NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - ONGWEVA É SAUDADE EM DIALETO AMBUNDO
- Crónica 3590 – 29.06.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata” em interlúdio
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Assim só mesmo sou uma árvore cheia de música que caminha e assobia todos os pássaros de sua folhagem – Assim, assobiando aos passarinhos vi fora da vigia, janela do Boing A.340 fazendo raviangas ao redor das luzes da grande Luua, um cavalo branco no alvorecer dum dia coberto de nuvens brancas. Será? Foi? Disse assim, só no pensamento.
… Em saber explicar como é o cheiro do peixe podre, da fuba azeda e até azeite de palma feito por um branco cangundo, mesmomesmo de ordinário sem educação. Assim muxoxando feito mabuba, com o indutor a queimar o induzido, afagando minha onça faço um interlúdio, ilibambo minhas jimbumbas de guerra pra libertar meu ilundo com musica de marimbas. Como é então? Pergunto-me!
N´Gola aiueé… A lei da gasosa, sim! Obrigado/a no retirar migalhas ao salário sem sempre conseguir garantir as vitais necessidades – um fenómeno unipartidário de quasequase cinquenta anos. Dos ganhos, sessenta por cento, vão direitinhos para pagar a máquina estatal que se subsidia, fundações, observatórios, kazucuteiros e tantos outros afins de e, a bem da nação, N´Gola da lusofonia… Balelas dos PALOPS! Uma guerra de impostos taxas e sobretaxas; incestuosas atribuições suportadas por sapatos JL caros, feitos de pele de jacaré do Lifune…
Hoje, muita gente desentendida a propósito, por cagufa ou prosápia, pergunta a este e aquele, porque estão saindo agora de Angola, do porquê, gente identificada com sua terra. Se a amam ou nela mamaram, porque fugiram? Do porquê de abandonarem a terra que tanto dizem querer? E, talvez com a leitura dum funil de lembranças, possamos reflectir das impossibilidades de ali permanecer,
As luzes do jeep viam-se ao longe e, o ruido rouco do motor com altos e baixos invadia a quieta mata do Kaprivi; Caputo, o marido umbigado com minha empregada Mary de Kampala, chegou chegando, batendo com o chapéu no joelho levantando o pó da picada. Com um gesto rasgado de amizade saudou-me enquanto lançava ordens ao cozinheiro para retirar as bikwátas trazidas de Catima Mulilo. Cheiravam a bosta de jamba (merda mesmo, de elefante)…
Lembrar-me hoje daquele Agosto de SETENTAECINCO. No aeroporto da Portela, recente Humberto Delgado, as senhoras prestimosas das Caritas e Cruz Vermelha (não todas, felizmente), iam despejando desaforos como muxoxos soprados subtilmente ou não: “Só nos faltavam estes ranhosos”. Eramos nós, dismilinguidos da vida, roubados e vilipendiados …
Eramos nós, sim! Retornados, Refugiados, Recambiados, assim mesmo murchinhos da silva, despidos de preceitos, ouvindo calados o desaforo de irmãos, de patrícios, de gente com nosso sangue! Gente do M´Puto - Isso doeu muito! Só não se lembra disto quem não quer lembrar! Num repente passamos a ser uns SEM-TUDO, uns sem-terra ou sem-nada, manobrados daqui práli até se partir a canga, cangados sem relinchar (tratados como cavalgaduras…)
E, Portugal, o tal de M´Puto, acabaria por dar guarida a carrascos e fujões do MPLA, (desculpem-me a expressão) que de forma enrolada, misturada, se foi acomodando aqui e ali, salvando os hotéis e concebendo arranjinhos de safadeza, explorando os refugiados, ditos retornados – esquerdoidos a querer mudar-nos através dum tal de PREC, Reformas Agrária de destelhar montes alentejanos e fazer comezainas com os bois do dono exilado no Brasil, ou no escambau (que nem sei aonde fica – coisas dum outro mundo…). Seguidamente e, antes da Grande Batalha do Cuíto, vai recordar-se os Congressos da Unita…
:::::
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e comunicados da Jamba - Agência Kwacha UNITA Press (KUP)
Ilustrações aleatórias de Costa Araújo
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3529 – 16.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Os meios aéreos para fazer chegar a Luanda os refugiados do Lobito, Benguela e Moçâmedes, sendo insuficientes, o Comando Naval arranjou meios marítimos para fazer chegar a Luanda os cerca de 250 mil cidadãos brancos (maioritariamente) mas, tendo também milhares de mestiços e negros; enfim! Seguiam todos aqueles que o desejassem!
Na vinda ou ida dos refugiados de um para outro lado (como kissondes) mas e, principalmente para os lugares de embarque da Luua, praticamente não havia triagem; o controlo era precário. Nunca pude entender esta falta de cuidado na logística das coisas. Não havia tempo para decidir de quem estava ou não nas condições de perseguido, refugiado ou o que quer que fosse.
Não importava ser-se quem era e de onde vinha ou do porquê de estar ali. Era tudo ao monte e fé em Deus num sofrível seja o que Deus quiser, aos magotes com o natural berreiro e choros de adultos e crianças, ordens e contra ordens desencontradas ou nem tanto. Cães, gatos e outros animais de estimação foram largados ao descaso como heresia apócrifa!
Era mesmo um Adeus dado aos trambolhões às coisas, à casa, ao carro chevrolette, ao motor da GMC a fazer de gerador, dos gansos guardadores, mais o pavão e as galinhas fracas debicando miudesas debaixo do DKV. Ele, Deus, era só uma questão de fé interior, a vontade de querer e acreditar, mas Ele não surgiu a muitos; a lei da vida e da morte era um traço disforme, desfeito em cotão a confirmar que só somos enquanto somos, uma ilusão!
Desde sempre e, que me lembre de ser gente, observei que as leis foram inventadas pelos fortes para dominarem os fracos que são muitos mais; mas aqui não havia fracos ou fortes, só deprimidos… Num repentemente viramos escarro, nada ou ninguém - triste; cada qual cuspia para onde quer que fosse que nem monandengues. E entre estes, até surgiam rufias catadores de desaconchegos, gente do MPLA usando prepotência.
Aqueles rufias, para além dos cigarros, exigiam com um extremo desprezo tudo o que lhes aprouvesse, pedindo relógios ou valores para se ficar sem dissabores nesta hora de partir; uma forma de pressionar o medo ou resquícios de ódios. Havia uma restea de ordem por alguns militares de Nossas Tropas mais conscientes! Valha-nos isso porque nem todos viam este desmando na forma do PREC, dos guedelhudos do M´Puto às ordens do diabo.
As leis, as atitudes, o MFA, nossos patrícios do M´Puto, os generais de aviário, mesmo que absurdas, já nos parecia tornarem o impossível em admissível e hoje, que penso muito e rezo pouco, recordo isto, procedimentos sem que ninguém averiguasse as diferenças aturdidos por pudor. Pudor, palavra complicada de entender - qual pudor qual quê!? Era um acaso feito lei, ali…
E, a frio, ora marcial ora uma prepotente aberração feita de coisa feito gente, drogados no cérebro, nas kinambas ou nos calcanhares. Nesse então, nós gente desavinda, podíamos ver já a força da crise com roubos subtraídos pela lei dos homens, pelas nossos guardiões militares com seus amigos, nossos algozes – o MPLA, sem lei - nem velha nem nova ou tampouco ordinária ou arbitrária, nenhuma! Um salve-se quem puder! Mas, ainda há quem use paninhos de flanela para amenizar o inadmissivel…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
Luanda - Em fins de Julho de 1975, praticamente, já não havia médicos em Luanda, eram escassos ou desactivados. Alguns géneros de primeira necessidade, já escasseavam nos mercados . Os assaltos a armazéns eram constantes e as cadeias de abastecimento não funcionavam – Era a candonga a funcionar. As filas nas padarias começavam a ser formadas a partir da uma da manha com sapatos, tijolos e marcas indicadoras de tal e tal pessoa.
Num repente, rebentava aqui e ali no meio dos bairros citadinos granadas de morteiro. Via-se o levantar de pó, terra e trastes, sei lá mais o quê!? Um aiué; salve-nos Nossa Senhora da Muxima que os homens andam loucos, embalando corotos e bikwatas, fazendo caixotes, fazendo de carregadores, fazendo a estiva no porto de luanda e candongando; parecia que já poucos trabalhavam no que quer que fosse…
E, quanto aos novos supostos dirigentes, tínhamos muitos receios. Dos três líderes nacionalistas, era Savimbi o mais inteligente, o mais hábil, mais cordato e o mais forte politicamente para uns - também o mais contestado pelos equerdoidos; também o mais conotado com os militares portugueses no antes da Abrilada. O Agostinho Neto, cunhado do Rosa Coutinho era um desclassificado poeta, escolhido por esquerdistas militares, pelo Partico Comunista e uns quantos admiradores de Marx e um tal de Lenine. Supostos ideólogos afetos à URSS, politólogos da metuta refastelados no M´Puto ou Paris, que o escolhiam para ser o chefe da nação.
Quanto a Holdem Roberto não tinha solida formação política, era um fraco e facilmente corrompido; dependia de Mobutu, um seu familiar, e dos americanos de uma forma sorrateira mas sobejamente conhecida e, rastejante - matreiro! Nos muitos dias insólitos daqueles tempos, na meditação actual, encontro factos mágicos na revisão de amigos que me fazem medir o tempo com quartilhos e rasas como se feijões o fossem.
A UNITA retira-se de Luanda para o Huambo, antiga Nova lisboa. O MPLA fica dono e senhor da capital, a Luua. Em Outubro de 1975, desembarcam supostamente os primeiros cubanos que passam apoiar o MPLA contra a FNLA tal como o combinado entre Fidel de Castro e Otelo Saraiva de Carvalho, o pseudo-herói do VINTICINCO de Abril, data conhecida como sendo a rebelião dos capitães…
O mito do Orçamento
- As teorias da VITIMOLOGIA, DA MENTIRA E DA RECIPROCIDADE, sempre formulam um discurso sem substância…
Crónica 3498 – 06.10.2023
Por: T'Chingange (Otchingandji) na Lagoa do M´Puto
No Mundo, tudo está ficando muito igual no trato da mentira e, em uma qualquer vez, numa nova vez, sempre se lhe juntarão formas diversificadas nos diferenciados edecéteras. Num repente estratégico ela, a mentira passa a ser um mito enfiado na logística como se o fosse um tema de crédito saldado duma banal excentricidade.
Tal como as contas certas, a mentira na sua voracidade, encaixa sem esforço num novo orçamento, assim haja taxas suficientes – simples! Amarfanhados, os mitos sempre ficarão na mesma sacola do pão que sem o fermento certo e ajustado, se tornará pedra ao segundo ou terceiro dia. Pouco a pouco nos habituaremos à mentira tal como ao pão rijo do qual sempre se poderá fazer umas sopas de leite ou uma açorda.
Aqui no M´Puto, pela sobrevivência, até nos mitos somos verdadeiramente pobres. E o mito “socialista” ficará no saco misturado com as côdeas de ambição que ao jeito de partido-estado nos forçam na falsa suavidade feita lei. Os PALOP`s estão também cheios destes mitos: em Angola tomam o nome de “gasosa”, no Brasil o mito dos “sesta básica” e aqui “salário miserabilista”.
Em psicologia social, reciprocidade refere-se a responder uma acção positiva com outra acção positiva, e responder uma acção negativa com outra negativa. Acções recíprocas positivas diferenciam-se de acções altruístas visto que ocorrem somente como decorrência de outras acções positivas e diferenciam-se de uma dádiva social.
A sociedade torna-se assim em uma bolha vitimista, que a ser retratada fica sujeita a um PRR - O tão propalado Plano de Recuperação e Resiliência, um programa de aplicação nacional, com um período de execução até 2026 e que visará implementar um conjunto de reformas e investimentos destinados a repor o crescimento económico sustentado! Assim o dizem.
O objectivo de convergência do M´Puto com a restante Europa, ao longo da próxima década, permanentemente revogados, tornar-se-ão nesse mistério de queixa das gentes que convém desmistificar para bem da sociedade. O valor de ordens que sustentam a sociedade, é uma realidade objectiva criada pelas leis da natureza em que na igualdade das pessoas, sempre aparecerão algumas mais iguais. Tenho a certeza!
O factor pobre e rico, não tem de ser aqui evidenciados porque assim o dizem: O povo é um todo. Há sim outros indicadores que recaem sobre os líderes que concederão a seu belo prazer a esperança ou expectativa de sempre, darem respostas positivas futuras a seus pares, compadres e a costumeira corrupção, já tão vivenciada na partidocracia ou psocracia…
Lembrarei aqui os dizeres de um amigo chamado de José Canhoto: “Uma traça invisível corrói a minha mente fazendo-me perguntas às quais não sei responder porque para as respostas às verdades com as quais sou questionado não as tenho, e as poucas que conheço são relativas. O paraíso celestial não existe é uma ilusão, e quando alguém o atinge é sempre na terra e por breves momentos, e não depois de morto”. Mais diz:” Há alturas em que não me importo que me roubem o mundo desde que me deixem saborear a viver o momento”.,,
O Soba T´Chingange
CASSOALÁLA - ANGOLA. Outros tempos
Crónica 3438 – 17.07.2023 - TEMPOS DA DIPANDA*
- Estávamos em Junho de 1975; tinha 30 anos de idade…
Por T´Chingange – Em Cantanhede do M´Puto
Cheguei ao M´Puto ainda a tempo de diligenciar junto ao hospital de Torres Novas a fim de tirar a dita cuja bala ao meu pai, num tempo que só o foi no posterior e no ano de 1997; o meu pai, “o Cabeças” tinha sido bem apetrechado de porrada no após rapto junto ao largo da Maianga, junto aos Correios pelos homens do Nito Alves, foi o que disseram e, parece mesmo ter sido combinação para mandar o velho kota branco meu pai, para a sua terrinha.
Mesmo passado algum tempo “o Cabeças” parecia o mapa-mundo em manchas de sangue pisado, havia pouco espaço por cobrir; deram-lhe um tiro no escuro, algures num sítio quase fatal e, desandaram deixando-o espernear por detrás do então aeroporto Craveiro Lopes ou de Belas e, como quase morto, assim ficou contornado de capim; arrastou-se toda a noite até que, numa picada e já de dia, uma patrulha mais governamental emepelista o levou para o hospital Maria das Pias.
Um hospital abarrotado de gente esperando tratamento em todos os espaços. Dizem as crónicas que morreram nesse então mais de 30 mil angolanos que, decerto, não seriam todos fraccionistas. O kota meu pai, pela descrição posterior teve por demasiada sorte em sobreviver no meio de tantos moribundos; obrigado doutor Boavida do Banco de Angola! Se não fosse o senhor metê-lo no avião ainda hoje estaria imaginando o seu estatuto vivente, envolto numa teia de dúvida entre os muitos abatidos no 27 de Maio de 977.
Esta estória sem direito a “h” foi uma verdade a setenta e cinco por cento, com os restantes vinte e cinco, de inventação para suavizar o quase impossível ou inacreditável mas, eu continuei sendo o mano da UNITA do Kalakata da Caála; desconvocado da guerra, acantonei-me voluntariamente nos mugimbos do degredo da diáspora. Agora posso recordar de quando candengue, ouvir várias histórias passadas nessa terra inóspita, exigente nas suas relações, terrivelmente perigosa, mas simultaneamente atraente e amada.
Lembrar os comerciantes do mato, que viviam absolutamente isolados, originando a criação de alguns Postos Administrativos criados para disciplinar a soberania colonial. Que no tempo, foram surgindo estradas na forma de picadas que, pouco a pouco apareceram as carreiras mistas de passageiros e de carga depois do desenvolvimento de carros Ford, Chevrolet, Dodge e outras mais, como o Nash. Timidamente, a partir de 1920, o M´Puto já sem o Brasil independente já há 98 anos, viraram-se para ali - Angola, terra de onde nunca saímos em lembrança.
Havia as ligações com o interior a partir da costa mas, de ínfima ocupação humana a partir de Sá da Bandeira, Ambriz, Luanda Novo Redondo ou Moçâmedes. Era um problema chegar ao Huambo, atravessar o rio kwanza e de Benguela ao Humbe indo de carroça bóher, lá para as terras do fim do mundo numa eternidade. Só havia transportes lá de longe-em-longe para entrega de produtos, os necessários ao comércio tais com como enxadas, picaretas e ferramentas forjadas em Luanda ou na Metrópole chamada de M´Puto.
Mas, havia aventureiros funantes que se arriscavam a montar um boteco lá no cú de judas, levando sementes para suas lojas originando lavras; introduziram o milho e, com sementes de mandioca levadas do brasil começaram a fazer farinha de funje; levaram laranjas do oriente, abacates da índia introduzindo assim disciplina no uso e amanho da terra. Foram surgindo núcleos de gentios que permutando coisas com os funantes fubeiros mestiços ou brancos melhoravam sua maneira de vida. Ambos prosperaram trocando cornos de elefantes e mel com cachaça ou vinho do M´puto, viveres novos como o arroz a massa e a batata trazida do Peru.
O negócio com o nativo era tão intenso que, essa rude gente rápidamente aprendia por necessidade seus dialectos. Mais tarde formaram Postos Administrativos, e com seus cipaios coordenavam as várias actividades; iniciou-se a cobrança de impostos de cubata e. outros que foram surgindo com o lento progresso. As administrações sem sobrecarregar a autoridade do reino do M´Puto geriam os lugares, os kimbos, as insipientes infraestruturas das povoações. Abriram Delegacias de saúde, centros de sanidade animal e novas linhas férreas.
Glossário
Bandalheiros – sem ordem; Imbambas – coisas, bikuatas; maka – rixa, briga, barulho, confusão; emepelá – movimento popular de Angola; banguista - vaidoso, com estilo; camundongo - rato, natural de Luanda ou arredores; fubeiro – negociante de fuba, tasqueiro de mato em Angola; Pópilas – expressão de admiração; flor-de-congo – eczema na zona das virilhas, parecido com psoríase; esquindivado – escondido de forma fintada; caxinde – erva-do-chá príncipe (Angola); mugimbos – diz-que-diz, boatos, mexericos, conversa por conversar; NT – Nossas Tropas – Militares portugueses; kamba – amigo, conhecido de infância; Catetense – natural de Catete; cazucuta – que vive de expedientes, bandalheiro, dado a embustes; mabanga – bivalve; funje – farinha de mandioca; marufo – vinho, seiva de palmeira fermentada; bazar – dar o fora, fugir; haca! – Exclamação por admiração, espanto em Umbundo (generalizado por toda a Angola); T’ximbicando – acto de navegar com pau longo ou bordão, em zig-zag; candengue – criança, jovem; Porrada – pancada;
O Soba T´Chingange
CASSOALÁLA - ANGOLA. Outros tempos
Crónica 3437 – 16.07.2023 - TEMPOS DA DIPANDA*
- Estávamos em Junho de 1975; tinha 30 anos de idade…
Por T´Chingange – Otchingandji … Em Arazede do M´Puto
Eu só abanava a cabeça sem entrar no demasiado do desconhecido novo camarada e edecéteras complicativos; já tudo passou mesmo, disse eu, querendo dar solução ao meu conflito. Aquela noite comemos funje com peixe do rio, frito, bebemos umas cucas e um amigo do meu kamba, gentilizou-me um pouco de marufo ainda doce, que me satisfez do coração aos calcanhares.
Rejuvenesci! Amanhã, disse Zacarias meu kamba perna de pau, vais com o kota Alcides até Luanda, ele te desenrasca, te leva na Maianga e te deixa lá mesmo na Samba do rio Seco junto daquela cacimba do rei – tranquilo mano, muxoxei um sim! Os sonhos, naquela noite, foram por demais turbulentos no recordar dos últimos dias e, assim balouçados numa rede feita de mateba entrelaçada num desenrasca de guerrilheiro e, presa a duas árvores bem farfalhudas de verde, goteando cacimbo em cima de mim, todo o tempo – a humidade colava-se ao corpo pegajoso…
Os guerrilheiros de tuji, pseudo soldados do emepelá a fingir de governamentais, com camuflados oferecidos pelos Tugas, (meus patrícios), mais G3, granadas defensivas de estourar ouvidos e outras ofensivas de matar mesmo, lança roquetes de destroçar valentias, interditaram a passagem entre Zenza do Itombe e Malange, ninguém podia passar sem uma revista bem revirada, pisoteada de quebraduras; gente do sul fugia para norte e vice-versa…
Alguns morriam no vice, outros na versa, outros nem sabiam se iam, se vinham e dispersavam defuntados num espaço de céu louco num inferno de ódios fabricados a álcool barato e cigarros mata-ratos que, por vezes salvavam. Por vezes um cigarro valia uma vida com desaforo muxoxado – safaste-te meu! … Parece mentira mas, é a pura verdade.
Muitos como eu, fugiram para a mata sem vice nem versa, só confusão mesmo, maka à toa, muito tiro e barulho de afugentar. O senhor Alcides foi-me dando indicações muito negras da situação em Luanda, dizia-se que havia cinturas de protecção à Luua e que as pessoas levavam o tempo todo em filas para arranjar o que comer; o melhor para o meu caso era bazar para o M´Puto e esperar que tudo voltasse na normalidade! A normalidade nunca veio, quersedizer, nunca chegou – fugiu também, só pode…
Era mesmo melhor nem pensar muito profundamente! A minha vida estava em risco, meu pai já tinha sido recambiado para o M´Puto por ordem do doutor Boavida, do tiro que tinha levado na perna, os cubanos do hospital Maria Pia desconseguiram livrar-se da bala junto à rótula do joelho e, corria o risco de gangrenar. A mãe Arminda lá na Maianga era uma barata tonta a tentar reunir coragem dos filhos.
Isto é mentira sonhada só num tempo que ainda não o era, mas veio a ser verdade sim senhor! Veio a acontecer de verdade mesmo, no 27 de Maio do 77 com a mãe Arminda já no M´puto! - Pronto, vou-me embora, acabou-se! África é dos Van Dunem, Mingas ou Punas e da puta que os pariu – Não dava para aguentar, mesmo! Com negócios candongados da Luua, desaconteceu, que fiquem assim mesmo na abundância de muitas asneiras para refrescar a raiva enraivecida de guerra, desabafei; pronto, já está, que pariu sem mãe nem nada.
