Segunda-feira, 11 de Março de 2024
VIAGENS . 147

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3558 – 11.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

moka27.jpg A maioria de nós já não é capaz de compreender hoje, os grandes problemas morais do Mundo no passado. Já lá vai o tempo em que era só separar o joio do trigo, rezar um pai-nosso ou uma ave-maria para suspender as preocupações circunscritas, porque o longe era-o em demasia e no cercano, o senhor padre ou o kimbanda, comunicava na missa avisos de alvissaras com umas quantas defuntações, pois que sabia de tudo e até sabia encobrir o que era para não ser sabido.

E, afinal não existe "pedra" em nosso caminho que não possa ser aproveitada para nosso próprio uso em crescimento. Muita sabedoria, luz e prudência, é necessária ter para saber o que fazer com cada pedra que se encontre, tornando-as alicerces de nossas vidas. Observe-se que a diferença não está na pedra mas, na atitude das pessoas perante as inerentes coisas! Desta feita a estória da “Grande Marcha com Savimbi” de 48 anos atrás, em Angola  reaviva-se aqui numa permanente angustia, surpresa e penosa admiração :

paulo4.jpg As peles das bagas eram fervidas de novo, juntando a elas folhas de uma outra árvore. A sopa liquida que daqui resultava parecia óleo vegetal queimado e, ao fim de meia hora, deixava  os convivas enfraquecidos, muito mais fracos e inchados. Porém, era uma forma de se alimentarem. Um dos guerrilheiros sabia como colher mel silvestre e, trouxe consigo uma pequena quantidade. Vinoma Savimbi, perita em cogumelos silvestres, conseguir seleccionar alguns.

Porém, cinco soldados morreram envenenados, depois de comerem míscaros, apanhados sem terem consultado Vinoma… Savimbi fez um discurso encorajador  exortando os soldados a não se deixarem render perante a morte, porque o povo estava à espera que combatessem. «Esse foi realmente um momento chocante e assustador porque alguns dos soldados não tinham sequer  a capacidade física necessária para responder ao seu apelo, embora pudesse ver-se que o desejavam».

vumby7.jpg « … Muitos conseguiram  manter-se de pé e dizer que continuariam a combater  mas, alguns instantes mais tarde, caíram por terra».  Apesar de tudo isto, o grupo de Savimbi foi ficando mais fraco, por falta de alimentação. Estavam deitados no chão e, ao sexto dia, a maioria, era incapaz de se arrastar pelos seu próprios meios; porém, nesse mesmo dia, uma patrulha chegou com notícias animadoras.

Tinham descoberto uma aldeia a quinze quilómetros de distância, e os seus habitantes eram de há muito, apoiantes da UNITA. A notícia sobre a existência da aldeia actuou como uma injecção vivificante. O soldados estavam anciosos por estabelecerem de novo, contactos com a população comum. Embora tivessem encontrado  em si mesmos, forças desconhecidas, a jornada de quinze quilómetros, que teria demorado apenas duas horas em situação normal, legou doze horas.

africanos3.jpg Os camponeses vieram ao encontro de Savimbi e ajudaram a levar a coluna para suas cubatas. Afirmavam ter sido visitados por comandantes de guerrilha da UNITA, que os tinham informado que Savimbi estava a ser perseguido pelos cubanos e pelo MPLA. O chefe da aldeia  desenhou diagramas no pó do chão para mostrar a Savimbi como enviar patrulhas, em direcções diversas, para ajudar a desencontrar a coluna do Presidente.

Os camponeses não tinham grande quantidade de alimento armazenados, mas forneceram milho, mandioca e carne de antílope. Savimbi, valendo-se de seus conhecimentos de medicina adquiridos em Portugal, reuniu os oficiais e, explicou-lhes os perigos que corriam ao comer alimentos sólidos, depois de tão grande período de fome… Em seguida Savimbi ordenou aos seus oficiais que repetissem o conselho à população, pelo qual eram responsáveis, utilizando os mesmos pretextos de subsistência.

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:10
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Sexta-feira, 8 de Março de 2024
VIAGENS . 146

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3557 – 08.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita04.jpg Na percepção parcial das vitais contingências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinam o futuro próximo ou distante. Cada um de nós foi o que foi por uma coisa pequena, que sem se lembrar do primeiro choro, outros choros se lhe seguiram e, como um risco feito no chão, nem sempre se escolheu dedo ou arado, nem por onde fazer o rego que influiu na  mudança de nossas vidas. E, lembrando esse passado difícil de Jonas Savimbi e seu povo, algures nas matas do Moxico, relembra-se:

Nas margens do rio Cuíto, Savimbi enviou uma patrulha de batedores constituída por três homens, através da escuridão, para o local da travessia da noite anterior. Nenhuma das três emboscadas armadas pelo inimigo se situava ali, mas, apesar disso, Savimbi estava preocupado com o facto de  o resto da coluna poder cumprir estritamente as ordens dadas na noite anterior, de começarem a atravessar o rio, e de que fossem descobertos .

unita003.jpg Uma patrulha de dois homens vindos do outro lado, tinha atravessado o rio e estavam à espera um pouco mais a norte do local da travessia. A estes, foram-lhes transmitidas novas ordens no sentido de ser abandonada a ideia de atravessarem em massa: a coluna oriental deveria, em vez disso, tomar o rumo do norte, ao longo do rio Cuíto, em direcção à região do Bié e, reunir-se a quaisquer guerrilheiros da UNITA.

Que espalhassem a notícia entre a população de que Savimbi estava vivo e, organizassem a resistência. Todavia, se Mulato fosse encontrado, ele deveria tentar atravessar juntamente com mais vinte homens reunindo-se a Savimbi. Mulato acabou por ser encontrado por um grupo de buscas. Perdera-se ao seguir o rasto de antílopes que ele pensava serem os do grupo  de Vanguarda.

luua24.jpg Mulato, atravessou o rio e conseguiu juntar-se a Savimbi 24 horas depois. «Quando Mulato se reuniu a nós, elevou-se a moral dos homens», disse Savimbi. «Ele era o nosso companheiro de armas e, gostávamos muito dele. O facto de ele estar a salvo, permitia mantermos  os nossos planos inalterados». O grupo era agora formado por 250 homens.

Eram em sua maioria soldados, mas também havia quinze mulheres e dez homens civis, em grande parte, administradores experimentados. O tamanho reduzido da coluna do próprio Savimbi proporcionava certas vantagens. O grupo poderia assim, ser mais facilmente controlado, deixando rastos menos pronunciados e poderia movimentar-se mais habilmente para longe das zonas de maior perigo.

besanga2.jpg A carne proporcionada pelo gado abatido depressa acabou e, a velocidade da marcha abrandou transformando-se numa caminhada muito lenta. Ao fim de uma semana estavam todos tão fracos que Savimbi foi obrigado a fazer uma paragem. Em defesa da moral dos guerrilheiros, o contacto com os camponeses teria de ser restabelecido para se conseguir comida: o contacto era também necessário por razões politicas.

Foram por isso, enviadas patrulhas desde o local em que descansavam, bivacados  na mata, para tentar estabelecer os contactos com as aldeias. Todavia, esta área era esparsamente povoada e, porque os homens estavam muito debilitados, não o podiam por isso, patrulhar a zona a fundo e, não conseguindo encontrar povoados tão rápido como o seria desejável.

ÁFRICA10.jpg Havia pouca caça acessível mas, os guerrilheiros Tchokwes, que eram exímios caçadores há gerações, conseguiram matar um javali. A coluna, esfomeada, comeram não só a carne mas, também os ossos; estes foram fervidos proporcionando uma sopa rala com folhas comestíveis. Sopa de ossos que depois  de amolecidos e esmagados o fora bebida, com sofreguidão. A outra fonte de sustento eram bagas silvestres de cor vermelha  que após o serem apanhadas, eram cozidas, tirando-se-lhe a pele e seu interior que ere venenoso.  

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:42
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Segunda-feira, 4 de Março de 2024
VIAGENS . 145

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3556 – 04.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

mavinga1.jpg Recordando a “Longa Marcha” no ano de 1976, terei de relembrar que tive e continuo a ter com orgulho de exibir, um galo em cerâmica que sempre ficou agarrado à lapela do meu terno de azul diplomático, oferta como se assim o fosse: um louvor medalhado, por essa gentil pessoa, diplomata e guerrilheiro da UNITA com o nome de Alcides Sakala que anos depois, representaria a UNITA em Portugal, sendo eu coordenador da Zona Sul do M´Puto por ele indigitado…

Nesta descrição, andarei um pouco à frente e atrás para inserir o essencial dos problemas que afectavam milhares de seres como eu e, em iguais circunstâncias; gente que quis esquecer e, que acabou mesmo por assim o ser… Perturbado com os punhos no ar e assembleias a toda a hora, em terra de Otelo Saraiva, zarpei, bazei, fugi de licença ilimitada rumando para a Venezuela de Andrés Peres até ao ano de 1982

mavinga4.png Mas, lá longe, a “Grande Marcha” em terras do Moxico, em Agosto de 1976, já quase no fim, tinha sua continuidade. A causa pela qual Savimbi combatera durante mais de uma década, parecia perdida. Durante seis meses, ele fora perseguido e incessantemente acossado través destas vastas matas e savanas de Angola pelas tropas cubanas, por aviões e helicópteros: O inimigo aproximava-se ao entardecer, enquanto ele confortava o soldado moribundo.

Savimbi perdera o contacto com os demais grupos do seu fragmentado exército. Os seus aliados do exterior, em África e noutros continentes, tinham-no abandonado… Savimbi parou de confortar o soldado doente para verificar o estado do resto de seu exército. Uma hora depois de ele ter partido, um oficial de ordens, deu-lhe a notícia de que o jovem guerrilheiro morrera. Pouco depois morreram mais dois guerrilheiros.

paracuca27.jpg A travessia dos quatrocentos metros do canal principal do rio, fora muito má. Os hipopótamos, que reclamavam mais vidas humanas do que qualquer outro animal da selva, tinham ameaçado voltar a única canoa que fazia a travessia em vai-e-vem: apesar do risco de as explosões poderem ser ouvidas por patrulhas inimigas, preciosas granadas de mão tinham sido lançadas à água no intuito de assustarem as feras que resfolegavam.

Contudo a parte mais difícil da travessia, fora feito a pé, mergulhados até à altura do peito, através de trezentos metros do pântano inundado que ladeava a margem leste do rio Cuito. As temperaturas geladas e o avanço penoso a pé esgotaram as últimas reservas de energia dos três homens falecidos. «Não podíamos movermo-nos. Não tinhamos escolha. As minhas tropas estavam exaustas após a travessia e alguns estavam já a morrer», recorda Savimbi.

cuamatos0.jpg«A minha gente estava separada, uns na margem ocidental e outros na margem oriental, e Mulato continuava perdido. Disse-lhes que deveríamos adoptar posições defensivas e, se os encontrássemos no nosso caminho, lutaríamos. Quando o combate começasse, poderíamos ter já recuperado forças; então, a maior parte da coluna poderia fugir para a mata, enquanto os outros procurariam aguentar o inimigo».

Durante a tarde chegaram mais dois helicópteros e, deixaram mais homens, tendo um deles aterrado a cerca de quinhentos metros do piquete de segurança de Savimbi, na orla da mata. Desta maneira, haveria talvez entre sessenta a oitenta soldados inimigos a patrulhar os canaviais do rio. Antes do cair da noite, os cubanos começarem a tomar posições para emboscadas. Savimbi decidiu que a sua gente teria de se afastar da zona perigosa…

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:43
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Sexta-feira, 1 de Março de 2024
VIAGENS . 144

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3555 – 01.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita01.jpg Nesta marcha desesperante, eu branco, descrevo-a imaginando-me  a comer raspas de cascas de mandioca, o vai e vem na volta da contra volta,  já cansado de esganar a saudade, de esganar a traição, de esganar a mentira da descolonização, ela, esta coisa, deu-se conta e, sem enfado, muito pausadamente disse-me: - O seu azar, assim quase titubeando a verdade para não se ferir, o seu azar, notei a dificuldade de ir mais além; acenei-lhe assim-assim com o dedo indicador rodando, anda, desembucha! E, repete, o seu azar patrão… o seu azar foi ser um branco mazombo!  E, foi!

Na diáspora, prometi a mim mesmo não me enganar continuando a ser eu próprio peneirando as opiniões, gerindo silêncios e, mesmo estando naquele então no exterior de Angola, fiz trabalho fiel por quem acreditava ser o futuro em Angola. Saí da UNITA mas, ela continuou comigo recordando grandes nomes com quem tive o privilégio de lidar como Carlos Morgado, Kalakata, Alcides Sakala, José Kachiungo Marcial Dachala ou Adalberto Júnior entre tantos outros. Savimbi, o líder, sempre será visto em um leque alargado que vai do génio ao monstro mas, a UNITA foi mesmo seu grande legado: o da liberdade…

guerri3.jpg Mas lá,  às margens do Cuito, em Agosto de 76, Savimbi transmitiu ordens para que eles que ficaram na outra margem, se escondessem na mata; a travessia reiniciar-se-ia na noite seguinte. Foram lançadas granadas para dentro do rio para afastar os hipopótamos e, provavelmente, elas teriam sido ouvidas pelas patrulha inimigas.  Ele temia que os cubanos e o MPLA estivessem na área no dia a seguir.

Na margem ocidental, Savimbi conduziu seu próprio grupo desmembrado através da anhara, deixando atrás de si rastos bem visíveis no capim, coberto de pó e geada. Aqui, de noite, as temperaturas baixam do zero graus; os soldados não tinham fardas para mudar as calças ensopadas em água gelada. Os únicos cobertores que cada um levava também estavam molhados, que para além de serem frios, estavam rasgados. Qualquer um de nós, fica por esta real descrição feito uma pedra de gelo.

unita04.jpeg Assim foi! Muitos estavam enregelados depois de terem passado o pântano com as inerentes dificuldades do rio e, de tal forma que mal podiam falar. «Estavam exaustos, mal alimentados e tinham as faces encovadas». Savimbi continuava a marchar entre a  frente e  a retaguarda da coluna, exortando o povo a seguir em frente, com coragem, em direcção à mata , onde teriam de chegar antes do nascer do sol. Deu ordens à sua ordenança para dar suas roupas de reserva aos soldados mas, seus oficiais superiores esconderam dele um conjunto completo para seu próprio uso.

Savimbi calculara que a marcha através da anhara demoraria cerca de meia hora. Em verdade, demorou três horas, dadas as condições de fraqueza da coluna. Cerca das seis horas e trinta minutos da manhã, quando o sol começou a despontar, estavam ainda a meio do capim, pelo que tiveram de reunir forças extras para correr até à mata cerrada. Mais tarde, nessa mesma manhã, dois helicópteros de fabrico soviético MI-8, chegaram ao local aonde fora feita a travessia do rio Cuito.

piram3.jpg Pairaram a pouca altura do solo e, de cada um deles saltaram quinze a vinte militares cubanos. Felizmente, para a gente de Savimbi, o sol brilhava num céu sem nuvens, secando o gelo que anteriormente tornava bastante visíveis os rastos da UNITA através do capim. Era o dia três de Agosto de 1976 – Jonas Savimbi, um negro angolano, em tempo estudante de medicina na Universidade de Lisboa, licenciado pela Universidade de Lausanne, líder de guerrilha, sentava-se perto da margem esquerda do rio Cuito, no interior de Angola…

Estava-se no solstício de Inverno na África Austral, quando as temperaturas nocturnas  descem abaixo de zero. Savimbi, acalentava em seus braços, um adolescente guerrilheiro que delirava, morrendo de frio e exaustão depois de ter sofrido no corpo a tortura de uma  enregelante travessia do rio, que lhe tolhera os membros.  Não poderia existir maneira mais deprimente de o líder dos guerrilheiros celebrar o seu 42º aniversário… 

Nota: - “Transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:52
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Terça-feira, 27 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 143

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3554 – 27.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

mucuisse.jpg Da singeleza de tudo, descrevendo o medo com vontade de viver, risco o  anseio feito odisseia nas desventuras medonhas de um povo seguindo seu líder. É Savimbi que traça suas argutas, astutas de ladinas, premonições para alcançar a liberdade através da “Longa Marcha”. Atravessando rios, charcos e pântanos com sanguessugas e muitas bichezas rastejantes, risco também e, deste modo, o chão das savanas pisadas pela fuga.

Ungindo sem regras no linguajar, revolucionárias só no pensar, despromovo-me num sonho que ainda sobrevive. Nesta vanguarda estética em que as futilidades suplantam o óbvio, passados quase 48 anos, dizer que desgostei ou o inverso disto, não faz parte do meu adeus à estória que inexoravelmente continua… «Podia ter ordenado a todos que continuassem; porém, queria verificar se o piloto tinha conseguido enviar qualquer mensagem pela rádio», recorda ele – Savimbi.

maun08.jpg «Se os cubanos não viessem, era certo que eles não sabiam onde tinha caído o helicóptero; neste caso, estávamos a salvo. Se eles viessem dentro de um curto espaço de tempo, então, é porque sabiam onde fora abatido o helicóptero e, nós saberíamos que eles estavam no nosso encalço com todos os meios de que dispunham, já amanhã». Ao fim de meia hora, os helicópteros chegaram e descobriram imediatamente, o local do desastre.

Sabendo que os helicópteros regressariam às primeiras luzes do dia a seguir, Savimbi ordenou uma rápida marcha nocturna em direcção a oeste. A densidade das matas dessa área dava vantagem aos guerrilheiros, mas estava demasiado escuro porque não havia luar. Por isso, Savimbi teve de ordenar uma paragem. Deu ordens a Ernesto Mulato que fosse à frente e dissesse à vanguarda das tropas para parar também e, assumir posições defensivas para a eventualidade de emboscadas.

ÁFRICA11.jpgA manada, cujo numero baixara para 12 cabeças, de um total inicial de sessenta, não avançou com os guerrilheiros para não se deixar um grande rasto. O boiadeiro, recebeu instruções para espalhar o gado numa frente ampla e, reunir-se mais tarde ao grupo de Savimbi. Após o descanso, Savimbi avançou com o grosso da coluna para se juntar à vanguarda. Mulato não estava lá e ninguém pareceu tê-lo visto. Savimbi ficou seriamente preocupado. Os cubanos poderiam chegar a qualquer momento e Mulato ficaria em perigo de ser capturado.

Isso era particularmente perigoso porque Savimbi tinha tomado a decisão apenas partilhada com N´Zau Puna, Chiwale  e Mulato, de abandonar a ideia de adoptar o Muyé como zona ideal para um futuro acampamento-base , em vez disso, estabelecê-la na área do Cuelei, a oeste de Serpa Pinto. Se Mulato fosse capturado seria logico pensar que seria torturado e, pressupunha-se que, eventualmente revelaria o segredo.

cubango4.jpg Savimbi decidiu avançar mais par oeste: não haveria alteração dos planos durante quatro dias, altura em que se saberia, ao certo, se Mulato se perdera ou não. Os batedores informariam se estavam a ser largados cubanos na retaguarda. Se assim fosse, então Savimbi, teria de concluir que Mulato fora capturado, precisando de traçar planos inteiramente novos. Mais um dia de marcha trouxe a coluna principal para a mata, podendo dali avistar a anhara, bordejando as margens  do Cuito.

Savimbi enviara um grupo avançado de três homens, em marcha muito rápida, para tentarem encontrar uma canoa que servisse para se fazer a travessia do rio com 400 metros de largura.  Existiam problemas, informaram eles. Apenas tinham encontrado uma canoa que poderia levar três pessoas; isto significava na prática que apenas duas pessoas poderiam ser transportadas de cada vez.

papalagui5.jpg Nas proximidades, a leste da margem do rio, existia uma área pantanosa profunda, com Ceca de 300 metros de extinção. Significaria também que o gado não poderia atravessar o rio… Savimbi ordenou que as doze cabeças fossem abatidas e cortadas em pedaços, de modo a que poessem ser transportadas. Estava-se no início de Agosto e, o gado fora a única fonte de alimento durante o último mês de Julho. As pessoas foram transportadas para a outra margem do rio Cuito durante toda a noite. Sucede que quando Savimbi ordenou uma paragem cerca das quatro horas da madrugada, muita gente do grupo estava ainda na margem leste. 

Nota: - Com “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:09
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Domingo, 11 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 137

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3548 – 11.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

selos1.jpg Continuando a descrição de Fred Bridgland, a coluna de Savimbi parou, de noite, durante um curto espaço de tempo na pequena povoação de Lucusse, a 135 quilómetros de distância do Luso. Como a estrada para Gago Coutinho era também a estrada para a Zâmbia, Savimbi ficou preocupado com o facto de muitas pessoas poderem pensar que estava a abandonar Angola, a caminho do exílio. «A população estava em pânico».

Fiquei atónito ao verificar como o Presidente lhes conseguia transmitir a sua confiança e organizar uma evacuação calma. «Disse-lhes que não ia deixar Angola e que ia para as matas continuar a combater». Savimbi chegou a Gago Coutinho na tarde do dia 11 de Fevereiro, depois de ter atravessado cerca de doze grandes afluentes do rio Zambeze, que corria para leste. Até ser obrigado pelos cubanos a sair dali, um mês mais tarde, Savimbi utilizou o tempo que passou em Gago Coutinho para se reorganizar.

tukya13.jpg Mandou soldados voltar para trás, na direcção do Luso, para destruírem todas as pontes de estrada, mas com ordem para deixarem cada uma delas intacta até ao último instante possível, antes de os cubanos avançarem. A população local, em fuga para o Sul, tinha de ter tempo suficiente para atravessar os rios. O dia 13 de Março de 1976 marcou o décimo aniversário da fundação oficial da UNITA.

A população começou a reunir-se no campo de futebol da Escola, em Gago Coutinho, para assistir a uma parada e ouvir um discurso comemorativo proferido por Savimbi que, ao pequeno-almoço, dissera aos seus ajudantes mais antigos que a localidade seria eventualmente bombardeada e que, em consequência disso, eles deveriam preparar-se para dar inicio à evacuação.

tuiui3.jpg Às 10 horas da manhã desse mesmo dia, pouco tempo depois de terem terminado as celebrações do aniversário, os caças MIG-21 atacaram. No primeiro ataque, três aviões bombardearam e metralharam a última ponte do rio que ainda estava intacta, 35 quilómetros a norte de Gago Coutinho. Alguns dos guerrilheiros que estavam de guarda à ponte sobre o rio Luanguinga foram mortos e outros ficaram feridos. O segundo ataque dos MIG foi contra o campo de aviação de Gago Coutinho.

Um pouco antes do pôr-do-sol, os dois aviões MIG sobreviventes voltaram a bombardear as casas de Gago Coutinho. Ninguém ficou ferido, mas Savimbi ordenou os preparativos para uma evacuação completa no dia seguinte, 14 de Março. Ao nascer do sol do dia 14 de Março, uma coluna da UNITA, agora  formada por 4.000 guerrilheiros e civis, iniciou a caminhada, abandonando Gago Coutinho.

lifune01.jpg Embora a segurança da fronteira zambiana se situasse apenas a 70 quilómetros para leste, o povo de Savimbi tomou o rumo do oeste, em direcção ao interior de Angola. A evacuação continuou durante todo o dia: os peritos em explosivos ficaram para trás, para dinamitar alguns edifícios-chave. Savimbi levou consigo três camiões e cinco carros.

