NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA * - Na Diáspora, já quase no ano Dois Mil
Crónica 3639 – 01.11.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Recordando uma figura de destaque que se dedicou à UNITA e ao seu presidente a cem por cento, salientamos que em Setembro de1990, Carlos Morgado, médico pessoal do Dr. Savimbi, tornou a fazer parte da sua comitiva ladeado com Jeremias Chitunda, que desta vez foram recebidos em Washington por George Bush “pai”.
A 31 de Maio a 11 de Junho de 1991, Carlos Morgado faz parte da maior delegação da UNITA que visita os países europeus após o acordo de Bicesse. No VII congresso da UNITA foi indicado “Ministro dos Quadros” dum governo sombra que o “Galo Negro” ia ensaiando, para uma possível governação após as eleições.
Logo após os acordos de Bicesse juntou-se ao elenco de dirigentes que Savimbi enviou a Luanda no ano de 1991. Em Dezembro do mesmo ano animou um alargado encontro com os quadros da UNITA no cinema Kipaka em Luanda ao lado do general Eugénio Manuvakola.
Em finais de 1992 e, quando se registaram confrontos entre militares da UNITA e do governo, nas ruas de Luanda, Carlos Morgado encontrou-se com Jeremias Chitunda, Salupeto Pena e Abel Chivukuvuku a preparar a saída de Luanda. Tendo socorrido soldados das FALA ferido, ficou sem peniclina e outros fármacos, apelado ao governo angolano que “pelo menos” aos soldados feridos fosse dado atendimento no hospital militar.
Não teve tempo, de socorrer mais ninguém, porque a sua vida também estava em risco; na tentativa da fuga foi alvejado nos membros inferiores, entre o largo Serpa Pinto e o ex liceu Salvador Correia. Foi levado para o Hospital Militar e mais tarde para as instalações do Ministério da Defesa onde ficou cerca de seis meses sob custódia do exército governamental, tempo que coincide com a morte do pai em Portugal.
Entretanto, diante ao clima de desconfiança que reinava, o mesmo abandonou Luanda e foi indicado representante da UNITA em Portugal e membro da missão externa. Em seu lugar foi indicado um novo médico pessoal de Savimbi, o Dr Leon, de origem congolesa.
Mais tarde em Fevereiro de 1995, Carlos Morgado foi ao Bailundo participar no VIII Congresso da UNITA tendo tratamento VIP com direito a cadeira ao lado do Presidente e do SG do partido, denotando reiteração da confiança de Savimbi. Enquanto membro da Missão externa (ME) em Portugal passou actuar como “head center” de uma rede de inteligência, da UNITA neste espaço europeu.
Jonas Savimbi que se encontrava refugiado no Huambo mostrava-se preocupado com a situação do seu médico pessoal. A 9 de Março de 1993 fez uma mensagem “a nação” exigindo a libertação do mesmo: “Exigimos imediatamente a libertação do Dr. Morgado que, por uma questão de humanidade, seja dada liberdade ao Dr. Morgado, para abraçar a sua mãe, que perdeu o marido".
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto …
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3613 – 17.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
…«Claro - continua o general soviético - que eu compreendia o estado dos meus amigos que certamente viam em mim um homem que estava categoricamente contra a retirada de tropas. E, de súbito, fazia tudo ao contrário. Mais, até incentivava a fazer isso mais rapidamente.»
Após longa retórica, Valentin Varennikov apresenta o seu plano, que não passa de uma espécie de compromisso entre soviéticos e cubanos: «A defesa deve ser profundamente escalonada. Para que o adversário, concentrando realmente grandes forças na direcção escolhida e, desse modo, conseguindo uma superioridade três ou quatro vezes maior do que os angolanos, não rompa a unha defensiva e depois dela não haja nenhuma resistência.
Por isso é que o camarada Fidel nos diz que é preciso fazer recuar - tem-se em vista uma parte determinada das tropas - para a retaguarda até ao Caminho de Ferro de Benguela***. Consideramos que poderíamos deixar cinquenta por cento das tropas a defender as linhas que ocupam agora e a outra metade destas tropas poderíamos deslocar em pontos de apoio, nos caminhos até à linha do Caminho de Ferro de Benguela inclusive.
Além disso, na zona da frente e nos flancos deverão ser amplamente colocados obstáculos de engenharia. Por fim, ter uma reserva para manobras. E todas as forças situadas na retaguarda em posições preparadas devem ser prontas a manobrar.
Desse modo, fazendo recuar uma parte determinada de tropas para a retaguarda, até à linha onde se encontram as tropas cubanas, instalando-as em pontos de apoio e preparando-as para manobrar, teremos uma defesa activa profundamente escalonada, na linha final da qual intervirão as tropas cubanas.
Se o adversário quiser avançar, afundar-se-á nesta defesa e jamais conseguirá o seu objectivo». Os cubanos aceitaram este plano e, no fim da reunião, «o camarada Risket - escreve o general soviético - disse-me: "Eu sabia que tudo acabaria bem.
Os camaradas soviéticos sabem encontrar saída mesmo onde ela não existe".» Este plano estratégico permitiu estabilizar a situação na frente de combate, mas a guerra continuou. Para os conselheiros militares soviéticos que combatiam em Angola, o pior estava ainda para vir. «Semelhante coisa não aconteceu, nem no Afeganistão»,
O «estalinegrado angolano» - afirmam os soviéticos que já tinham passado pela guerra do Afeganistão sobre a batalha por Cuito-Cuanavale, que começou em Julho-Agosto de 1987. É agora tempo de se falar nas múltiplas tentativas de reconciliação, em uma altura em que elementos do governo de Luanda, já cansados, assumiam alguns erros de governação e, defendiam abertamente num governo de consenso nacional…
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
Nota 3: *** Caminho de Ferro de Benguela, também chamada de Caminho de Ferro Catanga-Benguela, é uma linha ferroviária que atravessa Angola de oeste a leste,...
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3607 – 02.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
O general Varennikov escreve: «A principal tarefa consistia em estudar o estado das coisas no local e elaborar, juntamente com os representantes cubanos e a direcção militar angolana, medidas para o posterior reforço da capacidade de combate das Forças Armadas da República Popular de Angola, para o aumento da eficácia das acções militares com vista à derrota das formações do grupelho contra-revolucionário da UNITA e rechaçar a agressão da República da África do Sul no sul do país.»
É importante assinalar os retratos que o general soviético faz dos dirigentes angolanos com quem contactou. O primeiro encontro realizou-se com o ministro da Defesa de Angola. «A meu ver, o encontro com o ministro da Defesa, general Pedale, foi demasiadamente oficial.
As minhas tentativas de tirar alguma afectação, frases gerais não receberam o apoio devido e a posição de Pedale provocou no general Kurotchkin (comandante da missão militar soviética entre 1982 e 1985) uma perplexidade legítima. Mas, depois, compreendemos que Pedale queria fazer figura de pessoa importante, por isso pavoneava-se um pouco. Tinha quarenta anos, era baixo e gordo.»
Valentin Varennikov encontrou-se também com o novo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos: «Já antes sabia muito sobre dos Santos. Quando jovem estudante destacava-se por capacidades invulgares, tinha um intelecto tenaz, vivo. Era bem desenvolvido fisicamente: jogou na equipa de futebol da primeira liga "Neftchi" (Azerbaijão).
Isto porque estudava na URSS. No nosso país ele casou com uma russa, que lhe deu uma filha (Isabel dos santos), e eles os três foram viver para Angola. As tempestades políticas levaram-no à liderança do MPLA - Partido do Trabalho e, ao mesmo tempo, Presidente.
Claro que ele não podia pertencer a si próprio. Ele tornou-se um dirigente popular.» - «Mas a sua vida pessoal - continua o general russo - desenvolveu-se de forma bastante dramática. Sob pressão das tradições nacionais, teve de deixar a esposa branca e a filha e formar uma nova família: a esposa do Presidente deveria ser negra***.
Dos Santos sujeitou-se aos costumes do seu povo, mas comportou-se de forma bastante nobre em relação à sua família anterior: deu-lhe uma vila, concedeu à antiga esposa uma pensão e um subsídio à filha. A filha foi autorizada a ir ter com o pai à residência em qualquer tempo livre.»
Não escaparam à atenção do general soviético as divergências existentes na direcção do Governo angolano, nomeadamente a questão da «despromoção» do general Iko Carreira de ministro da Defesa para chefe do Estado-Maior da Força Aérea de Angola: «Sendo um homem orgulhoso e extremamente ambicioso, claro que Iko Carreira ficou ofendido. Ele não expressava isso externamente, mas mantinha-se afastado e independente, como se a Força Aérea não fizesse parte das Forças Armadas de Angola.
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
Nota 3: ***Pode daqui deduzir-se o quanto tinham de racistas os governantes de então, com efectivos do MPLA. Retirar o branco de toda ou qualquer gestão militar ou civil, era mais que evidente – tudo escandalosamente silenciado pelos mídias mundiais – fruto de uma descolonização enviesadamente esquerdoida…
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3605 – 30.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)**– O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
O alferes Nikolai Pestretsov, o ex-prisioneiro, continua sua descrição:«- Mas davam a entender que se eu fizesse as declarações necessárias, não sofreria nenhuma pena.» Mais tarde veio a revelar-se que as tropas sul-africanas estavam bem informadas sobre as tropas que defendiam Ondeia e sobre os militares soviéticos que aí se encontravam.
Assim era porque o comandante angolano de uma das brigadas desertara na véspera e, transmitira todas as informações ao adversário. A detenção do alferes Pestretsov provocou tão grande incómodo na direcção soviética que foram dadas ordens .para o libertar a qualquer custo: «A Embaixada em Luanda empreendeu os passos mais decididos para libertar Pestretsov e resgatar os corpos dos cidadãos soviéticos.»