- A Luua anda, dos deslocados, mendigos com chagas e meninos brincando entre jipes de jantes desmanteladas e bielas, empinados no lixo do quintal; lixo que abunda entre destroços, nos musseques. Água escura e malcheirosa que corre e escorre e a velha mamã Josefa, vendendo do outo lado mesmomesmo encostada no tapume de ripado a chapas de lata de leite Nido e azeite galo mais aduelas de barril de vinho Camilo Alves do M´Puto, a tapar buracos de escapamento de galináceos…. Por hoje chega, estou furibundo…
Glossário
Bandalheiros – sem ordem; Imbambas – coisas, bikuatas; *Dipanda: acontecimentos após o onze de Nov.1975, sociais, políticos, das makas e posterior guerra; Maka – rixa, briga, barulho, confusão; emepelá – movimento popular de Angola MPLA; Banguista - vaidoso, com estilo; Camundongo - rato, natural de Luanda ou arredores; fubeiro – negociante de fuba, tasqueiro de mato em Angola; Pópilas: – expressão de admiração; flor-de-congo: – eczema na zona das virilhas, parecido com psoríase; esquindivado – escondido de forma fintada; caxinde – erva-do-chá príncipe (Angola); mugimbos – diz-que-diz, boatos, mexericos, conversa por conversar; NT – Nossas Tropas – Militares portugueses; kamba: amigo, conhecido de infância; Catetense – natural de Catete; kazucuta – que vive de expedientes, bandalheiro, dado a embustes; mabanga – bivalve; funje – farinha de mandioca; marufo – vinho, seiva de palmeira fermentada; bazar – dar o fora, fugir; haca! – Exclamação por admiração, espanto em Umbundo (generalizado por toda a Angola); t’ximbicando – acto de navegar com pau longo ou bordão, em zig-zag; candengue – criança, jovem; porrada – pancada; esquindivar: fugir com astucia; mateba: da matebeira que tem casca fibrosa, com que se fazem cordas: Muxoxo: trejeito de linguajar com estalido de palato, por recriminação ou aprovação; tuji: merda, desdém; Bazar: ir embora, ecapar-se; Luua: diminutivo de Luanda.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA
– Na piscina da Pajuçara, tive a companhia de uma tartaruga com bem um metro de diâmetro…
Crónica 3431 – 07.07.2023
PorT´Chingange (Otchingandji) – Na Lagoa do M´Puto
Em minha hidroginástica matinal na piscina da Pajuçara, tive a companhia de uma tartaruga com bem um metro de diâmetro, tomando em conta que sua cabeça que emergiu várias vezes, era do tamanho de um coco de meio porte. Foi a única parte de seu corpo que emergiu da água bastante turva. E, por a água estar turva, não deu para ver o corpo integral a uns escassos 4 metros. O turbilhão de ondas que batem no recife, tornam a água muito cheia de pequenas partículas que se soltam de entre as rochas dando a cor esverdeada à água.
A cabeça desta tartaruga parecia um camuflado castanho os quais se salientavam os olhos por serem grandes e luzidios. Este acontecimento deu-se em cinco dias alternados perfazendo nove aparições e sempre emitindo um som forte de aspiração de água ou o enchimento de seus pulmões – um sopro que me meteu medo pela primeira vez pois que estava sem pé na altura de água e também o foi novidade.
Entretanto chega o pescador de bicicleta andando na areia compactada de molhada e, por ali estacionou perto do meu local com o património do Conde do Grafanil, composto de uma cadeira inclinável e o chapéu-de-sol e chuva quando ela cai molhada; claro que também ali estavam meus chinelos de pé, a mochila, a flanela, a chave do mukifo - tudo tapado com a toalha mexicana. Chegado ali pelas 5 e 50 horas dou assim abertura à praia ainda deserta de chapéus e gente.
Por vezes cai um cacimbo que aqui tem o nome de garoa; nestes dias mais chuvosos esta chuva de molha-tolos dá algum desconforto mas não demora muito o sol desponta inchado de 27 ou 28 graus e, que em certos dias de verão pode mesmo ir até aos 32 graus. Quando a água está quase um espelho é muito agradável andar na água sem pé para lá e para cá ora fazendo de rã ora fazendo de jacaré e por vezes de hipopótamo. Assim e lentamente faço percorrer o chapéu branco com riscas verdes do Palmeiras Futebol Club treinado pelo português Abel Ferreira, ora indo para poente ora para nascente.
O pescador, senhor Zeverino do Jaraguá, entra na água com sua rede de cerco com os seus cem metros; assim enrolada dum certo jeito, espeta um pau comprido na areia que tem o início da rede e, andando com água acima do peito vai dispondo a rede paralelamente à borda água fechando-a mais à frente nesses tais cem metros. Vejo esta tarefa mais ao largo distinguindo a rede pelas bolas brancas de esferovite que proporcionam o boiar da rede. Do fundo os chumbos dispostos ao longo da mesma rede veda por assim dizer a zona do cerco.
A finalidade é fazer com que os peixes ali fiquem presos; para esse efeito Zeferino bate na água fazendo com que o peixe se enfie na rede; Não tem sido muito feliz nos dias que tenho observado sua tarefa e por vezes vêm caranguejos chamados de ciris. Mesmo que nada pesque, ginastica seu físico dando vida à sua hora extra. A operação de bater a água é feita simultaneamente com o fecho da rede de forma lenta e na forma circulada de caracol até que já junta é carregada aos ombros para a areia aonde com gestos certos a vai dispondo em monte sacudindo as alas e retirando o pescado quando o há.
Um Trabalho que nem sempre o é eficaz mas, que traduz a verdadeira lei da vida, mexer-se recolhendo o proveito e em simultâneo absorvendo a seda da água com o iodo matinal e a tal de vitamina D com outros sais que nem é necessário enumerar, ressarcindo vontades de resiliência na nata do batom branco das ondas que não muito longe batem nos recifes, formando uma linha branca que confrontar mais álem o horizonte com o azul escuro da água e o escuro azul do céu.
Lá pelas nove horas, com chapéus de todas as cores dispostos ao longo da praia desde a Ponta dos Corais até o Jaraguá com seu Porto Açucareiro, é a hora certa para regressar ao mukifo. É a partir das nove horas que chegam os vendedores ambulantes com panos galhardos de cor, redes, ostras no gelo, camarão ou skol fria – espigas de milho cozido, óculos de sol, bolas e bóias e toda a catrefada de coisas que se possam imaginar. A vida, não é assim tão fácil para estes camelós…
O Soba T´Chingange
O Mundo actual tornou-se um espaço complicado
- A teoria da VITIMOLOGIA - Vitimização pela cor é um discurso na contramão…
Crónica 3429 - a 20.06.2023
Por T'Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió (Nordeste do Brasil)
Em Kizomba-Diáspora-Angola, um grupo social do qual sou administrador, (página iniciada por mim já algum tempo), pude ler uma referência ao dia da CRIANÇA AFRICANA e, estranhando ser especificamente um outro dia, havendo já um DIA DA CRIANÇA – de todas as crianças, insurgi-me contra o facto de se diferenciar nos dias e nos géneros étnicos. Porque li: “Comemorado 15 dias depois do Dia Mundial da Criança, o Dia Internacional da Criança Africana chama-se a atenção para a realidade de milhares de crianças africanas que todos os dias são vítimas de violência, exploração e abuso.” - Este dia é celebrado a 16 de Junho já que foi neste dia, em 1976, que se registou o massacre do Soweto, em Joanesburgo, na África do Sul.
O meu chamamento foi assim descrito “Porquê haver um dia distinto para a criança africana!? Não basta o dia da criança - de toda a criança... A ser assim teríamos bem uns trezentos e cinquenta e um dias da criança. Posto isto, decidi fazer auscultação e pesquisa do assunto tão badalado nos dias que correm e, pude chegar à escrita que se segue.
As pesquisas de vitimização constituem um importante instrumento para estimar a prevalência da vitimização pelos chamados crimes tradicionais, de opinião, causa tendencial ou por influenciação tão em voga. E o papel da sua autocolocação em risco. Chamar a atenção para a necessidade de se atender às necessidades hipotéticas de supostas vítimas, por danos históricos, causas passadas ou por desvios padrão no comportamento social no intuito de obter benesses através de ressarcimento.
E, por sequência ter assistência psicológica, ficar em realce, ter melhor cotação para algo, criação de centros de atendimento com dinheiro públicos, ou outras, pondo em detrimento outras visões ou conceitos pré-formatados. Tudo apresentado por meio de um sistema de palavras postas de uma maneira lógica ou dedutiva, em que a pena ou dó, pode deturpar a natureza e causas pelo apelo sistemático à vitimização. Um tema do maior interesse social nos dias de hoje.
Vitimização pela cor é um discurso na contramão dos movimentos anti-racistas insurgindo-se de forma permanente e, recorrendo a vitimização por vezes fantasiosa, usando a cor da pele à falta de outro suporte como justificativa para a falta de oportunidade, entre muitas outras vertentes sociais para obter mais-valias.
Vitimização torna-se assim em uma bolha vitimista, que tem de ser retratada sem esse mistério de queixa que convém desmistificar para bem da sociedade. O valor de ordens que sustentam a sociedade, é uma realidade objectiva criada pelas leis da natureza em que na igualdade das pessoas, sempre aparecerão algumas mais iguais. O factor cor, não tem de ser aqui evidenciado. Há sim outros indicadores que recaem mais sobre os líderes de países africanos...”
Resta saber se efectivamente a UNICEF pactua com esta postura discriminatória porque pude ler: «««Todos os anos este dia* merece a atenção da UNICEF e de outras organizações mundiais que organizam eventos variados, tendo em vista a defesa dos direitos da criança em África e no mundo". In Google»»»
Nota* Pergunta-se: qual o dia?
O Soba T´Chingange
T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DA MENTIRA – Parte 2
TAP - TROIKA AÉREA PERNICIOSA - Mau-olhado
- Crónica 3428 – 19.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil
O valor de ordens que sustentam a sociedade, é uma realidade objectiva criada pelas leis da natureza em que na igualdade das pessoas, sempre haverá algumas mais iguais. Estes, dedicarão a maior parte de suas energias a explicar como verdadeira tal e qual como a estória da “Alice no país das maravilhas”, sem se limitarem ao espaço que temos à nossa disposição!
Seguindo o estudo académico do Professor Fernando G. Sampaio Reitor da Escola Superior de Geopolítica e Estratégia - Cidadão Emérito de Porto Alegre (Brasil) e, tendo chegado às falas com muitos “itens” dos quais já foram revelados lguns, pelo que continuamos com os restantes (alguns dos quais de forma abreviada) e, que se seguem: TEORIA DA MENTIRA (2001)…
Íten7. Portanto, a Mentira não e uma falsa opinião, nem um engano ou descuido ou questão de crença. Mentir, é um acto deliberado.
Íten8. Tanto é deliberado, que se pode mentir dizendo a verdade, contanto que se queira enganar o outro com o que esta sendo dito, pois, o essencial na questão é que a mentira seja levada sempre, no sentido de fazer crer, ao alvo da mentira, aquilo que se deseja para ele - o alvo
Ítem9. A mentira é, pois, muito ligada à noção de crença, daí derivando para a questão da formação da opinião.
Íten10. De onde concluímos que a mentira é destinada a criar um clima, na opinião pública ou geral que favoreça o emissor da mentira e, naturalmente, desfavoreça o alvo do emissor.
Íten11. A mentira deve, pois, criar um ambiente, que seja positivo para aqueles que se valem dela e isto implica em prejuízo ou derrota por parte dos que aceitam esta mentira.
Iten12. Voltando ao aspecto estratégico da questão da Mentira, vejamos o seguinte: se precisamos tomar decisões para traçar uma estratégia, é necessário que venhamos a obter as informações necessárias e corretas, para que possamos tomar as decisões acertadas. Caso contrário, nossa Estratégia fracassará.
Íten 12A. Eis, aí, a base onde se insere a utilidade da Mentira, para o adversário que resolve derrotar-nos: Sabemos que a nossa conduta é determinada, basicamente, por dois elementos: a) o nosso desejo; b) as informações que dispomos, para realizar o nosso desejo, o que nos leva ao seguinte esquema: desejo e informação conduz ao vector de conduta…
Íten13. Se um inimigo, adversário ou mesmo o próprio organizador das decisões estratégicas, não tiver acesso às informações básicas e corretas para a condução das operações (seja em que plano for, tanto suas operações militares quanto comerciais ou políticas), a sua conduta resultará inadequada e a sua estratégia falhará.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL
– TROPEIROS
2ª Parte - Crónica 3427 – 18.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por:T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
O Brasil não existia como país antes da chegada do Rei D. João VI. Em 1808, as terras de Vera Cruz, eram um conjunto de províncias com pouca ligação entre si. Não havia a ideia de unidade. Em verdade, a invasão de Portugal pelos generais de Napoleão, resultou na fuga apressada da corte portuguesa para o Brasil.
Na hora crucial do embarque, muitos nobres da corte, tiveram de embarcar só com a roupa do corpo. D. João VI que é tomado como um rei bobo, feio e gordo bonacheirão, baixo e desajeitado, foi ele, no entanto, o verdadeiro estadista que originou o Brasil de hoje. Foi para a sua época tão inovador que, as interpretações depreciativas chegaram ao ponto de o apontarem como o covarde “Dom João charuto”- uma ingratidão histórica…
Desde meados do século XVII, havia o entendimento pelos países da frente ascendente da Europa, de que as colónias não deviam ser geridas pelas metrópoles e, a fim de alterar isto, D. João e o diplomata D. Rodrigo de Souza Coutinho, tiveram a astúcia de aproveitar o infortúnio para reformar o decadente Portugal em um Império; o país Brasil, foi elevado ao estatuto de Reino Unido com Portugal, os Algarves e terras d´aquém e, além-mar tendo D. João VI como Imperador.
Chegados aqui, teremos de ir agora ao inicialmente proposto, falar dos tropeiros que nesse então tinham tanta importância para estas terras tão carecidas de meios de comunicação neste tão grande território, o Brasil. Foi curiosamente, na área de gastronomia que os tropeiros ficaram referenciados nos dias que correm; os pratos por eles criados por uma necessidade ou resiliência como se reverencia hoje, têm o nome de “feijão tropeiro”, “carreteiro de charque” ou “ feijão carreteiro”…
Confecção derivada dos produtos que levavam no dorso das mulas xucras como já o foi dito – carne de charque, carne de sol e mandioca ou macaxeira como é aqui conhecida em Alagoas do Nordeste. Nestas filas de burros xucros e mulas, entre os companheiros da tropa da fila longa de pirilau corria de quando em tempo, uns frascos, garrafas com um líquido ardente e cheiroso: a cachaça! Esta bendita quentura de líquido estava sempre presente, ora para esquentar, ora para entorpecer a dor de dente ou para espantar a gripe e, ainda para desinfestar parasitas da pele e goela ou curar arranhões, um nítido protesto para ser bebida de forma regular.
A cachaça de cana misturada com fumo (tabaco) era usada como emplastro contra picadas de mosquito, dos variados insectos ou cobras. O dono das tropas para fazer qualquer transporte, por norma ajustavam o frete; o condutor destas tropas não tinha de ser necessariamente o dono do pedaço. Algumas fazendas tinham sua orgânica de tropeiros que para além de condutor da tropa eram angariadores conhecidos por alguns como “homens pobre-livres” mas o mais justo, era serem vistos como “aqueles que vivem do negociar”. Ou aina como “negociantes de tropa”.
Estes condutores de tropa, faziam ponte das fazendas de café levando o produto até os agentes comerciantes intermediários que faziam a cotação pois tinham a vila ou cidade para negociar; os tropeiros estavam deste modo subordinados ao fazendeiro, no entanto havia sim, entre eles alguns proprietários de terras e escravos com algum poder de manobra; por vezes também conduziam sua própria tropa e eram ricos de verdade.
Alguns sociólogos de cordel reconheciam que os tropeiros, não ascendiam com facilidade nas sociedades ocupando cargos públicos. Cargos que lhes valesse de prestígio, dada a profusão de sua extrema mobilidade em suas actividades. Embora houvesse ricos nesta actividade, não há muitos relatos, notando-se até, certa tendência para ocultar sua actividade e, que segundo relatos de então ou posteriores biografias, o eram homens que originaram famílias que “enobreceram”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DA MENTIRA – Parte 1
TAP - TROIKA AÉREA PERNICIOSA - Mau-olhado
- Crónica 3426 – 17.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil
A mentira, usada na forma sofisticada de sonegar a informação, terá de se aceitar como uma nova corrente de democracia (inovadora’). Será?! Plastificando nossa mente, após conhecermos narrativas espantosamente dissimuladas, assim acaba por virar uma verdadeira revolução de indignação, Lá teremos de estudar esta genérica maneira de estar, socializante! No intuito de me inteirar de como as tricas podem bem suplantar as troikas, dei-me ao trabalho de pesquisar tudo o que é sabido acerca da mentira, seu uso e nuances adjacentes, sem sair do plausível em questão de “seriedade”.
Nesta balela costumeira e vezeira como se coisa vulgar o fosse, sairá decerto muito mal na teoria da ciniquisse (vocábulo novíssimo). Chego assim a dados credíveis em tese, de aceitar que, governar, é fazer crer, de acordo com a famosa frase atribuída a Maquiavel. Deste modo consultei via net o Professor Fernando G. Sampaio Reitor da Escola Superior de Geopolítica e Estratégia - Cidadão Emérito de Porto Alegre tendo chegado às falas com muitos “itens”, que se seguem: TEORIA DA MENTIRA (2001)…
Íten1. Governar é fazer crer, famosa frase atribuída a Maquiavel, que nos leva ao centro deste debate, que denominamos de Teoria da Mentira, no sentido em que a Mentira, como instrumento, possui o seu próprio corpo de normas, sua própria estruturação e metodologia, já experimentada, ao longo dos séculos, na arte de governar e, por extensão, na subversão dos governos e das instituições.
Íten2. O conhecimento da Teoria da Mentira é Estratégico. Julgamos fundamental ao estudioso da estratégia no conhecimento do funcionamento da Mentira, já que, não podemos basear nenhuma estratégia em falsidades, em erros, em inverdades, pois então, esta estratégia, estará definitivamente fadado ao fracasso.
Íten3. Por isto, estamos com o professor Robert A. Dahl, que em sua análise política afirmou que “pretender uma análise objectiva da política pressupõe que se dê valor à verdade... é preciso acreditar que vale a pena distinguir o verdadeiro do falso”.
Íten4. É justamente, então, que entra a Teoria da Mentira: o objectivo da mentira é impedir-nos de distinguir o verdadeiro do falso. É confundir, é iludir, é enganar e, assim, nos levar a tomar decisões erradas (para nós), mas que beneficiam quem criou e espalhou a mentira.
Íten5. A mentira é, portanto, arma valiosa no arsenal de qualquer beligerante ou assemelhado e serve, tanto para a guerra como classicamente entendida, como para a propaganda política podendo ter utilidade, assim, tanto no conflito externo como nas lutas políticas internas.
Íten6. O que é mentir? Por definição, a mentira é o discurso contrário à verdade, efectuado com o objectivo de enganar. Daí concluímos que o elaborador da mentira conhece a verdade e efectua deformações intencionais sobre o verdadeiro, para atingir o seu objectivo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL
– TROPEIROS
1ª Parte - Crónica 3425 – 16.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Dom José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal já no tempo de D. José I tinha feito uma leitura da situação do Portugal decadente e, fez saber da necessidade de se mudar a capital e a corte para o Brasil, de onde vinham os grandes recursos da balança comercial. O facto de a França estar numa viragem cultural e política, por via da revolução de 1789, que terminou com a realeza magnânimo e promíscua com a decapitação de Maria Antonieta e, mais tarde as invasões Napoleónicas, favoreceram a concretização da ida da corte, do ainda príncipe regente D. João VI, para o Brasil.
De forma apressada fizeram-se ao mar, com protecção da marinha Inglesa, um dia antes da chegada das forças francesas com o comando de Junot. Lisboa, a capital do Império, era uma beleza vista do rio Tejo mas, dentro das ruas e ruelas, o bafio e o mau cheiro era deprimente; pela noite atirava-se pelas janelas de Alfama, Mouraria e outros bairros, penicadas de dejectos humanos, urina ou águas saponáceas.
Foi neste quadro que, D. João VI, sua corte, nobres, algum clero, dependentes privilegiados, largaram do Tejo. As Musas e Ninfas, Tágides daquele rio deveriam estar muito ocupadas em um qualquer outro lugar; talvez andassem encavalitadas nos botos do Amazonas. O dia 27 de Novembro de 1807 naquele cais da Ribeira foi agitado; com as presas nem tudo se pode levar para bordo, as forças francesas já tinham passado a linha de Torres. Na viagem com tempestades, imundice, água estagnada, velas rasgadas, mastros podres, carne bolorenta e piolhos a viagem fez-se, até que a 7 de Março de 1808 no início da tarde, parte da esquadra do Príncipe Regente chega à baia de Guanabara no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, à semelhança de Lisboa, era deslumbrante com seus morros de escandalosa verdura e 60 000 habitantes, dos quais 13 000 eram escravos, os excrementos também aqui, corriam com água suja pelo meio da rua; também aqui se atirava tudo para essa sargeta, com porcos chafurdando e galinhas repenicando. Havia muitas crianças deambulando, pois naquele tempo só havia o coito interrompido como salvaguarda da linha zero; a era ”light”, o látex, o método tântrico e o sexo digital viriam muito mais tarde. Havia bostas largadas por bestas, cavalos e mulas dos muitos tropeiros almocreves.
Pois é destes almocreves tropeiros que ocuparei as falas seguintes. Tropeiro é o termo referido na historiografia brasileira à actividade relacionada com tropas de mulas criadas nos campos de elevada salinidade, terras planas do Rio Grande do Sul. Devido à salinidade estes pastos foram criadouro de manadas de mulas reservando os bons pastos para o outro gado dos quais se extraia leite, peles e a própria carne. Devido a existirem muitos burros xucros, termo para definir animais ainda selvagens, aproveitaram sua rusticidade para transportarem em seu dorso mercadorias. Em verdade também não havia vias e os charcos eram mais que muitos dificultando o uso de carroças.
As mulas xucras podiam percorrer cerca de dois mil quilómetros subindo e descendo encostas agrestes e suportando invernadas agressivas nos campos do Paraná. Saídos do Sul, chegavam a Sorocava, cidade situada perto de São Paulo, exércitos de tropeiros conduzindo suas mulas, concentrando-se naquela que era a maior feira a Sul do Brasil no início do século XIX. Os condutores destas tropas tinham uma dieta que consistia na própria carga que as mulas carregavam: carne-seca, charque, carne de sol, feijão e angu de milho, farinha de mandioca, café, açúcar e melaço deste, na forma de rapadura – produtos metidos em sacos de sisal para se ajustarem ao dorso das mulas cargueiras.
Calcula-se que cerca de vinte mil muares eram negociados anualmente nessa feira anual de Sorocava, havendo anotações de se transaccionarem 100 mil no ano de 1850. Dom Pedro II, neto de D. João VI, era neste então o imperador do Brasil, entre 1840 e 1889, período no qual o país passou por muitas transformações como a Guerra do Paraguai e a abolição do trabalho escravo. Da feira de Sorocava eram comercializadas milhares destes animais para o resto do Brasil e, li que na região de Jaguari de Minas Gerais foram importadas 12 mil destas “bestas”. Sem trem nem estradas, o recurso era adquirir estes animais para transportarem grandes cargas em longas distâncias.