Os caças MIG desviavam agora a sua atenção, metralhando a coluna. Os condutores dos veículos mantinham as portas dos carros abertas, à medida que avançavam lentamente, e, sempre que ouviam o ruído dos aviões, levavam os carros para a sombra das matas que ladeavam a estrada. Depois de os MIG voltarem à base, os condutores voltavam à estrada, com os veículos grosseiramente camuflados com ramos de árvores, para se distanciarem suficientemente antes do próximo ataque.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:49
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Quinta-feira, 1 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 134

NAS FRINCHAS DO TEMPO

- Crónica 3545 -01.02.2024 ::: A CARAVANA.6 – A FUGA

- Escritos boligrafados da minha mochila, aleatoriamente após 1975

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fui.jpeg Continuamos com a descrição de Sonia Zaghetto: Em menos de um mês casei três vezes. Felizmente, com o mesmo homem. E assim deixei minha terra - Angola. Um ano na África do Sul foi suficiente para sabermos que lá não era o nosso lugar. Além da cultura muito diferente, começavam a ocorrer ali os mesmos episódios violentos que havíamos testemunhado em Angola. Decidimos mudar.

Escolhemos o Brasil, país que desde minha pré-adolescência eu sonhava conhecer. Partimos para Portugal a fim de cuidar da burocracia. No dia 7 de Fevereiro de 1977 zarpamos num navio italiano rumo a Santos, onde desembarcamos dez dias depois. Eu estava com seis meses de gravidez. A imensa maioria dos brasileiros nos recebeu de braços abertos, principalmente as pessoas mais humildes.

fumo de caricoco.jpg Alguns, mais abastados, nos tratavam friamente, mas nunca fomos hostilizados. Aos poucos aprendi a amar a terra nova, a querê-la a ponto de ficar amuada quando falam mal dela. Percorri este Brasil quase todo, conheci cada lugar que nem tens idéia, senhor. Andei por picadas, atravessei pontes que eram apenas duas tábuas paralelas, morrendo de medo que elas quebrassem e o carro despencasse.

Comi queijo de coalho em casebres de gente muito simples e coração enorme. Ah, senhor, que país maravilhoso é esse teu Brasil! Descasei, casei de novo. Quando a  saudade dava botes sobre a gente, o Walter fazia a muamba. Comprava cachos de dendê e tirava o óleo em casa mesmo. Era o único jeito de ficar igualzinho ao de Angola. Aqui as frutas são praticamente as mesmas que tínhamos, a temperatura  e as praias também, mas não é a minha casa, entendes senhor?

chai4.jpgAqui eu me sinto bem, mas falta o cheiro da minha terra, falta o cacimbo e a silhueta única do imbondeiro em meio à névoa. Há uma ausência que não consigo definir. Tudo tão igual, mas ao mesmo tempo  diferente. Talvez a gente seja mesmo filho de nosso chão, não sei. Parece que nesta paisagem familiar falta a alma da minha terra, a casa que posso realmente chamar de minha.

Eis-me aqui, senhor, aos 60 anos, com três filhos e dois netos brasileiros. Sou feliz, bem sabes, mas a saudade é bicho traiçoeiro: quando a gente menos espera, ela surge, arrepiando a pele, cravando as unhas na carne, abrindo ocos no peito. Recolho então minhas lembranças, as músicas e fotos de minha terra, e choro mansamente! 

luis33.jpg Angola ainda vive em mim. Como tatuagem de alma…  O relacto de Sonia chega ao fim deste modo e eu T´Chingange, na qualidade de relator, ouso dizer que muitos mais estórias houve nesta odisseia, fuga de Angola. A partir do dia 11 de Novembro de 1975, dia da independência de Angola, mais de 30 países envolveram-se na longa guerra civil que se seguiu, apoiando ao nível logístico e em equipamentos os três movimentos.

A União Soviética e Cuba aproveitaram o momento - a saída de Portugal (as últimas tropas - NT, chegam a Lisboa a 23 de Novembro de 1975) e situação de fragilidade dos EUA, para aumentarem o seu apoio ao MPLA. Pela frente iriam encontrar a ajuda do Zaire e da África do Sul que não queriam ficar para trás no processo de descolonização de Angola.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:40
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Terça-feira, 30 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 133

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3544 -30.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.5A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Namibia31.jpg Continuamos com a descrição de Sonia Zaghetto: Eu e minha mãe fomos para casa de um casal idoso que nos acolheu com uma refeição quente, um banho e uma cama quentinhos. Estava tanto frio. Pela manhã, logo depois do café, nos levaram à loja da filha deles, onde já estavam a minha futura cunhada e sogra. Disseram para escolhermos as roupas que quiséssemos.  Nesse dia fiz as pazes com Deus.

Aquelas pessoas me apresentaram o outro lado da humanidade, feita de bondade com quem está refém da tragédia. Só podiam ser emissários do Divino, anjos perdidos no interior da África. Em Tsumeb, um novo acampamento, as mesmas barracas de campanha. Mas a comida era melhor, assim como o tratamento que recebíamos. Ficamos pouco tempo.

okavango 01.jpeg Conseguimos ser aprovados na seleção, graças a meu futuro cunhado e por eu ter começado a servir como intérprete. Benditas aulas de inglês. Mudamos de campo outra vez. Fomos para Grootfontein, mais próximo a Pretória. O campo    era um presidio que estava sendo desativado.

Restavam lá uns 3 ou 4 presos, todos idosos. O presidio era formado por várias casernas e eles nos separaram. Tinhamos refeitório com mesa e bancos, e a comida era surpreendente. Imagine, senhor, que comemos até sobremesa de maçã caramelada no forno. É que os presos eram os cozinheiros. Fiz amizade com um deles. Tinha 65 anos e estava preso há 30 pelo assassinato da esposa num acesso de  ciúme. A filha não o visitava.

okavango3.jpeg Depois que saí do campo e ele da prisão, fui à casa dele. Era um homem gentil – como pudera fazer aquilo? Mistérios do coração humano que jamais saberei. Continuei sendo intérprete junto à assistente social e ao director do campo. Meu futuro cunhado arrumou emprego numa fazenda. Meu namorado logo sairia, mas eu era menor de idade e não poderia deixar o campo.

Estava dificil para minha mãe. Ir para Portugal estava fora de questão, dado o desprezo com que nos tratavam. Eu e Zé decidimos casar. Minha mãe passou a ser minha responsabilidade (acredita que até hoje ela fica muito zangada quando lembra disso?). E assim, no dia 6 de novembro de 1975, casei dentro de um presidio que funcionava como campo de refugiados. O diretor e a assistente social foram nossos padrinhos.

quitandeira5.jpg Os soldados que tomavam conta do campo fizeram uma cotinha (vaquinha) e pagaram a nossa festa e a lua de mel num hotel na cidade. O casório teve bolo, vestido de noiva e tudo, viu? O Jeep do exército nos levou ao hotel. Os soldados ficaram dentro do Jeep vigiando para que não fugíssemos. De madrugada, acordei com dor de ouvido.

Na recepção não havia remédios, as farmácias só vendiam medicação com receita. Os soldados me levaram para o hospital, onde fui atendida. Ao voltarmos para o campo, os soldados contaram para todo mundo a aventura. Não escapamos à gozação geral: “Nem os ouvidos poupaste à miúda, Zé?” Casada pelas leis sul africanas, no dia 11 de Novembro casei na Igreja e duas semanas depois casei novamente no consulado português.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:36
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Quinta-feira, 4 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 123

KWANGIADES - NO M´PUTO

MOKANDA DO ZECA – Crónica 3534 - 04.01.2024

- As falas muito antigas N´dele – Sem chapéu de chuva, vais ficar molhado - TONITO (era o meu nome de candengue da Luua)

Por:T´Chingange . Em Arazede do M´Puto

zebra1.jpg Carta de José Santos - Impregnado de paludismo duma especial estirpe kaluanda, Zeca colecciona n´zimbos das areias dum chamado de Rio Seco da Maianga. Tornou-se ali professor katedrático e agora lecciona no M´Puto quando não fica com o catolotolo - Anda desaparecido… MAIS UM FANTÁSTICO MISSOSSO TEU....! JURO, JURO QUE DELIREI NAQUELE MAMBO " -  Já estava farto de usar ceroulas até o pescoço a fim de aguentar o frio do M´Puto,..." SIM KIMA KAMBA MUXIMA, DO FRIO DO M' PUTU DE TER DE ANDAR DE CEROULAS, MEIAS DE LÃ ATÉ AO JOELHO, CAMISOLA INTEROIR LÃ DE MERINO, LUVAS, CASCHECOL... AI-IU-É…

TUDO, TUDO PARA TIRAR A HUMIDADE DO SALALÉ SECO QUE BERRA POR QUENTURAS E AS TUJE DAS FRIEIRAS DA CUSPIDEIRA FRIA DAS "CALOTES DE CHORO CAIDAS COMO TREPADEIRAS DO ALASCA PARA A KALUNGA" QUE ESTE INVERNO AS KALEMAS ALTAS TROUXERAM PARA A IBÉRICA, PARA A EUROPA...

Zeca000.jpg POR CULPA DO HOMEM KIAVULU VULUKIA VULUVULU CACHIMBO QUE ENVENENA A ANHARA DO NOSSO SENHOR NO ALÉM. OH! SIM, SIM, TU GOSTAS BWÉ DO NU QUENTE DA NATUREZA..., DE MACEIÓ DO BRASIL, PAJUÇARA, PALMARES... QUE DIZES SER DE RENOVAÇÃO DE PELE COM ÓLEO DE COCO DO SOL REDENTOR...

OS BICHOS, AS PLANTAS MEDICINAIS..., TUDO, TUDO, NATUREZA TE CONHECEM E TE CHAMAM O KUUABA N'GANA VATA T`CHINGANGE! SEI QUE DELIRAS, TOPANDO A TEXTURINHA DA BELEZURA NUA NATURAL BATUCANDO DE SALTOS ALTOS NO CALÇADÃO NO CORSO DO CARNAVAL! UÉ!

soba001.jpg TU PRÓPRIO FIGURANTE DOISIMILDEZOITO VESTIDO DE "CAPATAZ" DE BARRIGA DE JINGUBA DE FORA E DE CHICOTE NA MÃO NO CORSO DE PRAIA DA GUAXUMA.... RECORDANDO OS TEMPOS DOS CORONÉIS E DA SINHÁ...

AMAM'IÉÉÉ´! TUA SORTE MERMÃO DO RIO SECO DA MAIANGA, TU SERES PÁSSARO DE VOO DE MUITOS MUNDOS COMO O KWETZAL.... AGORA, TAMBULA CONTA! UÉ! COMO É? FEIJOADA Á TRANSMONTANA, TRIPAS À MODA DO PORTO, ENSOPADO DE CABRA VELHA, BODE MESMO... A BORDO DO ESTIBORDO...!

zeca01.jpeg SIM, SIM, MAS BREVE TERÁS E LOGO AO DESCERES, PISARES A TERRA E SENTIRÁS O CHEIRINHO DO CHURRASCO PITA VIRGEM. MESMO TABAIBO DO MATO NA GRELHA, NO ESPETO PAKASSA TENRA E A PICANHA NA GRELHA A ESTALAR.... OS TEUS CAMINHOS SÃO DE DEAMBULAR FELIZ NA KUKIA DA VIDA QUIÉ SUMAUMA.

QUE A TUA VIDA DOCE CONSOME, É O TEU PREPARO, É O TEU ELIXIR QUE ESMAGAS NO TEU PILÃO E, BWÉ CONSOMES..., TAL COMO OS TORRESMOS DA BELA MOPANE.... NESTE TEMPO DE ESTUPOR, TERRA DE “FIADO CIVILIZADO” DE SEM RESPEITO, CURRICULO SUSPEITO … OH! N´GANA N´ZAMBI! KAPIANGO, PÉS DE PATRANHA, EDIFICAM-SE NOS POLEIROS DE NOSSOS CELEIROS…. E, NÓS SÓ XIMBICANDO N´DONGUS  NAS MULOLAS DO RIO SECO NA SAUDADE…

KANDANDU - ZECA2018020722H00

Das escolhas de Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:45
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Terça-feira, 12 de Setembro de 2023
VIAGENS . 75

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3475 – 12.09.2023

- Escritos boligrafados da minha mochila, em CASANE, às margens do Chobe – No Shoba Safari Lodge de Kasane

Entre os anos de 1999 a 2018

Porfrancistown03.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Botswana 264.jpgSaltando no tempo, vejo-me debruçado sobre os funis feitos na terra pela formiga-leão, os nossos conhecidos fuca-fucas de Angola. Pois, assim debruçado no Shobe Safari Lodge bem na margem do rio Shobe, concertávamos ideias sobre o que fazer e ver nesta parte norte do Botswana. Os alojamentos dos principais módulos, estavam todos ocupados e restou-nos ir para as tendas com os requisitos de um chalé normal com água, energia e chorrasqueira brai,  e seviço de hotel…

O nome da região Shobe, deriva do rio que corre ao longo do norte do parque aonde ficamos; em verdade é uma continuação do rio Cuando  que saindo do estremo do Leste  de Angola, atravessa a faixa de Caprivi passando a formar fronteira entre a Faixa de Caprivi da Namíbia e Botswana que passa a formar fronteira com a Zâmbia e que toma este nome de Shobe.

okavango3.jpeg Proseuindo o Cunene/Shoba,  dá encontro em Kazungula a escassos quilómetros de Casane com o rio Zambeze fazendo aqui, fronteira a Leste com o Zimbabwé. O rio Cuando é um rio que nace no Planalto Central de Angola e corre para sueste, formando parte da fronteira entre aquele país e a Zâmbia de uma forma caprichosamente ondulada e, formando ilhas na envolvência de muitos  charcos, tal como o Delta do Okavango do rio Cubango…

Durante este percurso, o leito do rio Cuando, ainda em Angola, é formado por ilhas e canais, com uma largura que varia entre cinco e dez quilómetros. O rio Cubango/Shobe, tem 800 km de comprimento. até encontrar o rio Zambeze; aqui também de uma forma muito tortuosa formando à semelhança do Leste de Angola  muitas  ilhas e, tendo muito fartura  de animais, destacando-se  os elefantes, hipopótamos e crocodilos…

torres14.jpgE assim feito, menino de alegria suburbana, descalço como um candengue de musseque com aduelas de barril do M´Puto, baptizado com água do Bengo, limpo, arrumadinho e de colarinho ajeitado na hora de berridar a ver paquidermes, hipopótamos, javalis, jacarés e veados à centena senão milhares. Na volta sou todo feito em pó asombroso . A alegria de contemplar e de compreender é a linguagem a que a natureza me excita, na preocupação pela dignidade com a saúde num quanto baste e, com o suficiente dinheiro para poder comprar as alfaces ou o paio defumado saído dum pata-negra.

Feliz de quem atravessa a vida prestativa sem o medo estranho à agressividade e ao ressentimento, capiangando a necessária felicidade, porque para se ser membro irrepreensível de uma comunidade de carneiros é preciso antes de tudo, também ser carneiro. O esforço para criar uma comunidade neste meio, sem a qual não podemos viver nem morrer neste mundo hostil.

fuca0.jpgE, de forma íntegra, tornar-se em um sofrível no meio dum impossível. Para seres favorável a alguém, tens de descartar outro alguém. É uma regra que sempre me provoca rebeldia. Tivemos batata frita, biltong e tostas rijas rusk que nem paracuca que depois se dissolviam nas humidades. Um grande balde com gelo, servia para nele meter todas as bebidas por forma a mantê-la frescas durante o esplendor.

prado0.jpgForam mais de três dias divertidos aqui no Shobe Safari Lodge de Casane - olhando até pelos pés e cotovelos: boligrafar também a boa forma de preencher o tempo sobrante, sempre à coca do surgimento de um facochero feito javali ou porco ou um bambi dócil com macacos a querer roubar sabão e barafustar mais álem,  por aquilo não ser  o weetabix, a farofa do seu breakfast. Neste então esperávamos a hora do seguinte dia para, a partir daí, darmos a volta em barcaça a uma áfrica como se assim fosse, a primeira vez – no rio Cubango ou Shobe …

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:56
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Quarta-feira, 6 de Setembro de 2023
VIAGENS . 71

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3481 – 05.09.2023

- Escritos boligrafados da minha mochila - Em Maun Rest Camp, cidade de Maun no Delta do Okavango…

Por maun001.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

maun9.jpg Aqui andamos remendando longos silêncios remoídos na sustentação das mentiras ou verdades sobre africanos, sua terra e sua origem, gente com gestores, chefes sofríveis por desclasificados; como entender tudo numa longínqua aridez de secura politica, geográfica e climática, um investimento de leveza desocupada, fazendo nada ou parecendo nada fazer, subsidiada pelo G7. Os cadernos coloniais referem que nestas suas correrias e naquele tempo de descobertas, estes, vendiam ao desbarato dentes de elefantes, borracha, escravos e mel.

Recordar que o major de infantaria, o sertanejo Alexandre de Serpa Pinto, realizou a viagem de Luanda ao Natal, em 1879; que também, os oficiais de marinha Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, em 1885 exploraram todo o sertão de Moçâmedes a Quelimane, num percurso de 4.500 milhas no intuito de ligar Benguela de Angola à Beira de Moçambique passando por Tete às margens do rio Zambeze e, terminando ali às margens do Oceano Indico.

maun04.jpg Estas viagens causaram a admiração da Europa e glorificaram o nome de Portugal mas… Mas, tem sempre um mas! Naquele tempo havia um Inglês que dizia que aquilo era tudo dele – do país dele chamado de Reino Unido; chamava-se Cecil Rodes e este, pretendia fazer uma linha de caminho-de-ferro desde a Cidade do Cabo nas terras descritas pelos portugueses como do Adamastor ou das Tormenta até ao Cairo no Egipto.

Pois este, não fez, nem deixou fazer. Um imbróglio que mete o tal mapa Cor-de-Rosa que nunca desabrochou como flor. E, tudo apenas para numa farsa diplomática cortar o mapa Tuga a meio... Sabemos desde esses tempos idos  que este "rail" chega à Tanzânia mas, diga-se que mais depressa chegaram os portugueses com o CFB (Caminho de Ferro de Benguela) à fronteira do Zaire no rio Luau (antiga Republica Popular do Congo)...

Em terras do fim do mundo, no Botswana, convêm relembrar que os aborigenes habitantes ancestrais, foram os bosquimanos (bushmens), khoisans, caçadores-recolectores que se espalharam pelo grande Kalahári e Karo. Em uma outra minha viágem anterior, tive oportunidade de observar estes indígenas errantes no seu meio natural. Foi no Kalahári Gemsbok National Park entre Twee Rivieren e Bokspits, um lugar ermo, divisão de fronteira, picada em mulola de um rio seco aonde só corre água quando chove: paramos ali para fornecer água a esses pequenos seres de tês parda, secos de carnes, vestindo pequena tanga tapa-rabos. Andava então à procura do caracal – um gato grande com as orelhas empinadas, que acabamos por avistar.

maun05.jpg Deslocavam-se em pequenos grupos com algumas lanças, apetrechos simples aonde as mulheres se distinguiam por levar ornamentos na forma de zingarelhos nos artelhos. Enchemos suas cabaças entre linguajar de estalidos do geito de makankala misturados com sopros de suspirose aspirações gututrais do qual nada entendemos.

As mulheres levavam corotos, imbambas de cozinha e trastes envoltos num saco em cabedal que era suportado nas costas por uma tira que se ajustava à testa. Agradou-me ver as várias etnias, brancos, negros e mestiços, muçulmanos e cristãos, laborarem o progresso sem tumulto. Ao invés disto, em Angola a gadanha da morte feito catana, para muitos e, para vergonha de Portugal, coisas manobradas por capitães de aviário em uma abrilada enviesada, felizmente, não chegou aqui ao país Botswana.

maun9.jpg Admirei-me até, nesse então, ver organogramas, gráficos que representam a estrutura formal do governo, com algumas caras brancas, coisa que a propósito foi posta de lado em Angola, terra dum Tundamunjila vergonhoso chamado indevidamente de descolonização; Ali, em Angola, a maldade, chegou antes do tempo. Por isso a necessidade de filosofar falas, porque no consciente do povo subjugado – NóS - fica a repulsa, nojo, repugnância e asco de governantes que se perpetuaram imerecidamente no poder do M´Puto…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:29
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Segunda-feira, 4 de Setembro de 2023
VIAGENS . 70
 
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 348004.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - Em Maun Rest Camp, cidade de Maun no Delta do Okavango…
Por tonito11.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

maun07.jpg Botswana, território que começou a ser desvendado por exploradores a partir do século XVIII, deram-lhe o nome de Bechuanaland mas, após a sua independência em Setembro de 1966, toma o nome de Botswana com junção do prefixo "bo" que quer dizer homem em língua Bantu a de "Tswana", nome da tribo mais numerosa daquelas paragens

Realizando regulares eleições ao invés de outros muitos povos de África, é considerado um exemplo de estabilidade política. Botswana é um grande planalto árido situado bem no interior de África meridional. É daqui que saem para o resto do mundo os mais puros diamântes dando ao povo um modo de vida melhor equilibradao do que a grande maioria dos países do continente negro.

maun8.jpg Os principais grupos étnicos são os Tswanas, Kalangas, Khoisan entre outros dos quais os brancos nativos dali e indianos que para ali foram idos do Quénia, Zâmbia, Tanzânia, Ilhas mauricias, África do Sul e principalmente do Zimbabwé aonde a instabilidade ditada por Robert Mugabe (já falecido) a isso obrigou.

Deitado de barriga virada ao tecto de lona da tenda, a osga gorda estuda-me com seus olhos oblíquos – também aqui há osgas gordas, indicação de que também aqui há mosquitos. Acena por várias vezes, parece cuspir qualquer coisa e depois refugia-se no escuro ficando a espreitar entre a costura do tecto e o pau avermelhado da espia tecto de sisal. Ainda não eram horas de dormir mas estava relaxando do almoço feito de chocos e mexilhões “apanhados” no supermercado Spar de Maun…

maun05.jpg Aquela osga era-me familiar, dei-me conta de que só ela sabia alguma coisa da minha origem, minhas andanças. Sim! Quase percebi, chamar-me de Niassalês – sentia-me reduzido a um ponto de interrogação; acho mesmo que aquela gorda osga via pessoas que mais ninguém via ou conseguiria ver. Nesta questão de instantes o tempo murchou-me a vontade de entender se o pior era eu não suportar o balanço das potholes (buracos) ou as quezílias do tipo de entre gémeos.

Convêm saber: -A Republic of Botswana, em tsuana é um país sem ligação ao mar. Sua capital é Gaborone, que é também a maior cidade do país; seu relevo é plano com o Kalahári ocupando 70% de seu territário. Sua fronteira com a Zâmbia ao norte, perto de Kazungula no rio Zambeze, com travessia feita por ferry-boat por onde já passei, é um lugar que destaco pela diversidade e beleza que marca a fronteira com este país.

IMG_20170720_104337.jpg O Botswana em 1966, era a segunda nação mais pobre do mundo. Desde então, transformou-se numa das economias mais consistente, com um alto rendimento nacional dando ao país um padrão de vida modesto. Apesar de sua estabilidade política e considerável prosperidade, o país está entre os mais atingidos pela epidemia do HIV/AIDS; estima-se que cerca de um quarto da população, seja seropositiva.

