenho; não quer comprar, coronel? Esta festa negra chamada de batuque, poderá ser vista como sinonimo de Lundus, sambas, caxambus e maracatus, segundo as variações regionais. As posturas municipais do Rio e São Paulo, documentam discussões nas câmaras, jornais e relatos de viajantes como sendo os batuques uma reunião de negros – escravos, africanos ou libertos, em variadas ocasiões.

FRANCES2.jpg Aos domingos e dias santos, nos locais, nas fazendas, nos cortiços da periferia das cidades, podem observar-se momentos altos desse costume. Surgem associações de batuques conhecidos como “danças de pretos” ou “baile do Kongo” que reafirmam o quanto esta prática estava envolvida com valores culturais trazidos de África, expressando nesse então, uma identidade muito distante das marcas alcançadas pela “civilização” europeia salientando-se visões preconceituosas.

Embora não se referisse nessa época, o termo de preconceito, veio no correr do tempo a se relacionar com o racismo. Por outro lado, foi a partir destas associações que surgiram as “escolas de samba” originando o carnaval - evento tão afamado no mundo cujas características deram ao Brasil a quase exclusividade. De lembrar que tendo sido os europeus, mais propriamente os portugueses, a levarem o entrudo com cavalhadas para as colónias de Angla e Moçambique, estes, por sua vez - os indígenas locais, deram largas a seus teatros de fingir, terminando nestes batuques.

(Continua…)

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:02
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Segunda-feira, 15 de Maio de 2023
N´GUZU - LIII

CONHECER MELHOR O BRASIL – CORTIÇOS

Parte - Crónica 3394 – 15.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por:missosso2.jpegT´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

booktique11.jpg Feito dramaturgo, do prólogo ao epílogo, sigo-me como um sonho de T´Chingange (feiticeiro), que ora está no M´Puto, ora está em Angola, em África, ora está na Pajuçara do Brasil lambendo as águas como quem lambe o tempo; é o caso de agora, da minha, nossa “hora extra” da vida. Com o tecto do sótão a se dismilinguir, renovo a testa e o mataco com pomadas anti fungos, desoxidando tubos com Cabernet Sauvignon - "a rainha das uvas tintas" feito de uva de vinho no rio da integração brasileira e conhecido ternamente como Velho Xico, no lugar de Petrolina.

Mas, quanto a cortiços – lugar de gente, lugar de residência, de segmentos da população livre, libertos, emigrantes de origem europeia, maioritariamente portugueses e italianos, sobretudo em Rio de janeiro, de negros e mestiços. Assim, os cortiços, constituíram o espaço fundamental para a construção de laços de solidariedade, ancorados nas tradições socioculturais comuns ou de proximidade. Coisas que pude presenciar…

aaa3.jpg Com a experiência dos brancos gwetas da astucia dos rufias, da rusticidade dos matutos ou mamelucos tornando-os pardos com a superstição dos africanos de N´Gola e Minas. Casos houve, de serem locais de excelência para esconderijos a perseguidos da justiça, ladrões, estropadores, marginais na generalidade e gente vivendo de expedientes, namoricos de horas altas com proxenetas e profissionais na arte antiga do sexo.

Neste período Imperial brasileiro, sobretudo a partir de 1870 e, quando os sinais de mudança no universo do trabalho já despontava na sociedade brasileira. Os cortiços seriam seriamente condenados com a prática republicana. Hoje, que estamos no fim do primeiro quarto do século XXI, ano de 2023, existem os mesmos problemas mas mais agravados pelas técnicas de Inteligência Artificial com a luta permanente pela segurança.

picasso3.jpg Pelo uso de celulares que nos dizem por onde andar, do conhecimento ao segundo do lugar, do semblante reflectido no ecrã, leitura labial, das rugas analogicamente decifradas da pessoa, algures em um dissimulado ponto do Globo, da colagem em algures, nossa etiqueta de ADN digital. Bem!

Mas e, nos cortiços com abastança ou carência de notícias há união e fraternidade na dose certa, uma característica quase única no mundo; em nenhum outro lado pude verificar esta postura, um facto da razão porque ninguém se esquece desse viver, daqueles aromas tão próprios. Pois existem hoje os problemas com abuso e, que levam a existir técnicas especiais de propaganda política com ou sem a actuação policial…

Por vezes, vivenciamos pela televisão acções filtradas de agentes de alto coturno virando a controvérsia no uso da dialéctica nas “rebaldarias” que confundem as gentes que votam, sem saber se há mesmo um ministério da verdade que prolifera mentiras e um ministério da paz que mostra filas de carros armados, helicópteros com infravermelhos e até com misseis de sofisticadas estruturas para furar o aço e as quatro ou mais linhas constitucionais.

dia97.jpg Gente do crime, gente da droga, estados de narcotráfico, caminhos livres, soltura de uns maus e prisão duns bons, putaria e pacotes de cheiro forte que viciam; muito dinheiro a correr com apostas oficiais no jogo do bicho, mentirosos cartões amarelos a jogadores que alteram as sortes e azar num jogo que ainda não existiam no tempo em que Aluízio de Azevedo de São Luís do Maranhão descreveu em seu livro, com este nome abelhudo. As coisas agora estão tão mal que só podem ficar pior… Faz parte da Guerra Global – Um Deusnosacuda, assim mesmo, tudojunto.

FIM  

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:41
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Sábado, 13 de Maio de 2023
N´GUZU - LII

CONHECER MELHOR O BRASIL – CORTIÇOS

Parte - Crónica 3392 – 13.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por lagar2.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

cortiço01.jpg Nos cortiços dos puxadinhos, era comum haver mutirões (voluntários ajudando) para fazer esses puxadinhos de varandas e espaço para mais um filho, fazer gatos de luz sem contador nem gastos adicionais, a amizade fabricava-se como família, havia trocas e baldrocas entre eles, permutava-se para além do feijão, a alegria e tristeza quando era necessário recorrer à solidariedade.

A água escassa, era armazenada em caixas redondas e azuis no topo e bem junto à antena da emissora da rádio (nos anos mais recentes). Havia calor humano à mistura com zumbidos, cheiros partilhados e zangas repartidas; havia namoros farfalhados e ensaios para o carnaval com a marchinha cantada no banheiro, raivas deslizantes untadas a boato e de deitar fora aparafusando uma profusão de gambiarras, uma geringonça com muitos estralhos e desaforos. O beija flor aparecia com encanto nas manhãs de sempre.

cortiço4.jpg Também havia vasos com avencas, samambaia e pé de goiabeira nascida só átoa porque Deus é grande. Acho até que vivia ali! Também havia uma orquídea alimentando-se do ar húmido. Havia redes colgadas zoando um agudo persistente, um raspar de olhal de baloiço, a zoada do relato de futebol com aqueles golos de espantar pardais, goooooolo. Mais vasos na beirada do terraço com coentros, salsa, doutor e doutorzinho.

Um feijão-maluco que trepava por qualquer lado fazendo comichão ao toque e acasalando com o feijão de corda e até chá caxinde ou capim doce ou cidreira, para fazer o chá da tarde a juntar a dona Alzira e a dona Josefa; Isso! Que contando novidades daquela outra que roubava descaradamente o marido da outra, outra! Línguas de trapo, visse!

roxo223.jpg Um forrobodó giro como dizem os Tugas recém-chegados, os caramurus excêntricos fumando erva do diabo, tranças de tabaco de cheiro forte, de efeito forte, droga pela certa. Queixas de um vizinho que anda a fazer uma máquina de avoar, faz chinelos, faz vassouras com uma máquina inventada por ele mesmo e, arranja sapatos na hora. Bem! Um outro fazia química de onde saiam cheiros fortes para limpar chão, sanitas e espantar bichezas rastejantes mais calangos das paredes sem reboco ou encrespadas de ranhuras com plantinhas a nascer.

Em principios de 1870, o termo cortiço, adquiriu um sentido cada vez mais estigmatizado das habitações colectivas servindo para dar nome de enfase aos defensores do higienismo. Modernamente, temos os condomínios, as vilas muradas, os alojamentos locais e hoteleiros com regras bem definidas, uma outra coisa com cheiros caos e mais diferentes!

olinda2.jpg Mas, voltando ao ano de 1873, foi feito um edital em Dezembro que proibia expressamente a construção de cortiços nas áreas centrais de Rio de Janeiro e São Paulo. As controvérsias em torno dos critérios desta tipologia de construção e habitação tornaram-se confusos, pelo que fortalecia os interesses dos pequenos e médios investidores, que controlavam a exploração daqueles.

Associados às epidemias, à malandragem, promiscuidade e desordem social, as habitações populares de um modo geral e, em particular os cortiços passaram a constituir o lugar privilegiado para a identificação entre classes pobres e classes perigosas, bem à semelhança do que sucede hoje na favela brasileira, musseques de Angola ou bairros de lata da Amadora, cidade cercana a Lisboa em Portugal…

(Continua…)

 O Soba T´Chingange

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PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:54
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Quinta-feira, 11 de Maio de 2023
N´GUZU - LI

CONHECER MELHOR O BRASIL – CORTIÇOS

Parte - Crónica 3390 – 11.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por ARAUJO259.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

ARAUJO255.jpgC.A. CORTIÇOS – Era como se chamava às habitações colectivas que de forma desordenada faziam um conjunto de casebres, aonde viviam os segmentos mais pobres da população, sobretudo nos aglomerados existentes no centro do Rio de Janeiro a partir de meados do século XIX. Num cortiço de abelhas, havia melhor organização! Nesta época o aumento populacional vinha-se incrementando desde 1808 com a chegada da Corte portuguesa tornando-se cada vez mais expressiva, pela ampliação crescente dos fluxos migratórios, sobretudo de portugueses e italianos.

Emigrantes portugueses que na metrópole, já faziam trabalhos para os senhores do reino, em trabalhos auxiliardes como costureiras, padeiros, cozinheiras e condutores de coches ou cuidadores de animais domésticos dos nobres. Eram os chamados condomínios de hoje só que, sem as condições de boa habitualidade pois que nem havia os instrumentos de lei, nem humanos, para tal; tudo era feito ao jeito e necessidade de cada um, puxadinhos anexos, desenrasca com os materiais mais díspares, normalmente mais económicos.

cortiço2.jpg Já no século XX, pude vivenciar em jovem, esta forma de trabalhadores sem formação especial, que assim viviam na Luanda em expansão, do outro lado do Atlântico, a capital de Angola e, que em tudo se parecia com o Brasil. Mais tarde também verifiquei haver cortiços em Argentina em um lugar conhecido por “Barrio el Caminito” junto ao porto de Buenos Aires. Todo colorido, alegre, com construções diferentes e inusitadas. Antigo lugar de bodegas aonde se dançava o tango na gesta italiana. Em todas estas áreas de cortiço viviam imigrantes analfabetos. Ser-se pedreiro, calceteiro ou marceneiro era já de um razoável estatuto social.

Mesmo com a tendência à diminuição do número de escravos por motivo da extinção do tráfico africano, ano de 1850, apesar da crescente ampliação na estrutura urbana, mantendo ainda, as oportunidades de emprego reduzidas; isto, agravava as condições de vida da maior parte da população. Para álem das dificuldades no acesso à alimentação, o problema habitacional tornava-se cada vez mais grave. O relatório do Ministro dos Negócios do Império relativos a 1868, registou a presença de 642 cortiços na cidade do Rio de Janeiro distribuídos por várias paróquias sendo a de Santana a que tinha maior número delas, 154 almas, seguida da Glória com 107,

cortiço0.jpgHavia muitas mais em várias paroquias que funcionavam em paralelo com estalagens ou cómodos, casas de pasto e barracas de livres, libertos pobres e também escravos ao ganho, que vendiam seu trabalho como carregadores, recolectores, artesãos, ambulantes camelós, ficando obrigados a pagar por percentual ao seu proprietário ao qual haviam obtido de seus senhores a autorização de “viverem sobre si”- fora do tecto de seus senhores.

Em realidade ainda hoje existem estes tipos de cortiços na maior parte das cidades e de Norte a Sul, estando a maioria incridos em favelas ou musseques ou bairros de lata e bidonvilles - (Brasil e Angola, Portugal e França), aonde os camelós entre outros trabalhadores como empregados de baixas tarefas, vivem; lugar bem perto das grandes urbes como São Paulo ou Rio de Janeiro ou uma qualquer outra cidade aonde vivem outros cidadãos mais cotados e recebendo melhores vencimentos mas, necessitados de alguém para as várias tarefas domésticas.

cortiço01.jpg Na Europa há nos dias de hoje cortiços sofisticados para turistas designados de AL – Alojamento Local e AT – Alojamento turístico. Tudo adaptado às normas de vida moderna com exigente regulamentação com fiscalização de organismos estatais ou municipais que dão garantias de segurança tendo para o efeito passado por um crivo apetado de normas como sistemas de aquecimento, águas correntes e esgotos, protecção contra ruidos e efeito térmico funcional e, segundo normas de higiene e segurança com piscinas colectivas individuais ou colectivas vigiadas; tudo sujeito a impostos de imoveis entre outras alcavalas que garantem o andamento das muitas actividades circunscritas ao efeito do turismo.

cortiço3.jpg Os governos sempre encontram uma pernafernália de instrumentos para no fim do ano levarem à vontade 50% dos eventuais ganhos; os políticos sempre se encarregam de juntar mais uma vírgula com cheiro a dinheiro vivo. Mas no Cortiço original que surgiu no Brasil, não tendo nesse então uma esmerada atenção por parte do fisco, havia contacto entre vizinhos, entreajuda com solidariedade que hoje é bem rara. Raras porque, em blocos de habitação da urbe, nem se cumprimentam; fogem de contactos encharcados na televisão. Passam-se anos sem se relacionarem ou com uma saudação de bom dia e edecéteras arrancados à pressão…

(Continua…)

O Soba T´Chingange     



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:50
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Sábado, 29 de Abril de 2023
N´GUZU - XLVIII

CONHECER MELHOR O BRASIL – ALFORRIA  

1ª Parte - Crónica 3379 - N´Guzu é força (Kimbundo) – 29.04.2023

Por araujo175.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

arau44.jpg Ao longo do século XIX, no Brasil, várias foram as diligências buscadas pelos escravos para conseguir sua liberdade. Muitos tentaram a fuga refugiando-se em quilombos. O sonho da liberdade não se desvanecia, contudo a fuga do engenho, seu normal lugar de trabalho, só era possível em direcção ao agreste e depois sertão. Quase sempre os escravos fujões, voltavam ao engenho, normalmente ao fim de alguns dias, debilitados e até feridos pelas dentadas dos cães de fila que acompanhavam o guardas nas buscas. Vinham carregados de ferros!

Regressados ao engenho, eram submetidos a castigos no tronco. Eram chicoteados e por vezes ou quase sempre era-lhes aplicado um ferro em brasa na cara gravando-lhes um “F” de fugitivo. Os que não regressavam eram possivelmente capturados pelos índios selvagens e, nalguns casos, certamente comidos. Todos eles se interrogavam por muitas vezes sobre qual seria a situação do seu reino do outro lado da kalunga. Sempre que chegavam novos escravos ao engenho, procuravam saber por eles, notícias da Matamba, do seu Kongo de N´Dongo.

arau4.jpg Mas, nem sempre obtinham os resultados desejados, pois que ou eram de Minas, gente do Zaire, Benim ou Muçulmanos e, muito raramente da sua etnia. Assim, metidos num atoleiro aparecia o capataz, um encorpado mulato mazombo que por via deste empate e quebra no rendimento, logo o ameaçava levar ao pelourinho, o tal tronco das calamidades. Alguns até obtinham sucesso, escondendo-se nas cidades; outros participavam em rebeliões e alguns optavam por saídas mais drásticas assassinando senhores, feitores ou cometendo seu suicídio.

Mas, um grande número obteve a liberdade pela via institucional, por meio de formas de libertação previstas em lei legitimadas pela sociedade que geria as alforrias. Assim como no período Colonial, antes de 1822, ano do início do Brasil Imperial, os veículos legais de alforria eram a “carta de liberdade ou alforria”, registada em cartório, o registo de baptismo em que o senhor libertava a criança, a denominada “alforria na pia”, a disposição testamentária do senhor ou de um seu representante legal  ou por procuração.

quilombo2.jpg A alforria poderia ser de dois tipos: a gratuita ou a incondicional. Nesta última, quando o senhor dono dava a seu escravo carta de liberdade que doravante, como se dizia então e, que passava a dispor de si e do seu tempo como bem entendesse; também da compra da alforria, quando escravos ou terceiros interessados em sua liberdade, pagavam determinada quantia aos senhores pela troca; da restrição em que se condiciona ao escravo um tempo determinado para trabalhar por sua conta e assim, perfazer o valor previamente estipulado.

A alforria condicional, pressupunha a prestação de serviço ao senhor por tempo alternado ou até à morte deste. Um dos problemas causados pela concessão desses dois últimos tipos de alforria, era a definição jurídica dos filhos das mulheres libertadas condicionalmente ou, pela coarctação, pois havia os que entendiam que elas ficavam livres, desde que se estabelecessem condições para a liberdade, enquanto outros, defendiam que as mulheres só ficariam libertas de facto e, com elas o seu ventre ao receber sua carta de alforria.

arau155.jpg Teoricamente, todas as alforrias podiam ser revogadas caso houvesse ingratidão, por parte dos escravos, possibilidade que se foi tornando remota ao longo do tempo e, não mais admitida a partir do ano de 1860. Para além dessas alforrias concedidas de comum acordo entre o senhor e o escravo, havia outra cuja libertação era concedida contra a vontade do senhor.

Em primeiro lugar, a liberdade obtida por meio de acções judiciais quando os escravos procuravam a justiça reclamando escravidões ilegais, ou argumentar que seus senhores haviam descumprido acordos previamente estabelecidos. Em segundo lugar, as alforrias mediante serviços militares, nas quais escravos fujões, procuravam o exército  A fim de servir como soldados e, assim conseguir a tão almejada carta de alforria ou pelo simples recrutamento para as fileiras por via de guerras em curso. Esta prática da instituição militar foi exercida na Guerra do Paraguai.

(Continua…)

O Soba T´Chingange       



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:50
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Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
MOAMBA . LIII

MORAL DE HOJE – O FALSO, O VERDADEIRO E OS CACOS

Crónica 3372 - a 19.04.2023 na Pajuçara de Maceió

Pornoé001.jpgT'Chingange – Otchingandji 

noé3.jpgNa história breve da humanidade escrita por Yuval Harari, é referido que a presença de um osso humano, uma ponta de lança quebrada ou um caco de louça partida ocupam o centro do palco das extinções de muito animais. Diz que em Madagáscar, como exemplo, as aves elefantes, lémures gigantes e todos os outros animais de grande porte desapareceram de súbito há cerca de 1 500 anos, tempo coincidente com a chegada dos primeiros humanos à ilha.

Que por esse tempo quando agricultores se instalaram na ilha de Salomão, na Indonésia, nas ilhas Fidji e na Nova Caledónia, levaram à extinção directa ou indirectamente centenas de espécies de pássaros, insectos, caracóis entre outros animais nativos. Nos dias de hoje e em pleno Algarve do M´Puto, seguindo esta lógica de raciocínio, em que o homem surge como o maior predador do mundo, irá na certa extinguir esses pequenos gastrópodes. E, antes que isto aconteça lembra-se que os caracóis são essencialmente herbívoros pois comem verduras como a couve e a alface (uma praga).

arau155.jpg Esse camarão dos pobres, comem frutos carnosos como a melancia, banana e maçã e ração rica em cálcio. São animais de hábitos nocturnos e vorazes, pois comem uma grande quantidade de alimentos. Essa voracidade está directamente relacionada ao clima e às estações do ano; não se alimentam por vários dias em clima seco e quente sem chuva mas, consomem diariamente cerca de 40% de seu peso nos dias frescos. Fazem-nos tantos estragos nas hortas que merecem ser comidos e regados para vingança de tanto desaforo. Na vila de Porches do Algarve, todos os fins de verão se faz o já muito conhecido “Festival do Caracol”. Este ano de 2023, em fins de Julho, far-se-á o 29º festival.