Por exemplo, Vadim Loguinov, antigo Embaixador da URSS em Angola, membro da União dos Veteranos de Angola, contou-nos que, logo após ter sido recebida a notícia de que Pestretsov foi feito prisioneiro, «pedi pessoalmente, várias vezes e de forma insistente, ao dirigente da SWAPO, Sam Nujoma, para realizar uma operação e aprisionar na Namíbia um qualquer oficial sul-africano importante, para, depois, o trocar pelo alferes soviético.
Os nossos conselheiros soviéticos que trabalham em Angola para a Direcção de Reconhecimento Central (GRU, espionagem militar) e o KGB testemunham que semelhantes operações foram planeadas e realizadas pelo comando da SWAPO com a participação activa deles. Porém, não conseguiram fazer prisioneiro nenhuma figura digna para a troca.»
O alferes e os cadáveres dos militares soviéticos mortos foram trocados por dois pilotos americanos e os cadáveres de soldados sul-africanos em 20 de Novembro de 1982. Entretanto, a situação militar em Angola continuava a deteriorar-se, nomeadamente porque as autoridades militares angolanas não conseguiam organizar forças armadas regulares.
Vassili Lavreniuk, capitão soviético que prestou assistência militar em Angola entre 1983 e 1986, descreveu assim o estado das FAPLA: «O exército de Angola apresentava um quadro bastante triste. Na sua esmagadora maioria, os soldados eram analfabetos, prestavam serviço para receber um salário e a ração alimentar. As companhias e os batalhões só podiam contar com todos os soldados quando pagavam os salários ou distribuíam produtos.»
E, continua sua narrativa: -«A propósito, pode parecer uma anedota o caso em que, no dia seguinte à distribuição das rações alimentares nas tropas governamentais, era impossível encontrar os soldados e comandantes. Quando se perguntava para onde tinham ido, recebia-se a resposta: "Hoje Savimbi paga salários e dá produtos alimentares".» O capitão Lavreniuk chama também a atenção para o facto de os especialistas soviéticos não estarem preparados para a guerra em Angola.»
Com enfase diz: -«O que mais espantava era que os nossos homens não estavam prontos para aquela guerra, conheciam mal a situação nesse país africano. Mas seria possível outra coisa se na cúpula, em Moscovo, não compreendiam o que se passava em Angola? Nós tínhamos de enfrentar um forte adversário. Basta apenas dizer que o número de soldados da UNITA era superior a 55 mil. Eles tinham à disposição 155 tanques, lança-granadas, artilharia, mísseis "Stinger".» A situação militar agravava-se rapidamente e a direcção soviética decidiu enviar uma importante delegação militar a esse país, dirigida por Valentin Varennikov.
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - OPERAÇÃO PROTEA - 1ª E 2ª BATALHA DE MAVINGA
- Crónica 3596 – 16.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Depois da descrição sucinta dos Congressos Ordinários e Extraordinários da UNITA, voltamos a rever aleatoriamente no tempo, outros eventos de destaque: No ano de 1980 a UNITA fixa-se na JAMBA do Cuando-Cubango. Em Novembro, os antagonistas, UNITA, MPLA, Cubanos e África do Sul envolvem-se na 1ª batalha de Mavinga que resultou em mais de 800 mortes.
O apoio sul-africano à UNITA viria a tornar-se mais efectivo com a invasão da província do Cunene a 23 de Agosto de 1981 na «Operação Protea», e a subsequente ocupação de uma faixa tampão na fronteira sul de Angola numa profundidade de 200 quilómetros, com o duplo objectivo de neutralizar as operações de guerrilha da Organização do Povo do Sudoeste Africano (South West Africa People’s Organization, SWAPO).
O território da Namíbia, então ocupado por protectorado pelo África do Sul, teria de, por outro lado, estabelecer um ponto de partida para novas operações no interior de Angola. O propósito imediato era a consolidação do domínio da UNITA nas províncias do Cunene e do Cuando-Cubango, na perspectiva da criação de um “bantustão” no sudeste angolano..
É nesta altura que o presidente José Eduardo dos Santos pede ao Secretário-Geral da ONU, Pérez de Cuéllar, a convocação do Conselho de Segurança da Nações Unidas – ONU, para discutir a agressão Sul-Africana. Mas a resolução da condenação foi vetada pelos Estados Unidos, de acordo com a estratégia delineada por Washington e pela África do Sul para aniquilar as FAPLA e o MPLA (o comunismo…).
A situação em todo o sul de Angola agrava-se com o aumento das hostilidades. A UNITA reforça-se militarmente em armamento e conselheiros militares e, com o apoio das administrações Reagan (EUA), Thatcher (Grâ-Bretanha) e a ajuda do seu aliado Sul-Africano que desencadeia operações militares contra as bases da SWAPO, do Congresso Nacional Africano (African National Congress, ANC).
Também contra posições das FAPLA, para além de acções de sabotagem às linhas dos Caminhos de Ferro da Benguela (CFB), com destruição de infra-estruturas políticas e económicas e minagem de linhas de abastecimento, entre as populações, aldeias, vilas e cidades do Sul de Angola.
O ano da “Operação Protea” leva ao controlo militar da UNITA com a ajuda Sul-Africana, na Província do Cunene. Estavam ali sediados 8.000 guerrilheiros da UNITA. Porem, até à chegada das forças angolanos, Mavinga recebe um reforço de 4.000 tropas da SADF (South African Defence Force), vindo a confrontar uma força de 18.000 soldados angolanos.
Na visão das FAPLA, Mavinga seria o primeiro passo no caminho para a Jamba - Cueio e, assim, penetrar na Área de Kaprivi. Ao tentar travar o seu avanço, os governamentais são surpreendidos por nova frente dando-se a 2ª Batalha de Mavinga, que provoca mais de 1.200 mortos. A UNITA sai vitoriosa e ocupa a cidade. O ataque a Mavinga foi uma derrota total para as forças angolanas, com baixas estimadas em 4.000 mortos. A manobra de contra-ataque das SADF, nomeada “Operação Modular” foi um êxito, forçando as tropas das FAPLA e das FAR a retroceder 200 quilómetros de volta a Cuito-Cuanavale numa perseguição constante através da Operação Hooper.
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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e RTP - Notícias
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O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - XIII CONGRESSOS DA UNITA
- Crónica 3595 – 13.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Este Congresso Ordinário teve lugar em Viana, Luanda de 13 à 15 de Novembro de 2019 com cinco candidatos: José Pedro Kachiungo, Raúl Manuel Danda, Adalberto Costa Júnior, Abílio Kamalata Numa e Alcides Sakala, tendo sido eleito Adalberto Costa Júnior à Presidente da UNITA.
Através da agencia Lusa a 07 de Outubro de 2021 fica a saber-se que o Tribunal Constitucional (TC) angolano anulou o XIII Congresso da UNITA, em que foi eleito Adalberto da Costa Júnior, invocando a violação constitucional, devendo o partido manter a anterior liderança de Isaías Samakuva.
O acórdão do TC, que foi publicado muam quinta-feira, dia 07 de Outubro na sua página oficial, dá razão a um grupo de militantes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que requereu a nulidade do congresso invocando várias irregularidades. Entre as alegadas irregularidades consta a dupla nacionalidade de Adalberto da Costa Júnior à data de apresentação da sua candidatura às eleições do XIII Congresso.
O acórdão é assinado por sete juízes conselheiros que não foi unânime, tendo votado vencida a juíza Josefa Neto. A juíza destaca na sua declaração de voto que o apuramento da candidatura de Adalberto da Costa Júnior, por parte do comité permanente da UNITA, "além de não materializar qualquer violação ao princípio da legalidade, encontra acolhimento pleno à luz do princípio da autonomia, corolário da liberdade de organização e funcionamento das formações políticas".
A juíza considerou ainda que a decisão sobre esta matéria configura "não apenas violação ao referido princípio de autonomia, mas também ao princípio de intervenção mínima do Tribunal Constitucional, igualmente necessário para salvaguardar a autonomia dos partidos políticos".
Mesmo antes da confirmação do TC sobre a anulação do XIII Congresso da UNITA, Adalberto Costa Júnior afirmou-se "absolutamente tranquilo", lamentando "interferências nos órgãos judiciais” questionando o "estranho silêncio" das autoridades, com a inerente morosidade. “Nós, estamos a aguardar que haja a publicação do eventual acórdão para depois podermos pronunciar-nos", afirmou Adalberto Costa Júnior, quando questionado pela agência de notícias Lusa.
O líder da União Nacional para a Independência Total de Angola considerou estar-se perante uma "circunstância muito séria em relação à credibilidade das instituições", bem como em relação à "função para a qual estas instituições existem". A UNITA, anuncia assim que o seu XIII Congresso, em que será escolhido um novo líder para o partido, será realizado até 04 de dezembro de 2021.
Adalberto Costa Júnior que foi eleito o terceiro presidente do partido, em 15 de Novembro de 2019, conquistou mais de 50% dos votos num universo de 960 eleitores e vencendo quatro candidatos: Alcides Sakala, Raul Danda (falecido este ano), Kamalata Numa e José Pedro Catchiungo. A marcação de um novo congresso que surge na sequência da anulação daquele XIII Congresso, de novo, é eleito Adalberto da Costa Júnior, entre 09 e 11 de Dezembro de 2021…
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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto, Isaías Dembo e, RTP - Notícias
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O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - DO VII ao XII CONGRESSOS DA UNITA
- Crónica 3594 – 11.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
9. VII CONGRESSO
“O Congresso da Mudança” ocorreu em Março de 1991 na base Presidente Kwame Nkrumah, no extremo oriental da Província do Cuando Cubango. O VII Congresso preparou o Partido para a batalha política que se vislumbrava com o desfecho das negociações que decorriam em Portugal. Por delegação Fernando Rocha de Olhão representou-me na qualidade de Coordenador da Zona Sul do M´Puto na Diáspora, (eu próprio – T´Chingange)…
Os delegados escolheram unanimemente o Dr. Savimbi como Candidato da UNITA às eleições presidenciais que viriam acontecer em Setembro de 1992
10.VIII CONGRESSO
Teve lugar no Bailundo, Província do Huambo de 7 à 11 de Fevereiro de 1996. A busca de unidade entre os membros do Partido com vista a implementação do Protocolo de Lusaka foi o maior objectivo.