Lendo descrições antigas dos khoisans, revejo-me em Silva Porto a descrevê-los: Magros, ossudos, envoltos em peles de leopardos ou chitas e com os cabelos penteados em tranças longas. Também aqui, são os grandes caçadores desta parte de África; dóceis e selvagens no aspecto como sempre são referidos descendo e subindo ao longo das linhas de água aonde só corre água quando chove. Mulolas que lhes mata a sede com seus charcos (água do subsolo, a pouca profundidade). t´chimpacas naturais com nomes de t´chicapa e, em terra de mwene-mãe nos sertões com nomes de Lubuco ou Lubo, distantes do principal rio, o Cassai, aonde as manadas de elefantes são às centenas.
(Continua…)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:34
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Domingo, 3 de Setembro de 2023
VIAGENS . 69

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3479 – 03.09.2023

- Escritos boligrafados da minha mochila - Em Maun Rest Camp, cidade de Maun no Delta do Okavango

 Por soba002.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

maun09.jpg À entrada da fronteira do Botswana em Popavalle ou Popa Falls, um posto fronteiriço, deparamos com o aprumo de agentes aduaneiros que nos atenderam duma forma surpreendentemente civilizada ao invés de outras anárquicas fronteiras aonde tudo se resolve com uns quantos dólares de gasosa.

Com os restos de murmúrios falsos, tinhamos a ideia formada de que o Botswana era um país esquecido com muitos burros mortos na estrada e desordenadas lixeiras, a comparar com outros países aonde impreparados chefes exibem arrogância impregnada de devaneios mal curtidos mas, foi um total engano.

Conhecer a terra é em verdade um laboratório de vida constante porque nos purifica e regenera. O corpo é em verdade o pára-choques das emoções recolhidas da terra. Estes kimbos, na forma de quilombos com paliça em circulo e, a contornar palhotas redondas, rondáveis feitas a barro com bosta de boi chapados à mão nos entrelaçados chinguiços amarrados a mateba (casca de àrvore ou arbusto) - a taipa; numa vastidão de capim ralo, formavam conjuntos harmoniosos.

maun12.jpg Algumas cubatas, ficam circunscritas com cercas de paus, chinguiços duros dispostos em ciculo e, com uma só entrada, enterrados e afiados nas pontas viradas ao céu, com o  fim de proteger das feras a quem ali vive. As lembranças de coisas passadas podem confundir-se com o hodierno numa amalgama de engravidadas verdades e no exacto momento de sobrevoar o kimbo grande de Maun, feito cidade de paliças no Botswana, desfrisei essas visões à mistura com os horizontes verdes de água silenciosamente parada deste Delta do Okavango.

Falo na qualidade de gente feita  zebra, nem preto, nem mulato, nem branco de verdade porque o tempo desclassificou-me no quente vento da saudade. Saudade desnorteada no sonho encardido, juntando umas lágrimas ao Delta do Okavango e, lembrando a Angola da Lua da minha infância suburbana, amulatada do bairro da Maianga, inícios do Catambor…

maun001.jpg No Delta do Okavango, cidade de Maun instalámo-nos em duas tendas do tipo campanha militar no Maun Rest Camp. O Motsentsela Tree Lodge tinha melhores acomodações mas nós preferimos sentir a natureza mais próxima através duma lona esverdeada ao jeito daquelas vistas em filme do Tarzan e, assentes em um estrado de madeira; os banheiros eram uns caniços esparsos instalados a meio do Rest Camp, sem qualquer cobertura o que, para alguns utlizadores, os  inibia em usar, principalmente durante o dia destapado do escuro.

Maun é uma das cidades mais caracteristicas de África mantendo a tradição de construção redonda feitas em taipa de barro e paus cruzados, sendo cobertas a capim de canudo grosso caracterisico das margens do rio Okavango. No dia seguinte alugamos uma avionete e sobrevoamos o Delta a duzentos metros de altura vendo do ar, todo o tipo de animais desde o hipopótamo ao elefante, distribuidos em grupos naquela enorme extenção de charcos serpenteados por verdura, ora rasteira, ora de árvores de grande porte.

maun02.jpg O explendor da biodiversidade estava ali espalmado ao redor fazendo-nos imensamente pequenos num pantanal maravilhoso (opântano do Okavango). Vivendo os dias no limite, queriamos que as coisas perdurassem assim seduzidas. Já distantes do Sul de Angola, linha de Calai, Dirico ao Mucusso, extravasando a face oculta do meu personagem "espia", mantinha-me fiel aos princípios éticos recolhendo vivências dos povos circundantes a Angola.

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:24
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Sábado, 2 de Setembro de 2023
VIAGENS . 68

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3478 – 02.09.2023

- Escritos boligrafados da minha mochila - no “Estado Livre de Fiume” em Grootfontein – com palavrório erudito.…

 Por roxo135.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

soba0.jpeg O que importa mesmo reter é o revelar de relações entre as coisas, mesmo partindo de hipóteses falsas, premissas incertas. Na minha leitura diária pude verificar que segundo Mário Bunge um entendido em filosofia da física, que todo o coro de ideias científicas, serão avaliadas à luz de resultados a partir de tipos de testes a saber: 1-metateóricos, 2-interteóricos, 3-filosóficos e 4-empíricos. E, não se faz nenhum exame empírico a uma teoria senão depois de ela ter passado no crivo dos três primeiros testes. Estes carolas torram nossos neurónios a começar pelo palavrório da sua função erudita.

Nessa conjugação, o metateórico apoia-se na forma de conteúdo da teoria, particularmente a sua consistência interna. O teste interteóricos procura analisar a compatibilidade da nova teoria com outra. Só depois virá a prova filosófica situada no campo da respeitabilidade metafísica e epistemológica dos conflitos e pressupostos da nova teoria à luz de algum sistema filosófico. Cada um destes palavrões requer pesquisa apurada para penetrar nos neurónios e, de forma acertada, ser arrumada nos gavetões certos da compreensão. Mas, aqui em áfrica. o melhor mesmo, é termos os pés de Bohér com os olhos bem abertos para não nos espetarmos em qualquer espinho que atinja o coração.

maun0.jpg Voltando à odiseia estória que nos dá voltas à mioleira, podemos saber lendo que depois da Segunda Guerra Mundial, a 3 de Maio de 1945 as tropas alemãs de ocupação foram substituídas pelas tropas do Exército Popular de Libertação da Jugoslávia. Nos primeiros dias do novo governo, vieram acompanhados do fuzilamento em massa dos ativistas do Movimento Autonomista.

O símbolo da cidade, a águia bicéfala, retornou ao uso apenas em 1998. No final do ano 2004, um grupo de fiumanos fundou a "organização virtual Estado Livre de Fiume" com a ideia de reunir os fiumanos pelo Mundo numa identidade própria.  Como se pode concluir em história, quando tudo chega até nós já passou por um filtro e, muitas vezes tem a respeitabilidade “Ad Hoc” e de forma arbitrária.

Só depois e com as críticas de entendidos na matéria, é que surgirá o tal de “racionalismo” de pretensão universal com um simples “A priori”. Por hoje fico-me por aqui sem entrar no campo da logicidade plausível. Não fiquem assim matutando e, tentar entender as dificuldades da interpretação das coisas  com a suprema “Teoria da Incerteza” ou um simples “Só sei que nada sei” para se refastelar nas palavras com frustrados sonhos.

maun01.jpg Teremos sempre de ter em conta que os homens e mulheres com projecção viram monumentos da história; nestas  projecções se acoitarão bichezas menores e qualquer animal inferior que por ali ande, fará suas necessidades aonde quer que calhe, porque as bitacaias feitas matacanhas, sem conceitos de alma penetram sim, nos olhos dos pés. Mas, sempre voltando à base daquele espaço, sabe-se que entre os cidadãos de Fiume de etnia italiana, um grande número emigrou por motivos étnicos já quase nos finais da segunda guerra mundial.

Aconteceu assim, fugir-se às ideologias de Hitler e suas perseguições aos judeus com outras razões ideológicas, que hoje nos causam forte repulsa. E, tendo sido a Namíbia, um território colonial alemão, aqui fundaram suas "Comunas Livres de Fiume no Exílio" e, à qual aderiram muitos fiumanos; surgir assim daqui, um território colonial mais brando nas questões politicas, penso eu, neste nome e, num lugar tão distante.

maun3.jpg Para terminar esta estória bem intrincada, é deveras curioso encontrar assim, vastos territórios com uma aparente autonomia especial! Já deparei com isto às margens do Orange - Um território chamado de Orândia com moeda própria, bandeira e outros requisitos de gestão diferente do resto do país – África do Sul; também do espaço Casino de Sun City e Pilanesberg com um estatuto especial e do espaço e,  Farm Parys- Free State às margens do rio Vaal perto de Potcheftsroom.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:06
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Quarta-feira, 30 de Agosto de 2023
VIAGENS . 66

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3476 – 30.08.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - no “Estado Livre de Fiume” em Grootfontein – No Otjozondjupa da Namíbia…
Por FK2.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fiume02.png Aconteceu em paz, divorciar-me de mim, dando a chave do cofre ao mestre da charrua da vida, pensei assim aqui e, neste lugar preciso aonde judas perdeu as botas. Às vezes fico meio periclitante com Ele, o Nosso Senhor. Mas, adicionando casos e acasos, coisas miúdas, estendo minhas quinambas, mexo os dedos grande e o pequeno do pé revendo-me no equilíbrio da realidade tão bem fabricada: com a destreza bóher de fugir intuitivamente aos espinhos das acácias dum tamanho quilométrico, um exagero de 99,999%! Isso, de uns bons 10 cm…
Até já estou ganhando olhos nos pés, talqualmente como o homem que teimou em plantar batatas no deserto e, que por via dum sonho, teve-as – um milagre feito em toneladas de tubérculos a que os cientistas não têm a devida competência opinativa para o subtrair – o milagre.
E, porque foi que viemos aqui, se não era necessário afastarmo-nos tanto, a um lugar tendo por testemunho absoluto o céu que nos cobre, para onde quer que se vá. Para provar, que o que tiver que acontecer acontece, haverá sempre o lema: um milagre em que as pessoas, não escolhem os sonhos que têm; foi em duas noites passadas em Windhoek seguindo um destino dormido na Guest House Willtotop de Vanda Potgieter, esperando assim seguir o rumo ainda por escrever.

fiume8.jpg E, numa singular legitimidade, partilho só um pouco de um reino emprestado, aonde todos são presumíveis herdeiros e arrendatários. Quem não acreditar que assim o é, que se lixe! Pois! Reino, aonde o tempo, também passa igual para todos - Segui na direcção de Okahandja, Otjivarongo, Otavi, Grootfontein com paragem neste Fiume Rust Camp de Otjikango com o rumo do Rundu no Okavango.
Pois foi a Vanda Kikas Miranda que amavelmente marcou minha reserva de estada no Rest Camp Fiume, o lugar que aqui descrevo com a surpresa de reavivar uma estória desconhecida. Bem! Aqui estou neste estado LIVRE de FAZ-DE-CONTA em África, em um lugar longe de tudo, Fiume Rust Camp situada na área administrativa de Otjikango.

khoisan02.jpg Pesquisando a Wikipédia pude assimilar: Os cidadãos de Fiume lá da Croácia actual, de etnia italiana, um grande número emigrou por motivos étnicos ou razões ideológicas, fundando aqui, como em outros lados, "Comunas Livres de Fiume no Exílio". Numerosos fiumanos e, não sómente italianos, surgiram aqui e, desta forma, montaram bivaque após a Segunda Guerra Mundial
Tenho a dizer que a todas as perguntas que me possam fazer, não poderei dar todas as respostas porque nem sempre as estórias e lendas, conservam alguma relação com os factos, transformando-se até em puras fábulas. Será o caso de uma “Croácia de 14 km 2” em pleno mato da terra do nada, para satisfazer um sonho de alguém. As guerras provocam estas diásporas; alguns estabelecem-se algures, outros procuram algo que nunca irão encontrar, como no meu caso… Eu, que saí de Angola também tive este sonho: acampar-me na foz do Amazonas…

fiume12.jpg E, assim ungido de guerra "tunda munjila" (branco, vai embora), agora era o tempo de me ver no principio do nada, nada que resvalou num sempre. Tomamos o breakfast às sete horas do seguinte dia confirmando o legitimo cuidado de Jorn Gresssmann, o zelador-mor do Free State, uma simbólica herança, um perfeito sonho de um primogénito em terra de nome bizarros como Omatako, Okavarumendu, Otjssondu, Okakamara, ou Otjinoko. Já só restavam 440 km para chegar à Andara do Okavango. Mas antes, terei de descrever pela via da cábula Wikipédia, essa terra de Fiume, lá na Europa, no Mar Adriático…
(Continua…)
O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:39
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Terça-feira, 29 de Agosto de 2023
VIAGENS . 65
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3475 – 28.08.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - no “Estado Livre de Fiume” em Grootfontein
– No Otjozondjupa da Namíbia…
Por:

fiume6.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fiume10.png Ainda em terras da Namíbia e antes de chegar ao Rundu, um destino base em minhas, nossas andanças, pernoitamos em uma fazenda quase tão grande como o original Fiume, uma terra situada na Europa, que já foi Italiana e uma cidade estado. Já foi Croata e, desde 1947, pertence à Jugoslávia. Pois isto parece irreal em África mas aconteceu!

Dado que os homens para tudo querem explicações, eu também quis saber um pouco da história do lugar aonde passei e ali permaneci por dois dias em duas vezes e, em diferentes datas.Surpreendi-me com tudo o que ouvi, que vi e do que pesquisei, pois que a este lugar com 14 km2 foi dado o nome de Fiume Rust Camp situada na área administrativa de Otjikango.

Fiume11.png Como disse, Fiume, foi uma cidade-estado da história contemporânea, entre 1920 e 1924, na actual cidade de Rijeka, na Croácia. Este Fiume Lodge e game farm, mantêm sua excêntrica soberania ostentando a bandeira da Croácia de forma simbólica.

Com metade da área daquela ex-parcela europeia tem (ou tinha) Jorn Gresssmann como zelador-mor de uns quantos habitantes khoisan residentes e uns quantos turistas ocasionais que por ali vão chegando. Os demais habitantes são bichos tais como girafas, elands, kudus, orixes, zebras, springboks, hartebests, e avestruzes entre outros, de mais pequeno porte.

fiume0.jpgTive de abrir três portões até chegar ao conjunto de lapas, chalés bem ornamentados e cobertos a capim do okavango formando um complexo de apartamentos em circulo e, um outro conjunto formando a recepção, bar, restaurante e cozinha. Nas duas entradas controladas por vídeo, existem duas fiadas de arame sendo a interior alta e com fios ligados a corrente continua para evitar fugas de olongues por via de salto ou encosto.

 
Entre o bloco de serviços e os chalés lapa em forma oval está disposto um agradável jardim com grama e plantas exóticas ornamentais enfeitando o conjunto com piscina, d´jango de descanso, lugar de braseiro e árvores de porte bonito autotnes. Em realidade é um oásis no meio de um nada, oceano verde de espinheiras.

FK5.jpgAté este núcleo habitacional, tive o cuidado de ir a passo de morrocoi tendo-me desviado de um cágado e um sengue (lagarto grande) passeando ao longo da picada. A receber-nos lá estava Jorn desfiando seu austero calendário; deu-nos escassos minutos para inicio do jantar que impreterivelmente era servido às sete horas, inicio da noite, e dali deliciando-nos entre outros acepipes, carne de gnu e de eland fechando com creme de manteiga escocesa, assim ao jeito de baba de camelo. E. dali podíamos ver através das janelas de vidro e rede anti-mosquito os muitos kudus que ali vinham beber entre avestruzes e springbokes como se sentissem obrigação de se exibirem a nós, antes da noite. Foi mais um fim de dia com surpresa inesperada, um “enjoy you stay” no requinte da sempre agradável Windhoek lager.

(Continua…)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:16
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Sexta-feira, 18 de Agosto de 2023
VIAGENS . 57

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”

- "DOS TEMPOS DE MU-UKULU*“ - Crónica 3467 – 17.08.2023

- Boligrafando estórias em NAMUTONI do Etoscha

–Ondundozonanandana -  Foi no ano de 1999

Por:khoisan01.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

khoisan001.jpg Para terminar a breve descrição da relação entre Namutoni do Etosha Pan na Damaralândia (hoje Ovambolândia, na Namíbia actual) e, a Batalha de Naulila no sul de Angola, acrescenta-se que este forte, também serviu de campo de prisioneiros resultantes da Batalha (Desastre) de Naulila entre os anos de 1914 e 1915.

O incidente de Naulila, influenciou profundamente a opinião pública de Portugal. Os defensores da entrada de Portugal na guerra contra a Alemanha ganharam esta causa por via deste acontecimento na África colonial. Naulila foi o grande catalisador do processo que levaria Portugal a entrar na Grande Guerra a 9 de Março de 1916.

Namotoni5.jpg As tropas metropolitanas (M´Puto), mal preparadas para a secura da savana, foram obrigadas a fazer centenas de quilómetros em marcha forçada em direcção à fronteira da Damaralãndia no rio Cubango, atravessando um território cada vez mais inóspito e habitado por povos crescentemente hostis.

Esta falta de preparação para repelir o ataque e, a falta de resistência das forças portuguesas em Cuangar e nos postos ao longo do rio Cubango foi explicada numa das sessões secretas que a Câmara dos Deputados do Congresso da República dedicou em 1917 à participação portuguesa na Grande Guerra.

Nessa sessão, o deputado Brito Camacho, fundador do Partido Unionista, afirmou que a chacina de Cuangar fora motivada por não ter o respectivo comandante recebido notícia do incidente de Naulila, e ter confiado numa informação de Portugal, expedida directamente de Lisboa, dizendo-lhe que estávamos em estado de neutralidade.

khoisan04.jpg A colonia de Angola levou ao fecho da única fronteira ainda aberta da colónia alemã, já que pelo sul e pelo leste as forças britânicas da União Sul-Africana já a sitiavam desde a declaração de guerra britânica de 5 de Julho de 1914 e, por mar, a poderosa marinha britânica impunha um apertado bloqueio.

Com as comunicações cortadas e, sem rotas de reabastecimento, em Julho de 1915 a Damaralândia rendeu-se às forças da União Sul-Africana sob o domínio Britânico. O incidente de Naulila, de que resultou o corte do reabastecimento a partir de Angola, foi factor determinante na sua rendição. Em verdade, o Desastre de Naulila acabou por determinar a perda da colónia alemã, passando a ser um protectorado Sul-Africano.

É curioso recordar isto fazendo uma comparação com a recente independência de Angola, e as lutas que se travaram a sul entre a UNITA com a ajuda Sul-Africana e o MPLA naquela que foi a maior batalha em território Africano - a Batalha do Cuíto, que forçou à governação unilateral do território angolano pelo movimento MPLA ajudados pela Rússia, Cuba e Portugal-C.R. (Concelho da Revolução). E, tudo isso, resultou na independência da Namíbia com a entrega incondicional à SWAPO de San Nujoma em fins do século XX…

Notas: * MU-UKULU - de antigamente…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:34
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Domingo, 13 de Agosto de 2023
VIAGENS . 53

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3463 – 12.08.2023

- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha – Ondundozonanandana -  Foi no ano de 1999

Por:tonito16.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto – (Dia da Lara)

xavier 01.jpg Passeando na paisagem dos silêncios em sonho do “Naukluft”, sigo, seguimos todos e, até perseguimos as ilusões. Fora dali, nem tudo é justo e nem tudo é falso mas o que em mim perdura além das rugas, é o deserto, juro mesmo! Numa sociedade em que já ninguém tem tempo a perder, no deserto, foi e, é ali que eu me preencho longe dos atropelos, mensagens, redes Net e Facebook e o escambau, onde e aonde se oferecem amigos a granel; paletes, como dizem esses 10 mil amigos que  nunca vi, só alguns pucos e, os que vi: esvoaçam ou esvoaçaram-se…

No Etosha, lugar de feitiço completo, pelas vinte e três horas apareceram os leões na poça de Okaukuejo; saí ensonado da tenda para de novo assistir ao majestoso mundo natural duma verdadeira África. O Etosha Pan, é um lago seco de 120 quilómetros formando o chamado Parque Nacional Etosha, um dos maiores parques da vida selvagem da Namíbia.

luua38.jpg A vasta área é principalmente seca, mas após uma chuva forte, ela adquirirá uma fina camada de água parecendo uma miragem, que é fortemente salgada pelos depósitos minerais na superfície. O Etosha Pan é principalmente lama de barro seco dividida em formas hexagonais que à medida que seca, racha, e raramente é vista com essa fina camada de água cobrindo-a.

Foi aqui, no Etoscha, que vi a maior diversidade de animais – um lago seco que quando chove cria uma ténue camada de água que se esvai rápidamente deixando a referida superfície como uma grande panela salgada. No entanto, os rios na forma de mulolas, Ekuma, Oshigambo e o Omurambo Ovambo, são as únicas fontes sazonais de água para o lago. De tempo a tempos, sucede sim, chover chuva molhada na forma de milagre. No ar, fica um cheiro diferente de todos os outros, como pestanas torriscadas em cinza quente …

Timidamente, a natureza forma pequenas águas em charcos dos rios mulolas com sedimentos atingindo o lago seco que penetra no leito do mesmo ou se espraia em véu como já dito… As vastas zonas de poucos declives formam as chamadas planícies africanas, chanas ou anharas de clima extremamente seco. E, o curioso é de que a esta mesma latitude e para o lado poente temos os desertos junto à costa do Sul de Angola e Norte da Namíbia que são banhadas pela tão mencionada corrente fria de Benguela.

nauk1.jpg No Oshakati, paredes de pau-a-pique quase nas margens do Cunene agreste coabitamos com uma raça em extinção chamada himba. Naquele outro um dia, vesti-me de lama numa gordurosa cor ocre e dei um rápido mergulho no popa falls do fim do mundo, Ruacaná. Do outro lado, estavam as terras dos Kwanhamas mas, por ali fui ficando com os Ovambos lambendo feridas com “castle lager” (cerveja local).

Sentado num cepo de madeira petrificado, senti-me o senhor com a maior dor d´alma do mundo. Foi o preciso lugar e momento de começar a esquecer e ser esquecido. Pasmado assim no tempo, só continuo mais-velho. Naqueles dias de correria louca num quatro por quatro ou em um Toyota 1600, éramos donos do que víamos; tudo era nosso na vastidão. Da doce vista das pedras eternas entrecortadas com tufos de capim sobrevivente do nada, havia em nós um misto de atracção e raiva carregada de adrenalina.

Namotoni3.jpg O medo protector balançava alegria escondida, também curiosa tranquilidade impregnada de um silêncio pacificador; a coisa nunca sentida fora deste mundo, empolgava-nos a existência num esmagador pórtico num além sem fronteiras, de para além-de-tudo ou as terras do Fim-do-Mundo. Éramos uma mini-tribo procurando experiências de vida num ermo só nosso. Éramos cinco despeitados “Tugas mazombos de N´Gola” da diáspora. Todos sequiosos, desbravando o nada como se, se nos procurássemos ali, naquele agora…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:06
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Sexta-feira, 11 de Agosto de 2023
VIAGENS . 52

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3462 – 11.08.2023

- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha - Em Ondundozonanandana  -  Foi no ano de 1999

Por himba3.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

div3.jpgDa tenda para o buraco de observação e, um céu carregado de estrelas que nos tremelicavam olhares, de entusiasmo, nem nos apercebemos. Era a tranquilidade da natureza envolta em muitas coisas a serem descobertas. Nos dias que se seguiram, percorremos as picadas assinaladas e, de forma a ver o maior número de animais, que íamos registando num prospecto.

