Quarta-feira, 19 de Julho de 2023
VIAGENS . 30

CASSOALÁLA – ANGOLA - Outros tempos (1924)

Crónica 3440 – 18.07.2023 - HISTÓRIAS DA TZÉ-TZÉ .Parte 

Tempos de quitanda e tipóia       

Poro vazio.JPGT´Chingange (Otchingandji) – Em Arazede do M´Puto

colo1.jpg É Pedro Muralha que descreve (foi no ano de 1924):- “A manha aparecera fresca nas margens do Cuanza naquele treze de Outubro…, muitas pretas, conduzindo à cabeça ou ás costas enormes quitandas, cheias de várias mercadorias indígenas… junto da sede do Bom Jesus (roça) ”. Isto é no rio Cuanza não muito longe do Dondo e, também perto de Muxima. “Às oito horas daquele Domingo, a quitanda estava completa e no seu maior auge.

Apesar do barulho que os indígenas faziam, falando todos ao mesmo tempo na língua bunda, apesar do cheiro nauseabundo, devido à aglomeração de negros e às mercadorias ali expostas aos raios enérgicos deste sol de África. Ali estavam expostos tabaco em rolos como torcidos, grãos de dendên, fuba, mandioca, azeite de palma, massambala, peixe seco e toda essa enorme diversidade de géneros indígenas, alimentação dos pretos e que à vista dos europeus causam tão desagradável impressão… É *Pedro Muralha a descrever!

ÁFRICA1.jpg “Vemos pretas, todas cobertas de panos. É um pano geralmente chita, que é apertado pelos seios, enquanto outro pano assenta sobre os ombros, cobrindo-lhe todo o corpo. Na cabeça usam turbante branco. Outras apresentam-se com o peito e os braços a descoberto. São as que pretendem mostrar as suas tatuagens, algumas dolorosamente feitas…”

“Sobre esses traços pinceladas mais claras feitas com fuba e cremos que com óleo de palma. Outras aparecem com o cabelo como se fosse lã churra, a cair-lhe em canudos para a testa e para a nuca. São as quissamas (creio serem missangas). Fazem esses efeitos selvagens, deitando na carapinha óleo e casca moída de uma árvore.”

“Falta um detalhe, é que todas as pretas fumam. Usam uns cachimbos com uma grossa boquilha; tiram meia dúzia de fumaças e fazem passar o cachimbo de mão em mão para que todas fumem. Outras fumam cigarros, mas metem a parte acesa na boca”.

Lida esta passagem que não comento por os tempos serem idos, passo a outra página; a travessia do rio para o lado da quiçama, sítio de muitas pacaças, elefantes, hipopótamos e sobretudo jacarés. “Depois do mata-bicho metemo-nos num dongo (canoa) e navegamos. É encantadora uma viagem pelo Cuanza, sempre marginando por um verde capim, … e, lá está um senhor jacaré…”

roo204.jpg “Os indígenas não deixam de ir banhar-se ao rio por causa dos jacarés, porque estão convencidos de que só é comido pelo anfíbio quem tem feitiço. E, todos aqueles que têem consciência de não terem feito mal algum - que mereça as iras do jacaré, entram pelo rio sem medo, porque o bicho não lhes toca.“

“E é assim… depois de comidos, ainda ficam desacreditados, porque todos outros indígenas ficam com a impressão de que a vítima fora muito bem castigada.” Mais à frente acerca da tzé-tzé… “O desgraçado que tiver a infelicidade de ser mordido por um vehículo desses que esteja infectado tem que ter sérias apreensões.” Crónicas de outros tempos, do tempo dos caprandandas! Ambaquistas!

tzé3.jpg Notas: Tzé-tzé – mosca portadora da doença do sono; Caprandanda – tempos antigos, quando do uso de arcabuzes; Ambaquistas - naturais da Ambaca, pioneiros cafuzes dados ao trambique;

*António Pedro Muralha (Beja 1878 - Lisboa 1946). Começou a trabalhar como impressor tipográfico e fez-se jornalista e escritor. Conheceu a redacção de O Século, onde redigiu artigos centrados nas questões do trabalho e do movimento associativo, que lhe trouxeram prestígio; colaborou também com o Diário de Notícias, a Capital e foi director do diário socialista A Vanguarda (1913-1922).  Em 1924, decidiu partir para Africa e visitou S. Tomé, Angola, Moçambique e o Rand - As suas impressões de viagem foram reunidas em livro, «Terras de África», prefaciado por Ernesto de Vasconcelos e Freire de Andrade.

O Soba T´chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 03:32
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Segunda-feira, 17 de Julho de 2023
VIAGENS . 28

CASSOALÁLA - ANGOLA. Outros tempos

Crónica 3438 – 17.07.2023 - TEMPOS DA DIPANDA*

- Estávamos em Junho de 1975; tinha 30 anos de idade…

Por luua04.jpgT´Chingange – Em Cantanhede do M´Puto

luua01.jpg Cheguei ao M´Puto ainda a tempo de diligenciar junto ao hospital de Torres Novas a fim de tirar a dita cuja bala ao meu pai, num tempo que só o foi no posterior e no ano de 1997; o meu pai, “o Cabeças” tinha sido bem apetrechado de porrada no após rapto junto ao largo da Maianga, junto aos Correios pelos homens do Nito Alves, foi o que disseram e, parece mesmo ter sido combinação para mandar o velho kota branco meu pai, para a sua terrinha.

Mesmo passado algum tempo “o Cabeças” parecia o mapa-mundo em manchas de sangue pisado, havia pouco espaço por cobrir; deram-lhe um tiro no escuro, algures num sítio quase fatal e, desandaram deixando-o espernear por detrás do então aeroporto Craveiro Lopes ou de Belas e, como quase morto, assim ficou contornado de capim; arrastou-se toda a noite até que, numa picada e já de dia, uma patrulha mais governamental emepelista o levou para o hospital Maria das Pias.

Um hospital abarrotado de gente esperando tratamento em todos os espaços. Dizem as crónicas que morreram nesse então mais de 30 mil angolanos que, decerto, não seriam todos fraccionistas. O kota meu pai, pela descrição posterior teve por demasiada sorte em sobreviver no meio de tantos moribundos; obrigado doutor Boavida do Banco de Angola! Se não fosse o senhor metê-lo no avião ainda hoje estaria imaginando o seu estatuto vivente, envolto numa teia de dúvida entre os muitos abatidos no 27 de Maio de 977.

luua02.jpg Esta estória sem direito a “h” foi uma verdade a setenta e cinco por cento, com os restantes vinte e cinco, de inventação para suavizar o quase impossível ou inacreditável mas, eu continuei sendo o mano da UNITA do Kalakata da Caála; desconvocado da guerra, acantonei-me voluntariamente nos mugimbos do degredo da diáspora. Agora posso recordar de quando candengue, ouvir várias histórias passadas nessa terra inóspita, exigente nas suas relações, terrivelmente perigosa, mas simultaneamente atraente e amada.

Lembrar os comerciantes do mato, que viviam absolutamente isolados, originando a criação de alguns Postos Administrativos criados para disciplinar a soberania colonial. Que no tempo, foram surgindo estradas na forma de picadas que, pouco a pouco apareceram as carreiras mistas de passageiros e de carga depois do desenvolvimento de carros Ford, Chevrolet, Dodge e outras mais, como o Nash. Timidamente, a partir de 1920, o M´Puto já sem o Brasil independente já há 98 anos, viraram-se para ali - Angola, terra de onde nunca saímos em lembrança.

malamba1.jpg Havia as ligações com o interior a partir da costa mas, de ínfima ocupação humana a partir de Sá da Bandeira, Ambriz, Luanda Novo Redondo ou Moçâmedes. Era um problema chegar ao Huambo, atravessar o rio kwanza e de Benguela ao Humbe indo de carroça bóher, lá para as terras do fim do mundo numa eternidade. Só havia transportes lá de longe-em-longe para entrega de produtos, os necessários ao comércio tais com como enxadas, picaretas e ferramentas forjadas em Luanda ou na Metrópole chamada de M´Puto.

Mas, havia aventureiros funantes que se arriscavam a montar um boteco lá no cú de judas, levando sementes para suas lojas originando lavras; introduziram o milho e, com sementes de mandioca levadas do brasil começaram a fazer farinha de funje; levaram laranjas do oriente, abacates da índia introduzindo assim disciplina no uso e amanho da terra. Foram surgindo núcleos de gentios que permutando coisas com os funantes fubeiros mestiços ou brancos melhoravam sua maneira de vida. Ambos prosperaram trocando cornos de elefantes e mel com cachaça ou vinho do M´puto, viveres novos como o arroz a massa e a batata trazida do Peru.

lua51.jpegO negócio com o nativo era tão intenso que, essa rude gente rápidamente aprendia por necessidade seus dialectos. Mais tarde formaram Postos Administrativos, e com seus cipaios coordenavam as várias actividades; iniciou-se a cobrança de impostos de cubata e. outros que foram surgindo com o lento progresso. As administrações sem sobrecarregar a autoridade do reino do M´Puto geriam os lugares, os kimbos, as insipientes infraestruturas das povoações. Abriram Delegacias de saúde, centros de sanidade animal e novas linhas férreas.

pombinho5.jpg Glossário

Bandalheiros – sem ordem; Imbambas – coisas, bikuatas; maka – rixa, briga, barulho, confusão; emepelá – movimento popular de Angola; banguista - vaidoso, com estilo; camundongo - rato, natural de Luanda ou arredores; fubeiro – negociante de fuba, tasqueiro de mato em Angola; Pópilas – expressão de admiração; flor-de-congo – eczema na zona das virilhas, parecido com psoríase; esquindivado – escondido de forma fintada; caxinde – erva-do-chá príncipe (Angola); mugimbos – diz-que-diz, boatos, mexericos, conversa por conversar; NT – Nossas Tropas – Militares portugueses; kamba – amigo, conhecido de infância; Catetense – natural de Catete; cazucuta – que vive de expedientes, bandalheiro, dado a embustes; mabanga – bivalve; funje – farinha de mandioca; marufo – vinho, seiva de palmeira fermentada; bazar – dar o fora, fugir; haca! – Exclamação por admiração, espanto em Umbundo (generalizado por toda a Angola); T’ximbicando – acto de navegar com pau longo ou bordão, em zig-zag; candengue – criança, jovem; Porrada – pancada;

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:31
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Quinta-feira, 29 de Dezembro de 2022
KAZUMBI DE BORUNDANGA . VII

A CAMINHA DA RECESSÃO - Os mecanismos de manipular o cérebro

Crónica 3337 – Em Coimbra do M´Puto a 29.12.2022

Por CUCO1.jpgT'Chingange

soba24.jpg Divididos entre a nossa alma eterna e nosso corpo efémero, teremos de definir o que vai ser importante saber, até se ter um tal de doutoramento e ser-se lançado à feroz competição social com lutas politicas até alcançar os luxos não básicos. Em verdade, tudo anda muito baralhado no que concerne à racionalidade humana. No tocante a países e lembrando a Grã-Bretanha em recentes episódios do tal chamado de Brexit, nunca o cidadão comum deveria ser chamado para se decidir escolha entre o SIM e o Não.

À esmagadora maioria destes, gente comum, faltava-lhes as necessárias bases de economia e o devido conhecimento de ciência política para serem chamados a votar! A iliteracia nesta área é voraz, até para quem se julga saber tudo… Esse livre arbítrio profundo e misterioso da liberdade, viu-se que nem Boris Johnson  tinha a afincada aptidão para interpretar a Europa. Pode agora concluir-se que o tal de referendo sempre se prendeu aos sentimentos humanos omitindo ou não observando com acuidade a racionalidade humana em questões económicas ou em políticas específicas.

palanca.jpg E, sendo assim, se um profissional recolector de lixo tiver esse tal de livre arbítrio, em todas as matérias, poderá dizer-se que a política democrática irá transformar-se paulatinamente em um espectáculo de marionetes; a fonte de autoridade muito rápidamente mudou das divindades para os homens de carne e osso e, tudo indica estar a mudar-se dos humanos para os Algoritmos.

A revolução tecnológica progressivamente irá instituir o ALGORITMO como a autoridade máxima; assim e em breve, a partir de antes de ontem, os algoritmos informáticos dar-nos-ão melhor concelhos do que os sentimentos humanos, destituindo o “livre arbítrio” destronando nosso mecanismo bioquímico. O nosso reino interior irá para o espaço porque o algoritmo biotecnológico será capaz de monitorizar e melhor compreender nossos sentimentos; melhor do que nós próprios.

O “livre arbítrio” irá desintegrar-se à medida que as instituições, governos, empresas e sindicatos condicionem nossas vontades, nossas escolhas. Isto já está a acontecer! Falando do nosso mundo envolvente relembro as falas de António Lobo Antunes. “Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento.

avillez00.jpg “Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos. Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal-agradecidos, protestamos”. Eles, os políticos, deixam de ser ministros e a sua vida vira um horror, suportado em estóico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados”.

“Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram ao litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade. Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão”.

lobo1.jpg “O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal”. Por hoje chega meus amigos…Fui!

O Sob T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:05
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Segunda-feira, 26 de Dezembro de 2022
N´NHAKA . XXX

ANGOLA, TERRA DA GASOSA – Parte XVI - Crónica 3334 – 04.11.2022, em Messejana do M´puto – Republicada a 26.12.2022 em Arazede do M´Puto

CORRIA O ANO DE 2002EM TERRA DE MATRINDINDES

“Angola, quanto tempo falta para amanhã? Háka!” - Escritos antigos - Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Jonas Savimbi - 22 de Fevereiro de 2002) - "O futuro anda empenhado ao diabo”...

Pordolar2.jpgT´Chingange

acácia rubra3.jpeg Aquele dia de domingo estava com uma temperatura amena, algo habitual em tempo de cacimbo. Eu e Chiquinho resolvemos dar uma volta a pé pulsando a vida real na admiração de pormenores, reparando as montras existentes com produtos variados ou publicidade às suas actividades. Em uma, curiosamente tinha a indicação manuscrita em cartão: “Vende-se gelo caseiro”; alusão a água filtrada, metida em sacos de plástico de uma qualquer geladeira chamada de frigorífico, de um lar normal. Cheguei a comprar deste gelo, do que cada um produz em sua casa para poder beber meus gins com água tónica, para espantar mosquitos em fim de tarde.