O aquartelamento, desarmamento e desmobilização das forças e a entrega do território administrado pela UNITA à administração central do Estado, foram as decisões tomadas durante o evento, contemplando ainda a incorporação dos generais nas FAA.
Ocorreu entre os dias 20 à 27 de Agosto de 1996, no município do Bailundo – Província do Huambo. Versou fundamentalmente sobre a recusa da oferta da segunda vice-presidência ao Dr. Jonas Malheiro Savimbi que reafirmou o engajamento da UNITA na implementação do Protocolo de Lusaka.
Este Congresso Ordinário, teve lugar em Viana, Luanda, de 24 a 27 de Junho de 2003 e, depois do memorando do Luena e, que teve dois momentos marcante:
Este Congresso Ordinário, teve lugar em Viana, Luanda de 16 à 19 de Julho de 2007 tendo dois candidatos: Isaías Samakuva e Abel Chivukuvuku. Desta feita Isaías Samakuva é reeleito à Presidência da UNITA. Este Congresso debateu vários aspectos com maior realce na realização das segundas eleições em Angola, 16 anos depois das eleições de 1992, sendo estas, as primeiras eleições gerais.
Este Congresso Ordinário teve lugar em Viana, Luanda de 13 à 16 de Dezembro de 2011 com dois Candidatos; Isaías Samakuva e José Pedro Kachiungo, tendo sido reeleito Isaías Samakuva para o seu terceiro mandato.
Este Congresso Ordinário, teve lugar em Viana, Luanda de 3 à 5 de Dezembro de 2015com três candidatos: Isaías Samakuva, Lukamba e Abílio Kamalata Numa, tendo sido reeleito Isaías Samakuva para o seu quarto mandato.
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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - III e IV CONGRESSOS DA UNITA
- Crónica 3592 – 07.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
- “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
3. III CONGRESSO
Realizou-se entre 13 e 19 de Agosto de 1973, nas margens do rio Kutahõ, na Província oriental do Moxico. 221 pessoas entre membros do Bureau Político, do Comité Central e delegados de assembleias populares, presenciaram os trabalhos desse Congresso que pela primeira vez, contou com a presença de observadores estrangeiros e cinco jornalistas.
No seu discurso proferido na ocasião, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi, entre vários assuntos, falou da necessidade da unidade entre todos os movimentos de libertação nacional e da luta contra as intrigas que na sua opinião eram veiculadas pelo colonialismo e pelo imperialismo.
A auto-suficiência e progressos feitos na agricultura, na educação e na saúde mereceram realce. Nessa reunião magna, a UNITA definiu-se como movimento de massas oprimidas e decidiu realizar Congressos de quatro em quatro anos.
Savimbi com Carlos Morgado (já falecido), seu médico particular
4. IV CONGRESSO
Teve lugar de 23 a 28 de Março de 1977 na Benda, a 80 quilómetros do Huambo. Representantes da UNITA no exterior (Jorge Sangumba e Jeremias Chitunda) e a da imprensa estrangeira estiveram presentes. Falando para mais de cinco mil pessoas das quais 722 delegados, o Dr. Savimbi centrou a sua análise sobre a conjuntura politico–militar de então, resultante da invasão das forças russo–cubanas.
A transformação das forças de guerrilhas em unidades semí-regulares e regulares, o combate ao hegemonismo, tribalismo, regionalismo e ao analfabetismo, a dinamização da agricultura, do ensino livre e obrigatório para todo o povo e a criação dos serviços de justiça civil e militar.
Aquelas, foram as grandes decisões tomadas no IV Congresso que procedeu à revisão dos Documentos Orintadores adoptando-os à evolução do Movimento e à resistência nacional generalizada. Enquanto este congresso decorre na Benda, em Luanda do MPLA, o panorama é confuso.
A revista visão descreve assim: o carro da tropa passa feito carroça de cães vadios. “Documento militar!? Não tens? “Sobe” - é só, assim mesmo!… O jovem apanhado num buraco, é imediatamente incorporado no exército e enviado para a “defesa da pátria” sem se embrulhar nas despedidas com a escova de dentes.
Repentemente, o candengue camundongo, casa com a tropa sem divorcio à vista. Estás lixado meu, o Poeira (um antigo Administrador Tuga do Posto de Belas…) te leva: São as falas dum mais-velho! Na Mutamba, centro de Luanda, no meio da rua, um soldado sem uma perna, esquelético, está literado como morto, as muletas tombadas ao lado (triste e degradante tempo…)
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e de anotações de Isaías Dembo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3568 – 14.04.2024
“A 2ª MARCHA – DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Anos mais tarde, com João Miranda Khoisan e sua filha Ana Maria, em Suclabo Lodge propriedade duma madame de nome Suzi e, que mais tarde tomou o nome de Divava Okavango Lodge e Spa, cinco estrelas de “elegant style and luxury”, do outro lado do Okavango relembraríamos. Foi ali o bivaque base Ómega aonde a UNITA, na pessoa de seu presidente Jonas Savimbi, entabularam negociações com os bóhers da África do Sul.
Sabendo de antemão que neste mundo só os anjos não têm costas, ouço de novo João Miranda: - Isto é mato, amigo!; assim falou estalando a língua assolapada ao seu céu bem ao jeito dos bosquímanos. Continuando a descrição encetada no Cuelei, naquele então, fins do ano de 1976, decorridas largas horas, o coronel Philip du Preez, regressando de seu périplo vistoria às suas tropas ao longo da fronteira, desceu de seu helicóptero, entrou na tenda com seus homens, e todos eles comeram e beberam.
Comeram e beberam sem se cuidarem ou lembrarem sequer dos angolanos que os aguardavam lá fora, com uma fome negra. Assim é descrito no livro de “Vidas e mortes de Abel Chivukuvuku” por Agualusa mas, quanto a mim, acho desmedida esta inventação de narrativa. Uma grande desfeita nada peculiar conhecendo-se a estatura e, até diplomacia dos intervenientes.
A descrição do encontro surge assim com detalhes sórdidos e inusitados. Aliás, nem creio que aquele coronel bóher assim se tenha comportado por me parecer pouco natural, até bizarro. Ter este calibre de comportamento com esta gente guerrilheira, parece-me ser de um torpe e grosseiro descuido, por o serem já tão conceituados e, sobretudo tendo essa conhecida figura, como chefe da delegação - uma afirmada lenda de guerrilheiro africano chamada de Jonas Savimbi.
Pois então, seus homens tiveram de esperar ainda algum tempo fora da grande tenda, antes de finalmente, conseguirem matar a fome. Aleluia! Por fim houve tempo para discutir ao que os levava ali às terras do Fim-do-Mundo. De forma brejeira é dito que o coronel du Preez, começou por sugerir que os guerrilheiros da UNITA se juntassem ao recém formado Batalhão 32; Sabimbi, indignado, recusou…
A UNITA era um Movimento de Libertação angolano. Não o seria, nunca, assim frisou indignado o Mwata guerrilheiro Jonas Savimbi, um simples instrumento de guerra nas mãos dos bóhers. Philip du Preez, duvidou da firmeza com tenacidade dos guerrilheiros angolanos: - Vocês estão mesmos dispostos a enfrentar sozinhos os cubanos? Têm coragem para isso? Sim, temos! Assegurou com firmeza Savimbi.
E continuou falando: - Necessitamos de vocês, nesta fase periclitante, para que nos forneçam material de guerra; é só o que queremos, reafirmou. E, vocês precisam de nós para conter o avanço do comunismo junto às vossas fronteiras. O Coronel Philip, prometeu nessa mesma noite falar com os seus superiores de Pretória, despedindo-se em seguida, subindo para o helicóptero bem à justa de forma a alcançar sua base ainda de dia…
Na percepção parcial das vitais contingências, tecidas e compostas nas coincidências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinam o futuro próximo e distante. Com encontros decisivos de nula ou muita importância, um simples dia de vida com rooibos tea and rusk bread, Windhoek lager, biltong bóher e bacorinho no espeto, assado pelo Thinus de Outjo, o mais genuíno carcamano bóher da família Miranda do Mukwé, a vida acontece…
Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3566 – 07.04.2024
“A 2ª MARCHA – DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – No Cuelei, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Já em Cuelei e, após o 28 de Agosto do ano de 1976, Jonas Savimbi compreendeu que a UNITA só se conseguiria reorganizar e fortalecer, a partir do apoio do governo sul-africano, o regime bóher do apartheid que governava a Namíbia, nesse então, um protectorado saído a partir da ausência dos alemães, por sua derrota na Segunda Guerra Mundial, o chamado Sudoeste Africano.
Assim e depois de acalorados debates no bivaque provisório de Cuelei pelos dirigentes disponíveis, os mais destacados da UNITA, decidiu-se pedir apoio às autoridades sul-africanas. Numa primeira decisão, Samuel Chiwale, foi o escolhido a chefiar um pequeno grupo de guerrilheiros na missão de cruzar a fronteira da Ovoboland do Sudoeste Africano - Namíbia, na designada Faixa de Kaprivi a fim de conversar com os chefes militares bóhers.
