CARIRI . JUAZEIRO DO NORTE – Por terras de Lampião - VI
Por
T´Chingange
Com suspiros de desejos insatisfeitos, compadeci-me, escutando a boa fé dos humildes, suas singulares estórias e, regressando de Juazeiro do Norte no Ceará cruzando o sertão do Cariri, cantamos aqui e mais além desses 520 quilómetros até Bom Concelho a bonita canção que nos zumbia ao ouvido a todo instante:
A vida aqui só é ruim
Quando não chove no chão
Mas se chover tem de tudo
De tudo tem de porção
Tomara que chova logo
Tomara meu Deus tomara
Só deixo o meu Cariri
No último pau-de-arara
Enquanto a minha vaquinha
Tiver a pele e o osso
E puder com o chocalho
Pendurado no pescoço
Vou ficando por aqui
E, que Deus do céu me valha
Só deixo o meu Cariri
No último pau-de-arara
Compadecidos dos amigos romeiros, escutávamos-lhe as boas fés, ingénuas de comovida sinceridade das simples estórias carregadas de ensinamentos misteriosos. Entre largas vistas e buracos desavisados na via, passamos a cidade de Salgueiro e após quilómetros de muita garoba, sabiá e um ou outro juazeiro, a Serra Talhada estava aí. Quantas recordações não teria o cangaceiro Lampião desta sua terra natal quando percorria todo o Nordeste com a desculpa de vingar seu pai, espalhando a arte do cangaço; entre aquelas carnaubeiras solitárias, os pindovais ermos e silenciosos e aqueles trémulos horizontes sem verdura. Aquela mesma árida paisagem que divisávamos nas altas lombas da estrada.
Até Arco Verde, podemos no galgar dos espaços, ver nas bermas muitas carcaças de burros, bois, raposas e até rolos de pedaços de indefinidos bichos mal cheirosos. No meio do quase nada surgia como num oásis um e outro motel com coloridos corações e nomes sugestivos de cê-que-sabe, bora-bora ou kátekero, locais acolhedores cheios de segredos conjugais e manhas múltiplas de fracos maridos; namorados traindo-se em fartos desejos semeando chifres no cú-de-judas; em verdade, casas de tiro aonde se matam desesperos, angústias, relações mal curtidas, remendos de amores imperfeitos ou descarga de consciência em troca de três vinténs. Mesmo num deserto a vida não pode parar.
O Soba T´Chingange
CARIRI . JUAZEIRO DO NORTE – Os Ranchos do Padre Cícero - IV
Por
T´Chingange
Juntando periclitâncias de ricos e manhas de fracos em romeira confraternização, os mistérios da mente no mundo espiritual, compadecem-se debuxados no fundo de seus sonhos ou suas crenças de ingénua comoção; as desventuras confrangedoras dos humildes, misturam-se com lamechas de gente ruim que fingem nas queridinhas palavras, amores perversos. O personagem do padre Cícero, está tão ligada à história do Juazeiro que dar a conhecer a sua passagem por ali, nos cerca de noventa anos de sua vivência, quase nada fica dissociado dele entre o período de entre 1872 e 1934. Para se ter uma noção exacta das secas do Cariri, terei também de me reportar aos anos de 1914 e 1915.
No ano de 1914, rebenta em Juazeiro uma revolução emancipalista colocando em guerra romeiros marretas contra tropas legalistas enviadas de Fortaleza, capital do Ceará, gente volante com militares de zuarte azul a quem os romeiros chamam de macacos. Nesta contenda as forças marretas, bem entrincheiradas derrotaram os mais de mil macacos e, em assembleia elegem Dr. Floro Bartolomeu, o chefe rebelde dos romeiros, como Presidente do estado de Ceará; padre Cícero Romão era a segunda figura deste governo como Vice-presidente. Esta pequena guerra que envolveu quase todo o povo de Juazeiro, impediu que fosse feito o amanho das terras e, alguns deram-se à revelia com armas que virando bandoleiros debilitaram a já frágil ordem pública.
Lampião - Nascido no Cariri - Serra Talhada
À desordem produzida por bandos armados juntou-se a seca que se prolongou até finais do ano de 1915. Muitos tiveram que imigrar, outros ficaram enfrentando a macambira, a mucunã e o miolo da macaúba; a massa que se reserva debaixo da primeira casca do coco monondongo, era retirada para fazer a espécie e comer com leite do mesmo coco. Muita gente morreu de fome pelas calçadas; comiam gato, cachorro, rato, cassacos e outros bichos rastejantes. Convêm lembrar que a chapada do Araripe, foi o verdadeiro celeiro dos romeiros que ali faziam suas lavras, plantações de macaxeira; foram eles, a mandado do padre Cícero, os sem terra, romeiros de então, que desbravaram e cultivaram aquela serra tão rodeada de secura. Naquela seca de 1915, ali morreram de fome cerca de mil cearenses e, mais de quarenta mil tiveram de procurar outras terras para sobreviver. “ Ó que caminho tão longo, cheio de pedras e areia! Valeu-me meu paim Ciço e a Mãe de Deus das Candeias”.