O leão era sempre o mais procurado e, quando alguém os descobria assinalavam-nos aos demais colocando também um pionés (percevejo) no quadro-mapa (placard) da base Okaukuejo. Esta base era em verdade um buraco com água rodeado de disfarçadas bancadas aonde o visitante turista observava em segurança os animais da savana que ali iam beber.

himba7.jpg É em verdade um conjunto de chalés e locais de campismo aonde os visitantes podem andar em segurança pois que está rodeado de duas fiadas de arame farpado e rede com corrente continua para os Big Five (Os quatro grandes animais) e qualquer um outro, que possa atacar o animal homem; É como se o fosse um galinheiro grande no meio de um deserto savana só que, neste caso eram os observadores (nós) que se mantinham encerrados entre as seis da tarde e as seis da manhã.

A adrenalina escorregava-nos a partir dos olhos, atentos a qualquer movimento ou montículo estranho no meio do capim. E, demos as voltas de Namotoni e Alali parando em um e outro para descansarmos, relaxando à sombra fresca das acácias, tomarmos um café ou comer-se qualquer coisa rápida porque, não havia tempo a perder.

etosha1.jpgEsta reserva do “ETOSHA PAN” foi há muitos anos atrás um lago abastecido pelas águas do rio Cunene que aqui as vazavam, trazidas do planalto central da Angola - à semelhança das águas do rio Cubango (Okavango) que desaguam no Delta do Botswana, um lago interior que também iremos visitar por terra e por ar. Por um acidente cósmico, o rio Cunene foi desviado do seu curso para o Oceano Atlântico.

Este antigo lago do Etoscha é agora uma das grandes reservas aonde se podem ver um grande número de espécimes, suplantando a meu ver, a Reserva do “kruguer Park” na África do Sul. Este é o melhor destino para quem quiser ver animais em quantidade e em curto espaço de tempo. É claro que temos o Quénia, N’Goro-Goro, Delta do Okavango, e muitas outras mais pequenas reservas mas, como o Etoscha não há igual.

rundu1.jpeg Tínhamos ainda um longo percurso a percorrer em terras da Namíbia e, o nosso próximo destino era a casa do Mais Velho Miranda Khoisan e da Dona Elisabette (falecida recentemente – em 2023) na margem direita do Okavango no lugar do Shitemo. Sucede que a caminho do Rundu a maioria da tribo T´Chingas que era agora composta de Ricar Manhanga, Isabel Manhanga, Ibib - sobeta, Marco M´fumo Manhanga, todos decidiram variar o azimute ao rumo. Por vontade aplaudida do Soba, todos quiseram ir até às Quedas do Ruacaná em terras de gente Himba

deserto04.jpg Com medo de estragarmos as recordações dum mar de areia fina já passado, movemos todos finas camadas de nostalgia ainda recente, adormecidas na memória fresca, de forma aleatória. Da muita coisa dum cada olhar de duna ondeando a nossa própria sombra como rugas conformadas com o tempo que não pára nunca. Ouvimos também, às vezes, estalidos numa estranha argola, as estrelas do nosso templo (nossa testa) e, a areia escorregando na ampulheta das nossas vidas…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:14
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Quarta-feira, 9 de Agosto de 2023
VIAGENS . 51

VIAGENS . 51

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3461 – 09.08.2023

- Boligrafando estórias em Swakopmund e Cape Cross - Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999

Por cross1.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

cross2.jpgE, foi aqui neste fim de mundo paradisíaco de Swakopmund, mais exactamente no Café Anton da cidade de Swakopmund, que vim encontrar-me com o amigo ET – Eduardo Torres que para aqui veio trabalhar depois da saída de Angola no ano de 1975; ele, um Angolano de terceira geração que muito desenhou na obra do Cristo Rei do Lubango. Era importante que o encontro fosse aqui neste café, tantas vezes ponto de partida para expedições desbravadoras desta terra do nada em língua Ovambo.

O espaço do Café é muito agradável e bem decorado, acolhedor e com uma equipa de excelência. Nosso encontro era mesmo para tomarmos o café com acompanhamento de bolinhos e biscoitos que são ali uma iguaria diferente. É um ponto quase obrigatório para quem visita Swakopmund, para quem tem a intenção de chegar a algum lugar pois que, desde tempos idos, aqui se juntam as comitivas de desbravamento dum continente mal conhecido.

swakop02.jpgO poeta ET foi prestável em suas indicações e tirei até apontamentos para o que desse, e viesse, locais, nomes, telefones e pontos de interesse. Acho sim Eduardo Torres, um santo de pau carunchoso, com salalé, muito bondoso, amigo do amigo e poeta que exprime toda a sua majestade; calmo no falar, no comer, no caminhar, parecendo até ser tudo premeditadamente calculado para não dizer o que pensa, mas não diz – simplesmente quis esquecer partes de seu passado; também de sua casa que ficou para um general governamental…

Com ele atravesso em pensamento estes desertos que se estendem muito para lá do horizonte e, aonde parece nada acontecer. Afinal, escreve, escreve figas onduladamente poéticas como todos os poetas, rimando “bonitos nadas” – um nadista retintamente genuíno. Ele, é o top do Nadismo… Lendo-o sempre fica a sensação de que nem o pai morre, nem a gente almoça.

edu001.jpg Mas ET, é de uma leitura supimpa em que quase sempre o amor rima com tambor. Ele e eu, do nosso jeito, amamos aquela excentricidade de Swakop. Ambos gostamos do café e, vai daí um chau-chau que se faz tarde - Mas ainda houve tempo para se ficar a saber, depois de tantos anos que ele nunca se deu conta de que os negros eram pretos; de que seus progenitores já o eram também e, nem se deu conta que estes sempre têm demasiada família, demasiados filhos, tios, tias, irmãs e avós. E, que se ele fosse preto, não sairia de sua casa, de sua terra, de sua pátria! Nem o Cristo Rei do Lubango a quem tanto se dedicou, lhe valeu (isto, sou eu a dizer)

Por bondade intrínseca nunca referiu que estes, os pretos faltavam ao trabalho todas as segundas feiras porque sempre havia o óbito duma avó, dum primo ou tio; uma família que nunca acabava. Esta é uma mokanda especial referente à terra do NADA cuja capital fica em Swakopmund, lugar aonde o coração do EDU, se prendeu nas ondulações das miragens do Naukluft.

café da avó1.jpgLembrei-me então de contar a ET a estória daquele velho senhor em Luanda: Um senhor fardado com um pijama às riscas, sentado num sofá de orelhas olhando para o infinito, babando-se pelo canto esquerdo descaído, insensível ao cérebro abanado por uma trombose. Com a lentidão das coisas graves e titubeadas com muxoxos – Hum, pois, não sabe; a kalashnikov, os turras, a febre do poder… E, eram bolas de trapos, meias surripiadas do pai a cheirar a sulfato de peúga! Mas, o que é que tem a ver o cú com as calças? Estão a ver o filme!?

café anton1.jpg E, tu ET, indiferente ao caruncho, que escreves poemas como quem cospe flocos de aveia a um periquito que já deu às de vila diogo, que deu o fora da gaiola. Uma coisa desconcertante sobre tuas vividas vivências. Gosto de ti assim bonitinho que nem um Santo Eduardo, assim saltitante no Naukluft por via de refrescar as glândulas lacrimais, pérolas de maldizer que são o fruto da muita encardida amizade, feitas para reactivar as antigas feituras de escarnio e maldizer à tua tão engenhoso maneira de suprires ou suprimires o tempo das verdades…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:58
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Sábado, 5 de Agosto de 2023
VIAGENS . 47

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA  (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3457 – 05.08.2023

- Boligrafando estórias em Sossusvlei - Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999

Por busq9.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

etosha2.jpg Naquele momento, aquilo era o céu. Envoltos em azul vivo, escorregávamo-nos no vermelho longínquo tremelicando a cércea no horizonte das terras altas, o amarelo ouro das dunas e o preto das sombras, cada um de nós se sentia "um senhor do mundo". Sossusvlei ficou para sempre gravado na nossa memória.

Para trás (dias antes), ficava aquele pedaço de coisa caído do céu, uma bola de fogo rija como o titânio; um tal de Meteorit caído no meio do nada, como que uma pequena recepção feito bolo num imenso Calahári e aquele funil vulcão chamado de Brukkaros com cactos feitos árvores em paisagem lunar…

koisan10.jpg Na Namíbia a distância não se mede em quilómetros, mas em tempo e, percorrer todas aquelas distâncias é como completar uma missão impossível. Após pagarmos uns poucos "randes" a um homem fardado, entramos no tal lugar no meio de uma descampada savana de tufos secos de capim, chinguiços com picos medonhos. Lá estava aquela coisa pegada ao chão com 60 toneladas, uma liga de fusão vinda do Universo, dum infinito lugar.

Meteorit era o nome indicado com a referência de Hoba West, não muito longe de Grootfontein (em África tudo fica perto, é ali mesmo patrão, mwadié). Por falta de rede tenho de recordar agora, aqueles dias atrás… Toquei aquele titânio rijo e frio, embasbacado sentei-me observando-o por algum tempo. Sentado na duna recordava os anteriores dias anoitecidos num universo de estrelas – ali a noite cai rápido.

na

nauk13.jpgPosso imaginar quantos fotógrafos desejariam estar ali no Sossusvlei sem ninguém à volta por dezenas de quilómetros, sem qualquer ruído e acompanhados apenas pelo último raio de sol, pelas primeiras estrelas no céu imaculado da Namíbia e, o brinde no topo deste cenário, numa noite de lua cheia…

Entretanto a rede via telefone chegou; o telelé dava sinais de vida. Fui assim ao computador ocupar o tempo, li poemas, reli baladas e muitas tretas de fazer caretas; ouvi cantigas, li desaforos, coisas choradas, lamuriadas do M´Puto, cânticos gospel humedecidos, vídeos foleiros, alguns brejeiros e fui à China comer baratas, grilos e gafanhotos. E, eis que num dado momento o écran do maldito computer surge a perguntar-me se este senhor “sou eu”? Estou feito ao bife – de novo! Mas, aquele era sim, o respectivo e, a um sim tudo se normalizou…

bruno28.jpg De novo, juntei umas madeiras; preparei a carne e as argolas de borrabôs, aquele chouriço bóher, ali bem junto às lareiras que existem para esse efeito. Dispus a carne e as argolas de elevado teor de gordura e o cheiro despertou a fome no clã T´Chingange. Com tudo já torriscado no brai, passa-se para uma improvisada tampa a servir de bandeja e, cada qual se serve com uma papa de milho típica daqui - o milhipap…

No calor do tempo queimo cansaços, fracassos vazios, decepções e até solidões, com Windhoek Premium Lager (cerveja namibiana)! Obrigado a mim, a ti e a tu também (o ti é um, o tu é um outro)… Estou feito ao mataco de afundear em sofás e, lá tenho de o conservar com sal e vinagre na forma enrolada numa espiral contínua porque tudo quanto acontece, é na terra que sucede, num céu eterno e pacífico cumprindo-se na ordem natural aonde quer que estejamos…

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:21
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Quinta-feira, 3 de Agosto de 2023
VIAGENS . 45

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA  (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3455 – 03.08.2023

- Boligrafando estórias em Hardap Game Park. – Em direcção a Ondundozonanandana a Norte…

Foi no ano de 1999

Porsoba40.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

nauk16.jpg A árvore quiver - O Aloidendron dichotomum popularmente conhecido como aloé-aljava ou simplesmente de quiver, é uma espécie de aloé arborescente da família Xanthorrhoeaceae. Está presente na natureza numa restrita área árida, que vai do noroeste da África do Sul até o centro-sul da Namíbia, revelando-se uma espécie muito resistente à seca e às variações climáticas, podendo acomodar-se em terrenos rochosos e secos e chegar à idade com mais de quatrocentos anos.

A quiver, pode atingir os nove metros de altura e seis de envergadura, crescendo num tronco único, produzindo folhas longas de vinte a trinta centímetros, carnudas e espinhosas nas bordas. Floresce no inverno, apresentando vistosas flores amarelas que podem ser ingeridas, tendo um gosto que se assemelha ao espargo. O tronco é revestido por uma película branca que ajuda a repelir os raios solares, formando pequenas escamas afiadas e cortantes.

nauk14.jpg Os pássaros tecelões aproveitam-se deste facto para nidificarem em seus ramos, ficando assim, ao abrigo de predadores. Quando não conduzo ou visito algo, esmiúço o viver da sociedade hodierna no tempo, para saber da verdadeira razão dos paradoxos entre um e outro tempo na mente das gentes, uns com fúteis caprichos duma vida cheia de multiplicidade bacoca e, muitos outros que só se limitam a ver os demais, criticando-os…

E, a vida que passa rápida fica muito preenchida de eventos efémeros em que gastam o que não tem em felicidade de cacaracá; Sim! Neste mato de capim tombado pelo vento, tiro daqui e dali umas fotos com uma Canon A1 já com saudades de avizinhar o futuro que cá por mim que rezo cristão, católico e apostólico, só fico no rascunho apócrifo na certeza da incerteza. Que sim, que não! Porque tudo fica difícil com as pessoas desigualando-se por mero capricho ou moda…

aug7.jpgE, porque estou aqui por querer, averiguo o saber na deriva dos vocábulos bohere e wors, oriundos do africânder que significam respectivamente "agricultor" e "salsicha". Vi-me na foto do meu android e fiz-me gaifonas vendo as rugas enquadradas num diferente tempo, redondo e elástico, nem sempre alegre, nem sempre triste. Caramba, talvez aquele chá tenha posto umas três gotas de canábis (comprado na farmácia do M´puto) para encurtar pesadelos e restituir-me a lucides.

Enfim, tenho tido essa preocupação: de me equilibrar em meu esqueleto, mantendo-o ligado aos espirito. Entretanto e já no escuro da noite preparo um caldo verde para dar consolo ao apetite fora de portas, na varanda do chalé do Hardap Game Park, ouvindo os barulhos de fora, chiados dos macacos, os choros das hienas e muitos outros indefinidos gunchos intercalados que, creio serem de girafas.

spring1.jpgAqui, de noite todo o bicho canta para chamar a fêmea ou o macho, para saber a que distância por matemática ressonante ou, está dum qualquer abismo dando indicações a outros. Irei experimentar adicionar ao caldo verde o boerewors, aquela supra dita salsicha fresca tradicional bóher, em substituição do chouriço do M´Puto.

Ontem comi frango frito esfarelado com arroz integral e aquecido no forno e, para variar, gelado regado com amarula no final – o melhor licor do mundo. Comi biltong de kudu, de boi, ou olongo, e bebi suco de goiaba e massala de Moçambique – faltou-me o kimbombo de massambala, uma bolunga agradável que um moçambicano me ofertou no lugar de Benoni, (arredores de Johannesburg) há dias atrás

nauk3.jpg Percorro os dias assim, um caminho com gente chegando e partindo dizendo good morning só mesmo assim, sem muito mais dizer, sem muito mais saber; missangas de vida com malas atafulhadas de coisas: coisas que podem ser úteis tais como: o canivete Mike Giver, a lanterna no meio das cuecas para não quebrar, os cremes de amaciar a flôr-do-congo mais o pincel de amaciar as carunchosas unhas … E, assim lá no cú de Judas, eis que num dado momento o écran do maldito computer surge a pergunta de se; se este senhor “era eu”? Estou feito ao bife – de novo! Lá terei de dizer que não sou um robô e confirmar uns arabescos apócrifos. Amanhã vou tentar subir a duna da Milha 45, chau – mungweno!

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:07
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Segunda-feira, 31 de Julho de 2023
VIAGENS . 42

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA  (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3452 – 31.07.2023

- Boligrafando estórias em Krabbehoft Guesthouse and Catering. Estávamos ainda em LUDERITZ Foi no ano de 1999

Por swakop5.jpgT´Chingange (Ot´chingandji) – Em Amieiro do M´Puto

luderitz01.jpg(…) Isto (eu mesmo, o kota…), só pode fazer confusão a quem anda sempre teso, com seus colarinhos engomados, cheio de obséquios e unhas estimadas, sem nunca sentir os medos indefinidos que arrepiam as carnes como pés de galinha e arrepios de levantar medos no cocuruto do toutiço. Desfigurado pelo tempo, cheio de cãs, estonteado pelos muitos calores, posso ver minha barba crescer em troços grossos e brancos de um milímetro de comprimento que, só uma gillette de três lâminas as pode debastar.

Passeio pelo mundo, o meu isolamento procurando entreter-me cada vez mais só desencantado com amigos e inimigos – um mundo de loucura e, metido entre meus botões de casca de ostra a fazer estilo de mandela em dia de balalaika zulu… Por vezes as companhias são obtusas e confusas, cheias de nove e onze horas como se fossem os donos de todos os relógios; já me aconteceu destas tormentas mas, agora interessa é continuar a falar de Luderitz, lugar de hienas peludas dum cinzento acastanhado.

luderitz12.jpg Chegamos ali ao fim duma tarde, um frio com vento de arrepiar para cima de nós, deslocando a areia de um para o outro lado da estrada, ora preta de alcatrão ora indefinidamente tapada de areia esquindivada do Kalahári. Aqui, nem pensar em ficar em camping a contar as estrelas e ver aonde está esse Cruzeiro do Sul. A areia era-nos cuspida pelo Nosso Senhor como gente desabençoada, rolos de capim amarfanhado fugindo no medo e no sentido do vento e, nós aqui feitos loucos, uns extra terrestes zoando espantos; assim tinha sido até aqui, assim o foi na estrada que nos trouxe até aqui - Pópilas

Recolhemo-nos no Krabbehoft Guesthouse Catering e apartments embrulhados em nossos kispos tiritando das quinambas e nas orelhas, batendo o dente como metralhadoras do filme do dia D. Vou vos contar - tudo ao molhe e fé em Deus! Havia gente jovem de muitos lados e, na confusão do meu Inglês raspikui do Friday, misturava-se com o “je suis” e falas com tremas na vontade de “seja o que Deus quiser”- Saravá! Dizia eu, para desatarraxar as encrencas das porcas sextravancadas…

luderitz15.jpgAfinal não éramos os únicos malucos a andar soprados ao vento frio da aventura. Ao chegar ali, os hóspedes têm a sensação de ter caído repentinamente nas páginas de um romance de Hemingway, talvez Papillon. Bem! Uma mistura de tudo… Um espírito e, um ambiente ultra "bush", uma caserna bechuanaland com gente estendida pelos corredores dormindo em sacos cama. Óh gente doida! Lá fora as hienas castanhas farejavam os bidons de lixo, os restos de pizza, do tutano dos ossos, assim mesmo como se fossem cães dos arrabaldes duma qualquer outra cidade.

Aqui em Luderitz, as horas acordam cedo desfazendo-se em minutos gélidos pelos sopros do mar, gozando mais regradamente os bens da inteligência e da vida; remexo a chávena com meu especial milongo de adstringir triglicéridos, uma cachaça, aguardente medronho do M´Puto trazida em contrabando para aquecer, pois claro. Ao redor predominava o cheiro de café ondulado em falas da Croácia, do Xingrilá, das Maldivas e até estalidos de mucancala, mucuisse ou mucubal khoisans falando em Morse – acho que era só para fingir ou trinando sons do Alá…   

luderitz1.jpgAssim feito muambeiro, tomei com um agrado, aquele agora da vida na forma de café arábico. Desolando-me numa sinceridade gemida de tudo o que é ilusão, indeferia-me nos contornos que se transportam sempre às costas, um pessimismo que sempre se enrola no soalho do cerebelo. Assim taciturnado, com o kispo enfiado pelas orelhas, todos os cinco (T´Chingas, Marco Manhanga, Ricar, Tilinha e Mãe Bibi), fomos ver o padrão de Luderitz numa ponta pedregosa colocado pelos Tugas em tempos de lá para trás do mu-ukulu, do muito antigamente.

Naqueles tempos de quando ainda se alimentavam sonhos de grandeza com Diogo Can que só chegou ao N´zaire River e, mais tarde o Bartolomeu Dias que passou o Cabo Bojador, e o Vasco das Barbas chamado Gama, que dominou as Índias. Sei o quanto é difícil ler o indecifrável mas soe dizer-se que a teoria do pessimismo quando implodida num deserto, é bem consoladora para os que sofrem e eu, com meus sessenta e quatro anos nesse então (tempo de há catorze anos), já não tinha fornalha para alimentar lentas combustões. Isso - Na forma de chatice! É do frio cortante…

 (Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:09
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Quinta-feira, 27 de Julho de 2023
VIAGENS . 38

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“  - Crónica 3448 – 27.07.2023

- Boligrafando estórias tão fantásticas, que até o nome se alonga de gozo: Ondundozonanandana… Foi no ano de 1999

Por nauk2.jpg  T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

nauk03.jpg Foi nesse sítio de Mata-Mata, lugar ideal para se sepultar o passado que encontramos o milagroso cacto escondido entre tufos espinhosos, verde, gomoso e muito ornado de picos; agressivo no aspecto, engana no entanto a fome ao povo Bosquímano há séculos. A fronteira da coragem transpira incertezas naquele povo a quem Nelson Mandela cedeu 400 milhões de metros quadrados para mitigarem a fome explorando este milagroso cacto.

O xhoba para além de surgir naturalmente na natureza, também é cultivado por esta etnia Bushmen, por algumas tribos nómadas que vivem sem fronteiras entre Angola, Namíbia, Botswana, Zâmbia, África do Sul e Zimbabwé. Este cacto torna-se agora conhecido, fruto de pesquisas nos laboratórios ocidentais e ao longo dos últimos tempos no intuito de controlarem o problema social da obesidade, consequentes problemas de colesterol com os triglicéridos.

nauk01.jpg Lípidos que sendo importantes para o armazenamento de energia no organismo sob a forma de tecido adiposo, podem originar problemas cardíacos ou doenças coronárias em geral quando em quantidade elevada. Se bem se recordam da figura do bosquímano, ele é seco de carnes e, de estrutura perfeitamente musculada. Pois o xhoba que, também conhecido por hoodia, é um cacto da família suculenta que cresce naturalmente na África do Sul, a norte, desde a Costa Atlântica até ao Limpopo.

Tem a particularidade de eliminar a fome reduzindo duas mil calorias por naco e por dia; viscoso e azedo, quando ingerido, engana o cérebro até à linha zero, num gozo de deuses ladeados de chacais, caracais ou hienas. Entretanto vi-me obrigado a apaziguar inquietudes por evidente encantamento deste Kalahári. As noites frias daquela terra de Bushmanland crepitavam em fogueiras, alçadas labaredas do meio de tanta negrura. E, eles gente do Kalahári, embrulhados toscamente numa pele, numa tanga.

nauk1.jpg O que despertou o interesse das grandes farmacêuticas no sentido de sintetizar o princípio activo da planta foi uma tal de “molécula P57”; a mesma que ajuda a suportar a fome e a sede durante suas longas caçadas, sem efeitos secundários. O fumo da fogueira dissipa-se num vazio de milhões de estrelas enquanto no retiro das precárias cubatas-choças, pelo que também se diz o frenesim do amor ou relações de corpos se desprende naturalmente pelo efeito afrodisíaco do mesmo xhoba (assim dizem).

Existem cerca de 20 variedades desta planta mas é na variedade Hoodia Gordinii que é encontrado um supressor de apetite totalmente natural; assim se pode ler algures em uma publicação farmacêutica. No ano de 1997, a licença da descoberta foi vendida a uma empresa britânica, Phytofarm, que por sua vez vendeu os direitos de desenvolvimento e marketing à gigante Pfizer Corporation. Os interesses comerciais entram aqui com sua natural e exagerada relevância que nos levam ao género humano que somos hoje, estereotipo bem diferenciado dos Koysan, da etnia Bushmen, Bosquimanos ou da tribo nómada dos "San"…

busq5.jpg De uma forma mais activa, a P57 tem um comportamento similar ao que a glucose tem ao nível das células nervosas, no cérebro, levando o corpo a pensar, que está cheio, mesmo quando não o está, cortando assim o apetite, como explica o Dr. Richard Dixey, da Phytofarm: “Existe uma parte do cérebro chamada hipotálamo. Dentro do hipotálamo, situado no centro do cérebro, existem células nervosas que detectam a presença de um açúcar chamado glucose".