Viam-se muitas montras desactivadas, ocupadas com trastes ou tendo gatos a dormir curtindo a Kukia vespertina. Na rotunda e bem perto da Catedral de Benguela, resolvi trocar uns dólares junto às kinguilas cambistas; explicando para quem não sabe, estas pessoas, normalmente mulheres, agitam maços de notas retiradas de balaios como se o fossem laranjas ou tamarindos. Sempre se sinalizam assim quando surge um potencial turista ou forasteiro com necessidade de trocar dólares ou kwanzas - não há regra fixa para se chamar a atenção, é pela pinta!

acácia rubra2.jpegDispus cem dólares e, eis que a kinguila faz-me reparo de que as notas tinham a figura de Washington com a cabeça pequena e que, não podia mesmo trocar – Ué!? Como é então mamã, faço como? Não tenho ordens de aceitar, disse a senhora idosa. Nem fiz maka de confusão e do como assim, passei só a ver se tinha mais kúmbu verde com a esfinge do Tio George Washington em tamanho grande e afinal até tinha, troquei. Nada falei, caté porque sempre desconfiam das pessoas que muito perguntam, assim nos entretantos fiquei a saber que apareceram no mercado muitas notas falsas e, eram exactamente as do Tio Gringo no tamanho pequeno. Bem, quanto a Euros, nem sabiam bem o que era isso.

Talqualmente como em Luanda, aqui na terra das acácias, também havia as boutiques: “Rabo no ar, Tira bikinis ou de Paga e leva” assim do género Rock Santeiro, ou o Fardex dos tempos coloniais - mercados com novas calamidades. Na parte da manhã tive tempo de assistir parcialmente à missa admirando as vozes do coro naquele tom africano com dança à mistura. Nos ouvidos ficaram resíduos de tambores… Depois de um passeio rápido pela cidade, neste domingo, 30 de Junho, rumamos também a ver na rota a Sul, Baia Farta, Dombe Grande, Cubal e Cacula via Lubango.

dolar1.jpg Baía Farta, de grossas e dourada areia, uma extensa praia na forma de baía com chalés na contemplação, casas dos anteriores colonos e tão ao gosto dos generais do M. Progressivamente foram-nas ocupando a custo zero e na vertente dos acordos Tugas, vulgo da Penina ou Alvor património ofertado sem ressarcimento nem sentimento. As ideias turvas, por vezes vêem e vão no descumprimento da razão. Percorri aquele areal sem guarda-costas nem comitiva, como coisa minha e, sem ninguém a impedir pensar – continuo pensando só!

Sem pigmentar definições de integridade determino no presente a compreensão do precedente. Da Victória ou Morte mãos dadas com o MFA, das muitas mentiras entre muitas outras falsidades. Em verdade não estava ali e naquele agora para divagar em ideias e ideais perdidos, nos antigos sertanejos, pombeiros, carcamanos ou caramujos de África alterando mutações na medula da estória. Ficar assim com uma ou mais pátrias, acrioulado nos costumes, correntes separatistas; consciencializei o custo do todo suplantando o efémero. Aquele Domingo terminou mais tarde, no após Mundial de Futebol ganho pelo Brasil com dois a zero contra a Alemanha. Uma onda de barulho se fez ouvir por toda a Benguela. Foguetes e tiros em rajadas para o ar - também elas, euforias efémeras…

FIM

baú1.jpgAGRADECIMENTOS:

À Dina que cumpria os cinquenta anos numa festa farta em Sumbe, distinta e distinguida por autoridades e o seu clã de família; Ao Sr. Pais da Cunha (já falecido) que nos deu guarida entre outros apoios; Ao General Wilson das FAA que nos mostrou os novos horizontes a Norte; Ao Jimba do Cassosso, marido de Dina com entusiasmo de amplificador Minolta (Já falecido); a alegria contagiante do Chiquinho; Ao Tio Francisco (já falecido), pai da Aldinha (…que vendia petróleo a caneco, sentado em seu Mercedes);a todos os meus novos sobrinhos em especial o Nando; à Sra Elvira e mãe Luisa que nos ofereceram casa e cama; Ao Eng.º Bien formado em Cuba, um verdadeiro irmão; à Miná que nos deu um dia de encantação em seu imbondeiro com d´jango ao redor perto das furnas do Sumbe; ao Eliseu que nos acompanhou com o aprumo de professor; Ao Zito, alto e musculoso que deu alegria ao grupo, o Lethor do Mandrak T´Chingange

batalha7.jpgGLOSSÁRIO:

Bazou: saiu na socapa; Bimga: madeira muito leve, boa para fazer jangada; Bangasumo: vinho feito a martelo, com sumo de frutas; Kassoneira: tipo de palmeira de onde se extrai malavo ou marufo; kumbú: dinheiro; Cazucuteiro: gente de truque, embusteiro, trapaceiro; Camundongo: rato, natural de Luanda, caluanda, Muxiloanda; Ximbicar: acto de remar com um bordão ou pau longo; Corotos: trastes, coisas indefinidas, bikwatas; Gongo: árvore da marula em dialecto Amboim; Candengue: criança, pivete, gaiato; Dilengo: coelho; Gasosa: gorjeta, gosma, limosna, suborno, mata-bicho ou cala a boca; Gajajeira: árvore que dá gajajas, fruta pequena; Imbambas: corotos, bikwatas; IFAS/URAIS: carro militar russo, sucata velha de assustar criança; Jindungo: malagueta, piripiri, pimenta; Kota: Mais velho, idoso; Mabanga: Bivalve, berbigão de sangue, isco para matonas; Múcua: fruto do imbondeiro; Maboque: fruto das bissapas, do mato, com casca dura, massala; Matebeira: de onde se extrai o vinho de palma, marufo, malavo; Mujimbo: segredos, boatos ou calunia; Marula: baga de árvore parecida com o medronho; Mutamba: árvore de copa fechada da qual se retiram tiras para fazer cordas ao momento, Largo central da Luua; Machimbombo: autocarro, ónibus, por vezes pau de arara; Matacanha: Bicho de pé, bitacaia, pulga das pocilgas; Mulembeira: árvore de grande porte e frondosa que dá pequenos figos, de onde se retira o visgo para apanhar gungas, celestes, etc…,ande se corta o cabelo com gillete ou caco de vidro e se fazem rituais de cazumbi; Mulola: rio seco aonde só passa chuva quando chove; Mezungué: Tipo de caldeirada de peixe seco com óleo de palma, tipo calulu; M´Puto: Portugal; Quinamba: perna; Quitandeira: vendedora de rua que faz pregão à sinhola (Sra.); Sengue: lagarto grande, espécie de varano; Saca-saca: esparregado feito de folha de mandioqueira; Sape-sape: graviola, do tipo da anona; Tua: ave pernalta de meio porte; Upapa: arbusto chinguiço com pequenas bagas; Vata: povoado, amontoado de cubatas ou palhotas; Chinguiços: paus secos retorcidos, tufos de mato; Xingrilá: sítio mágico nunca alcançado, lugar longínquo e indefinido…

O Soba T´Chingange          



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:59
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Sábado, 24 de Dezembro de 2022
KAZUMBI DE BORUNDANGA . VI

O INÚTILISMO HUMANOA CAMINHA DA RECESSÃO - A ditadura digital e os mecanismos de manipular o cérebro

Crónica 3333No AlGharb do M´Puto a 25.10.2022 – Republicação a 24.12.2022

Por roxo97.jpgT'Chingange – Em Arazede do M'Puto

roxo93.jpg É interessante saber-se que o Algoritmo pode excluir ou adicionar emoções segundo o nosso batimento cardíaco e assim, ser-nos transmitido em algum momento, somente aquilo de que gostamos alterando-nos os níveis de oxitocina; segundo os nossos dados biométricos é alterado nosso mundo de relações, coisas íntimas que só nós conhecemos! Um qualquer sistema bioquímico humano poderá passar a ser uma figura pública como o Tarzan, Mandrak, Fantasma ou Putin, algo trabalhado sem que o próprio se visione.

A inteligência artificial pode perfeitamente ajudar a formar melhores jornalistas, melhores políticos, soldados e banqueiros com essa ajuda de robots inteligentes. O ano de 2017 foi esse marco, esse hiato decisivo com a victória da inteligência artificial pela disputa de um jogo de xadrez. Kasparove, o campeão mundial da modalidade perdeu uma partida com um robot. Lá para meados do presente século XXI à falta de consistência mental humana, aparecerão “classes inúteis” incrustadas na robotização.

roxo26.jpg Infelizmente e devido à guerra da Ucrânia que já vai com oito meses, ( hoje já passa dos 10) estamos assistindo à substituição da mente humana com requintes de generalizada destruição; generais, líderes mundiais, políticos e especialistas, estão sendo substituídos por drones inteligentes com a possibilidade de escolher o alvo, optar por um plano A, B ou C fugindo à perseguição de outras máquinas voadoras, pensantes, arrasando as infraestruturas necessárias a uma vida normal de um humano. Apetece-me chamar de inúteis a todos esses militares de craveira que com uma subestimação persistente não o são, capazes de encontrar meios de os anular, os drones. 

O impacto do uso de computadores nas muitas variantes será neste século XXI muito mais avassalador do que a era da industrialização e mecanização do século XX. Os cérebros das tácticas de guerra irão ser substituídos, subestimados por máquinas concebidas para matar. Eles, os generais falam, falam mas só supõem pensando nas trincheiras, nas emoções, nos calibres, nas hipóteses, no alcance; parece-me a mim que qualquer desvirtuador ou desfibrilhador de um GPS lançado ao ar por onda curta, onda modulada, ou outra onda artesiana poderia suprir carências de logística, de táctica e proporcionar um chapéu de defesa…

roxo184.jpg Cuidado com as palavras que outros usam, pois as hipotéticas falas na roda dentada e em um lugar e tempo previamente pensados por norma à nossa revelia, haverá um salto no contexto indiciando os possíveis utentes, consumidores, tornando-nos sensíveis a um conjunto de termos alterando o contexto das frases. É um pouco como se verifica em televisão, cortarem por apitos as aneiras inconvenientes ditas por alguém. Podem bem sair mentiras como se o fossem verdades. Estamos a assistir a algo assim na campanha presidencial do Brasil, na guerra da Ucrânia, no Reino Unido, em Angola e no dia-a-dia das peripécias políticas do governo de Portugal, folgado que está na maioria absoluta…

Por algum razão no nosso dia-a-dia verificamos a preocupação dos governos criarem na sociedade condições para que haja um rendimento mínimo de qualquer cidadão, uma cesta básica de dar ânimo aos pé-de-chinelo, por forma a que, os eleitos não percam o poder, A Nobel da literatura Yuval Harari, de forma interessante, refere: “…uma vez que os bebés de seis meses não pagam salários às respectivas mães, terá de ser o estado a assumir esse papel; uma mãe deveria ter um salário por cuidar de um futuro cidadão caso se mantivessem em casa nessa exclusiva tarefa”.

ROXO187.jpg O cidadão, futuro trabalhador ou dirigente, governante ou CEO (Chief Executive Officer - Conselheiro delegado ou Director executivo - o responsável máximo pela gestão e direcção administrativa da empresa.) sempre surgirá entre os milhares, no seio da família que no mínimo terá de ter um rendimento básico em detrimento dum subsídio temporário. Deveríamos assim ter: educação gratuita, transporte gratuito, serviços de saúde garantidos e, por aí… É discutível se será melhor dar às pessoas um rendimento básico, um paraíso capitalista ou os serviços universais segundo os modelos de matriz comunista porque ambas as opções podem bem ser vantajosas e também, inconvenientes.

roxo138.jpg Nos países do oriente médio onde o petróleo jorra pelo tubo ladrão e tendo uma densidade populacional baixa é garantido ao cidadão viver bem sem ter que saber o que é isso de apoio básico ou de universal. Se formos a Qatar ou Kwait ou, outro estado daquela zona do hemisfério o apoio está garantido pelo estado. Com o aparecimento da inteligência artificial de robots e impressoras 3D a mão-de-obra, mesmo qualificada, tornar-se-á muito menos importante. Com a alta tecnologia cada vez mais surgirá a super riqueza como a actual Silicon Valley nos EUA enquanto em países de terceiro mundo, empresas sucumbem por falência; a política democrática vira um pouco por todo o lado do hemisfério em espectáculo de marionetas…

Ilustrações de Assunçõ Roxo

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:01
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Sexta-feira, 14 de Outubro de 2022
N´NHAKA . XV

ANGOLA, TERRA DA GAZOSA . I

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças actuais de escritos antigos - “havemos de voltar”  

Crónica 3272 em Coimbra – Republicação a 14.10.2022 em Lagoa do M´Puto

N´nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios em zona plana e húmida, horta…

Por roxo135.jpgT´Chingange no AlGharb do M´Puto

roxo92.jpg Matrindindi é uma carocha de perfil pré-histórico, talvez um normal insecto coleóptero do género do escaravelho, só que este é muito mais extravagante, de cor escura e com muitos picos; mais parece obra deformada de bruxa ruim; O Land Rover pisava-os sem alternativa e sucediam-se estalos chocantes como de castanhas a rebentar no calor da fogueira (estávamos no ano de 2005, em Porto Amboim)

Quatro anos depois - Coimbra. Já estávamos quase, quase no ano de 2009. O tipo tinha pinta de kazukuteiro, barba grisalha com mancha ruiva de mata ratos ou maconha. Falava com um casal de meia-idade na paragem do machimbombo do mercado municipal; todos esperávamos o nº 7 do Tovim.

matrindindi00.jpgO dito casal tentava não lhe dar atenção e fiquei com a nítida impressão que o sicrano estava cambulando uma gasosa para alimentar o vício. Subiram no machimbombo. O fulano deu-me prioridade e eu, sério, recusei com um obrigado e, vi com os meus olhos que este dito cujo, tirou a carteira de couro, fingiu passar um cartão no traga bilhetes e na maior, seguiu para um banco lá atrás, depois de cumprimentar um perneta de muletas ao lado.

Fiquei intrigado e com raiva pensativa dele, pois que me distraiu de pensamentos recentes de coisas vistas, e que tentava reter em memória. Uma voz suave de senhora falou do tejadilho, Floriano Peixoto número um e, seguiu-se a dois mais a Cruz de Celas. O casal desceu. Aquele tipo, quando viu a saída do casal também se levantou e com estes, saiu. Reparei com mais pormenor no rabo-de-cavalo amarrado por um elástico fazendo banga de estilo ladino. Deixei de os ver na esquina da Caixa Geral de Depósitos.

roxo90.jpg Como os pensamentos voam mais rápido que caneta com dedos, anotei no telemóvel o que antes tinha lido no muro perto da Universidade para não esquecer: - A morte serve-se a quente! E havia um A com um círculo a circunscrevê-lo, tudo em cor azul - Não a deixes arrefecer! Logo por debaixo a tinta preta.

Ao sair da Dolce Vita vi uma carrinha de caixa aberta pintada a camuflado apetrechada para a mata tendo nas portas os seguintes dizeres em círculo a contornar um coração vermelho com uma mola curva, varando este: - “Corpo especial de vigilância. VERGAMOLAS”; tal e qual como a carrinha 4 * 4 que eu idealizei para o “Kimbo Ot´xicoto Lodge” em terras de Sumbe bem perto do rio Cubal.