O Soba T´Chingange
CARIRI . JUAZEIRO DO NORTE – Os Ranchos do Padre Cícero - III
Por
T´Chingange
As varandas compridas e sem forro no tecto, deixam ver ripas e caibros que sustentam as telhas; à mingua de sol e no canto dos fundos está uma estrutura de máquina Singer a fazer de mesa tendo em cima dois vasos com plantas de pimenta cujos frutos de jindungo, grandes, vermelhos de luzidio plástico, contrastam com o verde de suas folhas também de plástico. Aqui, no Juazeiro parece que o tempo parou deixando um legado de escravos devotos ao paim Ciço e Nª Sra das Dores com virtuosas senhoras extremadas em religiosidade; matutas e mamelucas emolduradas em seus rostos enrugados e macilentos arrastam seus sessenta anos com batalhões de moleques e cacaréus de defuntos passados. Os paus-de-arara, cobertos de lonas esticadas vão chegando pelo dia e noite adentro, carregados de gente garrida e apitando buzinasso contínuo nas proximidades da matriz até acostarem nos seus parques de destino.
Os muitos romeiros e comerciantes de facto e ocasionais, circulam em aperto entre bugigangas, rosários, candeias de lata, tachos e copos santificados por benzedura, o padre Damião e santos vários, destacando-se em variados tamanhos a figura do Padre Cícero com batina branca ou preta. As lojas por atacado vendem também roupas e fazendas a crédito e até panelas de pressão em segunda mão. Um Deus nos acuda de gente muito cheia de escrúpulos de sangue querendo ver ao pormenor os milagreiros mistérios da beata negra, filha e neta de escravos toda ela serviçal às causas nobres de Deus, Nª Sra das Dores e seu paim Ciço.
Na noite de 29 para 30, choveu mas, isso não foi impedimento de um casal pernoitar ali, junto às arcadas do adro da basílica cobertos somente com um plástico preto; ouvi vozes saindo de dentro daquele amarfanhado volume transpirado de vapores condensados à mistura com chuva santa de Deus de Cariri e paim Ciço. Na igreja do Socorro, não muito distante da Matriz as muitas pessoas de joelhos, rastejando, tentam alcançar o túmulo do padre Cícero Romão Batista com as mãos, pés e coisas, pertences que desejam serem abençoadas. A lápide do túmulo fica no altar, rodeada por um varandim em ferro trabalhado. Tivesse Arquimedes a fé desta humilde gente e, suas alavancas mudariam o mundo pondo o Cariri sob chuvas perenes.
O Soba T´Chingange
CARIRI . JUAZEIRO DO NORTE – Terra do Padre Cícero - II
Por
T´Chingange
O padre Cícero retornou de Roma a Juazeiro tendo a decisão do Vaticano sido revista dando continuidade à excomunhão, porém, décadas depois, o bispo Dom Fernando Panico sugere que a excomunhão não chegou a ser aplicada de facto (há aqui um mal explicado mistério de sacristia). Em 1973, o Padre Cícero Romão, foi canonizado pela Igreja Católica Apostólica Brasileira. Actualmente, Dom Fernando conduz o processo de reabilitação do padre Cícero junto ao Vaticano. Entre os dias 29 de Janeiro e 2 de Fevereiro deste ano, um milhão de pessoas acolheu-se em pousadas, casas particulares ou ranchos de acolhimento ao redor das Igrejas Matriz Nª Sª das Dores e da capela do Socorro.
Debaixo do calor intenso superior a 32 graus, as pessoas amontoam-se em pequenos espaços dormindo uma grande parte, em redes suspensas ao longo de varandas, corredores e sacadas. Vêem-se sacolas por tudo quanto é canto e, as mulheres mais velhas levam seu tempo à frente de fogões colectivos à volta de panelas e fazendo café, todos ao molhe e fé em Deus, como quem diz, paim Ciço. Durante os cinco dias de programação, os romeiros, distribuem-se entre as igrejas Matriz, Socorro, Salesianos e Franciscanos carregando sacolas de compras diversificadas tais como panelas novas ou usadas, cêdes de forró, rosários, santos fosforescentes e pomadas de sucuri que curam todos os males e maleitas.