As chamadas tropas eram compostas pelo condutor-chefe, companheiros, cozinheiros fazendo-se acompanhar por cães; estes eram usados para evitarem a dispersão das mulas xucras. Algumas destas mulas eram designadas de madrinhas, porque por hábito tornavam-se experientes na condução do restante lote de muares sendo dispostas de forma intercalada para melhor gestão da fila de pirilau de mulas, umas atrás das demais. Estas mulas eram normalmente enfeitadas com arreios de prata, guizos no peitoril e chapéu de plumas na cabeça. Talvez não o fossem em todo o percurso mas assim eram arreadas de bonitas para fazerem boa figura na feira.
(Continua)
O Soba T´Chingange
T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DO CINISMO
GALAMBICES - Mau-olhado - KAICÓ é gelo com açúcar!
KIBOM é um sorvete; BALEIZÃO era um gelado...
- Crónica 3424 – 15.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil
Karl Marx gostava de Kaicó! Com sua balalaika de vestir, referia-se ao “novo homem” que deveria emergir do triunfo da ideologia comunista. Isso aconteceria depois do triunfo histórico dos oprimidos sobre os opressores. Mas, que tem o Kaicó a ver com comunistas? É que eles também gostam do Olá e do KIBOM! A criação do novo homem, para Marx, era vista puramente em termos materialistas. O “novo homem e a nova sociedade” seriam possíveis apenas pela derrota do capitalismo. Os meios de produção como fábricas e terras, por exemplo, não deveriam ser propriedade de uma pessoa, mas de toda a sociedade .
Pois é! Alguns aproveitaram-se! Era o cinismo puro de quem vende água com açúcar consumindo-a só para fingir. É aqui que teremos de ir analisar essa forma de estar que não sendo nova, sempre engana. Há quatro razões de, porque os "cínicos" são assim chamados. Primeiro por causa da indiferença de seu modo de vida, pois fazem um culto à indiferença e, assim como os cães, comem e fazem amor em público, andam descalços e dormem em barris nas encruzilhadas.
A segunda razão é que o cão é um animal sem pudor, e os cínicos fazem um culto á falta de pudor, não como sendo falta de modéstia, mas como sendo superior a ela. A terceira razão é que o cão é um bom guarda e eles guardam os princípios de sua filosofia. A quarta razão é que o cão é um animal exigente que pode distinguir entre os seus amigos e inimigos. Portanto, eles reconhecem como amigos aqueles que são adequados à filosofia, e os recebem gentilmente, enquanto os inaptos são afugentados por ele, assim como os cães fazem, ladrando contra eles.
No marxismo, para se chegar ao “novo homem”, é imperativo que se transformem primeiro as condições externas dos oprimidos. A história, contudo, não está do lado da visão marxista do homem - Danou-se!? Então, para conhecer o cinismo ou ciniquismo (palavra nova), teremos de ir até Diógenes, o filósofo que se tornou um mendigo habitando nas ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; teria vivido num grande barril, um lugar de fingir ser uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto. Pópilas, afinal isto de se ser cínico já vem lá muito detrás.
Em cada lugar em que a revolução foi vitoriosa, quer na Rússia, na China ou em Cuba, o que se verificou não foi o surgimento do “novo homem" usando o cinismo até à exaustão, assim o surgimento do “novo opressor que curiosamente também gostam do KIBOM; chegou o Maduro à Venezuela, que curiosamente ou nem tanto, também gosta do Kaicó. Dizem os papalvos que com ele gravitam, que o mesmo é vítima de uma visão superficial do homem ocidental porque não levam em conta o verdadeiro pecado... E, o mundo começou com pecado, lembram-se! Só que ele, Maduro, moita-carrasco, finge que Cristo é um grande seu amigo para lá do molusco – O mundo vai-se calar de cansado e vamos, que vamos.
Soube-se que o Kibom, o Baleizão, o Kaicó naquele tempo não existiam para todos, porque o gelo era demasiado caro. Ele, o Diógenas continuou a buscar o ideal cínico da auto-suficiência, uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias da civilização. Até custa acreditar que naqueles tempos houvesse isso de civilização mas, fogo à peça: Por acreditar que a virtude era melhor revelada na acção e não na teoria, sua vida consistiu-se numa campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais, do que ele via como uma sociedade corrupta; custa até acreditar nestas versões que tudo indica, ser uma grande inventação.
O cinismo espalhou-se durante a ascensão do Império Romano no século I, tornando-se em um quase movimento de massas, e assim, os cínicos eram encontrados mendigando e pregando ao longo das cidades do império. A coisa pegou! Mas, a doutrina finalmente desapareceu no final do século V, embora alguns afirmem que o cristianismo primitivo adoptou muitas de suas ideias ascéticas e retóricas. Que falta nos faz o “se bem me lembro – Vitorino Amnésico”. A auto emancipação do marxismo falha porque espera, ao mesmo tempo, muito e muito pouco: muito do homem, que consistentemente transforma sua capacidade criativa em fins de poder e, isso revolta alguns! É porque alguns são mais iguais que outros, NOÉ!?
Assim, antes de sermos brancos ou negros, ricos ou pobres, educados ou sem estudo, somos criaturas que gostamos de Kaicó, de Olá, de Baleizão ou de KIBOM sem termos de ir à loja do povo pedir solicitudes! E, porque hoje é de feira amanhã forçosamente será uma outra feira!? Com ou sem comunistas, o tempo continuará, sabem! Elementar - Tomara que não chova, chuva molhada... Amanhã penso comer um KIBOM como se fora Baleizão... Mas, ir a Cuba - nunca mais!... Só mesmo a Cuba libre. Ser enganado uma vez, chega!
Resumo: CINISMO: É A FILOSOFIA A SERVIÇO DA ÉTICA BASEADA NAS ATITUDES
FUI…
O Soba T'Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – XICULULU DO M`PUTO
TEMPOS CÍNICOS – Crónica 3423 – 14.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Para os muçulmanos hodiernos, Fátima – a Santa, é a filha mais velha de Maomé. Isto, se não for cinismo, é quase uma heresia, um absurdo ou contra-senso. É assim como uma picada de alforreca, daquelas malignas, que deixam riscas para justificar que, a mortificação do corpo desta ou outra forma, foi originária de Deus para superar o espírito. Se nos abstrairmos de maldade, de gazes radioactivos do xénon ou crípton poderemos encontrar formas menos sofisticadas de sonegar alguma informação e, de uma vez, gerir o silêncio, o que nos levará a ficar com a mente plastificada.
Se não formos desta para melhor, uma contradição cínica, nunca encontrarei verisimilhanças com a verdade de uma morte não provocada nas características da nossa essência. Se as pessoas compreendessem que os direitos humanos só existem na imaginação, não haveria o perigo de a nossa sociedade colapsar, falir, desmoronar ou implodir…
Nós, gente, não possuímos direitos tão naturais quanto as aranhas, osgas, hienas ou elefantes; estaremos portanto sempre e, como gente, a correr o risco de colapsar – kiákiákiá, um faz-me rir. Pude ler mais ou menos deste jeito, no livro de Yuval Harari espicaçando minha veia erudita. E, porque dependemos de mitos, e os mitos ultrapassam-nos, quando as pessoas deixam de neles, acreditar. Não é interessante este cinismo?!
Uma vontade feita ordem imaginada, não pode ter sustentação se não tiver a existência de seguidores ou verdadeiros crentes. Sabemos que um só sacerdote, muitas vezes, realiza o trabalho de uma boa centena de soldados, quando no meio de uma guerra ou em mudanças de cariz social, se rebatem conceitos de princípios políticos.
Os juízes, os agentes policiais, soldados e carcereiros, não conseguem manter uma ordem em suas tarefas se seguirem essas mesmas ordens imaginadas, na qual não acreditam. Sendo assim, alguns ou muitos de nós, teremos de tomar como verdadeiras essas ordens, para que tudo não fique em suspenso de deixar prescrever a realidade e, até acreditar entre aspas que sim, pode haver alternativa a um plano só imaginado.
Se transpusermos estes principios para o nosso hodierno viver, no pequeno rectângulo chamado de Portugal, veremos que as actividades políticas de governo, de cai governo, de vamos ver como tudo fica, é quase como investir num mercado de acções, activismo de um verdadeiro cinismo porque o é antidemocrático e, de absoluto desprovimento de sentido. Chegados aqui vamos recordar o filósofo grego que fundou a escola cínica e que vivia metido numa pipa…
Ora, foi um tal de Diógenas que, visitado por Alexandre - o Grande, encontrou o mestre das falas relaxando ao Sol, bem no cimo de sua pipa. Engraçado! Alexandre, o Grande, perguntou o que podia fazer por e ele, Diógenes respondeu ao conquistador todo-poderoso -“ Sim, pode fazer algo por mim: - Por favor chegue-se um pouco para o lado, porque me tapa a luz do Sol”. Bem! Podemos transportar este cinismo colocando no lugar de Diógenes o nosso Primeiro-ministro Costa e como Alexandre o nosso presidente Marcelo R. Sousa.
Isto se, considerarmos a vivência actual em que verificamos que “nem o Estado morre, nem a gente almoça”. É por isso que os cínicos não constroem impérios e, será por isso que, uma ordem imaginada só pode ser mantida, se grandes segmentos da populaça, em especial da “elite socialista”, do actual “Estado de forças”, acreditassem verdadeiramente nela, a ordem imaginada. Só mesmo para concluir: O cristianismo não teria durado 2023 anos, se a maior parte dos bispos, padres e afins, não acreditassem em Cristo…
Nota: Diógenes de Sinope, conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia; um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Ele acreditava que a virtude, era melhor revelada na acção e não na teoria…
O Soba T´Chingange
FRINCHAS DO TEMPO – NO DIA DE CAMÕES
– Crónica 3422 – 13.06.2023
MINHA SINGULARIDADE POR UM DIA - “T´CHINGANGE”
Por T´Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió
Por um dia fui Camões! Posso explicar: O quinto Centenário da morte do Infante D. Henrique teve dez anos de festividades um pouco por todo o mundo da lusofonia que culminou a dois de Junho de 1960 o ano de seu falecimento, Foi neste ano que se instituiu a Ordem do Infante D. Henrique. Depois deste intróito relembro o ano de 1954, ano em que em Luanda, toda a mocidade estudantil do nível preparatório participou em sua comemoração na Escola Primária nº 8, junto à Liga Africana da Vila Alice. Creio que tinha os meus nove anos de idade e, quando a minha capital do Império era a MUTAMBA…
Teria os meus nove anos quando me escolheram para ser a figura principal do teatro escolar da Luua na Escola nº 8 da Vila Alice – a figura teatral era a do Infante Dom Henrique, o propulsor da navegação portuguesa. Estudava eu na Escola de Aplicação e Ensaios situada na rotunda de D, Afonso Henriques, situada bem em frente do Sindicato dos Metalúrgicos, início da Rua do Cazuno que ligava a Mutamba à Cidade Alta com o Palácio do Governador, passando pela Casa dos Rapazes; era também o início da Avenida Álvaro Ferreira, que passava mais acima pelo Cine Restauração e a Escola José Anchieta aonde estudou meu irmão Zé Kitunda e, tendo na parte posterior o belo jardim do Parque Heróis de Chaves. A mesma terminava no alto e de frente do Hospital Maria Pia
O Cine teatro Restauração passou a ser a Assembleia Nacional depois da independência a 11 d Novembro do ano de 1975. Bem perto ficava o Largo Serpa Pinto de onde saia uma rua que subindo, ia dar ao Liceu Salvador Correia, uma rampa bem acentuada e aonde os candengues da Maianga, iam fazer corridas de fórmula um de fingir em rodas de rolamentos. Esta Luanda antiga ainda só deveria ter uns 90.000 habitantes pois que todas as ruas da Maianga estavam por asfaltar desde o sinaleiro bem perto ao Colégio Moderno aonde também andei algum tempo.
Nesta escola ocorreu até então a maior concentração de alunos do ensino primário das escolas do distrito de Luanda da então Província Ultramarina de Angola. Sendo eu a figura de destaque em representação de Camões, tive de apresentar os vários cenários descritos na obra do maior poeta português. E, foram as cenas do Reino de Castela e de Leão, de Egas Moniz, do Adamastor com Bartolomeu Dias mais Vasco da Gama, da Índia e da Ilha dos Amores.
Os versos que já sabia de cor, fingia ler “As armas e os Varões assinalados, que da Ocidental praia Lusitana, por mares nunca dantes navegados, chegaram mais álem da Tapurbana”. O grande átrio da Escola nº 8, estava repleto de candengues de bata branca, batendo palmas, rindo e exercitando o conhecimento para lá dos horizontes da Mutamba. Posso ainda sentir o cheiro forte do grude da cola de marceneiro que colou ao meu rosto barbas e bigode, e também sentir o tecido branco de zuarte em foles, esticado com farinha de trigo e passado ao ferro de engomar; tecido teso que era a bonita coleira ondulada, que o poeta usava.
Involuntariamente, fui snifado com aquela cola que talvez evoluísse; contínuo sem saber se me alterou partículas dos músculos moles e, até do meu cerebelo. Ver o Tonito filho da Dona Arminda do Rio Seco da Maianga, vizinhos do Almeida das Vacas um antigo degredado colonial, naquele papel maior da história, era algo fora de previsão. Bom! Agora com os meus 78 anos de idade passo até recordar esse evento com um brilho no canto do olho. Ainda haverá gente por aí na diáspora que se lembrará desses idos tempos…
Nesse dia de festa, foi dado a cada um dos alunos assistentes ao teatro um saco de guloseimas e até houve distribuição de sapatos quedes, patrocínio de publicidade da fábrica Macambira. Gostava de usar estes quedes na gimnástica dada pelo Professor Montês na Escola Industrial de Luanda; em verdade sempre que se proporcionava, usava-os com agrado, pois eram leves e frescos.
E, porque pude ser lembrado por mais um dia das Comunidades, posso falar ao de leve o quanto senti ser desgarrado de uma terra que era minha e, só porque era filho de colonos idos pela Companhia Nacional de Navegação num barco de nome Mouzinho de Albuquerque e, também por ser branco fui quase obrigado a abandonar. Só ao de leve posso lembrar que anos mais tarde (1975), me ofertaram um bilhete de avião na ponte Luualix, só de ida para o M´Puto! Algo feio que os generais de aviário fizeram, numa visão tão contrária àquela epopeia de Camões. Não tinha de o ser assim, pois foi mau para quem foi e para quem ficou. Fui!
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL – QUILOMBOS
3ª Parte - Crónica 3421 – 12.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Nem sempre a relação entre quilombolas (moradores do quilombo) eram as melhores, dependendo muito do seu lí der ou do Concelho de Mais-Velhos que no d`jango (lapa grande) determinavam as leis ou regras. Por vezes havia contratempos com os escravos residentes de linhagem e, origem de parte diferentes, de onde eles, ou seus ancestrais, saíram.
Em geral, os quilombos possuíam economia própria e tinham algum sucesso no comércio de seus excedentes destacando-se destes o quilombo Moquim no norte fluminense entre outros espalhados pelo país em áreas de mineração a céu abeto, combinando com a agricultura de subsistência o garimpo de pedras preciosas e ouro. Entre estes e as sanzalas próximas, surgiam vendeiros e taberneiros dando aos quilombos melhor condição de fixação de vida.
Muitos quilombos do Maranhão envolveram-se em agitações políticas entre a população livre que, após a independência entre 1838 e 1841 foram intensas, designando-se na história com o nome de Balaiadas. Mais a norte de São Luiz do Maranhão, grupos de quilombolas organizaram-se em comunidades camponesas construindo sua memória com identidade protegidos pela imensidão das matas atlântica e amazónica.
E, sempre no sentido Norte, estenderam sua influência e organização aos quilombos vizinhos do vizinho território de Suriname e outros centros urbanos dispostos ao longo da costa marítima com uma forte interferência de índios indígenas com os quais se miscigenaram. A partir da metade do século XIX, estes grupos tomaram cada vez mais um carácter reivindicativo, reunindo escravos de uma mesma fazenda, negociando directamente as condições de cativeiro.
Como uma associação de Mais-Velhos, discutiam sua progressiva liberdade com o senhor “coronel”- o dono do sítio, ou um outro posto de mando social á revelia das instituições governamentais. Em outos casos os quilombos, passaram a desafiar a legitimidade da ordem esclavagista forçando os representantes da autoridade a alterarem os propósitos ou procedimentos que até aí não eram contestados.
Neste contexto as insurreições escravas, assessoradas pelos quilombolas forjavam técnicas de fuga colectiva quando a negociações ficavam emperradas; Manuel Congo, foi um dos líderes escravos que montava novas estratégias de fuga através das matas circundantes próximo ao lugar de Vassouras no vale da Paraíba – actual estado com a capital em João Pessoa. Em 1867 em Vianna do Maranhão, quilombos, desceram do morro para agitar a escravidão das sanzalas, exigindo a abolição na sua forma mais simples de soltura.
Na repressão aos quilombos actuavam milhares de capitães-do-mato (capatazes de fazenda), e a maior parte de efectivos policiais com ou sem volantes, das vilas e cidades de todo o Brasil. Os capitães-do-mato usavam cães de fila para perseguir fugitivos e, eram-no muito eficazes pelo faro, pelo porte e pela fúria. O quilombo de Vila Matias em Santos, liderado por Pai Filipe, sobressaiu em seu movimento abolicionista paulista tonando-se peça fundamental nas estratégias de soltura no eixo São Paulo - Santos. O quilombo urbano de Jabaquara situado em plena Cidade de Santos, foi símbolo maior pelas alianças assumidas entre escravos e movimentos abolicionistas tendo um forte peso no término de escravidão em todo o Brasil.
FIM
O Soba T´Chingange
T’XIPALA DO M´PUTO - UM JACARÉ NO CAMINHO
FALAS, SÓ ÁTOA
Mau-olhado - Crónica 3417 – 08.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil
Desfragmentando o meu disco a fim de dar arrumo a todas as mokandas, cheguei a uma amalgama de inventações que o passado escorregou no fermento duma história de diáspora, que não quer ficar esquecida. Meus pais iam ver seu amigo Boni Boni; amigo, era assim mesmo que também me tratava! Ele, o branco mais preto da Catumbela, falando, em prosa, em gíria e na contraluz do discurso directo, arrevesava os verbos do seu jeito jeitoso. Foi quando, numa altura que só chovia, chegamos ao rio Catumbela que tinha jacarés pra caramba, parecendo pedras com olhos reluzentes.
Eram tantos que por volta de 1949, eu ainda era um pivete candengue, após chegar vivendo uma enchente; vou contar mais ou menos do jeito que eles lembram: “Os Bonis”, conhecidos de meus pais e, que no tempo foram ficando amigos, até que tiveram de fugir em um dia, às águas barrentas com jacarés boiando só átoa. A casa com o nome de “SANTI” feita de adobe ao jeito de taipa com ripas cuzadas e barro chapado com mão; vi que por isso mesmo, não resistiu à enxurrada naquela que era a “travessa da verdade”, que logologo ali, chamei de jacarelândia do Boni…
Foi ali mesmo, na Catumbela, no húmido bafo de crocodilos, casa de taipa esfolada, que lhe nasceu o filho mais velho, filho do velho Bonifácio, Boni Boni Torrado, trespassando de três gerações. “M´bika a mundele, mundele ué” (Filho de escravo, escravo é). Bem-disposto, Boni candengue, filho do pai dele, agita no tempo e conta do mais velho pai, bem na forma de como o quer lembrar... Seu herói, usava a filosofia pulverizada, chispando fora o supérfluo – é este filho pivete que já homem diz para mim, sacudindo a chave de grifes de apertar tubos e porcas do seu bedford…
Ele seu pai herói, vou-te-falar, tinha uma bomba tipo FLIT que lhe fabricava ideias – que até fazia arco-íris mesmo por cima das carcaças de geleiras e cambotas na mistura com pistões pintadas de cagadelas brancas marca gaivotas; isso mesmo, um arco-íris como aquele negócio que aparece no céu na chuva cacimbada! Juro (eu próprio) que nem acreditei mas, só fingi, que sim senhor, credito mesmo! - A vida tem os seus segredos, diz ele, Boni filho, no café boteco junto do largo Maria Neno Ovava, enquanto sorve um copito de s’bell, do verdadeiro Whisky da Catumbela.
Os dias passaram na maré de guerras crispadas de recentemente, até que, a independência chegou num repentinamente, os amigos foram bazando de forma dramática; a confusão chegava do sul, do norte e, muitos outros lados; viu-se e desejou-se fazendo das tripas coração para fugir de tudo, mano. É o Boni filho contando!
Nem tudo pode ser mau todo o tempo, concluiu antes mesmo de contar nem sei o quê de seu fim. O que vai acontecer de ruim na vida da gente só pode mesmo ser para melhorar! Que é isso; falas de quê? Ele, melhor, o pai dele só falou no sobreviver, que ia misturando umas quitetas, arroz e folha de mandioca, que o Kamba fintador Cadimbinha trazia do Alto Liro nas horas menos dramáticas entre os intervalos de fogo cruzado; Xis versus Ypson e, desentendia tudo na vice da versa.
Há pois, os búfalos do Sul passaram por ali com tudo, mais bazucas, sabes? Estava mesmo confuso mas entendi, coisas de guerra que também vivi, sim senhor… Foi quando das falas já nem entendi se era o Boni Pai se o Boni Filho. Mas, nem interrompi, deixei só. Teve de usar uma pópia musculada pois, nos contratempos de muito para além dum problema que, surgiam noutro e, na confusão então não tinha sentido. Tudo se tornou maka, mas diferentementemente. Tudo ficou por demasiado na confusão de maka e, no café aonde vendia s´bell whisky da Catumbela, num havia mais. Surgiram t´xipalas novas de muitos lados; o controlo de tudo foi ficando cheio de pequenos ferimentos, adoecendo mesmo. Num dia teve mesmo de fugir à frente dum barulho de tanques de guerra, saiu derramando seu código genético na areia.