Aida em pleno centro histórico de Coimbra, tirando uma foto à torre Almedina alguém querendo uma informação perguntava-me se eu era dali ao que respondi não. Repeti mentalmente, só para mim: - Não sou daqui, não sou daqui, não sou daqui! Mentia-me.

roxo102.jpg Lembrei-me do livro que tinha na mesinha de cabeceira do meu mais contemporâneo amigo José Eduardo Agualusa. Parecia estar a fazer-me uma entrevista: Pópilas! Mas, tu cantas o hino do puto “ os meus egrégios avós”. Logo, logo…, os teus avós eram angolanos. E, a falação continua comigo a responder: - Não! Eu sou mesmo daqui! Sou um Tuga Niassalês! Deixa-te de finfias meu. Tu és um angolano nascido no M´Puto.

roxo213.jpg Já estava noutra, lembrando-me do sonho futuro que ainda era presente, a minha cubata no platô do Cantinho do Inferno muito perto da foz do rio Cuvo, na praia dos matrindindes. A serra do Chamaco via-se ao longe, como teta saliente na cordilheira, no caminho de Seles e, na vasta região uma floresta de espinheiras, acácias com picos medonhos, pau-ferro, babosas, newas, matebas, lengues e lungwengus e um letreiro na escola da Canjala “havemos de voltar”

Ilustrações de Assunção Roxo

O Soba T´chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:56
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Terça-feira, 5 de Outubro de 2021
JINDUNGO. VIII

VERSÃO NOVA - *O TER-SE VANTAGEM EM TUDO*

Crónica 3200 - 01.10.2021

Por: T'Chingange, no Ribatejo do M'Puto

:::1

Existe por aí uma filosofia não declarada de que “o mundo é dos espertos”. Esta frase sugere que passar os outros para trás é um grande negócio. Em Potugal (M'Puto), no Brasil, Angola e outros países dos PALOP's, as leis que regem o comportamento de gente no mando governamental, bancos e outras instituições públicas ou afins, no activo ou saídos delas, são desrespeitadas de tal forma que, somos obrigados a pensar estar a desonestidade no ADN de muitos. Claro que estou a rever o assunto do ex-banqueiro Rendeiro que “deu-à-sola” fugindo ao fisco e à justiça “abalroando” regras que se pensavam serem firmes para todos.

:::2

Nos procedimentos de políticos e, gente supostamente de colarinho branco, esses verbos de mentir, furtar e roubar, são procedimentos comezinhos. Assim, esse mandamento de "não se enganem uns aos outros", é de pura ficção. Afinal, um camelo pode mesmo fugir pelo cu de uma agulha! Fugir com o rabo à seringa como Vitalino, evitando responsabilidades ou ficar com o rabo entre as pernas como Pinho, sem bazarem na forma invisível, tipo Sarmento… Enfim! Uma coisa de mandar o cumbú para paraísos fiscais a que, neste caso, deram o nome de “Pandora Papers”- Pandora, uma tal de caixinha de surpresas e também o nome de minha cadela quando eu era candengue…

:::3

O “JEITINHO ” brasileiro, português ou angolano, torna-se assim, progressivamente num expediente criativo para forjar regras próprias com taxas, taxinhas e outros edecéteras que sempre se carregam em nosso lombo... Em geral, quem consegue levar alguma vantagem, se sente o máximo. Lamentável, noé!?

:::4

Flexibilizando ou quebrando normas que deveriam aplicar-se a todos, essa coisa negativa de truncar a visão certa, geralmente coloca em perigo relações pessoais, sublevando no poder a equidade do dever adaptando a regra a um caso específico, por forma a deixá-la mais justa...

Precisamos parar de furar fila, pedir um atestado médico indevido, baixar músicas pirateadas, dar por fora uns dinheiros para se fazer um jeito, etc. Esta lista é quase infindável. Bem! Os velhos padrões de comportamento, tudo o indica, devem ter ficado lá no passado…

:::5

A melhor coisa a fazer é viver pela fé, com lucros ou percas. Não adianta tentar colocar uma pedra em cima do pecado; se o que nos move é tirar proveito das situações e das pessoas, isso não passará despercebido. Cedo ou tarde, sempre haverá um observador mais atento...  Agora é o Rendeiro, o Canas e o Pinho mas tudo indica que amanhã aparecerão outros mecatrefes. Alguns até nos espantarão ficando com a boca aberta que nem chaminé de navio feito vapor transatlântico como o meu Niassa…  

:::6

Você já percebeu que a vida depende de decisões, noé?! Bem; embora por vezes, sejamos prejudicados por sermos demasiado complacentes com a astúcia alheia ou, não denunciarmos as fraudes por forma a nos ilibarmos desse conhecimento. Desta feita, e bem, umas centenas de bons jornalistas de vários países resolveram colocar o dedo na ferida…

Desde que amanhece até quando anoitece, é uma decisão atrás da outra em cada novo dia. Algumas são comuns, e você pode se dar ao luxo de até errar, por exemplo na cor da roupa, no uso da gravata ou que meio de transporte usar, uma coisa menor. Mas, nos grandes desfalques, nessas arapucas digitais sem tocaias, se falhar, as consequências podem ser terríveis. E, é bom que assim o seja, noé! Justiça - faz falta, noé!?

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:55
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Sábado, 28 de Dezembro de 2019
XICULULU . CXXI

OUTROS TEMPOS Na zona do Largo de Sansão o “Darracq” de Armando Gonsalves choca com o “Benz” de Joaquim Refóios… Ambos, médicos de ofício …

– M´Puto - Coimbra no início do século XX -29.12.2019

Xicululu: Mau-olhado

Por

soba0.jpeg T´Chingange, na Coimbra do M´Puto

tonito3.jpg Aconteceu ir até Tentúgal e bem à margem do Mondego, em tempo de cheias e diques rebentados pela muita água libertada das represas e, chuvas pedidas ao S. Pedro que pude ver e cheirar todo o envolvente das terras de Montemor-o-Velho mis o Paço com suas vistas. Fui lá em companhia de Marco António, meu filho que está apresentando tese na área de arquitectura. Observei, aqui e ali aonde a linhas do tempo se quebraram nas vontades eclécticas de seus proprietários, rococó e gostos góticos com renascentismo ou maneirismo.

Entre coisas feitas a eito e sem um bem definido traço, vi quase tudo a cair em ruinas; mas, pude ouvir estórias deveras interessantes. Já lá iremos! Trata-se de uma quinta que pertenceu à Casa Cadaval durante séculos e que, desde o século XIV do tempo a D. Pedro, 1º Duque de Coimbra, da dinastia de Avis, filho do rei João I e de Filipa de Lencastre. O Infante tomou o paço inicial com uma torre a ver o Mondego como sua residência mas, o tempo foi voraz…

tentugal02.jpg Aquilo que foi o Paço dos Condes de Tentúgal, dos Duques do Cadaval, do Infante D. Pedro, Quinta do Paço ou, simplesmente o Paço, agora são ruinas com cimalhas encastradas mostrando as armas das gerações. Parte foi incendiada, depois reconstruída, para voltar a conhecer o declínio a partir de meados do século XX. Foi casa de nobres, terreno de cultivo e consultório dos mais necessitados. Hoje está devoluta - melhor, abandonada.

Posso imaginar o médico Armando Leal Gonsalves percorrendo a galeria de fotografias que conserva. O cardiologista, que aos 80 anos continuava a dar consultas, foi o último caseiro daqueles paços e é com ele de forma pensada, que revivo o primeiro acidente entre dois carros na Cidade de Coimbra. Note-se: Só havia dois carros. Vale a pena decifrar esta atribulação. Envolto numa névoa de velhice, preencho os espaços da vida defumando assuntos que ainda me não dão ânimo em contar.

tentugal03.jpg Assim, num calçadão feito a pedras com cores e desenhos de relembrar, entro na família Gonsalves (cujo S foi sobrevivendo às mudanças de grafia), que dirigiu o Paço durante gerações. O último da linhagem foi Armando Gonsalves, de quem o neto herdou o nome e seguiu a profissão, que administrou o Paço desde o início do século XX até 1955, data da sua morte.

Antes dele, o pai Francisco já tinha desempenhado igual função ao serviço da família Alvares Pereira de Melo (Duques do Cadaval), mas o filho, que também era médico pneumologista, deixaria uma marca mais duradoura, chegando até hoje nas bocas dos mais antigos de Tentúgal. Tanto que o seu nome baptizou uma alameda em Coimbra  e uma das principais ruas da vila de Tentúgal, onde há um busto em sua memória.

tentugal2.jpg José Craveiro, um jornaleiro, vai desenrolando histórias que dão corpo à reputação do antigo administrador como figura generosa. Mas sublinha que ele não dava esmolas, embora por vezes procurasse as tarefas mais inócuas como pretexto para distribuir uns escudos. Se durante a semana o médico exercia a profissão em Coimbra (foi director do Hospital dos Covões, de 1935 a 1949), aos domingos, das 7h às 13h, dava consultas no Paço às pessoas com menos posses. Era muitas vezes recompensado com ovos, bolos e outros géneros, conta Armando Leal Gonsalves. “Mas não levava dinheiro de ninguém”, pelo contrário.

Armando Gonsalves morreu em 1955, com menos três dedos devido à falta de protecção adequada durante as radiografias e sem fortuna. O espólio que deixou esteve para ir a leilão, tendo acabado por ficar na posse da família - uma casa de nobres. Isto pode, em parte ser lido no Jornal Público! O professor catedrático de História da Arte, José Custódio Vieira da Silva, escreve que apesar de o edifício conservar “elementos importantes da fundação quatrocentista”, o paço foi “muito adulterado nas sucessivas reconstruções”. Uma dessas intervenções tornou-se necessária após 1834, ano em que as tropas liberais incendiaram a casa por conta do apoio do sexto duque do Cadaval, Nuno Caetano Álvares Pereira de Melo, à facção absolutista.

tentugal7.jpg Mas, vamos agora à descrição que hoje pode ser admirada por assombro: A quinta foi garagem do primeiro carro de Coimbra, um Darracq de 12 cavalos que, em 1902, entrou pela alfândega da Figueira da Foz como máquina agrícola, por ainda não haver registo para automóveis. No ano seguinte, o Darracq com a matrícula “Coimbra-1” foi um dos protagonistas do primeiro acidente rodoviário da cidade, quando havia apenas registo de duas viaturas.

tentugal6.jpg Na zona do Largo de Sansão (hoje a pedonal  - Praça 8 de Maio), o carro de Armando Gonsalves choca com o Benz- matricula Coimbra 2 de Joaquim Refóios, também médico de ofício e lente na Universidade de Coimbra. O Darracq, que ficaria na posse da família Gonsalves até 1952, pode ainda ser visto hoje, restaurado, no Museu do Caramulo, ficou então com danos no valor de 15$80 e o Benz de Joaquim Refóios com estragos contabilizados em 37$60. A questão foi resolvida em tribunal a favor do administrador… Derrubando-me nas trevas do desconhecimento, olho e ouço pela caixa mágica da mente coisas verídicas do tempo, que parecem mentiras, como se tudo, coisas e gente, fossemos pedras parideiras…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:31
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Segunda-feira, 20 de Maio de 2019
MOAMBA . XXXI

PELO SIM PELO NÃO SOU "COISA NENHUMA" 
- Talvez agnóstico! Talvez um ACRÓNIMO... Porque não posso ser MEIA coisa, MEIO Cristão, MEIO Ciclista, meio FUTEBOLEIRO ou MEIO matumbo... Saí um BATRÁQUIO...
Por 

soba0.jpeg T´Chingange - Em Coimbra
Andei a pé doze quilómetros e, enquanto caminhava por esta linda Coimbra fui ouvindo rádio pelo meu micro-ondas "android" e, volta e meia faziam referência a um grupo chamado de LGBT. Eu, matumbo de corpo inteiro, apercebi-me pela conversa, de que era uma sigla em que agregavam nela gente mal compreendida, gente marginalizada, mas em tempo algum disseram o que era isso de LGBT. E. eu queria saber!

amolador3.jpg Chegado a casa fui ao meu tio Google da Internet averiguar o que era isso de que eu desconhecia! Imaginei serem sapatonas, homens bichas, gente muito desencantada por ninguém entender como era isso de se andar de marcha atrás ou marcha à ré; gente que um dia o é e no outro, o deixa de ser... 
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Quando eu era puto candengue, a homens que gostavam de outros homens chamavam um nome de fazer panelas, num faz de conta porque não faziam tachos nem penicos ou cafeteiras. Bom! Canibais era e ainda é uma outra coisa. Mas, com o tempo fui-me dando conta que o rolar das incompreensões tomam novas formas a que todos chamam de preconceito...

araujo6.jpg E, fui-me tornando sábio, saber nos conformes a coisa mal compreendida; haveria que tomar tino! Pois!... Não falar à toa porque, afinal havia muita gente a usar o AMOR desta forma. Ele com ele, ela com ela, tudo misturado e os edecéteras que se possam imaginar. Não poderia ficar assim inocente todo o tempo. Tive de procurar meu ti Google que aparentemente sabe tudo e...
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E, fiquei a saber muita coisa: LGBT é a sigla de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros. 
Pópilas! Dei-me conta que estava a ficar para trás - anormal mesmo, no meio destas novas adquirições ou aquisições. Assim; sem saber se ainda era um homo sapiens... Será que ainda sou!?

araujo34.jpg Que, desde os anos 1990, o termo é uma adaptação de LGB, que era utilizado para substituir o termo GAY para se referir à comunidade LGBT no fim da década de 1980.... Li mais que os activistas acreditam que o termo "gay" não abrange ou não representa todos aqueles que fazem parte da comunidade. Afinal, o escambau também teria de ser enumerado!
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Que, o LGBT, tornou-se popular como uma autodesignação e que tem sido adoptado pela maioria dos centros comunitários sobre sexualidade e género e em meios de comunicação nos USA, bem como alguns outros países anglófonos.... Tinha de ser! Tamanhos avanços não poderiam alhear estas nações de primeiríssimo mundo.

araujo35.jpg Fui também ao dicionário e fiquei a saber que o termo LGBT é usado também em alguns outros países, particularmente naqueles cujos idiomas usam acrónimos, tais como Argentina, Brasil, França e Turquia. Ora bem! Acrónimo é uma palavra formada com as letras ou sílabas iniciais de uma sequência de palavras, pronunciada sem soletração das letras que a compõem (exemplo: OVNI por objecto voador não identificado, PALOP por país africano de língua oficial portuguesa, etc.). Estão a acompanhar!...
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Pois então! A sigla LGBT destina-se a promover a diversidade das culturas baseadas em identidade sexual e de género. Ela pode ser usada para se referir a qualquer um que não é heterossexual ou não é cisgénero (que tem uma identidade de género idêntica àquela que foi atribuída à nascença), por oposição a transgénero), ao invés de exclusivamente se referir as pessoas que são lésbicas, gays, bissexuais ou transgêneros....

araujo36.jpg Bem isto não é tudo!... Para reconhecer essa inclusão, uma variante popular, adicionou a letra Q para aqueles que se identificam como QUEER ou que questionam a sua identidade sexual; LGBTQ foi registado em 1996. Aqueles que desejam incluir pessoas intersexuais em grupos LGBT sugerem a sigla prolongada LGBTI... Estão a ver a coisa? Não é nenhuma marca de carro!...
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Algumas pessoas combinam as duas siglas e usam LGBTIQ ou LGBTQI. Outros, ainda, adicionam a letra A para os, arromânticos ou simpatizantes (aliados): LGBTQIA, LGBTA ou LGBTQA. Aderentemente há variações que incluem também pansexuais e polissexuais (adicionalmente pessoas não-binárias), como LGBTQIAP, LGBTQIAPN e LGBTPN.

araujo38.jpg Chegado aqui, já feito um BATRÁQUIO, reli de novo e fiquei OBTUSO +. Pois NÃO, Pois SIM! Finalmente, um sinal de + é por vezes adicionado ao final para representar qualquer outra pessoa que não seja coberta pelas outras sete iniciais: LGBTQIAP+. Caralho!... Já nem sei o que sou!....
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Para desconcluir: As pessoas podem ou não se identificar como LGBT+, dependendo das suas preocupações políticas ou se elas vivem em um ambiente discriminatório, bem como a situação dos direitos LGBT onde elas vivem. Vou-vos dizer fiquei mesmo complicado com esta visão... Quero ir prá ilha...