Na ida ao alto do horto aonde se situa a estátua alta e branca da figura do Padre, minha mulher, seguindo a tradição e crença do povo, deu duas voltas ao grande cajado (talvez 10 metros)eito de concreto e, tendo feito isto com os óculos de ver pendurados na barriga, dali trouxe a maior recordação; mais tarde ficando na dúvida de onde poderiam ter sido feitos aqueles muitos riscos na lente e dando voltas ao pensamento fui eu que descobri ter sido ali, entre o cajado e a batina do prior, o acontecido; ele-há-coisas, um milagre. Há males que vêm por bem, foi ao médico renovar as dioptrias e trouxe de lá mais um par de cataratas. Tudo tem uma explicação!
O Soba T´Chingange
CARIRI . JUAZEIRO DO NORTE – Terras do Padre Cícero - I
Por
T´Chingange
Em romaria a terra do Juazeiro aonde padre Cícero exerceu sacerdócio na segunda metade do século XIX, soube do quanto ele foi figura polémica acabando por ser excomungado pelo Senhor Bispo de Fortaleza Dom Joaquim José Vieira no ano de 1892. Nem mesmo depois de ter sido absolvido pelo Papa Leão XIII em 1898, o Bispo Joaquim Vieira, permitiu que ele celebrasse missa em Juazeiro. Proprietário de terras, de gado e de diversos imóveis, Cícero fazia parte da sociedade e política conservadora do Sertão do Cariri. Tendo sempre a seu lado o Doutor Floro Bartolomeu como braço direito, integravam por assim dizer, o sistema político Cearense sob o controlo da família Accioli por mais de duas décadas.
De todo o Nordeste e em momentos de romaria, surge gente aos milhares a prestar rogo ao seu padrinho. Foi a partir dos atribulados milagres à beata Maria de Araújo no ano de 1889, que a vida de sacerdócio do Padre Cícero começou a ficar atribulada. Durante uma missa por si celebrada, a hóstia ministrada à religiosa transformou-se em sangue em sua boca. Segundo relatos, tal fenómeno repetiu-se por diversas vezes e durante cerca de dois anos. Rápidamente se espalhou a notícia de que acontecera um milagre em Juazeiro. Padre Cícero tinha sido ordenado padre a 30 de Novembro de 1870. Após sua ordenação e, enquanto o bispo não lhe dava paróquia para administrar, ficou no pequeno povoado do Crato a ensinar latim no Colégio Padre Ibiapina.
Aqueles milagres da hóstia ensanguentada não foram bem aceites por seu superiores em Fortaleza pelo que foi criada uma comissão de médicos para assistir ao facto e dar seu parecer, A 13 de Outubro de 1891, essa comissão encerrou as pesquisas chegando à conclusão de que não havia explicação natural para os factos ocorridos, pelo que só poderia ser mesmo um milagre. Insatisfeito com o parecer da comissão, o bispo Joaquim Vieira, nomeou uma nova comissão para investigar o caso tendo como presidente o padre Alexandrino de Alencar e como secretário o padre Manoel Cândido. Esta segunda comissão concluiu não haver milagre em tal ministério, mas sim um embuste; aquele ministério tratava-se de uma arte chamada simplesmente de mistério e assim ficou até os dias de hoje, sem a aceitação do veredicto popular. Mesmo ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Dores, em um rancho do padre Cícero, um mukifo a preço d´oiro, num quente, grosseiro e humilde zunzum, por ali andei verificando o quanto a crença dum povo tem sua força.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
" JUAZEIRO” - Falar de Padre Cícero*
Macambira
Verso. 1 : Nasci nu, diz Deus, para que saibas despojar-te de ti mesmo. (Lambert Nolen)
A pequena população de Juazeiro, passado pouco tempo de o Padre Cícero ali fixar residência apercebeu-se de que ele era um padre diferente dos demais: - sincero, austero de costumes, virtuoso, intransigente com o pecado mas brando de coração, humilde, conselheiro, compreensivo e sobretudo acolhedor. Não se limitava a mandar fazer, dava o exemplo fazendo o que quer que fosse. Essas virtudes, valeram-lhe o respeito de todos e a obediência de muitos, que por ali iam passando. Não raro, pessoas dos municípios vizinhos, vinham conhecer o padre, aconselhar-se com ele, pedir-lhe um remédio ou mezinha, um socorro pecuniário, o apadrinhamento de um filho, a solução de um casamento ou a cura de um louco furioso mordido por cão raivoso.