Este projecto, rápidamente foi suplantado por outro perante a evidência de que só o próprio Jonas Savimbi conseguiria convencer os sul-africanos. Os oficiais do Movimento queriam em realidade poupar seu Mwata em mais um novo esforço, uma nova marcha de 1200 quilómetros até aos limites do território angolano, fronteira nas terras do fim do mundo. Lugares distantes entre si, algures entre a cidade do Rundu e o rio Cuando, bem no extremo Sul, o canto que liga Angola com a Zâmbia e a Faixa de Kaprivi, santuário de elefantes. Relembrar aqui a frase de “Andaram e andaram e andaram” proferida por Philip du Preez, o oficial superior sul-africano que estabeleceu o contacto com esta delegação da UNITA.
Posto isto, àquele pequeno grupo inicial de Samuel Chiwale, grupo defensor de flancos, juntava-se-lhes a Delegação constituída por Savimbi, N´zau Puna, Jaka Jamba e António Dembo. Haveria antes de demais diligências, enviar alguém com a missão de alertar a policia de fronteira da chegada desta delegação.
Para o efeito foram enviados os ainda jovens guerrilheiros saídos da Missão do Dondi, Epalanga Chivukuvuku e Vituse. Estes dois jovens, penosamente chegaram à região do Rundu através de anharas secas com milhares de espinheiras; lugares por onde a delegação de Savimbi e seus notáveis companheiros também tiveram de passar até alcançar o lugar aprazado…
Ali pararam algures num vasto capinzal, numa anhara não distante de Andara do Divundu, lugar aonde o rio Cubango passa a ter o nome de Okavango. Lugar cercano, aonde o rio atravessa a Faixa de Kaprivi, que se espraia em lagoas repletas de cacussos e hipopótamos e, cujo curso viram rápidos antes de chegar ao Botswana.
Ao entardecer surgiu um helicóptero que os acolheu no capinzal raso; meia hora depois seriam largados em um outro terreno deserto junto a uma daquelas lagoas, não muito distante daqueles rápidos do Okavango, um lugar conhecido por Mahango… Muito mais tarde, fins do século, andei por ali fardado de caçador de elefantes. A vida faz pouco das previsões e coloca palavras no lugar de silêncios.
Naquele, Epopa Falls do Okavango, sem presunção, era um desses lugares quem que o vento frio surge sem ser convidado. Ali, bem perto, ficava o Omega 3 - um antigo bivaque da UNITA. Enquanto observava os hipopótamos, pescando peixe tigre, pude ainda ver os telhados de capim preto por entre amarulas e embondeiros majestosos; lembro-me de sonhar - da muita saca-saca e mopane com pirão e jindungo, que por ali, não comi.
Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3564 – 03.04.2024
“APÓS A LONGA MARCHA ” – No Cuelei, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
O tenente general Philip du Preez, oficial sul-africano, representando seus militares, relembra anos mais tarde que, em Agosto de 1976 e, após a “Grande marcha”, estavam no Moxico, começando nesse então a cooperar com a UNITA. Era um pequeno número de pessoas e com poucas munições, mas tomando conta do grupo líder que até então estava sob o comando do major Katali. Acomodámo-los e treinámo-los", salientou o oficial sul-africano na reserva.
O tenente general Philip du Preez indicou ter estado na origem da formação de comandos africanos angolanos em Angola para combater as forças governamentais e, que começaram então a ser apoiados pelos soviéticos e cubanos, numa guerra civil que só terminaria em 2002. O mesmo oficial afirmou: Que em Angola e, "Após o final da grande guerra de TUNDAMUNJILA 1975, que se estendeu até Fevereiro de 1976, quando parou.
Os militares sul-africanos aconselharam Savimbi a não tentar avançar no terreno sem mais nem menos (para combater as forças governamentais), mas entrar sim num esquema de guerrilha. Savimbi preferiu flectir para o leste, para a província do Moxico, para descansar e preparar as suas tropas", sublinhou… E, o tenente general Philip du Preez continua: "Depois enviámos uma mensagem a Savimbi a perguntar se queria a nossa ajuda, que nós enviaríamos pessoal para o Moxico.
Parece não ter sido bem nestes moldes mas, nas descrições que se seguirão serão percebidas as narrativas; veremos isso, quando se descrever o encontro na Faixa de Kaprivi no estão Sudoeste Africano - Namíbia. Disse que sim e enviámos cerca de 100 pessoas. Consegue imaginar o mapa da Angola de então?
Do Moxico (Luena, base principal) para Catuiti (província do Cuando Cubango, próximo da Faixa de Kaprivi, na Namíbia) são cerca de cerca de 1.200 quilómetros. Andaram e andaram e andaram. Foi a verdadeira expressão … O oficial sul-africano lembrou que já não estava presente na criação do Batalhão 32 (ou Batalhão Búfalo), pois entregara a operação a um "jovem militar, muito bom", o então coronel Jay Breytenbach, militar de infantaria do exército sul-africano.
E, Continua: -"Pegou nesse grupo e foi para a guerra, não como Batalhão 32, mas como o “Grupo Bravo”, a que se juntariam, em fins de Agosto de 1976, vários outros elementos, maioritariamente da UNITA, que criaram o muito eficiente Batalhão Búfalo", explicou.
Questionado pela agência Lusa sobre as razões de o exército sul-africano ter decidido envolver-se na guerra civil em Angola, lembrou que, na altura a palavra "comunista" era "muito, muito mal vista" na África do Sul e que a presença de militares soviéticos e cubanos nas proximidades do então Sudoeste Africano não agradava a ninguém do mundo ocidental.
Philip du Preez em síntese disse: -"Trabalhámos muito com Savimbi, de 1975 até 1976 e, depois, até 1990", lembrou o oficial sul-africano, que considera o líder histórico da UNITA como um homem "muito carismático, um grande líder e adaptável". "Estive presente quando falava com os reis tradicionais locais, com os seus súbditos. Não se pode imaginar a impressão que causava. Falava sempre com uma linguagem popular e não havia nenhum chefe tradicional que se lhe opusesse. Nós, sul-africanos, gostávamos muito de Savimbi", realçou…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3563 – 28.03.2024
“A LONGA MARCHA DE SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Hodiernamente, não sei se voltarei a passar nas ruas da Luua que me viram crescer numa mulola chamada de Rio Seco da Maianga porque, também minha passada irá entristecer-se na recordação, do que foi e, já o não é. A sombra que preside aos tempos de agora (2024) e, que por dá cá aquela palha, se ateia a mente, queimando os fusíveis dos coiros, sempre lembrará o tempo em que o fui, feliz, na compreensão muda e queda, das muitas e, alheias infelicidades circunscritas.
Em 1975, embarquei para o M´Puto sem o querer, pela inquieta, medonha ou desolada guerra do tundamunjila. A terra do futuro ficou tardia, sarando-me das pústulas feitas vulcões na diáspora, comendo sandes na “Tendinha” de Lisboa do Rossio do M´puto, um panado ou posta de bacalhau regada com um penalti. Mais tarde comendo arepas com carne mechada na Venezuela, biltong na África do Sul e coxinhas de galinha no Brasil. Agora, recordo a odisseia da “Grande Marcha de Savimbi”, como uma prometida vontade a mim mesmo: sentir com a UNITA, essa nova era da mudança para Angola.
Algures na mata. «Estávamos preocupados com medo de que algum helicóptero pudesse sobrevoar-nos», disse Savimbi. «Disse-lhes que esta não era a maneira de conduzir uma guerra de guerrilha; não queremos riscos. O povo, porém, disse que não nos preocupássemos, que não fora ainda molestado naquele lugar. Numa aldeia, apenas a dois dias de caminho da base, estavam milhares de pessoas a dançar e a cantar. Disseram que nos acompanhariam até à base.
Respondi ao soba que isto não seria bom, que se a população se portasse assim, não teríamos segurança. Um dia eles seriam descobertos e atacados pelo MPLA e pelos cubanos. Afirmei ao soba que não queria o povo atrás de mim. Chamá-los-ia dentro de uma semana, para um grande comício, já na base. Falhei porém, seguiram-nos sempre, a cantar durante todo o caminho.
Desisti e afirmei, vamos correr o risco. Por isso, eles vieram connosco até o Cuelei e foi este o fim da longa marcha. A base do Cuelei ficava a cerca de 150 quilómetros para sudeste do Huambo. Estava sob o comando do major Katali, que reunira nesse acampamento cerca de oitocentos guerrilheiros e, duzentas mulheres com crianças.
A “Longa Marcha” terminou com a entrada de Savimbi no Cuelei a vinte e oito de Agosto de 1976, cerca de sete meses, com três mil quilómetros percorridos após a sua fuga do Luso, seguido por dois mil adeptos. Destes, apenas setenta e nove, incluindo 9 mulheres, estavam com ele, tendo os demais morrido, sido separados para outros locais ou, simplesmente, ficando para trás.
Foram alguns meses trágicos; porém contra todas as probabilidades e contra todas as espectativas dos estranhos, Jonas Malheiro Savimbi, sobrevivera. A guerra que muitos comentadores anunciaram ter terminado com a victória cubana, em Fevereiro de 1976, iria continuar. Seguem-se agora entre estórias recolhida do baú de lata cravadas com ripas de pau kibaba, o desenrolar da odisseia de sobrevivência de um punhado de gente resiliente com o espirito sempre presente da UNITA…
E, porque já em tempos disse de quem pensa que sabe tudo, um dia vem a saber mais um pouco, de novo o digo. E, para não ficar só no espírito, volto à carga com a estória que me liga a uma felicidade estrangulada. Foi assim que arrumando meus cacifos de memória, achei ser justo neste espírito de letras e valores, passado que é meio século após o ano de setentaecinco, retroceder aos itens de dignidade que persistem passeando um galo de cerâmica na lapela do terno diplomático…
Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3562 – 27.03.2024
“A LONGA MARCHA DE SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Pude ler recentemente - ano de 2024, que já estamos a viver no FUTURO. Que este VÍRUS MUTANTE, pode ser ALIANIGENA, um mecanismo preliminar de nosso salto genético espacial. Partir a gente feitos pedras parideiras algoritmos, que exige especial atenção para descortinar os pensamentos de querer fazer rebelião como algo inerente às "torpes" eficácias cientificas e também duma covarde gravidade vinda de GOVERNOS formatados por gente igual a nós. Não podemos condescender com aqueles que bestializam um passado que já o foi PRESENTE…
Li também que, somos um projecto de bioengenharia e, que tudo começou algures há 75 mil anos atrás, muito antes de Cristo surgir e, muito antes de quando saímos das algas como micróbios alienígenas. A cultura e o conhecimento, elevando-a de parvidades nem consentir com tolices ou pecados, por assim andarmos cativados numa burlesca depravação e, também enfrascados numas quantas hipóteses de vontade libertadora...