Ilustrações de Costa Araújo
O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:13
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Segunda-feira, 13 de Maio de 2019
MOAMBA . XXIX

TEMPOS CUSPILHADAS – 13.05.2019

MULUNGÚ COM LARANJA DO M´PUTO
Passeando o esqueleto no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves mais África, um reino outrora Tuga... Dou-me conta que me roubam laranjas, que me impingem telas de falsas Monalisas... 
Por

soba002.jpgT´Chingange - Em Coimbra 

bolor1.jpg Há uns tempos atrás e, estando eu no Brasil, pessoa amiga referiu-se ao facto de em Portugal país  visitado por ele nesse então, as pessoas serem disciplinadas, não terem o apetite do roubo ou cobiçar o alheio. Isto passou-se em uma praça da pequena cidade de Lagoa do Algarve; ele reparou que as pessoas passavam por aquelas laranjeiras carregadas de bonitas laranjas e o estranho, era que ninguém tocava nelas. Tomara, eram azedas!

berard1.jpg Lembro-me de ter dito: - No M´Puto tudo é muito sofisticado, até no roubo. Mansamente os bancos e afins destes, vendem-nos laranjas virtuais e endividando-se roubam-nos assim à socapa e, não é de repelão não! Num repentemente o governo passa nosso dinheirinho para esses salafrários Berardos e Salgados, que armados com grandes honorabilidades e honestidades, cortam-nos as gordurinhas feitas laranjas. 

salgado1.jpgcoimbra9.jpg Não sei se ele, meu interlocutor, brasileiro meio doutor, meio matuto entendeu mas, não desentendido de todo, quis compreender meu ponto de vista porque ele mesmo, tem uma boquinha do PT. O certo é de que isto sucede no M´Puto com o beneplácito do governo e até do nosso Tio Célito que feito Presidente sacode o pacote e abana seu chapéu com solidária condescendência com o Salgado e afins kazukuteiros branquelas como eu; com essa malvada banca que nos dá 0,005% nas contas ao prazo de um ano!
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Não havia qualquer impedimento por qualquer resguardo para as não alcançar - as laranjas da Lagoa do Al-Garbe e, não obstante estarem gulosas, bonitas a solicitar-nos esticar as mãos e recolhe-las, ninguém o fazia! Eu com a sede que tinha (disse o cara, brasileiro de Gravatá de Pernambuco) de até me apeteceu agarrar uma mas, retive-me mais por poder parecer mal do que outra causa; fiquei inibido proceder desse jeito disse ele; bonitas e nada de ladrões!? 

cruzios4.jpg A pessoa em causa, um nordestino juiz da comarca invisível da boquinha do PT que descreveu isto, desconhecia que as laranjinhas eram ácidas, azedas como trovisco e, nem me dei ao trabalho de esclarecer para subsistir na mente deles; que os Tugas não roubavam como era tão habitual, assim como eles o fazem no seu Brasil! Por isso têm muitos e muitas laranjas a fingir que o são mas, tudo uma mentira! Folhas inteiras de laranjas-gente a comer do fisco! Dos municípios, das bancas e instituições daqueles que agora metralham o Bolsonaro... 
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E, a propósito omiti a verdade porque já estava farto de tanto desaforo colocando os Tugas como os larápios da América, blá, blá, bla, do pau brasil e do ipê-roxo; coisa que insistentemente ouvia referindo tempos idos no roubo das matas, das muitas especiarias, ouro e prata, um sem fim de maleitas sociais do qual lhes foi legado! 

PAPAL4.jpg Porque dizem: - Que chegavam da Metrópole com uma mão atrás e outra à frente e passado bem pouco tempo já tinham seu próprio posto de trabalho, sua padaria, borracharia ou sua própria venda. O escambau, como sempre referem.... Normalmente nem replicava porque também tinha as minhas próprias queixas por fruto de uma descolonização de tugi mas eles nem iriam entender...

berard2.jpg Agora replico e até triplico e sextuplico minhas verdades para ver se os MADUROS de todo o Mundo caem de podres... Tal nefasta saga provocada por mariolas e traidores ao M´Puto e do M´Puto; desta feita contive-me para que ficassem com ideias edificantes sobre os Tugas e, que afinal, nem tudo neles era mau! 

lula02.jpg Quando tudo dava para o torto, simplesmente dizia que era Niassalêz, que tudo me passava ao largo mas, em verdade roía-me de pequenos ranhos moncosos de cor injustiçada. Para não ficarem na insolvência, nem me perguntavam que raio era isso de ser Niassalêz, só para não mostrarem sua ignorância endémica. De forma catedrática ia-lhes dizendo que o Brasil era quase um continente graças a terem sido um reino; que não foram desintegrados em vários países porque foram a sede do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. O Mundo é mesmo uma ervilha!
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E, mais, ... tendo D. João VI como o maior aglutinador dessa política; um estadista de valor e que eles sempre subestimaram e subestimam com charadas de mau gosto e desrespeito - o Rei das coxinhas de galinha. Que não obstante o Brasil já ser grande, invadiu a Cisplatina ficando alargado com o actual Uruguai a sul e o Guiana Francesa a Norte por estar em guerra com os franceses - A França de Napoleão.

D. JoãoVI.jpg E, quantas mais coisas tinham de ser ensinadas, porque infelizmente, mesmo gente formada a nível universitário, não tinham um perfeito conhecimento da real história. Fui eu a contar a muitos, as estórias do Caramuru, Do João Ramalho, do 1º Bispo do Brasil - da festa de arromba que aqueles índios Caetés fizeram em Julho de 1556 devorando Dom Pero Fernandes Sardinha e outros edecéteras.
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Agora, neste momento na minha roça de Coimbra, de doutorado faço jus às afirmações deles: - Conta mais Doutor! Imagina, eu um Niassalês contando coisas do Lampião, coisas que os caras desconheciam. Como não avera de ser Dôtor!? De tudo isto eu retirava ilações no fraco aprendizado nas escolas brasileiras! 

MAGA8.jpg Claro que os ladrões existem aqui e lá mas, nesta actualidade, nem digo nada para não amesquinhar aquele elogio das laranjas feito por um brasileiro das terras Tugas! Tomara que Bolsonaro extermine tanto LARANJA mentiroso, que rouba o povo
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Mulungu e Mulungú: É branco em língua Zulu; também é uma árvore de grande porte com flores vermelhas; existem no Brasil e um pouco por toda a África austral...
O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:25
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Sábado, 11 de Maio de 2019
MOAMBA . XXVIII

 
O CHOQUE DO PRESENTE - COIMBRA...11.05.2019
Aonde quer que se seja, é mesmo bom não se fazer contas ao tempo porque o bicho pega!… Basta-nos os doze meses de socialismo, social socialismo, ou isso entremeado com geringonças e matraquilhos mais diabruras para espairecer molezas…
Por 

soba002.jpg T´Chingange - Em Coimbra... 

coimbra5.jpg É mesmo bom não se fazer contas ao tempo, aos meses, às horas e minutos, porque assim se tornam inexistentes, apreciando no seu melhor, as azáfamas dos outros ao nosso redor. Ouvir os "roncos - salvo seja" dos políticos feito barcos que sem os arrais de outrora, barulham os ares em tons diferentes aí Jesus que não há oiro! Pois! Lamberam-no todo. Se não for assim mais e desta forma e, tal e coisa, demito-me! 
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Até já sinto casquilhas ou cosquilhas nos meus calcanhares! 
E eu, curtindo o sol das doze horas ao toque das ave-marias que não o sendo agora, repicam na torre da Cabra desta tão bela Coimbra e aonde de tanto calcorrear me tornei doutor de bizarrias. Lembranças desse tempo de quando essas badaladas tinham som e até cheiro de bronze. Agora são fitas com musica a fingir que dão horas.

coimbra6.jpg Basta-nos os doze meses de socialismo ou social socialismo, ou isso entremeado com diabruras capitalistas, mais pão com chouriço e pata negra para espairecer as molezas dos imperialistas que sempre deixam correr o tempo, quando o não faz sair de feição... Coisas demasiado salgadas para mim que recebo uma miséria de patacas.
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Assim, desajustados à economia, com os burocráticos vícios da democracia, dão-se voltas às vicissitudes das suaves ou suadas angustias dos demais refastelando-se em caldeirões moles, e amolecidos como convêm nas desvirtudes corruptas do engano.
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E nós na impaciência, por não haver oportunidades iguais para todos, refilamos verificando serem os profissionais da política com banqueiros e seus mais próximos, os seus maiores beneficiados. Como todo o fenómeno é temporário teremos de purificar nossas almas tormentosas ou atormentadas sem nos apegarmos a coisa alguma... Meu Rio virou mulola...

coimbra2.jpg Não será portanto, caso de estranhar de muitos de nós andarem com um olho aqui e outro lá mais adiante, com a metade do raciocínio num sítio e a outra metade no ciberespaço. Com fenómenos de engenharia financeira dos bancos BPN ou BES entre outros, uns andarão muito cheios de fórmulas, outros simplesmente à boleia com vazios de ideias, enganados em tramóia de falácia mal explicadas.
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No meu caso muito pessoal, de tão inchado de espantos, desenho-me entre antigos esboços, revendo-me nos desenhos das sombras nos porões do meu Niassa, pois que sou Niassalês...
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Brincando até com o meu nariz achatado, relembro-me de que se de nada posso fazer de bom pelos meus mais próximos, também nada farei para os prejudicar. Não obstante terei de dizer aqui que o Senhor Costa, não nos será a salvação; não irei por isso e agora, vivinho e indisposto com muitas coisas querer guerras, fuzilar quem possa ter uma ideia mais original entre os diferentes deuses ou demónios.

dia185.jpg Demónios dos também diferentes comunismos, socialismos ou mesmo uma terceira sensação desconhecida, chinguiços com estralhos enredados de zingarelhos e outros complicados artifícios. Sim! Vivemos numa permanente mentira e, assim irá continuar. Ainda se visse a justiça andar para a frente e não de lado, ou para trás como o caranguejo!?
O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:22
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Domingo, 30 de Dezembro de 2018
MUXOXO . LIII

IDEIAS CUSPILHADAS . 30.12.2018

Na natureza dos dias de hoje, não é o mais inteligente que vence na vida mas sim aquele que melhor se adapta a ela…

Por

tonito 20.jpgT´Chingange - Em Coimbra do M´Puto

Hoje, penúltimo dia do ano de dois mil e dezoito, não estou disposto a ler recados de rápidas mensagens electrónicas, coisas partilhadas mil cento e onze vezes, com muitas e auspiciosas generosidades timbradas e, de sombrias flexibilidades de cor carmim. Também dos versos de rimas desastradas de colar amor com dor, vulgarizando os mata-bichos da vida e, esquecendo os outros trezentos e sessenta e três dias de presença.

Sem pretender vulgarizar o verdadeiro sentido da amizade, aqui estou escrevendo missossos, muxoxos, mujimbos ou mocandas nos trezenos e sessenta e cinco dias dos anos comuns, para arredondar abraços XXL aos verdadeiros gestores do bem-querer. Nesta afirmação, existe uma inevitável armadilha, que chamamos de cultura subordinada a um outro potencial de fingimento, pois que o real entrelaça-se com o possível dando forma à fricção, uma nova forma de ficção.

dy15.jpg Ficção repleta de justificadas deduções através das malhas linguísticas ou narrativas imaginárias; sonhos em que todos podem passar por entre os pingos da chuva. Pois! - Os poetas com seu romantismo, controlam os paradoxos em criativas imagens, monopolizam a futilidade em verdade consoante sua habilidade e, sem obedecer aos ditames da razão.

Queria falar coisas simples, entendíveis o quanto baste de chamar às rezes bois, aos porcos marranos e aos bodes cabrões mas, não é legitimo sermos indelicados com estes domésticos animais que nos dão sustento, dão carne, dão leite, dão peles, dão agasalhos e até servem de arados em terras moles. O mundo não deveria ser assim mas, uns comem outros e outros são comidos.

sanchs1.jpg Encostado à cabeceira da cama e num terceiro andar, num repentino ruido de susto, vejo a gata Yacha saltar da comoda para o parapeito da janela escancarada. Deste jeito bem que podia navegar no espaço até se esparramar lá em baixo no passeio, confirmando que a lei do Isac Newton é bem perigosa, quando não se usa a tecnologia certa de navegar no espaço.  Menos mal que a calha das persianas lhe retiveram o ímpeto, digo eu.

Assim, repenicando ternuras, posso aperceber-me de minhas avantajadas unhas a necessitar de serem cortadas, retirar-lhes o encortiçado e persistente fungo que insiste em perpetuar sua amizade com a minha pessoa. Enquanto isto a gata Yacha foge para os lados da cozinha de onde vem um cheiro de ensopado de borrego e arroz de sanchas conhecidas por míscaros, cogumelos da família dos pleurotos e tortulhos.

sanchas2.jpg Já muito cheio de raminhos de urze, de folhas de loureiro e folhas de azevinho com bagas vermelhuscas, não será conveniente dizer que no correr do tempo os amigos foram-se rareando ao ponto de por vezes dizer que sim, tenho alguns conhecidos! É que muitos daqueles outros, no correr dos anos, demonstraram fingir que sempre foram almas caridosas trejeitando sorrisos e monices como se sempre fossem glorificados em virtudes religiosas.