, Mucunã
A seca de 1877 quase paralisou os trabalhos da nova capela da Nossa Senhora das Dores; os voluntarios teriam que "ganhar as caatingas" procurando macambira, mucunã e outras "comidas brabas" com que se alimentavam para não morrerem de fome. A nova igreja surgiu, alongaram-se as ruas do pacato povoado; Padre Cícero fez por ocupar o povo no plantio de mandioca na chapada do Araripe desenvolvendo a agricultura de subsistência, criando e arranjando escolas para crianças de ambos os sexos. Das pouco mais de trinta casas e uma capelinha, o Padre Cícero criou condições de assentamento de gente desavinda de todos os lados; abandonados do sertão e agreste ali se acolhiam no conforto das palavras "ora mansas ora brabas" do Paínho Ciço.
Agreste e Sertão - (Caatingas)
Quando em 1917, quase no fim da primeira guerra na Europa apareceu nos Valinhos de Portugal, uma nuvem transportando uma figura na forma de gente a três pastorinhos, um pouco por todo o mundo, deu-se início à devoção de partilhar a paz entre os homens. Fátima, essa figura transportada em nuvem, surgia com a mensagem de fraternidade tão desejada por todos. A Virgem do Rosário recomendava a reza do terço diáriamente e, em Juazeiro, o Padre Cícero dando o exemplo, colocou em seu pescoço aquele colar dividido em terços pendendo dele uma cruz. O "Rosário da Mãe de Deus", como ele chamava, passou a ser um ornamento de todos e, a todos estes, o Padre Cícero ensinava a dedilhar suas contas diariamente; amiudadamente dizia ser aquele o meio seguro de obter as graças do Céu. A lição contínua de sua vida, e sua figura iluminada de místico e de apóstolo, transformou-se em força redentora de fogo divino, o mesmo que que lhe abrasava a alma.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA: Verdadeira história de Juazeiro do Norte de Amália Xavier de Oliveira
Padre Cícero Romão Batista*: Ou Padim Ciço na versão popular, foi um sacerdote católico brasileiro, nascido no Crato de Cariri a 24 de Março de 1844, tendo falecido no Juazeiro do Norte a 20 de Junho de 1934.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“MILAGRES DE JUAZEIRO” - Falar de Padre Cícero*
Paisagem do Cariri na seca
Verso. 3 : Nasci num estábulo, para que aprendas a santificar cada ambiente. (Lambert Nolen)
Kianda (Quimbundo de N´gola): Espírito, sereia, kalunga de contos africanos, miragem das águas, visão das lagoas
Padre Cícero que se abstinha de comentar publicamente os "factos misteriosos da hóstia sangrante" é obrigado a relatar o sucedido ao bispo de Fortaleza Dom Joaquim Vieira. No seu relatório, regista o que aconteceu naquela quinta feira santa; sem que pudesse evitar, muitas pessoas presenciaram a comunhão de Maria de Araújo quando o corporal que ele dera para servir de toalha de comunhão, ficara completamente embebida em sangue que ele teve de recolher ao altar para não gotejar no chão. Naquele tempo, estes e outros panos foram depositados numa pequena urna de vidro, guardada em lugar seguro, sendo de vez em quando, exposta aos peregrinos que os desejavam vêr, até que as autoridade Diocesana os mandasse recolher. Foi no "dia do precioso sangue" que os muitos romeiros, puderam ver expostos em ambiente de missa campal os ditos panos, pela mão do monsenhor, nesse então padre Francisco Rodrigues Monteiro.