Já no fim da restinga do Lobito, carregado de medo, a brancura da pele tornou-o reaccionário – e, ele nem sabia o que era isso! Bom! Passados uns anos ouvia na rádio - “morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela, será que ela mexe o chocalho ou o chocalho mexe com ela”. Assim lembrando o onze de Novembro de 2005, já no M´Puto, 30 anos após o dia da independência, diz ele: “ a bela mulata remexendo… Deixando requentar o feijão no tacho... Na Catumbela”… Na Catumbela?! Nessas cantigas da mututa da libertadura, basou, apanhou o barco e foi para Elvis Bay – só ele mesmo…
Haka! Já era ele mesmo meu amigo Boni Filho, falando: Agora não tem mais cana-de-açúcar, nem s´bell; a própria fábrica do açúcar da Cassequel é um montão de ferro velho e a praça do Império do Lobito, tem uma traineira encalhada no meio; A restinga é só mesmo aquele barco empoleirado, fim dos Tugas. Bonifácio Filho, caçador de catuitas, recorda versando e prosando aqueles tempos de fisga, do antigamente. Como meu pai falava: Se o Xicaça me topava, gritava para o ouvir... Ah! Seu Chiquinho Catava, desta vez, não se vai rir!... É o Boni filho a recordar – o kota Boni, meu pai morreu, faz tempo. E, afinal no Catumbela rio continua correndo chuva, molhada, “Nas claras águas de cacimbo, o rio dilata-se na paisagem de cana sacarina, palmeiras de dendên, e bimbas de copas nas águas. Ficou só um “havemos de voltar” -“bichinha danada, minha camarada do emepelá”
O fim acabou assim mesmo, só átoa – Háka…
:::::
Bibliografia – Catumbela, terra de jacarés de António Gonçalves Rodrigues (o Bonifácio Boni, pai)
Glossário
M´bika a mundele, mundele ué - o escravo de branco também é branco; jacarelândia – abundância de jacarés no rio Catumbela e vila do mesmo nome, na travessa da verdade; Maria Neno Ovava – praça pública com obra escultórica alusiva à musa e água situada em frente aos Correios da Catumbela; S´bell – marca de Whisky muito apreciada pelos Sul-africanos; bimba – árvore de beira-rio de 3 ou 4 metros de altura, tronco mole de extrema leveza, usada para construir jangadas; quitetas – amêijoas, berbigão; Kamba – amigo como irmão (Kimbundu); fintador – dado a truques; búfalos – referente ao batalhão invasor da A. do Sul; catuitas – pássaro bico de lacre (bico vermelho); Tuga – Português; Haka! – Exclamação (Umbundo); emepelá – MPLA, movimenta emancipalista e implicacionista…
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL – CORTIÇOS
3ª Parte - Crónica 3394 – 15.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por:T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Feito dramaturgo, do prólogo ao epílogo, sigo-me como um sonho de T´Chingange (feiticeiro), que ora está no M´Puto, ora está em Angola, em África, ora está na Pajuçara do Brasil lambendo as águas como quem lambe o tempo; é o caso de agora, da minha, nossa “hora extra” da vida. Com o tecto do sótão a se dismilinguir, renovo a testa e o mataco com pomadas anti fungos, desoxidando tubos com Cabernet Sauvignon - "a rainha das uvas tintas" feito de uva de vinho no rio da integração brasileira e conhecido ternamente como Velho Xico, no lugar de Petrolina.
Mas, quanto a cortiços – lugar de gente, lugar de residência, de segmentos da população livre, libertos, emigrantes de origem europeia, maioritariamente portugueses e italianos, sobretudo em Rio de janeiro, de negros e mestiços. Assim, os cortiços, constituíram o espaço fundamental para a construção de laços de solidariedade, ancorados nas tradições socioculturais comuns ou de proximidade. Coisas que pude presenciar…
Com a experiência dos brancos gwetas da astucia dos rufias, da rusticidade dos matutos ou mamelucos tornando-os pardos com a superstição dos africanos de N´Gola e Minas. Casos houve, de serem locais de excelência para esconderijos a perseguidos da justiça, ladrões, estropadores, marginais na generalidade e gente vivendo de expedientes, namoricos de horas altas com proxenetas e profissionais na arte antiga do sexo.
Neste período Imperial brasileiro, sobretudo a partir de 1870 e, quando os sinais de mudança no universo do trabalho já despontava na sociedade brasileira. Os cortiços seriam seriamente condenados com a prática republicana. Hoje, que estamos no fim do primeiro quarto do século XXI, ano de 2023, existem os mesmos problemas mas mais agravados pelas técnicas de Inteligência Artificial com a luta permanente pela segurança.
Pelo uso de celulares que nos dizem por onde andar, do conhecimento ao segundo do lugar, do semblante reflectido no ecrã, leitura labial, das rugas analogicamente decifradas da pessoa, algures em um dissimulado ponto do Globo, da colagem em algures, nossa etiqueta de ADN digital. Bem!
Mas e, nos cortiços com abastança ou carência de notícias há união e fraternidade na dose certa, uma característica quase única no mundo; em nenhum outro lado pude verificar esta postura, um facto da razão porque ninguém se esquece desse viver, daqueles aromas tão próprios. Pois existem hoje os problemas com abuso e, que levam a existir técnicas especiais de propaganda política com ou sem a actuação policial…
Por vezes, vivenciamos pela televisão acções filtradas de agentes de alto coturno virando a controvérsia no uso da dialéctica nas “rebaldarias” que confundem as gentes que votam, sem saber se há mesmo um ministério da verdade que prolifera mentiras e um ministério da paz que mostra filas de carros armados, helicópteros com infravermelhos e até com misseis de sofisticadas estruturas para furar o aço e as quatro ou mais linhas constitucionais.
Gente do crime, gente da droga, estados de narcotráfico, caminhos livres, soltura de uns maus e prisão duns bons, putaria e pacotes de cheiro forte que viciam; muito dinheiro a correr com apostas oficiais no jogo do bicho, mentirosos cartões amarelos a jogadores que alteram as sortes e azar num jogo que ainda não existiam no tempo em que Aluízio de Azevedo de São Luís do Maranhão descreveu em seu livro, com este nome abelhudo. As coisas agora estão tão mal que só podem ficar pior… Faz parte da Guerra Global – Um Deusnosacuda, assim mesmo, tudojunto.
FIM
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “SONHAJANDO A VIDA”
Crónica 3371 – 18.04.2023 - PAJUÇARA - Em Maceió como Zelador-Mor do Zumbi de N´Gola…
PorT´Chingange (Otchingandji) – No San Lorenzo da Ponta Verde.
Li recentemente algures, que os estados independentes no mundo andavam espantosamente desinteressados da guerra. E, que com poucas excepções, desde fins de 1945, que os estados já não invadiam outros estados para os conquistar e engolir. Pude ler a teoria de que após formação dos impérios, a maior parte dos soberanos e das populações, esperavam de que as coisas ficassem assim. Vasculhando a história, já não haveria lugar para campanhas de conquista como as dos Romanos, dos Mongóis ou dos Otomanos não podendo ocorrer nos dias de hoje e, em qualquer parte do globo.
Mais se afirmava que desde 1945, há quase 78 anos, ano de meu nacimento, nenhum país independente e reconhecido pela ONU, tinha sido conquistado e arrasado do mapa. Com o raciocínio desejável, lembro que nos meus tempos de estudante dizia-se que a lógica era uma batata e, foi com essa dúvida que fiz um rádio galena a partir de uma batata cortada ao meio, uns quantos fios e uns auscultadores e um condensador. E, deu música!
O certo é que a batata forneceu energia enviando para o espaço ondas electromagnéticas dessa suposta lógica. Tudo se aperfeiçoou no tempo e com tal velocidade que este embrião de galena parece até estar a anos-luz da realidade. E, o impossível aconteceu no meio da apatia generalizada ver a Rússia da Ex-URSS invadir e tomar vários países já independentes dos quais o último, a Ucrânia a 24 de Fevereiro do ano 2022.
Estou a tentar encasquilhar refutações sofísticas que dependem da linguagem usada, que podemos chamar de "sofismas linguísticos" ou refutações sofísticas que não dependem da linguagem extralinguística (palavrório) usadas por líderes de países de cariz esquerdista dos quais uma grande parte nem é democrática, nem foram escolhidos por seu povo.
Nem foram escolhidos por seu povo - usurparam, simplesmente! Isso sim e, de formas variadas omaram o poder e, aos quais se junta agora o pseudo Estadista Lula que nem sabe que uma batata pode dar musica. Para além da Crimeia, Moscovo declara que as regiões ucranianas de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, em grande parte ou parcialmente ocupadas por forças russas invasoras ou apoiadas pela Rússia e, que fazem parte da Ucrânia. E, tudo se fez com um suposto referendo à velocidade da luz. E, como são mentirosos! “As pessoas fizeram sua escolha clara”, disse Putin, numa sexta-feira. Podia até ser numa oitava-feira. “A escolha das pessoas para fazer parte da Rússia está predicada na história”, acrescentou o dito cujo.
Os votos nos referendos são ilegais sob a lei internacional e foram rejeitados pela Ucrânia e nações Ocidentais como “uma farsa”. E agora, Lula junta-se a Daniel Ortega, Maduro e Evo Morales entre outros que nem sabem como fazer musica com uma batata. E, imaginem até, querer inventar uma outra ONU, porque esta já está desbotada, kiákiíkiá! Mas que grande pancada! Desde quando é que este personagem de só se ter respeito institucional, se julga estadista se, se nem sabe que de uma batata pode sair musica…
Putin altera o destino de milhões nestes falsos novos países. Lealdade a Kiev ou a Moscovo, colaborar ou resistir: para os habitantes locais, uma escolha dramática. E, não é que o ditador Putin diz: "Para mim o importante, não são fronteiras e territórios estatais, mas o destino dos seres humanos." Quanta hipocrisia minha nossa senhora do Parto. Pois foi o que Vladimir Putin, disse a uma entrevista ao jornal alemão Bild, em Janeiro de 2016. Na época, tratava-se da anexação da península da Crimeia. Na época todo o mundo meteu a viola no saco ocasionando a invasão a Ucrânia quatro anos depois…
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL – QUEM ERAM OS AFRICANOS
4ª Parte - Crónica 3370 - N´Guzu é força (Kimbundo) – 17.04.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Neste povo Banto dos Congo-Angola, para além da proximidade de línguas ou dialectos tendo o N´Zambi (Deus) como aglutinador comum, a comunicação entre eles, era assim, facilitada. O catolicismo deles por via da missionação, para muitos estudiosos é a consolidação cosmológica, estando na origem nas formas de religiosidade afro-carioca, especialmente a da Umbanda. A diversidade das várias “Nações” presentes no Rio de Janeiro, era rotineira para todos os que visitaram o Brasil nesse então e, principalmente o Rio, tendo fascinado a literatura e a iconografia produzidas pelos viajantes vindos de fora.
A partir da efectiva interrupção do tráfico, a percepção social das diferenças entre os escravos naturais de África se reduziu consideravelmente, resultando numa divisão de entre escravos crioulos e de nação, sem qualquer especificação. Os escravos resgatados de navios negreiros viriam a ser conhecidos apenas como africanos livres. Assim, a categoria de Africanos seria entendida como uma identidade comum aos diferentes povos de África subsariana, construída no século XIX. Todo o envolvente a esta temática difundiu nas teorias sociais a doutrina cientifica reforçando o interesse etnográfico sobre o Continente Negro.
Foi desta disseminação de gente de tez negra para as américas, que originou a grande diáspora alterando os conceitos de raça por via de miscigenação. Na escola básica, aprendi que no Mundo havia quatro principais raças, a branca, a negra, a amarela e a vermelha. Os sociólogos perante esta realidade, tiveram muita dificuldade em estabelecer padrões na sua classificação e, muito rápidamente o conceito de raça humanizou-se simplesmente na correta definição de Raça Humana; por vias tortas, fica evidente nesta questão a chamada globalização, com a forte participação portuguesa.
Nestes reveses da história tão despendurada, o conceito de gente em raça Humana teve seu inicio neste episódio trágico que uniu para sempre Angola, Portugal e Brasil tendo este, ficado com a fatia mais nutrida. Curiosamente no início de comercialização o dinheiro eram conchas com o nome de zimbos (n´jimbus); pequenas conchas, propriedade do rei do Congo que apareciam por toda a costa de N´Gola mas com os mais belos exemplares colhidos na ilha da Mazenga de Loanda. Eram os m´bikas (cipaios) às ordens dos chefes m´fumos que recolhiam esses tesouros. Mergulhavam na contracosta da ilha retirando-os por meio do arrastamento com cestos estreitos e compridos chamados “cofos”.
Hoje, o Mundo deve olhar a este estágio de vida com a alegre tristeza que a história carregou nas consciências vindouras, como já foi dito, por linhas demasiado tortuosas. Também eu entre milhares de gentes, sofremos na pele o término da descolonização ficando de um para o outro dia sem casa, sem emprego, sem vontade de reiniciar vidas em outras latitudes, das quais o Brasil. As coisas da política, quando ficam ruins, a partir daí só podem melhorar, só que muitos ficaram no caminho sem a necessária força para vingar a vida. Foi a 11 de Novembro de 1975 que os políticos determinaram que os brancos ficassem também com suas vidas negras. Não teria de ser assim mas tudo desaconteceu com a oferta de um voo de Luualix sem volta…
No correr do tempo do comércio com mercadores negreiros foram surgindo outros meios de permuta das chamadas “peças” tais como o sal, a cera, o cobre, os panos ou libongos, marfim, mel silvestre, as cruzetas e outros escravos saídos das guerras entre tribos. Mas, sabe-se por ensaios numismáticos-arqueológicos que entre Monomotapa e o Catanga corriam entre as classes dominantes desta região uns lingotes de cobre com o nome de HANDA, (ref.ª de Octávio de Oliveira na revista Notícia do ano de 1966).
Recapitulando: Angola, foi uma das grandes fontes emissoras de comércio de escravos desde o século XV até o terceiro quarto do século XIX. No domingo de 13 de Maio de 1888, dia comemorativo do nascimento de D. João VI, foi assinada por sua bisneta Dona Isabel, e Rodrigo Augusto da Silva a lei que aboliu a escravatura no Brasil. Só neste então é que Porto Galinhas do Brasil deixou de receber oficialmente escravos idos de áfrica. Mas, havia fugas ao regulamentado. Ainda por alguns anos e até fins do século XIX chegavam “peças humanas” de contrabando.
O Brasil foi o último país independente do continente americano a abolir completamente a escravatura. O último país do mundo a abolir a escravidão foi a Mauritânia, somente a 9 de Novembro de 1981, pelo decreto n.º 81.234. Libongo foi o nome que veio a ser dado em kimbundo ao “paninho” tecido originário do Loango ou palmeira-bordão, semelhante ao “paninho do congo” ou likutu que circulou como moeda no princípio do século XVII; acrescente-se que é palavra do kimbundo calunda lu m´bongu,”moeda – m´bonge”. Um libongo valia 5 réis em 1695. O libongos de N´Gola dividiam-se em “bongós, sangos e infulas” enquanto os do Kongo eram chamados de “panos lim´kundis. Os panos conhecidos por sambu ou nollolevieri, tinham a condição de objecto-moeda e serviam apenas para vestir os nobres africanos. Há coisas verdadeiras que contadas, sempre vão parecer ser mentiras…
Fim
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “SONHAJANDO A VIDA”
Crónica 3366 – 13.04.2023 - PAJUÇARA - Em Maceió como Zelador-Mor do Zumbi de N´Gola…
PorT´Chingange (Otchingandji) – No San Lorenzo da Ponta Verde.
Remexendo-me na água ligeiramente agitada da Pajuçara de Alagoas do Brasil, ia pensando em terras longínquas do Calahári da Namíbia que visitei por várias vezes e, aonde pude ver árvores mortas, petrificadas há 900 anos; muitas, ainda de pé. Foi a norte e em lugres chamados de Khoixas, Kamanjas e Otjo no Deadvlei. A Sul vi dunas gigantes no Park Naukluft de Sossusvlei. O clima ali é tão seco que aquelas árvores não puderam decompor-se normalmente, petrificando-se coisa difícil de entender. O contraste do céu azul com as dunas vermelhas renderam-me belas fotos - foi um registo de imagem para nunca mais esquecer. O curioso é o de que algumas árvores, continuam inteiras, como esqueletos retorcidos, sem folhas. O nome Deadvlei significa “pântano morto” e remete à época em que esta área, era um lugar fértil banhado pelo rio Tsauchab.
Uma mudança brusca de clima secou a área e, as dunas cresceram bloqueando a passagem do rio - um território de outro planeta. Deadvlei tem um solo composto de sal e argila branca e é rodeada por grandes dunas de cor avermelhada – tão altas que estão entre as maiores do mundo. Uma delas tem 325 metros de altura. Eu levei quase uma manhã para subir a duna da milha 45. A cor avermelhada vem da areia, que é composta de óxido de ferro e tem cerca de 5 milhões de anos, segundo estimativas. Mesmo no cacimbo (tempo frio), o clima é tão extremamente quente, que se recomenda aos turistas levarem no mínimo dois litros de água por pessoa, além de ter de usar protector solar, chapéu, óculos de sol e blusa com manga comprida. Aqui e agora, o vento surge no momento em que o pescador de nome Ambrósio lança as duas redes na água da piscina natural da Pajuçara.
Ambrósio espeta um pau na areia quando já está com a água pelo peito e depois vai dispondo a rede com as bóias brancas flutuando e assim dispõe-na por completo numa longitude de talvez uns vinte e cinco metros. Depois repete a mesma tarefa com a outra e em seguida bate a água agitando as duas mãos para assustar peixes que surjam por ali e, de modo a que fiquem presos na rede. O resultado para mim que observo é de defraudar vontades, pois nestes últimos dias só o vi apanhar uns poucos vermelhos, uns peixes parecidos com o cachucho.
Uma vez que recordei séculos lá para trás no tempo, recordo também que depois do homo sapiens e da morte de animais gigantes no tempo dos mamutes e dinossauros, das viagens dos vikings em barcos de papiro amarrado dum certo jeito e outros edecéteras, que foram os portugueses, os primeiros a chegar à Austrália. Segundo o historiador e filólogo Carl von Brandenstein, os portugueses teriam naufragado no noroeste da Austrália Ocidental, perto da ilha de Depuch, entre 1511 e 1520, tendo sido os primeiros europeus a tocar a Austrália, de onde não puderam sair.
A história refere como responsável oficial na descoberta da Austrália na visão da Coroa do Reino Unido, que no dia 21 de Agosto de 1770 o Capitão James Cook chegou a Nova Gales do Sul – nome que atribuiu àquele vasto território mas, novos achados vieram demonstrar que os portugueses já ali tinham chegado bem mais de duzentos anos antes. Porém, e sem contar com a colonização aborígene verificada há cerca de 40 000 anos, a viagem do Capitão Cook foi apenas o corolário de várias expedições exploratórias aos mares do Sul em busca do mítico continente do Sul.
Nestas viagens, a Austrália teria sido visitada, segundo alguns investigadores, por portugueses. Assim refere-se que no ano de 1522, Cristóvão de Mendonça e cinco anos depois, em 1525 Gomes de Sequeira ali aportaram deixando canhões que o tempo enterrou na areia – canhões que tinham as datas bem conservadas. Assim, o primeiro contacto europeu com o continente do Sul teria sido efectuado por navegadores portugueses, embora não haja referências a esta viagem ou viagens nos arquivos históricos de Portugal. É sabido que naquele tempo havia segredos e coisas de diplomacia que nem podiam ser referidas em documentos devido ao trato com o Reino de Castilha.
Sempre estava em causa o tal Tratado de Tordesilhas que definia latitudes a serem respeitadas. Foi nesse tempo que o mundo ficou dividido entre Espanhóis de Castilha e Portugal – Isto, quando tudo era reconhecido pelos vários Papas que definiam o que era deste ou daquele. Por isso o Tratado de Tordesilhas foi alterado por várias vezes! A principal evidência para aquelas visitas Tugas não declaradas, foi a descoberta de dois canhões portugueses afundados ao largo da baía de Broome na costa noroeste da Austrália. A tipologia dessas peças de artilharia indica serem de fabricação portuguesa, podendo ser datadas entre os anos de 1475 e 1525.
É o historiador australiano Peter Trickett que afirma que duas expedições portuguesas realizadas nos mares da Indonésia no primeiro quartel do século XVI teriam chegado ao território australiano: a expedição do referido Cristóvão de Mendonça a partir de Malaca para o sul em busca das "ilhas de ouro" (1522), mas e, sobretudo a de Gomes de Sequeira em 1525 que supostamente teria atingido a Península de York. Para reforçar esta tese evoca-se o estabelecimento pelos portugueses em 1516 de um entreposto comercial em Timor, que fica a cerca de 500 quilómetros da Austrália. Acredito que assim tenha sido…
Notas: *Sonhajando: Viajar com sonhos.
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL – QUEM ERAM OS AFRICANOS
2ª Parte - Crónica 3365 - N´Guzu é força (Kimbundo) – 12.04.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Em tempo de Brasil Monárquico, em São Paulo de Assunção de Loanda, capital da Colónia de N´Gola em África, senhoras brancas com guarda-sóis rendados, eram seguidas por candengues mocambos carregando bikwatas. Os moços de recados avultavam seus paletós de zuarte pardo manchados nas espáduas e nos sovacos por grandes manchas de catinga. No Maculussu os negreiros passavam em revista os candengues escravos que ali estavam para serem levados às instalações da Dona Ana nas Portas do Mar.
No período de finais do século XVIII, o tráfico de escravos entre o porto de Salvador da Bahia e o golfo de Benim, ficou multiplicado por via de guerras entre reinos de africanos que lançariam sobre Salvador e seu Recôncavo, levas de novos escravos chamados de nagôs. Em sua maioria eram homens jovens que tinham ficado prisioneiros de guerra de uma das forças tribais. Era habitual as tribos estarem sempre em escaramuças numa forma de poder e os perdedores ficavam por norma escravos da tribo ganhadora.
O Golfo de Benim em África foi sacudido pela jihad islâmica do Xeique Usman Dan Fodio, fundador do califado de Sokoto. Se no século XVIII o tráfico entre a Bahia e o Daomé trazia para o Brasil principalmente os falantes de dialectos jejes oriundos de áreas circundantes ao reino de Daomé, actual Benim, a partir do mesmo século, por via de guerras religiosas, predominariam escravos do país Hauçá, gente islamizada nas primeiras décadas do século XIX, da região de Oyo, norte da actual Nigéria, falantes Iorubá e, conhecidos na Bahia como nagôs.
Situando-nos em Loanda, fonte exportadora de escravos do Congo e da Matamba, deslocando-nos para a baia atlântica, em frente à Alfândega, observamos uma zona com gente a correr de manhã à noite; um porto de embarque de escravos - um local histórico aonde podia acontecer toda e qualquer revolta. Quando embarcava, “o escravo, não sabia para onde ia - ia para a Kalunga”. O infinito feito mar iemanjá, como se diz no Brasil e, que em Angola é kalunga. Pois! Havia ali, revoltas e suicídios; posso imaginar os kazumbis de desespero. Alguns, que morriam no cativeiro, eram lançados para lá da lagoa do Kinaxixe aonde as hienas e leões faziam repasto, quando não soterrados pelos companheiros…
Na Bahia houve um período de insurreição importada pela jihad iniciada em África. Ficou conhecido como o Levante dos Malês de características terroristas e que também se foi expandindo para as roças de café em áreas adstritas ao Rio de Janeiro. Muitos dos escravos Malês de Salvador, após a insurreição com repressão, foram vendidos para Rio de janeiro. Os libertos e fujões também para ali foram refugiando-se da repressão. Foi nesta altura que estes africanos passaram a ser identificados como os demais com o nome de pretos-minas.
Esta denominação já o era comum aonde predominavam os escravos oriundos da região do Congo-Angola; portanto no século XIX os pretos-minas do Rio, eram maioritariamente saídos da Bahia, por vezes islamizados e falando Iombá. Os relatórios policiais do Rio de janeiro era de terror descrevendo desta forma as revoltas oriundas dos pretos-minas e, durante a primeira metade do século XIX houve forte participação de escravos alforriados dando origem ao movimento migratório de retorno às áfricas e, estando na base dos primeiros casos de candomblé.