Nada de troças! Muitos mastigarão respostas inarticuladas de um sorriso aflito mas, para não me mentir, em tempos, tive também vontade de enriquecer mas, fui ficando com o estritamente necessário sem nunca ficar merecedor de uma comenda. Por vezes os silêncios descem-me pela cara em forma de rugas recordando antigas pandegas, daquelas de fazer chinfrim, estomago vitimado em comezainas fora de portas e de horas desavindas.

sanchas3.jpg Não será de admirar ficar assim com manchas na pele, sentir biliosas sensações de pingar desaforos às prestações, sentir o rebuliço provocado pelos espumantes e demais frisantes; levantar-me uma, duas e três vezes na noite para sempre recordar que os abusos por vezes fogem da memória. Sentado de fronte para uma magnifica tarde do 363º dia do ano, vivo o quanto a memória me atormenta, dia e noite, moendo e remoendo – fugindo dela, a memória!

jatiu3.jpg Até há bem pouco tempo, dizia o quanto tinha de vocação para terrorista. Ouvi até em tempos e, em surdina alguém dizer referindo-se a mim: -Ele conhece muitas estórias, é um inconveniente. E, porque nunca me conformei por nunca me entenderem, fico aqui de novo pensando nesta insensata atitude da gata Yacha, saltar para o parapeito da janela, correndo o perigo de só parar lá em baixo, no passeio, esborrachada. Acho que a teoria do tal de Isak Newton também é válida para gatos…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:07
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Segunda-feira, 4 de Junho de 2018
MALAMBA . CCV

TEMPO DE CINZAS ANTIGAS. 04.06.2018

-Ser cleptomaníaco é ter a doença de fanar aquilo que não é seu, um jeito de gamar; A nomenclatura  do M´Puto faz isto com tecnicidade de gula, e nós nada! …

MALAMBA: É a palavra.

Por

soba0.jpeg T´Chingange - Em Coimbra

Estamos a 4 de Junho de 2018, o dia em que nasci lá para trás num tempo de há 73 anos. Não digo o sítio verdadeiro porque sou mazombo e a estória quer que se perdure a ideia de que nasci a bordo do vapor Niassa. Minha vida de tropeço em cavandela foi adicionando dias até que fizeram de mim um Camões. Estudei na Escola João das Regras da Maianga da Luua; andei no Colégio Moderno em frente ao café Bracarense mesmo ao lado do Sinaleiro da Maianga e na 4ª classe andei na Escola de Aplicação e Ensaios no Largo D. Afonso Henriques próximo do Teatro Nacional e tendo em frente o Sindicato dos Metalúrgicos de Angola.

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Assim crescendo na perspectiva de ser um Niassalês sigo minha vida normal estudando na Escola Oliveira Salazar da Luua que entretanto passou para Escola Industrial de Luanda. Trabalhei como brigadeiro nos Caminhos de Ferro da Luua desenhando quilómetros de perfis na Brigada de Caminhos de Ferro do Norte.  Querendo subir na vida tiro o Curso de Topografia e Agrimensura na Escola dos Serviços Geográficos e Cadastrais no Largo Bressane Leite aonde tinha funcionado a primeira Escola Industrial…

toledo8.jpg Como topógrafo sou colocado na Cidade de Robert Williams, mais conhecida por Caála e o Abril de 1975 apanha-me ali passando Demarcações Provisórias de terras que afinal nem eram nossas. Só vim a saber isto ao certo, quando da guerra do tundamunjila tudo entrou em alvoroço e era muito perigoso ser-se branco!  Fizeram uma ponte aérea e recambiaram-me para o M´Puto com um voo grátis só de ida! Depois assisti de longe, lá no M´Puto entre o esbracejar dum tal de Vasco Gonçalves que o barco Niassa traria o último nosso património, a bandeira das quinas verde e vermelha com uma esfera e castelos em amarelo.

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Dei voltas pelo mundo com um imbondeiro de Angola às costas e já convencido das inverdades, tomando o calor na lareira do Alentejo, uma terra perto de Panoias, fico conhecedor de outras estórias; de gente que nunca andou por essas enviesadas picadas do Mundo. E, é assim que surge a verídica vida dum senhor que nem conheci de nome Manuel Fonseca -um senhor que tinha a doença de roubar.

soba03.jpg Manuel Faneca nasceu com essa doença de cleptomaníaco, isso de não resistir à tentação de roubar as coisas dos outros, de fanar aquilo que não é seu, um jeito de gamar com gula de mais-valia p´ra ficar o rei do pedaço, o maior, talvez, sei lá! Há muita gente assim que nem desculpa tem por ser doente a propósito e porque lhe convêm, é ladrão mesmo! Faneca, regenerou-se após uns dez anos de cadeia aos soluços e num vai e vem periódico na ramona da Guarda Nacional Republicana.

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Ele, efectivamente tem essa doença mas, de vontade própria, forjou uma maneira de se enganar; fora de horas mandava seu chapéu de feltro para dentro do quintal do vizinho ou alheio e depois saltava o dito cujo, para subtrair o seu próprio pertence. Chico Torrica é uma outra típica figura duma outra pequena vila alentejana; ainda jovem namorou uma catraia bonita de encantos de pasmar rouxinóis mas, sendo ele lavrador dum monte, ficou surpreso quando Felismina sua deusa, num repentino fim-de-semana foi vista a passear bamboleando-se com um brasileiro carioca.

tonito9.jpg Esse carioca, um emigrante bem-sucedido era muito cheio de graveto. Felismina não resistiu à lábia escorregadia do linguajar do bonitão, vestido de popelinas e sapatos brancos mais o seu chevrollet descapotável, rabo de peixe de reluzentes cromados e um verde de constante tentação. Tudo isso relampejou na cabecinha loira de Felismina. Isto não caiu bem a Chico Torrica que de encucamento soluçado e repetido, resultou em uma depressão sem tamanho que nada tinha de platónico. Esta situação perdurou por algum tempo vindo a piorar quando já muito mais tarde lhe mostraram uma foto de sua perdida amada remetida de Cuiabá do pantanal brasileiro.

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A foto mostrava Felismina escanchada em um alazão, algures numa cordilheira de Poconé e, tocando um corno retorcido a que ali chamam de berrante. Isto, na santa terrinha da falsa estepe foi motivo de troça ao já consumido Torrica; por via das falas indicarem que aquele corno de chamar boi tresmalhado era seu maldito chavelho. Esta dolorosa pedrada na já débil cabeça de Torrica deu em o enlouquecer de vez.

tonito10.jpg Torrica deu em maluco, passado dos carretos como dizia a canalhada, pivetes sem sensibilidade para tal dor de chifre e assim, quando lhe dava na veneta desviava as pedras dos caminhos durante a noite e, não raras vezes ia ao monte, igreja de Nossa Senhora da Assunção e retirava lá de dentro todos os santos nos vários altares. Dizia ele que era para apanharem ar.

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Dispunha os santos em círculo e, ao relento sereno de Agosto, fazia-lhes grandes, eloquentes e entorpecentes discursos, bem à sua maneira. Eram o Santo António, Nossa Senhora da Assunção, Nossa senhora do Ó e do Parto mais o São Jorge de que tanto gostava! – Mas que jeito, estarem vosmecês sempre fechados! Gostam de ser coitados como eu? Passam ali meses e anos sem verem a luz do dia, sem ar nem nada e tudo-o-mais! … Dizia ele, Torrica sozinhado consigo, falando prás sombras escuras da noite.

tonito11.jpg Torrica assim ficou para todo o sempre virgem na sua solteiríssima pureza de mente descalabriada. Conta-se que por muitas vezes o tentaram internar no Júlio de Matos mas, desistiram porque sempre conseguia esgueirar-se regressando à sua linda terrinha cheia de branco com barras azuis. Numa dessas vezes disse para quem quis ouvir: - Pois, … aquilo lá naquele hospital é tudo doido varrido! …

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Vejam só que me mandaram tirar água dum poço com um cesto igual a este; disse isto apontando seu cesto de vime que acartava no outro braço, feito de vime entrelaçado e, logicamente muito cheio de buracos naturais de seu cabaz de levar pasto de palha seca a sua égua. Aonde já se viu tal coisa? Retorquía ele esgueirando-se num inocente riso trocista de sublimada lucidez. Isto do sublimado, digo eu, mas em verdade sua estória metia dó. Bom! A minha tal como a de tantos outros também deveria meter mas, o Mundo anda por demais esquecido. Nem nunca nos vão ressarcir. Ele, …há coisas! …

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:03
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Domingo, 3 de Junho de 2018
CAFUFUTILA . CXXIII

TEMPOS DE FRINCHAS MORNAS – 03.06.2018

Por

 soba15.jpgT´Chingange . Em Coimbra

Coimbra - Sai a dar um passeio matinal lá pelas nove horas e quinze minutos, desde os Olivais até o Solum, zona do estádio de futebol de Coimbra e já descendo a Rua António Jardim, desci duzentos e vinte e quatro degraus até à rotunda dos patos. Entre pinheiros, urzes e maias, pensava em fúteis caprichos, esmiuçando o tempo para saber a verdadeira razão dos paradoxos do agora a pensar no futuro.

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Não será portanto, caso de estranhar de muitos de nós andarem com um olho aqui e outro lá mais adiante, com a metade do raciocínio num sítio e a outra metade no ciberespaço. Mas eu tinha de galgar estes degraus com método sem me distrair com os tempos de socialismo, comunismo ou das entremeadas diabruras capitalistas, para espairecer as molezas dos europeístas e anarquistas que sempre deixam correr o tempo até lhes sair de feição.

trump3.jpg E, assim inchado de espantos, desenhava-me entre antigos esboços, revendo-me nos desenhos das verduras, escorregadias dos esverdeados fungos. Detive-me a apreciar aquela velha urze com musgo do neolítico, muito rachada e a pedir um acordo lógico nas alterações climatéricas, nos novos inventos piromaníacos e técnicas de assustar novas loucuras.

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Assim andando, olhando a quietude no meio de prédios e roncos recordei os tempos em que as pessoas tinham pesadelos com o roncar dos primeiros automóveis nos fins do século dezanove, para aí no ano de 1876 quando do nascimento do automóvel moderno como um tal chamado de Benz Patent-Motorwagen, inventado pelo alemão Karl Benz.

carro0.jpg Lembrar-me eu na minha primeiríssima geração, lá pelo ano de 1807, ter nascido o primeiro carro movidos por um motor de combustão interna a gás antes de surgir o combustível chamado hoje genericamente de petróleo e, que levou à introdução em 1885 do moderno motor a gasolina ou com combustão a gasolina.

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E, que mais tarde os homens com o delírio de voar fizeram experiências com asas de palha, atirando-se de torres e medonhos penhascos a imitar as modernas asas delta. Com asas mecânicas às costas abanavam-se na torpitude furiosamente até se esborracharem lá embaixo.

carro1.png E neste frenesim de voar em pensamento cheguei a Donald Trump que anda a experimentar o resto do mundo com malucas inventações só para fazer diferente; surgindo com os olhos esbugalhados, sem pestanas e ar trocista com sua caneta gigante e grossa, assassina o papel amarfanhando uns rabiscos que mais parecem um gráfico de pulsações do coração. Com riso de sacana, vira o livro rígido pró mundo mostrando sua assassinatura, coisas dum inimaginável louco a governar a Big América USA…

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O senhor gajo, olhando para o resto das suas possessões, mira a União Europeia com um sarcástico desdém forçando a lógica mediação com medidas legislativas e afins de enriquecer americanos. Com caneta de feltro assume unilateralmente medidas restritivas na importação do aço, aplicando tarifas e taxas a seu belo prazer. E, os Europeus às voltas em formar governação em Itália, em Espanha com outros edecéteras à perna.

carro2.jpg A França com Macron fazendo olhinhos bonitos à Angola. Um salve-se quem poder sem uma concertada coligação de esforços. Fiquei espantado quando na Kizomba do Facebook surgiu a notícia de que o presidente João Lourenço estava em França; tive dúvidas que assim fosse e, afinal lá estava ele descendo dum avião chinocas pago há hora à modica quantia de 74.000 dólares… Decerto, não irá comprar champanhe!?

TRUMP2.jpg Quase chegando ao Centro Comercial Alma, dou-me conta que o futuro anda muito enevoado; os países a se governarem em contas negativas com todo o mundo assobiando pró lado. E, são bilhões! Sacaneando-se uns aos outros sem conta nem medida. Bom!... Já no Alma, comprei o jornal Expresso, pedi um café, um copo de leite frio, mais uma queijadinha. Que se lixe! Menos mal que em Portugal temos um Marcelo a olhar por nozes (plural de nós)! Mas, até quando (não é pergunta)…    

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:31
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Sexta-feira, 1 de Junho de 2018
MALAMBAS CCIV

NAS FRINCHAS DO TEMPO - 01.06.2018

- Faço os possíveis para ser civilizado o quanto baste.

Por

soba0.jpeg T´Chingange

Coimbra. O dia estava assim-assim meio nublado, muito vento mas, dispus-me a caminhar até ao centro calcorreando minha doutorice pelas pedras gastas da calçada ou asfalto até chegar ao centro da velha urbe perto do panteão e do jardim da manga, restos dos tais Crúcios que por aqui andaram em idos tempos. Vesti minhas calças de ganga cor de indefinido castanho, calcei dois pares de meias, as botas do Kwazulu, vesti minha balalaica de búfalo e de sacola embrulhada dispus-me a seguir até o mercado municipal de Coimbra.

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Passei pela igreja dos Olivais aonde se diz ter estado o Santo António, desci a Celas passando pela petisca de celas, uma tasca aonde um dia me encontrei com o neto de Pedro Muralhas, um antigo administrador em terras ultramarinas e, sempre descendo ao longo do jardim da Sereia chego à Praça da Republica.

coimbra5.jpg O movimento de gente não era muito mas, pude apreciar haver muitos velhotes, maioritariamente mulheres carregadas de luto ou um preto de tristeza, caras muito carregadas de sombrias rugas baloiçando a velhice nos modos de cuidada atenção no pisar de folhas de grandes plátanos e de outras árvores trazidas do império, daqui e dalém mar, das índias ou terras de Vera Cruz.