Beata Maria de Araujo do "precioso sangue"
A Igreja, baseada nos conhecimentos teológicos aprovados em seus concílios, jamais confirmaria que aquele sangue da hóstia poderia ser o sangue de Jesus Cristo como asseguravam os crentes desse fenómeno nunca explicado; afirmava isso sim, que esse sangue nunca poderia ser do Senhor. Depois daquela missa "dia do precioso sangue", os 3000 romeiros presentes derramaram lágrimas de crença ao verem as toalhas ensanguentadas. A notícia correu célere por todo o Nordeste atraindo a partir daí as muitas curiosas almas piedosas que desejavam ver o prodígio. O boato com laivos de superstição tão costumeiros naquelas paragens do Carirí, não necessitou correr atrás das pessoas para as apanhar, aonde elas estivessem, nas cidades ou no mato, o sucedido surgia. Em sentido figurado se galinha do mato não quer capoeira, a superstição corre a seu lado. No fundo, no fundo, manda a verdade que se diga, aos olhos do sussurro, todos somos da mesma maneira supersticiosos, mesmo que se diga não, a verdade se equivalha.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA: Verdadeira históri de Juazeiro do Norte de Amália Xavier de Oliveira
Padre Cícero Romão Batista*: Ou Padim Ciço na versão popular, foi um sacerdote católico brasileiro, nascido no Crato de Cariri a 24 de Março de 1844, tendo falecido no Juazeiro do Norte a 20 de Junho de 1934.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“MILAGRES DE JUAZEIRO” - Falar de Padre Cícero*
Hóstia
Verso. 3 : Nasci num estábulo, para que aprendas a santificar cada ambiente. (Lambert Nolen)
Kianda (Quimbundo de N´gola): Espírito, sereia, kalunga de contos africanos, miragem das águas, visão das lagoas
A postura da Igreja, levou a que o padre Cícero passasse a fazer a comunhão a Maria de Araújo separadamente e fora das horas comuns, tornando-se este proceder, do conhecimento dos mais próximos a ele. Essa gente cercana sempre dizia "seu padre não quer que se fale deste assunto porque é proibido pela Santa Sé". Em Outubro de 1891 D. Arcoverde julgava o padre Cícero nestes termos: "... É incrivel! Eu o tomo por um hipnotizador ou, um magnetizador, e a infeliz Maria de Araújo, um médium que age sobre a influência do padre...". Padre Cícero defendia-se rezando o terço e, só em circuito restrito de gente do clero e da casa, sabiam do quanto sofria podendo ser relido em uma carta do próprio, escrita em Novembro de 1914: " Programaram contra mim quanta calunia e inverdades que nunca nem sequer pensei produzirem tantas prevenções contra mim (...). Não sei como formaram consciência para imaginar e dizer até em portarias e escritos, crimes e culpas que nunca as tive. Tantas prevenções contra mim, tiraram-me a liberdade de comunicação com eles, sabendo que não me vêem não como sou, mas como o Senhor Dom Joaquim José Vieira os persuadiu e programou. Tomei a propósito desde o início desta enorme perseguição contra mim, de entregar tudo a Deus e a Nossa Senhora das Dores, e não me defender de coisa alguma..." (fim de citação).
Padre Cícero e a beata maria de Araújo
Museu de Cera . Juazeiro
Quem na verdade divulga os "factos-milagre de Juazeiro", do sangue da hóstia tomada por Maria de araújo, foi Monsenhor Francisco Rodrigues Monteiro que, tendo assistido ao "milagre", propalou ao povo em missa de Romeiros mostrando os panos ensanguentados daquele "inesplicavel fenómeno", obra de Deus e coisa falada por todo o povo Nordestino: "... Vi muitas vezes a partícula (hóstia) consagrada que seu Padre Cícero dava para Maria de Araújo comungar, transformar-se em sangue; umas vezes era toda ela transformada; outras vezes transforma-se sómente uma parte e, algumas vêzes tomava uma forma como se fosse um coração de carne...", diziam-nos os velhos, avós, seus filhos, tios e tias, gente letrada e matutos.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA: Verdadeira históri de Juazeiro do Norte de Amália Xavier de Oliveira
Padre Cícero Romão Batista*: Ou Padim Ciço na versão popular, foi um sacerdote católico brasileiro, nascido no Crato de Cariri a 24 de Março de 1844, tendo falecido no Juazeiro do Norte a 20 de Junho de 1934.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“PADRE DA ROÇA” - Falar de Padre Cícero*
Paisagem do Cariri
Verso.4 : Nasci débil, para que nunca tenhas medo de mim. (Lambert Nolen)
Kianda (Quimbundo de N´gola): Espírito, sereia, kalunga de contos africanos, miragem das águas, visão das lagoas
O humilde povoado de Tabuleiro Grande desenvolveu-se a partir da fixação do Padre Cícero que, fruto de um sonho, o levou a mudar-se com seus familiares para um sobradinho de duas portas situado na Rua do Brejo em frente à "Cacimba do Povo". Ali, veio a ser construída uma modesta capelinha em honra da Virgem das Dores. Estava destinada a ser hoje o ponto de encontro de gente de todo o Nordeste brasileiro, que ali se ajoelham agradecendo os favores concedidos. Quando no Brasil se iniciou a campanha da reza diária do terço para atender ao apelo de Nossa Senhora em suas aparições em La Salette, Lourdes e, sobretudo em Fátima, em Juazeiro, uma humilde e pobre aldeia encravada num lugar longínquo da civilização, já ali se rezava todos os dias, não apenas o terço, mas o rosário completo sob a alçada do Padre Cícero.