Quando comemos, os níveis de açúcar no sangue aumentam por causa da comida e estas células começam a lançar para o corpo a informação de que estamos cheios. Pois o que o xhoba parece conter é uma molécula que é cerca de 10 mil vezes mais activa que a glucose. A maturidade dos Bosquímanos mede-se pela idade, no encanto de estalar conversa em contos e, por isso, são a mais velha biblioteca oral do mundo. Os mais velhos, kotas, engalanados em contos de místicas com lendas de *mussendos ou missossos, descrevem por estalos sua coragem despida de preconceitos porque os desconhecem.

spring1.jpg Bibliografia: * Mussendo – estória longa de cariz popular; Missosso – conto curto, de origem popular

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:38
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Terça-feira, 25 de Julho de 2023
VIAGENS . 36

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA

- " DOS TEMPOS DE DIPANDA“  - Crónica 3446 – 25.07.2023

- Verdade ficcionada

Pornamibia22.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

N´Tumbo0.jpg Oshakati, ficava na direcção contrária à faixa de Kaprivi, uma faixa de linha recta saída do Divundo junto ao rio Cubango (Okavango) até o rio Zambeze com cerca de 405 km de comprimento e 30 km de largura. Tem a forma de frigideira e fica situada no nordeste da Namíbia formando as duas regiões namibianas denominadas de Kavango e Kaprivi

Tinha indicações que havia um tal senhor Rocha que fugido do Sul de Angola ali se estabeleceu com um restaurante e uma fiada de casas térreas que eram alugadas a baixo custo a refugiados; foi para ali que me dirigi e aonde me refastelei com uma caldeirada de cabrito. Enquanto a família comia, uns quantos olheiros miravam e ouviam atentamente o que se passava entre nós; gente deslocada de Angola que vivia de expedientes e bufaria…

n´guzo2.jpg Rocha era ainda um rapaz novo; sentou-se em nossa mesa e conversamos um longo tempo, fruto da minha insistência na recolha de informações. Rocha falou abertamente do sonho em se fazer rico, construir um hotel em condições e negociar com diamantes quando lhe fosse possível. A empatia foi tal que não se coibiu de falar o que quer que fosse…

Aconselhou-me a ficar num dos quartos de Bicho da Ponte do Charuto (Estômbar do M´Puto) logo no fundo da rua, pois que ele estava com os alojamentos repletos de gente saída de Angola. Em África parece tudo ser perto pois que tudo se sabe; carências de notícias levam à união e a fraternidade dando a isto, uma característica única no mundo; Em nenhum lado do grande globo se encontra esta postura e este facto é a razão do porque, ninguém se esquece desses locais aonde a vida tem socalcos diferenciados assim como se estivéssemos num permanente mundo de Indiana Jones, coisa de cinema com senas a correr numa mina do tipo de kimberly …

okakau1.jpg Daqueles aromas, do som do mato, do chorar da hiena, do uivar do mabeco e até o cacarejar das capotas com o “tou-fraca, tou-fraca…” mais o por do sol atrás duns chinguiços, cassuneiras ressequidas e mato estéril. Rocha estava a par da odisseia de João Miranda do Mukwé e acabei por ouvir um pouco mais da sua fuga das terras do fim-do-mundo, zonas do Calai, Dírico e do Rundu:

Quando Miranda chegou ao Mucusso e passou a fronteira para o Sudoeste Africano, as autoridades sul-africanas actuaram com rapidez. O comando Sul-africano do Rundu, enviou prontamente tropas para receber a família no Calai. A família Miranda estava salva. O comandante da polícia local, o inspector Erasmos, instalou os Miranda numa “guest house” do Governo, nesse tempo Namíbia, ainda estava debaixo da alçada Sul-africana.

div4.jpg Nessa mesma tarde apareceu o general Loots, reformado, combatente da II Guerra Mundial, acompanhado por um oficial português, madeirense, o tenente Silva. João Miranda foi entrevistado e no final informaram-no de que receberia no fim do mês um ordenado, relativo ao primeiro dia em que fugira de Angola. Para a Intelligence Sul-africana era de grande valor ter um homem que dominasse a fala por estalidos dos khoisan (bosquímanos), que fosse conhecedor da área e tivesse tido um agraciado valor militar – era o caso. 

A família foi depois transferida para Grootfontein, já no interior norte da colónia, para maior protecção. - Julgo que é ali que eles estão agora! Afirmou Rocha. Com esta informação a minha odisseia teria outro rumo; Teria toda a noite para pensar como prosseguir no dia a seguir; agora iria à procura do senhor Bicho para me instalar. O Okavango seria nosso destino, Mukwé, não muito longe do Rundo cidade, eram os rumores mais aproximados de seu bivaque (“acampamento”) - Não seria assim tão difícil encontrar um comerciante branco junto ao rio Cubango…   

(Continua…)

Glossário: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.

O Soba  T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:08
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Domingo, 16 de Julho de 2023
VIAGENS . 27

CASSOALÁLA - ANGOLA. Outros tempos

Crónica 3437 – 16.07.2023 - TEMPOS DA DIPANDA*

- Estávamos em Junho de 1975; tinha 30 anos de idade…

Por dia63.jpgT´Chingange – OtchingandjiEm Arazede do M´Puto

café da avó1.jpg Eu só abanava a cabeça sem entrar no demasiado do desconhecido novo camarada e edecéteras complicativos; já tudo passou mesmo, disse eu, querendo dar solução ao meu conflito. Aquela noite comemos funje com peixe do rio, frito, bebemos umas cucas e um amigo do meu kamba, gentilizou-me um pouco de marufo ainda doce, que me satisfez do coração aos calcanhares.

Rejuvenesci! Amanhã, disse Zacarias meu kamba perna de pau, vais com o kota Alcides até Luanda, ele te desenrasca, te leva na Maianga e te deixa lá mesmo na Samba do rio Seco junto daquela cacimba do rei – tranquilo mano, muxoxei um sim! Os sonhos, naquela noite, foram por demais turbulentos no recordar dos últimos dias e, assim balouçados numa rede feita de mateba entrelaçada num desenrasca de guerrilheiro e, presa a duas árvores bem farfalhudas de verde, goteando cacimbo em cima de mim, todo o tempo – a humidade colava-se ao corpo pegajoso…

Os guerrilheiros de tuji, pseudo soldados do emepelá a fingir de governamentais, com camuflados oferecidos pelos Tugas, (meus patrícios), mais G3, granadas defensivas de estourar ouvidos e outras ofensivas de matar mesmo, lança roquetes de destroçar valentias, interditaram a passagem entre Zenza do Itombe e Malange, ninguém podia passar sem uma revista bem revirada, pisoteada de quebraduras; gente do sul fugia para norte e vice-versa…

ÁFRICA17.jpg Alguns morriam no vice, outros na versa, outros nem sabiam se iam, se vinham e dispersavam defuntados num espaço de céu louco num inferno de ódios fabricados a álcool barato e cigarros mata-ratos que, por vezes salvavam. Por vezes um cigarro valia uma vida com desaforo muxoxado – safaste-te meu! … Parece mentira mas, é a pura verdade.

Muitos como eu, fugiram para a mata sem vice nem versa, só confusão mesmo, maka à toa, muito tiro e barulho de afugentar. O senhor Alcides foi-me dando indicações muito negras da situação em Luanda, dizia-se que havia cinturas de protecção à Luua e que as pessoas levavam o tempo todo em filas para arranjar o que comer; o melhor para o meu caso era bazar para o M´Puto e esperar que tudo voltasse na normalidade! A normalidade nunca veio, quersedizer, nunca chegou – fugiu também, só pode…

araujo65.jpg Era mesmo melhor nem pensar muito profundamente! A minha vida estava em risco, meu pai já tinha sido recambiado para o M´Puto por ordem do doutor Boavida, do tiro que tinha levado na perna, os cubanos do hospital Maria Pia desconseguiram livrar-se da bala junto à rótula do joelho e, corria o risco de gangrenar. A mãe Arminda lá na Maianga era uma barata tonta a tentar reunir coragem dos filhos.  

Isto é mentira sonhada só num tempo que ainda não o era, mas veio a ser verdade sim senhor! Veio a acontecer de verdade mesmo, no 27 de Maio do 77 com a mãe Arminda já no M´puto! - Pronto, vou-me embora, acabou-se! África é dos Van Dunem, Mingas ou Punas e da puta que os pariu – Não dava para aguentar, mesmo! Com negócios candongados da Luua, desaconteceu, que fiquem assim mesmo na abundância de muitas asneiras para refrescar a raiva enraivecida de guerra, desabafei; pronto, já está, que pariu sem mãe nem nada.

- A Luua anda, dos deslocados, mendigos com chagas e meninos brincando entre jipes de jantes desmanteladas e bielas, empinados no lixo do quintal; lixo que abunda entre destroços, nos musseques. Água escura e malcheirosa que corre e escorre e a velha mamã Josefa, vendendo do outo lado mesmomesmo encostada no tapume de ripado a chapas de lata de leite Nido e azeite galo mais aduelas de barril de vinho Camilo Alves do M´Puto, a tapar buracos de escapamento de galináceos…. Por hoje chega, estou furibundo

dondo2.jpg Glossário

Bandalheiros – sem ordem; Imbambas – coisas, bikuatas; *Dipanda: acontecimentos após o onze de Nov.1975, sociais, políticos, das makas e posterior guerra; Maka – rixa, briga, barulho, confusão; emepelá – movimento popular de Angola MPLA; Banguista - vaidoso, com estilo; Camundongo - rato, natural de Luanda ou arredores; fubeiro – negociante de fuba, tasqueiro de mato em Angola; Pópilas: – expressão de admiração; flor-de-congo: – eczema na zona das virilhas, parecido com psoríase; esquindivado – escondido de forma fintada; caxinde – erva-do-chá príncipe (Angola); mugimbos – diz-que-diz, boatos, mexericos, conversa por conversar; NT – Nossas Tropas – Militares portugueses; kamba: amigo, conhecido de infância; Catetense – natural de Catete; kazucuta – que vive de expedientes, bandalheiro, dado a embustes; mabanga – bivalve; funje – farinha de mandioca; marufo – vinho, seiva de palmeira fermentada; bazar – dar o fora, fugir; haca! – Exclamação por admiração, espanto em Umbundo (generalizado por toda a Angola); t’ximbicando – acto de navegar com pau longo ou bordão, em zig-zag; candengue – criança, jovem; porrada – pancada; esquindivar: fugir com astucia; mateba: da matebeira que tem casca fibrosa, com que se fazem cordas: Muxoxo: trejeito de linguajar com estalido de palato, por recriminação ou aprovação; tuji: merda, desdém; Bazar: ir embora, ecapar-se; Luua: diminutivo de Luanda.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:25
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Sábado, 15 de Julho de 2023
VIAGENS . 26

CASSOALÁLA – ANGOLA - Outros tempos

Crónica 3436 – 16.07.2023 - TEMPOS DA DIPANDA* - Estávamos em Junho de 1975; tinha 30 anos de idade…

Pordodge0.jpgT´Chingange – Em Cantanhede do M´Puto

37.jpg No ouvido ficou em fundo aquele ruído de rumba cubana. Os trilhos do comboio eram a minha referência, deslocava-me penosamente a caminho do Dondo; não sabia ao certo para onde ir, caminhava para me manter inteiro e ocupado, tinha em mente chegar a um sítio no sentido do mar kalunga, aonde pudesse confiar em alguém que me levasse a Luanda descendo o rio Kwanza até à Muxima, em canoa que ainda teria de roubar ou descolonizar.

Ali, com alguma sorte, iria encontrar o camundongo Zacarias, um ajudante de fubeiro conhecido desde candengue e, a quem salvei da morte numa dessas andanças em descoberta por terras de Cambambe; Naquele enquanto, eu era um estagiário de montador electricista recém-saído da Escola Industrial de Luanda, hoje Instituto. Não esquecer que estamos agora em 2023.

Descrever o que se passou na salvação daquele desinfeliz Zacarias levava muito mais tempo que escrever esta pequena crónica mas, o certo é que o salvei de morrer electrocutado; foi a minha maior façanha, como electricista, salvar Zacarias de uma morte certa com a fase a atravessar seu coração; Agora, ele levar-me-á a sítio de segurança, pois sempre foi bem visto entre os emepelás de Catete, amigos de escola do próprio Agostinho, o sofrível poeta que respirava cachaça assim fosse kimbombo.

OLHO3.jpg A flor-do-congo, com a caminhada, tornou o andamento muito por demasiado penoso, tive até de recorrer a uma pêra abacate para besuntar as partes dolorosas, o certo é que melhorou um pouco pela gordura que este fruto tem. Fazia calor pra burros tossir asneiras, uma humidade de escorrer suor salgado, bichezas zangadas com a vida delas, picando só átoa e até se metendo nos olhos – um inferno; Um inferno de calor, antigo cemitério de brancos, chamado de Dondo.

Já junto ao rio Kwanza pude ver mais abaixo no sentido da corrente umas canoas presas a uns arbustos pendentes na água. Deduzi... Estava em Massangano! Longe, mas não tanto podia ouvir bafos esfarrapados de rumba e merengue; eram extintos ou fugidos guerrilheiros afogando-se em mágoas, dançando em bolero crueldades transpiradas, libertações sem sucesso das restolhadas revoltas de guerra ou daqueles tais cubanos que já ali estavam na tarefa de cooperação internacionalista do projecto Rosa ou Otelo, os vermelhuscos da revolução dos cravos importados por estes e outros generais da mututa, de aviário do M´Puto.

Esfarrapado por entre um ermo de coisa nenhuma, muita verdura e água barrenta, deslocava-me com o máximo dos cuidados assim como uma gazela perseguida por onça. Fechei a boca para não me denunciar e, os dentes nem se deram conta da minha mão que a tapava, por vezes para ouvir os sons além da ofegante respiração. Conduzindo o medo através dum cacimbo cerrado, de árvore em árvore, sentia o próprio bafo de fome; o peixe-seco, a cerveja, o funje em um equívoco de pensamento.

dia210.jpg Massangano, haka!... Ai-iu-é; já estava mais, por detrás. Esquindivado entre capim cortante parecido com caxinde, vi (talvez a uns cinquenta quilómetros de Massangano), rio abaixo, homens gesticulando mujimbos. Já todo xuxado, riscos de sangue, só pedia mesmo ao meu tio Nosso Senhor que não aparece-se um jacaré. Na medida da vista mais aproximada pude ver equilibrando-se na jangada, o kamba Zacarias Catetense, bem me parecia pela voz mas, estranhei a falta de uma perna pois, tinha em seu lugar, uma de pau tipo capitão “charuto” do baleizão (gelado de chupar da Luua)…

T’ximbicando um bordão ajustado no sovaco e, naquela borda do kwanza, repito, parecia até um corsário como nos livros dos desenhos animados do Emilio Salgari ou fugitivo Tirado do livro papillon esqundivado da ilha do inferno. Quando lhe gritei o nome, fez-se um silêncio silencioso medido de medo mas, no despois um grande abraço, aperto de mano katé e, quis saber das makas de N´Dalatando e dos kazucutas penetras do sistema... Eu bem que te avisei naquele entretanto lá na Samba, te lembras de quando fomos apanhar mabanga, te lembras? Sim, lembro! Graças ao meu Tio, estou salvo, bem-haja …

massangano1.jpg Glossário

Bandalheiros – sem ordem; Imbambas – coisas, bikuatas ; *Dipanda: acontecimentos após o onze de Nov.1975, sociais, políticos, das makas e posterior guerra; Maka – rixa, briga, barulho, confusão; emepelá – movimento popular de Angola; banguista - vaidoso, com estilo; camundongo - rato, natural de Luanda ou arredores; fubeiro – negociante de fuba, tasqueiro de mato em Angola; Pópilas – expressão de admiração; flor-de-congo – eczema na zona das virilhas, parecido com psoríase; esquindivado – escondido de forma fintada; caxinde – erva-do-chá príncipe (Angola); mugimbos – diz-que-diz, boatos, mexericos, conversa por conversar; NT – Nossas Tropas – Militares portugueses; kamba –amigo, conhecido de infância; Catetense – natural de Catete; kazucuta – que vive de expedientes, bandalheiro, dado a embustes; mabanga – bivalve; funje – farinha de mandioca; marufo – vinho, seiva de palmeira fermentada; bazar – dar o fora, fugir; haca! – Exclamação por admiração, espanto em Umbundo (generalizado por toda a Angola); T’ximbicando – acto de navegar com pau longo ou bordão, em zig-zag; candengue – criança, jovem; Porrada – pancada; Esquindivar: fugir com astucia…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:33
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Sexta-feira, 14 de Julho de 2023
VIAGENS . 25
CASSOALÁLA - ANGOLA. Outros tempos
Crónica 3435 – 14.07.2023 - TEMPOS DA DIPANDA*
- Estávamos em Junho de 1975; tinha eu, 30 anos de idade…
Poraaa2.jpg T´ChingangeEm Cantanhede do M´Puto

arte3.jpg Metido em apertos, transpirando desaforos, entalado em imbambas, apanhei boleia numa GMC até Cassoalála. Uns pseudo militares do MPLA encostaram-nos à parede de uma casa em ruínas algures num lugar do Zenza do Itombe – nunca mais o esquecerei! Enquanto revistavam a camioneta, partiam tudo sem mais nem menos, nem porquê e, por querer. Senti ali a minha vida a correr para trás na própria marcha-à-ré; teria de me raspar na primeira distracção dos barulhentos guerrilheiros que fumavam Caricocos e AC de uma forma tensa, no intervalo ou por falta da liamba, maconha.

Os olhos daqueles improvisados tropas chispavam raiva demais e, não se entendiam nos conformes militares, ali havia maka! Encostado às ruínas, via o além muito mais próximo do que pretendia. Não quero morrer aqui estupidamente nas mãos duns desclassificados, pensava assim na tentativa de manter meu cerebelo irrigado com água fresca; ébrios militares andrajosos e todos com manias de chefe. Pópilas! O chofer, dono da GMC tremendo, não sei se de medo ou indignação vociferava: - Tomem o meu bananal, minhas imbambas, tudo o que me custou os olhos da cara...
 
Agora só quero mesmo levar o meu cabedal para o M´Puto, disse para mim na forma de muxoxo quase calado e entre dentes. E, ia mordendo a raiva com aqueles desclassificados militares. Por via e apatia dos Tugas, merdosos traidores, feitos vendilhões. Antes deste aperto e, ainda a caminho desta barragem chamada de controlo de bandalheiros, ele, o Senhor Alcobia foi-me dizendo num tom áspero: - Isto há coisas! As NT, esses do MFA do M´Puto, não sabiam (assim o dizem), que em Janeiro de 1975, (muito antes do 11 de Novembro), 20 instrutores cubanos a fim de treinar tropas do emepelá assentaram arraiais em Massangano... Aqui tão perto!?

guerra19.jpg Eu até que já tinha ouvido um zunzum mas, admirei-me de este Senhor Camionista saber destes detalhes ainda tão insipidamente conhecidos e nunca falados na rádio Oficial e Rádios Clubes espalhados por Angola. Entretanto nesse mesmo Janeiro, o MPLA, a UNITA e a FNLA assinavam o acordo de Alvor em Portugal.

Sabemos agora pela boca de Lopo do Nascimento, quase cinquenta anos depois, que seu Movimento não tinha alguma intensão de o cumprir. Pois, logo se veio a saber na penumbra da traição e mentira que em Junho desse ano de 1975 (muito antes do 11 de Novembro) eram introduzidos mais 600 cubanos na região de Cabo Ledo. Quanto a isto, segredo total das NT e Generais afins do MFA.
 
Também desta vez, debaixo da vigilância portuguesa – operação ultra secreta – Isto era demasiado recente para ser falado nesse então pelo Senhor Alcobia (camioneiro), mas agora, sabe-se que assim foi! E... foi-o, bem perto de Luanda! Se isto não é traição, o que é que se lhe pode chamar!? Bem! De momento eu, estava num aperto, não era agora a hora de pensar nos senhores de Lisboa do M´Puto e no que os russos, americanos e o povo mal informado de Portugal pelo seu MFA, determinavam

ARAUJO256.jpg Menos mal que apareceu em um jeep um mulato fintador, muito cheio de banga, com divisas de tenente, penteado de balas em diagonal que, de tão herói, destabilizou a guarda em curiosidade – tudo parecia um filme a preto e branco retirado do cinema, guerra do Vietname aonde ninguém parecia ter lido o texto a cena…. Estou lixado!

Quem sabe não seria este, também um candidato a ser outro “Monstro Imortal”, essa figura lendária da luta anticolonial que veio a morrer barbaramente torturado pelos seu pares e, executado com um garrote aplicado na cabeça mais tarde… Pois! Deixa para lá! Para mim este era o momento - A oportunidade surgiu nesta aberta de descomandada hierarquia, ordens e contra ordens e assim num repentinamente, esgueirei-me por entre um bananal.

guerra1.jpg Glossário

Bandalheiros – sem ordem; *Dipanda: acontecimentos sociais e politico militares após a independência dada a 11 de Nov. de 1975; Imbambas – coisas, bikuatas ; maka – rixa, briga, barulho, confusão; emepelá – movimento popular de Angola; banguista - vaidoso, com estilo; camundongo - rato, natural de Luanda ou arredores; fubeiro – negociante de fuba, tasqueiro de mato em Angola; Pópilas – expressão de admiração; flor-de-congo – eczema na zona das virilhas, parecido com psoríase; esquindivado – escondido de forma fintada; caxinde – erva-do-chá príncipe (Angola); mugimbos – diz-que-diz, boatos, mexericos, conversa por conversar; NT – Nossas Tropas – Militares portugueses; kamba –amigo, conhecido de infância; Catetense – natural de Catete; kazucuta – que vive de expedientes, bandalheiro, dado a embustes; mabanga – bivalve; funje – farinha de mandioca; marufo – vinho, seiva de palmeira fermentada; bazar – dar o fora, fugir; haca! – Exclamação por admiração, espanto em Umbundo (generalizado por toda a Angola); T’ximbicando – acto de navegar com pau longo ou bordão, em zig-zag; candengue – criança, jovem; Porrada – pancada;
(Continua…)
O Soba T´Chingange


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Segunda-feira, 14 de Novembro de 2022
N´NHAKA . XXI

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . VII

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?”

– Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)

– Crónica 3295 de 04.05.2022- Republicação a 14.11.2022 para o Kimbo

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…

Por chai4.jpgT´ChingangeEm Lagoa do M´Puto

deserto5.jpg Cambongo Negunza, é o nome do rio que desagua a norte do Sumbe e é dali que sai a água, sugada do rio, que sem tratamento segue para a rede da cidade chegando aos soluços, quando chega, sempre barrenta. O viveiro, em tempos verdejante e com muitas mudas de árvores e plantas para as ruas e jardins da urbe está agora mais que desprezado, acabado; vêem-se umas rosas de porcelana ressequidas no meio de tufos que definham no castanho, tendo o rio a dois paços. Mais à frente e do outro lado da estrada o tio Chico* vende petróleo a caneco.