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Meu destino era comprar favas no Mercado Municipal e, lá chegado comprei mais de três quilos a um euro cada, juntei mais duas beringelas e rodando o olhar pelos chouriços lá acabei por comprar também um caseiro e um outro de sangue muito aproximado à morcela mais dois pedaços de entrecosto. Estava assim e desta forma, a dar satisfação à vontade de comer algo diferente da macaxeira e arroz com feijão tropeiro do nordeste do Brasil.

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Esperando pelo autocarro número sete com destino ao Tovim e Hospitais, pude apreciar as idas e vindas de gente atarefada de sacolas e coisas penduradas. Assim e a tiracolo tinham na mirada um jovem com holofotes de camaleão a fazer triagem do que eventualmente poderia roubar; um cigano tentava vender relógios digitas e perfumes da arábia a preço de uva mijona.

coimbra9.jpg Que ninguém tenha a veleidade de pensar que pode controlar o ciclo da vida, e muito menos sair vencedor das batalhas que com ela temos, desde que somos trazidos ao mundo. Hoje estou aqui por acaso. E, neste agora, um qualquer larápio de rua, pode bem alterar o rumo de nossa vida mas, e também um qualquer agente de compra e venda de jogador de futebol pode alterar a vida d´outro qualquer. Como? Ganhando num esfregar de olhos algo na ordem de três ou quatro milhões e, nós aqui esfolados em tostões…

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Podemos sim, ganhar algumas batalhas no nosso dia, mas até à guerra final, vamos passar por muitas vicissitudes, de sermos usados e vilipendiados dentro ou à margem das leis, sem ninguém ter a preocupação de ferir o próximo sem interrogação ou, ter o cuidado de preservar a vida; vida que sempre a perdemos na hora em que nos finalizamos!

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Rejeitando a teoria do esquecimento, lutarei sempre contra qualquer medo, contrariando muitos com mitos, até adquirir tranquilidade no meu registo de memória e emoções. Convosco tenho compartilhado o passado que não se desvia do meu caminho, os sonhos e metas acreditando ou não em teorias! Compartilho também este agora na terra de doutores e outros senhores.

coimbra2.jpg Estou realmente cansado de políticos e pessoas em geral que não assumem a responsabilidade por acções e atitudes. Em nossas vidas, nunca saberemos quantos milagres vamos precisar… Neste sentido, a humanidade não alcançou, e jamais alcançará uma compreensão total do sentido da existência da nossa espécie, porque a condição humana é um produto da história.

carambola1.jpg Não apenas dos seis milénios de civilização mas muito mais do que isso com dígitos de centenas de milénios antes! Jesus Cristo na escala do Universo passou por nós ontem! Entre o ontem e hoje vão bem mais de dois mil anos. Estou cansado de que me digam para ter "tolerância para com os outros”; faço os possíveis para ser civilizado o quanto baste.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:52
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Quarta-feira, 31 de Maio de 2017
FRATERNIDADES . XCVI

CAFÉ DA MANHA - Quem é capaz de definir a AMIZADE? São os conflitos e contradições que nos tornam seres humanos….

Por

t´chingange.jpegT´Chingange (Otchingandji)

macuta com soba.jpg Ando a dormir quatro horas por noite e, é por isso que rebolando para um e outro lado, a mente se inquieta de tanto pensar. E, recordei esta noite que aos meus sete anos o meu pai Manuel, Cabeças de alcunha era o maior, o meu pai herói. Não havia outro mais importante e sabedor. Com o correr da idade aos dezassete anos era umas velhadas; um retrogrado de mente atrasada e desinserido das vivências do mundo, meu mundo. Era essa emancipação comum que inicia na puberdade e se agrava com o correr dos anos até que se fique homem! E, quem diz homem, diz mulher, de nuances diferentes ou diversificadas.

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Aos vinte e sete anos já pai de filhos começa-se a dar valor aos ensinamentos de seus ascendentes, pai e mãe. Cuidar dos filhos perdendo noites, da dor de dentes e febres que surgem e passam com as mezinhas de chás de cidreira e camomila entre outros ensinados pela mãe e pai. Neste então nossos pais começam a ficar com valor; agora entendo-os, dizemos com frequência e de forma agravada quando sentados num banco de consultório esperamos saber o que é que o filho tem, qual é a coisa que o atrapalha na saúde.

ET2.jpg Aos trinta e sete e até sem muito reflectir dizemos de nós para connosco: Meu pai era mesmo um herói, ele e ela minha mãe, sempre me diziam isto e aquilo; vejo agora quantos valor tinham seus ensinamentos. Das muitas observações que fiz e faço, vejo que o grande elefante tem uma cria e, esta começa assim que nasce logo a andar. Num gnu, búfalo ou impala, a cria cai de seu ventre e, passados que são vinte minutos já estão andar atrás da mãe. Nós humanos, levamos quase um ano para começar a dar os primeiros passos.

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A natureza é tão surpreendente que ao recordar isto e aquilo comovemo-nos, uma sensação que vai enriquecendo com o tempo, com os momentos de alta felicidade e os outros desmazelados ou descuidados momentos. Hoje durmo menos e penso muito mais! E, fico agradecido aos amigos, especialmente os de longa data. Amiúde lá vem à mente o pai e a mãe. Se fossem vivos, isto e aquilo não aconteceria com muitos edecéteras que naquele então desprezávamos.

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Já avós, nosso pai e nossa mãe passam a heróis! Eles eram os maiores, em tudo pensavam e de tudo tiravam proveito para nos encher de felicidade. Davam-nos o miolo ficando eles com as cascas! Por nossa vontade eles ficariam vivos para a eternidade. Chega-se ao ponto crucial de entendermos o porquê de Cristo querer ir para o pé do pai assim tão novo, com uns escassos 33 anos.

mamoeiro.jpg Há coisas que só com o tempo nos amadurecem. E, reflectindo vimos os momentos inaproveitados nas atitudes belas de que fomos apetrechados. Deveríamos ser doceis com nossas mais próximos e muitas vezes lá vem o maldito interesse de se tirar proveito disto ou aquilo nos relacionamentos. O negócio! Deveria dizer muitas vezes a minha mulher ou filhos o quanto os amo mas, sempre descuidamos esta vertente sentimental. Gritamos pelas coisas fúteis do clube, numa viva o Sporting ou o Benfica, Vasco da gama ou Palmeiras.

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É quando nos descuidamos disto que reflectimos nos intervalos dos dias que nosso bem maior é aquela pessoa que ali está ao lado mas, que nem sempre o lembramos. Tal como os pais que há tanto tempo se foram e sempre os recordamos: Se eles aqui estivessem a coisa era outra! E, no pior ou melhor, sempre achamos que sim, eles eram os pais heróis.

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Hoje desperdiça-se muito a felicidade tornando-a descartável! Não há aquela vontade de agradar de ceder ou compreender e, mais tarde damo-nos conta que seria muito melhor ser assim e não daquele jeito! Se, olhássemos para o comportamento da natureza decerto tiraríamos maior proveito de tudo mas, tem sempre um mas a emperrar a máquina da vida.

poluição.jpg Ando a cultivar o amor, a regá-lo como rego as flores de meu jardim mas o mundo lá fora está a ficar muito cheio de loucuras, de muita avareza, de petulância e de atitudes perversas. Não admirará que quando chegar aos noventa anos se queira ir para o pé do pai. Cada vez mais se compreende do porquê Nosso Senhor quis ir tão novo para o pé dele, o Pai. Estou a dizer isto sem aquela doentia forma medrosa de dar graças a Deus e com a temeridade que ao longo dos séculos nos tem incutido.

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Hoje vai ser um dia diferente, vou à praia com meus adoptivos filhos de Pirituba e minha neta Kira que ganhei e, porque em tempos seus pais me adoptaram como seus! Num repente passaram também a ser a minha família e, com eles redescubro-me outra vez. A vida tem um jeito surpreendente de colocar ao nosso lado as pessoas das quais realmente necessitamos: Um bom amigo, um irmão de alma, um amor para sempre, um alguém que nos faz ver o melhor em nós mesmos…

socras4.png Alguém que nos entenda e nos respeite assim como se é. Viver é acalentar sonhos e esperanças, fazendo da fé, nossa inspiração maior. É buscar nas pequenas coisas, um grande motivo para se ser feliz! É provável que muito outros o tenham dito de outra forma mas que importa se estou ou não, repetindo isto a mim mesmo. Não se pode morrer em vida, não se pode desistir de amar, de criar. Não se pode e, até devia ser proibido e pecado! Com tudo isto direi pelo que sei: -Não é possível adiar a vida, aproveitem todos os segundos, minutos e horas.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:01
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Quinta-feira, 25 de Maio de 2017
MOKANDA DO SOBA . CXXIV

AS PROFISSÕES VÃO ACABAR! - REVEJA SEU FUTURO - Hoje deveremos educar e formar jovens e pessoas não para exercer uma profissão, mas sim para as dotar de um mapa de competências laterais e transversais.

Por

t´chingange 0.jpgT´Chingange

Em janeiro de 2012, o The Wall Street Journal informava que a Kodak estaria a preparar-se para iniciar o seu processo de falência, algo que ficou confirmado a 19 de janeiro de 2012, quando a mesma empresa solicitou um pedido de concordata para restruturar os seus negócios num tribunal em Nova Iorque. Em 1998 a Kodak tinha 170.000 colaboradores e era líder mundial na venda de papel fotográfico com uma quota de mercado de 85%.

ara3.jpg Ainda nesta década tínhamos em Portugal o Banco Espírito Santo que chegou a ser o maior grupo financeiro privado português e líder na satisfação do cliente. O mesmo BES obteve vários galardões internacionais tais como no âmbito da iniciativa "World's Best Banks" em que foi considerado o melhor banco português pela revista económica norte-americana Global Finance. A mesma opinião tinha a revista The Banker que considerava o BES como o melhor banco em Portugal.

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Em 2007, a então famosa marca finlandesa de telemóveis Nokia liderava o fabrico mundial de telemóveis, detinha uma quota de mercado nas telecomunicações de aproximadamente 40%. Quando surgiram os rumores dos primeiros smartphones, os responsáveis da marca finlandesa consideraram que estes seriam telemóveis de nicho e não telemóveis de venda massificada. Este erro de avaliação saiu bem caro à Nokia que acabou por cair no desaparecimento do panorama mundial de telemóveis… O que podemos concluir destes três exemplos é que na actualidade não existem sectores imunes à turbulência económica e que o facto de termos sucesso empresarial numa determinada época não garante em nada um futuro próspero…

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Agora gostava de transportar esta realidade para as profissões do futuro… Se há quatro ou cinco anos perguntássemos aos taxistas qual o impacto da tecnologia na profissão deles, quase posso adivinhar que muitos refeririam que o impacto seria diminuto e talvez alguns mencionassem que as tecnologias os iriam ajudar, a título de exemplo o GPS. O que sabemos hoje é que temos uma indústria de softwares que lentamente está a destronar os taxistas através de aplicações inteligentes…

araujo6.jpg Por sua vez o desafio é tão grande que nos próximos anos os condutores que estão ao serviço destas marcas de aplicações poderão ser destronados pelos veículos autónomos que estão próximos de ser uma realidade. O mesmo se passaria se perguntarmos aos advogados portugueses, qual o impacto da tecnologia na sua profissão? Alguns responderão certamente que o avanço tecnológico será um bom complemento, no entanto, negarão que poderá pôr em causa a sua profissão.

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No entanto, não acredito que seja assim nos próximos anos… Actualmente a IBM desenvolveu o ROSS, que é o primeiro advogado de inteligência artificial do mundo. Este novo sistema cognitivo de inteligência artificial consegue emanar um parecer em apenas segundos, analisando a legislação, jurisprudência e ainda fontes secundárias. O ROSS obtém uma exactidão nos seus pareceressuperiores aos humanos. Enquanto o ser humano obtém 70% de exactidão o sistema de inteligência artificial obtém um eficácia de 90%.

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O que se está a passar na advocacia está a acontecer na medicina. Hoje temos sistemas de inteligência artificial muito mais eficazes e fiáveis no diagnóstico de doenças do que médicos qualificados para o efeito. Um destes dias levei a minha mulher ao hospital do Alvor (Algarve); ia com uma tensão arterial muito fora do normal sendo a alta de 22. O médico veio de lá de dentro ensonado e receitou Paracetamol! Como é? Um espanto e, assim ficamos sem denunciar esta anomalia. Não morreu porque não calhou!

araujo1.jpg Um computador não iria dar um placebo destes para quem está tão aflito! Fiquei bem preocupado com o nosso futuro, nossa saúde ficando na mão de gente incompetente ou desclassificada, mesmo que sendo formada na melhor universidade do mundo! O homem ficou demasiado vulnerável às vicissitudes do desleixo e por vezes, muitas vezes está uma vida em jogo. Muito provavelmente este médico foi um bom aluno, teve médias altas em seu curriculum mas neste dia falhou! Muito provavelmente um outro medico com menos notas no seu curriculum, teria mais aptidão e vocação do que este rustico e desleixado doutor !

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Conforme o que explanei, não existem sectores nem profissões imutáveis; neste sentido hoje deveremos educar e formar jovens e pessoas não para exercer uma profissão, mas sim para as dotar de um mapa de competências transversais que as ajudem a desenvolver durante a sua vida não um, mas sim vários cargos. 

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Meu filho que é duplamente licenciado no campo das artes anda todo entusiasmado com sua horta, sem emprego dedica-se com amor às suas alfaces, tomates, repolhos e até poejos que fazem uma bela açorda! Dá-lhe mais vantagens do que aceitar um trabalho remunerado com menos do que o vencimento mínimo! Que país é este? Infelizmente vamos ter de repetir isto e, cada vez mais.

araujo86.jpg Algumas destas competências transversais são: criatividade; flexibilidade; comunicação; gestão de prioridades; resolução de problemas complexos; pensamento crítico; inteligência emocional; negociação; o estado deveria investir em haver mais fonte de trabalho mas, um governo vem, outro vai e a bosta continua cheirando mal! É forçoso termos bons gestores no governo ao invés de gente que se cursa nos gangues com nome de partidos e, que só nos trazem infelicidades. Gerir um país como a Dona Arminda minha mãe Topeta nem é necessário andar na escola; ela era pouco mais que analfabeta e fazia contas mais rápido do que eu com calculadora… Surripiar-nos no nosso património, nos nossos ganhos, é a coisa mais fácil! Basta escrever um decreto e já está! Assim não brinco!