Chapada de Araripe
Este, além de pregar a necessidade de rezar, dava o exemplo, rezando pessoalmente com os seus governados. Fêz com que todos usassem ao pescoço o rosário, costume que perdura até os dias de hoje. Durante os 62 anos que passou neste lugar, que ajudou a se fazer, envangelizou aquele povo, índios, matutos, mestiços, brancos e escravos, carentes de orientação. Ensinando a rezar e a trabalhar, obrigou os desocupados a lavrar as encostas da Serra Araripe, a plantar e a tratar do roçado; acabou com os desmandos dos escravos e alguns libertos alforriados que viviam em permanente bebedeira, os forrós de samba e xanxado pé de cangaço, moralizando os costumes aos que só tinham vícios. Aquela humilde gente, passou a viver à sombra e proteção daquela capela modesta de Nossa Senhora das Dores e seu "Padim Ciço". São estas as referências que o povo guarda daquele sacerdote que repetia muitas vezes. " As obras de Deus, sempre são assinadas com o cunho da adversidade".
Perfil do sertanejo
Foi numa Sexta-feira de Março, dia seis, que numa comunhão solene, pelas cinco horas da manhã, após uma vigília, que uma das oito mulheresn de nome Maria de Araújo, ao receber das mãos do Padre Cícero a hóstia consagrada, foi esta transformada em sangue. E, este fenómeno, repetiu-se muitas vezes naquele mesmo ano de 1889 presenciado também por muita gente. Isto passou-se na Capelinha da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus. Padres, médicos ilustres que atestaram em publicação e milhares de populares, afirmaram serem verdadeiros tais factos. A Igreja não aprovou tais manifestações milagreiras tendo-se insurgido na pessoa do Bispo Dom Joaquim José Vieira de Fortaleza que perdurou com foros de perseguição ao "Padre da Roça".
Padre da Roça
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA: Verdadeira históri de Juazeiro do Norte de Amália Xavier de Oliveira
Padre Cícero Romão Batista*: Ou Padim Ciço na versão popular, foi um sacerdote católico brasileiro, nascido no Crato de Cariri a 24 de Março de 1844, tendo falecido no Juazeiro do Norte a 20 de Junho de 1934.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“DE CARIRI A JUAZEIRO” - Falar de Padre Cícero*
SERTÃO NORDESTINO
Verso.7 : Nasci por amor, para que jamais duvides que te amo. (Lambert Nolen)
Kianda (Quimbundo de N´gola): Espírito, sereia, kalunga de contos africanos, miragem das águas, visão das lagoas
"Paínho Ciço"
Antes de entrar nos detalhes da vida tormentosa do Padre Cícero, dos milagres das hóstias com sangue nas comunhões da beata Maria de Araújo, não reconhecidos pela Igreja, porque é do maior interesse saber do como era o Cariri. Vai-se desvendar suscintamente o que era aquela vasta área do sertão e montanhas de Araripe. Foi a tribo de índios selvagens Carirí, que vivia na base da cadeia de montanhas Araripe que deu o nome a esta região. Os Índios Carirís, extremamente belicosos agrupavam-se junto às margens dos muitos regatos do Vale do Carirí, alimentando-se de frutos selvagens e alguma caça. A norte da Serra de Araripe habitavam os Índios Cariús, nas margens do rio Salgado viviam os Calabaças e, no sertão viviam os Inhamuns. Todas estas tribos se degladiavam entre si não sendo descabido nesse então fazer-se grandes festanças canibalescas. Os primeiros povoadores civilizados foram bandeirantes aventureiros da bahia que chegaram ali na mira de cativar índios, buscar ouro e pedras preciosas internando-se a partir do rio São Francisco pelas terras do sesmeiro Paulo Afonso e Cabrobó.
Índios Cariris
Narra a história que lá pelos anos de 1660 a 1662, invasores descendentes de Diogo Álvares Correia, o Caramuru para ali foram por solicitação de um escravo negro. Este, tendo sido aprisionado pelos Cariris anos antes, manteve com estes um bom relacionamento. Num aperto de guerra com os inimigos Cariús, voluntarizou-se para pedir ajuda a seus amigos da Bahia o que veio a verificar-se por força das descrições ótimistas feitas no intuito de receber um sinal positivo. Assim, os descendentes aventureiros de Caramuru, levados pelo negro amigo dos Cariris, conhecedor dos caminhos e potêncialidades, vieram a ser os primeiros povoadores do lugar do Juazeiro: o brigdeiro Bezerra Monteiro e seus descendentes.Os ancestrais do brigadeiro Bezerra eram em linha directa a décima descendência do casal Caramuru e Paraguaçu. A fundação de Juazeiro inicia-se com o casamento de Joana Bezerra de Menezes e o Capitão António Pinheiro Lôbo pais do brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, proprietários da fazenda " Taboleiro Grande" e, que deu origem à actual cidade de Juazeiro. Por ter a sua origem uma conotação com os próceres da história da América, do Brasil e Carirí do Ceará em particular, será importante rever a geneologia até à décima geração a partir daqueles. Tudo isto tem início com Diogo Álvares Correia, o Caramuru, e João Vaz da Costa Côrte Real, o percurssor de Colombo na descoberta da América.