Posto isto, relembro o passado, continuando a descrição da saga do Mwata chamado de Jonas – “A grande Marcha de Savimbi”… Naquele dia, já em finais de Agosto de 1976, Savimbi queria dissipar qualquer ideia de que viria a ter ajuda do exterior, antes de o povo se ajudar a si próprio. Afirmou: «Teremos de lutar primeiro e, só depois, vocês verão que as pessoas do exterior quererão entrar de novo em contacto connosco».
O Presidente também afirmou que os cubanos detinham uma vantagem evidente, em termos de qualidade das suas armas e, da crueldade com que estavam habituados a actuar. E, acrescentou «Porém, estavam em total desvantagem em termos de conhecimento do território, da população e da língua».
Savimbi despediu-se do soba e dos mais-velhos duas horas antes do romper do dia vinte e quatro de Agosto. Durante algum tempo, ainda, a coluna caminhou em direcção ao Norte, através da mata que ficava paralela e à vista da estrada. Às nove horas da manhã um comboio de blindados e camiões, transportando tropas cubanas e do MPLA, começou a passar rumo ao Sul.
Ao longo da estrada e à vista dos homens de Savimbi, era perceptível ouvirem o inimigo a cantar de forma descontraída. Os guias da aldeia disseram à coluna que continuasse a avançar, assegurando a Savimbi que os seus homens não podiam ser vistos da estrada. Savimbi tencionava progredir rápidamente em direcção à zona da nova base. Ele sabia que avançava por entre uma cadeia de camponeses pró UNITA.
Savimbi afirmou-se, nessa aldeia, com um perfil bastante mais elevado do que pensava. As patrulhas de guerrilheiros oriundos da área para onde se dirigia, a cerca de 120 quilómetros para oeste da estrada principal, vinham estabelecendo contactos com a coluna e espalhando a notícia, à medida que avançavam, da sua chegada iminente. As pessoas vinham ao seu encontro, em plena luz do dia, com bandeiras, cantando e dançando.
Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3553 – 23.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Lá nas matas do Moxico a “Longa Marcha com Savimbi”, prosseguia rumo a um futuro incerto, permanentemente atentos aos ruídos de helicópteros, escolhendo os melhores rumos de fuga. Quando a coluna se aproxima das margens do rio Gunde, um afluente do grande rio Cuito, todos se sentiram mais aliviados: o MPLA e os cubanos pareciam ter-lhes perdido o rasto e, não tinham avistado aviões desde o dia de partida.
Às margens do rio Gunde, tal como a maioria das margens dos rios angolanos, eram ladeados por anharas com capim de quatro metros de altura e, nalguns locais com 500 metros de extensão. Savimbi mandou parar a coluna na mata e enviou dez guerrilheiros através das faixas da anhara e, através do rio para se assegurar, que a margem ocidental era segura.
N´Zau Puna levou também consigo cinco homens através da anhara para a margem oriental a fim de encontrar qual o melhor ponto de passagem para a coluna. Foi quando se ouviu um helicóptero que se aproximava, vindo do sul. Savimbi ordenou de imediato a todos da coluna principal, para que se espalhassem sob as árvores. O grupo de N´Zau Puna começou a recuar da margem do rio para um pequeno grupo de árvores formando como que uma pequena ilha na anhara circundante e, a cerca de duzentos metros do Gunde.
Puna e dois dos seus homens conseguiram chegar às árvores antes do helicóptero pairar por cima de suas cabeças mas, os outros três estavam ainda em campo aberto. Foram localizados e, o helicóptero começou a metralhar a baixa altitude. Os três responderam com armas de fogo ligeiras, tiro tenso e, o helicóptero rodou descontrolado, caiu e explodiu a cerca de três quilómetros mais adiante.
Da sua posição na mata, Savimbi observou o percurso da queda do aparelho. Voou para além dos três guerrilheiros que estavam parados, parecendo dali mergulhar em direcção ao solo, ergueu-se de novo para, em seguida precipitar-se em terra. Savimbi calculou que o piloto teria mantido controlo do helicóptero até aos últimos instantes: por consequência; decerto teve o tempo suficiente para transmitir para a base, seu SOS.
Teria via rádio, dado a sua posição com outros breves detalhes sobre o que tinha acontecido. Dentro de pouco tempo outros helicópteros estariam no local. «Todos estavam confusos», recordou Savimbi anos mais tarde. «cada qual davam ordens separadas». “voltem para trás”, dizia Chiwale. “Ide para norte, ao longo da margem do rio”, dizia N´Zau Puna. Eu disse que devíamos seguir em frente, nunca recuar, e ordenei a imediata travessia do rio.
Tinhamos esperado encontrar uma pequena ponte de madeira para pedestres, tipo daquelas que são construídas pelos caçadores locais. Agora não havia tempo a perder. Disse às pessoas que atravessassem em qualquer lugar. «Mergulharam nas águas até o pescoço e, minha mulher, perdeu os sapatos no rio». Tendo atravessado o Gunde, a coluna de Savimbi agora com 350 pessoas, atingiu a mata mais densa a quilómetro e meio para além da anhara. Ordenou a todos que parassem um pouco, dentro dos limites da mata.
Todos nós vivemos em um país, é um facto! É a partir da singularidade legal de uma nação, suas características peculiares e sua identidade conforme a lei que surge o conceito de soberania. Os componentes desta grande marcha buscavam isso! Sua singularidade. Ter uma nação com símbolos próprios com os órgãos instituídos que representassem a sua Nação; com dificuldade, posso imaginar um tal acto de resiliência a pensar numa soberania, visar ter uma identidade naquele espaço no meio do nada, um manto verde onde e aonde, encontrar dois habitantes, já o é: um milagre…
Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3551 – 18.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Entretanto recorda-se (Via Wikipédia): O Presidente da Guiné-Conacri, Ahmed Sékou Touré, foi quem fez a proposição de reconhecimento da RPA na reunião da Organização da Unidade Africana (OUA) de 10 de janeiro de 1976 em Adis Abeba. A 11 de Fevereiro de 1976, a OUA, então presidida pelo Presidente do Uganda Idi Amin Dada, reconheceu a RPA como legítimo governo de Angola, aceitando-o como o 47º. membro da organização.
O General Kamalata Numa da UNITA anos mais tarde em resposta a uma pergunta esclarece ter havido actuação de tropas congolesas ao lado das tropas ditas regulares do MPLA: - É verdade! À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola…
Continuando com a descrição do que foi a grande marcha de Savimbi e, ainda muito longe do seu termo, a coberto da escuridão, Savimbi dividiu em três grupos inteiramente novos, os seus próprios seguidores, os de Samalambo e os do capitão Chimbijika, que os oficiais de Savimbi descobriram ter montado uma base da UNITA com 100 guerrilheiros. Cada um dos grupos partiria durante a noite em direcções diferentes.
Esperavam iludir os pisteiros do MPLA, levando-os a acreditar de que a maior coluna, a de Samalambo, era a que protegia o líder Saviambi. Os três grupos tomaram o rumo das matas mais densas, afastados tanto quanto possível das margens dos rios, estradas e povoações. Os oficiais de Savimbi observaram que os cubanos patrulhavam regularmente ao longo do curso dos rios e das estradas, na sua busca pelos homens da UNITA. Aventuravam-se pouco nas zonas de matas que se estendiam pelas áreas rurais e, com as quais, só os guerrilheiros da UNITA estavam familiarizados.
Às primeiras horas da noite, homens e equipamentos movimentaram-se para cá e para lá, entre os três grupos, através dos muxitos das matas. Savimbi transferiu o seu rádio e operador para Samalambo, que poderia vir a precisar mais deles: ele deveria dirigir-se a uma área sob muito maior controlo por parte do inimigo e estabelecer uma base da UNITA perto do Caminho de Ferro de Benguela.
Savimbi disse aos seus guerrilheiros que dormissem, porém, passou a noite a dar instruções aos oficiais superiores das três colunas. Ele disse: «Como homens do exército, poderiam querer desesperadamente combater o inimigo. Em vez disso, porém, tinham de com firmeza e depressa actuarem, afastando-se do problema». Para conseguirem o que se propunha, teriam de conciliar a necessidade de uma rigorosa obediência por parte de seus homens, com a capacidade de lhes demonstra compreensão numa situação de desespero.
Foi bem peremptório ao dizer-lhes que existiam razões de sobra para terem esperança. O inimigo mostrava que a sua estratégia era fraca. Estavam a actuar como estranhos: Não conheciam o terreno nem tinham o apoio da população, pois, de outra forma, nessa altura já Savimbi teria sido capturado. Estava bem claro, agora, para os oficiais, que a população estava com a UNITA. E Savimbi disse-nos: «Se o povo não desiste, porque razão desistiria eu?».
Nesse mesmo ano, após um veto por parte dos Estados Unidos, a Assembleia Geral das Nações Unidas admitiria Angola como membro 146º, em 1 de dezembro de 1976. Mesmo reconhecendo a independência angolana deste 10 de Novembro de 1975, o Governo Português somente reconheceu a autoridade do MPLA, sob o comando do Presidente de Angola Agostinho Neto a 22 de dezembro de 1976.
Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3549 – 13.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
(…) Em Gago Coutinho - Algumas pessoas ficaram terrivelmente feridas nos ataques, mas, milagrosamente, ninguém morreu. Nessa noite, já tarde, a coluna de Savimbi chegou ao Sessa, um pequeno centro florestal... Aí, Savimbi continuou a mandar dispersar o povo, tal como já havia começado na manhã desse dia, ao enviar 150 soldados e três camiões, de Gago Coutinho para Sul, a fim de organizar um comando regional no Ninda.
A partir do Sessa, Savimbi enviou 1.750 soldados, afim de se prepararem para a guerra de guerrilha dali em diante, para Norte, na direcção do Caminho de Ferro de Benguela. Disse-lhes que tentassem paralisar as estradas, armando emboscadas. Acima de tudo, porém, eles tinham de mostrar à população que a UNITA era capaz de desencadear, de novo, a guerra de guerrilha.
Alguns guerrilheiros foram mandados para trás, de volta a Gago Coutinho, para mobilizar a população rural das redondezas. Um grupo de cerca de 200, sob o comando do tenente-coronel Smart Chata, foi enviado com rumo ao Sul, para o Muié, a 70 quilómetros de distância, a fim de explorar a possibilidade de instalação de uma base na região, em alternativa à que estava sob o comando de N'Zau Puna, nos arredores de Serpa Pinto.
A 15 de Março, Savimbi ordenou que os veículos fossem regados com gasolina e incendiados, ignorando os apelos de alguns guerrilheiros que sugeriam que fossem escondidos para uso futuro. Savimbi estava perfeitamente consciente de que, durante muito tempo ainda, o seu exército teria de confiar inteiramente nos próprios pés.
A mudança de posição dos guerrilheiros demorou dez dias. A 24 de Março, Savimbi estava pronto para partir e a sua coluna, que deixou o Sessa a pé, era constituída por cerca de 2.000 resistentes. Uns 600 guerrilheiros e o resto civis, incluindo mulheres e crianças, alguns pastores protestantes africanos e três padres católicos....
Os primeiros dias de marcha através de morros arborizados, aparentemente sem fim, foram extenuantes. Bem depressa alguns dos caminhantes queriam abandonar tudo e Savimbi fez-lhes uma prelecção acerca da necessidade de escolherem o essencial e conservá-lo. Cada guerrilheiro transportava, pelo menos, duas armas e as respectivas munições, bem como o equipamento pessoal e alimentos, que incluíam fuba, feijão e algumas quantidades de carne e peixe enlatados.
Depois de duas semanas de marcha, a coluna foi localizada, quando atravessava uma estrada de terra batida, por uma patrulha de quatro homens do MPLA, que logo se retirou. Savimbi sabia, agora, que teria de forçar a marcha, porque os soldados do MPLA voltariam com reforços. Primeiro, porém, permitiu que a coluna descansasse numa aldeia abandonada, onde todos comeram mandioca que ali estava armazenada.
O MPLA, porém, voltou ao fim de meia hora, com uma força de 150 homens, cortando a rectaguarda à UNITA, que teve de retirar, só voltando a reunir-se a Savimbi muitas semanas depois. No momento em que o MPLA encontrou os piquetes da UNITA, Savimbi dividiu a coluna e o MPLA foi expulso da picada, após um breve tiroteio, durante o qual ninguém ficou ferido. Savimbi sabia, agora, que teria de forçar a marcha, porque os soldados do MPLA voltariam com reforços.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3548 – 11.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Continuando a descrição de Fred Bridgland, a coluna de Savimbi parou, de noite, durante um curto espaço de tempo na pequena povoação de Lucusse, a 135 quilómetros de distância do Luso. Como a estrada para Gago Coutinho era também a estrada para a Zâmbia, Savimbi ficou preocupado com o facto de muitas pessoas poderem pensar que estava a abandonar Angola, a caminho do exílio. «A população estava em pânico».
Fiquei atónito ao verificar como o Presidente lhes conseguia transmitir a sua confiança e organizar uma evacuação calma. «Disse-lhes que não ia deixar Angola e que ia para as matas continuar a combater». Savimbi chegou a Gago Coutinho na tarde do dia 11 de Fevereiro, depois de ter atravessado cerca de doze grandes afluentes do rio Zambeze, que corria para leste. Até ser obrigado pelos cubanos a sair dali, um mês mais tarde, Savimbi utilizou o tempo que passou em Gago Coutinho para se reorganizar.
Mandou soldados voltar para trás, na direcção do Luso, para destruírem todas as pontes de estrada, mas com ordem para deixarem cada uma delas intacta até ao último instante possível, antes de os cubanos avançarem. A população local, em fuga para o Sul, tinha de ter tempo suficiente para atravessar os rios. O dia 13 de Março de 1976 marcou o décimo aniversário da fundação oficial da UNITA.
A população começou a reunir-se no campo de futebol da Escola, em Gago Coutinho, para assistir a uma parada e ouvir um discurso comemorativo proferido por Savimbi que, ao pequeno-almoço, dissera aos seus ajudantes mais antigos que a localidade seria eventualmente bombardeada e que, em consequência disso, eles deveriam preparar-se para dar inicio à evacuação.
Às 10 horas da manhã desse mesmo dia, pouco tempo depois de terem terminado as celebrações do aniversário, os caças MIG-21 atacaram. No primeiro ataque, três aviões bombardearam e metralharam a última ponte do rio que ainda estava intacta, 35 quilómetros a norte de Gago Coutinho. Alguns dos guerrilheiros que estavam de guarda à ponte sobre o rio Luanguinga foram mortos e outros ficaram feridos. O segundo ataque dos MIG foi contra o campo de aviação de Gago Coutinho.
Um pouco antes do pôr-do-sol, os dois aviões MIG sobreviventes voltaram a bombardear as casas de Gago Coutinho. Ninguém ficou ferido, mas Savimbi ordenou os preparativos para uma evacuação completa no dia seguinte, 14 de Março. Ao nascer do sol do dia 14 de Março, uma coluna da UNITA, agora formada por 4.000 guerrilheiros e civis, iniciou a caminhada, abandonando Gago Coutinho.
Embora a segurança da fronteira zambiana se situasse apenas a 70 quilómetros para leste, o povo de Savimbi tomou o rumo do oeste, em direcção ao interior de Angola. A evacuação continuou durante todo o dia: os peritos em explosivos ficaram para trás, para dinamitar alguns edifícios-chave. Savimbi levou consigo três camiões e cinco carros.
Os caças MIG desviavam agora a sua atenção, metralhando a coluna. Os condutores dos veículos mantinham as portas dos carros abertas, à medida que avançavam lentamente, e, sempre que ouviam o ruído dos aviões, levavam os carros para a sombra das matas que ladeavam a estrada. Depois de os MIG voltarem à base, os condutores voltavam à estrada, com os veículos grosseiramente camuflados com ramos de árvores, para se distanciarem suficientemente antes do próximo ataque.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXIII
”TENTATIVAS DE RECONCILIAÇÃO” – TRAGÉDIA ANUNCIADA COM CAMPANHA CONFLITUOSA…
Crónica 3197 – 27.09.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes”
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Em Março de 1992, representantes da Amnistia Internacional visitaram Angola lançando um apelo para a protecção dos direitos humanos – “Na ausência de providências imediatas para impedir novos assassinatos, verificava-se uma escalada da violência que vinha a pôr em risco os acordos de paz”. Crimes cometidos, nunca castigados, segundo pesquisa na imprensa angolana e portuguesa: Pelos governamentais, a morte de seis pessoas, numa manifestação pacífica de apoio aos separatistas de Cabinda, em 1991.
Ainda em Cabinda, no mesmo ano verifica-se a execução a tiro do diácono Arão. Também em Luanda, ocorre o assassinato do piloto governamental Sampaio Raimundo, pelo guarda-costas de um oficial da UNITA. No corrente ano de 1992, a morte de quatro oficiais da Força Aérea angolana, por membros da UNITA – dois deles, enterrados vivos, um queimado, outro espancado. Dá-se a morte de nove membros da UNITA, entre os quais o tenente José Segundo, na Província de Benguela, segundo representante da UNITA em uma comissão da CCPM - Comissão Conjunta Politico Militar. O mesmo, foi alvejado por um civil e por um outro com uniforme das FAPLA, em Junho do passado ano. Àquelas mortes, nenhuma investigação foi feita.
Dá-se o assassinato do representante da UNITA em Malange, coronel Pedro Makanga, vingado logo a seguir, com o assassinato de um tenente-coronel das FAPLA. Era esta a onda de insanidade e falta de rigor na fiscalização e ordem do território e, dizer-se por isso, estar-se a caminhar para uma tragédia anunciada, sem ter ninguém ou entidade fidedigna para superar com justiça quaisquer arbitrariedades. Na Província da Huíla dá-se assassinato de quatro turistas; este episódio transforma-se em mais um incidente político, quando Jonas Savimbi anuncia que prendera Celestino Sapalo, um agente de segurança governamental, por suspeita dos crimes. A ONU, vem a concluir que os crimes haviam sido cometidos pela tropa da UNITA; esta, concorda em permitir o interrogatório a Sapalo por uma comissão conjunta de inquérito, formada por seus representantes e do governo, mas isso nunca aconteceu.
Dá-se aqui conhecimento de várias altercações que um pouco por toda a Angola se vão verificando, para que se tenha uma ideia melhor formatada do todo o ambiente social em efervescência expectante da paz que, não chega… Em Cabo Ledo, arredores de Luanda, ocorre a morte por assassinato de uma família portuguesa. O governo apresenta um presumível autor dos crimes que anuncia ter actuado a mando da UNITA, por dinheiro e, embora tudo apontasse ser uma manobra política do MPLA, nenhuma investigação viria a ser feita. Por sete dias o Papa João Paulo II visita Angola, tendo-se despedido a 10 de Junho de 1992 do povo angolano no Aeroporto de Luanda e, tendo na primeira linha um grupo de escuteiros em fila.