Caracóis e caracoletas, por este andar, serão lembrados como uns vagarosos e estranhos bichos metidos numa concha e assim serão lembrados, como se comiam com edecéteras antropológicos. Eles, os antropólogos, estudarão ao detalhe, esses fosseis amontoados num torrão de argila quase petrificada e, tendo ao lado cacos de grandes garrafas conhecidas por garrafão que em tempos idos tiveram vinho de uva pela análise das grainhas da uva parreira, tintureira caramujeira.

noé003.jpg Deduzirão pela pesquiza, uso da escova e espátula serem aquelas cascas de santola, de lagosta e até um dístico ainda legível nos cacos de vidro, garrafa branca com o nome de “Casal Garcia” entre muita ferrugem a ser verificada pelo teste de carbono. Era uma farturinha, dirão os técnicos. Ao invés destas descobertas, lá longe num ilha chamada de Gomera, dirão ter havido ali grande penúria por não haver utensílios de cobre ou ferro pois descobriram que ali usavam cornos de cabra para lavrarem as terras. Uma ilha misteriosa com giestas de sete metros de altura.

E, Laurissilva, da família das lauráceas e endémico da Macaronésia, região formada pelos arquipélagos que para além das Canárias as há também na Madeira, Açores, e Cabo Verde. Irão dizer que nós e outros ainda mais antepassados, vivíamos em harmonia com a natureza, antes duma tal de Revolução Industrial e uma outra de atómica. Pois se hoje detemos a duvidosa intuição de sermos a espécie mais mortífera nos anais da biologia, amanhã tudo pode mudar.

noé002.jpg Dividirão o tempo em vagas de homo-sapiens, no AC – antes de Cristo e do AC – depois de Cristo e, as vagas serão tantas que relembrarão também a era do plástico, do macro plástico pois que encontrarão em nosso sangue pequenas partículas desse produto, tanto nas pessoas como nos peixes e até encrustados em troncos de árvores que retorceram sua resistência uma nova matéria que tanto se vulgarizou no período das guerras usando canhões de ferro com ligas e volfrâmio e outros materiais de dar dureza e elasticidade a estes.

Concluir-se que tendo havido vários dilúvios e guerras de uso com material atómico, mais outros raros minérios como nióbio, o lítio e muitos mais como o cério, disprósio, érbio, europium, gadolínio, holmium, lantânio, lutetium, neodímio, praseodímio, proménio, samarium, terbium, thulium, ytterbium, ítrio e escandium. Tantos e diversos a serem traficados a preço de sangue em países que desconhecem que já não existe o planeta Plutão. Nesta altura dos acontecimentos desconhece-se se as vindouras vagas serão de AP – após Putin a recordar, a outra anterior de AP – antes Putin, sem haver menção por parte dos Putinologos de uma outra arca – a de Noé nº 2 …

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:31
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Terça-feira, 18 de Abril de 2023
VIAGENS . 9

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “SONHAJANDO A VIDA”

Crónica 3371 – 18.04.2023 - PAJUÇARA - Em Maceió como Zelador-Mor do Zumbi de N´Gola…

Poraraujo189.jpgT´Chingange (Otchingandji) – No San Lorenzo da Ponta Verde.

sorte1.jpg Li recentemente algures, que os estados independentes no mundo andavam espantosamente desinteressados da guerra. E, que com poucas excepções, desde fins de 1945, que os estados já não invadiam outros estados para os conquistar e engolir. Pude ler a teoria de que após formação dos impérios, a maior parte dos soberanos e das populações, esperavam de que as coisas ficassem assim. Vasculhando a história, já não haveria lugar para campanhas de conquista como as dos Romanos, dos Mongóis ou dos Otomanos não podendo ocorrer nos dias de hoje e, em qualquer parte do globo.

Mais se afirmava que desde 1945, há quase 78 anos, ano de meu nacimento, nenhum país independente e reconhecido pela ONU, tinha sido conquistado e arrasado do mapa. Com o raciocínio desejável, lembro que nos meus tempos de estudante dizia-se que a lógica era uma batata e, foi com essa dúvida que fiz um rádio galena a partir de uma batata cortada ao meio, uns quantos fios e uns auscultadores e um condensador. E, deu música!

tonito18.jpg O certo é que a batata forneceu energia enviando para o espaço ondas electromagnéticas dessa suposta lógica. Tudo se aperfeiçoou no tempo e com tal velocidade que este embrião de galena parece até estar a anos-luz da realidade. E, o impossível aconteceu no meio da apatia generalizada ver a Rússia da Ex-URSS invadir e tomar vários países já independentes dos quais o último, a Ucrânia a 24 de Fevereiro do ano 2022.

Estou a tentar encasquilhar refutações sofísticas que dependem da linguagem usada, que podemos chamar de "sofismas linguísticos" ou refutações sofísticas que não dependem da linguagem extralinguística (palavrório) usadas por líderes de países de cariz esquerdista dos quais uma grande parte nem é democrática, nem foram escolhidos por seu povo.

Nem foram escolhidos por seu povo - usurparam, simplesmente! Isso sim e, de formas variadas omaram o poder e, aos quais se junta agora o pseudo Estadista Lula que nem sabe que uma batata pode dar musica. Para além da Crimeia, Moscovo declara que as regiões ucranianas de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, em grande parte ou parcialmente ocupadas por forças russas invasoras ou apoiadas pela Rússia e, que fazem parte da Ucrânia. E, tudo se fez com um suposto referendo à velocidade da luz. E, como são mentirosos! “As pessoas fizeram sua escolha clara”, disse Putin, numa sexta-feira. Podia até ser numa oitava-feira. “A escolha das pessoas para fazer parte da Rússia está predicada na história”, acrescentou o dito cujo.

toledo20.jpg Os votos nos referendos são ilegais sob a lei internacional e foram rejeitados pela Ucrânia e nações Ocidentais como “uma farsa”. E agora, Lula junta-se a Daniel Ortega, Maduro e Evo Morales entre outros que nem sabem como fazer musica com uma batata. E, imaginem até, querer inventar uma outra ONU, porque esta já está desbotada, kiákiíkiá! Mas que grande pancada! Desde quando é que este personagem de só se ter respeito institucional, se julga estadista se, se nem sabe que de uma batata pode sair musica…  

Putin altera o destino de milhões nestes falsos novos países. Lealdade a Kiev ou a Moscovo, colaborar ou resistir: para os habitantes locais, uma escolha dramática. E, não é que o ditador Putin diz: "Para mim o importante, não são fronteiras e territórios estatais, mas o destino dos seres humanos." Quanta hipocrisia minha nossa senhora do Parto. Pois foi o que Vladimir Putin, disse a uma entrevista ao jornal alemão Bild, em Janeiro de 2016. Na época, tratava-se da anexação da península da Crimeia. Na época todo o mundo meteu a viola no saco ocasionando a invasão a Ucrânia quatro anos depois…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:14
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Sábado, 15 de Abril de 2023
N´GUZU - XLIV

CONHECER MELHOR O BRASIL – QUEM ERAM OS AFRICANOS

3ª Parte - Crónica 3368 - N´Guzu é força (Kimbundo) – 15.04.2023

Por Tescravatura5.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

preto2.jpg Os escravos oriundos de Moçambique eram reconhecidos no Rio de Janeiro na primeira metade do século XIX como “Moçambiques, Quelimanes ou Inhambanes”, nomes que reflectem as três maiores regiões de escravidão na África Oriental nesse século XIX. Por via dessas procedências, esses escravos de diferentes origens eram identificados por nomes de Nações. Por esta narrativa pode concluir-se que os territórios coloniais portugueses em África seriam fundamentalmente como os armazéns de “mão-de-obra” barata com destino para a América do Sul, Central e do Norte.

Na América do Sul estas “peças”, como eram chamados aos escravos, iam trabalhar nos engenhos de açúcar, roças de café, roças de cacau e outras tarefas de auxílio às variadas tarefas de manutenção menos presadas pelos feitores ou trabalhadores não escravos, indígenas ou crioulos. Para a América Central iam também ser utilizados no plantio e manuseamento da cana-de-açúcar e, ou cacau e na América do Norte, era mais focalizada para o trabalho em campos produtores de algodão ou servirem de mocambos (criados) em serviços auxiliar.

preto3.jpg África, especialmente as colónias de domínio português como Angola, só foram olhadas como verdadeira terra e gerida como território administrativo com as instituições de poder, a partir do primeiro quarto do século XIX. Das colonias portuguesas, todos eram falantes de língua banto e no caso dos saídos das regiões Congo-Angola, estavam historicamente em contacto com o cristianismo; De recordar que todas as caravelas idas do reino da Metrópole, chegavam na senda do povoamento, levando sempre padres do Clero ou Missionários da Igreja Católica Romana e ordens adstritas de Roma, com a finalidade de propagarem a fé. Era aliás a função principal requerida pelo plenipotenciário Papa de Roma.

Quanto valia um escravo? Não se sabe ao certo, mas diz-se que o preço era feito de acordo com os negociantes. Quem vendia? Os comandantes militarem, negociantes negreiros como a Dona Ana, administradores, o próprio governador, que tinha tropas e a própria igreja. Em 1846, o Brasil conseguiu o 1º orçamento super da gestão do Império. É a partir destes dados oficiais que poderemos tirar alguma conclusão. Nessa época, uma saca de café era comprada por 12 mil-réis e um escravo comum era cotado a 350 mil-réis. Portanto um escravo valia em média entre vinte a trinta sacas de café.

preto4.jpg Os escravos que eram hábeis em carpintaria, fundição maquinista etc., valiam 715 mil-réis - o dobro. E, porque Loanda de então era uma cidade esclavagista, muito do negócio corria com essa dinâmica o que, levou muitos sectores da sociedade a dizer no após abolição da escravatura: “Vamos viver do quê, se não produzimos nada?” Em realidade não havia um projecto de governo ou administração com pernas para andar porque, não estava em causa, o reino impulsionar seu desenvolvimento.  

Corria um quente e grosseiro zunzum de feira nas Portas do Mar em frete à alfândega da Luua (Loanda). Os Talatonas por ordem dos padres e negreiros geriam os cipaios no comércio dos escravos em currais ou cercas na área das Ingombotas e Maculussu esperando pelo embarque para o chamado Novo Mundo da Kalunga. Ao redor da lagoa do Kinaxixe que abastecia de água potável a então pequena cidade de Loanda era frequente aparecerem leões e onças para beberem ou darem caça a manadas de antílopes…

angola ginga.jpg Pode tentar imaginar-se a quitandeira, balaio na cabeça, rebolando os grossos quadris trémulos e também o quitandeiro cochilando sua preguiça morrinhenta entre casas cobertas a colmo, feitas de ripas cruzadas entaipadas com argila vermelha com tamarindos nos quintais contornados com aduelas… Pela Igreja do Carmo passaram milhares de escravos, muitos vindos do interior. A relação da Igreja Católica com a escravatura era comercial - “a Igreja também precisava de escravos para permutar” - em toda a parte, houve esta ligação fatal. O próprio Vaticano queria fazer evangelização utilizando os escravos, como cristãos - era um dos meios.

Também os caixeiros vestidos de caqui, sarja ou zuarte em tom branco ou creme com manchas de suor nos sovacos e usando chapéus de aba larga em palha bem sebeirosos, agitavam-se na conferência de preços, separando os fracos dos fortes com os musculados de mais-valia. Os correctores de escravos examinando à plena luz do sol os negros que ali estavam para ser vendidos; revistavam-lhes os dentes, os pés e as virilhas; faziam-lhes perguntas sobre perguntas; batiam-lhe com a biqueira do chapéu nos ombros e nas coxas, experimentando-lhes o vigor da musculatura, como se estivessem a comprar cavalos. Não há outra suave maneira de descrever atrocidades.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:32
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Sexta-feira, 7 de Abril de 2023
N´GUZU - XLII

CONHECER MELHOR O BRASIL – QUEM ERAM OS AFRICANOS

1ª Parte - Crónica 3362 - N´Guzu é força (Kimbundo) – 07.04.2023

Porsoba50.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

kilo01.jpg AFRICANOS. No Brasil, a escravidão foi sempre marcada por uma intensa dependência do tráfico atlântico caracterizando-se mais do que em qualquer outra sociedade esclavagista das américas, fundamentalmente africana. Não obstante, gente, homens e mulheres trazidos de África para o Brasil como escravos, possuírem varias origens linguísticas, étnicas ou religiosas e, não raro o eram inimigos no próprio lugar de onde foram desgarrados. Eles, nem sabiam ou se reconheciam como africanos por dali serem originários.

No período colonial, esses africanos eram identificados pela região ou porto aonde teriam embarcado. Surgem assim, africanos de Minas, do Congo, de N´Gola, da Matamba, de Benguela, Guiné ou Moçambique. A designação por procedência foi assumida por eles mesmos, enraizados num conceito de “guarda-chuva”; preservavam isso, para assim se identificarem, permitindo a novas levas de gente chegada, organizar-se de uma forma mais eficiente no relacionamento entre eles e, os outros.

araujo158.jpg Nesse comportamento, a história esclavagista, regista a existência de nítidas fronteiras entre os escravos no Brasil formando verdadeiras nações e, muitas vezes organizadas assim separadamente, mais por contexto de irmandades religiosas. Como exemplo os escravos de Luanda de N´Gola entendiam-se no dialecto kimbundo, alguns originários do N´Zaire, falavam em kioco, enquanto os de Benguela usavam o dialecto umbundo mas tinham por comum a base bantu, como por exemplo seu deus era designado por todos, de N´Zambi.

Nas primeiras décadas do Brasil monárquico eram nítidas as divisões entre os oriundos da Costa Ocidental de África chamados genericamente de Minas mas, também designados como Jejes, Bancás e Nagôs. As muitas nações provenientes da região do Congo, Guiné e N´Gola ou N´Zaire, Lândana e Matamba com gente Imbinda ou cabindas, de Rebolo Cassange ou Benguela reuniam-se sob a denominação genérica de “Os Angolas”. Aos nascidos no Brasil chamavam-nos de crioulos, não deixando de ser diferentes dos demais e, eram designados igualmente de “Africanos”. E, foi no contexto das lutas pela independência e afirmação monárquica brasileira que, pela primeira vez a tradicional oposição entre recém-chegados do tráfico e os crioulos se apresentaria de feição mais geral, nos assumidos conteúdos políticos.

louva3.jpg Nesta descrição, o Brasil apresenta-se em três distintas épocas a saber: a da colonização brasileira; a da época do Brasil Monárquico e a Monarquia Imperial com sede na capital em Rio-de-Janeiro, reino alargado de Portugal, Algarves e terras Ultramarinas em África e Oriente com a Índia de Goa, Damão e Dio e Timor, na Indonésia. As primeiras décadas do Brasil Monárquico foram marcadas por um “boom” de produção agrícola por via do tráfico negreiro. Nesta data, na capital da Colonia de Angola, havia um edifício chamado de Palácio de Dona Ana, pertença de Joaquina dos Santos Silva, a negreira (mestiça), que teve a maior relevância na sociedade luandina ou camundonga.

ana2.jpg Esta ilustre senhora de então, chegou a ter um quintalão em frente à escadaria do Palácio por onde passaram milhares de escravos endereçados para Porto de Galinhas em Recife. Os cálculos da Atlantic Slave Trade dizem que entre 1501 e 1866, aproximadamente 5,7 milhões de escravos saíram dos portos de áfrica para as américas. No Brasil, os pregoeiros iam às roças anunciar que tinham chegado galinhas ao porto. Era uma forma de enganar as autoridades do reino perpetuando a venda de gente depois de 1850 – ano final da proibição. E, é por este motivo que Porto Galinhas, um lugar de veraneio brasileiro é assim chamado. Dona Isabel sancionou a Lei Áurea, na sua terceira e última regência, estando o Imperador D. Pedro II em viagem ao exterior, às três horas da tarde do dia 13 de Maio de 1888.

No início do século XIX, delinearam-se duas grandes áreas de comércio negreiro para o Brasil destacando-se as rotas entre os traficantes baianas e, o reino de Daomé na Costa Ocidental da África, e as dos traficantes de Angola e do Rio-de-Janeiro e Recife com a África Central-Ocidental e a chamada contracosta de Moçambique. Nas áreas açucareiras do Recôncavo Baiano entre os fins do século XVIII e as primeiras décadas do XIX, a rasão de africanidade das populações dos engenhos era de dois para um, raramente somando menos de 60% do conjunto da escravaria. Nas primeiras décadas, já no período Imperial, com o tráfico ilegal, os falantes de língua banto alcançaram até os 90% da escravaria das fazendas de café da região, às vésperas da extinção definitiva ao tráfico atlântico, em 1888.

(Continua…)

O Soba T´Chingange  

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:58
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Quinta-feira, 30 de Março de 2023
KAZUMBI DE BORUNDANGA . XIV

O Mundo actual tornou-se um espaço muito complicadoM´PUTO A CAMINHA DA RECESSÃO

Crónica 3357 - a 29.03.2023 – De cada 100 euros de PIB, 40% vão para o estado.

 Por t´chingange 0.jpgT'Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió (Nordeste do Brasil)

A capacidade do homem criar uma realidade imaginada a partir da palavra, permite que grande quantidade de estranhos coopere de forma eficaz. Não obstante há casos em que se baseiam em mitos e elas, as estórias sem agá, surgem diferentes conforme mudam as narrativas de realidade independente, que evolui com as condições históricas ou étnicas de uma dada cultura, demonstrando por acção ou modo, a forma de ser das personagens…

macuta 1.jpg Desde a Revolução Francesa que o homem se passou a rever conforme as alterações de suas necessidades; o mito dos reis com destino divino passou para o mito ou crença da democracia, com soberania do povo – 0 povo é quem mais ordena! Coisa linda noé? Recorde-se esse então das Tulherias: Dia 10 de Agosto de 1792, os parisienses, liderados por um grupo de revolucionários conhecidos como sans-culottes (gente que não utilizava um tipo de calça curta típica do vestuário dos nobres e burgueses e, que tinham boa vida…), tomaram o palácio das Tulherias, onde vivia a família real. Nesse momento, a monarquia francesa acabava de vez, dando lugar à república, proclamada no dia 21 de Setembro desse ano.

Bom! Agora, tudo está mudando e, muito rápidamente porque usam e abusam da mentira para nos alterar o azimute e, perder assim o norte da vida. E, ao contrário da mentira, uma realidade imaginada, algo em que quase todos acreditam. Essa crença colectiva, persistindo, faz com que exerça força sobre a nação ou o mundo. Vamos por aí – andamos todos enganados.

silas3.jpg Com o envelhecimento e sequente estagnação social, dá para ver que em Paris as ruas estão cheias de manifestantes reclamando da idade de aposentadoria de 62, passar para os 64 anos. Esses manifestantes devem saber que o problema é biológico e a demografia exige que se façam actualizações na matemática de equilíbrio das contas da sustentabilidade; duvido que possam alterar a estória como o foi em 1792 quando assaltaram as Tulherias.