De calções desbotados, camisa solta, mostra a velhice que se aproxima rápido; pés inchados indiciam ácido úrico e mazelas que se esborracham no chinelo de dedo grande, as manchas são mais que muitas coloridas de terra colada à gordura do querosene adocicado na terra do pó que se levanta com o vento e quando passa as relíquias de dodge, chevrollet, carrinhas ford ou camiões Scania mas, e também Urais dos militares russos; tudo faz levantar pó que se agarra ao transpirar da gente desde o cachaço às matubas do mijo mal pingado…

cafu14.jpg Tio Chico sentado no seu velho mercedes branco atende com rabugice os candengues que trazem latas, mulheres embrulhadas em panos com as esfinges de Eduardo dos Santos*, Mobutu e Mugabe, bafanas desocupados de trabalho efectivo que desenrascam só no leva e trás dos recados de quem vende chita e zuarte lá nas lojas do burgo. A crise da luz faz aumentar o consumo do querosene avermelhado. Cada caneco despejado, tem uma descarga de um monte de nomes fazendo vírgula com sundiameno e ponto e virgula com topariobé entre os recados e devolução de trocos em moedas de luínhas e notas surradas de kwanzas…

Tio Chico já com seus mais de setenta anos de idade sobrevive assim com a ajuda do irmão Cunha que prospera no negócio de venda de bebidas, bolungas, pneus, géneros alimentícios e outras candongas; dá para notar que o cumbú do tio Chico anda malé mesmo. Ué, beber água!? Só do Luso! Também aparece água da Chela de rótulo azul que diz ser da nascente natural – a condizer lá está colado o rotulo com o mapa minúsculo de Angola com a bolinha do sítio e o dizer: “Produto de Angola”…

O mercedes do tio Chico, tinha tanta terra dentro dele que seus sobrinhos Zito e Chiquinho até disseram que se podia ali plantar mandioca ou até cana-de-açúcar; um exagero bem condizente com o galinheiro chique de Mercedes Benz. Saídos dali, fomos até às Quedas da Binga no rio Queve ou Cuvo situada a uns oitenta quilómetros do Sumbe. De geleiras de isopor, esferovite cheias de gelo e cerveja, escolhemos lugar sombreado do parque e entre mergulhos lá íamos comendo iguarias feitas de esparregado de folha de abobora, folha de batata-doce e croquetes de peixe do rio Cambongo e ostras da foz do Cuvo.

sumbe1.jpg Estando ali na Binga e vendo a ponte meio derrubada pelos cubanos quando do avanço da forças vindas da África do Sul, fomos ao topo dos rápidos ver de perto como se fazia agora a travessia e constatamos haver uma grandes chapas de ferro grosso a ligar os pilares e muros que resistiram ao original desmantelamento por efeito de minas; Os militares de plantão não nos deixaram tirar fotos mas, sempre acabamos por fazer alguns registos fotográficos.

Visitamos um velho conhecido da antiga JAEA e que neste então se chamava de INEA. Passou de Junta a Instituto mas de relevo só mesmo o nome porque os buracos por todo o lado eram mais que muitos. Visita feita, tratamos de nos regalar nas águas frescas a montante das quedas com algumas ilhas e penedos a rodear-nos. Mais acima da corrente as donzelas tomavam banho com as mamas a leu, luzidias de negro, pulavam e gesticulavam-nos adeus, a mim e ao Zito. Assim metidos na água, até parecíamos, o Tarzan branco na minha pessoa e o auxiliar do Mandrak, o Zito Lothor preto, como se estivéramos numa cena de filme.

angola5.jpg Na merenda, pude observar a boa conservação do parque, muros caiados, terreno limpo e um vigilante a não permitir que a garotada se acercasse de nós pedinchando a famosa gasosa e, foram fotos debaixo da cachoeira, um sengue que mansamente se deslocava na margem de lá deixando rasto na areia ali depositada, a espuma da água compondo brancura. Recordei neste então a minha estada ali em lua-de-mel no ano de 1970 – naquele agora pareceu-me mais majestosa pelo muito caudal de água. As cervejas, sagres e castle da África do Sul estavam de arrepiar frescura sequiosa. Por debaixo do imbondeiro e ladeados por marulas, mutambas e upapas, nelas riscamos corações com flexas entre muitos outros nomes já ali encarquilhados no tempo com casca. Quase noite, retornamos ao Sumbe, casa do Sr. Pais da Cunha*, pai de Balbina, nosso anfitrião e sogro do Jimba*

Notas*: Tio Chico, Jimba, Pais da Cunha, Eduardo Santos (o presidente), todos já falecidos (14.11.202)

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)   



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Domingo, 30 de Outubro de 2022
N´NHAKA . XIX

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . V

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002) – Crónica 3283 de 16.04.2022 em PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicada a 30.10.2022 na Lagoa do M´puto

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…

Por mocanda11.jpg T´Chingange

dracma5.jpg Neste lugar de encantos atarraxados, na área de serviço de Cabo Ledo, as cervejas são retiradas de grandes caixas de isopor, esferovite; dessas que se usam quando vamos para o campismo mas, de maiores dimensões. É dali que retiram as verdadeiras gasosas de beber, pepsi-cola, mission, cucas e taifal ou sagres do M´Puto. Ali perto há um aquartelamento militar; foi por aqui que entraram os primeiros militares cubanos que deram formação às primeiras tropas organizadas do MPLA. E, foi Carlos Fabião, Flávio Bravo e Agostinho Neto que acordam os pormenores da participação Cubana na Operação Carlota, a que ficou conhecida como a Batalha de Luanda.

Pois foi aqui que entraram e depois saíram entre Maio e Junho nessa Operação Carlota; oficiais que por ali passaram tais como: Abelardo Colomé Ibarra, Lopes Cubas, Freitas Ramirez, Leopoldo Cintras Frias ou Romário Sotomayor. Foram estes e os jovens da Academia Militar de “Ceiba del Água” que mais tarde deram os pormenores já descritos em várias fontes. Cabo Ledo teve uma forte intervenção naquela que ficou conhecida por “a Batalha de Luanda”.

No entretanto da observância vêem-se uns quantos militares roçando as donzelas; um deles, de patente rasa vem até nós pedir uma gasosa a fim de poder ir até Luanda visitar sua namorada; treta ou não, em seguida bazou de nós indo pela certa cravar outro, indícios firmes do pouco salário que recebem. Já perto do rio Calamba, começa a ver-se newas, maboqueiros, embondeiros e cassuneiras; podem ver-se muitas destas, altas e esguias palmeiras já em fase de vida terminal -alguém esclareceu que por tanto retirarem sua seiva para fazer marufo, elas definham até à morte.

quiçama01.jpg Atravessamos a Reserva da Kissama sem ter visto uma simples capota, nem tampouco um camundongo ou mesmo um dilengo (coelho). Começamos a descer para Porto Amboim, um antigo e importante porto de pesca e início da linha de comboio que trazia em tempos o café da CADA, uma empresa exportadora de café robusta. Foi ali na “Boa Lembrança” da CADA, que passei minha lua-de-mel como soe dizer-se, no ano de 1970. O sol kúkia, descia já no horizonte valorizando a ampla baía com o mesmo nome.

Neste local de muita azáfama piscatória no tempo dos Tugas, podia ainda ver-se alguma movida na arte de secar peixe, pesca da lagosta e lá mais adiante, ao dobrar do promontório e na foz do rio Cuvo as deliciosas e grandes ostras. Compramos ao Tadeu Matrindindi um saco de ráfia, daqueles usados no transporte de carvão lá no M´Puto. Custou-nos cem kwanzas ou seja o equivalente a dois €uros e vinte cêntimos. E, se havia ostras! Dias depois voltamos ali, atravessamos em uma improvisada jangada de paus de binga, amarrados com mateba, numa lagoa da foz do rio Cuvo e nós mesmos, eu, Jimba, Zito e o vizinho Candimba apanhamos mais um saco daqueles.

quiçama0.jpg À medida que espetávamos o bordão no fundo, sentíamos as ostras, um rochoso crocante, depois era só mergulhar e apanhar à lagardere… Foram dias de folgadas lembranças como se ainda candengue estivesse a apanhar na Samba da Luua as mabangas para o isco a usar na apanha das mariquitas ou roncadores. O banco de calcário ostrífero era impressionantemente vasto por ali. Fazendo uma fogueira na ilha de areia daquela foz, pudemos fazer abrir aquelas deliciosas ostras, meter-lhe uma porção de sumo de limão e, depois degluti-las. A acompanhar tivemos as frias, cervejas Hanson, Heineken, Sul Africanas e a Cuca angolana.

Recordo agora o Jimba (já falecido) a apontar uma farta planície, uma imensidão de capim, as terras de seu pai e aonde cultivavam algodão em idos tempos. Agora podiam ver-se umas quantas cabeças de gado nemas bem perto de um quartel com parque militar; estafadas Urais e Ifas soviéticas usadas na guerra recém terminada -  há quatro meses…    

quiçama03.jpg Posso agora, 47 anos depois do 75 recordar: E, foi na Praia de Sangano um pouco a norte de Cabo Ledo que desembarcaram os primeiros homens comandados pelo General Raul Diaz Arqueles. Ali descarregaram os primeiros complexos móveis de defesa antiaérea “Strela”. Os instrutores deste equipamento sofisticado, estavam a ser coordenados pelo Coronel Trofimenko que a partir da Republica do Congo Brazaville enviavam numa primeira fase, pequenos aviões para aterrizar na pequena pista de aviação da Kissama em Cabo Ledo.

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)     



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Quarta-feira, 26 de Outubro de 2022
N´NHAKA . XVIII

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . IV

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças actuais de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)

– Crónica 3280 de 12.04.2022 – Republicada a 26.10,2022 na Lagoa do M´puto

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…

Por  ÁFRICA11.jpg T´Chingange – Em PortVille da Pajuçara de Maceió

A lufada de ar quente da chegada a Luanda foi há dias atrás; neste meio tempo li levemente a obra do sociólogo Paulo de Carvalho com o subtítulo desta crónica e que, só por si, revela a preocupação na mudança das coisas. O desejo de Kianda do Maurício dos Santos Pestana (Pepetela) também vem demonstrar que hoje as vivências fazem-se num confronto de ambivalência e das coisas confundidas no seio deste povo; o mesmo sol da secura e aridez que amadurece os produtos e, a chuva que tudo inunda, é a mesma que os rega.

dia207.jpg A linguagem mitológica, a verdade das coisas é colhida entre o falso e o verdadeiro, baralhando o conceito da razão; no entretanto destas divagações de um Niassalês, que sou eu, vamos a caminho do Sumbe, (Ex Novo Redondo), lá aonde se situa o Cantinho do Inferno. Até ao Sumbe são 320 quilómetros. Passada a Samba, vem o Rocha Pinto, a Corimba, o Benfica, o Futungo, os Morros dos Veados e da Cruz. Aqui, a capela foi promovida a Museu da História da Escravatura.

Em verdade, a criação deste Museu tem razão de o ser pois que foi dali, pertença do reino de N´Gola que saíram milhares de escravos para o Brasil. Chegados aqui, que fique claro que quando o Diogo Cam chegou à foz do rio Kongo surpreendeu-se com a prática dos indígenas comercializarem as suas gentes; usavam os prisioneiros de outras tribos, das guerras constantes que mantiam entre si, transaccionando-os como uma qualquer mercadoria.

Esta prática usada entre as muitas tribos em África e particularmente em Angola, veio a calhar para colmatar a falta de mão-de-obra para nas muitas culturas em expansão no grande território do Brasil; os engenhos da cana-de-açúcar estavam carentes de gente no seu trato, no amanho das longas extensões de terras como o café, algodão ou cacau. A partir daqui surgiram empresários negreiros que sem controlo, fizeram fortunas tratando as gentes oriundas de várias partes, ocasionando riquezas desmedidas de agentes em Angola e Brasil. A palavra infortúnio ainda não estava inventada…

cos0.jpg Foi esta disseminação de gente de tez negra para as américas que originou a grande diáspora alterando os conceitos de raça por via normal de miscigenação. Na escola básica, aprendi que no Mundo havia quatro principais raças, a branca, a negra, a amarela e a vermelha. Os sociólogos tiveram muita dificuldade em estabelecer padrões na sua classificação e, muito rápidamente o conceito de raça humanizou-se simplesmente em raça humana; nesta questão fica bem evidente a globalização com a forte participação portuguesa.

Continuando a viagem, usando a visível marcação do meio-fio e, quase sem buracos chegamos ao rio Kwanza. Aqui o controlo é mais refinado, mais pelos veículos do que propriamente pelos passageiros, a ponte suspensa tem alguma relevância mas, a destoar sucede o facto de alguns militares que por ali estavam espairecendo preguiça, nos terem abordado pedindo gasosa, a mesma pedinchice que sempre nos acompanhou por todo o lado e, desta feita perante o nosso semblante de surpresa, o militar de camuflado ao jeito explicativo e indicando os demais companheiros, encostado ao varão da ponte disse:

- Kota, ajuda só… é para levantar a moral! E, com este pretexto desinibido de vergonha escorregamos com cinquenta kwanzas correspondendo a duas frescas cucas e ainda sobram cinco kwanzas para o engraxador do Sumbe… Cabo Ledo fica em plena reserva da Quiçama mas, até aqui não vimos qualquer espécie de bicho. Acerca da área de serviço aonde paramos, a de Cabo Ledo, trata-se de um amontoado de chinguiços amarrados com mateba e cobertos a capim e, só simplesmente amontoado.

dia141.jpg Estas estruturas da área de serviço, têm “empresárias de sucesso” que superintendem caixas térmicas com gelo e frias sagres, taifel, hansen ou cuca. A acompanhar há galinha assada no espeto, talqualmente e, umas batatas-doces assadas no fogo. É quase uma paragem obrigatória pois que o calor é intenso. As empresárias de sucesso, amigas de Bien e Xico seu primo, com rudimentos falíveis de higiene aprendidas no funaná Bye Bye My Love, cursadas em sobrevivência, transformam a fome em petico de espanto. O frango no espeto marchou sem entretantos e, com muito jindungo; deu para notar as onduladas conversas de sussurradas popias de muitos atarraxados encantos…

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:30
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Quinta-feira, 20 de Outubro de 2022
N´NHAKA . XVII

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . III

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças actuais de escritos antigos - “havemos de voltar” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)

Crónica 3276 de 07.04.2022 escrita na Pajuçara de Maceió – Republicação a 20.10.2022 na lagoa do M´Puto

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…

Por t´chingange 0.jpg T´Chingange

selo10.jpg Bien, Humberto Cunha do Sumbe, engenheiro civil formado em Cuba em tempos de dipanda, chorou ao despedir-se de mim e Ibib no mesmo aeroporto “4 de Fevereiro” (antigo Craveiro Lopes ou de Belas). Eu, que me fiz forte na altura, relembro agora que também fiquei esfiapado das pestanas, com humidade por arrumo dos preparos finais. Foi exactamente na sala que nesse então, reparei, essa sala ter perdido o tecto falso; podia ver-se os tubos semi descarnados e em desalinho, dispondo-se encavalitados em todos os sentidos. Este intróito sendo de saída é só uma pescada de rabo na boca porque a descrição que se segue é o começo da visita ao CANTINHO DO INFERNO

Fiquei sem saber se os tubos levavam dentro outros fios ou águas negras; Se eram condutas de ar condicionado ou fios de comunicação! Só faço este reparo para verem o quanto havia de descaso numa sala de entrada e saída de gente a quem se necessita dar uma boa imagem; Os tempos de guerra finda há quatro meses, supõe-se não ter dado manobra de embelezamento às estruturas de aparência. Tinha saído de Angola nesta mesma sala em Agosto 1975 com uma guia de marcha sem volta, emanada pelo Alto Comissária em Angola e, no meio de tanta agitação, tanto caixote espalhado a esmo, nem reparei se havia ali, ou não, tecto falso.

Havia sim controlo sanitário, alfândega, controlo de polícia de fronteira e bagagem. Quem tivesse kwanzas ou outra moeda de sobra, era ali depositada por confisco sumário; não era permitido retirar do território qualquer divisa sem estar superiormente declarada. Consegui passar despercebido ao lado desta desorganizada rigorosidade. Nossas malas dispostas no exterior eram assinaladas por cada um dos passageiros que só depois de o dizer qual a sua mala ou malas, eram carregadas até ao avião da TAP. Compreende-se, pois nesse então e ali, não havia ainda os métodos modernos de visão do tipo de raio xis…

selos3.jpg Pois de vacina nas mãos é-nos indicado o sítio de carimbação; gente improvisada, vestida de bata dá valia aos papéis amarelos e, depois das boas chegadas por parte das autoridades com chapéu de dourados arabescos, vem a secção da bagagem aonde a dita gasosa agiliza as vistas. Isto aconteceu na chegada com o surpreendente pedido de gasosa sem sabermos nesse então o que seria isso; O Zito mais avisado disse ao Jimba (já falecido) que era uma gorjeta para não empatar; neste momento já tinha vinte euros na mão para desanuviar a mercadoria e, assim aconteceu…

O primeiro impacto com os destapados buracos de rua foi logo ali em frente ao aeroporto 4 de Fevereiro, esgotos a correr a céu aberto, bem à saída da base da Força Aérea e, entre esta e o bairro que já foi novo quando os cubanos o construíram. Os bolos de batata-doce, de mandioca e banana assada com outras iguarias por ali estão expostos, no meio do espezinhado lamaçal, em cima de improvisadas caixas. Mais ao lado há uma secção de lavagens de carros, uma mangueira que verte água que por seu lado escorre para este improvisado mercado das calamidades.

selos7.jpg O desenrasca funciona paredes meias com os supostos sítios nobres. Luanda aí está! Passando no antigo largo Afonso Henriques, e bem em frente aonde funcionou o sindicato metalúrgico para meu espanto, vejo um grande buraco a jorrar água limpa aos borbotos e uns quantos jovens a fazer daquilo uma estação de lavagem para carros, baldes, esfregonas, sabões e tudo no tecnicamente imperfeito. Os carros eram de alta cilindrada, vidos fumados e acessórios xispéteo… O sinaleiro da Maianga faz milagres para dar ordem ao trânsito, é desrespeitado e até chamado de nomes de macaco para símio. Os vendedores de antenas parabólicas, chinelos e quinquilharias chinocas não largam as janelas dos carros aqui e em qualquer cruzamento com ou sem sinais. Patrão compra só, é barato! 

E, vi porque ninguém me contou: coleiras de cão, peúgas, pó de pulgas, chapéus quicos e até batatas fritas. Os Libaneses resolvem o problema de despachar o negócio usando crianças a venderem de tudo e também CêDês produzidos em estúdios suspeitos do Cazenga ou kazukuteiros do Sambizanga, saídos do Tira-biquíni e Dona Xepa e outros com esquemas com bangula, um salve-se quem poder que a morte vem aí, é certa…

sumbe1.jpg Bem ao lado da casa do Chico Massa aonde ficamos por uma noite, cruzamento da rua de João Seca com a rua da Maianga, o imbondeiro, continua lá, mas muito rodeado de chapas altas. Posso ver daqui a antiga oficina do meu cunhado Paulino Branco, o homem das cambotas (já falecido), bem junto à antiga avenida Craveiro Lopes; sei que do outro lado está a morgue aonde em tempos de candengue vi pedaços de atrocidades, mas, olhando para cima consigo ver umas quantas múcuas. De lá de dentro sai um barulho de esmeril guinchando raivas afiadas – é uma fábrica de grades anti ladrão para colocar em janelas, portas e demais vãos de casas e edecéteras.

Nota: mais lá para o final colocarei um glossário para se lembrarem de quando não eram kaluandas…      

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)              



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:24
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Quinta-feira, 22 de Setembro de 2022
PARACUCA . LI

MULOLAS DO TEMPO - 22

RECORDANDO: No INHASSORO – Dias 37º e 38º, quarta e quinta-feira dias 24 e 25 de Outubro de 2018 da Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA”. Nós, bazungus através de África no Yellowfin lodge em Inhassoro (3 noites) …

Crónica 325106.03.2022 no PortVille de Maceió do Brasil - Republicada a 22.09.2011 no AlGharb do M´Puto

Por soba0.jpeg T´Chingange

mocanda9.jpg Há mais africanos hoje na Europa do que Europeus em África! Alguns até são brancos… Porquê? "Hoje até a Bíblia nos tiraram, e as terras continuam a não pertencer ao povo" - sintetizou Morgan T´Chavingirai, descrevendo a desgraçada e extrema penúria do povo zimbabwano por onde passei recentemente neste ano de 2018, que respondendo ao guia imortal, o defuntado Robert Mugabe que se diz ter ressuscitado mais vezes que o próprio Jesus Cristo.

O Zimbabwé, enquanto colónia era o celeiro de África, o povo era detentor de uma das maiores qualidades de vida no continente africano. Hoje e, em Angola por exemplo, quando por vezes, nas datas históricas, oiço e vejo pela TV indivíduos a mencionarem o que o “colono nos fazia”, sinceramente não sei se, chore de raiva ou se me mate de “risada” tomando por contraste as politicas actuais. "Porque o que o colono fazia… blá-blá-blá", dizem eles - hoje faz-se muito pior!

O colono, se fez, é certo que sim, quase que o desculpo: era ou foi colono, é branco, não é meu irmão de raça, etc.; agora quando o meu irmão Moçambicano ou Angolano, preto como eu, ex-companheiro da miséria e das ruas da amargura, faz o que desaforadamente repudiávamos do colono - esta acção dói muitíssimo mais do que a acção anterior, dilacera e mutila impiedosamente a alma. Porque se chegou à conclusão que afinal não é verdade o que apregoa o político africano; "eles prometeram-nos o paraíso e dão-nos o inferno a dobrar", disse um jovem africano em Lisboa nos anos 78-80 num programa da RTP.

ngoi2.jpg Mudando o rumo à conversa, amanhã teremos de dar 7500 Mzm ao multifacetado gerente do Yellowfin lodge Sebastião, para pagar os três dias de hospedagem. Isto corresponde mais ou menos a 105 €uros; pela qualidade, não achei caro! Enquanto troco impressões com a osga empoleirada junto à rede mosquiteira, Ibib está preparando os três quilos de mexilhões que comprei a um conhecido de Sebastião. Os 3 quilos custaram-me 200 Mzm, o correspondente a 3 €uros do M´Puto. 

Tentando descansar com as kinambas levantadas para aliviar a tensão dos últimos dias, todo aberto à aragem da monção que vem do mar Índico, de novo vejo a mesma osga de olhar curioso, botando a língua de fora a ensaiar periclitãncias. Pópilas! Antes de poder vê-la, já a pressentia - a vida socorre à gente certos avisos. Antes que me julguem mal, eu até que nem queria mas com a solidão acabei por aceitar este mini crocodilo. Agora até já troco impressões com ela. A bichona estuda-me com seus olhos oblíquos de rodar amor a 360 graus.