Ilustrações de Costa Araújo Araújo

Do Soba T´Chingange - com a ajuda dum Gestor e Professor Universitário…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 05:49
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Sexta-feira, 23 de Dezembro de 2016
MAIANGA . XIX

UM MISSOSSO: A minha neta e eu, um contador de estórias avulso…

Maianga é um bairro de Luanda - Luua

Por

soba15.jpg T´Chingange 

Andei na Escola Industrial de Luanda por uns nove anos desde o Ciclo Preparatório passando pelo Curso de Montador Electricista, Secção Preparatória aos Institutos e também o curso de Mestrança de Construção Civil. Qualquer um destes cursos, nada tem de formação no sentido das Letras, nem tampouco era bom à disciplina de Português com a professora Maria Amélia. Na escala de zero a vinte eu andaria sempre ao redor dos dez.

araujo13.jpg Na Secção Preparatória e em regime nocturno tive um professor à disciplina de História à Antologia Portuguesa do qual não me lembro o nome mas, sempre o alinhavei como sendo de Vergílio que era excepcional em nos fazer despertar do sono lá pelas dez horas da noite. Sempre que notava a turma desinteressada ele ia buscar matéria de nos fazer regalar o olho.

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Muitas vezes referia os cintos de castidade usados na idade média para salvaguardar ausências dos maridos militares que iam para guerras distantes deixando suas damas à solta. Tinha mais recursos pedagógicos como este astucioso recurso, o que levou a que sempre o lembrasse. Um dia manda-nos fazer um trabalho do tipo conto, mussendo, em que o tema era o mar. Recordo-me bem que no dia aprazado entreguei minha estória cujo tema era “o mar” bem contornada de pormenores. Na entrega da avaliação teve a gentileza de dizer à turma que estava ali uma estória muito boa, afirmando que eu seria no futuro um bom contador de Histórias. Iremos ver!

tonito3.jpg Não dei a importância ao facto e, passaram-se muitos anos até que tivesse tempo, vontade e paciência de escrever estórias; Em verdade não havia tempo mas, sempre pela minha cabeça rolavam inventações que ficavam desperdiçadas no labirinto de meu templo. Após a guerra do tundamunjila em Angola oferecem-me uma viagem grátis para o M´Puto, em troca de nada e, sem data de retorno. Não gostei nada disto!

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A minha cabeça era um mundo de revolução, sentia necessidade de me expandir, estravazar; através dos Adidos fui colocado como destacado na Câmara Municipal de Torres Novas, uma Câmara que nesse então tudo se resolvia de punho no ar! Uma chusma de comunistas desconvictos, diga-se Com gestão comunista e do MDP eu passava um senhor martírio a ouvir desaforos contra a minha gente “os retornados”.

tonito.jpg O PSD deu-nos um espaço para nos reunirmos e foi decisão minha darmos inicio a um jornal de folhetos tipo “em stencil” de modo a dar informações adicionais aos muitos desalojados, gente desenquadrada de tudo, da bagunça em que nos sentíamos e, chamamos a este esboço de jornal “o caixote”. Foi útil naqueles tempos conturbados e, estando nós em um meio adverso com as direitas a querer usar-nos como linha de frente. E, nós na merda, sem futuro nem cascas dele.

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Comecei a escrever em uma coluna para o jornal “Almonda” tendo como Director o Padre Amílcar; era o “Aqui e agora” falando de coisas triviais sem entrar nos detalhes políticos, usando sempre uma forma sátira de abordar coisas desabridas e, sempre com um rolo no estomago. Descontente com tudo, inscrevi-me para emigrar pelo CIME (Comité Internacional de Imigrações Europeias) concorrendo para qualquer país do Mundo! Tal e qual!

tonito8.jpg Um dia chamaram-me a Lisboa e perguntaram-me se queria ir para a Venezuela como Topógrafo mas, havia um senão: Teríamos de ir de barco! Disse-lhes que ia sim senhor, nem que fosse em um barco à vela e, fui! Estive por lá seis anos. Regressei a Portugal para poder dar uma educação firme a meus dois filhos. Neste entretanto algumas coisas mudaram no M´Puto.

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Regressado ao Algarve comecei a escrever no jornal Semanário “A Gazeta de Lagoa” com a coluna “Sanzala”. Este era pertença de Artur Lignhe, um já conhecido jornalista de Angola. Agora vou à conversa mais interessante e que me levou a descrever parte do meu percurso anterior. Os anos passaram e, eis que viro avô de uma linda neta com o nome de Lara; filha de meu filho Marco António umbigado com Isabel bibliotecária.

tonito7.jpg Os anos passam-se e Lara é educada da forma correcta com leitura de uma estória ao iniciar sua hora de ir para a caminha. As histórias a ela oferecidas eram muitas e variadas; seu quarto era uma biblioteca de livros aos quadradinhos desde o João Ratão aos sete anões e da Carochinha, do lobo e da Avozinha. Fosse em Coimbra ou no Algarve, a avó ou sua mãe Isabel levavam um tempo a ler estórias que ela já sabia de cor e salteado mas, era  esta a rotina certa.

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Um dia sou solicitado a ler uma estória a Lara, teria talvez uns cinco a seis anos e assim foi! Vai daí, deito-me a seu lado e começo a ler a estória escolhida por ela, previamente! Recordo ser uma estória descabelada, mal engendrada e eu lá pela terceira folha começo a fingir ler algo que eu ia inventando na hora! Nada daquilo, a dado momento, tinha a ver com o escrito!

toledo18.jpg Aquilo não tinha graça, não tinha jeito nenhum e desenvolvendo a minha versão fingindo ler o que não estava escrito. Eu só fingia! Criava personagens novos, outra envolvência. Num impulso interrompido por Lara, era o maior rebuliço. Não é assim avó! Dizia ela, a estória não é essa!

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 Pegava no livro e via que efectivamente o que eu dizia não estava ali escrito. Ficava tudo desarranjado. Sempre ficava alvoroçada e desinquieta nunca iniciava sua dormida com a minha leitura. Acabei por ser despedido desta tarefa no correr do tempo. Aquelas estórias eram tão brejeiras que me via obrigado a ler a versão que minha inventação produzia na hora.

volk.jpg Minha função de avô ficou assim votada ao fracasso. Gente próxima diz-me para escrever um livro mas este trauma sempre me diz que sou um embuste! E, como o Mundo já está tão cheio de mentirosos fico na minha, chorando na cama que é lugar quente e, porque águas passadas não movem moinhos.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:13
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Sexta-feira, 20 de Maio de 2016
A CHUVA E O BOM TEMPO . LXVI

MOKANDA DO SOBA - EM COIMBRA

Sempre será melhor distribuírem-se rosas do que pedaços de egoísmo, altruísmo, ostracismo, pedantismo e outros ismos. Mas, ainda é mais fácil desfragmentar um átomo…

Por

soba 01.jpgT´chingange

branco1.jpg Tentando compreender-me, compreender o mundo e as pessoas que nos rodeiam de perto ou longe, na outra margem dum rio, num porto-à-mão ou num ferro-agudo, vejo-me envolto em probabilidades, reconhecendo o quanto há de incerteza no entendimento entre dois seres que nada cedem para se dar ao fenómeno electromagnético. Cada cabeça sua sentença e, o facto de se ir de A para B no espaço, ou seu inverso no tempo, obtêm-se um conjunto ou a soma de ondas para todas as trajectórias comportamentais.

Clara1.jpg As variações mentais são enormes, umas grandes e outras quase rasas que associadas se anulam umas às outras por vezes; torna-se mais simples calcular as orbitas permitidas em átomos e moléculas unidos por eléctrones que orbitam mais de um núcleo do que, entender alguns tipos de raciocínio que em nós coabitam. Falo de humanos ou humanóides, claro! E, é tão difícil conceber isto em nossa cultura que seremos obrigados a interpretar as antigas pinturas em que os santos ou gente com santidade eram envoltos em seu templo, sua cabeça com um halo de luz magenta ou púrpura.

DIA76.jpg Talvez seja uma explicação grosseira mas, mais plausível de entendimento. Neste aspecto volátil teremos de equacionar nossas vidas de forma quadrimensional que, num espaço-tempo significam a união de pontos chamados de eventos; a soma de situações em nossas formalizadas ou formatadas vidas dum chamado “Ego”. Ontem percorri seis quilómetros para ir a um lugar do largo do Poço no casco velho da Cidade de Coimbra a fim de comprar uma orquídea para a minha mulher de nome Ibib e, dar ensejo nobre aos seus setenta e cinco anos. Parabéns… ouviu!

orquidea.jpg E, enquanto ia, bulia! E, de regresso já com ela, a orquídea, numa bolsa e mais duas rosas, uma vermelha e outra branca, pensei que sempre será mais fácil distribuirmos rosas do que pedaços de egoísmo, ostracismo, pedantismo ou palavras feitas acções sem amor. Lá no Largo do Poço e bem perto do Panteão Nacional na Igreja de Santa Cruz pude deparar com um quase cego que tocava um órgão. Deveria ter-lhe dado uma moeda mas não dei e, estou seriamente arrependido! Talvez lá vá de novo para repor a vontade no lugar.

mess5.jpg Agachado nele, lendo as letras ou partituras, tocava a uma só mão, músicas do cancioneiro popular; letras que andam trauteadas de boca em boca e, concluí que enquanto uns se esforçam e lutam para sobreviver, outros espalham brasas queimando no quotidiano suas vidas, suas amizades, para se vestirem num alto coturno egoísta até às orelhas. E, como é confrangedor deparar com essa exagerada auto-estima, estigmatizando os demais supondo-se índigos.

afon1.JPG De regresso aos Olivais de Coimbra, lugar de mirar o Tovim e, já no topo de uma ladeira, arfando velhice, bem perto da Biblioteca Municipal, curiosamente bem ao lado da “Sereia do Mondego”, um bar para estudantes, subo uns muitos degraus parando no topo, no padrão, símbolo de se querer, mesmo em frente da Escola Secundaria José Falcão e, pude ler “Se mais mundo novo houvera, lá chegara” uma referência ao sétimo canto dos Lusíadas de Camões. Como digo com frequência, teremos de espotricar o tempo no “Paratrás” para melhor nos integrarmos no “Paralém” …

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:13
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Quinta-feira, 24 de Dezembro de 2015
MOKANDA DO PUTO. LXI

NAS FRINCHAS DO TEMPO . Em vésperas de Natal - apalpando as medidas da história, saro na natureza as feridas do corpo …

Mokanda : É uma carta

Por

t´chingange 0.jpgT´Chingange

séco0.png E, eis que decido hoje vésperas de Natal, recolher legados de tempos idos nesta cidade chamada de Coimbra, debruçada sobre um rio manso de nome Mondego. Com música de muitos sinos e coros fazendo eco nas esquinas, no bulício citadino, pregões de castanha assada e luzes dirigidas a presépios e árvores cheias de neve a fingir com bolas reluzentes mais fitas coloridas, subo o empedrado até à velha catedral. Em 1139, após a decisiva Batalha de Ourique, Afonso Henriques decide financiar a construção de uma nova catedral, devido à anterior estar muito deteriorada. As obras devem ter começado em tempos do bispo Bernardo no ano de 1146, mas o impulso definitivo foi dado em 1162 com o bispo D. Miguel Salomão, que ajudou a financiar a sua construção.

séco1.jpg Atribui-se o projecto da Sé românica ao mestre Roberto, de possível origem francesa, que dirigia a construção da Sé de Lisboa na mesma época. A direcção das obras ficou a cargo de mestre Bernardo, também possivelmente francês, substituído por mestre Soeiro, um arquitecto que trabalhou depois em outras igrejas na diocese do Porto.

séco2.jpg Vista do exterior, a Sé Velha lembra um pequeno castelo, com muros altos coroados de ameias e com poucas e estreitas janelas. A aparência de fortaleza é comum às catedrais da época e explica-se pelo clima bélico da Reconquista. A fachada principal tem uma espécie de torre central avançada com um portal de múltiplas arquivoltas e um janelão parecido ao portal.

séco3.jpgOs capitéis, arquivoltas e jambas do portal e do janelão são abundantemente decorados com motivos românicos com influências árabes e pré-românicas. O claustro, construído durante o reinado de Afonso II situa-se na transição para o gótico, encontrando-se no lado sul do templo. Cada face do claustro possui cinco arcos quebrados, envolvendo cada qual um par de arcos geminados de volta perfeita, rasgando-se em cada bandeira uma pequena rosácea decorada com traceria muito simples.

séco4.jpg Os tramos são quadrados, com as naves abobadadas, sendo só arcos torais ogivais muito apontados e os cruzeiros de volta inteiros. Os capitéis dos arcos são de cesto delgado, maioritariamente com decoração vegetalista. O feito mais interessante de toda a obra são os cantos da quadra: aí dá-se o encontro de duas arcadas góticas que mutuamente se interrompem a meia altura, criando um efeito original.

séco6.jpgséco5.jpg

Um símbolo de tolerância entre povos pode ser lida na parte exterior; uma expressão em árabe que significa: “Um dia a minha mão perecerá mas fica a marca da minha amargura”, uma característica única desta Sé-Velha e que a distingue de outras catedrais medievais. Esta arte de minúcia, leva-nos a meditar na cultura que nos está entranhada e o belo surpreende-nos, mesmo sem sermos especialistas de coisa alguma …

Nota: Bibliografia da NET Sapo

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:27
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Domingo, 5 de Julho de 2015
PUTO . LV

TEMPO DE CINSAS . Corria o ano de 987 da era Cristã ... A lenda ou estória de Santa Comba, a terra de Salazar…

Por

soba0.jpg T´CHINGANGE - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano na diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Sente-se e respira Angolano, tem cédula de Brasileiro, B. Identidade do M´Puto. Anda por África às arrecuas para fugir à regra, um paradigma novo, só dele.

dao1.jpg Corria o ano de 987 da era cristã. A Coimbra, cidade dos doutores, famosa e bela como a conhecemos hoje sofreu várias guerras; nesse então o pachorrento Mondego vulgo Bazófias era palco de muitos panos a secar em suas ilhotas; calças suadas de estopa e algodão ou zuarte e caqui, linho e tiras de arreios a serem coradas depois de uma boa barrela e roupas de cama, enxovais para damas casadoiras e, eis que chegam os Álamos, os Suevos e os Visigodos a retirar o poder aos Romanos. Mais tarde, Tarique e Muça, grandes chefes Muçulmanos tomam a cidade aonde permanecem mais de um século.

dao2.jpg Afonso III, rei de Leão e Castela tomou-a em 878 àqueles Mouros. Por detrás destes estava o Rei Almançor que a mandou destruir e depois reconstruir. Este popular Rei, em realidade, foi para os Árabes o Alexandre, o Aníbal ou o César poderoso em quase toda a península ibérica. Com assento em Silves, ainda em jovem, Almançor estudou teologia e direito em Córdova, conquistou Saragoça, invadiu Leão, destruiu Barcelona e, no ano de 997 atingiu a Galiza arrasando tudo. Morreu aos 63 anos na batalha de Galatanhazor contra El Cid o campeador; consta que El Cid foi posto já morto em sua montaria para intimidar o inimigo; sua mulher amarrou seu corpo ao cavalo com sua espada e o espantou para os campos de batalha. Ao ver El Cid em cima de seu cavalo, passaram a fugir, tendo assim sido perseguidos e derrotados.