Caramuru
Ascendentes do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro:
01 - Diogo Álvares Correia - Caramuru, casado com Catarina Álvares - Paraguaçu, pais de
02 - Apolonia Álvares - casada com João de Figueiredo Mascaranhas, pais de
03 - Gracia de Figueiredo - casada com Francisca de Barros, pais de
04 - Luiza de Barros - casada com Manoel Lôbo, pais de
05 - Francisco de Barros Lôbo - casado com Ana de Menezes, pais de
06 - Eusébia Teles de Menezes - casada com Miguel Álvares Campos, pais de
07 - Luiza Teles - casada com o Sargento-Mór António Pinheiro de Carvalho, pais de
08 - Sargento-Mór José Pinheiro Lôbo - casado com Perpétua mendonça, pais de
09 - Capitão António Pinheiro Lôbo - casado com Joana Bezerra de Menezes, pais de
10 - Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro - casada com Rosa Josefa do Sacramento.
João Vaz da Côrte Real
Ascendentes de Rosa Josefa do Sacramento, esposa do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro:
01 - João Vaz da Côrte Real - casado com Maria da Abarca, pais de
02 - Joana Côrte Real - casada com Guilherme Luiz Barrêto, pais de
03 - Egaz Moniz Barrêto - casada com Ana Soares, pais de
04 - Inês Barrêto - casada com Diogo da Rocha, pais de
05 - Mem de Sá - casado com Maria Barbosa, pais de
06 - Francisco da Rocha Sá - casado com Antónia Teles de Menezes, pais de
07 - Capitão-Mór Pedro Mariz Teles - casado com Joana de Menezes, pais de
08 - Capitão-Mór Gonçalo Tavares Menezes - casado c./ Josefa F. Andrade Mesquita, pais de
09 - Capitão-Mór Semeão Tels de Menezes - casado com Luiza Maria da Conceição, pais de
10 - Rosa Josefa do sacramento - casada com o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro.
BIBLIOGRAFIA: Verdadeira históri de Juazeiro do Norte de Amália Xavier de Oliveira
Padre Cícero Romão Batista*: Ou Padim Ciço na versão popular, foi um sacerdote católico brasileiro, nascido no Crato de Cariri a 24 de Março de 1844, tendo falecido no Juazeiro do Norte a 20 de Junho de 1934.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“PARA QUE NASCI” - Falar de Padre Cícero*
Memorial ao Padre Cícero
Verso.7 : Nasci na simplicidade, para que deixes de ser complicado. (Lambert Nolen)
Kianda: Espírito, sereia, kalunga de contos africanos, miragem das águas, visão das lagoas
Após documentar-me em livros, Net, Web e gente simples da figura do Padre Cícero, destacarei os detalhes que me merecem menção de referir destituido de qualquer apego religioso que não vá álem do deslindar a curiosidade. Dos nove versos ofertados pelo doutor Presbitero da Putolândia salientarei o mais ajustado ao tema do "Painho Ciço" de Juazeiro do Norte, Cariri do Ceará que nasceu a 24 de Março de 1844 na cidade do Crato com o nome de Cícero Romão Batista, ordenado sacerdote na Igreja da Praínha de Fortaleza a 30 de Setembro de 1870 por Dom Luís António dos Santos, primeiro Bispo do Ceará. Este pároco do sertão do século XIX, transformou-se por circunstâncias adversas numa das figuras mais controversas da história do Nordeste Brasileiro.
Perseguido pela Igreja e pelo Crato entrou na política por amor a Juazeiro zelando pela sua independência, seu crescimento e sua prosperidade. A dedicação a Juazeiro nasceu de um sonho, de um místico compromisso contra ventos e marés sendo o seu maior carrasco, salvo as devidas proporções que a moral recomenda em súbtil doçura eclesiástica o Bispo Dom Joaquim José Vieira que prodigalizando sua bondade e as maiores considerações se referiu àquele como "O Padre da Roça".