Esta osga tornou-se-me familiar porque, num repentemente dou-me conta de que só ela tem o verdadeiro entendimento devido ao tão prolongado silêncio de aprovação. Sabe-se que há problemas que surgem com as tosses cheias de pulmões nas palavras mas, afinal, que está a acontecer? Ela, a osga riu-se avermelhando seus olhos por inteiro, colocando-me até numa situação embaraçosamente roscofe como se o estivera feito pulga entre as unhas dos polegares.

qutandeira1.jpg O cheio da fome, chegou até mim e por via destas alucinadas percepções saí do mukifo bungalow, chalé indo direitinho ao frigorífico fazer pazes com a 2M a cerveja Mac Mahom, larga e mais gorda que o jacaré La Cost. Agora queria até enxotar da ideia aquele diálogo com o bicho porque de repente a gente rosna, chia ou grasna…Até posso contar: Muito só, três meses atrás, resolvi abrir uma nova página no FB e… recordando um quatro de Fevereiro abri uma nova página no Facebook com o nome de Profeta Moisés…

E, acreditem ou não, com grande surpresa, um dos muitos pedidos de amizade vinha de Jesus Cristo. Intrigado fiquei uns dias retendo o pedido enquanto ia recebendo muitas outras, gente nitidamente ligada às coisas litúrgicas, eruditos até às pontas dos cabelos. Assim, assentando os contrafeitos nos factos com dúvidas na forma de gráfico, ora para cima, ora para baixo, fiquei espantado quase no estupefeito quando surge um novo evento: Era Nosso Senhor, adicionando-me de vez como amigo, mesmo sem eu ter confirmado o que quer que fosse. Belisquei-me para ter a certeza que ainda estava pela terra e fiquei extremamente cauteloso sem saber ao certo o que dizer!

 (Continua…)

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:46
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Sexta-feira, 5 de Novembro de 2021
MOKANDA DO SOBA . CXCII

ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXIX

DEPOIS  DE ”OS 3 DIAS DAS BRUXAS”O VAZIO COM A 6ª FEIRA SANGRENTA DE 22 DE JANEIRO DE 1993

Crónica 321105.11.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes que agora governam (Ainda…)

araujo179.jpg

Por soba0.jpeg  T´Chingange, no AlGharb do M´Puto

A 6ª Feira sangrenta, 22 de Janeiro 1993 - o dia que angolanos do grupo linguístico Kikongo, foram assassinados por razões xenófobas. Com efeito, na manhã do dia 23 de Janeiro de 1993, os bairros da Petrangol, Mabor e Palanca e outros habitados maioritariamente por Bakongos, foram atacados por parte de habitantes de Luanda. O Governo de Angola teria reconhecido oficialmente 57 mortos, mas as organizações civis bakongos apontaram mais de mil vítimas e acusaram jornalistas angolanos de serem os responsáveis da chacina.

Estes ataques foram referidos como sendo ocasionados por motivos étnicos mas, em realidade, tratou-se de conflito pré-eleitoral. Os bakongos foram acusados pela imprensa oficial de ter apoiado o partido do Galo Negro. Depois da fuga do Jonas Savimbi, nos fins de Novembro de 1992 para o Huambo, este reorganiza o comando da sua ala militar e, no espaço de poucos meses depois das primeiras eleições em Angola, ocupa as cidades do Uige, Mbanza Kongo, N´dalatando, Soyo, Caxito e mais tarde, depois de uma batalha de 55 dias, a segunda cidade de Angola, Huambo, obrigando o governo a ficar na defensiva.

kicongo1.jpg Nasce daí, a campanha mediática contra o Zaire de Mobutu, acusado de ter enviado tropas para auxiliar o braço armado da UNITA. No entanto, quando as ex- FALA's ocupavam militarmente uma das cidades, a Rádio Nacional de Angola, noticiava o que aqui se cita: "tropas zairenses e da UNITA, ocuparam a tal cidade", etc. Alguns jornalistas de Jornal de Angola imprudentes, assinam artigos que criticavam os supostos zairenses (na realidade, angolanos bakongos), com caricaturas, denegrindo-os de ser responsáveis da miséria do povo angolano.

Em meados de Janeiro de 1993, todos os órgãos de comunicação Social de Angola, citam fontes militares que foram capturados no campo de batalha, tropas zairenses, o que constituía prova suficiente da implicação de Mobutu no sucesso de tropas da UNITA no terreno. Prometeram apresentá-las numa conferência de imprensa. Na preparação desta, um jornalista corajoso questiona sobre as provas que os militares estrangeiros africanos capturados fossem zairenses; a resposta foi simples: falavam lingala! O jornalista insiste em saber se, nas forças armadas angolanas e da UNITA, não havia militares que falassem lingala, sendo logicamente, angolanos.

socie2.jpg A reunião com imprensa foi anulada "in-extremis", por ordens superiores. Soube-se mais tarde, que os supostos soldados zairenses, na realidade eram angolanos bakongos que falavam lingala, ligados ao partido no poder e recrutados para este efeito. A campanha de difamação contra Mobutu e os zairenses era tão forte que obrigou o então general da UNITA, Demosthenes Chilingutila a desmentir na rádio portuguesa TSF, qualquer implicação das tropas do Zaire ao lado das suas tropas afirmando ainda que o próprio presidente do Zaire tinha problemas graves no interior de seu pais e, precisando ele sim, da ajuda da UNITA.

Nesse dia, 22 de Janeiro de 1993, um editorial da Rádio Nacional de Angola revela que os Zairenses infiltrados no seio da população angolana, preparavam um plano para assassinar o presidente da República, José Eduardo dos Santos. E, foi esta a razão que no mesmo dia incutiram e accionaram seu conhecido Poder Popular junto de seus seguidores entre a população de Luanda munidas de armas de fogos pelo MPLA a assaltarem, violarem e matarem à revelia e com toda a impunidade, os bakongos da capital do país – Luanda.

balba1.jpg Dias depois, os bakongos, impotentes e frustrados, reúnem-se algures em Luanda, redigem o famoso Manifesto da Sexta-Feira Sangrenta, um memorandum dirigido ao governo de Angola, ao parlamento e às embaixadas acreditadas em Angola. Neste documento, os activistas “bakongo” relatam com pormenor o que se passou nestes dias. O então deputado do partido PDP-ANA, Nfulumpinga Landu Víctor, toma conhecimento do manifesto e interpela a Assembleia para condenar os massacres e levar à justiça os autores.

Em uma exortação sobre a Sexta-Feira Sangrenta, Muana Damba publicou a 24 de Janeiro no recente ano de 2013: História do Reino do Kongo - Você é um N'kongo, filho desta terra legada pelos nossos antepassados. Se podemos considerar esta Angola um país de Cabinda ao Cunene, é porque nele estão inseridas todas as etnias do país* incluindo os Bakongos sejam eles de Cabinda, do Soyo, do Uige, M'banza Kongo e outros, mas se essa realidade deixar de ser considerada, Angola deixa de ser aquilo que é, portanto vamos todos reflectir...

bacongo1.jpg.crdownload *Abro aqui um parêntesis para prosseguir este pensamento de Muana Damba, ressaltando que a etnia Branca desde seu processo libertador pelos autodesignados mandatários dum autopoder, na gestão do todo-poderoso MPLA na governação, sempre a excluíram, subtraindo-lhe direitos de gerações por nascimento. Algo incomum e xenófobo, do qual tanto se fala hoje pelo mundo com refugiados de um e outro lado, passados que são quase 46 anos daquele 11 de Novembro de 1975, verificando-se sempre um provocado desleixo ao lidar com a etnia Branca, relegando-a para um submundo de indiferença e menosprezo…

bacongo2.jpg Muana Damba continuando seu MANIFESTO refere: Queremos que as autoridades, outros irmãos angolanos saibam que Angola é um mosaico de tribos ou mesmo junção de tribos, nós temos a nossa terra, espaço terra tal como outros, assim sejam Kimbundos, Ovimbundos entre outros que o tempo ditará terem também os mesmos direitos de jus soli (lei do solo -"direito de solo") irrestrito, ou o direito à cidadania a quem nasça em solo nacional, independente de quaisquer outras condições. Se alguma lei assim o refere, urge modificá-la para bem de Angola…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:53
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Domingo, 31 de Outubro de 2021
MOKANDA DO SOBA . CXCI

ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXVIII

DEPOIS  DOS ”OS 3 DIAS DAS BRUXAS” O VAZIO EM ANGOLA

Crónica 321031.10.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes que agora governam…

kisan1.jpgPor: T´Chingange, no AlGharb do M´Puto

Naqueles tempos ainda nem sabíamos que usavam a propaganda de forma exaustiva na falácia de tudo vir a ser uma liberdade linda em Angola! Não! Não conhecíamos as filosofias do mal… Nos intervalos dos lapsos de memória quase petrificado, posteriormente, ele, um velho Tenente-Coronel, falava tudo desencontrado no tempo e no espaço esfarrapado de mente contando os efeitos da Luua no quarto decrescente, penso eu-de-que!

Aquele senhor fardado com um pijama às riscas, sentado num sofá de orelhas, olhava para o infinito, babando-se pelo canto esquerdo descaído, insensível ao cérebro abanado por uma trombose, com a lentidão na descrição das coisas graves, titubeava muxoxos – Hum, pois, não sabe; a kalashnikov, os turras, a febre do poder, os malvados da UITA… E, eram bolas de trapos, meias surripiadas do pai a cheirar a sulfato de peúga a impregnar a desconversa! Mas, o que é que tem a ver o cú com as calças? Estão a ver o filme?

miran04.jpg Entre a vida e a morte, as diferenças estão nos pormenores pois algumas são demasiado trágicas e outras muito, por demais sofríveis… Ele teve a sorte de morrer num ai, repentinamente (falava dum monstro, talvez um tal de imortal do MPLA); que nem a viu aparecer - a bala do monacaxito… Movimentos das FA com seus militares guedelhudos e revolucionários esquerdistas do M´Puto…

Na tempestade vingativa dos habitantes da Luua, dos musseques, que se abateu sobre os comerciantes brancos. E foram primeiro os fubeiros, depois os taxistas e a seguir já o eram todos os brancos. Os fubeiros tinham fama de trapaceiros e os taxistas de reaccionários. Entre a vida e morte as diferenças estão nos pormenores, repetiu o velho tenentista babado ao recente passado… Em sua cabeça, sua cuca estava mesmomesmo pifada mas, eram coisas reais dum passado…

araujo1.jpg A quitandeira, de filho atado com lenços do Mobutu com quindas cheias de loengos, gajajas ou sape-sape… candengue ranhoso abanado no caminhar, dando cabeçadas na mãe por entorpecimento entre apertos de multidão pra apanhar as chapas (táxis populares da quinhenta) do Zambizanga…. Pois! Queres ver que agora é preciso ser preto para se ser angolano! Repetia isto a todo o instante como se fizesse funje numa lata de leite Nido nas obras do António Barroso no Rio Seco.

Os primeiros foram expulsos dos musseques, à força e com o medo a estalar em fogos de very-lites, arcos-íris de granadas às centenas produzindo efeitos imediatos – E, agora ou vais ou morres! Isso: ou mato ou morro! Pópilas, de novo: ou morro ou mato! Mas ali só havia prédios. Creio que estava a ver a avenida Brasil da Luua! E, eram centenas; despojados dos pecúlios com a ajuda do lobo mau das NT – o mesmo que MFA a ajudar quem nunca deveria…

quitandeira5.jpg Era a frente para a fuga ao invés da fuga práfrente, algo já estudado pelos frentistas a fim de se efectuar o abandono, uma táctica nunca vista nos anais da lusofonia. Esta tornava-se conhecida aos poucos entre muxoxos de lusofodiaste; uma teoria que funcionou átoa, mas resultou mesmo.…Coisas do passado.

O Soba atento, fumando rapé ou liamba no seu cachimbo mutopa, sentado ou em seu pé à entrada do d´jango esperando os súbditos e dando-lhes conselhos; a família é importante, reúnem lá com os filhos debaixo da mulembeira lembram-lhe os seus deveres como a eles próprios lhes foram transmitidos, pelos pais e pelos pais dos pais, sabe que travarem as suas batalhas é ponto de honra e, sabe também que na hora de fazer a paz e a concórdia, com o usurpador ou sem usurpador, é da natureza humana, o caminho N´zambi indica.

SEXTA FEIRA1.jpg Mais tarde: A UNITA tentou retirar o controlo de Cabinda do MPLA em janeiro de 1993. Edward De Jarnette, chefe do Gabinete de Ligação dos Estados Unidos em Angola para o governo Clinton, alertou Savimbi que, se a UNITA impedisse ou interrompesse a produção de Cabinda, os Estados Unidos encerrariam seu apoio. Aqui, deu para se entender que os piores amigos eram mesmo, os americanos.

Em 9 de Janeiro, a UNITA iniciou uma batalha de 55 dias contra Huambo, a "Guerra das Cidades". Centenas de milhares fugiram e 10 mil foram mortos antes que a UNITA assumisse o controlo a 7 de Março. O governo engajou-se em uma limpeza étnica kikonga e, em menor grau, de ovimbundos e, em várias cidades, principalmente Luanda como o de 22 de Janeiro, chamado de massacre da Sexta-Feira Sangrenta.

SEXTA FEIRA2.jpg Os rebeldes da UNITA e os representantes do governo encontram-se cinco dias depois na Etiópia, mas as negociações em restaurar a paz falharam. O Conselho de Segurança das Nações Unidas sancionou a UNITA através da Resolução 864 a 15 de Setembro de 1993, proibindo a venda de armas ou combustível para a organização. Talvez a mudança mais clara na política externa estadunidense tenha surgido quando o presidente Bill Clinton emitiu a Ordem Executiva 12865 em 23 de Setembro, rotulando a UNITA como "uma ameaça contínua aos objectivos de política externa dos Estados Unidos" em Angola.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:40
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Sábado, 23 de Outubro de 2021
MOKANDA DO SOBA . CXC

ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXVII

DEPOIS  DOS ”OS 3 DIAS DAS BRUXAS” – CAMPANHA ELEITURAL CONFLITUOSA…

Crónica 320822.10.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes que agora governam…      

Por: T´Chingange, no AlGharb do M´Puto

1 ::::: No Gabão, em Libreville, Jonas Savimbi, Líder da UNITA, União Nacional para a Independência Total de Angola, José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola e Omar Bongo Ondimba reuniram-se dando as mãos e segundo o jornalista Carlos Albuquerque que fez a cobertura. A Savimbi foi-lhe proposta o lugar de Vice-Presidente e após este ter aceitado informalmente, a nomenclatura do MPLA, de imediato afirmou que haveria dois vice-presidentes: Um indicado pelo MPLA e ele, Savimbi que ficaria em segunda linha na hierarquia…. Só lhe restava recusar! O MPLA, sempre foi assim; inventam coisas tão diabólicas que nem lembram ao diabo…

Na óptica das probabilidades, haverá aqui uma situação incrível, pois que Savimbi poderia ter sido o primeiro Presidente de Angola eleito. Se ele tivesse aceitado, a realização da segunda volta das presidenciais, em 1992, nada nos garante que não tivesse ganho, ou mesmo, perdendo, nada nos diz que numa nova votação, saísse vencedor mas sempre o seria, uma perigosa suposição…

2 ::::: Estando a dias do termo da campanha eleitoral, a Conferência Episcopal Angolana, difunde uma mensagem intitulada “As portas da II República “. Nela, os bispos sublinham que “a Igreja não tem de apresentar nenhum candidato”, exortando ao voto consciente: “ Não devem merecer a preferência dos cristãos os que violam os direitos humanos e os que dilapidam os bens públicos, seja por que via for”. A UNITA entende que a mensagem é tendencialmente favorável ao governo do MPLA.

Ao mesmo tempo da intervenção do bispos na política, a UNITA dirige insultuosos ataques à representante das Nações Unidas Margaret Anstee, acusando-a de “estar comprada pelo MPLA, com diamantes e mercúrio”. As mulheres de Luanda, com blusas da OMA, saem à rua em defesa dos bispos e da própria Anstee. Numa grande manifestação, exigem “ a consciência democrática e perdão sem violência”, para que seus filhos cresçam numa Angola nova, sem luto, dor e lágrimas”.  

3 ::::: Passados já uns cinco anos dos recontros da Batalha do Cuíto Cuanavale o é dado a conhecer pelo toxicologista criminal belga Dr. Aubin Heyndrickx, o uso de gases na guerra. Ele, estudou supostas evidências, incluindo amostras de "kits de identificação" de gás de guerra encontrados após a batalha em Cuito Cuanavale, alegando que "não há mais dúvida de que os cubanos estavam usando gases nervosos contra as tropa Jonas Savimbi" - As tropas cubanas foram neste então acusadas formalmente de terem usado gás nervoso contra as tropas da UNITA durante a guerra civil.

O envenenamento por aquele agente nervoso leva a contracção de pupilas, salivação profusa, convulsões e micção e defecação involuntária, sendo que os primeiros sintomas aparecem segundos após a exposição. A morte por asfixia ou parada cardíaca pode ocorrer em minutos devido à perda do controle do corpo sobre os músculos respiratórios e outros. Os agentes nervosos também podem ser absorvidos através da pele, exigindo que aqueles que provavelmente sejam submetidos a tais agentes usem uma vestimenta completa, além de um respirador. Os agentes nervosos são geralmente líquido insípidos de coloração que varia entre o incolor e o âmbar e podem evaporar para um gás. Os agentes sarin e VX são inodoros; o tabun tem um odor ligeiramente frutado e o soman tem um leve odor de cânfora.

4 ::::: Na década após 1990 as mudanças políticas no exterior e vitórias militares em casa permitiram ao governo fazer a transição de um Estado nominalmente comunista para um Estado tendencialmente democrático. A declaração de independência da Namíbia a 21 de Março de 1990, eliminou a ameaça ao MPLA da África do Sul, quando a SADF se retirou de lá. O MPLA aboliu o sistema de partido único e rejeitou o marxismo-leninismo no terceiro Congresso do MPLA em dezembro, mudando formalmente o nome do partido de MPLA-PT para MPLA.

Com sua riqueza em petróleo e diamantes, Angola é como uma grande carcaça inchada com os abutres girando no alto. Os antigos aliados de Savimbi estão mudando de lado, atraídos pelo aroma da moeda forte". Savimbi também expurgou alguns dos membros da UNITA, que ele pode ter visto como ameaças à sua liderança ou como questionadores de seu curso estratégico. Entre os mortos no expurgo estavam Tito Chingunji e sua família em 1991. Savimbi negou seu envolvimento no assassinato de Chingunji e culpou os dissidentes da UNITA.

5 ::::: Um observador oficial escreveu que nas primeiras eleições em Angola, havia pouca supervisão da ONU, que 500 mil eleitores da UNITA foram desprivilegiados e que havia 100 assembleias de voto clandestinas. Savimbi enviou Jeremias Chitunda, vice-presidente da UNITA, a Luanda para negociar os termos do segundo turno. O processo eleitoral fracassou em 31 de Outubro, quando tropas do governo em Luanda atacaram os camados de rebeldes. Os sucessos militares do governo em 1994 forçaram a UNITA a negociar pela paz. Em Novembro de 1994, o governo havia assumido o controle de 60% do país.

6 ::::: Savimbi chamou a situação de "crise mais profunda" da UNITA desde a sua criação. Estima-se que talvez 120 mil pessoas tenham sido mortas nos primeiros dezoito meses após a eleição de 1992, quase metade do número de baixas dos dezasseis anos anteriores de guerra. Ambos os lados do conflito continuaram a cometer violações generalizadas e sistemáticas das leis de guerra, sendo que a UNITA, em particular, foi culpada de bombardeios indiscriminados de cidades sitiadas, o que resultou em um grande número de mortos civis. As forças do governo do MPLA usaram o poder aéreo de maneira indiscriminada, resultando também em várias mortes de civis…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:27
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Segunda-feira, 18 de Outubro de 2021
MOKANDA DO SOBA . CLXXXIX

ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXVI

DEPOIS  DOS ”OS 3 DIAS DAS BRUXAS”CAMPANHA ELEITURAL CONFLITUOSA…

Crónica 320517.10.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes que agora governam…                                                                                                                                        

Por: T´Chingange, no AlGharb do M´Puto

:::::1

Os chamados “três dias das bruxas” são referentes aos sequentes dias a 30 de Setembro de 1992, imediatamente após se saberem os resultados “fraudulentos” das eleições; estes eventos de matança aos homens da UNITA ocorreram até 1 de Novembro, já aqui descritos na parte XXIV desta “Angola da libertação”. Teria de haver uma segunda volta para as presidenciais para saber-se qual o verdadeiro vencedor e, segundo a óptica governamental com aconchavos internacionais, mas esta volta nunca se chegaria a realizar …     

:::::2

Em Setembro de 1992, três meses após a visita do Papa João Paulo II, no Huambo mais de uma centena de homens da UNITA fortemente armados “estacionam” frente à casa de Savimbi. A CCPM (Comissão Conjunta Político-Militar), interfere. A UNITA virá a dizer que são homens “da segurança pessoal de Savimbi”, mas a CMVF (Comissão Mista de Verificação e Fiscalização do Cessar-fogo), apura que o contingente e respectivo material bélico, havia entrado na cidade sem conhecimento da UNAVEM.

:::::3

Neste meio tempo, Luanda (e todo o país) estava pejada de um dispositivo policial desmesurado, como se tratasse de um estado de sítio - coisa a que os luandenses já não estavam habituados depois da guerra civil - dadas as preocupações com o acto eleitoral dos dias 29 e 30 de Setembro, para que tudo corresse bem. E correu. Correu muito bem, dada a afluência às urnas ter ultrapassado os 70% só no primeiro dia. O povo queria a paz e acreditava que a poderia conseguir pelo voto. Mas Angola, não era só Luanda.

:::::4

Os votos foram contados, mas a UNITA não concordando, exigiram a recontagem, pois os primeiros resultados deixavam de fora a possibilidade de uma segunda volta das presidenciais a Savimbi. Os acontecimentos precipitaram-se e Savimbi teve de fugir de novo para o Huambo levando atrás de si uns esperançosos 40% nas eleições com os dados viciados, segundo a UNITA. Lendo o Expresso do M´Puto: Savimbi ficou à espera por um curto tempo no Huambo e mais tarde, no seu refúgio da Jamba. Savimbi aguardava agora a marcação da segunda volta, que o levaria ao cume das suas aspirações.

:::::5

No terreno, à medida que decorria a campanha eleitoral, tropas da UNITA tomam posições no Centro/Sul de Angola, expulsando o MPLA de vários municípios. No Norte, em Caxito, soldados da UNITA envolvem-se com a polícia; em Benguela, a UNITA ataca uma caravana do Fórum Democrático de Angolano, ambos os incidentes causaram dezenas de feridos na população civil. No caso de benguela, a UNAVEM concluiu que “houve provocação por parte dos dissidentes e uma reacção exagerada por parte da UNITA”. Em Luanda a FNLA condena veementemente a agressão sofrida por Baptista Fula, seu membro, brutalmente agredido por militares e militantes da UNITA.

:::::6

Claro que sempre se verificou por parte das instâncias internacionais um certo acomodamento às visões do comportamento dos elementos afectos ao MPLA, o lado “governamental” por estes terem os donos da opinião com sua máquina da informação lubrificada de seu lado, dizendo o que mais lhe interessava; prosseguindo uma logística concertada de denegrir sempre a UNITA. Os posteriores conhecimentos dos factos vieram a confirmar em como a permanente contra-informação e métodos dissuasores das instituições e polícias de inteligência treinadas por peritos oriundos da cortina comunista.

:::::7 

Por via das eventuais mudanças políticas faz-se revisão da lei constitucional - Lei Nº 23/92 de 16 de Setembro, alterando a de Março de 1991, destinando-se principalmente à criação das premissas constitucionais necessárias à implantação duma democracia pluripartidária. Um cumprimento referido quando da assinatura a 31 de Maio de 1991 nos Acordos de Paz para Angola. É desta feita, a primeira vez na história do país, que levam à realização às eleições gerais multipartidárias assentes no sufrágio universal directo e secreto.