dao3.pngPode ainda hoje e no convento adivinhar-se s orações das pobres freiras do convento à margem do Rio Dão atormentadas de medo porque ainda por ali deslizam entristecidas sombras. Naquele então e no assalto feito por Almançor, é no convento de Santa Comba que a Madre Superiora, com esse nome, atende às pancadas na grande porta do Convento. A própria Madre com voz angustiada pergunta: - Quem bate à porta da Casa do Senhor? – Sou Aben Abdullah, venho em nome do Rei Almançor, abram a porta senão destrui-la-emos, vamos aqui pernoitar! Ai Jesus! Ai minha Nossa! E, Madre viu pelas frinchas do medo o malvado bárbaro muçulmano, moiro e moreno espumando lascividades; o medo provoca estas coisas, mas aqui havia razões para esta temeridade.

dao6.jpg Minha mãe Santíssima! Ai jesus! E entre uis e ais, a Madre Comba deixou entrar só um delegado, coisa falada previamente e este ávido de mulher pelas naturais securas da guerra logo se agarrou a uma donzela, tresloucado. Madre Superiora retirou das vestes um punhal e matou a freirinha noviça pelas costas. Com o olhar espumado do moiro as demais noviças tiveram o mesmo fim e, para terminar, ela própria enterrou seu pequeno punhal em seu coração. Era o combinado entre elas! Elas eram noivas de Jesus e assim iriam ficar! Apavorado, o jovem moiro, aos trambolhões desceu a rampa e comunicou isto ao seu senhor Aben Abdullah. Aquele afluente do Mondego passou logo a ter a fidalguia de d´Om por tão nobre postura, o que veio mais tarde a ser de Dão.

dao4.jpgSanta Comba Dão recebeu carta de foral do Conde D. Henrique em 1102 renovada por D. Manuel em 1514. No dia 19 de Setembro de 1810 foi palco de uma sangrenta batalha entre as tropas francesas invasoras comandadas por Messena; foi aqui que começou a cair o brilho da estrela Napoleónica que Waterloo imortalizou. A 3 de Agosto de 1968 o todo-poderoso Presidente do Conselho chamado de Salazar gozando de um período de férias, no forte de Santo António do Estoril, o improvável aconteceu. Não se saberá nunca se foi por descuido, desequilíbrio ou por mera debilidade da cadeira de lona. O certo é que bateu violentamente com a cabeça no chão de pedra! Nunca mais recuperou! Morreu dois anos depois com o regime a sobreviver por mais quatro anos.  

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:27
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Quarta-feira, 25 de Junho de 2014
MUSSENDO . III

UM OUTRO DIA . No quatro de Junho, com Salazar de Santa Comba em Coimbra…

Por

 T´Chingange

 Junto ao Mondego e descendo para jusante com suas águas retidas, andando devagar devagarinho a condizer com um diazito de cadavez como Deus manda e, em consolo de boa idade, deparei com uma bizarra situação que me tem trazido encafifado dos pirolitos e, nem tenho dito isto a ninguém porque nem me iam acreditar, andamos envoltos em tantas mentiras que até ficamos encabulados para contar as sérias coisas que nos sucedem no dia-a-dia. Ali parado junto ao rio a moer o milongo da vida e remédios de chás benfazejos, transpirando brututo com graviola e ipé-roxo, deparo com um homem ou o vulto dele, andando ao redor daquele caixote em cortiça sem janelas e uma única porta vidrada chamado de pavilhão de Portugal.

  Era alguém que, muito provavelmente, andava matutando no sentido daquilo ali, como se fosse um relógio a marcar horas ou, ao encontro de uma melhor explicação pensei eu. E, já ia na terceira volta. Parava de vez em quando fazendo assim-assim com a cabeça para baixo e para cima e também para aos lados como estando altamente preocupado com aquela forma estranha de encaixotarem Portugal num isopor, coisa térmica, assim como para fazer perdurar património deteriorável. Mais de perto pude observar que o dito cujo, levava vestidas uma calças debotadas de cor indefinida num tom de uva rosé, polidas no rabo podia ver-se até um rasgão esfarelado em fiapos. Trazia um daqueles coletes que os caçadores usam, cheio de bolsos. A cor deste era de um descorado sinza com manchas que nada tinham a ver com qualquer conhecido camuflado. Este senhor com muita frequência levava as mãos aos bolsos inchados de supostas coisas valiosas, definitivamente este senhor carregava ali naqueles alforges a sua vida; talvez, algumas jóias para depositar ali no mausoléu de cortiça a representarem o equilátero das quinas ou os seus subsídios da Segurança Social.

    Eu, que também andava por ali enrijando meu doutoramento naquelas ruas muito polidas de sabedoria, pingando muxima do BI de meu corpo, resolvi seguir de longe aquele velho de cabelos grisalhos. Já na ponte de Santa Clara olhei para a cabra, empoleirada na saliente torre da universidade. Eu e a cabra da Universidade já temos uma familiaridade de tu-cá-tu-lá e em seu balir, esta garante que mandou-me um ofício de meu doutoramento mas, o certo é que o correio fez o favor de o extraviar. Sempre que a miro (a cabra) um sinal de mais se junta à minha cátedra da vida. Já muito de perto deste kota mais-velho começo a ver nela feições conhecidas. Mas não podia ser aquela pessoa em que pensava, o mesmo que escorregou numa casca de banana e ficou passado dos carretos; intrigado fui-me aproximando cada vez mais e eis que na entrada de Portugal dos pequenino, o sujeito, de um dos inchados bolsos tira um banco articulado, senta-se, e colocando seu chapéu bem á sua frente, endireita sua coluna recostando-se na frontaria.  

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  Naquele pequenino Portugal, estava longe de imaginar, … aproximando-me para lhe ofertar uma moeda de um euro, surpresa das surpresas, o fulano era tão simplesmente o nosso forreta António de Oliveira Salazar. Ambos nos olhamos enternecidos! Quase inconscientemente sentei-me a seu lado e foi quando reparei suas lágrimas deslizarem nas fracturadas e defuntadas rugas caindo em minha camisola de alva brancura. Foi o presente mais original que recebi num dia de meu aniversário, quatro de Junho. Enquanto nestes dias de futebol, minhas sobrinhas se envolvem em recortadas bandeiras verde e vermelhas com esfera armilar enroscada ao pescoço, eu visto aquela flanela manchada de choro. E é, com a pena molhada no tinteiro de Camões, que vos escrevo este mussendo candidatado a criar mofo no meu baú. A vida é assim mesmo; de nódoa a mofo, depois musgo, um dia acaba terra! Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:29
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Terça-feira, 17 de Junho de 2014
MUSSENDO . II

UM OUTRO DIA . Num imprevisto 11 de Junho, rumo a Fátima…

Por

 T´Chingange

 No sentido contrário aos ponteiros do relógio caminhei com o sol às costas pela António Jardim dos Olivais e, seguindo em frente, passei junto à Faculdade de Economia; nos troncos de frondosas tílias podiam-se ler avisos oferecendo explicações extras ou quartos para alugar a estudantes. O meu destino era a baixa antiga de Coimbra passando pelo casco antigo e, estando eu já no lugar dos arcos pude apreciar aquela velha estrutura de abastecimento de água em épocas medievais. Entro no largo recinto das faculdades, lugar de calçada portuguesa em calcário branco destacando-se ao centro a estátua em bronze de D. Diniz o fundador de uma das mais velhas universidades do mundo. Para trás ficaram as repúblicas de estudantes com os nomes patuscas do Giro-flé-flá, Rapó-tacho ou Praquistão.

 Já junto da Couraça dos Apóstolos, matuto no facto de não ter encontrado o meu penedo da saudade, procurei e não encontrei o meu burgau comemorativo das minhas bodas de ouro; possivelmente um qualquer garimpeiro roubou meus antigos e rebrilhantes louros. Reciclando-me em sapiência e cheiros de tílias, passei por quase todas as faculdades. Sempre descendo, a meio da íngreme calçada e escrito no acafelo podia ler-se em uma placa: - Movimento de Fernando Namora “…às tardes ou serões em casa do Cochofel - Nesta tertúlia se atearam muitas das labaredas da minha geração…”. Mais abaixo o movimento feminista escreveria assim - “…não posso ser a mulher da tua vida porque já sou a mulher da minha…”. Na Rua de Sobre Ribas, descendo, passei a Torre da contenda encimada com uma Cruz dos templários e a meio, não longe das escadas quebra costas, sentei-me ao lado de uma vendedeira de água fresca que descalça e em bronze, se mantinha estáticamente mouca. Já com meus gémeos a queixarem-se de tanto travar cheguei á rua Ferreira Borges após ter passado os arcos das antigas muralhas de Arco de Almedina e Porta do Barracã.

 Sentado em um banco e quase no topo da escada de S. Gregório lembrei-me de quantos vomitados em folias de estudante teriam acontecido por ali e, por isso o nome gregoriano a condizer; neste deambular de ideias tontas, diga-se em boa verdade, olhando em frente para a loja “pó de floo”, ali estava uma bicicleta prontinha para viajar; numa ideia impregnada de idiotice deu-me uma coisa e aí, rãs-tráz-páz, dei por mim pedalando dando ás de vila Diogo. Já quase no Convento de Santa Clara a caminho de Fátima via Condeixa e, solidário com os muitos peregrinos, resolvi ir com eles. Neste efémero mundo as convulsões dos rumos sucedem rápido e, à rasca na íngreme ladeira após a ponte da Rainha, associei-me de facto àqueles caminhantes de colete amarelo; foi com devoção que fiz este santo roubo! Pensava … A intenção de me santificar, sobrepôs-se a tudo; os fins justificam os meios e este, sempre era mais rápido.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:05
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Quinta-feira, 12 de Junho de 2014
MUSSENDO . I

UM DIA ESPECIAL . Um milagre no dia de Portugal, 10 de Junho…

Por

 T´Chingange

Porque não danço o Zumba, tenho de praticar outro exercício de forma a esticar a saúde adequando-a à minha idade de kota. Não precisando compreender meios sofisticados de postulados científicos do “como, do porquê e para quê”, em minha actividade de nada fazer, desci os mais de duzentos degraus até chegar à quinta de S. Jerónimo de Coimbra, percorri todas as rotundas até chegar à ponte da rainha Santa Isabel. Contornei as linhas urbanas até chegar ao início do parque verde ribeirinho do bazófias. Rodeei aquela caixa térmica feita em cortiça escurecida; sem portas nem janelas e tecto amarrotado em ondulações brancas, fiquei intrigado na tamanha sobriedade e já de frente para aquele caixote alongado e de costas para o rio dei-me conta que aquela coisa de cortiça, sem portas nem janelas era um pavilhão. O alçado frontal, todo em mármore e com uma única porta vidrada tinha em cima escrito em letras maiúsculas o nome PORTUGAL; tudo a condizer com a condição soturna da actualidade. Entre carvalhos robles, salgueiros e choupos brancos, por ali fiquei admirando a perspectiva de tal mono entre os sons alegres do grasnar de simpáticos patos; como que dando-me ânimo a admitir vibrações de sanar velhas feridas recitavam-me duvidosas vitórias sobre o pecado, a doença e a morte.

  Recitando em surdina uma Avé Maria segui em frente passando pela ponte à outra margem aonde vi bogas pretas de rio, berridando entre algas dum canal de água; este canal era fornecido por um tubo de água santa, inaproveitado como lava-pés de beatos, era em verdade uma drenagem do Convento de Santa Clara que se afundou no lodo no correr do tempo. Atravessei a ponte embandeirada de Santa Clara e já no largo António de Aguiar desci a rampa junto ao lindo edifício do Banco de Portugal; nesta parte velha da cidade dos doutores, também afundada a um nível inferior do rio, parei em uma montra mostrando duas bacias de pé, daquelas de banheiro, simetricamente coladas e recobertas com croché de várias cores e desenhos variados. Junto, uma etiqueta, tinha o nome da artista Joana de Vasconcelos. Coisa mais idiota esta de brincar com a arte já feita. Reparei mais ao lado em outra loja dois quadros com os dizeres: Quem dá aos pobres empresta a Deus! O outro dizia: quem dá, recebe em dobro! Este conjunto de visões fizeram-me matutar pelo supérfluo e inverosímil mas chegando á escadas da rua Visconde da Luz, quase em frente do café Nicola, um pedinte de perna esfacelada quase com a tíbia à mostra, com marcas de rugas fúnebres, estendeu-me a mão - Uma esmolinha! Pediu ele.

Tendo eu lido aquele dizer de quem dá recebe em dobro, taciturnei-me por instantes e, num ás botei a mão no bolso traseiro de meus calções de ganga e dei-lhe todas as moedas; somadas davam dois euros e cinquenta cêntimos. O pedinte, de contente, rogou por minha alma e recitou aquilo que me pareceu ser um Pai-nosso. Contente por minha própria boa acção, mal reparei no Convento de Santa Cruz iniciado em 1131 às ordens de D. Afonso Henriques, nosso primeiríssimo rei. Subi em direcção ao mercado e atormentado pelo cheiro inebriante de coisas boas saídas do restaurante do Jardim da Manga esperei o autocarro. Ali mesmo, tomei o autocarro nº 7 do Tovim que me lavaria até os Olivais. Lá chegado, saí junto à igreja e, encafifado na quarta dimensão cósmica subi a escadaria da igreja sentando-me bem em frente de Santo António.

  Pelo meu pensar desfilou o filme da última hora e, a uma pergunta ao santo sobre a veracidade daquele dizer de que quem dá recebe em dobro ele, o santo, piscou-me o olho sorrindo; logicamente que fiquei deslumbrado, numa quinta dimensão. Sai dali e caminhei até o meu destino na Rua António Jardim, subi ao segundo piso já transpirando de todos os poros pelos 47 degraus vencidos e, já no quarto mudei-me de roupa, sentando-me para descalçar os sapatos. Foi neste então que algo me tilintou na cachimónia da moleirinha; aquele desconforto de uma pastilha elástica, shwingame agarrada ao meu sapato desde o jardim da manga! Foi quando dispus a perna em cima da outra para desapertar os cordões que vi: cinco euros colado na shwingame da sola do sapato! Assombradamente, fiquei numa sexta dimensão. Aquilo de receber em dobro aconteceu! Era mesmo verdade! Um milagre! Só neste então entendi o sorriso matreiro com a piscadela do pícaro Santo António dos Olivais! Deus escreve a verdade por linhas tortas e, creiam… ainda ando confuzio por tal acontecido. Ele, … há coisas verdadeiras, que até parecem mentiras. Terei que declarar isto no IRS às finanças?

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:09
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QUEM SOMOS
Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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