Paulatinamente e, por ser duramente perseguido, o islamismo e suas práticas de jihad acabaram por ser extintas no Brasil originando muitas mortes e, já bem nos finais do século XIX. A maioria dos escravos na cidade do Rio de Janeiro principalmente nas áreas cafeeiras do vale da Paraíba, chegaram ao Brasil pelos portos de África Centro-Ocidental de Moçambique; eram jovens de aldeias do interior que a propósito foram atacados pelos traficantes negreiros.
Esta estirpe de nova gente, concentraram-se em quatro grandes grupos linguísticos a saber: Os bakongos do norte exportados pelo sistema de tráfico do rio N´Zaire; os Bundus da Angola Central, região Umbunda com inclusão da população do Vale do Rio Kwanza; os de fala kimbundo exportados a partir de Loanda e Ambriz; Os Lundas Tchokwes do leste de Angola, comercializados pelo centro de tráfico negreiro de Cassange para Loanda mais os Ovibundos e n´Ganguelas do Sul, vendidos em Benguela.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NA PAJUÇARA COM ANDREY BLAZHE Biólogo da Bulgária – DA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA
- Depois da chuva veio um calor do caraças - Crónica com ficção *3364 – 25ª de Várias Partes com ***FK – 11.04.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) no Mukifo de San Lorenzo
Depois do aprazado com o búlgaro Blazhe no estritamente necessário, este loiro de olho azul com um sotaque cantado bem ao jeito do Nordeste, largava um rasto carregado de erres dando notas altas aos sons vodkaianos por hábito antigo de seu palato, acho. De salientar um enfase bem institucional no trato com a minha pessoa e uma certa contensão na forma de dizer seu recado; fazia muitas paragens matutadas como que não querendo cair em deslize de desentendimento, frisando por mais que uma vez haver pressa no processo de execução – ordens do Comendador FK, referia ele… Tive sim de o tranquilizar afirmando não descurar o assunto, diligenciando o mais rápido possível nos trâmites de suficiência.
Deixei passar o tempo suficiente para fazer uma boa reflexão a fim de ter pleno sucesso nessa tarefa diplomática de abrir uma sucursal da Fundação de Zumbi de N´Gola, bem no coração da nação Ovibundo, reino dos Bailundos, terras do rei de Ekuikui com sede na cidade da Caála ande também fui feliz em outro tempo. Arrumando meus cacifos de memória achei até bem interessante levar este espírito de letras e valores que pautam a Fundação mais álem. Neste meio tempo recordei: Mas, quem é o povo Ovibundo
Repito em recordo: -São os Bailundos (va-mbalundu), os Biés (va-vihé), os Uambos (va-wambu), os Galanguis (va-ngalangui), os Quibulos (va-kimbulu), os Andulos (va-ndulu), os Quingolos (va-kingolo), os Kalukembes (va-kaluquembe), os Sambos (va-sambu),os Ekeketes (va-ekekete), os Cacondas (va-kakonda), os Quitatos (va-kitatu), os Seles (va-sele), os Ambuis (va-mbui), os Hanhas (va-hanha), os Gandas (va-nganda),os Chicumas (va-chikuma), os Dombes (va-dombe) e dos Lumbos (va-lumbu).
E porque já em tempos disse de quem pensa que sabe tudo, um dia vem a saber mais um pouco! De novo o digo. E, para não ficar só no espírito, de novo volto à carga com a estória que me liga a uma felicidade estrangulada. Foi assim que arrumando meus cacifos de memória, achei ser justo neste espírito de letras e valores, passado que é meio século pós o ano de setentaecinco retroceder aos itens de dignidade. Achei por bem e antes de dar ajuste a qualquer diligência aconselhar-me a um velho amigo de nome Alcides Sakala, um homem coarctado pela sorte de estar no topo de vida depois de tanta dedicação com sofrimento, comendo até em alguns momentos e para sobreviver, cascas de mandioca.
Perante esta seriedade de ampla fidelidade consultei-o pela rede de canal secreto usando tecnologia de ondas moduladas friccionando curtas e, num aleluia de páscoa com anuência de pirilampos de inteligência artificial, após ter exposto tal assunto recebi a total abertura para assim, interceder nos possíveis corredores do poder: Abertamente e sem titubear ficou decidido em abrir a mente de alguns dos actuais administrativos com algum poder de influencia. Claramente, Sakala foi adiantando ser uma tarefa árdua e, num momento pautado pelo medo, de ninguém confiar em alguém e todos, todos andarem calcando o chão a medo para se não enlodarem.
Sakala, aconselhou-me a escolher um conjunto de pessoas que fossem entendidos nas vertentes de conhecimentos sociais e saúde, empresariais e infraestruturas, um economista, um técnico especialista de inteligência artificial e um bom comunicador para servir de porta-voz do grupo e, ter em conta concentrar neste toda a informação a ser difundida ao exterior da Fundação. E, foi assim pensando que escolhi pessoas à altura para secretariar uma organização sombra com características de ONG e segundo principios já bem balizados a partir da organização embrionária da Jamba e, segundo principios básicos lançados pelo líder Mwata Jonas Savimbi, o prócere a encimar o Mural da Pátria algures em nobre lugar e nesta distinta Fundação de Zumbi de N´gola.
Assim sendo e sem entrar em detalhes curriculares, optei pelos nomes desconhecidos do grande público, enumerando-os por uma questão orgânica:1- M´Fumo Manhanga; 2- Jeremias Cachiungo; 3- Conde do Grafanil; 4- Paulo Quipeio; 5- Benjamim Liwanhuca. Por enquanto preservo-me ao silencia até formatar no tempo a hierarquia segundo as competências e grau de fidelidade. Ter em conta que um esboço desta ficção de futuro foi segundo os canais próprios, dado conhecimento ao verdadeiro Presidente da Republica, Adalberto da Costa Júnior, que nada adiantou. Nada disse por via de não haver perturbações num edifício chamado de País, já de si tão debilitado e tão cheio de aduladores de incompetência…
Nesta função de Zelador-Mor da Fundação de Zumbi de N´Gola sito em Morro dos Macacos bem perto da Palmeira dos Índios do Brasil, contornando medrosas angústias, febres palustres antigas curas a Kamokina ou Resokina naquela terra do outro lado do Atlântico, recordando a água estraganada, jacarés do Panguila ou do Cunene, com esforços na consolidação dum país que não pode ser nosso por via de coisas merdosas, continuo feito pedra parideira estalando estórias sonhajadas (viagens de sonho), só misturadas com os idos prescritos estadistas de túji que a morte fez o favor de calar nas já emudecidas cabeças de gente acomodada do M´Puto…
(Continua… 26ª Parte…)
Notas: *Esta é uma estória inventada só no que concerne às mentiras… **kalundu – É uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza; *** FK – Fala Kalado
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – *SONHAJANDO A VIDA*
Crónica 3361 – 05.04.2023 - PAJUÇARA - Em Maceió como Zelador-Mor do Zumbi de N´Gola, feito *Kalundu
Por T´Chingange (Otchingandji) – No San Lorenzo da ponta Verde.
Kuncamano! Um senhor muito assenhorado, com ar de muito fidalgura, direitinho que nem um fuso, como diria minha mãe Arminda Lopes, passo curto, cadenciando largura com sapatos ***quedes xispeteó almofadado de material anatómico nuclear, com notória competência, ia compenetradamente largando peidos a granel pela praia meio deserta da Pajuçara. Até que poderia dizer que eram traques bufados no descuido mas não, eram mesmo rajadas de genuínos peidos. Desculpem falar assim tão no directamente mas há coisas que não podem ficar entorpecidas no dizer subjacente.
Conspurcando a areia lavada por nosso Senhor da Maré Seca, moldava no ar suas sonoridades ao ponto de até meu amigo cirí caranguejo, de olhos relampejantes levou até eles, duas das patas para desentupir a poeira nuclear; talvez tenha as orelhas junto dos olhos pois que de arctópodes, pouco ou nada entendo. Apeteceu-me falar alto no jeito de exclamação: É carapau! Mas, poderia a rajada apimentada de jindungo ficar virada no vento feita Putin e tornar-se numa guerra de assim só permanecida num parasempre. Isso! Só no riso mas, num ái jesus de cruz credo, pois que fiquei só mesmo atordoado de calado.
Ele, há coisas! Até porque nem sei se o cara tinha seu tubo catalisador preparado para enfrentar calamidades naturais, conflitos e coisas esdruxulas sem olhar ao próximo ou sufragado à descompressão demográfica dos gases de estufa nauseabundos. Enfim, um verdadeiro líder carismático conduzindo sua vida de peidão. Mas virando um pouco a página, sabe-se que ao longo dos séculos sempre se migou de um para outro lado por periclitãncias da normal vida ou para exteriorizar excentricidades; assim o homem foi recolhendo muitos conhecimentos sem nunca ninguém intentar entrar m dialogo com um cirí.
:::::4
Isso! Entrar em falas com um cirí e, por forma a saber dessa sua tecnologia de sobrevivência, seja no lodo, seja na areia branca, ou numa praia muito cheia de burgau, andando na marcha-à-ré da infelicidade todo o santificado tempo de aleluia. Penso seriamente domesticar este caranguejo cirí, acomodá-lo num espaço próprio e assim tê-lo como companhia na hora de ouvir o noticiário nobre, televisivo das agruras, saber de todos os acidentes e outras calamidades, até sentir o que haverá de prazer em todos os dias pregarem Cristo numa cruz de pau de oliveira.
E, descrever as minucias dos pregos artesanais com quinze centímetros de comprimento, do tempo da Maria Cachucha e Maria madalena, sua prima, feitos à mão no propósito de furaram carne e ossos de nosso Guia; material de ferro malhado, sei lá quantas vezes, e endurecido em óleo de manjerico, só para massacrar-nos com calos nos sentimentos, os nervos dos artelhos e demais adjacências laterais e circunscritas. Alimentar até procissões com troncos de esferovite ou isopor a fingir de pesados para dar de novo uma imagem das escadas do Calvário. É de uma crueldade atroz recordar a morte de quem nos quis dar vida – assim diz a Bíblia! E, repetem isto vezes sem conta…
Voltando ao cirí, lembro os animistas que acreditam que não existe qualquer barreira entre os humanos e os demais seres; que todos podem comunicar directamente através da fala, dos gestos, do pensamento ou música, dança e até cerimónias. Quer isto dizer que pode um caçador dirigir-se a uma manada de veados e pedir que um deles se sacrifique. Bem! Não acredito nesta balela furada mas, já assisti ao choro chorado de um ****nunce, (um antílope) quando em pleno mato de Angola, uns quantos conhecidos caçadores, abateram um. Sim! Morria chorando lágrimas de verdade e isto, nunca mais o pude esquecer. Lembro-me até de pedir desculpa ao animal rogando que todos nós mudássemos atitudes perante outros seres.
O certo é o de que, cada um de nós em dado momento, fica encravado nas crenças ou práticas com alguma estranheza. E, por isso quero cada vez mais conciliar-me com o mundo através do cirí e saber a partir dele, quando vai chover chuva molhada ou quando vai acontecer um terremoto, entre outros edecéteras que até ainda desconhecemos. As mudanças poderão até ser turbulentas com controvérsia no todo e em eventuais reformas com revoluções do foro constitucional.
Em tudo o dito temos a existência de provas de como já ouve um entendimento no passado por recolha em artefactos e pinturas rupestres. Chegados aqui, em uma altura de tanta polémica sobre como manter o nosso género e coisas chocantes sujeitas ao desentendimento de uns e libertinagem de outros. Numa altura de tanta tendência pedófila polémica com padres a serem indicados como executores de práticas sexuais indevidas no seio da igreja católica apostólica ocorre-me perguntar: Então, qual o porquê dum padre, não se poder casar! Por enquanto nem me atrevo a dirigir-me ao Papa mas, irei perguntar sim ao Mr. Google…
Notas: *Sonhajando: Viajar com sonhos; **kalundu – É uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza; ***Quedes: sapatos de lona; ****Animista: uma construção antropológica usada para identificar traços comuns de espiritualidade entre diferentes sistemas de crenças com gente e outros animais;****Nunce (em Angola - Redunca arundinum), é um animal herbívoro; mede de 90 a 95 cm de altura e pesa cerca de 70 quilos. Os machos apresentam chifres pretos que medem aproximadamente 20 centímetros.
O Soba T´Chingange
O Mundo actual tornou-se um espaço muito complicado. A justiça, é uma treta…
Crónica 3354 - a 10.03.2023.
Por T'Chingange (Otchingandji) no AlGharb do M´Puto
Os cidadãos hodiernos são fartos de valores; o difícil é a aplicação desses valores num mundo globalizado complexo. Mesmo que fique quietinho no meu canto sempre haverá um socialista muito perfumado em valores a perturbar a minha quietude, retirando cotação à minha tranquila vida, sem ter nada a ver com essa tal de exploração infantil, ou actos violentos cometidos por soldados do tempo colonial.
Os defensores dos direitos dos animais lembrar-me-ão que dar ossos ao cão pode ser perigoso, bem como dar espinhas de sardinha ou sargo ao tareco, porque podem causar ulceras; os naturalistas irão insistir com persistência que devo lavar os dentes com seiva filtrada de aloé vera feita baba-de-camelo e por aí vaí, sem mencionar as lambisgóias oferecidas que surgem do nada na minha página escancaradas a oferecerem alvissaras – Cruzes credo!
Os activistas de esquerda lembrar-me-ão que minha reforma foi criada a custo de exploração de alguém e sem mais nem menos, lembrarão a exploração de gente desmilinguida com crimes hediondos da História incluindo-me no rol de engravidados de fortuna arregimentada no exercício de cargos, cargos dum tal de sistema que nunca exerci. E, afinal que culpa terei eu? Não é fácil desfazer o conceito pois que minha existência depende de uma grande rede de ligações económicas e politicas nas ideias causais com ideais que outros formataram por mim, mesmo sem delegação firmada .
E, uma vez que essas ideias causais do mundo se misturam tanto, é-me difícil responder às perguntas simples, tais como de onde veio o meu jantar ou de quem fez as minhas botas que tenho calçadas. Também se metem com a minha minguada aposentação querendo saber qual o fundo financeiro e a cor dele, do meu pecúlio. Já velho, pois quase sou do tempo em que as pessoas só tinham um fundo de pensões chamado de “filhos”, dá voltas ao cerebelo. Hoje que há escritórios repletos de advogados conciliando os cofres do estado estudam parâmetros, redescobrem furos da lei e modos de fanar, de como fazer no esmiuçar matemático das taxas para suprirem suas necessidades governamentais, uns finórios…
Esmiuçando um tal e um qual, até querem saber qual o destino das galinhas de cujos ovos comi ontem ao jantar. Estruturam o esquema da economia estatal do modo de quem não faz esforço de investigar o quanto gastei na chocadeira sem averiguar as reais dificuldades. Depois de tudo só poderei ter alguma ganho se criar aos fiscais as certas dificuldades em descobrirem a verdade. Penetram na minha casa ajustando-a e dando fins ao modo de como posso explorá-la a contento dos “lóbis hoteleiros” como se o fossem, donos dela! Estalinistas!
E, então como é possível evitar o roubo ou lucro quando o sistema nacional tabelado com a economia mundial, estar constantemente a roubar em meu nome e sem o meu conhecimento. Como é!? O mandamento que nos dita que não devo roubar, dizem que vindo de Deus, acredito piamente, foi formatado num tempo em que roubar significava apoderarmo-nos fisicamente de algo que não nos pertencia. Hoje, porem, as discussões importantes sobre os roubos dizem respeito a cenários bem diferentes pois que com chancela do governo retiram de nosso pecúlio somando milhões para dar vida a uma CP – Comboio de Portugal ou de uma TAP – Transportes Aéreos de Portugal, mantendo legiões de advogados ajustados com políticos dados à corruptela para protegerem os deslizes.
Posso então ser eu o responsável pelo roubo, pelo desvio, pelo despifarrar, corruptela ou compadrio!? E, como podemos agir moralmente, com sucesso e sem custos, se não temos forma de conhecer todos os factos de traquinices?
A amarga verdade é a de que o mundo se tornou demasiado complicado para o nosso cérebro de cidadão, gente de pé-de-chinelo. E, afinal todos seremos cúmplices por acreditarmos nos valores daqueles tais senhores, daquele grupo político, do presidente rolha, da chusma de gente com rabos-de-palha que nunca deve nada ao fisco, gente de falsa “Ficha Limpa”. Não vale a pena! A elite que nos comanda, que domina o discurso, torna-se quase impossível ignorar suas perspectivas. Eles, os grupos políticos, têm subgrupos, labirintas barreiras, critérios e ambiguidades e até insultos a nozes (plural de nós); insultos mesmo, codificados com discriminação institucional. Eles, sempre irão fazer de nozes: Totós.
O Soba T´Chingange
ENTRE OS PINGOS DA CHUVA
Crónica 3353 de 06.03.2023 no AlGharb do M´Puto
PorT´Chingange (Otchingandji)
Nos dias de hoje, como poderemos descobrir a verdade acerca do mundo e evitar cair nas garras da propaganda dos Fake News e de desinformação - notícias falsas ou informações mentirosas que são compartilhadas como se fossem reais e verdadeiras, divulgadas em contextos virtuais, especialmente em redes sociais ou em aplicativos para compartilhamento de mensagens. O termo, embora largamente usado, ainda não foi formalmente integrado à lista de palavras da Língua Portuguesa, tratando-se portanto de um estrangeirismo.
E, sempre iremos ficar com a incómoda sensação de que tudo é demais para nosso cabal conhecimento pois decerto, não iremos assimilar tudo; acho mesmo que ninguém o irá conseguir sem recorrer à inteligência artificial. A democracia, baseia-se na ideia de que o eleitor é que sabe, que o capitalismo de mercado livre considera que o cliente tem sempre razão e, que o sistema educativo ensina os alunos a pensarem pela própria cabeça.
Em verdade, é um erro depositar tanta confiança no individuo racional. Este suposto individuo pode muito bem ser uma fantasia que glorifica a autonomia e o poder dos homens de classe alta ou de suposto alto coturno. O Mundo anda frustrado e ninguém sozinho, sabe tudo o que é preciso para fazer uma catedral gótica ou romana, assim como uma bomba nuclear ou um avião supersónico.
Pude mais ou menos, ler estas dissertações nas 21 lições pra o século XXI de Yuval Harari que um caçador da idade da pedra sabia fabricar sua própria roupa, seu sapatos, fazer fogo, caçar javalis e fugir dos leões mas hoje, pensando que sabemos muito mais, como indivíduos, em realidade sabemos muito menos. Dependemos dos conhecimentos especializados dos outros no que diz respeito a quase todas as nossas necessidades.
Todos temos a ilusão de conhecimento embora individualmente saibamos muito pouco pois tratamos o conhecimento nas mentes dos outros como se fosse nosso. Numa perspectiva evolutiva, confiar no conhecimento dos outros trouxe evolução ao homem mas, e porque o Mundo está a tornar-se cada vez mais complexo, os seres humanos não conseguem compreender a extensão de sua ignorância quanto ao que se passa em seu redor, das leis de seu governo e amolgadelas em seu cofre económico com taxas subterfugias.
Por sequência, técnicos genuínos que nada sabem de metereologia ou biologia, propõem políticas sobre as alterações climáticas, advogados falam sobre os alimentos transgénicos ou genéticamente modificados, ao passo que outros, sempre classificados como especialistas, ou graduados peritos militares, têm pontos de vista muito fortes sobre o que se deve fazer no Iraque, no Irão ou na Ucrânia em guerra. É raro as pessoas (algumas), contemplarem a sua ignorância pois que se fecham numa caixa-de-ressonância de amigos que pensam como eles ou canais noticiosos que reforçam suas convicções mesmo sem o serem questionados. Alguns propalam-se no sentido de se alcandorarem a cargos mais altos no gabarito da gestão pública.
A maioria de nossos pontos de vista é moldada pelo pensamento de grupo e, não pela individualidade racional; convém dizer que também nos agarramos ao erro, narrativas ou perspectivas devido à lealdade ao grupo. Mutas vezes caímos no logro deste ou daquele personagem e, ficamos defraudados com tal figura decepcionante, gente que deveria ter o porte de estadista e sai um vulgar pé-de-chinelo com truques de cacaracá e até falsidades. A maioria dos seres humanos não gosta de factos em excesso e, certamente não gosta de se sentir estupidamente enganado.
As democracias modernas estão cheias de multidão a aplaudir e a seguir como ovelhas, gente supostamente sábia e que só diz besteira para bode dormir. E, todos repetem: “o eleitor é que sabe!”, “o eleitor é que sabe!”. Explorando becos sem saída aparente crio muitos esparadrapos de fricção de muita dúvida. Surge daqui o tédio em sempre esperar que as pequenas sementes de lucidez cresçam e floresçam. Agora, mais velho, sei que o poder em grande quantidade (muitas paletes), isso da maioria absoluta, distorce a verdade inevitavelmente e, muito repetidamente! É um Ai Jesus nos acuda. Quando temos uma marreta na mão tudo nos parece um prego. Bem! O poder engravidado funciona como um buraco negro que distorce todo o espaço ao seu redor. Para além do Acosta, o Selfito põe-me CAFUZO…
O Soba T´Chingange
NO KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
NA SEDE BAOBÁ de FALA KALADO
– NA SINGULARIDADE DOS KALUNDU***
- Crónica com ficção 3301 – 21ª de Várias Partes – 15.05.2022 – Republicação a 21.11.2022 em Lagoa do M´puto
Por T´Chingange – Em Arazede de Coimbra do M´Puto
Rosa Casado, a chefe de protocolo da Fundação Zumbi de N´Gola na sede do baobá - lugar do Imbondeiro entre União dos Palmares e o Morro da Barriga, telefonou-me para o número da secreta dando-me indicações que o senhor Brigadeiro e Porta-Voz da UNITA, Marcial Adriano N´Dachala, iria estar à minha espera no d´jango do jardim Imbondeiro. Fiquei verdadeiramente ansioso por este encontro já agendado mas sem data prévia. Há bem uns trinta e dois anos que não nos víamos; era eu nesse então, Presidente do Comité da Lagoa do M´Puto na Diáspora…
Neste agora e, desde a morte de Jonas Savimbi que Marcial N´Dachala se encontrava distante da politica activa. Reapareceu na véspera do Congresso da UNITA como director da campanha do candidato Lukamba Paulo “Gato” de quem é muito próximo. Ao longo da sua trajectória política, N´Dachala, desempenhou funções diplomáticas como representante adjunto da UNITA em Portugal, depois de ter estado no Senegal como bolseiro. Regressou ao país (Angola), na sequência dos acordos de Bicesse, tendo sido colocado como Secretario Provincial do Huambo.
É agora o brigadeiro reformado e responsável da pasta da Informação na sua função de Porta-voz do Partido do Galo Negro que, fez saber recentemente ter valido a pena ter “fé” num desfecho realista: O parecer favorável por parte do Tribunal Constitucional ao seu 13º congresso que foi, apesar do “pouco” tempo que restou para início da campanha eleitoral, a saída lógica, após tanta insensatez, embargo e procedimentos inauditos dentro do que é a lógica institucional…
Ao som de marimbas tocadas por gente ao vivo que aprendeu seu manuseamento bem á maneira de Cangandala, demos um forte abraço; abraço de manos velhos que a estória desavisou no tempo de inquietude, na perseguição e outros contratempos a que agora chamam de resiliência – um colorido de romantismo de vulgar pieguice. Mais kotas, recordamos momentos passados, reuniões frutíferas, muitas falas e, resiliências propositadas!