O Papa João Paulo II junto de José Eduardo dos Santos, presta honras militares; arcebispos e bispos, em representação de vários países africanos; crianças com camisolas impressas com fotografia do Papa João Paulo II; O Papa João Paulo ao fazer discurso de despedida dá antecipadamente a bênção para um bom entendimento entre irmãos desavindos, o que teimará em não se verificar. As eleições gerais angolanas ocorreram nos dias 29 e 30 de Setembro de 1992 para eleger o Presidente da República e a Assembleia Nacional. Foram as primeiras eleições multipartidárias, supostamente democráticas e livres realizadas no país. Ocorreram na sequência da assinatura dos Acordos de Bicesse de 31 de maio de 1991, que pretendia pôr fim ao impasse militar com mais de dezassete anos.
O MPLA ganha as duas eleições; no entanto, os oito partidos de oposição, em particular a UNITA, rejeitaram os resultados como fraudulentos, o que se veio a verificar posteriormente segundo relatos de ocorrências, por impedimentos de fiscalização, destruição de urnas ou, por trâmites com bizarrias inconsequentes. Como resultado, a guerra civil seria retomada. Alguns milhares a dezenas de milhares de membros da UNITA ou apoiantes em todo o país seriam mortos pelas forças do MPLA em poucos dias, no que é conhecido como o MASSACRE DO DIA DAS BRUXAS, também conhecido como o Massacre de Outubro, referindo-se aos eventos que ocorreram de 30 de Outubro a 1 de Novembro de 1992 em Luanda, já como parte da Guerra Civil Angolana.
O massacre aconteceu após as primeiras eleições da história do país. O partido governante, o MPLA, reivindicou a vitória. A UNITA, questionou a equidade das eleições, apresentando provas das anomalias mas, a Comunidade Internacional e os países dos PALOPS assobiaram para o lado; era no Mundo, o início do barlavento esquerdista com a postura moderada de socialista! Podemos agora e à distância, ver a grande imagem, tomando como exemplo o ”Fórum de S. Paulo”- uma organização que reúne partidos políticos e organizações de esquerda, criada em 1990 para promover mudanças à esquerda com a capa suave de "neoliberais” como Cuba, Venezuela, Bolívia, Argentina entre outros…
Uma vez que nem o candidato do MPLA nem o candidato da UNITA obtiveram a maioria absoluta requerida nas eleições presidenciais, uma segunda volta seria necessária de acordo com a constituição mas, à medida que ambas as partes intensificaram a retórica da guerra, o MPLA ataca posições da UNITA em Luanda. Seguiram-se combates que levaram à morte de muitos membros proeminentes da UNITA como Jeremias Chitunda, Elias Salupeto Pena e Aliceres Mango Alicerces, que foram retirados do seu veículo e mortos a tiros. Milhares de eleitores da UNITA e da Frente Nacional de Libertação de Angola, FNLA, foram massacrados em todo o país pelas forças do MPLA ao longo de três dias…
Em um atentado no Huambo, é assassinado o poeta Fernando Franco Marcelino. Neste atentado é ferido com gravidade a poetiza Zaida Daskalos. O “Terra Angolana” – o jornal da UNITA, em sua edição de 31 de Outubro, atribui ao MPLA a autoria deste crime, o que é duvidoso pois que eram pessoas muito conhecidas em Angola e, desde sempre ligadas ao MPLA. Neste meio tempo é também assassinado no Huambo o médico e escritor David Bernardino, homem ligado à esquerda pelo Movimento Democrático do Huambo – um apêndice do MPLA desde o seu nascimento…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XIX
- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… Primeira e segunda batalha de MAVINGA – 1980/1981
- Crónica 3189 – 05.09.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – A independência era para isto!? - Nós e os mwangolés…
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Ainda fazendo um relato de um sobrevivente do 27 de Maio de 77 citando o livro “Angola, o 27 de Maio - Memórias de um Sobrevivente: “ No campo de concentração de Calunda o comandante (MPLA) ficava todo vaidoso, gingava, com duas pistolas à cintura. Seguia-se uma exibição da sua destreza e pontaria – primeiro contra os pássaros que passavam no ar e depois contra o prisioneiro amarrado e espancado. Atirava nos pés, nos braços, na barriga, conforme a sua disposição, até que sucumbisse. Outras vezes mandava queimar os presos com pneus ou gasolina. Os que não morreram na altura sucumbiram aos poucos com dores horríveis, aos gritos, que deixavam a todos estarrecidos. E éramos obrigados a assistir a tudo isto e depois obrigados a enterrar os mortos, assim como carregar os que haviam resistido à sessão, que ficavam a sofrer no nosso meio até que sucumbissem. Era uma grande tortura, um grande martírio”...
Saltando para o ano de 1980 – A UNITA fixa-se na JAMBA do Cuando-Cubango. Em Novembro, os antagonistas envolvem-se na 1ª batalha de Mavinga que resultou em mais de 800 mortes. O apoio sul-africano à UNITA viria a tornar-se mais efectivo com a invasão da província do Cunene, em 23 de Agosto de 1981 «Operação Protea», e a subsequente ocupação de uma faixa tampão na fronteira sul de Angola numa profundidade de 200 quilómetros, com o duplo objectivo de neutralizar as operações de guerrilha da Organização do Povo do Sudoeste Africano (South West Africa People’s Organization, SWAPO). O território da Namíbia, então ocupado por protectorado pelo África do Sul, teria de, por outro lado, estabelecer um ponto de partida para novas operações no interior de Angola.
A consolidação do domínio da UNITA nas províncias do Cunene e do Cuando-Cubango, na perspectiva da criação de um «bantustão» no sudeste angolano, era o propósito imediato. É nesta altura que o presidente José Eduardo dos Santos pede ao Secretário-Geral da ONU, Pérez de Cuéllar, a convocação do Conselho de Segurança da Nações Unidas para discutir a agressão sul-africana. Mas a resolução da condenação foi vetada pelos Estados Unidos, de acordo com a estratégia delineada por Washington e pela África do Sul para aniquilar as FAPLA e o MPLA ( O comunismo…).
A situação em todo o sul de Angola agrava-se com o aumento das hostilidades. A UNITA reforça-se militarmente em armamento e conselheiros militares e, com o apoio das administrações Reagan (EUA) e Thatcher (Grâ-Bretanha) e a ajuda do seu aliado sul-africano, desencadeia operações militares contra as bases da SWAPO, do Congresso Nacional Africano (African National Congress, ANC) e contra posições das FAPLA, para além de acções de sabotagem às linhas dos Caminhos de Ferro da Benguela (CFB), com destruição de infra-estruturas políticas e económicas e minagem de linhas de abastecimento, entre as populações de aldeias, vilas e cidades do sul de Angola.
O ano de 1981 – Ano da “Operação Protea” leva ao controlo militar da UNITA com a ajuda sul-africana, da Província do Cunene. Estavam ali sediados 8.000 guerrilheiros da UNITA, porem até a chegada das forças angolanos, Mavinga recebeu um reforço de 4.000 tropas da SADF (South African Defence Force), vindo a confrontar uma força de 18.000 soldados angolanos. Mavinga foi o primeiro passo no caminho para a Jamba-Cueio e para penetrar na Faixa de Caprivi. Ao tentar travar o seu avanço, os governamentais são surpreendidos por nova frente – 2ª Batalha de Mavinga, que provoca mais de 1.200 mortos. A UNITA sai vitoriosa e ocupa a cidade.
O ataque a Mavinga foi uma derrota total para as forças angolanas, com baixas estimadas em 4.000 mortos. A manobra de contra-ataque das SADF, nomeada “Operação Modular” foi um êxito, forçando as tropas das FAPLA e das FAR a retroceder 200 quilómetros de volta a Cuito- Cuanavale numa perseguição constante através da Operação Hooper. Em 1984, assina-se o 1º acordo Luanda/ Pretória para a retirada das tropas cubanas e constituir-se uma comissão especial, militar/mista, de verificação das operações de recuo. No entanto, por várias vezes, os sul-africanos regressam a Angola em apoio da UNITA, utilizando o “Batalhão Búbalo”, composto essencialmente pelas topas da “Revolta do Leste”, de Daniel Chipenda além de voluntários de várias nacionalidades, entre os quais muitos portugueses.
Foram necessários mais quatro anos com repetidas pressões internacionais, para se chegar à primeira reunião tripartida de Londres, na qual pertenciam Angola/Estados Unidos da América, Cuba e África do Sul. Seguem-se novos encontros, em Brazaville, Nova Iorque e, finalmente, a assinatura de Washington. Estes, garantidos pelos norte-americanos e soviéticos, tornaram possível a independência da Namíbia e a retirada de 55.000 cubanos estacionados em Angola, no prazo de 27 meses. Pretória anuncia a retirada total dos sul-africanos de Angola, mas em contrapartida, os Estados Unidos da América, levantam o embargo de nome “Emenda Clark” passando a apoiar a UNITA – Estava-se em Julho de 1985…
Com o início da estação seca, em Julho de 1987, e após um período de acumulação de material e grandes concentrações de infantaria, as forças armadas angolanas, as FAPLA, desencadearam uma ofensiva contra os centros vitais da UNITA em Mavinga e Jamba, conhecida como «Operação Saludando Octubre», a partir das vilas de Luena e do Cuito, contando com o apoio de artilharia pesada, de caças e bombardeiros soviéticos MIG-23 e SU-22, tanques T-62 e helicópteros de ataque ao solo MI-24/25. As forças governamentais, foram com tudo, contando com apoio de unidades motorizadas cubanas A «Operação Saludando Octubre», que envolveu a 16.ª, 21.ª, 47.ª, e 59.ª, Brigadas das FAPLA, tinha como objectivo a captura dos «SANTUÁRIOS DA UNITA» no sudeste de Angola.
A ofensiva das FAPLA colocou a UNITA numa posição insustentável; as bolsas de resistência criadas pela UNITA sob pressão contínua dos governamentais, tinham séries dificuldades em articular-se na perfeição. Perante a eventual derrocada das forças de Jonas Savimbi e a pedido deste, os sul-africanos, a partir das suas bases instaladas em território angolano e na Namíbia, desencadeiam as operações «Moduler8» e «Hooper», com o objectivo de parar a ofensiva angolana, lançando as suas melhores tropas e material militar de última geração, nomeadamente caças Mirage F1 AZ e aviões de ataque Impala, Lançadores Múltiplos de Foguetes (Multiple Rocket Launcher, MRL) e obuses G59…
Começa assim a maior batalha em África no pós 2ªguerra mundial. A Força Aérea Sul Africana (South African Air Force, SAAF) detendo o domínio do espaço aéreo no sul de Angola - o ponto fraco das FAPLA era precisamente a defesa antiaérea. O resultado foi a batalha de Cuito-Cuanavale, nome de uma vila situada na província de Cuando Cubango, numa zona de operações cruzada por vários rios, de terreno acidentado e lamacento, com cerca de 93.000 quilómetros quadrados. Esta campanha militar viria a determinar o futuro da África Austral. Após longos e sangrentos combates, o Estado-Maior das FAPLA e a Direcção Militar Soviética, a pretexto de melhorar o emprego das suas forças, decidiram que as quatro brigadas em operações se dividiam em duas colunas no caminho até Mavinga para, depois da travessia do rio Lomba, se reunirem. No entanto, este movimento viria a ser fatal para a ofensiva…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
MOKANDA PARA KUVALE
Refem do medo, penetra na vida um dia de cada vez - 05.09.2018
Crónica sempre actual – Inicialmente foi para o Kamundongo do Maculussu, o Cipaio Comando mas, hoje é para fecho de mala com ida para Tanzânia com Vissapa, o homem do Okavango…
Por
T´Chingange
O Camundongo Comando do Maculussu tem uma lança no estandarte da Kizomba e, assim, foi seu baptismo na cubata-restaurante do marinheiro de Albandeira, mesmo sem lhe ver os cascos, os dentes, as unhas e as orelhas. Ficamos sem saber se as bitacaias o tratam por tu. Ele vive ainda no Ontem com o hoje cohabitando com os Mucubais; um sonho perene cheio de cacimbo pelas manhãs e aquela tremulina nas quenturas ondulando miragens das anharas, pasto de facocheros, mabecos e bandos de galinhas do mato arramhando seu disco partido – estou fraca, estou fraca, estou fraca! Kafundanga Neves é seu nome de branca alvura.
Refém do medo, penetra na vida um dia de cada vez, penosamente candongando chinguiços como num conto insuficiente; como se tratasse de uma vida que já só serve para ser contada, queima lenha para vender carvão na cidade; não é verdade mas, faz-de-conta! Eles que sempre pastaram gado, agora, as cercas de arame farpado levantadas pelos generais mwangolés, barram-lhe a passagem!
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A democracia perdeu-se no labirinto das manipulações e interesses, não diferindo em nada das piores regras do colonialismo ai iú éé! É pior!... A nomenclatura da Luua (Luanda) distribui entre si o espólio espalhando condomínios pelo mato, uma t´ximpaca com água e uns quantos animais mostrando sua durabilidade na debilidade. Assim na banga, o general XIS, baloiça seu chinchorro, rede dos Andes, fazendo bafunfa a seu
Vai um whisky, vai um conhaque, vai um gim? Pode ouvir-se estas conversas dos curibotas cazucutas a gozar férias e gastar seu cumbú governamental… No meio de uma grande ilusão, possibilitou-se a vida numa sobrevivência corruptada na obtenção de dinheiro num qualquer preço, mesmo que tapando o acesso dos bois à água que sempre foi do povo. São os DDT – Os Donos Disto Tudo…
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Acabaram com as leis restritivas do tempo do xi-colono mwene M´Puto e, agora constroem cercas só à toa e, pois não há mais t´ximpaca nem mulola nem tanque para lavar o gado, nem os pesticidas com cheiro a medicamento defuntado. Está mal, patrão!? Num está! Eu não sou teu patrão; para quê me estás a queixar?! Nas antigas leis do colono gweta do M´Puto não era assim mesmo, repete o cipaio comando kamundongo Branco das Neves.
Ainda andam de tanga, dizem estes promovidos generais saídos duma guerra de kwata-kwata entre irmãos! Claro que são pretos! Mas... Afinal patrão, quando acaba mesmo a independência? Pópilas, primeiro que nem sou teu patrão e segundamente eu não sou teu soba nem talqualmente nem nos entretantos. Angola é livre, tu és livre, já te falei. Pois! Levou a mão à cabeça e olhando-me no presente do indicativo falou: Isso é uma coisa muito perigosa! Verdade mesmo que não era assim, juro! Não digo mais nada; vou fazer mais o quê!?
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As Organizações e uma grande parte dos mwangolés, não entendem porquê aqueles pastores andam quase sem roupa – incivilizados, dizem; desconhecem que quando o sol cai de cima e o calor sai do chão, este, é o próprio modo de estar do pastor Kuvale. Tratar astutos guerreiros, altivos homens como se fossem indigentes pelo facto de aparecerem vestidos com um pano á frente e outro atrás, é desprezar outros valores. Xiií, o próprio irmão, escuro mesmo!
Kuvale!... Kuvale, governador de vastas áreas e muitos bois, controlador da aridez das terras que circundam o Bero, Geral, Kuroka e também o Iona aquém do Cunene. De mulola em mulola, de t´ximpaca em t´ximpaca, só estes sabem abeberar o gado, ajustando-se no tempo transumando na altura certa. Só eles sabem alimentar e manter acesa a fogueira naquelas noites frias, sangrar os bois na veia certa.
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Alterar isto com argumentações técnicas ou científicas, é promover a inviabilidade de sociedades antigas. Mudar tudo isto, é torná-los dependentes, proletarizá-los na miséria envoltos em arame farpado. Ali no Karacul, ideólogos, políticos e agentes humanitários de forma aberrante distribuem caridade em nome da civilização. Que é que os levará a advogar que esta gente é pobre e vagabunda nesta forma de estar!
Não é por usarem tanga que são pobres. Ter ar, sal, leite, água, é tudo do que necessitam. Dormir sobre uma pele de boi, habitar em casas de barro e bosta, usar sandálias de tiras de couro, ter um pau especialmente curvo para assentar com dignidade sua cabeça e alimentar-se de malulu (leite azedo), isto é ser Mucubal e assim vai ter de continuar. Os seus actos heróicos de adquirir gado, sempre foram designados como roubo; mesmo no tempo dos Tugas; mas estes faziam respeitar sua natureza própria e agreste. África é isto!
Glossário: Mokanda:- Carta; Kuvale/ Mucubal:- Zona sul de Angola, a norte do rio Cunene; Bero, Giraul, Kuroka:- Rios de Angola; Mulola:- cheia ocasional na linha de água; t´ximpaca: Cacimba de águas de chuva, poça ou charco; Chinguiço:- Pau seco e retorcido, problemas;
O Soba T´chingange
TEMPO COM FRINCHAS - O amanhã, não pertence a ninguém!... Relembrar o Luena (Kangamba) - antiga Vila Luso… 3ª de 11 partes
MALAMBA: É a palavra - O OUVIDOR DO KIMBO
As escolhas de Kimbo Lagoa
Publicada por
H. Nascimento Rodrigues - Licenciado em Direito, Jurista eminente e homem público que se destacou, em todas s funções que exerceu, pela sua elevada estatura moral, pela dedicação à causa pública e pelos relevantes serviços que prestou ao País - Nasceu no Luena (Kangamba), antiga Vila Luso em Angola…Faleceu no ano de 2010
Mas eu gostava de ouvir a chuva pausada a zurzir naquele tecto de zinco, pois me embalava em sonhos que sonhava acordado. É que em África, para se sonhar, é acordado que se deve faze-lo. Lembro-me também de que à ilharga da casa ficava uma enorme capoeira, cuidadosamente amuralhada com estacas altas e de pontas bicudas por causa das hienas que, à noite, vinham rondar. Capoeira é uma forma de dizer, porque aquilo era mais parecido com um pequeno jardim zoológico aonde coabitavam patos e galinhas, porcos, coelhos e cabritos, também um par de faisões selvagens, e se plantava, no meio, uma gaiola descomunal com pombos, rolas e pássaros de todas as cores e de todos os tamanhos, que eu ficava a mirar, encantado, horas perdidas.
Mas, na prática, a capoeira não passava de uma reserva para nos alimentar em permanência, um seguro de sobrevivência, pois naqueles recuados tempos não vinha de Luanda senão carne enlatada, quando vinha, e o peixe que se comia era o que se pescava nos rios, felizmente numerosos, que irrigavam os Luchazes: o Ricunda, o Chicalala, o Chilôlo e os outros afluentes do Cubangui; e o grande Cuando, mais além. Peixe de águas doces, portanto.
Só hoje consigo imaginar um pouco o que seria a vida de trabalheira de uma dona de casa, como minha Mãe, para alimentar a família em tempos como aqueles, em que praticamente nada vinha de fora, luz eléctrica não existia, por isso geleira também não, nem sei se haveria farinha para o pão ou se este seria de milho, como julgo mais provável. Mas estes não eram os efeitos da guerra, era o dia-a-dia normal. A guerra mundial era lá muito, muito longe, e claro que eu nem sabia que era a guerra a obrigar o meu Pai, à noite, depois do jantar, a agachar-se junto ao rádio de madeira e altifalante de pano rodado ao centro para tentar captar uns misteriosos ruídos de vozes esganiçadas. Era a Rádio Oficial de Angola ou, então, a BBC.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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