A imensa diversidade de realidades imaginadas, leva os homens a inventarem origem de diversidade nos padrões de comportamento, ocasionando serem os principais componentes da base que conhecemos por “cultura” e a sequente estória com agá (história). 

abac1.jpg Hoje os franceses travam nas praças públicas indícios de uma nova revolução; de novo tentam alterar os mitos  usando novos conhecimentos  com novas verdades que tudo indica não vir a se possível. Tomar em conta que actualmente em Portugal a idade de reforma está nos 67 anos e mais uns pozinhos, mantendo uma diferença de 5 anos e mais qualquer coisa…

Será que isto vai ser possível e que vai ser escrito um novo capitulo nesta turbulência quando a idade média de vida subiu para próximo dos oitenta anos. Veremos um outro lado da cortina, se os políticos de lá têm outros reposteiros? Se assim for, como se justifica esta moleza, frouxidão do homem Tuga que tudo aceita sem virar a mesa de pantanas!?

adiafa1.jpeg Tudo está ficando muito igual no trato da mentira e desta vez os mitos ficam na sacola, amarfanhados. Até nos mitos somos verdadeiramente pobres. O mito “socialista” do M´Puto fica no saco misturado com o novo coiso chamado de “Marcelo” – uma verdadeira tragédia, Os países de língua dos PALOP`s estão cheios destes mitos: em Angola temos o mito da “gasosa”, no Brasil o mito dos “sem terra” em conjunção com o “molusco”

-Vive la France ---

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:42
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Terça-feira, 21 de Fevereiro de 2023
KAZUMBI DE BORUNDANGA . XII

O Mundo actual tornou-se um espaço muito complicado…

Crónica 3351 - a 21.02.2023. Dia de ENTRUDO

Por soba50.jpgT'Chingange (Otchingandji) no AlGharb do M´Puto

araujo58.jpg O Mundo actual tornou-se um espaço muito complicado; muito mais que um jogo de xadrez e, a racionalidade humana não consegue entender na perfeição. A estupidez humana tornou-se numa das forças mais importantes na hodierna história mas, todos tendem a desvalorizá-la: a estupidez! Vários líderes do Globo, frequentemente acabam por fazer coisas estupidas ou ridiculamente impensáveis.

E, todos estamos errados em pensar que não irá existir um líder suficientemente louco a pontos de provocar uma guerra de âmbito mundial. Mesmo que uma guerra seja catastrófica para todos nós, não haverá Deus nem lei da natureza que nos proteja da estupidez humana. Sempre se salientará a falta de humildade a esses líderes; a arrogância só piorará pondo o seu interesse à frente da dos outros e, sempre irão entender que a sua cultura, religião ou estória, terá o factor de querer fazer girar o Mundo à sua volta.

Os norte-americanos, os russos, britânicos, franceses ou portugueses e uma infinidade de outros tais como os brasileiros da linha Lula ou Bolsonaro, estão convencidos de que a Humanidade viveria numa ignorância bárbara ou imoral se não existissem os feitos espectaculares de sua nação. Deste conceito podemos salientar os britânicos com a sua sempre arrogância com laivos de superioridade e, de sempre se afirmarem como os senhores donos da verdade.

moirões 2.jpg A saída da Comunidade Europeia da Grã-Bretanha por referendo e, por esta maneira de estar altiva, originou a sua saída da UE pelo designado BREXIT. Relembrar que os Aztecas acreditavam que sem os sacrifícios que faziam todos os anos, o sol não se ergueria e, todo o Universo se desintegraria. Os judeus também se julgam a coisa mais importante no Mundo pois que sempre reclamaram autoria dos valores e invenções da humanidade. De forma cautelosa entra agora na contenda a China com suaves avisos ao Ocidente mandando balões espias e, não só…

E, o grande erro ou mal, para o resto do Mundo é o de que estas nações desaforadas, estão genuinamente convencidas de suas fofocas. Bem! Neste capítulo convém relembrar a postura dos americanos que são useiros e vezeiros em suas prosápias.  No entanto, a Rússia pela mão de Putin tem saltado a mais alta fasquia de insolência, blefando a todo o momento como se, pelo medo nos pudesse tolher. Sem duvida é o campeão do desaforo…

capeta0.jpg Se o Mundo ceder a esta provocação com terror e carnificina praticadas todos os dias na Ucrânia, iremos ficar mal e sem a necessária Liberdade; se nossos líderes se agacharem estamos feitos ao bife! Que fique claro que o Yoga foi inventado pelos judeus, eles assim o dizem; Os indianos irão dizer que o inventor desse jogo foi Buda e os Cristãos que foi Santo Inácio de Loiola. Provavelmente até foi o Abraão ou o Noé – Juro que não sei…

Os britânicos acreditam veementemente que são eles os heróis, o centro da estória e a fonte última da moralidade, espiritualidade e do conhecimento humano na generalidade. Eles, fazem de nós genuínos, uma grande multidão de genéricos… Quando os portugueses chegaram à Austrália antes de 1500, depararam-se com tribos aborígenes com uma mundividência ética apurada apesar de desconhecerem totalmente Jesus, Moisés e Maomé.

pinto3.jpg Seria difícil defender-se que como colonos cristãos expropriaram com violência os nativos que tinham padrões éticos superiores. O tempo de “jogo limpo” e de “fixa limpa” só muito recentemente chegaram à política com a vitória de Lula na presidência do Brasil que ganhou por uma “unha negra” a Bolsonaro que usava a palavra virada para o céu “Deus acima de todos e Brasil acima de tudo”. No meio de tanta fraude e mentiras descaradas, vou antes gozar os últimos suspiros do carnaval…

O Soba T´Chingange  



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:51
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Sábado, 10 de Dezembro de 2022
VIAGENS . 1

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA - Cónica 3320 a 21.06.2022

– Republicação a 10.12.2022, no AlGharb do M´Puto

Do Pantanal à Amazónia - 1ª parte

Por ObáII6.jpgT´Chingange (Otchingandji)  

obáII4.jpg E, porque hoje aqui no velho continente começa o Verão, cuidados redobrados nas regas de gota-a-gota e, porque a chuva é escassa, lá teremos de preservar o que cai do céu, uma dádiva que só chega quando Deus quer ou se o quiserem quando a natureza assim o determina. Sabendo que em uns sítios transborda e noutros escasseia rebusquei frescuras alheias em minhas parábolas antigas na forma de malambas.

Com pensamentos molhados através da transpantaneira brasileira chegámos a Poconé, capital do garimpo - no céu nuvens carregadas de escuro com um sol deslumbrante, raiando luzernas multicolores como se o fossem olharapos espaciais. O português Aleixo Garcia foi o primeiro a visitar estas terras baixas no ano de 1524 tendo alcançado o rio Paraguai através do rio Miranda, atingindo a região onde hoje se situa a cidade de Corumbá.  Num horizonte sem fim, araras, tuiuiús, mergulhões e minúsculos beija-flores davam-nos as boas vindas na fazenda Mato Grosso em mato Grosso do Norte..

ObáII1.jpg Na beira-rio embarquei sonhos escondidos à mistura com mistérios de sucuri e esperanças caldeadas em saudade; uma inconformidade de querer sempre estar nas terras de onde me tiraram. Ali no Pantanal, jiboiei na rede picado a mosquitos, pesquei piranha e cavalguei no charco entre caimões, capivaras, aves pernaltas, cuxias e lontras luzidias. Espelhadas ao pôr de sol nas quietas águas do rio Pixaím, as baladas choradas do Peixinho, nosso guia ocasional, saído dum kilombo bem perto da fronteira com a Bolívia, tinham um encanto de lembrar a Kukia da Luua, que não sei descrever mas, do que ouvi, apreendi…

Aprendi com ongweva: - Eu sou cria desta água - Meu olhar, corre sem fim - O meu canto, chora as mágoas - D’ um rio dentro de mim… Aiué -Percorrendo um trilho aguado entre muita água vi o pantanal de Poconé limitar-se, ao norte com a própria cidade de Poconé, zona mais alta de savana, ao sul com o rio São Lourenço, no limite com o pantanal de Paiaguás, a leste com o pantanal de Barão de Melgaço e a oeste com o rio Paraguai. A vegetação mostra charcos imensos, repletos de ciperáceas e juncáceas, além de campos, savanas e florestas. Elementos da vegetação amazónica ocorrem em menor frequência.

obáII3.jpg Com o vento norte, impregnado de odores gentios, deslizavam longos e escorridos cabelos pela nossa mente. Cruzando mantos de verdura, a espalmada água escorria lentamente entre cordilheiras de rasa altura, currais, fazendas e roças de quilombos. Naquela largueza, em terras de fujões, escravos sem eira nem beira, recordávamos a história dos bandeirantes e capitães-de-mato, levando aqueles lá mais para longe, atrás da chapada, fazendo soberania escondida; tempos idos dum império que subsiste nas crenças e no espírito aventureiro dos descendentes do rei Dom Oba´ II.

O Cândido da Fonseca Galvão que ficou conhecido como Dom Obá II D'África foi um fidalgo e militar brasileiro que morreu com 45 anos no ano de 1890. Filho de africanos forros, seu pai, Fonseca Galvão, era filho de Abiodum, o Obá do Império de Oió. Cândido intitulava-se “príncipe Dom Obá II”, referindo-se a seu pai como “príncipe Dom Obá I”. Saídos das negruras de África, ainda perdidos no tempo, ainda arranham a terra garimpando a vida sem saberem que afinal construíram um país a que se chama de Brasil.

obáII5.jpg O índio, o caboclo ou o matuto, continuam a cortar o ipê-roxo, o pau-brasil, a cajá e os castanheiros que dão a sukucaia e, na beira-rio, vão cantando: - Canoa que não tem quilha - Não atende o canoeiro - Um país fora da trilha - É navio sem paradeiro. Andando por aqui e, ao calhas, fiquei a saber ao que chamam de cordilheira. Quando me disseram eu olhei a 360 graus e vendo tudo plano e inundado quis saber e, soube! Está a ver aquele alto e aquele, disseram: é a cordilheira! E, o que vi foram elevações de talvez dois metros com currais cercados aonde e, nas cheias do rio Paraguai resguardam as manadas de gado (foi em Março de 2011).

O que aqui é descrito num tempo passado está hoje coberto de água. Os rios que dão origem ao bioma constituindo a savana estépica, devido às grandes chuvas inundaram pelo que muito gado está a morrer afogado (ano de 2011). Os fazendeiros tentam minimizar os prejuízos deslocando as manadas para sítios mais alto – as cordilheiras, que diga-se são poucas e distantes entre si…

obáII9.jpg

Glossário:

Tuiuiú - pássaro pernalta símbolo do Pantanal; sucuri - cobra, jiboia; jiboiei - descansar em letargia; capivara - animal que parece um rato e é do tamanho de um porco, herbívoro; kilombo – o mesmo que kimbo ou quilombo, sanzala rural; fujões – escravos fugidos das fazendas; capitão-de-mato – cipaios ou guardas dos fazendeiros com alvará de busca ao infractor escravo; Obá II – escravo de linhagem que se tornou famoso entre outros e, que se sublevou; caboclo – homem rude tarefeiro; matuto – cruzamento entre índio e mulato (ou branco); ipê-roxo – árvore de grande porte, pau d´arco; sukucaia – fruto do castanheiro do Pará; jabirú – o mesmo que tuiuiú, pássaro do pantanal (nome popular usado em forma pejorativa); coxias- herbívoros de pequeno porte; cajá – taparabé, fruto tropical parecido com a nêspera do M´Puto ou gajaja de N´Gola; ao calhas – ao acaso, aleatório; Kukia: Pôr-do-sol; Luua: d iminutivo de Luanda; Ongweva: Saudade (kimbundo) …

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:32
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Quarta-feira, 7 de Dezembro de 2022
KALUNGA . XXXVI

KIANDA COM ONGWEVA - XXI de várias partes…

– Crónica 3316 de 14.06.2022 – Republicada a 07.12.2022 na falsa savana do Alentejo do M´Puto

MUXIMA NAS FRINCHAS DO TEMPO - Falar do futuro, até para as kiandas é tabu…

Ongweva é saudade

Por koisan7.jpgT´Chingange (Ochingandji)

lualaba0.jpg Quem se mete com kiandas fica kiandado ou oxorizado. Morgan Tsvangirai o pai de Roxo ficou avençado pelos Mwana-Pwós com o posto de tenente de segunda linha mandando os escravos m´bikas do kimbo fazer tarefas de soberania. Nesta tarefa de contar a estória lá teremos de ver para onde correm as águas de navegar na boleia da correnteza e eis que do lugar distante de Pernambuco e suas capitânias adjacentes, no reino de Terras de Vera Cruz, estavam carentes de braços para fazer o cultivo da cana para fazer andar os engenhos de assucar.

Os pormenores que podem até ser pensados insignificantes, têm de ser descritos para haver um melhor entendimento nos grandes gestos nos feitos, dos obreiros sertanejos e Mwana-Pwós em lados quase de mesma longitude mas afastados por um oceano na Latitude Mar kalunga dos iemanjás - os Orixás das águas salgadas, mãe dos demais orixás; Rainha do mar, Mãe das águas ou mãe dos filhos-peixe. Filha de Olokum, dum Iemanjá que foi casada com Oduduá, com quem teve dez filhos orixás. Bom! Latitude serão os movimentos destes ao longo dos meridianos; ao longo do equador ou linha paralela a este.

espiga1.jpg A preguiça na cultura dos índios americanos dos brasis não permitia seu uso no trabalho – isso era tarefa de mulher e gente, dada ao desprezo. Talvez por isto, seus lugares tenentes mantinham contacto com alguns negreiros portugueses que detinham este negócio, pagando-lhes ainda mais do que a antiga coroa determinava. Era um quase pacto de negócio mantendo-os como principais fornecedores de peças á margem dos interesses dos reis do M´Puto.

As ordens que vinham do Conde Maurício de Nassau a partir de Olinda eram de subornar a todo o custo os intervenientes funantes do mato de N´Gola no negócio escravo. Estava em causa a política comercial da Companhia das Índias Ocidentais... O lucro! E, Portugal que era agora pertença dos espanhóis não havia por isso empenho nestas políticas de tanto trabalho; preferiam estabelecer severas taxas de soberania aos amarídeos de seus territórios com pagas em ouro.

As mordomias dos reis Filipe de Castela, Astúrias, Galiza, Catalunha Portugal e Andaluzia eram muitas - isso impunha uma política restritiva, sem dispersão. A tia da Kianda Roxo, N´ga Maria Káfutila de linhagem nobre do reino do Kongo ajudava Januário Pieter na quinda do mercado da paliça vendendo malavo e quitoto ou permutando com os indígenas ou mesmo n´gwetas produtos da terra como ginguba e fuba de mandioca.

kianda2.jpg A fuba originava um prato apetecível chamado de funje ou pirão, um preparo a partir da mandioca. E, ela, a Roxo, tornou-se assim uma cozinheira de primeira mão mas, no correr do tempo preferiu lançar suas fluorescências em pinturas. Por obra desconhecida ou talvez de *Olokun rodou trezentos e sessenta graus confundindo essas tais de Latitude e de longitude; hoje dificilmente frita um ovo! A casa dela nem cozinha tem… Ainda intentou fazer uso das folhas do pau de mandioca que era passada por cinco fervuras para anular o veneno da coisa e, desistiu a favor da Saka-Saka.

Agora a isto chama-se assim de Saka-Saka sendo impregnada de azeite de palma, um prato mais típico e requintado. De saber que ainda hoje e do lugar natural dos Mafulos (Holanda), daí advém em latas deste produto enraizado naqueles idos tempos e que perdurou - um caso menor mas de importante e curiosidade de no decorrer do tempo, ali e em todos os povos de fala francesa.   

kianda03.jpg Kiandas e calungas! O tempo, na mística espiritual de N´Gola, não tem fidelidade à linha do tempo, anda do agora para trás e, se sabe no depois, nunca o diz! Também tem medo de virar poeira como o Plutão… O futuro é já a seguir… Como se diz, a calunga ou kianda é assim como um vírus de computador que sem se ver, se faz notar. Nossa kianda Roxo veio como Assunção por alguma razão que, nem ela própria sabe! Melhor seria Ascensão mas quis a semântica do uso dar-lhe esse quase igual nome. Podia ser só Maria mas quis o encontro com as calemas do destino encontrar o T´Chingange que estupfeito com suas bizarras cores do além e seus mágicos gatafunhos psicadélicos, simbiose de Naif com Dali, ascendeu aos espíritos. E, em viagem por esse Universo distribuindo alegrias tomando muito chá de funcho e oliveira a controlar sua intensidade de fazer gaifonas à vida, T´Chingange anda agora beulando porque não mais soube coisas da Oxor, a kianda espelho de  Roxo. Acho que sim! Seguiu o rumo de Plutão, fez uafo, uafou…

:::::

*Do Olokun: Para as águas do mar, Olokun, Ye Olokun, Ya Olokun, são pontos de areia. Os destinos brilhando num só Olokun - Ye Olokun, Ya Olokun… Na cultura africana, Olokun possui diferentes representações, em alguns locais ele possui características do sexo masculino (Yorubá) e em outras, do feminino (Ifé). Mas em todas suas formas ele tem o corpo metade peixe e metade homem.

GLOSSÁRIO: Kalunga - mar; Kianda - sereia; Kituku - mistério; Kúkia – sol nascente; Ngana NZambi - Senhor, Deus; Mafulos - Holandeses; Kuatiça o ngoma! – Toquem os tambores;Tambulakonta – toma atenção, cuidado; matona – peixe da bahia da Luua; Luua – Diminutivo de Luanda; kifufutila ou kafufutila – perdigotos ao comer e falar ao mesmo tempo; Xipala, T´Xipala – foto; Malamba – palavra; átoa – de qualquer maneira; beulando – passeando o abandono; uafo – morte, morreu…

(Continua com “fricção”…)

Por: Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:23
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Domingo, 4 de Dezembro de 2022
GUARARAPES - 7

A SAGA DO AÇÚCARAS AGRURAS DE OLINDA COM OS MAFULOS

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA

Crónica nº 3313 de 07.06.2022 – Repetição a 04.12.2022 na falsa savana Alentejana do M´Puto

Por paradi2.jpgT´Chingange (Ochingandji)

Os Mouros e Mazagão – Brasil no tempo de D. João IV do M´Puto

o vazio.JPG O mundo hoje tornou-se uma ervilha com milhares de satélites a enviar dados do espaço para a terra; as notícias estão ao segundo em todo o lado mas, naqueles idos Tempos de Caramuru na América, Kaprandanda ou Silva Porto em África ou Mouzinho de Albuquerque na Ásia (índia), a vida era uma ousadia. Levavam-se meses para chegar da Europa à Tapurbana da Índia; as agruras eram muitas e tinham de ser destemidas, ao sabor do vento, das correntes, da sorte com milagres - por vezes tinham de cozer solas de sapato para dar alento à vida. Nem sempre os peixes voadores caíam nas amuradas do convés. É hoje inimaginável o trabalho com resiliência que os marinheiros Tugas tinham para fazer a globalidade que hoje temos.

As descrições da história aqui descritas, tem especial acuidade, por parte dos portugueses a fim de, se compreender o elo de ligação entre América (Brasil), Angola (África) e a Ásia num oriente tão distante. Nem sempre a estória refere esta muito importante relação nos tempos. Os heróis de uns sempre serão os heróis dos demais e é um erro os estadistas e afins de hoje não entrelaçarem na estória esta tão grande Gesta Lusa.

palops2.jpg Não se dá a devida atenção às instituições de CPLP ou PALOP´s e, é um grave erro passar ao lado dos grandes feitos de então. O Brasil reconheceu em Guararapes o início de sua própria integridade. Angola demora a reconhecer os altos valores dos Tugas desprezando-os por despeito ou tonta hipocrisia. Quanto mais tarde o reconhecerem tanto maior serão as perdas de civilidade e identidade*. Posto isto, seguiremos a senda do conhecimento que legou grandeza a Portugal. Faltam-nos ESTADISTAS para cantarem bem alto esta mais-valia.

Continuando a Saga dos Mafulos e Guararapes, agora reforçados com os conhecimentos do terreno pelo mestiço Calabar, após o reforço de novas tropas elevadas nos efectivos para 5500 infantes e militares de armas, também apoiados por 42 embarcações conquistam a Capitânia de Rio Grande do Norte, Paraíba e Hamaracá. O Arraial do Bom Jesus, sitiado durante três meses e três dias, capitulou a 6 de Junho de 1635. Faltava nesse então tudo o que podia servir de sustento; consumiram-se cavalos, couros, cães, cobras, gatos, ratos e, porque não havia mais pólvora deram-se por perdidos.

nzi01.jpg Furtando-se ardilosamente ao cerco iniciaram uma marcha para a Bahia com uma tropa de 140 homens brancos, acrescidos dos negros de Henrique Dias e dos índios de Filipe Camarão com a qual a 19 de Julho de 1636, tomam a Vila de Porto Calvo situada a uns 30 quilómetros da praia de Maragogi, actual estado de Alagoas. Mesmo desfalecidos por tão penosa marcha, tiveram a força aliada à astúcia com ousadia de tomar tal praça com 4 companhias num total de 400 militares bem armados e municiados.