Recordei-lhe assim, olho no olho como auto felicitação por chegarmos até aqui com um galo de cerâmica no peito cantando nossa margem de intervenção. Eu como um Major Niassalês dentro das instâncias honoríficas, e ele, muito justamente como Brigadeiro aposentado em exercício político… de todos os itens agendados em minha cabeça, por agora só lhe fiz quatro perguntas:
P1. de T´Ching…: - Apesar de o TC se ter desmarcado de um alegado projecto de acórdão que foi posto a circular nas redes sociais, a UNITA tenciona agilizar mecanismos de fiscalização à ética deste poder?
P2. do T´Ching…: - É sabido; “aliás, a exemplo do Congresso anulado, o TC levou meses até o anotar”, salientei… Isto tem alguma normalidade?
P3. do T´Ching…: - Dá para perceber que o companheiro está um refinado diplomata com essa contenção de impulsos sem chamar o nome certo aos bois?!
P4. do T´Ching…: - Nossas intervenções irão continuar mas, eu que tenho estado vendo o panorama de longe e coadjuvado por gente precavida como Fernando Vumby aconselho prudência à nossa UNITA…! Depois desse discurso à nação por Adalberto da Costa Júnior, o brutamontes de João Lourenço, ficou muito cheio de raiva. Provavelmente vai até recorrer ao CAP =Tribunal Constitucional, para se vingar do banho que levou do ACJ...! O Indivíduo é rancoroso e vingativo...! Nada de excessos de confiança nestas instituições de Angola…! Este regime do M é capaz de tudo!
***Kalundu: - Uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza…
(A entrevista, pode continuar…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . V
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002) – Crónica 3283 de 16.04.2022 em PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicada a 30.10.2022 na Lagoa do M´puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange
Neste lugar de encantos atarraxados, na área de serviço de Cabo Ledo, as cervejas são retiradas de grandes caixas de isopor, esferovite; dessas que se usam quando vamos para o campismo mas, de maiores dimensões. É dali que retiram as verdadeiras gasosas de beber, pepsi-cola, mission, cucas e taifal ou sagres do M´Puto. Ali perto há um aquartelamento militar; foi por aqui que entraram os primeiros militares cubanos que deram formação às primeiras tropas organizadas do MPLA. E, foi Carlos Fabião, Flávio Bravo e Agostinho Neto que acordam os pormenores da participação Cubana na Operação Carlota, a que ficou conhecida como a Batalha de Luanda.
Pois foi aqui que entraram e depois saíram entre Maio e Junho nessa Operação Carlota; oficiais que por ali passaram tais como: Abelardo Colomé Ibarra, Lopes Cubas, Freitas Ramirez, Leopoldo Cintras Frias ou Romário Sotomayor. Foram estes e os jovens da Academia Militar de “Ceiba del Água” que mais tarde deram os pormenores já descritos em várias fontes. Cabo Ledo teve uma forte intervenção naquela que ficou conhecida por “a Batalha de Luanda”.
No entretanto da observância vêem-se uns quantos militares roçando as donzelas; um deles, de patente rasa vem até nós pedir uma gasosa a fim de poder ir até Luanda visitar sua namorada; treta ou não, em seguida bazou de nós indo pela certa cravar outro, indícios firmes do pouco salário que recebem. Já perto do rio Calamba, começa a ver-se newas, maboqueiros, embondeiros e cassuneiras; podem ver-se muitas destas, altas e esguias palmeiras já em fase de vida terminal -alguém esclareceu que por tanto retirarem sua seiva para fazer marufo, elas definham até à morte.
Atravessamos a Reserva da Kissama sem ter visto uma simples capota, nem tampouco um camundongo ou mesmo um dilengo (coelho). Começamos a descer para Porto Amboim, um antigo e importante porto de pesca e início da linha de comboio que trazia em tempos o café da CADA, uma empresa exportadora de café robusta. Foi ali na “Boa Lembrança” da CADA, que passei minha lua-de-mel como soe dizer-se, no ano de 1970. O sol kúkia, descia já no horizonte valorizando a ampla baía com o mesmo nome.
Neste local de muita azáfama piscatória no tempo dos Tugas, podia ainda ver-se alguma movida na arte de secar peixe, pesca da lagosta e lá mais adiante, ao dobrar do promontório e na foz do rio Cuvo as deliciosas e grandes ostras. Compramos ao Tadeu Matrindindi um saco de ráfia, daqueles usados no transporte de carvão lá no M´Puto. Custou-nos cem kwanzas ou seja o equivalente a dois €uros e vinte cêntimos. E, se havia ostras! Dias depois voltamos ali, atravessamos em uma improvisada jangada de paus de binga, amarrados com mateba, numa lagoa da foz do rio Cuvo e nós mesmos, eu, Jimba, Zito e o vizinho Candimba apanhamos mais um saco daqueles.
À medida que espetávamos o bordão no fundo, sentíamos as ostras, um rochoso crocante, depois era só mergulhar e apanhar à lagardere… Foram dias de folgadas lembranças como se ainda candengue estivesse a apanhar na Samba da Luua as mabangas para o isco a usar na apanha das mariquitas ou roncadores. O banco de calcário ostrífero era impressionantemente vasto por ali. Fazendo uma fogueira na ilha de areia daquela foz, pudemos fazer abrir aquelas deliciosas ostras, meter-lhe uma porção de sumo de limão e, depois degluti-las. A acompanhar tivemos as frias, cervejas Hanson, Heineken, Sul Africanas e a Cuca angolana.
Recordo agora o Jimba (já falecido) a apontar uma farta planície, uma imensidão de capim, as terras de seu pai e aonde cultivavam algodão em idos tempos. Agora podiam ver-se umas quantas cabeças de gado nemas bem perto de um quartel com parque militar; estafadas Urais e Ifas soviéticas usadas na guerra recém terminada - há quatro meses…
Posso agora, 47 anos depois do 75 recordar: E, foi na Praia de Sangano um pouco a norte de Cabo Ledo que desembarcaram os primeiros homens comandados pelo General Raul Diaz Arqueles. Ali descarregaram os primeiros complexos móveis de defesa antiaérea “Strela”. Os instrutores deste equipamento sofisticado, estavam a ser coordenados pelo Coronel Trofimenko que a partir da Republica do Congo Brazaville enviavam numa primeira fase, pequenos aviões para aterrizar na pequena pista de aviação da Kissama em Cabo Ledo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . IV
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças actuais de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)
– Crónica 3280 de 12.04.2022 – Republicada a 26.10,2022 na Lagoa do M´puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange – Em PortVille da Pajuçara de Maceió
A lufada de ar quente da chegada a Luanda foi há dias atrás; neste meio tempo li levemente a obra do sociólogo Paulo de Carvalho com o subtítulo desta crónica e que, só por si, revela a preocupação na mudança das coisas. O desejo de Kianda do Maurício dos Santos Pestana (Pepetela) também vem demonstrar que hoje as vivências fazem-se num confronto de ambivalência e das coisas confundidas no seio deste povo; o mesmo sol da secura e aridez que amadurece os produtos e, a chuva que tudo inunda, é a mesma que os rega.
A linguagem mitológica, a verdade das coisas é colhida entre o falso e o verdadeiro, baralhando o conceito da razão; no entretanto destas divagações de um Niassalês, que sou eu, vamos a caminho do Sumbe, (Ex Novo Redondo), lá aonde se situa o Cantinho do Inferno. Até ao Sumbe são 320 quilómetros. Passada a Samba, vem o Rocha Pinto, a Corimba, o Benfica, o Futungo, os Morros dos Veados e da Cruz. Aqui, a capela foi promovida a Museu da História da Escravatura.
Em verdade, a criação deste Museu tem razão de o ser pois que foi dali, pertença do reino de N´Gola que saíram milhares de escravos para o Brasil. Chegados aqui, que fique claro que quando o Diogo Cam chegou à foz do rio Kongo surpreendeu-se com a prática dos indígenas comercializarem as suas gentes; usavam os prisioneiros de outras tribos, das guerras constantes que mantiam entre si, transaccionando-os como uma qualquer mercadoria.
Esta prática usada entre as muitas tribos em África e particularmente em Angola, veio a calhar para colmatar a falta de mão-de-obra para nas muitas culturas em expansão no grande território do Brasil; os engenhos da cana-de-açúcar estavam carentes de gente no seu trato, no amanho das longas extensões de terras como o café, algodão ou cacau. A partir daqui surgiram empresários negreiros que sem controlo, fizeram fortunas tratando as gentes oriundas de várias partes, ocasionando riquezas desmedidas de agentes em Angola e Brasil. A palavra infortúnio ainda não estava inventada…
Foi esta disseminação de gente de tez negra para as américas que originou a grande diáspora alterando os conceitos de raça por via normal de miscigenação. Na escola básica, aprendi que no Mundo havia quatro principais raças, a branca, a negra, a amarela e a vermelha. Os sociólogos tiveram muita dificuldade em estabelecer padrões na sua classificação e, muito rápidamente o conceito de raça humanizou-se simplesmente em raça humana; nesta questão fica bem evidente a globalização com a forte participação portuguesa.
Continuando a viagem, usando a visível marcação do meio-fio e, quase sem buracos chegamos ao rio Kwanza. Aqui o controlo é mais refinado, mais pelos veículos do que propriamente pelos passageiros, a ponte suspensa tem alguma relevância mas, a destoar sucede o facto de alguns militares que por ali estavam espairecendo preguiça, nos terem abordado pedindo gasosa, a mesma pedinchice que sempre nos acompanhou por todo o lado e, desta feita perante o nosso semblante de surpresa, o militar de camuflado ao jeito explicativo e indicando os demais companheiros, encostado ao varão da ponte disse:
- Kota, ajuda só… é para levantar a moral! E, com este pretexto desinibido de vergonha escorregamos com cinquenta kwanzas correspondendo a duas frescas cucas e ainda sobram cinco kwanzas para o engraxador do Sumbe… Cabo Ledo fica em plena reserva da Quiçama mas, até aqui não vimos qualquer espécie de bicho. Acerca da área de serviço aonde paramos, a de Cabo Ledo, trata-se de um amontoado de chinguiços amarrados com mateba e cobertos a capim e, só simplesmente amontoado.
Estas estruturas da área de serviço, têm “empresárias de sucesso” que superintendem caixas térmicas com gelo e frias sagres, taifel, hansen ou cuca. A acompanhar há galinha assada no espeto, talqualmente e, umas batatas-doces assadas no fogo. É quase uma paragem obrigatória pois que o calor é intenso. As empresárias de sucesso, amigas de Bien e Xico seu primo, com rudimentos falíveis de higiene aprendidas no funaná Bye Bye My Love, cursadas em sobrevivência, transformam a fome em petico de espanto. O frango no espeto marchou sem entretantos e, com muito jindungo; deu para notar as onduladas conversas de sussurradas popias de muitos atarraxados encantos…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
MULOLAS DO TEMPO – 29
RECORDANDO: Nós, bazungus no COMPLEXO PALMEIRAS de BILENE
- Odisseia “HAJA PACIÊNCIA” - 5 de Novembro de 2018 - 49º dia (uma Segunda Feira)
Crónica 3279 – 12.04.2022 – Republicação a 24.10.2022 em Lagoa do M´Puto
Por T´Chingange – No PortVille de Maceió do Brasil e AlGharb do M´Puto
Na cidade de Macia, já conhecida de outros tempos, tentamos ficar nos aposentos meio inaproveitados de José Lourenço, aonde já tinha ficado em anos anteriores mas, não foi possível contactar com seu sogro Pai de Santo, pai de Anita, o zelador do património, nem do bafana que por lá costuma estar. Houve desencontros de telefonemas e, como o Pai de Santo, sempre anda descuidado entre fraldas, não foi possível vislumbrá-lo. O que tem de ser é que vale! Batemos no portão de chapa largo, espreita o pátio e de novo me vejo a dar outra solução, plano B - ficarmos na Praia do Bilene, lugar também meu conhecido de anteriores andanças que fica a mais ou menos trinta quilómetros de Macia.
Assim, tive de recordar minha empregada Mery de Kampala: Vocês, os bazungus velhos como o patrão e, seu amigo Reis das Vissapas com seus carros de tracção às quatro rodas, vestidos com roupas muito cheias de bolsos, quase soldados expedicionários, sempre lhes faltam as pilhas na hora de dar à luz. Ué, como é então? Patrão (só faltou dizer muzungu) nós no Uganda não temos kitar yabulo de xelin, dinheiro para bafunfar só átoa. Desta vez até que tinha razão: a luz falhou. Bem! Da outra vez a garoupa de 3,5 quilos comprada no Xai-Xai de Gaza afinal estava imprópria para consumo; do velho bóher das barbas ao Samuel do hotel abandonado até ao Paulo da igreja, todos me levaram na reles curva da ignorância; o podre da garoupa que não tinha cheiro, no após forno, estava moído, intragável, coisa pútrida.
Daquele outra vez querendo agradar ao Patrão do Ricar, José Lourenço e sua filha Cristina, dei com os burros na água fazendo o papel de otário. Os patrícios do Índico do Xai-Xai, cuspiram-me na consciência de mwangolé mazombo e, francamente, não gostei. Quem gosta de ser enganado? As minhas visitas nobres tiveram de comer salsichas de lata para não desfazer o acolhimento. Havia um compromisso de “jaquinzinhos” trazidos de Maputo pelo gerente-mor do “Luar de Macia” – o doutor da mula ruça com alvará comprado numa tabanca da Guiné, pois desaconteceu. Vamos para Bilene, que já se faz tarde para a missa…
No meio destas confusões, para acalmar os assobios enviesados, resolvemos sim, assistir a uma missa em português e dialecto “Changani” à chegada a Bilene, um dos 60 dialectos falados em Moçambique na zona de Gaza. Os cânticos com a participação de missa cheia tiveram duas horas de duração, entusiasmando-me a basculhar esse mundo da fé. Para se ter uma vida espiritual, não é necessário entrar para um seminário, nem fazer jejum, abstinência ou castidade; basta ter fé e aceitar Deus. A partir daí, cada qual se transforma no seu caminho, passando a ser o veículo dos seus milagres.
E, fomos à missa porque queríamos assistir de novo às explosões de fé bailada, ao som de cânticos com muitas vozes, um espectáculo a não perder, com batuque. E, para encontrar Deus, basta olhar ao seu redor; podemos vê-Lo ao nosso lado, no cacimbo, na estrada, uma borboleta que esvoaça ou numa minúscula planta. Se tivermos a fé do tamanho de uma semente de alpista, podemos fazer milagres movendo pedras e, ser capaz de dominar o corpo e o espírito. Aqui, as gentes foram de enorme gentileza oferecendo-nos assento; só as damas Ibib e Marga usaram dessa bondade – afinal sempre há gente boa, aleluia!
Sendo hoje segunda, 5 de Novembro, aqui estou sentado defronte desta magnifica manhã e, tendo um mar bonito da praia do Bilene do Distrito de Gaza, recordando o ontem recente para não me fugir da memória, falando também com a osga que sempre me olha inchando o papo e, salpicando falas na forma de estalidos como se fosse de origem khoisan. Impressionante, não sei como se desloca mas, sempre aparece curiosa e falando-me baixos guinchos, por respeito, acho! E, se Deus salva as almas, e não os corpos, teremos de ser nós a resguardarmo-nos porque, nem sempre é necessária a culpa para se ficar culpado e, embora o Senhor esteja em toda a parte, comigo e com ela, ámen…
É de ter em conta de que Ele, o Nosso Senhor, às vezes parece não ter tempo para nos olhar de frente mas, deixa para lá, outros dias virão. E, foi hoje que visitamos a casa museu de Eduardo Ruiz com uma mulemba radiante mesmo em frente do seu Complexo Palmeiras. Uma amabilidade na forma de gente que fez o favor de nos esclarecer sobre o problema que áfrica atravessa de momento. Também ele quer vender seu Complexo por dois milhões de meticais, tendo o banco calculado seu património em oito milhões. Tudo tem um porquê!
E, foi na casa de Eduardo Ruiz que a febre de melhor condutor de África dita no início pelo El Comandante caiu na temperatura. Isto há coisas, nem lembra ao diabo, este acontecido. Afinal era sim este senhor o maior corredor de ralis daquele tempo. E, vimos suas vestimentas, suas fotos, seus chapéus e luvas de protecção e símbolos com taças mais os diplomas das marcas com quem ele correu, representou. Não fiz reparo ao nosso Comandante mas, foi sim o culminar de uma ousada vaidade despir-se perante outras evidências. Aqui, a pópia de nosso El Comandante escorreu de suores frios pela crista murcha de encrespamento, Háka patrão…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji
NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
COM FALA KALADO - Crónica 3277 – 16ª de Várias Partes – 08.04.2022 em Pajuçara – Republicada a 22.10.2022 em Lagoa do M´puto
Por A - T´Chingange – No nordeste brasileiro e AlGharb do M´puto (Com Aqualtune)
Chegada a hora do café e dos digestivos, era suposto haver discursos na forma de agradecimento mas, e devido ao facto do Exmo. Cidadão estar no estado já descrito e, porque sempre ficava apoquentado de irrequieto quando tudo ficava demorado, Rosa Casado, a chefe de protocolo, deu indicações que o senhor Comendador iria retirar-se a fim de dar andamento aos seus tratamentos e, que as individualidades presentes, (nós), iriam para o d´jango do jardim para e após ou durante o café serem estabelecidas as linhas programáticas da Fundação Zumbi de N´Gola para o tempo que restava, até se findar o ano civil.
Após Rosa Casado ter segredado algo propedêutico ao ouvido do Exmo. Comendador, este de novo levantou sua mão direita para dar homologação às palavras de sua muito distinta auxiliar, dona de muitos segredos oriundos de Garanhuns, Petrolina e Serra da Barriga por ser filha de um antigo prefeito da Cidade de União dos Palmares – António Ribeiro Casado. Todos de pé, assistimos à saída do filantrópico cidadão acompanhado daquela outra senhora com bata branca com uma cruz vermelha ao peito…
O gigante negro Lother, que até então se mantinha afastado, bem no canto e ao lado do tal chefe de cerimónias com laçarote, este, ao tocar de novo o sino como que dando por terminado o repasto, Lother caminhou na direcção da cadeira ergonómica que, com suavidade, rodou noventa graus, levando seu patrono ao seu mukifo … Estando eu atento em todo o tempo ao semblante do meu antigo companheiro de guerra do Maiombe pude reparar…
Pude notar duas lágrimas caindo por sua face; havia momentos de lucidez e, nesses momentos, era tomado pelas carências de perdoar o justo pelo certo e também porque não mais seu luar, poderia pôr a noite inchada. Por momentos até relancei a hipótese de estar a fingir para ludibriar a Intelligence secreta que sempre parecia estar presente em seus passos desde que saiu matumbola de Angola, seu país de origem… União dos Palmares é considerada uma das principais cidades de Alagoas e é conhecida por ser "A Terra da Liberdade", pois foi nela, mais precisamente na Serra da Barriga aqui descrita por vezes como Serra dos Macacos, aonde foi dado o primeiro grito de liberdade por Zumbi dos Palmares.
Em sua memória surgiu a festa da Consciência Negra festejada a 20 de Novembro, dia de sua morte. Tive esta lembrança na deslocação para o d´jango aonde iriamos estabelecer as tais linhas programáticas da Fundação. Do muito que ali se debateu, a mim, Zelador-Mor, conselheiro, fiquei de coordenar o vinte de Novembro, de coordenar toda a logística de convites às muitas personalidades do mundo dos PALOPS, cabendo a cada um dos outros nove membros eleger três figuras públicas internacionais nas áreas de governo, cultura e diplomacia global.
Não vou aqui entrar em detalhes do foro interno mas e, no que toca à minha escolha apontei os nomes de Marcial N´Dachala e General Kamalata Numa, ambos da UNITA*** e, José Eduardo Agualusa, escritor conceituado a nível internacional. Na altura certa se saberá publicamente os outros nomes num total de trinta, tendo várias correntes politicas e visões diferenciadas para e, em altura própria conferenciarem seus pontos de vista, da Paz e da guerra, dos pontos dentro e fora das quatro linhas que balizam os conceitos de democracia.
Também ficará a meu cargo a popularíssima Corrida Palmarina do Jumento Alagoano no último domingo de Dezembro de cada ano civil; uma cavalhada que entusiasmará por certo todos os tropeiros deste mundo. Esta festa de cariz popular terá decerto a filiação da autarquia e muitos aficionados das gestas heróicas dos tempos idos, das tropas de muares cruzando os lugares mais recônditos deste brasil. Esta terá também a participação das gentes dos actuais quilombos adstritos à governança de Paulo Sarmento, Assistente do Rotary Internacional, Distrito 4390.
No século XVII, Alagoas oferecia reduto para os negros formarem os inúmeros quilombos que prosperavam em todo o território brasileiro, mas que tiveram na Cerca dos Macacos da Serra da Barriga, nos Palmares, sua maior simbologia. O Brasil foi o país com a maior concentração de escravos negros do mundo com dados indicadores de 3,5 milhões. A liberdade, por meio de fuga, consolidava-se pela anormalidade da vida administrativa e económica da capitania de Pernambuco. Palmares, perdurou por 64 anos, capitulando no ano de 1696 e é o governador da capitania que relata ao rei D. Pedro II do M´Puto, o pacífico, a morte de Zumbi dos Palmares…
Nota ***: - Por via de altercações ao programa editorial acrescento agora – 22.10.2022 à lista de convidados Adalberto da Costa Júnior, o verdadeiro ganhador das eleições em Angola mas que por via de fraude grosseira não pode usar das prorrogativas de Presidente. O seu a seu dono: Kwacha!…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . III
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças actuais de escritos antigos - “havemos de voltar” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)
Crónica 3276 de 07.04.2022 escrita na Pajuçara de Maceió – Republicação a 20.10.2022 na lagoa do M´Puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange
Bien, Humberto Cunha do Sumbe, engenheiro civil formado em Cuba em tempos de dipanda, chorou ao despedir-se de mim e Ibib no mesmo aeroporto “4 de Fevereiro” (antigo Craveiro Lopes ou de Belas). Eu, que me fiz forte na altura, relembro agora que também fiquei esfiapado das pestanas, com humidade por arrumo dos preparos finais. Foi exactamente na sala que nesse então, reparei, essa sala ter perdido o tecto falso; podia ver-se os tubos semi descarnados e em desalinho, dispondo-se encavalitados em todos os sentidos. Este intróito sendo de saída é só uma pescada de rabo na boca porque a descrição que se segue é o começo da visita ao CANTINHO DO INFERNO…
Fiquei sem saber se os tubos levavam dentro outros fios ou águas negras; Se eram condutas de ar condicionado ou fios de comunicação! Só faço este reparo para verem o quanto havia de descaso numa sala de entrada e saída de gente a quem se necessita dar uma boa imagem; Os tempos de guerra finda há quatro meses, supõe-se não ter dado manobra de embelezamento às estruturas de aparência. Tinha saído de Angola nesta mesma sala em Agosto 1975 com uma guia de marcha sem volta, emanada pelo Alto Comissária em Angola e, no meio de tanta agitação, tanto caixote espalhado a esmo, nem reparei se havia ali, ou não, tecto falso.