Joazeiro do Norte . Ceará
Defensor voluntário de um milagre, foi denunciado pela sua Igreja como sendo um impostor, por temerosos coroneis do mato, chefes políticos e seus superiores do Clero como perigoso agitador e doente paranóico de fundo místico. Não obstante ser o "Padre da Roça" substimado por alguns, seus próximos, curiosamente era este aclamado pelos milhões de romeiros sertanejos, gente simples considerando-o um santo injustiçado capaz de livrar os pobres, esfomeados e enfermos de suas aflições. Tantas opiniões contraditórias sobre uma mesma pessoa levam um curioso como eu, a se interrogar: Padre Cícero foi um louco, um embusteiro, um mártir ou um santo? Nascido na simplicidade, amparando os húmildes, socorrendo os miseráveis, corrigindo o orgulho, punindo a vileza com mansidade, ensinando a prática da virtude com humildade, não vislumbro qualquer apodo contrário se não o de ser um homem bom. O segredo da sua grandeza interior é proferida por Dom José de Medeiros Delgado que enquanto arcebispo de Fortaleza se referiu ao Padre Cícero como sendo um mártir digno de exaltação, destinado por Deus a ser um envangelizador dos pobres sertanejos nordestinos, sem perder a sua personalidade nem se desajustar na quebra de sua fibra de apóstolo sertanejo. Ele é a fé, fonte aonde teremos de beber a esperança.
Padre Cícero Romão Batista*: Ou Padim Ciço na versão popular, foi um sacerdote católico brasileiro, nascido no Crato de Cariri a 24 de Março de 1844, tendo falecido no Juazeiro do Norte a 20 de Junho de 1934.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“PARA QUE NASCI” - Falar de Padre Cícero*
Padre Cícero
Verso.8 : Nasci perseguido, para que saibas aceitar as dificuldades (Lambert Nolen)
Kianda: Espírito, sereia, kalunga de contos africanos, miragem das águas, visão das lagoas
Algures no Sul da Putolândia, doutor Presbitero, muito crente, muito púdico, muito recalcado em agruras de vida, deu-me um papel quadrado com nove versos, recomendando-me que o guardasse e, de quando em vez o fosse reler, meditar, interiorizar o recordo à razão e do porquê do "Para que nasci". Em verdade não dei importância àquele pedaço de papel quadrado já gasto, mas, e por respeito às desavindas veleides que tocam o palato místico, na sequência da recomendação arrepiada dum respeito medroso, agrafei-o ao meu caderno depositário dos meus mujimbos (boatos) para ser apreciado, lido e decifrado em momento oportuno; aqueles momentos em que o antes e depois se misturam fantasiados dum agora tem de ser. Quase um ano depois, sabe-se lá porque mistérios e em tempo de Páscoa, releio-o. Isto coincidiu com o início da escrita sobre uma figura carismática que intriga os curiosos da sabedoria quando de visita ao sertão brasileiro tão cheio de fenómenos sociais de desavindos kilombolas e reis da treta duma qualquer seráfia com reis do cangaço que sangram purificação: Trata-se do Padre Cícero.
Superstições de Cariri
Em todas as cidades, vilas e sítios em seus largos, praças ou avenidas uma redoma com quatro faces envidraçadas encima uma peanha de secção quadrada, tendo no seu interior a figura escultural dum velho pároco de batina preta e chapéu de aba larga preta em cabeça pendente para o lado direito. A mão ao peito prende uma bengala fincada ao solo. O povo chama a este caixão vidrado de oratória e não raras vezes se verifica uma velha senhora ou homem, olhar com respeito a sua figura que muitas das vezes fica rodeada de arranjos florais. É notório o desvelo, limpeza e arranjo esmerado dos parâmentos circundantes ao caixão de vidro virado ao espaço, como nave espacial pronta a decolar ao espaço sideral desse misterioso mundo de crença que move mistérios não explicáveis dum etéreo querer desobrigado. Isto intrigou-me na forma de febre miúda e, perguntando às pessoas referiam-se-lhe com muita devoção e respeito com "O meu padrinho padre Cícero" tecendo-le a maior dedicação na forma de homem santo. Ao abrir este meu caderno e ao deparar com o papel amachucado, de "Para que nasci" logo me veio o propósito em falar do "Painho Ciço" na versão mais popular e sertaneja dum lugar agreste chamado de Cariri.
Padre Cícero Romão Batista*: Ou Padim Ciço na versão popular, foi um sacerdote católico brasileiro, nascido no Crato de Cariri a 24 de Março de 1844 tendo falecido no Juazeiro do Norte a 20 de Junho de 1934.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
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