O comandante Mafulo Alexandre Picard, por ocasião da rendição (Porto Calvo), entregou como prisioneiro Domingos Fernando Calabar, o traidor mestiço que foi de imediato e sumariamente condenado à morte por garroteamento em 22 de julho daquele mesmo ano; o traidor pagou o preço certo e sem desconto para gaudio de toda a Gesta Luso-Brasileira no comando de Matias de Albuquerque. (Hoje, ao invés deste procedimento – no M´Puto, dão-se condecorações – um desaforo!...)

O Conde João Maurício de Nassau-Siegen chegando a 23 de Janeiro de 1637 trouxe consigo a mais importante missão cientifica que até então pisara em terras da América, ainda hoje é objecto de atenção de todos que se dedicam ao estuda das ciências e botânica daquele período. Em verdade a administração do Conde de Maurício de Nassau deu um surto de progresso estendendo fronteiras desde Maranhão à foz do Rio São Francisco.

Coimbra13.jpg A partir de 1640, quando da aclamação de D. João IV, diante da força armada da Companhia Holandesa das Indias Ocidentais, se torna evidente que o Império Colonial Português na Ásia era coisa do passado. Perdidos que estavam os territórios de Malaca, as feitorias e fortalezas na Índia como Mazagão, as ilhas de Colombo, Ceilão e os territórios Craganor, Cohim, e Bombaim e o abandono da Arábia e Golfo Pérsico com a mão “sempre amiga” dos Ingleses, o Arquipélago das Molucas, parte de Timor e o afastamento com massacre de missionários do Japão. Um despautério quase por completo…

*NOTA – Tendo como fomentadores e instigadores os generais de aviário após o VINTICINCO de SETENTA E QUATRO com o bando armado de cabeludos do MFA que até saquearam seus irmãos na debandada africana… Debandada FORÇADA …

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:07
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Sábado, 3 de Dezembro de 2022
MISSOSSO . LVIII

KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

FALA KALADO NA PROMESSA DOS KALUNDU**

- Crónica com ficção* 331223ª de Várias Partes 06.06.2022 – Republicada a 03.12.2022 na falsa estepe do M´Puto - Alentejo

Por negritas.jpg T´Chingange (Otchingandji)  

che0.jpg Ché Guevara depois de sete meses passados no Congo Brazaville e, após constatar a pouca unidade dos soldados africanos em especial os afectos ao MPLA e, dado o pouco interesse do apoio internacional, Che contrariado, decidiu encerrar a primeira missão internacional do regime cubano. Mandou uma carta a Fidel Castro dizendo que o Victor Dreke "era um dos pilares em que confiava" para prosseguir a luta…

Após deixar África, os companheiros de Ché não seguiram pelo mesmo caminho. Ché mantinha vivo o desejo de exportar a revolução e organizou uma nova expedição revolucionária. Na Bolívia, foi capturado e executado dez meses após sua chegada, em Outubro de 1967. Há quem afirme que foi o próprio Fidel a congeminar o fim de Guevara pois que este estaria a ser-lhe sombra em sua liderança (como se o fora uma pedra no sapato). A relação de Dreke com África manteve-se viva liderando missões bem-sucedidas nas guerras de libertação da Guiné/Cabo Verde e República da Guiné. Chegados aqui teremos de nos rever em estórias mais recentes do panorama angolano e, a partir do átrio do Kilombo-Fundação.

dia213.jpg Estando eu no D´Jango das alvissaras estivais no jardim tropical da Fundação Zumbi de N´Gola e falando com Rosa Casado, a chefe de protocolo, fui informado que o Comendador Fala Calado, ex-guerrilheiro e ex-Coronel, embora débil, estava dando mostras de evoluir bem aos tratamentos dos remédios provenientes do Laboratório gerido por Andrey Blazhe, o biólogo e médico oriundo da Bulgária; as drogas eram ministrados com atenções esmeradas pelo médico ainda novo Juka Kalandula recentemente chegado de áfrica.

E, enquanto falávamos, ouvíamos um grupo de marimbeiros a tocar melodias bonitas no largo das cassuneiras. Os mesmos que viajaram com este médico, oriundos exactamente do mesmo local: Kalandula de Malange. Fiquei com ideia que se exibiriam pelo estado de Alagoas alegrando em complemento à quadra dos santos populares nas festas Juninas. Aquele gigante negro, guarda costas do Comendador que eu chamei lá atrás de Lothar Mandrak, veio até nós saudar-nos com vénia rasgada acrescentando que seu Mwata FC, estava disposto a receber-me daí a três dias. Neste momento recompunha-se de uma anomalia surgida na forma de craca em sua orelha original (a boa).

luandino2.jpgAcabado de chegar, o professor de economia, gestor do kilombo, Arrais Castelo de Cantanhede a nós se dirigiu logo após seu gesto ao moço de serviço pedindo desse modo já bem conhecido o café Santa Clara que tanto apreciava! Pois assim que juntando o indicado com o polegar fez o sinal de querer beber algo, algo que só poderia se uma xicara média desse cheiroso café. Sentando-se junto a nós com um comprimento tipo nazi de punho fechado disse: Heil Covid! E, nós entendemos este já tão comum afastamento nesta guerra surda de lutar com bactérias pandémicas e outras salmoneloses de tubarão, também com a real guerra em curso de devastação czarenta, cruel a ponto de assustar o Ivan, o Teerivel… 

Posto isto falou-se da saúde do Mwata Comendador vindo-me à ideia do que então falámos lá na Ilha da Fantasia em Petrolina. Do laboratório que já em tempos e em Petrolina tinha encetado a investigação de uma membrana extraída do besouro que conservava por séculos a planta do Calahári de nome Welwitschia Mirabilis. Uma membrana que era capaz de desenvolver tecidos de pele, ossos e cartilagens… Podíamos adivinhar e até congeminar que Andrey Blazhe, o médico biólogo, já teria encontrado algo que minimizasse o problema de alzheimer do Comendador mas, o silêncio deu consistência ao segredo que o tempo fazia prolongar.

nauk01.jpg Pois, se os pesquisadores foram capazes de criar uma estrutura em plástico biodegradável na qual as células animais se desenvolvem e reproduziram no formato de orelha com a estrutura biológica e anatomia desejada, também seriam capazes de desvendar formas de ludibriar o organismo, por forma a minimizarem os efeitos dessa doença tão debilitadora da condição humana.

Tenho para ti uma tarefa especial, disse ele para mim, o Chefe Mwata Comendador! Assim directamente, lá naquele tempo em que não mostrava outras debilidades disse: Necessito de alguém que superintenda as novas frentes de guerra - Gerir a produção de crocodilos, rãs, borboletas e caracóis! E, porquê eu, um kota ressequido pelo sol? Perguntei-lhe nesse então! A resposta foi pronta: Porque tu és um mwangolé branco com kalundu** e, tal porque só o somos no sempre dum espírito único do futuro! Mas, eu não sou preto!… Respondi! Sim, é isto e maisnada, tudojunto! Falando no plural disse: O nosso pensamento sempre anda por lá, por N´Gola e, queiramos ou não agora seremos pretos de coração zebra! Falou, tá falado… Será que quer de novo falar-me disto! É que ele repetiu então assim e, em voz alta: Pópilas - não vale a pena morrer de véspera! Iremos ver o que vai dizer?!… É que para ele tudo, tudo é guerra…

nauk3.jpg

Notas: *Esta é uma estória inventada só no que concerne às mentiras…

**kalundu – É uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza (A entrevista com o Brigadeiro N´Dachala, continuará lá mais para a frente- depois das eleições previstas neste ano de 2022…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:26
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Sábado, 26 de Novembro de 2022
GUARARAPES - 6

A SAGA DO AÇÚCAR – AS AGRURAS DE OLINDA COM OS MAFULOS

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA

Crónica nº 3305 de 19.05.2022Republicação a 26.1.2022 em Lagoa do M´Puto

Por araujo 29.jpgT´Chingange (Ochingandji)Em Arazede do M´Puto

A figura pública de Figueiroa, revista como herói na tomada de Pernambuco -  Brasil

matias20.jpg  Matias de Albuquerque, 1° Conde de Alegrete, nasceu na Vila de Olinda, sede da Capitania de Pernambuco, no Estado do Brasil, da qual seu irmão era donatário, na última década século XVI.

Em tempo de D. João IV. Este monarca, deu ordens a Figueiroa que recrutasse 500 infantes da ilha da Madeira e Açores para tal envolvimento militar em terra de Pernambuco… Determinou aos oficiais de primeira linha fidalga, que “a gente vadia, ociosa, e de pouca utilidade à Coroa, fossem arregimentadas e levados à luta do Brasil” porque “ He grande o aperto e necessidade daquelle estado”. Convém dizer-se que não é verdade que o reino se tivesse esquecido dos revoltosos de Pernambuco; o que sucedeu foi de que não se tinha reunido toda a diplomacia para ter sucesso e só reactivou à pressa após Inglaterra* ter declarado guerra à Holanda.

Aqui D. João IV actuou rápido em força e a todo o custo sobrecarregando o povo em taxas de guerra adicionais. O açúcar fazia-lhe falta para custear tudo isso e ainda salvaguardar as fronteiras Ibéricas da impetuosidade dos vizinhos Castelhanos. Em 1647, Francisco de Figueiroa chega à Bahia. Em 4 de Agosto de 1648 reúne-se às tropas sob o comando de Francisco Barreto de Pernambuco e, é a 19 de Fevereiro de 1649 que toma parte na segunda batalha de Guararapes com o posto de Mestre-de-Campo do seu terço de guerra.

matias21.jpg Francisco Barreto, após aquela grande batalha, escreveria ao rei a 11 de Março de 1649 enaltecendo os três Mestres-de-Campo, Vieira, Figueiroa e Vidal da seguinte forma: - “Procederão com tão assinalado valor que depois de Deus, foram eles a causa de alcançar vitória pelo que merecem as mercês que justamente podem esperar tão “leaes vassalos”, por seus merecimentos”.

Figueiroa, tendo sido soldado, capitão, almirante, governador de Cabo Verde, ouvidor em Angola e Mestre-de-Campo na batalha de Guararapes, por rogo seu foi designado de fidalgo com a comenda da Ordem de Cristo depois das formalidades das “provanças” para a sua admissão na Ordem de Cristo e, após a consulta da Mesa da Consciência e Ordens o ter aprovado a tal merecimento. Coisas tiradas a ferros, sabe-se lá do porquê!

Recorde-se que em 1630, tropas mercenárias da Companhia das Índias Ocidentais invadem a capitânia de Pernambuco dominando toda a região do Nordeste do Brasil por vinte e quatro anos, ou seja, até ao ano de1654. Insatisfeito com a situação, os naturais da terra sob a liderança de João Fernandes Vieira, um senhor de engenho, nascido no Funchal, inicia em 1645 a reconquista do território devolvendo-o à soberania Lusa em 1654.

matias23.jpg Em Olinda sede da Capitânia de Pernambuco governava Matias de Albuquerque; este, procurava concertar os esforços da defesa no porto de Recife só que, o General Mafulo Theodoro Waerdenburch, seguindo o plano traçado com os mandatários da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, desembarcou suas forças na praia de Pau Amarelo a Sul do Recife num total de 3000 homens. Marchou sobre a vila de Olinda tendo vencido Matias de Albuquerque no combate de fogo à Vila de Olinda queimando nobres edifícios avaliados em milhares de cruzados.

Matias de Albuquerque, perante tamanha força, impossibilitado, e de coração esfrangalhado retirou para o lugar de Capiboaribe a uma légua de distância do Recife, fortificando o sítio com 4 peças de canhão e 200 homens de armas. Inicia-se assim a guerra da resistência pernambucana com a fundação da Arraial do Bom Jesus aonde permaneceram por cinco anos utilizando tácticas de guerrilha aprendidas com os indígenas (Índios da região)...

bruno27.jpg Naquele Arraial do Bom Jesus, compareceram com seus comandados, Luís Barbalho, Martins Soares Moreno, Filipe Camarão com seus índios e Henrique Dias com seus negros quilombolas resolutos a manter uma guerra de vinte e quatro horas por dia no espírito de todos com um sentimento nativista. Mas, entretanto há o revés de em Abril de 1632, Domingos Fernando Calabar, um mestiço cazucuteiro, dado ao embuste, com o desprezo dos demais, é acusado de contrabando, passando-se assim por acossado para o lado dos invasores Mafulos…

NOTAS: *INGLESES – observe-se aqui a interferência desta nova potência na Europa e Globália, estabelecendo regras de fiscalização DESDE ENTÃO aos demais países entre os quais PORTUGAL, que sempre manteve subserviente aos sus caprichos e, ao longo da história

 (Continua…)

O Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:56
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Quarta-feira, 23 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LVII

KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA

FALA KALADO NA SINGULARIDADE DOS KALUNDU**

"A história de um fracasso"- Crónica com ficção 330322ª de Várias Partes – 16.05.2022Republicação a 23.11.2022 na Lagoa do M´Puto

Por malamba1.jpg T´Chingange Em Arazede de Coimbra do M´Puto

n´guzo1.jpg

Voltando à singularidade do Nelito e de sua façanha em desviar um dacota da DTA para Brazaville na Republica Popular do Congo, diga-se: Numa altura em que Angola e os angolanos já não queriam mais viver sob domínio colonial português, não se compreende que o 4 de Junho de 1969 nunca tenha merecido a importância devida por parte da direcção do MPLA, porque foi uma iniciativa saída da sua base clandestina da Luua. Pois foi assim que apanhou completamente de surpresa os “camaradas” no bombom de Brazaville.

A PIDE fez circular nas instituições da governação Tuga, que “no dia 4/6/69, pelas 15.30, o avião C-3 matrícula CR-LCY, da DTA, da carreira Luanda/Sazaire, com 5 tripulantes e 12 passageiros a bordo, foi obrigado a mudar de rumo para Ponta Negra”. Aquela acção foi levada a cabo por três “criminosos armados”, a saber: -Luís António Neto, luandino, o “Lóló” Kiambata, luandino; Diogo Lourenço de Jesus, funcionário do Laboratório de Engenharia de Angola, Luandino e Manuel Caetano Soares da Silva, vulgo NELITO, luandino, solteiro e funcionário da Imprensa Nacional de Angola.

DTA1.jpg Dos três kamundongos nacionalistas que participaram nesta acção de luta contra o colonialismo português, apenas Luís Neto Kiambata se encontra vivo, tendo em Novembro de 2020 afirmado seu desencanto com o actual presidente João Lourenço subestimando-o com muxoxos no termo de matumbo; Diogo de Jesus e Nelito Soares, por ironia do destino, foram mortos pelas tropas Tugas, poucos anos depois e, em circunstâncias distintas.

O Diogo de Jesus, foi atingido por um obus no leste de Angola antes de 1974 e o segundo, Nelito Soares o FK* foi assassinado à queima-roupa na Vila-Alice pelos comandos Tugas já depois do 25 de Abril de 1974. Assim se pensava ter sido, até o misterioso encontro entre o T´Chingange Niassalês nos aeroportos Internacional e do Terminal Doméstico numero dois de Guarulhos. Foi, e ainda o é, graças ao “Morro da Maianga” que consegui descortinar um pouco mais a minha alhada… uma meia inventação saída do meu bairro…

DTA2.jpg Aqueles três Camundongos queriam vir a ser reconhecidos ao jeito de como o foi Ché Guevara na Ilha de Cuba. Também eu em candengue seguia de forma empolgada a estória quase épica duma tão lendária figura, descrita duma forma que o tempo desmanchou na verdade que conhecemos hoje; sabemos assim que de grandioso, este médico frustrado argentino só o foi na figura de livros de comiquitas tal como o foi “Lampião” do cangaço brasileiro, o Zé do Telhado do M´Puto ou o Bill Kid nos Estados Unidos da América.

E, é aqui que um ex-defunto de nome Nelito Soares e hoje, Ex-Coronel, recuperado em vivo como Fala Kalado se diz ter andado com o Che Guevara em um lugar perto de Ponta Negra com o nome de Luvungi da RPC- República Popular do Congo - lá para trás no tempo. E, foi exactamente no 25 de Abril de 65 que Nelito se encontrou nesse lugar com um grupo de 14 guerrilheiros; três dos quais, Ramón, Dreke e Tamayo saídos de Cuba com passaportes falsos e, desde Moscovo via Dar-es-Salam na Tanzânia com termino em Luvungi do Congo Braza.

Do grupo original formado pelos três idealistas internacionais Ramón, Dreke e Tamayo, nomes fictícios importados de Cuba por Fidel de Castro e a mando de Moscovo só “Dreke” liderou missões bem-sucedidas em África, a saber, nas guerras de libertação da Guiné/Cabo Verde e República da Guiné. Ficara acertado que, no início, Dreke se iria apresentar como o chefe; Guevara seria o "doutor Tatu", médico e tradutor…

zumbi8.jpg Pois foi na chamada 2ª Região Militar, Zona B. que se deu o encontro de Ernesto «Che» Guevara com o MPLA de Brazzaville. Nelito aqui ficou, na designada “Base das Pacaças” - base guerrilheira do MPLA em território do Congo mas, supostamente designada de Cabinda - de 1965. Estavam lá, Henrique «Iko» Carreira, Daniel Chipenda, Jonas Savimbi, Tomás Medeiros, Nelito Soares, Jorge Serguera - o "Papito" e, o piloto cubano Samidey, Benigno Vieira Lopes «Ingo». Quanto a Ché e segundo um relato de Dreke: "Não ficou ali famoso como guerrilheiro, mas como médico. Como fazem os nossos na ilha em Cuba e outros países, saindo pela manhã, visitando os lugares e distribuindo os poucos medicamentos que tínhamos – kamoquina, rezoquina e bolachas amarelas de quinino"…

Notas: *Esta é uma estória inventada só no que concerne às mentiras…

**kalundu – É uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza

(A entrevista com o Brigadeiro N´Dachala, continuará…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:12
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Segunda-feira, 21 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LVI

NO KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

NA SEDE BAOBÁ de FALA KALADO

– NA SINGULARIDADE DOS KALUNDU***

- Crónica com ficção 330121ª de Várias Partes15.05.2022 – Republicação a 21.11.2022 em Lagoa do M´puto

Por araujo18.jpg T´Chingange – Em Arazede de Coimbra do M´Puto

dachala1.jpg Rosa Casado, a chefe de protocolo da Fundação Zumbi de N´Gola na sede do baobá - lugar do Imbondeiro entre União dos Palmares e o Morro da Barriga, telefonou-me para o número da secreta dando-me indicações que o senhor Brigadeiro e Porta-Voz da UNITA, Marcial Adriano N´Dachala, iria estar à minha espera no d´jango do jardim Imbondeiro. Fiquei verdadeiramente ansioso por este encontro já agendado mas sem data prévia. Há bem uns trinta e dois anos que não nos víamos; era eu nesse então, Presidente do Comité da Lagoa do M´Puto na Diáspora…

Neste agora e, desde a morte de Jonas Savimbi que Marcial N´Dachala se encontrava distante da politica activa. Reapareceu na véspera do Congresso da UNITA como director da campanha do candidato Lukamba Paulo “Gato” de quem é muito próximo. Ao longo da sua trajectória política, N´Dachala, desempenhou funções diplomáticas como representante adjunto da UNITA em Portugal, depois de ter estado no Senegal como bolseiro. Regressou ao país (Angola), na sequência dos acordos de Bicesse, tendo sido colocado como Secretario Provincial do Huambo.