Havia sim controlo sanitário, alfândega, controlo de polícia de fronteira e bagagem. Quem tivesse kwanzas ou outra moeda de sobra, era ali depositada por confisco sumário; não era permitido retirar do território qualquer divisa sem estar superiormente declarada. Consegui passar despercebido ao lado desta desorganizada rigorosidade. Nossas malas dispostas no exterior eram assinaladas por cada um dos passageiros que só depois de o dizer qual a sua mala ou malas, eram carregadas até ao avião da TAP. Compreende-se, pois nesse então e ali, não havia ainda os métodos modernos de visão do tipo de raio xis…
Pois de vacina nas mãos é-nos indicado o sítio de carimbação; gente improvisada, vestida de bata dá valia aos papéis amarelos e, depois das boas chegadas por parte das autoridades com chapéu de dourados arabescos, vem a secção da bagagem aonde a dita gasosa agiliza as vistas. Isto aconteceu na chegada com o surpreendente pedido de gasosa sem sabermos nesse então o que seria isso; O Zito mais avisado disse ao Jimba (já falecido) que era uma gorjeta para não empatar; neste momento já tinha vinte euros na mão para desanuviar a mercadoria e, assim aconteceu…
O primeiro impacto com os destapados buracos de rua foi logo ali em frente ao aeroporto 4 de Fevereiro, esgotos a correr a céu aberto, bem à saída da base da Força Aérea e, entre esta e o bairro que já foi novo quando os cubanos o construíram. Os bolos de batata-doce, de mandioca e banana assada com outras iguarias por ali estão expostos, no meio do espezinhado lamaçal, em cima de improvisadas caixas. Mais ao lado há uma secção de lavagens de carros, uma mangueira que verte água que por seu lado escorre para este improvisado mercado das calamidades.
O desenrasca funciona paredes meias com os supostos sítios nobres. Luanda aí está! Passando no antigo largo Afonso Henriques, e bem em frente aonde funcionou o sindicato metalúrgico para meu espanto, vejo um grande buraco a jorrar água limpa aos borbotos e uns quantos jovens a fazer daquilo uma estação de lavagem para carros, baldes, esfregonas, sabões e tudo no tecnicamente imperfeito. Os carros eram de alta cilindrada, vidos fumados e acessórios xispéteo… O sinaleiro da Maianga faz milagres para dar ordem ao trânsito, é desrespeitado e até chamado de nomes de macaco para símio. Os vendedores de antenas parabólicas, chinelos e quinquilharias chinocas não largam as janelas dos carros aqui e em qualquer cruzamento com ou sem sinais. Patrão compra só, é barato!
E, vi porque ninguém me contou: coleiras de cão, peúgas, pó de pulgas, chapéus quicos e até batatas fritas. Os Libaneses resolvem o problema de despachar o negócio usando crianças a venderem de tudo e também CêDês produzidos em estúdios suspeitos do Cazenga ou kazukuteiros do Sambizanga, saídos do Tira-biquíni e Dona Xepa e outros com esquemas com bangula, um salve-se quem poder que a morte vem aí, é certa…
Bem ao lado da casa do Chico Massa aonde ficamos por uma noite, cruzamento da rua de João Seca com a rua da Maianga, o imbondeiro, continua lá, mas muito rodeado de chapas altas. Posso ver daqui a antiga oficina do meu cunhado Paulino Branco, o homem das cambotas (já falecido), bem junto à antiga avenida Craveiro Lopes; sei que do outro lado está a morgue aonde em tempos de candengue vi pedaços de atrocidades, mas, olhando para cima consigo ver umas quantas múcuas. De lá de dentro sai um barulho de esmeril guinchando raivas afiadas – é uma fábrica de grades anti ladrão para colocar em janelas, portas e demais vãos de casas e edecéteras.
Nota: mais lá para o final colocarei um glossário para se lembrarem de quando não eram kaluandas…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
NAS FRINCHAS DO TEMPO
- Nova maneira de aprender novas verdades!... Com atitude….
Crónica 3275 – 06.04.2022 em Pajuçara – Republicação a 19.10.2022 na Lagoa do M´Puto
Por T'Chingange – Na Pajuçara de Alagoas do Brasil e Lagoa do M´Puto
Hoje dia seis de Abril, perfaz 42 dias de guerra na Ucrânia; guerra que teve início em 24 de Fevereiro do ano que decorre, 2022. O sargaço aqui na praia da Pajuçara tomou-a por completo e, ir para a água límpida, só após atravessar uns cinco metros em denso escuro das algas que inevitavelmente têm pequenos paus, plásticos, canudos e rótulos de passoca, mais folhas velhas do mangue; em tempo de chuvas, é o caso, é normal surgirem estas manchas que a braveza do mar faz soltar e trazer aos poucos para a areia, forçadas pelas correntes de fundo.
Mas, após esta pequena barreira de mau aspecto, sujo, a água tem a cor de esmeralda até chegar aos arrecifes, aonde as grandes ondas se desfazem em uma linha de espuma e, ao longo destes; na maré rasa o mar fica um espelho como se o fora uma grande piscina, ora translucida ora transparente ou meia baça e na cor de esmeralda. Bem cedo ouvem-se as ordens ritmadas vindas das doze silhuetas que remam a cana de um para outro lado, exercício matinal que tem início ao romper do dia, cinco horas e dez minutos da manhã com o sol a despontar do lado do farol; e, se andam rápido!
Ginasticando minha talassoterapia, cabeça de fora de água, assisto à azáfama dos donatários dos chapéus que aos poucos vão dando colorido à praia. Primeiro vêm o alinhamento de seu espaço; uns medem a paços, fazem um risco com o pé na areia, medem nove andamentos para um dos lados e assim esburacam a areia segundo os definidos alinhamentos. Alguns só tomam as referências habituais e logologo surgem os chapéus quadrados com uns quatro metros quadrados ou uns outros ainda maiores, hexagonais com um e meio metros de raio.
E, surgem as pequenas mesas de plástico, duas ou mais cadeiras de recostar e um balde para o lixo. No espaço de uma meia hora dispõem uns 14 chapéus: cada donatário usa sua própria cor e normalmente têm números pintados como se o fossem mesas referenciadas duma esplanada. Minha cadeira e minúsculo chapéu ficam quase imperceptíveis, no meio do grande bazar que se monta pela manhã e desmonta pela tarde. Usam carros carregados à mão como se o fossem paus de arara sem máquina que irão ser depositados em lugares próprios para os estacionar, não longe da praia dos Sete Coqueiros…
Bem por detrás da fiada de altos edifícios, estando eu em um deles, existe a cidade antiga de casas baixas com ou sem quintal e é em alguns logradouros destas casas em banda, que guardam seus apetrechos, normalmente cobertos com uma lona de plástico. Do andar aonde me encontro ouvem-se de noite os cânticos dos granisés, capotas, codornizes e, até perus. Aqueles chapéus de praia são enterrados na praia em buracos bem fundos; para o efeito usam umas especiais enxadas com dois cabos que com forte ligeireza vão espetando e tirando areia para o lado até chegar à certa fundura.
Bem na sombra e por debaixo das amendoeiras da índia dispõem a caixas térmicas contendo as tapas que irão servir ao longo do dia. Têm até fogão para esquentar, gelo para esfriar e muita cerveja a estalar de fria. Mexendo-me com gestos aleatórios de ginástica variada aprecio durante uma hora, podendo ir até à hora e meia a este frenesim de trabalho. Meu espaço preferido é o do Alam, um simpático moreno que bem pela manhã me dá um longo adeus desde a areia, um bom dia e falas que por vezes não entendo direito, devido à lonjura. Agora, ele é o Alain Delon.
Ele queria saber quem era esse tal de Alain Delon e tive sim, de explicar que era um artista francês do cinema; ele desconhecia! Li em recente notícia que este, escolheu ter uma morte assistida o que, surpreendeu todo o mundo! Sabe-se que em época de crise aumenta o número de suicídios. Há quem afirme que esse é um fenómeno real, enquanto outros dizem não passar de mito. Apesar de toda controvérsia a respeito, é necessário reconhecer que algumas circunstâncias podem levar algumas pessoas a esse acto. Nesse sentido, o risco de que tirem a própria vida aumenta consideravelmente quando enfrentam, por exemplo, problemas financeiros... O que não parece ser este caso… O mundo enlouqueceu!
Já sentado em minha cadeira distribuo alguns grãos de jinguba favorecendo a pomba “papoila” sem pernas completas, corto uma maça e depois uma laranja, vou até à água limpar o mike guiver multiusos e disponho-me a ler, melhor, a triturar o livro “ grande sertão, veredas” de João Guimarães Rosa. A senhora Rita Fiuza passa, pára e manda um convite para minha mulher Ibib ficar à espera a fim de irem tomar café e deitar conversa fora na esplanada do centro comercial Unicompras. Aproveito dizer que esta senhora é nos episódios de Fala Kalado com sua Fundação de Zumbi de N´Gola uma personagem no papel de psicóloga de meu amigo, (nem tanto) de outras guerras… “Para tirar o final, para conhecer o resto que falta, o que lhe basta, que menos mais, é por atenção no que contei, remexer vivo o que vim dizendo. Porque não narrei nada à toa: só apontamento principal, ao que crer posso…” Usando falas de Guimarães, me explico: por agora é tudo!
Entretanto nesta republicação em terras Lusas e a quase oito meses de guerra na Ucrânia (19.10.2022) Putin decreta Lei marcial nos quatro territórios, Kherson, Zaporizhhia, Donets e Lugansk, ilegalmente anexados recentemente à Russia. Em Kherson o exército Ucraniano parece estar prestes a ocupar a cidade…
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
MULOLAS DO TEMPO – 25
RECORDANDO: Nós, bazungus no SAVORA LODGE - Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA”
- 45º e 46º dias (02 e 03 de Novembro de 2018…)
Crónica 3263 – 23.03.2022 em Maceió – Republicação a 05.10.2022 no AlGharb do M´Puto
Por T´Chingange (Otchingandji) – No PortVille de Maceió do Brasil e Lagoa do M´Puto
SAVORA LODGE – Estamos a ficar longe no tempo para poder recordar todos os detalhes e, se não houve rascunhos naquele então, ainda mais difícil fica. Sei que a caminho de Inharrime na Estrada Nacional nº1, tomamos uma estrada de terra à esquerda com piso em argila regularizado. Anotei a indicação lá no início do troço de Savora Lodge, cursos de mergulho aquático no Pacifico; passamos por várias pequenas povoações destacando-se nelas as igrejas pela cruz de estrutura modesta mas bem conservadas e, com um átrio frontal, nalguns casos ajardinados.
Divisando-se já as dunas da costa podia ver-se de longe pequenas manchas ao jeito de casas entrecortadas no meio da vegetação rasteira muito característico desta costa por via da humidade sempre presente da brisa marítima. De um e de outro lado da picada, havia lagoas muito cobertas de vegetação rodeadas de mangue e com grandes áreas da praga aquática chamada de jacinto. Chegados lá no topo da duna aparcamos os carros e fizemos inscrição para duas noites. O ambiente era de aficionados da pesca à linha e de mergulho podendo ver-se estirados nas cordas os fatos emborrachados da prática de mergulho bem como as barbatanas de pés longos.
Almoçamos na esplanada disfrutando do Oceano Pacifico e, por momentos lembrei-me daquela outra esplanada chamada de “Two Oceans” bem no estremo sul de áfrica, mais propriamente no Cabo Boa Esperança ou das Tormentas. Mas aqui e pela primeira vez provo a primeira cerveja de mandioca conhecida do mundo. Cerveja lançada pela empresa Cervejas de Moçambique, dona das marcas Laurentina e 2M. Quando José Moreira, administrador da empresa, anunciou a criação desta cerveja de mandioca ao mundo deu-lhe o nome de Impala; No dizer dele, tinha um sabor parecido ao das cervejas de malte, tendo a vantagem de poder ser oferecida ao povo por um preço mais baixo.
Aquela cerveja foi desenvolvida com um duplo objectivo: para ser consumida pelas camadas mais pobres da população, que se alimentam sobretudo desta raiz, e para ajudar os pequenos agricultores do Norte de Moçambique a escoarem os excedentes de mandioca que ficavam a apodrecer nos campos. Podia imaginar Manuel Teixeira, o criador desta cerveja, sentado na esplanada do restaurante Piri-Piri, em Maputo, também a recordar no seu tempo: pedia uma cerveja Laurentina ou uma 2M e os empregados traziam-lhe um prato de camarões para acompanhar - «Eram os nossos tremoços»! Tal como nós em Angola no Baleizão ou na Biker, com Cuca ou Nocal e, com os acompanhamentos de carapau frito e até dobrada com feijão.
Naquele então dizia ele, Manuel Teixeira: Foi há mais de 35 anos e a cidade, então chamada Lourenço Marques, era a capital da província ultramarina de Moçambique. O empresário português, que ao longo das últimas décadas viajou para o país regularmente e, que foi testemunha da prosperidade da época colonial, da miséria dos anos da guerra civil (Moçambique chegou a ser o país mais pobre do mundo) e do renascimento da última década em que os índices de crescimento atingem os sete por cento ao ano.
Podia rever-me num esboço gatafunhado encontrado ao calhas e a cores, amarelo, azul e descolorido, uma escrita misturada de experiências, com contas de somar, subtrair e cambiar. Faço isto por vezes para ver quanto gastei em Euros, agudizando-me na curiosidade de ver contas de números altos em dólares, randes, kwachas, xilins tanzanianos, pulas, dólares zimbabwanos e agora, meticais.
Bom! Se não era um gatafunho meu, só poderia ser de Mary a minha antiga empregada de Kampala, e dai, ainda mais curioso ficava porque ela dizia assim: Patrão, mas…, a gente de Kampala não vai em safaris como vocês muzungos (brancos); só mesmo os bazungus (turistas) que gostam mais dos animais do que das pessoas! Gostam de leões, de crocodilos, e até das cobras! N´Zambi me livre, só mesmo de pensar já estou de arrepiada, diria ela agora. Eu não gosto, diz Mary e, continua com suas falas: tornei-me até muito amiga das cabras que dão leite de beber, porque só gostava mesmo do meu namorado que as guardava. Pois! Disse eu, aquele bafana para quem tu tanto falas ao microondas…
Mas, os bazungus velhos assim como o patrão e, seu amigo Reis das Vissapas com seus carros de tracção às quatro rodas, vestidos com roupas muito cheias de bolsos que parecem soldados como antigos expedicionários, e com o equipamento de combate pendurados, binóculos, máquinas de vídeo, celulares, bengalas e garrafas de água. Ué, como é então? Eu sou assim mesmo? Ela, nada disse, só mesmo oscilou os braços e fez um muxoxo a comprovar ser verdade com um sorriso de quem canta vitória.
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
MALAMBAS DA GLOBÁLIA – M´Puto, cativações, guerras e os infiéis
Crónica 3261 – 21.03.2022 na Pajuçara de Alagoas do Brasil. Republicada a 03.10.2022 em Lagoa do M´Puto
Por T'Chingange
Começo por dizer que o acto ou efeito de cativar, é a retenção de parte das verbas orçamentadas para despesas com a consequente redução do orçamento disponível para determinados serviços ou organismos. É em verdade um instrumento de controlo orçamental que de certa forma logra o cidadão. É a vida real de todos nós, o dedo duro governamental que mantem os políticos na pedinchice mantendo assim o barco-nação a flutuar na divida e, sem chegar ao nível zero da linha de manobra.
Prometo-te 100, faço publicidade desta monta mas, só levas 60! E, todos ficamos com aquela pulga na orelha, dos tais 100. A maior parte de nós está-se olhando no umbigo, isso são técnicas financeiras e edecéteras mas, em realidade os serviços por encolhimento de verbas não prestam um bom serviço e nós, sempre nós, reclamando demoras, encafifados na casa, no curral como diz meu compadre. Assim é, por via dum covid 19, 20, 21 e 22, até ver. Aceitamos aquilo que os políticos nos impingem por ser um regime de excepção e, assim ficamos lisos e sendo como se requere e a bem da nação porque parece que nem vêm tão mal ao Mundo.
Bem! No caso do M´Puto, estes políticos do governo têm tido a ajuda “made in selfie” do próprio presidente conhecido pelo “Celito”. Assim, a pandemia deu formato ao medo a conter-se na contestação, dando jeito aos gestores de topo encapelarem seu pedantismo. Num acto cívico do quanto baste, mesmo sem portarem vestes de escapulário, também e de forma sistemática em um acto cínico no quanto baste trambicam-nos dando-nos missa!
Prometem até mais que uma vez dizendo-nos a palavra certa para nos tolher num pseudo “tabu do endividamento” – Vamos gastar e, quem vier a seguir que feche a porta. Tivemos um Guterres que foi prá ONU depois dum pântano, um Sócrates que está por ir, um Barroso que foi para a Comissão Europeia, um Gaspar que foi para o FMI e agora um Costa que se prepara para ir para a tribuna da Europa… É assim! Claro que há mais mas, em verdade, o molho de brócolos fica para todos nós porque eles, sabem como se resolver…
E, assim, depois de Bagdad, do Afeganistão, da Síria, da Líbia, do covid x 3, agora com a guerra da Ucrânia; menos mal que sempre teremos os submarinos do Paulo Portas para nos assegurar as águas territoriais, os “barrigas de jinguba” para lançar tambores de napalm e os migues entregues à GNR para cobrir o espaço aéreo. Estamos safos e habilitados a mais umas “bazucas financeiras“ de apoio aos muitos refugiados que virão, e ainda bem, dar jeito ao reequilíbrio financeiro. Terra, mar e ar estão razoavelmente representados…
Tudo se está descomplicando seguindo num deixa ver como fica, não obstante as opiniões estapafúrdias de uns quantos generais armados em comentaristas nas televisões sensacionalistas no quanto baste, falando besteiras, heróis que ninguém sabiam existir e agora mandam palpites a favor de Putin (estamos bem entregues…) como se este fosse um santo. Merda para estes tantos míopes que à nossa custa dão ares de sabichões; melhor seria ficarem no silêncio de suas palermices. Enquanto isto para descomplicar as muitas e variadas sanções, tornam o Paquistão no quintal traseiro da China.
Esquecem-se que ainda por aí andam os chiítas, os sunitas, os ìsis, os talibãs e os boko harams. Já nem acredito em ninguém. Para além do Costa só o Costa prontíssimo para mais uma corrida, uma maratona afinando-se nos jogos de aprimorarem a nossa liberdade de movimentos, fabricando manobras de diversão e coisas comezinhas como a energia, a TAP, a Refer dos comboios, barragens e centrais de carvão desactivadas que de novo se têm de reabilitar. Tudo num mesmo saco para suprir a fragilidade da nossa democracia, nossa cultura, mentiras ecológicas, também estórias que dão a facilidade de tudo proibir e tudo se taxar.
O Estado cada vez mais engravidado, é que nos diz o que podemos ou não fazer, alterando a vulnerabilidade nos conceitos definidos no genérico paradigma; a demagogia misturada com a propaganda que sempre nos leva ao princípio da condescendência. Assim condicionados aos ziguezagues, se condicionam os ditames sancionados em nosso pensamento – toma e embrulha! Engodos a aposentados, mais uns tostões aos funcionários e promessas aos desempregados de longa duração. Tudo muito igual – pois se até o Biden dos USA entrou com os dois pés e se está saindo perneta! Ainda se queixam da SHARIA; vamos estrepar-nos…
O Soba T´Chingange
NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE FALA KALADO
Crónica 3259 – 14ª de Várias Partes – 19.03.2022 em Pajuçara de Maceió – Republicação a 29.09.2022 em AlGharb do M´Puto
Por: T´Chingange – Na Pajuçara do Nordeste brasileiro e AlGharb do M´puto
O dia aprazado para ver FK, uma sexta-feira, coincidiu também ser um dia 13, muito enevoado. Tinha havido umas trovoado durante a noite, raios e relâmpagos com águas escorrendo pelas quebradas e, àquela hora da manhã ainda se podiam ver os destroços, abatises aleatoriamente embrulhadas com desperdícios escurentes do kilombo. Supersticioso quanto baste, pareciam ser estes, uns maus indícios de borrasca mas, e na qualidade de Zelador-Mor da Fundação Zumbi de N´Gola teria de suprir-me de importância nesta primeiríssima visita institucional..
Arrais Castelo de Cantanhede, o Presidente executivo da Fundação, fazia-se acompanhar pelo Encarregado do Museu da Escravatura e da Casa da Cultura Maria-Maria, o senhor Paulo Sarmento e, também Governador Assistente do Rotary Internacional, Distrito 4390. Enquanto um e outro falavam lá na parte anterior do Mercedes do ano de troca-o-passo conduzido pelo senhor Encarregado-Governador, eu ia pensando no que seria este encontro com o militar amigo (nem tanto) ex-Coronel Fala Kalado; esse mesmo que saiu morto na fronteira de Namacunde em Angola…
Diziam estar ele num estado quase confrangedor pois que já não era aquela íntegra figura de antes torcer que quebrar embora fosse meio biónico, portador de uma orelha de silicone-5G e perna com osso de nitreto de boro; isso era um tanto pesaroso para quem sempre o tinha visto desempoeirado, diligente, ladino e assustador. Assim pensando fui interrompido por Arrais, o Presidente da Fundação FK: Antes de irmos à mansão do Comendador FK e de modo a chegarmos lá na hora aprazada para o almoço, iremos fazer uma visita guiada ao Kilombo a fim de ficar inteirado de alguns detalhes ainda desconhecidos!
Nem sabia que Fala Kalado, o ex-Coronel tinha sido elevado ao cargo de Comendador mas até aceitei pois que seu legado de benemérito induzia a ter um outro destaque social. E, foi o senhor Paulo Sarmento Governador assistente do Rotary Internacional que finalizou as falas, dizendo que este cargo dignitário lhe foi emanado do próprio Conselheiro de Estado do Governo Federal Civil em parecer conjunto com Sua Excelência o Presidente Geral dos muitos Distritos com Clubes Rotary.