:::::8

O maior incidente da campanha eleitoral foi a captura, pela UNITA, de onze elementos da guarda pessoal de Eduardo Dos Santos. Savimbi justificaria que o comportamento de seus homens lhe foi “tardiamente comunicado”. Ainda em Setembro, chega a Lisboa uma queixa informal da UNITA, sobre o envolvimento de uma empresa portuguesa de distribuição alimentar, sediada no Porto, presumivelmente envolvida no fornecimento de material de guerra à Polícia anti-motim angolana - os 30 mil “NINJAS” do MPLA (assim foram chamados), treinados pelos espanhóis.

:::::9

Não houve grande desenvolvimento sobre o caso, assim como quase nada foi explicado, acerca do cargueiro “Cecil Lulo”, tripulado por dinamarqueses e filipinos, ostentando pavilhão das Bahamas e operado pela empresa dinamarquesa J. Pulsen, localizada no porto de Ponta Delgada nos Açores. O mesmo tinha um carregamento de armas, segundo se consta embarcadas numa base militar dos EUA – Estados Unidos da América e, com destino a Angola. Tudo que é descortinado no tempo, o é, de uma forma que surpreende, como tudo acontece numa altura tão crucial na tão desejada PAZ…

:::::10

A guerra de 27 anos pode ser dividida aproximadamente em três períodos de grandes combates - de 1975 a 1991, 1992 a 1994 e 1998 a 2002 - com períodos de paz frágeis. Quando o MPLA alcançou a vitória em 2002, mais de 500 mil pessoas morreram e mais de um milhão foram deslocadas internamente. A guerra devastou as infra-estruturas de Angola e danificou gravemente a administração pública, a economia e as instituições religiosas do país. Esta guerra terá de o ser, considerado um conflito por procuração da Guerra Fria, já que a União Soviética e os Estados Unidos, com seus respectivos aliados, prestaram assistência às facções em luta.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:12
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Quinta-feira, 16 de Setembro de 2021
KAZUMBI . LXX

MOKANDA DA LUUA – KAPIANGO AIUÉ - Luanda do Mu Ukulu Era uma vez...

- Crónica 3194 – 16.09.2021  - Kinguilas, as fugitivas da Independência - IV de IV – Crónica esquecida na espera da fila bicha do malembelembe do KAPOSSOKA…

kapara1.jpg

Por soba k.jpgSoba T´Chingange no AlGharb do M´Puto

LUUA DOS VELHOS TEMPOS… A Baixa de Luanda, sem a Marginal não teria norte, já não tem o Porto Pesqueiro frente ao Banco Nacional, nem o Mercado Municipal. Mas ainda tem a Alfândega, a Marinha e a Polícia, convivendo com arranha-céus dignos de um Abu Dabi, com auto-saneamento e auto-energia, onde vivem ou trabalham exemplares da classe alta burocrática, despachando com tranquilidade os expedientes, porque aqui não há pressa para nada.

Para o interior, as ruínas dos armazéns do Minho, onde as senhoras brancas iam comprar tecidos e vestidos, um mundo que se extinguiu, só sobrou o Mabílio Albuquerque que vende “coisas”. A Baixa de Luanda é um extenso e intenso “musseque”, tudo está ocupado, parece que as poucas árvores poluem, cortam-se, ocupam lugares que podem ser rentabilizados pelos miúdos vindos do fim do mundo e que tomaram conta das ruas durante o dia, arrumando e lavando os carros, com “puxadas” de água gratuita da EPAL.

Rainha N'Zinga, a estátua, enorme, jaz à entrada da fortaleza, à espera que os arranha-céus do Kinaxixi, onde eu já vi uma grande lagoa com uma mafumeira e um majestático mercado de frescos verdadeiros, vindos das hortas da cintura de Luanda, sejam pagos, um dia, um dia, como os portugueses dizem, de “são nunca”.

kissan2.jpg Avenida Rainha N'Zinga, que podia ser uma metrópole, mas que em dias de enxurradas se transforma em rio lamacento, lançando água na Baía, rua da dança capoeira dos domingos à tarde, dos candongueiros para os “congolé”, das zungueiras em frente da Sé, que deixou se ser Sé, mas mantém a travessa, vendendo fruta, tamarindos, maçãs da índia, loengos, gajajas, caju, mangas, mulheres sem sorriso sentando no fio do muro ou na pedra para endurecer os interiores, fugindo, fugindo dos fiscais da Administração, submissas, a sua mente se organizou há muito, netas dos rusgados dos cipaios do chefe do posto Poeira.

As galerias Kibabo abriram onde era a antiga, luxuosa e branca Versalhes, agora também dirigidas por brancos, um mundo de compra e venda de tudo: plásticos baratos, pequenos empregos que mal dão para apanhar o candongueiro. Mas a actividade comercial atraiu também um enxame de rapazes sujos, de cabelos com trancinhas a ficar russas, que enfrentam tudo e todos os poderes para ficarem na porta, pedindo esmola para o pão ou para os pais ou para outras coisas.

kissan4.jpg Há muito, muito tempo, a Baixa era apropriação de uma parte da população branca. A população negra vinha dos bairros, a pé ou de autocarro, trabalhar nas fábricas, nas lojas e nas casas. Muita gente passava a correr pela pensão Fomentadora, no Kinaxixi, para comer uma grande sandes de peixe frito e uma grande caneca de café muito açucarado. Coisas Pré-Históricas.

No dia da Independência, no próprio dia, a Baixa transfigurou-se, parecia não existir, nem uma só alma nas ruas, sentia-se medo pela solidão, tinha sido o mundo dos brancos, que de repente foram embora.

Quem primeiro se apropriou nos novos tempos da Luanda africana foram os “regressados do Zaire”, invadiram tudo, criaram a venda parada no chão das ruas, não era raro encontrá-los na Mutamba, de manhã, em pijama, na rua. Todo o mundo queria sair dos bairros e viver na cidade do asfalto. Mas era um mundo estranho, não era do povo, era algo que se plantou ali, vindo de fora.

kissan6.jpg Ué... Que futuro? Sem transportes públicos, sem uma malha comercial digna desse nome, sem saneamento básico conhecido, com escassos minimercados, sem um mercado de frescos, nem sequer uma livraria digna desse nome, a Baixa, e sobretudo a sua parte central, a extensa avenida Rainha N'Zinga é a parente pobre da Marginal, reconstruída e embelezada pela Independência.

Aí coexistem as classes mais altas e as mais baixas, como dois mundos intocáveis. A degradação do entaipado prédio do antigo “Diário de Luanda” contraria os arranha-céus de vidro, que parecem redomas extraterrestres numa Luanda que precisa de ar, de vento, de céu. Nos becos, também há becos e contrabecos desaguando na Rainha, mil negócios silenciosos. A liamba instalou-se num trono de que não abdica, imperando nos lados dos degradados Coqueiros, outrora coqueluche dos brancos.

banco de angola1.jpg Há um plano director, dizem, mas tudo tem plano director em Angola, tudo tem “desiderato” e tudo vai acontecer “brevemente”. O futuro é, pois uma incógnita, como o “X” de uma equação simples, mas que se complica pela incompetência, pelo laxismo, pela corrupção transversal à sociedade. Por trás de um aparente modernismo, toda esta vasta zona, outrora “chique”, alberga centenas de milhares de pessoas em cada canto, casebres construídos dentro de outros casebres.

Já não há terminal de autocarros digno desse nome na Mutamba. O poder agora é dos candongueiros e dos “corolas”, pão e cerveja de muitos lares. Em plena Rainha N'Zinga, sim, funciona a “Mutamba”, na esquina frente à Embaixada da Guiné, candongueiros de e, para os subúrbios. Tentaram “colocar” mini-autocarros, mas só os vi um dia.

koisan5.jpg O que vai acontecer a tantos edifícios degradados no tempo colonial? Como será a cidade de Luanda daqui a 20 anos? O futuro a quem pertence? Quem agarra nele com coragem e sem medo? Os “velhos luandenses” estão em risco de extinção. Em seu lugar, uma multidão dessincronizada de jovens, “por enquanto jovens”, imigrantes, vindos de todo o lado, que de Luanda só sabem que têm de ganhar o pão nosso de cada dia e, utopicamente, um emprego...

FIM

T´Chingange na Diáspora dos AlGharb´s  do M´Puto



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:23
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Segunda-feira, 23 de Agosto de 2021
MOKANDA DO SOBA . CLXXIX

ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XVI

- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… OFENSIVA NGOUABI - Crónica 318422.08.2021

- “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – A independência era para isto!? -Nós e os mwangolés…

paradi2.jpg

Por tonito16.jpg T´Chingange, no AlGharb do M´Puto

Ainda anda por aqui e ali no M´puto e Diáspora, muita gente com quem temos amizade e que dão um encolher de ombros às lembranças de então, de há 46 a 47 anos atrás. A força de esquecer dos retornados, refugiados e afins, foi mais que muita e, ao ponto de até esquecerem o nome da lavadeira, da rua aonde moravam e até do cachorro e coisas que se fracturaram no tempo em sonhos de altas falésias com muitos e assombrosos pesadelos. Eu passei a ser Cidadão do Mundo nascido por opção a bordo do Niassa - um Niassalês. Sonhos de mirar o passado pelas estrias de uma kalashnikov, AK 47 entre outras, aquelas de tambor ultra revolucionário e até das G3 dadas pela NT (Nossas Tropas) aos bandalheiros e pioneiros do MPLA. Uma grande parte dos “tinhas*”, até se tornou comunas militantes; outros são socialistas envergonhados…

dachala1.jpg Prometi a mim mesmo não me enganar continuando a ser eu próprio peneirando as opiniões, gerindo silêncios e, mesmo no exterior de Angola, fiz trabalho fiel por quem acreditava ser o futuro em Angola. Saí da UNITA mas, ela continua comigo pois recordo grandes nomes com quem tive o privilégio de trabalhar como Carlos Morgado, Kalakata, Alcides Sakala, José Kachiungo Marcial Dachala ou Adalberto Júnior entre tantos e tantos. Tive e continuo a ter com orgulho de exibir, um galo em cerâmica que sempre ficou agarrado à lapela do meu terno de azul diplomático, oferta como se assim o fosse: um louvor medalhado, por essa gentil pessoa com o nome de Sakala que então representava a UNITA em Portugal, sendo eu coordenador da Zona Sul do M´Puto… 

Só a partir do 11 de Março de 1976 as coisas começaram a tomar outro rumo. Tive a sorte de ser colocado pelo IARN como destacado ADIDO (Ex-funcionário dos SPCFTA e Câmara da Caála em Robert Williams), em um município, tendo na presidência um elemento do MDP-CDE do Ribatejo, que tudo tentaram para me levar para as tomadas de “montes” no Alentejo – Era o PREC em curso. Nesta descrição andarei um pouco mais à frente e atrás para inserir o essencial dos problemas que afectavam milhares de seres como eu e, em iguais circunstâncias; gente que quis esquecer e, que acabou mesmo por assim ser… Perturbado com os punhos no ar e assembleias a toda a hora, em terra de Otelo Saraiva, zarpei, bazei, fugi de licença ilimitada rumando para a Venezuela de Andrés Peres…

dachala2.jpg Mas e, voltando a Angola e a Fevereiro de 1976, deparamos com o rápido avanço do MPLA com cubanos para a tomada do Lobito e Benguela à UNITA e Soyo, a antigo Santo António do Zaire no Norte, à FNLA. A República Popular de Angola é admitida na ONU e reconhecida por vários países. Portugal seria o 88º membro a reconhecê-la. Neste mesmo mês, o comité político da UNITA abandona Huambo e inicia a retirada par Sudeste, com cobertura de uma coluna Sul-africana. Savimbi está no Leste e inicia, juntamente com duas mil pessoas, aquilo a que se veio a chamar a “Longa Marcha”. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, viria a atingir o Cuelei, a 28 de Agosto, milhares de quilómetros percorridos, apenas com 79 resistentes.

Curiosamente, um erro táctico do próprio MPLA catapulta a UNITA, em 1976, para o palco internacional. O sucedido conta-se em poucas palavras: pouco depois da tomada do Huambo, o MPLA organiza no Sul de Angola, a “aldeias modelo” em que nada parece faltar mas, esquece-se das muitas aldeias em redor, de pobreza extrema. Perto de Vila Flôr a cerca de 40 km do Huambo, na noite de sete para oito de Setembro de 1976, Canhala foi cercada, atacada e saqueada pelo povo das aldeias miseráveis limítrofes, que não poupou a vida àqueles  que pactuaram com o plano engendrado pelo governo de Luanda.

dachala3.jpg Não podendo admitir o erro, o MPLA atribuiu aos “fantoches da UNITA” a responsabilidade pelo massacre; quando, na verdade, a UNITA se encontrava desmantelando para Sudeste. Até final de 1976, embora desfalcada, a UNITA resiste a três operações dos cubanos e MPLA “Tigre” no Leste; “Kwenda” a Sueste; “Vakulukutu”, no Cunene. Neste ano, Savimbi envia para Marrocos 500 homens que, a coberto do apoio do Hassan II, recebem treino militar – em Março do ano seguinte, no 4º Congresso da UNITA, estes homens são nomeados comandantes do exército semi-regular da UNITA.

À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola, praticando a politica de terra queimada, na qual ficou a ser conhecida por “Ofensiva Ngouabi”, de Marien Ngouabi , presidente do Congo e que, em Setembro de 76, visitou oficialmente Angola. Entre as aldeias mártires da “Ofensiva Ngouabi”, contam-se Quissanquela, Capango, T´Chilonga, T´Chiuca e Mutiete. Nesta última, foi sumariamente executada toda a população masculina.

dachala4.jpg Acompanhando as notícias de Angola pelas notícias internacionais, passei quase seis anos na Venezuela trabalhando na Barragem Raúl Leone do Guri situada na grande área do Amazonas entre os anos de 1977 a 1982; uma gigantesca obra situada no Rio Caroni, um afluente do grande Orinoco. Tive a felicidade de ter como Presidente um senhor de alta postura, um verdadeiro estadista chamado de André Peres, antecessor ao Herrera Campins e ao ditador chamado de Hugo Chaves. Nesse então Venezuela era um paraíso, havia pleno emprego, paz e harmonia.

Naquele lapso de tempo, convivia com gente saída de Angola, topógrafos, grueiros e gente de todas as aptidões; uma obra que mantinha 18.000 trabalhadores de 82 nacionalidades. Em nossos encontros e farras falávamos da Angola distante e, ao som dos merengues e cantares de Paulo Flores ou Bonga e até Minguito batíamos o pé levantando pó no pé de serra. Primeiro, meu trabalho era o de projectar e implantar estradas por toda a Venezuela ao serviço de uma empresa italiana e mais tarde como chefe de departamento de topografia e projectos inerentes àquela grande barragem.

palops1.jpg A guerra civil angolana eternizava-se. Agostinho Neto, o medíocre poeta e Presidente de Angola por um acaso, tendo consciência do problema social, tenta uma abertura política, como modo de se libertar do cada vez mas fechado domínio soviético que estrangulava a olhos vistos o MPLA. Neste âmbito, encomenda uma sondagem para um possível acordo de paz com a UNITA. Em 1977, a embaixada soviética em Luanda é dirigida por Arnold Kalinini. Conhecem-se as pressões que o embaixador exerceu sobre Agostinho Neto, no sentido de o levar a adoptar o marxismo-leninismo. O presidente Neto resiste. Num discurso desse mesmo ano, afirma que “o MPLA deve continuar a ser um partido aberto a todas as correntes nacionalistas angolanas”. Mas, acaba por aceder em Dezembro de 77, transformando o MPLA em PT, Partido do Trabalho, realmente de cariz marxista-leninista.

Notas*: Tinhas – Cognome de alguns retornados por sempre repetirem: “ Lá, eu tinha” – Se era verdade para muitos , a maioria, não o era para os faroleiros que diziam ter o que nunca tiveram…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:13
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Segunda-feira, 16 de Agosto de 2021
MOKANDA DO SOBA . CLXXVIII

ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XV

- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… Crónica 318115.08.2021

-Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo não sendo “preto”… Afinal, não o era e, continuo “branco”… No meio do desespero, viria a confirmar-se o quanto era perigoso ter americanos como amigos…

pombinho5.jpgP

Por soba k.jpg T´Chingange, no AlGharb do M´Puto

Na Avenida Brasil, que dá para o musseque Marçal, havia ali perto uma sede da FNLA; até era considerada uma das sedes mais importantes mas a “porrada” também ali chegou com toda a cagança de militares nervosos. Na Vila Alice o Chico, amigo meu e do Zorba, punha-se deitado na varanda da casa para gravar o tiroteio, entre a F.N.L.A. da Avenida Brasil, no Marçal e o M.P.L.A. no António José de Almeida na Vila Alice. Parecia uma guerra de brincar mas, no tempo o cheiro do sangue, as carrinhas que passavam com mortos para a morgue ou sei lá, para onde fizeram nosso miolo ter medo. Era esse o propósito. Mandar os brancos para o M´Puto.

Em Luanda, os combates começavam do nada com trocas de tiros de armas ligeiras entre a sede do MPLA e a da FNLA. A casa do Zorba chegou a ter 46 buracos de bala na parede do quarto do sexto andar. Um dia ele espreitou - eles nem sequer levantavam a cabeça para ver onde atiravam; era mesmo só àtoa levantavam a arma acima do muro e despejavam o carregador. Quem é que com raciocínio podia ficar indiferente a isto. Rosa Coutinho, Melo Antunes e toda a pandilha tinham congeminado isto muito bem. O medo vai fazê-los sai! Terão dito os filhos da peste…

preto4.jpg Entretanto, nas horas daqueles dias a vida não valia um vintém; tudo ficava ao sabor da sorte. Nestas aflições sem controlo visível, surge a figura de Gonçalves Ribeiro batendo-se pela criação de estruturas àquela que se veio a chamar de “ponte aérea” e, que só se resolveu em pleno quando mais de cinco mil pessoas se juntaram no Largo fronteiro ao Cinema Miramar da Luua pedindo a todas as embaixadas que mandassem transportes aéreos ou marítimos a tirar-nos daquele inferno.

Um dia, a FNLA montou antiaéreas no terraço do prédio, e virou-as para baixo, em direcção à sede do MPLA. Avisaram o pessoal do prédio que era melhor ir embora, não se responsabilizavam pelo que pudesse acontecer e, a coisa aconteceu! E, lá foram embora, para casa de familiares que moravam no Maculussu. Quando o MPLA descobriu donde estavam, a maka recrudesceu com monacaxitos e o escambau! Tudo que tinham de destruir foi usado sem mais nem porquê.

pal4.jpg No dia seguinte, Zorba, quando lá voltou, o apartamento já tinha sido atingido por um roquete. Nos dias seguintes, o prédio iria ficar completamente destruído. A FNLA desde algum tempo, mesmo antes da assinatura formal do cessar-fogo com o Exército português, havia metido muita gente na capital, vinda de Kinshasa - Quadros políticos e tropa que falava em francês com sotaque de bumbo dos matos. Não falavam português, e pelo comportamento, eram já donos do pedaço, arrogantes, mais parecendo um exército de ocupação. A coisa não lhes saiu bem; isto já foi parcialmente contado lá atrás nas mokandas mas, não é demais relembrar.

Mês da Independência – Novembro de 1975, e da invasão zairense ao Enclave de Cabinda. O MPLA proclama a República Popular de Angola, no antigo Largo Diogo Cão, bem à entrada do Porto de Luanda. A FNLA e UNITA unem-se no projecto da edificação da República Democrática de Angola (RDA), com a capital na antiga Nova Lisboa (Huambo). Ainda hoje, nas chancelarias internacionais analisam aquela Angola dividida fazendo comparação entre as Coreias do Norte e do Sul.

Gonçalves Ribeiro.jpg Teremos de recordar aqui de forma sucinta o que foi a “Ponte LUALIX” que veio a suceder com a supervisão de Gonçalves Ribeiro, o pai da ponte. A CIA dizia nesse então que Lisboa não tinha um suporte adequado no terreno que lhe permitisse evacuar mais de trezentos mil brancos ainda no território, nem para manter os voos no ar. Era verdade! Mas também havia aqui pressões para em troca da ajuda, Costa Gomes retirasse o vermelho Vasco Gonçalves do governo. E, foi isso que veio a acontecer!

Aquele antigo internado na casa dos malucos, sector militar de Luanda andava esbracejando demais naquele M´puto desvairado de liberdade - Um Tigre de papel! Mas, em verdade, os americanos não dão nada de borla, teria de haver algo na cartola do tio Sam. Jogaram uma rolha e Costa Gomes agarrou-se àquela bóia, pois então, dava jeito! Os retornados, foram em verdade, a moeda de troca; com um só porrete mataram dois coelhos como se diz! Portugal inundado de retornados anticomunistas, vinha mesmo a calhar nesta hora (…ano de 1975). E, o mundo observando estas manobras com o abutre Carlucci a dar palpites ao estado português através de Mário Soares e outros desclassificados diplomatas de cordel que iam ficando agraudados de poder e dinheiro, pois!...

pombinho10.jpg P -Bom! Na N´Gola, as FAP já nem dispunham de bases aéreas para nos escoar; falo na primeira pessoa porque estava lá! Os confrontos permanentes entre todos os movimentos impediam o funcionamento dos aeródromos como o de São salvador, Cazombo, Maquela, Togo, Gago Coutinho, Cuíto Cuanavale e N´Riquita; Henrique de carvalho, Malange, N´Dalatando e Carmona já só tinham estruturas reduzidas, quase sem uso por falta de segurança e equipamento de apoio.  

A RDA de Savimbi, falha. No dia da tomada de posse, Holden Roberto e alguns de seus convidados, entre os quais jornalistas e um elemento da embaixada americana em Kinshasa, levantam voo de Carmona (Uíge), rumo a Huambo aonde chegam ao início da noite. A pista do aeroporto estava às escuras. O avião sobrevoa várias vezes a cidade, mas Jonas Savimbi não permite que este aterre, mesmo sabendo que o aparelho podia não ter combustível para o regresso, com a agravante de não poder abastecer em nenhum outro aeroporto, já nesse então em áreas controladas pelos governamentais.

Este relatório que Holden Roberto descreveu mais tarde, poderia ter custado a vida a dezenas de pessoas. Assim, Jonas Savimbi, viria a proclamar sozinho, a República Democrática de Angola. Comentaristas, viriam a chamar a esta como sendo a República Negra Democrática de Angola. Poucos dias depois, a UNITA envolve-se em confrontos com os militares da FNLA ali estacionados, acabando por expulsá-los da Cidade do Huambo.

pombinho9.jpgP - A invasão de Cabinda contou com a participação de mercenários franceses ao lado da FLEC – Frente de Libertação do Enclave de Cabinda, hoje dividida em várias facções e, segundo se consta, subsidiados por algumas companhias petrolíferas que operavam no Enclave e, um batalhão do exército zairense, portador de artilharia pesada. Os invasores foram combatidos e escorraçados pelas FAPLA do MPLA e cubanos, quando aqueles, estavam prestes a tomar  a Cidade de Cabinda.

Estamos em Dezembro de 1975. Cuba desencadeia a “Operação Carlota” que fez desembarcar em Angola sete mil militares deste país caribenho. O Senado norte-americano aprovou a “Emenda Clark”, que impede ajuda militar dos Estados Unidos da América à UNITA e FNLA. Viria mais uma vez a confirmar-se o quanto era perigoso ter os americanos como amigos; eles, sempre viriam seus interesses confirmando-se “americanos, são os amigos mais perigosos que se pode ter” – assim foi!

3 Ilustrações de Pombinho ( assinaladas com P)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:09
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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