É agora o brigadeiro reformado e responsável da pasta da Informação na sua função de Porta-voz do Partido do Galo Negro que, fez saber recentemente ter valido a pena ter “fé” num desfecho realista: O parecer favorável por parte do Tribunal Constitucional ao seu 13º congresso que foi, apesar do “pouco” tempo que restou para início da campanha eleitoral, a saída lógica, após tanta insensatez, embargo e procedimentos inauditos dentro do que é a lógica institucional…

Dachala5.jpg Ao som de marimbas tocadas por gente ao vivo que aprendeu seu manuseamento bem á maneira de Cangandala, demos um forte abraço; abraço de manos velhos que a estória desavisou no tempo de inquietude, na perseguição e outros contratempos a que agora chamam de resiliência – um colorido de romantismo de vulgar pieguice. Mais kotas, recordamos momentos passados, reuniões frutíferas, muitas falas e, resiliências propositadas!

Recordei-lhe assim, olho no olho como auto felicitação por chegarmos até aqui com um galo de cerâmica no peito cantando nossa margem de intervenção. Eu como um Major Niassalês dentro das instâncias honoríficas, e ele, muito justamente como Brigadeiro aposentado em exercício político… de todos os itens agendados em minha cabeça, por agora só lhe fiz quatro perguntas:

garças7.jpg

P1. de T´Ching…: - Apesar de o TC se ter desmarcado de um alegado projecto de acórdão que foi posto a circular nas redes sociais, a UNITA tenciona agilizar mecanismos de fiscalização à ética deste poder?

  1. de N´Dachala: - Decerto que sim! Iremos formatar numa declaração acusando as autoridades de “terrorismo institucional ao banalizar o poder jurisdicional”, pedindo que o Procuradoria-Geral da República instaure um inquérito para imputar responsabilidades

P2. do T´Ching…: - É sabido; “aliás, a exemplo do Congresso anulado, o TC levou meses até o anotar”, salientei… Isto tem alguma normalidade?

  1. de N´Dachala: - Não mas, não podemos comer nossos próprios fígados (numa postura diplomática continuou…): mas, deixar claro que o processo foi “bem encaminhado”. (Outrossim, explicou…) que, a exemplo do nosso partido, as organizações políticas que também realizaram congressos ordinários depois da UNITA, como são os casos do MPLA, FNLA e PDP-ANA, também ainda, não o tinham sido anotados pelo Tribunal Constitucional. “Estávamos calmos; esse processo de espera não atrapalhou de forma nenhuma o nosso programa”, frisou.

DTA4.jpg

P3. do T´Ching…: - Dá para perceber que o companheiro está um refinado diplomata com essa contenção de impulsos sem chamar o nome certo aos bois?!

  1. de N´Dachala: - Para mim, para o Partido, foram cumpridos, escrupulosamente, tudo aquilo que mandam os estatutos do Galo Negro. Na sequente abertura do ano político 2022, o Presidente, Adalberto da Costa Júnior, proferiu uma mensagem à Nação, no pavilhão multiusos do complexo Sovsmo, em Viana – Um momento alto de nossa existência!

P4. do T´Ching…: - Nossas intervenções irão continuar mas, eu que tenho estado vendo o panorama de longe e coadjuvado por gente precavida como Fernando Vumby aconselho prudência à nossa UNITA…! Depois desse discurso à nação por Adalberto da Costa Júnior, o brutamontes de João Lourenço, ficou muito cheio de raiva. Provavelmente vai até recorrer ao CAP =Tribunal Constitucional, para se vingar do banho que levou do ACJ...! O Indivíduo é rancoroso e vingativo...! Nada de excessos de confiança nestas instituições de Angola…! Este regime do M é capaz de tudo!

  1. de N´Dachala: - Sabemos disso sim; que o sistema judicial Angolano está DOENTE. Na senda do que fez o presidente fundador, Jonas Savimbi, do que fez o general Lukamba, do que fez o doutor Samakuva, a UNITA actuará! É um reiterar com um naturalmente - outros adjectivos terão de dar corpo a este pronunciamento.”

***Kalundu: - Uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza…

(A entrevista,  pode continuar…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:13
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Quinta-feira, 17 de Novembro de 2022
GUARARAPES - 5

RECIFE – A SAGA DO AÇÚCAR – TOMADA DE LOANDA PELOS MAFULOS

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA

Crónica nº 3297 de 10.05.2022,em Arazede do M´Puto – Republicação a 17.11.2022 em Lagoa do M´Puto

Por soba40.jpgT´Chingange (Ochingandji)  

A figura pública de Figueiroa foi contestada quando ainda era governador de Cabo Verde mas, na saga Atlântica, como herói na tomada de Pernambuco, passou a ter uma forte ligação com a história…

suku0.jpg Na sua relação com Angola, interessa descrever o seu trajecto de vida. A vinte e dois de Janeiro de 1639, Filipe III, rei de Portugal sob o domínio de Castela, nomeou Pedro César de Mendonça Governador e Capitão-General dos Reinos do Congo e N´Gola. Francisco de Figueiroa que já era um destacado homem, reivindicador de seu posto de fidalgo da corte, foi nomeado Almirante, o segundo posto depois do de General e simultaneamente Ouvidor da Colónia, um alto cargo nesse então.

Nesta expedição a terras de África embarcou como soldado António de Oliveira Cadornega que mais tarde, entre 1860 e 1861, se reactivaria a história das guerras Angolanas escritas por si, em três volumes da Agência Geral do Ultramar. As duas naus “Rei Dadid e Santa Catarina” chegariam a Loanda em 18 de Outubro desse ano de 1639.

madeira01.jpg No dia 30 de Maio de 1641, parte do Recife uma expedição de 21 navios comandada por Cornelis Cornelis Zonjil com 3000 homens, marinheiros Mafulos (Holandeses) e infantes mercenários de várias nacionalidades da Europa de então a soldo da Companhia das Índias Ocidentais, todos eles experimentados nas guerras de Flandres e Alemanha.

Estas forças de guerra tinham por objectivo tomar Loanda, ocupar N´Gola e dominar o mercado de escravaria da região, importante mão-de-obra para os engenhos de Pernambuco em seu poder. Ao largo da baia de Loanda, a 23 de Agosto desse ano, esta esquadra é avistada de terra, do lugar sobranceiro de fortaleza de São Miguel e parte alta do insípido caserio daquele esboço de cidade já com quase 4000 almas.

maful1.jpg Os moradores com seus governantes, arraia-miúda de desterrados e escravos evacuaram a cidade levando os haveres possíveis, refugiando-se no arraial de Kilunda do Bengo. Esta fuga teve redobradas dificuldades por terem à-perna os nativos descontentes flagelando os mwana-pwós e o governador Pedro Cézar. Este governador tinha-se revelado um homem de má índole, inepto no mando de gente e detendo haveres por corruptas e enganosas tramóias.

No dia 25 de Agosto de 1641 os Mafulos com toda aquela gente de olho azul, vestida de ferro, tomam posse de todo aquele caserio e fortaleza sem grande contratempo. Na manhã de 17 de Maio de 1643, dois anos depois, os Mafulos, contrariando acordos de relação comercial dúbia por parte de alguns portugueses, atacam por isso mesmo, de forma inesperada, o arraial do Bengo.

maful2.jpg A usura do governador Pedro Cézar tinha transbordado em traquinices resultado daqui a morte de alguns dos defensores. O próprio governador e o Ouvidor Francisco de Figueiroa foram presos e levados para Loanda. Estes “ilustres desclassificados” na visão de pontos de vista dos cronistas de então, foram embarcados para o Recife; estes, com mais alguns destacados comerciantes negreiros, compraram a sua liberdade a troco dos seus baús carregados de jóias, ouro e património de indevida apropriação à igreja e seus pares, ricos negreiros não colaborantes.

A soltura de Figueiroa ficou-lhe em mais de 15 mil cruzados pelo que, pode assim regressar ao Brasil tendo-se instalado em Bahia de todos os Santos por algum tempo. Figueiroa regressa à Madeira em uma escolta de navetas a cinco navios que regressavam da Índia aportando no Funchal para reabastecimento. D. João IV, tendo notícias de que a holanda preparava uma armada destinada a reforçar as guarnições holandesas de Pernambuco e Bahia; sabendo disso, deu ordens musculadas para que Portugal enviasse tropas de infantaria para tais destinos pois que se estava a tornar demasiada tardia a ajuda solicitada por Pernambuco. Em Lisboa formaram-se 100 infantes em 2 caravelas; no Porto, outras tantas de Viana do Minho, Aveiro, Algarve, e Setúbal. Ao mesmo tempo dava ordens a Figueiroa que levantasse 500 infantes da ilha da Madeira e Açores para tal envolvimento militar…

madeira3.jpg

GLOSSÁRIO: Mafulo: - Holandês em dialecto kimbundo de Angola

NOTA: A reconquista de Angola virá logo a seguir, pois que foi do Recife que saiu Salvador Correia de Sá e Benevides com uma frota de naus, que libertou Loanda do jugo Mafulo - * Pode agora entender-se a importância destas ligações entre a Metrópole, Brasil, Ilhas Atlânticas e Angola… Factos quase desconhecidos no mundo português da aqui referida Globália

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:15
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Terça-feira, 15 de Novembro de 2022
GUARARAPES - 4

RECIFE – A SAGA DO AÇÚCAR

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – CAXEIROS E O OURO BANCO

Crónico nº 3296 de 09.05.2022 – Republicação a 15.11.2022 para o Kimbo Blogue

Por Fraternidades3.jpgT´Chingange (Ochingandji)

vieira2.jpg Os Tugas, resgataram a prática do uso escravo podendo de forma sintética mencionar o padre António Vieira quando refere “Sem açúcar não há escravos e sem escravos não há açúcar”. Como já foi dito, a Madeira como berçário de novas práticas sociais foi nos primórdios da expansão Lusa, o primeiro e mais importante mercado receptor de escravos africanos. À ilha chegaram os primeiros escravos guanches e marroquinos que contribuíram para o arranque económico do arquipélago e a diáspora Lusa.

Depois, foi o pau-brasil, e os caixotes de nobres madeiras que serviam para transporte do ouro branco. Nos dias de hoje, ainda se podem apreciar mobílias feitas de boas madeiras levadas do Brasil como o jatobá, jacarandá, sucupira ou angico; estas madeiras, curiosamente eram tão-somente a estrutura dos “caixões” para transportar 300 quilos de açúcar. Talvez por isso se designe aos contadores ou administradores das remessas de “caixeiros” pois, mais não eram somente do que zeladores dessas caixas de açúcar.

Os maiores e melhores organizados destes caixeiros eram os imigrantes ou colonos de ascendência judaica, essa grande diáspora unida à semelhança dos Ilhéus que por via da inquisição levaram famílias inteiras a se refugiarem nas praças do Norte da Europa como Amsterdão, Antuérpia, Rochela, Londres ou Bordéus. Por iniciativa própria e por sobrevivência, estabeleceram redes de negócio familiares que vieram a ser considerados como o principal suporte da rede comercial resultante dos descobrimentos.

olinda4.jpg Esta rede comercial é em realidade uma verdadeira contradição com os comportamentos da expansão cristã, o que me leva a salvar a teoria de que em negócios tudo é possível. Nesta rede comercial, Angola, aparece como principal consumidor de vinho da Madeira a par com o Brasil, país irmão. Há escritos de caixeiros referindo fornecimento de 100 pipas de vinho da Madeira no ano de 1651, poucos anos após Salvador Correia de Sá e Benevides ter escorraçado os Mafulos de Loanda.

No Funchal, em São Vicente do Brasil, Pernambuco, Bahia, Luanda e Santiago de Cabo Verde por via do negócio do vinho, há novas apetências surgindo por isso uma chusma de pequenos burgueses. São estes os vértices do mundo Português, a Lusofonia actual que dá agora importância com consciência às praças dum antigo recheio colonial. Muitos de nós de genes mestiça, somos o fruto deste fado chamado de diáspora; o fruto desses antigos mestiços, capitães, mestres e serviçais, escravos duma sanzala qualquer, servindo sempre um senhor.

vieira1.jpg O senhor do engenho ou navegador aventureiro da rota do cabo, de um sonho, uma saga. A retórica com manipulação de novos discursos, para serem históricos, terão de se basear nessas evocações, fundamentos na reposição da verdade. É para isso que servem os grandes homens, a quem vulgarmente chamamos de estadistas. Pernambuco com o contributo da Madeira foi a capitânia que gerou o nativismo mais virulento da história brasileira.

A batalha de Guararapes com João Fernandes Vieira mestre de campo nomeado pelo rei D. João IV, virá sempre à tona quando se relembra esse distante passado que deu nome ao futuro luso-brasileiro e angolano. Também há um importante factor de mudança em termos de tonalidade democrática pois que aqui começa a mistura do povo, lavradores e trabalhadores braçais com fidalgos, funcionários do reino, comerciantes, ouvidores e artesãos entre fiorentinos, genovezes ou flamengos originando um modelo especial com apego à terra e o conceito de brasileiro.

guararapes3.jpg Esta saga que originou a Globália, foi e continuará a ser uma característica sem igual da colonização missegenada de Portugal no Mundo. O mundo das nações do G7 e outros que advirão, deverão obrigatoriamente enaltecer este predicado na história da colonização do povo português ao invés de os menosprezar. Tudo o exposto demonstra bem a mescla de gentes, e também o surgir de um linguajar de escravaria com estratos subalternos do engenho e a relação entre o patrão, coronel ou fazendeiro. Surge assim a par de João Fernandes Vieira outros nomes como Gerónimo de Ornellas e Francisco de Figueiroa, todos eles Madeirenses a não esquecer porque engrandeceram o mundo Lusófono. A figura pública de Figueiroa foi contestada quando ainda era governador de Cabo Verde mas, na saga Atlântica, como herói na tomada de Pernambuco, passou a ter uma forte ligação com a história…

reci1.jpg 

GLOSSÁRIO: Mafulo: - Holandês em dialecto kimbundo de Angola

NOTA: A reconquista de Angola virá logo a seguir à Saga do Açúcar pois que foi do Recife que saiu Salvador Correia de Sá e Benevides com uma frota de naus, que libertou Loanda do jugo Mafulo

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:09
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Sábado, 12 de Novembro de 2022
GUARARAPES – 3

RECIFE – A SAGA DO AÇÚCAR

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA - O bodo dos pobres na “Folia do Divino” - ILHA DE SANTA MARIA nos AÇORES

Crónica nº 3293 de 03.05.2022 – Republicação na Lagoa do M´Puto a 12.11.2022

Por açores1.jpgT´Chingange (Ochingandji)

praia3.jpeg Saíram deles MADEIRENSES, os canaviais com seus canais de rega, engenhos e rodas motrizes. O seu contributo na feitura do Brasil teve início com a libertação do Maranhão (S. Luís) que se deu no ano de 1642 tendo António Teixeira de Mello como libertador enquanto em Pernambuco e, pelo ano de 1645, João Fernandes Vieira organizava resistência armada aos Holandeses (Mafulos); para tal, em 1646, recebeu do rei D. João IV a carta de patente de mestre-de-campo para chefiar um terço da Infantaria formada nas Ilhas.

Ficaram a seu comando, 500 homens recrutados na Madeira, Ilha do Pico, S. Miguel, Faial e Graciosa no Arquipélago dos Açores. Este terço era constituído por quatro companhias de 125 homens. Os combatentes Madeirenses que se bateram nas campanhas de Bahia e Pernambuco contra os Mafulos, receberam tenças ou cargos administrativos como recompensa pelos serviços prestados; assim, se alicerçou as instituições régias de soberania local defendendo-a de corsários franceses, castelhanos e os aqui referidos Mafulos.

madeira2.png Por via do novo Tratado de Madrid que substituiu o já desusado trato de Tordesilhas, constituiu-se como primordial, a efectiva ocupação do território por gente Lusa. Em 1746 foram enviados casais Açorianos para terras do Sul; estava em curso o estancar de gente de Castela que ao longo dos anos se tinha instalado na foz do Rio Prata, actual Uruguai, uma parte da grande Cisplatina.

Florianópolis passou a ser nesta corrente migratória a 10ª ilha dos Açores em terras do Brasil. É curioso dizer-se agora, ano de 2022, estarem as evidências culturais de sua origem mais vivas do que em sua terra mãe através das festas do Espirito Santo e os mistérios em honra do “Divino”, festa de Pentecostes que no calendário católico têm lugar cinquenta dias após a celebração da Pascoa. A tradição foi difundida nas ilhas por influência da Rainha D. Isabel (1276 a 1336).

açores2.jpg Tive oportunidade de assistir anos atrás à coroação de um Imperador na Ilha de santa Maria dos Açores e, nesse dia fui ao bodo dos pobres; ”folia do divino” que ocorre em toda a Ilha e que foi transposta para Santa Catarina do Brasil. Em S. Vicente, persiste a tradição do bodo, mesa farta no dia do Divino Espírito Santo aonde ninguém paga e ainda leva merenda ou bolo para suas casas.

Na ilha de Santa Maria comprovo porque vi, em Santa Barbara e Vila do Porto, aos fins-de-semana andarem uns mordomos com vestimentas brancas como as das irmandades, fazendo peditório para esta época de quermesse. Por vezes gente vinda da diáspora da globália saudosa desses costumes dá alvissaras ofertando tudo para esta festa e, são inúmeros os voluntários a ajudar nas muitas actividades.

açores4.jpg Neste triângulo Europa (Portugal), África (Angola) e Américas (Brasil), no que concerne ao conjunto de países dos PALOP´s (Países ou estados autónomos de língua oficial portuguesa), a Madeira e os Açores, estão no princípio de singularidade dos usos como um laboratório experimental da sociedade Atlântica. Há neste conjunto de tradições laivos de cultura Guanche levadas das ilhas Canárias de Tenerife e Gomera tais como bordados e trabalhos manuais com uso de madeira… Convém aqui lembrar que no mundo Mediterrânico, crescente fértil e em África em geral existia de há muito tempo a escravidão entre tribos como coisa natural, mão-de-obra barata entre etnias branca e preta.

Isto aqui referido está descrito nos testamentos da Bíblia, no livro do Géneses em que os vencidos eram tornados à condição de escravos, em troca de suas vidas; gente da tribo de Canã; este gesto era tomado como “humanitário” e, fez parte de todos os códigos da antiguidade como o de Hamorábi, e o direito Romano que serviu de referência ao mundo Português, mas não só, até o século XIX. Entender-se assim a forma de servilidade tão característica nestes grupos de gente Lusa ancestral com origens diversificadas. Tudo isto para concluir que a escravidão foi introduzida na América em 1492 pelo próprio Colombo e conquistadores que se lhe seguiram pois que, em suas naus já levavam escravos. Foi, no entanto, a partir de 1501 que os introduziram em São Domingos. No Brasil, só se comprova a existência de escravos a partir de 1531, na Capitânia de São Vicente.

açores3.jpg 

GLOSÁRIO: Mafulo: - Holandês em dialecto kimbundo de Angola

NOTA: A reconquista de Angola virá logo a seguir à Saga do Açúcar pois que foi do Recife que saiu Salvador Correia de Sá e Benevides com uma frota de naus, que libertou Loanda do jugo Mafulo

O Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:29
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Sexta-feira, 11 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LIV

NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

COM FALA KALADOCUITO CUANAVALE . MAVINGA

- Crónica com ficção 3292 19ª de Várias Partes – 26.04.2022, na Pajuçara do nordeste brasileiro – Republicação a 11.11.2022 na Lagoa do M´Puto  ( Dia da Independência -  Há 47 anos...)

Porguerri3.jpgT´Chingange 

Numa01.jpgGeneral Kamalata Numa da UNITA 

Continuação das falas com o General Numa da UITA (ficcionada)

P: - A Batalha de Cuíto Cuanavale ocorreu entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988. Foi a batalha mais prolongada que teve lugar no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial. Que nos diz acerca desse evento?

G: - A batalha de Cuíto Cuanavale continua a ser reivindicada á revelia dos generais da UNITA que nela participaram; sempre será uma fractura entorpecida da verdade, quase um tabu no enaltecer de vaidades. Subsiste sempre aquilo que já se verificou na estória e, que ficou conhecido como o “Síndroma de Estocolmo” que, pode bem aqui, ser chamado de “Síndroma do Cuíto”

Por que isso aconteceu? Abro aqui um parêntesis para e em síntese, explicar o que é isso de “Síndroma de Estocolmo”: Algo que nem eu conhecia ao pormenor - Foi um caso peculiar que permitiu a observação de um estranho fenómeno em que os militares, passam a ter fortes afectos pelo próprio agressor (UNITA) após casos sérios de violência física, psicológica ou guerra forçada e prolongada. O soldado patriota, passa a ter um relacionamento de lealdade e solidariedade com seu agressor. A teoria consiste em acreditar que, apesar das adversidades apresentadas, o inimigo (UNITA) está de alguma forma tentando proporcionar algo bom. A vítima, MPLA, pensa não ter possibilidade de escapar da situação, uma vez que está em situação de vulnerabilidade – É o sistema de defesa da mente humana a buscar uma maneira de aliviar a situação.

mavinga2.jpg P: Para além da fuga de Luanda em 75, ouve mais tarde aquela que ficou conhecida como a “Grande Marcha” dos sobreviventes da UNITA à perseguição das forças ditas governamentais! Correcto?

G: - Ainda lembrando: No dia 8 de Agosto de 75, a UNITA em Luanda, teve de evacuar todos os seus ministros do Governo de Transição. Dá-se o genocídio da UNITA no Pica-pau com o assassínio total de todos os seus ocupantes. A perseguição continua até 17 de Agosto de 1975, obrigando todos os dirigentes, demais elementos e simpatizantes, Umbundos a fugir para onde quer que fosse para se manterem vivos. Em verdade, quem instalou a lógica da guerra foi o MPLA com a supervisão, beneplácito, oferta de material bélico e logística do MFA, dos portugueses …  

P: - Perto de Vila Flôr a cerca de 40 km do Huambo, na noite de sete para oito de Setembro de 1976, Canhala foi cercada, atacada, saqueada tendo o governo do MPLA massacrado toda a população. Foi assim, general?

G: - Isso! Não podendo admitir o erro, o MPLA atribuiu aos “fantoches da UNITA” a responsabilidade pelo massacre; quando, na verdade, a UNITA se encontrava desmantelando para Sudeste. Até final de 1976, embora desfalcada, a UNITA resiste a três operações dos cubanos e MPLA “Tigre” no Leste; “Kwenda” a Sueste; “Vakulukutu”, no Cunene. Neste ano, Savimbi envia para Marrocos 500 homens que, a coberto do apoio do Hassan II, recebem treino militar – em Março do ano seguinte, no 4º Congresso da UNITA, estes homens são nomeados comandantes do exército semi-regular da UNITA.

mavinga1.jpg P: - Pelo que sei também ouve actuação de topas congolesas al lado das topas ditas regulares do MPLA, Certo!?

G: - É verdade! À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola, praticando a politica de terra queimada e, na qual ficou a ser conhecida por “Ofensiva Ngouabi”, de Marien Ngouabi, presidente do Congo e que, em Setembro de 76, visitou oficialmente Angola. Entre as aldeias mártires da “Ofensiva Ngouabi”, contam-se Quissanquela, Capango, T´Chilonga, T´Chiuca e Mutiete. Nesta última, foi sumariamente executada toda a população masculina.

P: - A República Popular de Angola é admitida na ONU e reconhecida por vários países. Portugal seria o 88º membro a reconhecê-la. E, Como ficou a UNITA, general?

G: - Nesse mesmo mês, o comité político da UNITA abandona Huambo e inicia a retirada par Sudeste, com cobertura de uma coluna Sul-africana. Savimbi está no Leste e inicia, juntamente com duas mil pessoas, aquilo a que se veio a chamar a “Longa Marcha”. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, viria a atingir o Cuelei, a 28 de Agosto, milhares de quilómetros percorridos, apenas com 79 resistentes.

mavinga3.jpg P: - General, parece que tudo se acertou em 1991 com o tão desejado “Acordo de Paz”.

G: - Pois ouve sim uma pausa quando se sentaram à mesa nessa data, Alicerces Mango e Lucamba Paulo Gato pela UNITA e, Pitra Neto e o general Ika pelo MPLA. Foi nesse então que a UNITA exigiu um governo de direito democrático que nos levou a Bicesse; isto só foi possível após o último assalto ao Cuíto Cuanavale.

Mas, em verdade, foi a Batalha do Lomba em 1987, ganha pela UNITA que levou o MPLA a sentar-se à mesa de negociações. Se não fosse assim, nunca o MPLA cederia!

mavinga4.png P: - General, para terminar, qual foi a decisão que mais pesou na mudança da guerra?

G: - Naquela batalha do Lomba houve por parte de Savimbi a decisão de eliminar todas as fontes de abastecimento ao combustível petróleo. Foi sim decisivo na quebra de logística do MPLA que pretendia ser o dono da história e seguir subserviente à mentirosa versão russa. Mas, é sabido que os interesses económicos estão acima de qualquer outro ideal. E, aqui os americanos deram a volta – que ninguém mecha com seu petróleo. – Adeus USA, adeus América… Teremos de terminar aqui, com a oferta de alta tecnologia americana a Savimbi que sem falhas o localizou e, matou… Há sempre algo desconhecido que nos espera… Abraço!...

(Continua…) 

O Soba T´Chingange (Otchingandji)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:40
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Quinta-feira, 10 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LIII

NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

COM FALA KALADO – A TRAIÇÃO DO ALVOR - Crónica com ficção 3291

18ª de Várias Partes 25.04.2022 ,na Pajuçara do Nordeste brasileiro

– Republicação a 10.11.2022 na Lagoa do M´puto

Por ÁFRICA17.jpgT´Chingange

vaca0.jpg Aquele encontro em Lindoya com o General Kamalata Numa da UNITA, acabou em churrasco com a promessa de me dar uma entrevista sobre o tema Angola… Dizia então que se “Deus quiser como é de norma dizer-se entre cristãos” iriamos aqui estar de novo. Desta feita e, de comum acordo, falamos no exacto dia em que se comemora o Vinticinco de Abril no M´Puto (48 anos passados), o qual com todas as vicissitudes deu origem à independência de Angola. A entrevista começa assim do nada e, em uma data apelidada aqui de Vinticinco:  

P**: - General, como pode ver agora essa data de Vinticinco de Abril de 1975 que foi tão marcante para a liberdade no espaço da Lusofonia?

G**: - O regime instaurado em Portugal a 25 de Abril de 1974, tudo tem feito para minimizar os crimes cometidos contra a nova nação Angola, traindo logo à partida o Acordo de Alvor e, que ainda tanto apregoam e, pelos quais é directamente responsável; promovendo a propósito, o mito de que a Revolução dos Cravos foi uma “revolução sem sangue”. Por outro lado, passados que são 48 anos, ainda não ouve um alto dignatário do Governo do M´Puto que mencionasse este desaire que culminou na entrega da governação ao MPLA.

Numa01.jpg P: - General, para além do mais, estão hoje (dia do Vinticinco) condecorando com a ORDEM DA LIBERDADE no M´Puto o vilão que tudo fez para desvirtuar todas as eventuais boas intenções do Concelho da Revolução, um oficial vermelho chamado de Rosa Coutinho?

G: - Em 15 de Janeiro de 1975 foi assinado esse acordo que refere, “Acordo de Alvor” que deveria corresponder à transição de poderes de Portugal para os três movimentos emancipalistas reconhecidos. Portugal, tomou logo partido pelo MPLA pois que já antes deste acordo, se tinham reunido em Argel para consertar os procedimentos a que viemos a assistir. As consequências são por demais conhecidas e, assiste-se a uma permanente campanha de imunda falsidade da história com branqueamento de crimes com o apoio da pseudo “elite de Abril”, infiltrada nas escolas, universidade, fundações e observatórios, em quase todos os meios de comunicação de massas e até na figura principal do Estado Português.

P: - Como General da UNITA, como vê o desenrolar de todo o processo em Angola após o Vinticinco?

G: - Quem levou a guerra a Angola foram os portugueses que logo buscaram os russos para os coadjuvarem na mudança fornecendo-lhes toda a “aptidão” na técnica de guerra de sublevação. Chamaram a seguir os cubanos que entraram em solo angolano muito ante da data estipulada para a independência, o 11 de Novembro de 1975. Fizeram do MPLA e à revelia do povo, o representante de toda a população residente no território. Temos assim o MPLA/Governo, como o agente do neocolonialismo em Angola. Por detrás de tudo estão as decisões tomadas em Argel pelos militares portugueses, de esquerda. 

P: - Reconhece ter havido golpe baixo, senão traição, por parte de Portugal?

G: - É por demais conhecida a ida de Otelo Saraiva de Carvalho a Cuba

solicitar intervenção armada e a figura sinistra de Rosa Coutinho que tudo fizeram para que o rumo de Angola resvalasse na guerra entre irmãos. E, estava escrito naquele acordo que em Angola se formaria uma Assembleia Constituinte no prazo de nove meses. Nada disto aconteceu!

P: - Em Abril de 1975 Jomo Keniata organiza a Cimeira de Nakuru no Quénia, na qual a UNITA, MPLA e FNLA acordam na formação de um exército nacional único. O que falhou depois disto?

G: -Bem! Nesse mesmo mês (Abril de 75) Savimbi chega a Luanda. Cerca de dois meses depois, o MPLA destrói um quartel da UNITA na capital., chacinando militares e civis ali bivacados – este episódio ficou conhecido por “MASSACRE DO PICA-PAU, nome do bairro que albergou o quartel. Definitivamente o MPLA, pelas ordens de Rosa Coutinho, o cunhado de Agostinho Neto, não queria nenhum dos outros Movimentos intervenientes no “ACORDO DE ALVOR” em Luanda. Eu direi que este foi o mais escandaloso “DESACORDO” na estória recente que envolve países dos PALOPS.

adalberto junior unita.jpgP: Em Luanda, nesse então, havia provocações originando a fuga de brancos e assimilados, mazombos como eu. A lei, a ordem, a justiça eram coisas quase inexistentes ou anedóticas pela pior das negativas. Que tem a dizer a isto?

G: - Luanda ficou entregue a gente impreparada, gente racista como Lúcio Lara entre muitos outros e “miúdos pioneiros” que faziam querer tomar o controlo de tudo… Para o MPLA, era incontestavelmente seu líder Agostinho Neto, um medíocre poeta com formação universitária em Coimbra – O homem escolhido pelos generais e afins do MFA (dizem agora, ter sido o menos mau!). A UNITA também se retira de Luanda para o Huambo, antiga Nova lisboa. O MPLA fica dono e senhor da capital, a Luua.

P: - Muito antes do 11 de Novembro de 1975, desembarcam os primeiros cubanos que passam a apoiar o MPLA contra a FNLA tal como o combinado entre Fidel de Castro e Otelo Saraiva de Carvalho; hoje deve saber-se como tudo se processou?

G: - Assim foi! O pseudo-herói do VINTICINCO de Abril do M´Puto, conhecido pela rebelião dos capitães assim procedeu. Mas, em verdade já havia em Angola e Congo Brazaville cubanos em treinamento para ultimar sua entrada em Angola e, muito antes do 11 de Novembro. Esta força ajudou o MPLA contra a FNLA; força da FNLA que avançou para tomar Luanda, uma coluna na qual se incluíam mercenários de várias nacionalidades, portuguesas incluídas tal como Santos e Castro um oficial superior nascido em Angola; também havia um elevado número de zairenses - sete ingleses, dois americanos, um cipriota, um escocês e um sul-africano que são feitos prisioneiros e, que num julgamento sumário, mais tarde, foram fuzilados

toledo20.jpg P: - Houve na África Portuguesa, uma limpeza étnica da população branca, promovida pela União Soviética com o total apoio dos partidos da esquerda portuguesa: - PCP e PS. Que tem a acrescentar a isto General?

G:- Em verdade, o Relatório Final da Comissão de Peritos estabelecido conforme a Resolução 780 do Conselho de Segurança das Nações Unidas* definiu a limpeza étnica como sendo: “Uma política propositadamente concebida por um grupo étnico ou religioso, para remover a população civil de outro grupo étnico de uma determinada área geográfica, através de meios violentos ou que inspirem terror”. Pois foi isto que aconteceu com Umbundos e Brancos… As evidências e as provas de crime são tantas que, não restam dúvidas de que a descolonização da África Portuguesa foi uma limpeza étnica da população branca, Quiocos e Umbundos, promovida pela União Soviética com o total apoio dos partidos da esquerda portuguesa: - PCP e PS.

Ver Nota***

Notas- 1*: Ver documenta – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇOES UNIDAS – Relatório Final da Comissão de Peritos Estabelecido Conforme a Resolução 780 do Conselho de Segurança (1992). 27 de Maio de 1994; 2**: - P de pergunta, G de General; 3***: - Nesta data o M, movimento governo, continua no poder tendo sufragado João Lourenço como Presidente do MPLA/Angola, com fraude. Batota verificada mas não aceite pelos apêndices de Tribunal Constitucional e Eleitoral, tendo recusado as provas da victória, sem sequer as lerem. A prova de que foi ganhador Adalberto da Costa Júnior, Presidente da UNITA…

(Continua… Sobre Cuíto -Mavinga) 

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:59
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Terça-feira, 8 de Novembro de 2022
GUARARAPES – 2

RECIFE – A SAGA DO AÇÚCAR

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA

Crónica nº 3289 de 23.04.2022 na Pajuçara de Maceió, de Alagoas, Brasil

– Republicação a 08-11.2022 em Lago do M´puto

Por palops1.jpgT´Chingange (Ochingandji)

vieira1.jpg O governo do Brasil Holandês (Mafulos*) capitulou a 26 de Janeiro de 1654 tendo sido então o mais importante registo da História Militar de toda a América do Sul; depois deste acontecimento há a salientar de relevante saga, a libertação dos cinco países americanos por Simon Boliver. Após a capitulação de Recife, os moradores aclamaram a liberdade contra a dominação holandesa e, a 7 de Outubro de 1645, os homens de guerra de Pernambuco lavraram certidão de aclamação a João Fernandes Vieira como Governador da liberdade.

Chegado aqui, terei de retroceder no tempo a fim de conhecer a saga do açúcar nas então capitanias, nomeadamente a de Pernambuco. Em 2009, numa das celas da prisão para políticos, em Recife do Brasil, “A praça das cinco pontas”, agora transformada em casa da cultura, comprei um livro que fala da saga do açúcar - como tudo começou na relação histórica entre as ilhas da Madeira, Açores e o Brasil. O açúcar vingou no Nordeste Brasileiro por força da intervenção madeirense tendo, entre outros pioneiros o nome destacado de João Fernandes Vieira, um mestiço que em 1645, já era o maior proprietário de engenho do açúcar em Pernambuco.

vieira2.jpg Deve-se principalmente a ele, Vieira, a restauração de Pernambuco com a retirada do Conde de Nassau, o governador Holandês que a partir de Olinda geria o império da Companhia das Índias Ocidentais. Vieira assumiu o Brasil como terra sua e as suas atitudes tomaram foros do que se veio a designar “o nascimento do conceito brasileiro”. Antes de continuar a descrição da Saga, convém dizer que O Mafulo Maurício de Nassau foi em verdade muito importante na história do Brasil de então pois que introduziu novos processos de gestão de uma visão mais avançada para a época. O mercantilismo e o atributo de subsidiar o investimento, fez crescer vários negócios no Nordeste brasileiro.

A Madeira, foi o início - As ilhas da Madeira e Açores tiveram na introdução do açúcar no Brasil e, a implícita emancipação pelo conceito em se ser brasileiro. Esta gesta de gente que lutou pela liberdade contra os Holandeses por alturas de 1640, enfrentou do outro lado do Atlântico – Angola, os mesmos Mafulos* que em paralelo com a rapina de Olinda, se apoderaram da cidade de Loanda. Esses intervenientes salientaram-se como heróis que a história quis esquecer; muitos morreram em prol de terras que escolheram para ser suas; supostamente, uns em Brasil, outros, no reino de N´Gola, uma esquina nesse então, esquecida do mundo.

madeira2.png A descoberta da Madeira aconteceu em 1420 e, a 8 de Maio de 1440 o infante D. Henrique lançou a base de estrutura no conceito de posse, dando a Tristão Vaz carta de Capitão de Machico. Esta foi a primeira capitânia a ser atribuída a gente que por feitos se tornou de “linhagem Lusa” defendendo-se assim um sistema institucional que deu corpo a novas terras. A formação do Brasil colonial, foi à semelhança de Machico, também, partindo da atribuição da capitânia, a de S. Vicente, ”a Nova Madeira” na costa Atlântica das terras de Vera Cruz. Aqui nasceu a grande metrópole que é hoje, São Paulo com mais de vinte milhões de almas.

Na capitânia de S. Vicente foram construídos os primeiros engenhos açucareiros; mestres madeirenses às ordens dum senhor governador de nome António Pedro Leme, terá sido o pioneiro no plantio das primeiras socas de cana oriundas da Madeira. Com aquelas primeiras mudas de cana-de-açúcar, se formaram os primeiros canaviais dando-se início à saga do açúcar na faixa litorânea Paulista. Os Madeirenses, foram assim, os primeiros colonizadores e, isto, foi só o início. No decorrer dos anos, foram até às imensas regiões do Sul aonde se situa agora o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; mais tarde e com maior impacto tomaram raízes mais afincadas no Nordeste Brasileiro

madeira1.jpg O facto de a Madeira ter sido modelo de referência para o espaço global da Lusofonia Atlântica, não tem sido reconhecido ou, divulgado. Esta migração humana que arrastou consigo um universo de conceitos, tecnologia, usos, costumes, cultura e novos conhecimentos e até pesquisa no campo da flora, silvicultura em geral, teve um impacto de evidente progresso. Não é sem razão atribuir-se a Portugal o início do conceito de globalidade; em verdade este mérito tem tudo a ver com os genes Lusa.

Nesta primeira pedra da gesta Lusa em terras mais além de Sagres, houve impactos negativos mas, os de mais-valias para o Mundo valorizaram o arco-íris final. A pequenez da Ilha Atlântica e sucessivas crises naquela tão difícil empinada topografia levou os ilhéus a buscar outros destinos menos trabalhosos e mais auspiciosos; primeiro foram para os Açores e Canárias mas, mais tarde, em precárias embarcações quinhentistas sulcaram com gentes continentais terras longínquas como Curaçau, Venezuela, Brasil, Angola e África do Sul, levando consigo um modelo de virtude social, político e económico.

GLOSÁRIO: Mafulo: - Holandês em dialecto kimbundo de Angola

O Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:09
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Quinta-feira, 3 de Novembro de 2022
GUARAPES – 1

RECIFE – A SAGA DO AÇUCAR

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA19.04.2022 na Pajuçara de Maceió, de Alagoas – Brasil – Republicação a 03.11.2022 em Messejana do M´Puto

PorSoba T´Chingange brasil.jpgT´Chingange

guararapes1.jpg Foi há 374 anos - O Dia do Exército no Brasil é celebrado em memória à Batalha dos Guararapes, que ocorreu a 19 de abril de 1648, no estado de Pernambuco. Foram as principais acções bélicas ocorridas no Nordeste brasileiro contra a presença dos holandeses (Mafulos) na região. O berço da nacionalidade e do Exército Brasileiro tem neste local de Guararapes os factos que passaram à história como o inquestionável marco e, a partir do qual se desenvolveu o embrião do sentimento de nação brasileira. Deste modo irei reeditar a SAGA DO AÇUCAR inserido aqui no item GUARARAPES para se entender essa gesta heróica que originou o conceito de brasileiro e o início de uma nação

O dispositivo das forças Patriotas comandadas por Francisco Barreto de Menezes era o seguinte: O flanco direito era protegido pelo terço (ou grupamento) do índio Felipe Camarão, oculto na restinga de mato existente dentro dos alagados; O flanco esquerdo era protegido pelo terço (ou grupamento) do negro Henrique Dias, ocupando a parte central do Morro do Oitizeiro; No centro, ocupando a parte baixa junto ao córrego da Batalha, entre o Oitizeiro e o Outeiro, o terço dos brancos comandados por Fernandes Vieira; e em reserva, mais a retaguarda, o terço de Vidal de Negreiros.

António Dias Cardoso lançou um destacamento avançado pela Estrada da Batalha, composto por 200 a 300 homens e estabeleceu o contacto com os holandeses. Passou a retardá-los, atraindo-os para o Boqueirão, fazendo-os pensar que estavam em contacto com a principal força dos Patriotas. Mas era uma isca para atrair os holandeses (…). Pesquisa histórica revela que a palavra PÁTRIA foi pela primeira vez, mencionada em território brasileiro no texto “Compromisso Imortal”, relacionado com a invasão holandesa e assinado por 18 líderes locais em maio de 1645. Em homenagem a esses heróis, o Comando da 7ª Região Militar instituiu a saudação PÁTRIA, com a resposta BRASIL, em maio de 1998, a qual foi estendida pelo Comando Militar do Nordeste para toda a sua área de jurisdição.

guararapes2.jpg Em Setembro de 1645, os “Luso-brasileiros” isolaram a capital do Brasil Malufo deixando seus habitantes à míngua; Johan Nieuhof, alemão residente em Recife, testemunha que “os gatos e cachorros, dos quais havia em abundância, eram considerados finos petiscos. Viam-se negros desenterrando ossos de cavalo, já muito podres, para devorar o tutano com incrível avidez”.

Algumas atrocidades entre os citiados atingiram foros de bestialidade como alguns descritos existentes no Instituto Ricardo Brennand; descrevem actos cometidos pelos holandeses e índios antropófagos seus aliados: - Foi-lhes entregue para alimentação, corpos das vítimas feitas por seus soldados. “Selvagens Tapuias a quem animavam como a tigres ou lobos sangrentos, e diante de seus olhos, comiam os corpos mortos daqueles que haviam matado”.

guararapes3.jpg João IV não tinha efectivamente escolha quanto à decisão de resgatar Pernambuco para Portugal porque, sem o açúcar do Brasil, não teria como pagar aos exércitos incumbidos de defender a fronteira continental dos beligerantes espanhóis. A perda do Brasil, envolveria o desaparecimento de Portugal como nação independente. Os Mafulos tinham em seu contingente militar, mercenários franceses, alemães, polacos, húngaros, ingleses, e de outras nações do Norte, todos versados e experimentados nas clássicas guerras de então da Flandres e Alemanha. Desconheciam a tocaia, a guerrilha de arco e flecha, o ataca e foge em matos difíceis; para eles era uma guerra desmoralizante pois nem sempre divisavam o inimigo.

Um cronista de nome Pierre Moreou, testemunha presencial daqueles dias de cerco no Recife em contínuo bombardeio de artilharia feito pelos insurrectos Luso-brasileiros refere: “Todo o Brasil é povoado com numerosos guerreiros, sabem como subsistir e vivem do que a terra produz de forma abundante, prescindindo dos produtos da Europa o que é impossível aos Holandeses (Mafulos) que não têm senão soldados de carreira, recrutados em diversas nações, mais comprados que escolhidos de cuja fidelidade não se pode fiar. Pouco adaptados aos costumes e ao clima diferente de seus países, não conhecem atalhos e nem o local apropriado para emboscar.

reci1.jpg Os Luso-brasileiros (portugueses) ao contrário, nasceram aí em sua maioria, e são robustos, um mesmo povo, os mesmos costumes, as mesmas crenças e compleição auxiliando-se uns aos outros, não deixando de valorizar a terra aproveitando-se dela. Conhecem os menores recantos e bastava-lhes esperar seus adversários em determinados locais e, abatê-los. Enquanto decorriam as vitórias nos Montes Guararapes pelos insurrectos de Pernambuco a moral das tropas Holandesas entravam em declínio descrevendo-se assim os acontecidos: - “ Os combatentes Luso-brasileiros por natureza ágeis e de grande firmeza nos pés, são capazes de avançar ou bater em retirada com grande rapidez, com ferocidade natural constituídos que são de brasileiros Tapuias, mamelucos, etc.,... Todos filhos da terra"…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:59
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Quarta-feira, 2 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LII

NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

COM FALA KALADO  Crónica com ficção 3285 17ª de Várias Partes

18.04.2022, na Pajuçara do Nordeste brasileiro – Republicação a 02.11.2022 na (Praia de) Messejana do M´Puto

Porsoba40.jpgT´Chingange

tiradentes1.jpg No dia 21 de Abril, comemora-se como feriado no Brasil o “Dia de Tiradentes”. Este feriado faz alusão à morte do mineiro mais conhecido na história por Joaquim José da Silva Xavier. Tendo referido há dias um antigo companheiro da UNITA como convidado a estar presente nas festividades do Kilombo Zumbi, lá para Novembro, mais propriamente no dia da “Consciência Negra”, para minha surpresa recebi um telefonema do Park Lindoya às margens da Lagoa Manguaba pedindo-me para ali me deslocar pois que havia alguém ali hospedado a querer contactar comigo!

Adiantei que não iria sem me dizerem qual o fim do encontro e o nome da pessoa em causa. Quando mencionaram seu nome fiquei bem admirado e até pensando num golpe de um qualquer maluqueiro. Era nem mais que o General Kamalata Numa da UNITA - queria estar comigo! Engasgado disse que daria uma resposta mais tarde e, tirando-me de cuidados fui até ao local já meu conhecido e, sim, era ele mesmo - muito mais velho, claro!

 GARANHUNS1.jpgNossa relação tinha sido bem passageira quando Kalakata o militar pertencente ao Comité da Caála, ainda vivo, me apresentou a este militar de patente rasa. Nessa altura exercia eu as funções de Secretário de Relações Públicas; por inerência tinha muitos contactos com gente próxima à organização política de topo e muito próxima a Jonas Savimbi mas e, a partir daí nunca mais nos vimos, 47 anos já passados!

Apresentados de novo, inquieto pela inusitado encontro, demos um abraço cordial e assim sentados tomando um suco de graviola foi-me dizendo que estava ali a convite de um familiar a fim de assistir às festas Juninas e, que vinha para ficar uns três meses pois que fazia questão de estar presente no já referido “Dia de Tiradentes” para o qual também tinha sido convidado pelas competentes autoridades.

GARANHUNS2.jpg O General fez-me inúmeras perguntas ao qual respondi com algum detalhe depois da minha forçada saída de Angola através da ponte “Lualix” no longínquo ano de 1975. Agradeceu-me pelo convite inserido nos trabalhos da “Fundação de Zumbi de N´Gola” e, enaltecendo dentro do que lhe era possível saber, do meu contributo como Zelador-Mor na Fundação de Zumbi de N´Gola tendo como benemérito a figura por mim recuperada na estória do Coronel emérito Fala Kalado, agora Comendador…

Adiantei-lhe que para o efeito contava com sua presença e do possível contributo nos previstos simpósios, seminários e as inerentes conferencias de participantes que ainda não estavam totalmente catalogadas, nem convites formulados mas, que já havia sim, um esboço de planeamento pendente dos conferencistas com os demais convidados de relevância na dissertação da “Civilidade Bantu”, tais como políticos, escritores, jornalistas e individualidades do foro africano e, ou mundial. A seu pedido fui esclarecendo-o do que foi a Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira: que foi uma revolta no ano de 1789, de carácter republicano e separatista, organizada pela elite socioeconómica da capitania de Minas Gerais...

GARANHUNS3.jpg Ela foi baseada nos ideais do Iluminismo e teve influência da Revolução Americana, que resultou na independência dos Estados Unidos. Que no século XVIII, Minas Gerais era a capitania mais próspera do Brasil... Que devido ao grande volume de extracção, o ouro começou a entrar em decadência. Nesse cenário, o Visconde de Barbacena em 1788, deu a ordem de realizar uma “derrama” – mecanismo utilizado por Portugal para realizar a cobrança obrigatória de tributos.

Esse foi o estopim para a elite local antecipar os preparativos para a revolta. Na verdade, a conspiração nem chegou a ser iniciada, pois foi descoberta após autoridades coloniais em Minas Gerais receberem denúncias. Para resumir, o alferes dentista, acabou por ser cortado aos pedaços com exibição de seus desgarrados pedaços de carne como se o fosse de um cordeiro sacrificado para exemplo… Depois dum herói negro de nome Zumbi, de um herói branco de nome Xavier Tiradentes, é tempo de se encontrar um herói pardo, cafuzo, mameluco, mazombo ou matuto*… O encontro acabou em churrasco e a promessa de me dar uma entrevista sobre o tema Angola… Iremos ler, se Deus quiser como é de norma dizer-se entre cristãos…

GARANHUN01.jpg * NOTA: Estamos a 02 de Novembro de 2022 - Esta republicação tem por objectivo repor as crónicas na ordem do Kimbo que por um erro técnico não foram inseridas na Torre de N´Zombo. Por via disso, muita coisa alterou recentemente no Brasil. Após eleições a 30 de Outubro do corrente ano de 2022 o matuto Lula tonou-se presidente pela 3ª vez, vencendo com vantagem de menos de 2% ao actual Jair Bolsonaro. Está assim encontrado o terceiro herói desta inventação: LULA DE  GARANHUNS...

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:33
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Domingo, 23 de Outubro de 2022
MAIANGA . XXIV

“TAMBULA CONTA – Maianga, é lugar de muitas e boas águas”

- FUI BAPTIZAR-ME DE NOVO NO S. FRANCISCO EM PIAÇABUÇU

. Crónica 327809.04.2022 em Piaçabuçu – Republicada a 23.10.2022 em Lagoa do M´Puto

Por piaçabuçu02.jpg T´Chingange – Na foz do Rio São Francisco

Piaçabuçu1.png PIAÇABUÇU - Piaçabuçu é um município do estado de Alagoas, no Brasil. O curioso deste nome é o de que é a única palavra escrita em português com dois “Ç” de cedilha. "Piaçabuçu" é um termo de origem tupi que significa "piaçava grande", piaçá de folha acerada da palmeira com que se faz as vassouras e buçu de grande palmeira que existe na região. Este dia foi dedicada ao aniversário de uma grande amiga de nome Margarida e também do recordar de meus ancestrais que morreram em milhares nas trincheiras, naquela que ficou conhecida como a batalha de La Lys travada na 1ª grande guerra em Flandres da França – 9 de Abril…

A história da região do rio São Francisco, iniciou em 1660 com o português André Dantas com a penetração rumo ao interior de Alagoas. O povoado surgiu a partir de uma capela que Dantas mandou construir em homenagem a São Francisco de Borja. Foi pertença da capitania hereditária de Francisco Pereira Coutinho. Este município de Piaçabuçu tem o maior banco de camarão do Nordeste, resultado do volume de material orgânico jogado ao mar pelo rio São Francisco, o rio da integridade brasileira.

piaçabuçu01.jpg Piaçabuçu foi elevada a vila e município em 1882, tendo sido desmembrada de Penedo. O município, institui em 1983 por acção do Governo Federal, os projectos de protecção às tartarugas e aves migratórias. Nas areias da foz do S. Francisco existem dunas que em seu conjunto mais se parecem inseridas em um deserto; têm a particularidade de se moverem pelo efeito do vento, um caso única em Alagoas.

Com altas dunas, fazem em seu conjunto, um belo contraste com o mar. Já tive oportunidade de subir às maiores dunas do mundo, no lugar de Sesriam no deserto namibiano do Sossuvley na cadeia de montanhas de Naukluft Park. E, foi a Duna 45 que sempre ficou colada às minhas lembranças… para além de todas as notícias convém recordar que Piaçabuçu teve também o seu ciclo do arroz. Já em 1834, principiou o cultivo de arroz, neste vale do rio e, após a Independência do Brasil (1822), seu cultivo ganhou força nas terras da região do baixo São Francisco, entre outras, enriquecendo rapidamente cidades como Piaçabuçu, Penedo, Igreja Nova. Até hoje, Piaçabuçu é a segunda maior produtora de arroz de Alagoas.

piaçabuçu03.jpg Grande parte da economia da cidade gira em torno do turismo, em especial do passeio ofertado por diversos barcos particulares à foz do Rio São Francisco, que banha a cidade. Um dos mais famosos barqueiros locais é conhecido como o Delta do São Francisco. Neste cenário de indescritível beleza quando suas águas se encontram com o mar, com dunas de areias claríssimas e várias lagoas de águas mornas, enquanto o estudante, musico, cicerone e entreteinar de bordo local de nome Luís levava seu lote de turistas a ver uma das dunas moventes, eu e Ibib, ficamos bem por debaixo da larga sombra aonde o cheiro nos convidada a ficar para provar as iguarias

E, comodamente sentados podíamos ver lá na duna mais alta do local, Luís, o manager, explicar, cantar, inventar, historiar e até tirar umas fotos fazendo beleza como quase estando na ponta do Titânik fazendo levantar no ar as sedas de cada qual, esvoaçantes; Três sobreviventes coqueiros lá no lado norte, na direcção de Deserto Feliz, uma nova cidade e bem perto de Cururipe, coqueiros sobreviventes, assistiam como nós aos suprimento de carências na resiliência como soe dizer-se de Luís, o cantador de baladas e música freelancer de forros de sopé da serra.

piaçabuçu2.jpg Comemos espetadas de pilombeta, um peixe pequeno oriundo daquelas águas baixas das lagoas, queijo de coalho assado no carvão e na companhia de frescas Skol resguardadas do calor. A conselho do ocasional marujo do jacaré dos rios, comprei por quinze reais uma especial cachaça com bagas de cambuí… O fruto cambuí é consumido in natura, bem como em sucos, tortas, compotas e geleias, entre outros usos. São atribuídas ao fruto propriedades terapêuticas como adstringente, antidiabético, hipoglicemiante, antioxidante e anti-séptico.

piaçabuçu04.jpg O Cambuí, é também rico em carboidratos, lipídeos e proteínas. Acho que devo ter todas estas maleitas e, assim o usei botando um niquinho no café e, assim, levantei as mãos com os dedos abertos e no vento das dunas fujonas, bati todos juntos chispando um uiui com estalo de cangaceiro, que coisa boa que desce e sobe rápido e em simultâneo… O dia foi lindo mas terminou como todos os dias; cansado fui cedo para a cama pensando nas velas quadradas das canoas que outrora via naquela foz do São Francisco e, hoje não vi!… Fui!

O Soba T´Chingange  



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:43
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Quarta-feira, 19 de Outubro de 2022
A CHUVA E O BOM TEMPO . CXXIV

NAS FRINCHAS DO TEMPO

- Nova maneira de aprender novas verdades!... Com atitude….

Crónica 3275 – 06.04.2022 em Pajuçara – Republicação a 19.10.2022 na Lagoa do M´Puto

Por pajuçara02.jpg T'Chingange – Na Pajuçara de Alagoas do Brasil e Lagoa do M´Puto

pajuçara02.jpgHoje dia seis de Abril, perfaz 42 dias de guerra na Ucrânia; guerra que teve início em 24 de Fevereiro do ano que decorre, 2022. O sargaço aqui na praia da Pajuçara tomou-a por completo e, ir para a água límpida, só após atravessar uns cinco metros em denso escuro das algas que inevitavelmente têm pequenos paus, plásticos, canudos e rótulos de passoca, mais folhas velhas do mangue; em tempo de chuvas, é o caso, é normal surgirem estas manchas que a braveza do mar faz soltar e trazer aos poucos para a areia, forçadas pelas correntes de fundo.

Mas, após esta pequena barreira de mau aspecto, sujo, a água tem a cor de esmeralda até chegar aos arrecifes, aonde as grandes ondas se desfazem em uma linha de espuma e, ao longo destes; na maré rasa o mar fica um espelho como se o fora uma grande piscina, ora translucida ora transparente ou meia baça e na cor de esmeralda. Bem cedo ouvem-se as ordens ritmadas vindas das doze silhuetas que remam a cana de um para outro lado, exercício matinal que tem início ao romper do dia, cinco horas e dez minutos da manhã com o sol a despontar do lado do farol; e, se andam rápido!

Ginasticando minha talassoterapia, cabeça de fora de água, assisto à azáfama dos donatários dos chapéus que aos poucos vão dando colorido à praia. Primeiro vêm o alinhamento de seu espaço; uns medem a paços, fazem um risco com o pé na areia, medem nove andamentos para um dos lados e assim esburacam a areia segundo os definidos alinhamentos. Alguns só tomam as referências habituais e logologo surgem os chapéus quadrados com uns quatro metros quadrados ou uns outros ainda maiores, hexagonais com um e meio metros de raio.

Pajuçara2.jpg E, surgem as pequenas mesas de plástico, duas ou mais cadeiras de recostar e um balde para o lixo. No espaço de uma meia hora dispõem uns 14 chapéus: cada donatário usa sua própria cor e normalmente têm números pintados como se o fossem mesas referenciadas duma esplanada. Minha cadeira e minúsculo chapéu ficam quase imperceptíveis, no meio do grande bazar que se monta pela manhã e desmonta pela tarde. Usam carros carregados à mão como se o fossem paus de arara sem máquina que irão ser depositados em lugares próprios para os estacionar, não longe da praia dos Sete Coqueiros…

Bem por detrás da fiada de altos edifícios, estando eu em um deles, existe a cidade antiga de casas baixas com ou sem quintal e é em alguns logradouros destas casas em banda, que guardam seus apetrechos, normalmente cobertos com uma lona de plástico. Do andar aonde me encontro ouvem-se de noite os cânticos dos granisés, capotas, codornizes e, até perus. Aqueles chapéus de praia são enterrados na praia em buracos bem fundos; para o efeito usam umas especiais enxadas com dois cabos que com forte ligeireza vão espetando e tirando areia para o lado até chegar à certa fundura.

pajuçara04.jpg Bem na sombra e por debaixo das amendoeiras da índia dispõem a caixas térmicas contendo as tapas que irão servir ao longo do dia. Têm até fogão para esquentar, gelo para esfriar e muita cerveja a estalar de fria. Mexendo-me com gestos aleatórios de ginástica variada aprecio durante uma hora, podendo ir até à hora e meia a este frenesim de trabalho. Meu espaço preferido é o do Alam, um simpático moreno que bem pela manhã me dá um longo adeus desde a areia, um bom dia e falas que por vezes não entendo direito, devido à lonjura. Agora, ele é o Alain Delon.

Ele queria saber quem era esse tal de Alain Delon e tive sim, de explicar que era um artista francês do cinema; ele desconhecia! Li em recente notícia que este, escolheu ter uma morte assistida o que, surpreendeu todo o mundo! Sabe-se que em época de crise aumenta o número de suicídios. Há quem afirme que esse é um fenómeno real, enquanto outros dizem não passar de mito. Apesar de toda controvérsia a respeito, é necessário reconhecer que algumas circunstâncias podem levar algumas pessoas a esse acto. Nesse sentido, o risco de que tirem a própria vida aumenta consideravelmente quando enfrentam, por exemplo, problemas financeiros... O que não parece ser este caso… O mundo enlouqueceu!

Pajuçara3.jpg Já sentado em minha cadeira distribuo alguns grãos de jinguba favorecendo a pomba “papoila” sem pernas completas, corto uma maça e depois uma laranja, vou até à água limpar o mike guiver multiusos e disponho-me a ler, melhor, a triturar o livro “ grande sertão, veredas” de João Guimarães Rosa. A senhora Rita Fiuza passa, pára e manda um convite para minha mulher Ibib ficar à espera a fim de irem tomar café e deitar conversa fora na esplanada do centro comercial Unicompras. Aproveito dizer que esta senhora é nos episódios de Fala Kalado com sua Fundação de Zumbi de N´Gola uma personagem no papel de psicóloga de meu amigo, (nem tanto) de outras guerras… “Para tirar o final, para conhecer o resto que falta, o que lhe basta, que menos mais, é por atenção no que contei, remexer vivo o que vim dizendo. Porque não narrei nada à toa: só apontamento principal, ao que crer posso…” Usando falas de Guimarães, me explico: por agora é tudo!

Entretanto nesta republicação em terras Lusas e a quase oito meses de guerra na Ucrânia (19.10.2022) Putin decreta Lei marcial nos quatro territórios, Kherson, Zaporizhhia, Donets e Lugansk, ilegalmente anexados recentemente à Russia. Em Kherson o exército Ucraniano parece estar prestes a ocupar a cidade…   

 O Soba T´Chingange (Otchingandji)

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:14
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Domingo, 25 de Setembro de 2022
CAZUMBI LXXI

 

TEMPO DE SANFONASNo 19º dia da guerra da Ucrânia, 14.03.2022 em 7 coqueiros do Brasil – Republicação a 25.09.2022 no AlGharb do M´Puto

O Zé Barriga é mesmo pançudo – Crónica 3255CAZUMBI: É feitiço…

Por  Soba T´Chingange brasil.jpg T´Chingange - Na Pajuçara de Maceió e Lagoa do AlGharb do M´Puto

paju1.jpg Alain Delon dos chapéus vermelhos apresentou-me o vizinho donatário dos chapéus amarelos chamando-o de João Barriga e, em verdade, o nome condizia com a protuberante barrigaça descaída sobre seu calção da LaCost às riscas de um suave verde. Vi-me nele e, momentaneamente, deixei de comer a ginguba que ia ingerindo mandando uma ou outra para o conjunto de pombas que debicavam a areia – por pouco tempo.

Dediquei atenção a uma coitada pomba com um toco de perna e a outra meio comida do rato; curioso, pois era ela a mais hábil pelo que dei-me a pensar que a natureza preenche-nos de outros atributos quando ficamos carecidos de algo. Acabei por arrumar o embrulho do amendoim na sacola da praia no momento exacto em que passava uma senhora esbelta e elegante, de chapéu amplo estilo de capelina em palha e, com uma rede de seda a cobrir parcialmente seu corpo.

Ao redor da cintura com essa seda esvoaçante, as mãos tracejavam o ar sustendo na esquerda um rosário com o cruxifixo balouçando conforme o andamento. Rosário com 53 Ave Marias, seis Pai-Nossos, quatro glórias ao Pai-nosso, uma Salve Rainha na medalha e um Credo na Cruz. Juro que nem sabia como era o rosário mas tentei aprofundar meus conhecimentos e compreendi assim, as paragens e mudança de mãos correspondentes aos cinco conjuntos das Ave Marias!

paju2.jpg

A meia volta era feita no credo com beijo no cruxifixo. Há coisas tão inusitadas que me dão volta às bizarrias que me levam logologo até aos labirintos apócrifos. Posso adivinhar que a simpática veraneante rezava muxoxos para que a guerra já com 19 dias acabasse quanto antes. Estamos agora em 25 de Setembro com sete meses e um dia de guerra chamada de “Intervenção especial” e ainda não acabou... Lá bem no meio da praia serena, um pescador em sua balsa interrompe a remagem de ximbico e, já no meio da rede de cerco, levanta o bordão, uma e outras vezes batendo com força na superfície da água.

Interroguei-me! Já sei, é para assustar o olho-de-cão, peixe-espada, tainha, xaréu, matona, roncador ou sardinha. Desta feita e provocando medo aos respectivos, estes fujam indo de encontro à rede e logicamente ali ficarem aprisionados. Pode bem ser esta técnica a prática de Putin na guerra; amedrontar e fazer ir pelos ares ou fazendo extinguir oxigénio aos habitantes da Ucrânia; ao invés do bordão usa bombas de maior estrago, secando o oxigénio, fragmentando morte, muito diferente das cirúrgicas bombas de perfuração usadas em outros lados pelos americanos e seus primos. 

Russos e americanos têm andado muito próximos em suas experimentações de como banir o ser humano, irmãos até, crianças e velhos e de uma forma ora requintada, ora bruta e estupida como esta malvadez muito mais sofisticada do que a do louco Hitler. Putin leva tudo a eito e até aleatoriamente, mesmo sem confirmar se aquilo é creche, asilo de mais velhos, hospital ou maternidade.

Pajuçara3.jpg Sempre terei de falar com os personagens de minhas inventações, nomeadamente o FK, ex-coronel que mesmo com uma dose de catolotolo na forma de alzheimer, ficaria horrorizado em momentos de lucidez, com o uso de bazucas lança foguetes dum qualquer jeito e, também económicas, diria ele; creio que recordaria assim as antigas guerras no nosso tempo em que havia granadas defensivas de só fazer susto com barulho e ofensivas que espalhavam pregos pelos corpos moles. Hoje usam todas numa só com cheiros mortais, letais.

As bombas dissuasoras noutro tempo, eram só de brincadeira. Para Putin tudo vale, ofensivas, defensivas, extractivas, perfurantes, de fragmentação com cheiro e a cores, calorificas ou tracejantes, com vinagre, mostarda e pimenta, tudo sem regras como assim estivesse fazendo uma caldeirada de morte! Mas não obstante, como se o fosse só um menino a brincar de jogador de poker, ameaça  o Mundo com a bomba atómica, essa mesmo de neutrões, protões com susto paralisante a lembrar o tempo de Ló em que a mulher deste vira estátua só de ver a assombração da luz. Uma força da ONU deveria ir ate lá ao seu mukifo, prendê-lo e julga-lo! Criaram um tribunal de Haia só para inglês ver…Tudo tarda e o “agora” está por um fio com o carapau ao preço da lagosta… Assim, não brinco.

O Soba T´Chingange          



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:51
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Sábado, 24 de Setembro de 2022
MALAMBAS. CCLXVIII

TEMPO DE CINZAS. 12.03.2022 na Pajuçara – Republicação a 24.09.2022 em AlGharb do M´Puto

Crónica 3254 - Lendo a “TEORIA DA INCERTEZA” no 7º dia da guerra em Ucrânia

MALAMBA: É a palavra.

Por soba002.jpg T´Chingange, na Pajuçara de Alagoas e Lagoa do M´Puto

mano corvo.jpg Alain Delon, o donatário de dez paços de areia na praia Pajuçara chega por volta das sete horas da manhã fazendo um grande alarido em minha direcção, eleva as duas mãos, diz bom dia patrão e finca os dois polegares no ar abanados e virados ao céu para me desejar saúde. Estando eu a fazer movimentos de talassoterapia respondo do mesmo modo, com água até o pescoço, de óculos e chapéu quico branco do Palmeiras. Entrei na água pelas 5,45 horas, tépida, serena e espelhada como é normal na maré baixa. As calemas esbatem-se lá atrás nos recifes na forma de espuma branca; pode ouvir-se o barulho.

O Alain ganhou comigo o sobrenome de Delon em memória ao artista de cinema que me transmitiu alegrias na juventude Luandina, no antigo cine do bairro Maianga, meu clube, ou em uma outra qualquer das muitas salas ou esplanadas existentes na Luua de Angola tai como o Miramar, Império ou Avis. Aqui as sesmarias de posse d´areia são contadas em dez passos segundo uma direcção já estipulada e segundo duas referências como se fossem faróis ou bandeirolas, um poste alinhado com uma equina e, bem vertical à língua de praia.

Como chego muito cedo, a vastidão é só minha mas, porque conheço as balizas destes donatários sempre faço os possíveis para aqui ficar, sentar-me depois da hidroginástica, dizer umas larachas de soberania, comer uma peça de fruta à sombra do meu sombreiro com gravuras de peixe-agulha e flores, pegar no livro do dia para fazer a leitura hodierna; ainda ando mastigando o livro Veredas de Guimarães Rosa, triturando lentamente as falas intrincadas, parar e fazer-me entender envolto na riqueza de tantos vocábulos estranhos e, inusuais na literatura de hoje.

maqui1.jpg Sendo assim Alain deu paz à minha ideia congeminada entre o bracejar, rodar, remar e saltar abstraindo-me do olhar co contorno das cérceas que em curva se dispõem ao longo da marginal, calçadão, passeio e pista de ciclovia que ondula a marginal desta orla. Hotéis e edifícios residenciais que bordeiam esta grande piscina natural na forma de uma pequena baía. Estou bem em frente ao pavilhão de artesanato; posso vê-lo por entre os coqueiros e amendoeiras de um frondoso verde. É o lugar de Sete Coqueiros mas, em realidade são muitos mais.

pajuç1.jpg Tenho agendado fazer compra de prendas neste artesanato, oiro de capim das chapadas de Tocantins; pequenas lembranças a levar para o M´puto. Por via da guerra da Ucrânia, embora longínqua, terrível, estupida e medonha, tudo me perfaz num quanto baste provocando-me desagasalhadas alegrias. O Alain passa e, mete-se comigo enquanto acaba de espetar seus grandes chapéus quadrados e vermelhos, num total de nove na sua sesmaria, dizendo:- Hoje é dia de escrita, patrão!? Sem esperar resposta, que nem era para isso, num entretanto acode a dois casais acomodando-os bem ao lado preenchendo assim a frontaria da maré…

Ver a praia desnuda e, do nada virar coisas, chapéus de múltiplas cores, cadeiras, mesas e arrepios de vida, se o quiserem resiliência também. Assim vi! Num repente veio um relance que também me arrepiou ideias. Minha rasa opinião sucumbe no braço d´armas da guerra que mata gente como quem mata coelhos. Putin, o dono da caça, ele tem olhos muito incertos e vesga-os sem sair qualquer suor pestanejado, cara de cera, sem lágrimas nas beiradas de sua testa, o filho da puta! Vou dizer mais o quê, apetece-me chamar-lhe nomes.

pajuçara1.jpg Cada um com a casa atrás da parede, tijolos desfeitos, atrás do nada, um zumbido, muitos mais, um estrondo e muitos mais, fragmentando mortes, o crepitar de labaredas, caibros que caem, muitos e mais muitos rebentamentos só átoa com cheiros, com fumos – ninguém tinha esperado – ninguém tinha pensado. E, depois, um silêncio tremido de medo com choro abafado e de novo, um segundo que vira século, aquele outro silêncio pior que um alarido, que dói…

No buraco escuro, escutando a rádio, opiniões, muitas até em que não me assopro, hipocrisia. Que crime? O homem veio guerrear com todo o mundo. Guerra! Crime que sei, de fazer traição; não cumprir a palavra, não a ter: Uma arte de intrujice, nunca vista, nunca sentida, nunca cheirada. E o resto do mundo? O resto do mundo ficando agachados, molengados, por nivelar sem diferir. Na ponta dos olhos da gente sai uma raiva, outra e mais outra, feitas lágrimas. Ideias que vão e vêm – a gente empurra para trás, mas a todo o momento elas voltam a rodear-nos nos lados. E o mundo, no mundo a gente que pode, tem muitos mais lados! E, não há lá no sítio da URSS, um filho da mãe que lhe ofereça um como de cicuta…

O Soba T´Chingange                   



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:13
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Quinta-feira, 14 de Julho de 2022
PARACUCA . XLIV

MULOLAS DO TEMPO . 15 28.01.2022 - Na Pajuçara do Nordeste brasileiro

RECORDANDO: 26º e 27º dias. Nós, bazungus no ALCON COTTAGE em MONKEY BAY às margens do lago NIASSA do MALAWI a 16 de Outubro de 2018

- Crónica 3234 – Republicada em Kimbo Lagoa a 14.07.2022

Porsoba15.jpg T´Chingange (Otchingandji) – No AlGharb do M´Puto

INHASSORO 092.jpg Por terra, andamos vendo um deslumbrante espelho de água até chegar aqui a Monkey Bay na parte Sul do Lago e no lugar de Alcon Cottage, um lodge de um indiano com piscina e árvores frondosas com o nome de Juliette. Sereno, selvagem, tranquilo, invade-nos com uma misteriosa paz e invulgar quietude. É o nosso 26º dia de viagem da “Odisseia Potholes”. Aqui, a intermete não funciona em pleno embora tivéssemos pago 2000 KwN (25 €).  

Por aqui, fiquei a saber que na língua chinyanja (ou chinhanja), falada na orla moçambicana do lago, Niassa significa "lago", tal como o próprio nome do povo que usa aquela língua, os Nyanjas, significa povo do lago. Em chichewa, uma das línguas do Malawi, a palavra malawi significa o nascer do sol, visto que, estando a ocidente do lago, é dessa forma que os malawianos vêem nascer o dia, sobre o lago.

INHASSORO 090.jpg É um lago único no mundo por formar uma província biogeográfica específica, com cerca de 400 espécies de ciclídeas descritas endémicas. O nível da água varia com as estações do ano e tem ainda um ciclo de longa duração, com os níveis mais altos em anos recentes, desde que existem registos. Estou a gozar o vento aprazível que vem do lago e debaixo de uma frondosa árvore chamada de Juliette.   

Nosso destino e, dentro de dois dias iremos para o Liwonde National Park mais a Sul, um lugar já muito próximo da fronteira com Moçambique e por ali iremos permanecer uns dois dias fazendo nosso bivaque com as tendas pois que ficaremos num lugar de camping. Elas foram compradas para isto mesmo mas até aqui sempre ficamos em lodges ou hotéis; uns em beira de estrada e outros com as características típicas de chalés com cobertura em palha.

INHASSORO 111.jpg E, porque já descrevi os lugares de nosso percurso, vou agora descrever qual o fenómeno de existir um conjunto de lagos, uma fiada disposta ao longo do centro de África. Temos os lagos Tanganyka, Victória, Rukwa e Albert entre outros. Estes, fazem parte do Grande Vale do Rift, também conhecido como Vale da Grande Fenda - um complexo de falhas tectónicas criado há cerca de 35 milhões de anos com a separação das placas tectónicas africana e arábica.

Esta estrutura estende-se no sentido norte-sul por cerca de 5000 km, desde o norte da Síria até ao centro de Moçambique, com uma largura que varia entre 30 e 100 km e, em profundidade de algumas centenas a milhares de metros. Ao pernoitar em Karonga pensei neste hífen da viagem periclitante, coisa pouca a comparar com a fractura do RIFT da África. Pernoitando também em M´Zuzu, pude alhear-me do cicerone chato como a potassa e, apreciar todo o lago Niassa ou Malawi em toda a sua costa ignorando o “El Comandante”.

INHASSORO 351.jpg Este Grande Vale do Rift, tem a característica de ser considerada como uma das maravilhas geológicas do mundo, um lugar onde as forças tectónicas da Terra estão actualmente tentando criar novas placas ao separar as antigas. Mas, como é que essas fendas se formaram? Uma revista de publicação local, diz-me que o mecanismo exacto da formação correta, é um debate contínuo entre os cientistas. Este East African Rifts, assume que o fluxo de calor elevado do manto está causando um par de "protuberâncias" térmicas no centro do Quénia e na região Afar do centro-norte da Etiópia.

De anotar aqui que a história da Etiópia está documentada como uma das mais antigas do mundo. Recorde-se Lucy, esse achado arqueológico importante que desvenda nossa natureza humana, descoberta no Vale de Awash nessa mesma região - Afar da Etiópia. À medida que a extensão continua, a ruptura litosférica ocorrerá dentro de 10 milhões de anos, a placa somali se romperá e uma nova bacia oceânica se formará. Aquelas protuberâncias podem ser facilmente vistas como planaltos elevados em qualquer mapa topográfico da área ou visualmente como o é este presente caso...

(Continua…)

O Soba T´Chingange      



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:58
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Quarta-feira, 13 de Julho de 2022
MOKANDA DO BRASIL . XVI

TEMPO COM CINZAS27.01.2022 - No Nordeste brasileiro

E, aqui na PAJUÇARA - Se Deus salva as almas, e não os corpos, teremos de ser nós a resguardarmo-nos porque nem sempre é necessária a culpa para se ficar COVIDADO…

Crónica 3233. Republicada a 13.07.2022 no M´Puto

PorSoba T´Chingange brasil.jpg T´Chingange (Otchingandji) no AlGharb do M´Puto

xique xique4.jpg Embora o Senhor esteja em toda a parte, é de ter em conta de que Ele às vezes parece não nos ver, fazendo-nos sofrer por culpa de outrem. Na Praia da Pajuçara leio a notícia que é coisa que se tira a desejo, do fim do Sol espojando-se para o sono da noite. Foi um ontem transladado para hoje como um espelho preto. Da tristeza que sempre é notícia de toda a hora, o gráfico da ó·mi·cron que corresponde à letra “O” do alfabeto latino, subiu aqui e ali e, mais gente morreu.

Neste meio tempo de escrita, vou sendo rodeado de chapéus coloridos, cadeiras e mesas, caixas térmicas isopor ou esferovite com estampas de cerveja a estalar de frio, gulosas que chega, gente gira com barulhos de linguajar de Gravatá. Mais logo virão a música de forró e anedotas de repentistas caboclos, matutos e gente gira de cu-ao-léu, sereia mostrando a barbatana, os fios entalados na alegria dos olhos e cheiros de entaladinhos mais coxinhas de galinha e o acarajé da tia Alzira.

xique xique2.jpg E, assim e aqui na praia com algum aperto de desânimo aproveito para olhar para a banda de onde ainda se praz qualquer luz da manhã. Posso ver as velas enfornadas ao vento que vem do horizonte fazendo nadar as jangadas. Assim, mesmo sentado vou lambendo a fantasia de afinal quando é que a velhice começa surgindo de dentro da mocidade. Coisa endoidada de lembrar ao espaço pensamento em minha cabeça…

Lamber a maldição é castigo, mas a noticia que sempre a há, a gente tem de ir por ela, com ela e, entrar assim num mundo para buscá-la. A mulher caranguejo passa caminhando, bem, descaminhando ginástica de para trás, agarrando juventude na prática exercitada. Andando assim para trás diz-nos bom dia! Conhece-nos por temporada! Eu sou o que sou mas ela, mesmo andando à ré, continua a ser ela

paju1.jpg A mulher caranguejo já nem nos via há três anos mas, reconheceu-nos; quis saber notícias das maldades do mundo e, foi-lhe dito as balelas que todos sabem. Aos olhos da minha vazante, a maré já começava a subir, teria tempo de falar algo tal com falei e, eram 8 horas e 20 minutos, estava a meia hora de regressar ao meu mukifo no PortVille já ginasticado com a dose habitual de talassoterapia, escrever depois a minha crónica número 3233 para a Kizomba (esta).

Passar a limpo a mesma no computador, tomar o meu café da manhã “santa clara” e provar a canjica de milho branco com umas sementes de girassol e erva-doce porque a memória que Deus me deu não foi para palavrear às arrecuas; andando assim como a mulher caranguejo. E, sou mesmo forçado a criar tabus no meu espírito para me manter são na guerra da vida.

paju2.jpg Ou fico em silêncio, ou falo dizendo impropérios à falta do fervor alheia. De todo o modo, assim ou assado, com este ou aquele, no M´Puto ou aqui em terras de Vera Cruz, terei de aceitar o meu posto de cidadão, mesmo faltando-me a confiança; mesmo que daqui advenham tempos sombrios e confundidos. Terei de ir mandando pontapés aos espíritos, às arrecuas e de costas, pois!

Todos iremos morder o pó ou o fogo consoante a forma como desejarmos dispor do nosso bem-amado esqueleto. Toda a vez que vejo ou ouço "todo mundo usando máscara" impossível que minha mente não rebusque os estudos escatológicos da marca da besta que para mim é a mesma coisa. E falo isto agora, porque ainda me é permitido, porque eventualmente, em um futuro próximo já não me permitirão mais dizer o que penso. A vida anda muito perigosa...

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:09
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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