Assim chegados ao Morro dos Macacos fui apresentado à Senhora Rosa Casado, advogada aposentada, filha de um dos últimos prefeitos de União dos Palmares que por norma e por via de ser secretária do mesmo club Rotary, protocolizava estas visitas. Afinal, sempre era eu o Zelador-Mor da Fundação Zumbi de N´Gola. O termos de Muxima que é a saudade dos mwangolés, kimbundus, pode ler-se no quadro de entrada na Serra da Barriga:
“Muxima dos Palmares é uma homenagem aos Comandantes-em-Chefe que formavam o Conselho Deliberativo do Quilombo dos Palmares: Acaíne, Acaiuba, Acutilene, Amaro, Andalaquituche, Dambrabanga, Ganga-Muiça, Ganga-Zona, Osenga, Subupira, Toculo, Tabocas, e seus principais líderes: - Aqualtune, Ganga-Zumba e Zumbi, Banga, Camoanga e Mouza, que resistiram depois da morte de Zumbi, que aqui também são homenageados, assim como todos os negros e negras, guerreiros e guerreiras, que ao longo de quatro séculos lutaram e ainda lutam pela liberdade racial”. Isto promete, muxoxei só para mim e de forma imperceptível, caminhando num troço de tapete com as cores da bandeira de Angola, preto e vermelho, tendo no topo o símbolo da catana com os dizeres “Victória ou morte”…
Uma outra placa com fundo preto e letras salientes reconhecido no final pelo Governador Alagoano, Engenheiro Lessa a 20 de Novembro de 2002: -“Homenagem aos Heróis Quilombolas que tombaram lutando pela liberdade em 06 de Fevereiro de 1694: Ganga Zumba, Dandaro, Acotirente, Andalaquituche, Aqualtune, Gana Zona, Ganga Muiça, Acaiúbo, Toculo”. Visto isto, deixo algumas considerações para mais tarde…
O termo Sanzala ou Senzala em Angola é um povoado normal enquanto no Brasil está conotada com as casas de tortura, da canga, dos grilhos, da chibata, da bola, da máscara de sino e correntes. Kimbo é o nome de sanzala na região de fala Umbundo em Angola, planalto Central com suas casas, libatas ou embalas. Todo este trabalho de pesquisa adicional, foi objecto de promessa minha ao fiel depositário do Guardião da cultura em União dos Palmares e Zelador do Museu de Maria Mariá, Senhor Paulo de Castro Sarmento Filho e como disse, também Governador Assistente do Club Rotary Internacional, que teve amabilidade de me mostrar também o actual Mocambo de Muquém, a Serra da Barriga e descrever seu trabalho ainda em esboço numa Cartilha Pedagógica, um projecto de cultura viva. Ainda não será nesta missiva-cronica que falarei do encontro tão esperado com meu amigo FK, um almoço quase banquete tendo como iguaria “Muamba de capota”…
Nota: Esta inventação, contem muito da história real mas alguns dados são só fricção. Quem quiser esclarecimento, coloque questões - que esclarecerei...
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANDO ENKAFIFADO COM A GUERRA DA UCRANIA
PENSAR, POR VEZES É MUITO PERIGOSO - PUTIN, AIUÉ
Crónica 3258 de 18.03.2022 no 23º dia da guerra – Republicação a 29.09.2022 com 218 dias de guerra - em AlGharb do M´Puto
Por T´Chingange no PortVille da Pajuçara em Maceió – e, em Lagoa do M´Puto
A 18 de agosto de 2021 escrevia o quanto andava encafifado com a guerra do Afeganistão, com os talibãs de Cabul e, em momentos de aperto no tempo, ficava contra, só por ficar! Não conseguia entender este brusco procedimento. As tropas americanas deixariam o Afeganistão numa segunda-feira – 30 de Agosto de 2021
Segundo o governo dos Estados Unidos, este corria contra o tempo para concluir a retirada de diplomatas, militares, aliados e colaboradores até a data limite de 31 de Agosto e, um dia antes, saiu! Porquê teve de acontecer, de novo CABUL; Ando preso a ele, o pensamento por pequenas minúcias. Ainda me lembro dos helicópteros serem lançados ao mar em terras de Vietname, naquela saída apressada de Saigão…
Das falsidades em Angola com a tal de “Emenda Clark”, no Iraque, Irão, Síria, Líbia, Afeganistão e agora KIEV. Dizia então: Eu, pé de chinela do Mundo, terei de entrar numa viagem astral mesmo que seja aos solavancos, entrar nas ondas alfa e delta e, sem gravidade atravessar paredes como fazem ou parecem fazer os mágicos. Estava atonitamente desconcertante.
E, assim suprimido ficava. Sim! Ninguém é de ninguém, na vida tudo passa, foi o lema de uma canção de que já quase ninguém lembra; vamos fazer o quê? Ouvi dizer: “A Força do Direito deve superar o Direito da Força”. Não há nada mais relevante para a vida social que a formação do sentimento da justiça. Não troco a justiça pela soberba - nem deixo o direito pela força. Não esqueço a fraternidade pela tolerância nem substituo a fé pela superstição, ou a realidade pelo ídolo.
E agora esta inexplicável guerra inventada, invasão dum pais soberano chamado de Ucrânia por um louco chamado de Putin; a injustiça, por ínfima que seja, a criatura vitimada, revolta-me, transmuda-me, incendeia-me, roubando-me a tranquilidade e a estima pela vida. O homem que não luta pelos seus direitos tem um viver tumultuado. “Quem não luta pelos seus direitos não é digno deles”.
Não há nada mais relevante para a vida social que a formação do sentimento da justiça. A justiça, cega para um dos dois lados, já não é justiça. Na Europa frouxa, como se gostássemos de andar embalados, vamos ver como isto fica, como isto para, para ver um Deusdará!...Somo-lo por via de gente materialista, gente de meia-tigela, gente política flutuante - alguns, muitos, sem consciência e consistência, incompetentes em verdade. Que se enxergue por igual à direita e à esquerda mas, aqui e agora nem é isto – um absurdo com peso atómico…
Uma nação que confia em seus direitos, em vez de confiar em seus soldados, engana-se a si mesma preparando a sua própria queda. Se porventura isto falha há Talibãs na jogada, pois estes, os Talibãs não têm nação; têm sim, um líder que lhes fornece sonhos em pó. Levo meu tempo a espremer os miolos, compondo, inventando, eliminando e, no final fico sempre a remoer cada frase, com paciência de burro consumindo-me átoa no tempo!
A mais triste das vidas e a mais triste das mortes são a vida e a morte do homem que não tem coragem de morrer pelo bem, quando por ele não possa viver. Se os fracos não tem a força das armas, que se armem com a força do seu direito, entregando-se por com os sacrifícios necessários para que o mundo não lhes desconheça o carácter de entidades dignas de existência na comunhão internacional. Porquê teve de acontecer, de novo CABUL, de novo KIEV. Em fins de Setembro de 2022 e com 218 dias de guerra, dá para notar que com a farsa dos referendos em Donetsk e Lugansk no leste e Kherson e Zaporizhzhia no sul, a Rússia, a paz no mundo, estará longínqua. Deste modo Rússia toma de assalto cerca de 15% do território total da Ucrânia anexando como terra sua estes novos territórios – a ver vamos!...
O Soba T´Chingange
KIANDA COM ONGWEVA NAS FRINCHAS DO TEMPO - XV de várias partes…
– Crónica 3257 de 16.03.2022 na Pajuçara de Maceió – Republicada a 28.09.2022 em AlGharb do M´Puto
– Episódio em Madrid com Jerónimo Pieter e, um tal de Conde de Sant German.
Ongweva é saudade
Por T´Chingange (Ochingandji) – No PortVille da Pajuçara em Alagoas do Brasil e Lagoa do M´Puto
Museu do Prado em Madrid com a kianda Zachaf Pigafetta, o irmão Januário Pieter, mais o Conde de San German. Não fosse o ipad e o andróide e, nos teríamos perdido entre tantos turistas a laurear a pevide, tanta gente sem fazer nada, a consumir o erário para verem pinturas e mais pinturas. Eles tinham compromissos no aquietar de almas desavindas e por isso acho que nem saborearam tanta arte. A todo o momento falavam com estalidos desassossegos com gente de longe, Talvez Orândia, Ovoboland, terra de khoisans Niassaland ou lá no Kwazulu…
Aproveito por isso falar um pouco do entrelaçado de malambas já faladas entre nós a fim de arrumar os eventos vindouros, do futuro mesmo, para que se compreenda o desfecho da estória-mussendo. Sendo assim, relendo a origem de Saint Germain, sabe-se muito pouco pois ainda hoje é desconhecida, mas o que sabemos é que marcou presença a partir do século XVlll pelas cortes da Europa destacando-se como diplomata em Génova, Paris, Londres, São Petersburgo, Índia, África, China e outros lugares.
E, logologo tinha de aparecer um cara de pau a fim de me atezanar a estória que até estava tão bem delineada de verosímil, pópilas… Ele, com frequência refere ser filho de um príncipe oriental talqualmente como eu ser Niassalês. O certo é de que sua idade tal como as demais kiandas, sendo indefinidamente falíveis, têm a particularidade de quando necessário tornar-se numa normal figura de gente.
Niassalândia (actual Malawi) foi assim denominada por causa do Lago Niassa de onde originaram Januário e Zachaf Roxo – tinha mesmo de o ser! Um carapau não anda só, tem seu cardume. Em setembro de 1859, o explorador e missionário escocês David Livingstone torna-se supostamente o primeiro europeu a avistar o lago*, o terceiro maior da África. Um dos encontros foi exactamente com o Conde de San German, que por ali se envolvia em actividades missionárias e comerciais britânicas.
Na década de 1880, Portugal reivindicou o território em virtude de sua presença na colónia vizinha de Moçambique mas a Grã-Bretanha, uma secular nação amiga da onça, resistindo às reivindicações portuguesas, a 14 de maio de 1891 proclamou um protectorado sobre Niassalândia. E, assim se tornou parte da Federação da Rodésia e Niassalândia em 1953. Após a dissolução da federação, alcançou independência total a 6 de julho de 1964 como a República do Malawi.
Acho que não vou ter tempo de dar meu parecer acerca do Museu do Prado porque esta gente só nas apresentações, perdem-se nos entretantos das suas reminiscências e assim e agora por intermédio destas três kiandas é-me é dado conhecer toda a arte de velhacaria que invadiu o dito mundo moderno através dos arautos da verdade. Vou-vos falar, a estória é toda ela muito mentirosa: Os primos Ingleses e Americanos que continuam a ditar leis aos outros povos, sabendo à partida que é tudo uma utopia ou farsa comem-nos a moleirinha.
Nós, que estamos vivendo os problemas que nos cercam, podemos dar a importância devida ao que engloba este nosso recente passado para nos rectificarmos ou ponderarmos sobre o nosso futuro. Sabemos bem o que ocorre hoje nestes territórios de uma gestão catastrófica de puros ditadores. Terei de falar, o Prado ficará lá para o fim. A Grande Traição é o título das memórias publicadas em 1997 por Ian Smith, último primeiro-ministro da Rodésia.
Sua obra oferece um interessante panorama da história desta importante parte da África austral e relata minuciosamente como os nossos “amigos” britânicos e Estado-Unidenses não descansaram enquanto não lançaram o calvário naquele pedaço de chão. Fez-se luz! A requerida paz, lei e ordem, factores fundamentais para qualquer evolução autêntica e segura, foram sacrificados em favor da hipocrisia, da irresponsabilidade, da expediência.
As nossas três kiandas (Zachaf Pigafetta, Januário Pieter e Conde de San German) andavam por ali fazendo seminários, tentando introduzir nas mentes pensares pacifistas tendo sido logrados em toda a linha. A mais interveniente foi o Conde de San German mas mesmo esta, esfumou-se. Foram as memórias de Iam Smith que interessaram particularmente aos portugueses, euro-africanos genuínos e pioneiros, escandalosamente imolados e esbulhados pela traição doméstica a soldo de uma conspiração internacional - tragédia odiosa que brada aos céus e clama por justiça! Bem! Já estou no item oito e tenho de acabar por hoje…
:::::
Nota* O sertanejo português Silva Porto já era conhecedor do lago Niassa e das Cataratas Vitória do Rio Zambeze pelo que deu posteriores indicações a David Livingstone! O feito de Silva Porto não ficou registado em papel tendo resultado nesta nova convicção de que foi Livingstone o primeiro europeu a lá chegar. Em interpretações posteriores àquele feito e dando resposta a um jornalista que mencionou Silva Porto como tendo sido o primeiro descobridor daquelas topografias, a isto respondeu que nunca dissera ter sido o primeiro homem a ali chegar mas sim que foi o primeiro branco europeu. Foi nítida a sua prosápia no rebaixar Silva Porto, colocando-o como um assimilado de segunda categoria; algo que os anais da história tentam relegar dando alvissaras aos sempre altivos ingleses, as cinco estrelas do Mundo… As novas leituras fazendo justiça à verdade já referem «« David Livingstone foi um missionário e explorador britânico que se tornou famoso por ter sido um dos primeiros europeus a terem explorado o interior da…»»»
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
TEMPO DE SANFONAS – No 19º dia da guerra da Ucrânia, 14.03.2022 em 7 coqueiros do Brasil – Republicação a 25.09.2022 no AlGharb do M´Puto
O Zé Barriga é mesmo pançudo – Crónica 3255 - CAZUMBI: É feitiço…
Por T´Chingange - Na Pajuçara de Maceió e Lagoa do AlGharb do M´Puto
Alain Delon dos chapéus vermelhos apresentou-me o vizinho donatário dos chapéus amarelos chamando-o de João Barriga e, em verdade, o nome condizia com a protuberante barrigaça descaída sobre seu calção da LaCost às riscas de um suave verde. Vi-me nele e, momentaneamente, deixei de comer a ginguba que ia ingerindo mandando uma ou outra para o conjunto de pombas que debicavam a areia – por pouco tempo.
Dediquei atenção a uma coitada pomba com um toco de perna e a outra meio comida do rato; curioso, pois era ela a mais hábil pelo que dei-me a pensar que a natureza preenche-nos de outros atributos quando ficamos carecidos de algo. Acabei por arrumar o embrulho do amendoim na sacola da praia no momento exacto em que passava uma senhora esbelta e elegante, de chapéu amplo estilo de capelina em palha e, com uma rede de seda a cobrir parcialmente seu corpo.
Ao redor da cintura com essa seda esvoaçante, as mãos tracejavam o ar sustendo na esquerda um rosário com o cruxifixo balouçando conforme o andamento. Rosário com 53 Ave Marias, seis Pai-Nossos, quatro glórias ao Pai-nosso, uma Salve Rainha na medalha e um Credo na Cruz. Juro que nem sabia como era o rosário mas tentei aprofundar meus conhecimentos e compreendi assim, as paragens e mudança de mãos correspondentes aos cinco conjuntos das Ave Marias!
A meia volta era feita no credo com beijo no cruxifixo. Há coisas tão inusitadas que me dão volta às bizarrias que me levam logologo até aos labirintos apócrifos. Posso adivinhar que a simpática veraneante rezava muxoxos para que a guerra já com 19 dias acabasse quanto antes. Estamos agora em 25 de Setembro com sete meses e um dia de guerra chamada de “Intervenção especial” e ainda não acabou... Lá bem no meio da praia serena, um pescador em sua balsa interrompe a remagem de ximbico e, já no meio da rede de cerco, levanta o bordão, uma e outras vezes batendo com força na superfície da água.
Interroguei-me! Já sei, é para assustar o olho-de-cão, peixe-espada, tainha, xaréu, matona, roncador ou sardinha. Desta feita e provocando medo aos respectivos, estes fujam indo de encontro à rede e logicamente ali ficarem aprisionados. Pode bem ser esta técnica a prática de Putin na guerra; amedrontar e fazer ir pelos ares ou fazendo extinguir oxigénio aos habitantes da Ucrânia; ao invés do bordão usa bombas de maior estrago, secando o oxigénio, fragmentando morte, muito diferente das cirúrgicas bombas de perfuração usadas em outros lados pelos americanos e seus primos.
Russos e americanos têm andado muito próximos em suas experimentações de como banir o ser humano, irmãos até, crianças e velhos e de uma forma ora requintada, ora bruta e estupida como esta malvadez muito mais sofisticada do que a do louco Hitler. Putin leva tudo a eito e até aleatoriamente, mesmo sem confirmar se aquilo é creche, asilo de mais velhos, hospital ou maternidade.
Sempre terei de falar com os personagens de minhas inventações, nomeadamente o FK, ex-coronel que mesmo com uma dose de catolotolo na forma de alzheimer, ficaria horrorizado em momentos de lucidez, com o uso de bazucas lança foguetes dum qualquer jeito e, também económicas, diria ele; creio que recordaria assim as antigas guerras no nosso tempo em que havia granadas defensivas de só fazer susto com barulho e ofensivas que espalhavam pregos pelos corpos moles. Hoje usam todas numa só com cheiros mortais, letais.
As bombas dissuasoras noutro tempo, eram só de brincadeira. Para Putin tudo vale, ofensivas, defensivas, extractivas, perfurantes, de fragmentação com cheiro e a cores, calorificas ou tracejantes, com vinagre, mostarda e pimenta, tudo sem regras como assim estivesse fazendo uma caldeirada de morte! Mas não obstante, como se o fosse só um menino a brincar de jogador de poker, ameaça o Mundo com a bomba atómica, essa mesmo de neutrões, protões com susto paralisante a lembrar o tempo de Ló em que a mulher deste vira estátua só de ver a assombração da luz. Uma força da ONU deveria ir ate lá ao seu mukifo, prendê-lo e julga-lo! Criaram um tribunal de Haia só para inglês ver…Tudo tarda e o “agora” está por um fio com o carapau ao preço da lagosta… Assim, não brinco.
O Soba T´Chingange
MULOLAS DO TEMPO - 21
RECORDANDO: De CHIMOIO a INHASSORO – Ainda no 36º dia da Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA”. Nós, bazungus através de África no Yellowfin Lodge em Inhassoro …
Crónica 3250 – 05.03.2022 em Pajuçara – Republicada a 20.09.2022 em AlGharb do M´Puto
Por T´Chingange – Na Pajuçara do Nordeste brasileiro e AlGharb do M´Puto
Entre Chimoio que fica perto da reserva Gorongosa e Inhassoro e, por cerca de 420 quilómetros, foi um autêntico desespero de calvário de roídas falésias nas margens de betume da estrada nacional N1. Ranhuras sucessivas de fazer virar carros, com buracos de não deixar alternativa – ter de pisar! Ou só mesmo passar devagar, devagarinho. Nos escassos quilómetros com piso bom, lá estava a polícia para exercer sua autoridade. Fizeram-nos alto lá num lugar do nada e, mostraram a máquina parecida como um megafone a marcar 85 Km em luz vermelho. Pois!
O senhor vinha a mais de sessenta, tem de pagar multa! O polícia, viu a carta e os demais documentos sem nada ler, fitando o pensamento só com os olhos do cerebelo, os dois mil meticais a sacar ao gweta bazungu, um genuíno angolano branco, esperto como a surucucu, uélélé. Ordens são ordens, disse o supranumerário filho da mãe em primeiríssima geração, disfarçado de um gordo polícia. Não há como fugir - fiquei fulo depois de andar tantos quilómetros com o eminente perigo de ficar ali numa qualquer pothole (buraco)!
Saí barafustando do carro – quase gritando que era um desaforo armar tocaia na única recta com bom piso em 420 quilómetros. Cá por mim não pago nada, levem-me preso! Saí e, sentei-me no muro da Vodacom, um mukifo promovido a quiosque entre milhares pintados de vermelho e pertencente à empresa de celulares telemóveis! Um negócio que deve ser bem próspero, pois toda a gente tem um “micro-ondas” por onde se pode comunicar e até assobiar com muxoxos espaciais! Salvo as naturais diferenças, rosnava como um cachorro…
Ué! Com palavrões dentro da cabeça, tento reconstruir minha disposição com estranhos nomes esvoaçando raiva de mim aos poucochinhos, buscando novidades sem figas nem juras por sangue de Cristo porque quem anda por gosto num cansa, tal como disse aquele mwadié do Chimoio! Assim deveria ser mas, não o é! No Yellowfin Lodje, a Rosália limpa nossos quartos e retira uma cobra escondida nos tapetes na varanda lateral – uma boa recepção. Sebastião é o administrador, jardineiro e pau pra toda a obra; foi ele que lavou o jeep Nissan 4x4 de el comandante já com uma soma de 7500 km nesta odisseia de bazungus.
Já noite, fomos a pé e pela areia da praia até ao restaurante da Luna Park da Estrela do Mar de Inhassoro ali perto, propriedade dum arquitecto português já com a nacionalidade moçambicana e, que ali se fixou montando uma escola de hotelaria. Tanto a garoupa grelhada como a pescada cozida estavam de requinte; o jindungo era do bom, daquele de aquecer os neurónios no cocuruto do templo. No Yellowfin há um espaço de esplanada do tipo self-service para fazer comezainas e com um espaço bray (lugar de fazer churrasco) já fornecido de lenha. Também há mesas, geleira e fogões de uso comum com os artefactos usuais mas, deparamos com dois casais sul-africanos que açambarcaram quase todo o espaço.
Estes dois casais que tinham um carro apetrechado para safaris, levaram com eles arcas frigoríficas, um armazém de géneros e outos requisitos para dar suprimento a milionários gringos, carcamanos dos estate (EUA) que querem aventuras de caça, de pesca e da forma completa de gozar áfrica em sua plenitude. Bazungus ricos… Escrevo estas linhas tendo duas beatas de dois grossos charutos cohiba cubanos num cinzeiro, desperdícios de seus hóspedes oligarcas que por aqui andam bem assessorados, tomando whisky caro e a granel como se fosse água. Porventura serão até donos de petrolíferas que por aqui andam disfarçados de gente comum, vá-se lá saber! Nós nem perguntamos para não constranger os fechados personagens gringos.
Mas, sempre soubemos que seu trajecto foi planeado ao centímetro pois que foram de avião para Casane no Botswana do Shoba, Delta do Okavango em Maun, Victoria Falls, caçaram trofeus na Zâmbia e agora, aqui, pescando nos mares de Inhassoro usando rápidos gasolinas até Bazaruto – bazungus com muito cumbú. Pois! Há gente que já nasceu borboleta sem passar por larva. Mas isto é o menos pois que li recentemente que Salvador Dali em um momento de excrescente angustia atirou uma vaca de um avião sem ter ido para o livro do guinness book; se não for mentira, acho que a vaca deveria ir em um Nord Atlas. Digo isto porque, também estes gringos devem a andar em busca de actos exóticos…
Aqui temos feito levantamentos com cartão nas caixas multibanco mas, nem sempre aceitam o que tenho da África do Sul; Nesse então eu escrevia: Hoje tive de usar o meu cartão do Totta Santander do M´puto para levantar 10.000 meticais. Está escrito: hoje é 24 de Outubro, quarta-feira – iremos continuar aqui no Yellowfin Lodge até o dia 26, sexta-feira; depois seguiremos para sul, via Vilanculos. Já deitado de barriga virada ao tecto a osga gorda estuda-me com seus olhos oblíquos. Acena por várias vezes, parece cuspir qualquer coisa e depois refugia-se no escuro ficando a espreitar entre a esteira e o pau avermelhado da asna no tecto de capim. Já estávamos na mordomia do dia 24 no encanto do mato ao lado do grande Oceano Índico, seus cheiros e ruídos; em África, eles, os sonhos, são tão especiais que ofuscam a mente com espíritos.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA