NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3494 – 27.09.2023
– Em Mukwé, Andara e Shitemo às margem do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Nunca fiquei a saber se os jornais locais deram noticia com foto do aperto de mão entre mim T´Chingange e San Nujoma, o presidente do Movimento de Libertação da Namibia que se tornou o Presidente do novo país, Namíbia. O encontro do Shitemo, mesmo à magem do rio Okavango ou Cubango, em principio, era um encontro entre o líder e militares da Ovobolândia, os guardadores responsáveis da segurança nesta natural fronteira.
Esta reunião neste rio fronteira, aconteceu também com os mais destacados comeciantes da região de entre o Rundu e Divundu dos quais Miranda, o personagem que sempre destaco em minhas falas empregnadas de cacimbada catinga, numa forma ou jeito nada erudita ou de destaque literário. Ao certo, nunca soube se a Swapo ou o Departamento de Segurança Interna da Namíbia estava vigiando os meus passos, um turista bazungo.
Sim! Um turista bazungo com passaporte de muzungo (branco) português disfarçado com colete de zuarte, um quico besuntado de raspas de biltong e restos, destroços de pão duro rask, muitos bolsos, um canivete macgyver e um crachá da UNITA – um galo em cerâmica dado a mim, por mérito creio, pelo meu herói de nome Alcides Sakala e, assim muito bem seguro com boas linhas, cosido no forro deste traje de caçador de elefantes.
Para o que desse, viesse ou conviesse assim levava escondido meu distintivo de convicta afeição e convicção mas, o certo é que não tive qualquer contratempo em minhas andanças, nas descritas verdade turísticas de bazungu, um verdadeiro matumbo a fingir de autoguerrilheiro de boligrafo, em pleno segredo numa odisseia passifica que só agora desvendo. Assim, compartilhando com a natureza, bichos e afins, só eu e José Pedro Cachiungo um dirigente do galo negro em funções em Lisboa, sabia chamar-se de “Xirikwata – o pássaro comedor de jndungo”…
Não obstante a postura dos governantes de Windohek mostrarem dureza no trato, as autoridades regionais faziam vista grossa às movimentações que o comércio local fazia com a UNITA, com a Angola do outro lado dos rios Okavango, e Quando. Em realidade de um e outro lado eram gente com o mesmo passado, falando os mesmos dialectos, uma região conhecida por Ovobolândia com família distribuída por ambos os lados, do Calai ou Mucusso.
Constatei que o comércio floria em prosperidade, talvez de forma corrompida mas, tudo se vendia. No Divundo, tivemos necessidade de comprar mantimentos no shop do Miranda ao cuidado de sua filha Ana Maria e, de todos os pacotes de bolacha que compramos só um estava no prazo de validade. Foco isto porque era uma prática comum, região não vigiada pelas autoridades que nada queriam ver por vista grossa em troco de uma bateria para o carro ou de um saco de mandioca.
Esta quase inconfidência, pode até considerar-se uma falta de cortesia de minha parte sendo sempre tão bem acolhido pela família Miranda e, sempre a custo zero mas, que me perdoem por esta lisura em minha franqueza – foi uma época, um tempo. Em terras do fim do Mundo vale tudo; com a minha missão de xirikwata africana, nada de anormal sucedeu em minhas transacções mas ouvimos sim, relatos de coisas mal paridas e defuntadas em agruras de por dá-cá-aquela-palha…
O encontro com Pedro Rosa Mendes, autor do romance ficcionado de “Baia dos Tigres” desaconteceu aqui em Divundo em Junho de 1997, no shop da Ana Maria de Andara. Fiquei a saber antecipadamente as agruras de Pedro Rosa Mendes descritas em seu livro, lidas mais tarde e da periclitância da guerra que se julgava não ter fim; não fiz muitas ondas porque o meu percurso de passeio não tinha o mesmo objectivo que o dele e, também não sabia o que ele viria a descrever em suas crónicas faladas via rádio todos os dias com o M´Puto. O meu anonimato prevalecia a tudo naquele então – Não podia mesmo fazer ondas nem cavalgar surf em seco…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3491 – 22.09.2023
– De Kasane a Catima Mulila no Hotel Zambezi River Lodge
- Escritos aleatórios boligrafados da minha mochila – Antes e entre os anos de 1999 a 2018
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Através da Wikipédia pude saber mais sobre o Mudumo National Park. Está situado a aproximadamente 35 quilômetros a sul de Kongola fazendo fronteira com Botswana a oeste, e com várias áreas de conservação comunitárias. Todo o parque é plano, com terras arenosas e sem morros ou montanhas. Um curso de rio fossilizado, o Mudumu Mulapo que fica no centro do parque; é um canal sazonalmente seco, que drena das águas as florestas de Mopane no interior, mais a leste. A estrada C49 atravessa o parque ligando as aldeias de Kongola e Sangwali.
Exuberante, natural, é uma aventura a ser feita com um 4x4, para enfrentar as picadas arenosas, sinuosasmente acidentadas. Local aonde o pôr do sol é incrivelmente belo, sentindo-se com agrado a brisa fresca do único amenizador de temperatura, o poderoso rio Cuando. Uma experiência inesquecível que deve ser feita com uso de repelente de mosquitos.
Também, não esquecer levar protetor solar, um bom suprimento de água e, um jerricam com combustível extra. Lugar para não nos escravizarmos, escondendo o medo no bolso posterior. Aconcelho por isso serem dois veículos com tracção a fazer este trajecto de aventura pois que o lugar, é bem inóspito.
Pensar nas coisas ruíns, não é a filosofia certa para derramar por ali. Não adianta procurar o que o destino lhe reserva no futuro, porque é assim como ter a herança dum relógio roscófe embrulhado em papel besuntado de quicuanga e, que o rato roerá a qualquer momento.
Uns dias atrás um amigo meu fazia reparo àquilo que eu dizia; a de que nós sempre seremos um fruto de mudança. Bom! Com ou sem essa minha teoria de transitoriedade, nós seremos sempre os mesmos, só os pensamentos mudam. Neste nosso curso de enfrentar os conhecimentos, todos os dias serão uma prova à adaptabilidade humana, só que aqui, um descuido pode bem ser aproveitado por um tronco camuflado que num repente vira leopardo, ou um tufo de capim que se torna numa leoa em busca de alimento para suas crias. Nos paladares destes predadores felinos, nós seremos um doce repasto.
E, sabendo que a curiosidade por vezes mata, pude rever-me assim em confronto com meus silêncios de viagem, subjugar-me a modificar meu carácter para subsistir à sabedoria vulgar, feito quase num monangamba. Claro que os sonhos duns não são realidades dos demais. O itinerário seria rumo ao acaso em primeira mão, omitindo a proposito, coisas para segurança do ocaso de gente ainda viva e, que são alguns dos meus heróis - gente incógnita que não abandonaram seus ideais de liberdade.
Digo isto porque me desloquei à Namibia em certa altura, numa missão secreta de observação da logistica em apoio ao Movimento ao qual pertencia – a UNITA e, a partir da Ovobolândia; percorri o rio Okavango em toda a sua extenção a partir de Ot´xakati, Ondângua, Rundu e Calai, Mukwé, Andara, Divundu, Faixa de Kaprivi, Ómega e Catima Mulilo aonde agora volto, despoluido de respeitabilidade e responsabilidade. Pouco a pouco irei retirando as pedras dos meus sapatos, estirpar os furúnculos escondidos num monte de salalé
Tive um contácto esporádico com San Nujoma ex-Presidente da Namíbia aquando de uma reunião com comerciantes nas margens do rio Okavango e fuga minha a um encontro com um jornalista da Rádio Comercial do M´Puto que escreveu uma odisseia no livro “Baia dos Tigres”, um tal de nome Mendes. Baia dos Tigres livro de Pedro Rosa Mendes da Sá Editoras que descreve a odisséia na travessia de Angola em plena guerra. O não encontro foi em Divundu, num cruzamento de estradas que seguem para Botswana e Zâmbia / Zimbabwé através da faixa de Kaprivi. O livro reverêencia a Ana Maria Miranda, a pessoa que me convidou a tal encontro, que recusei… Ana - filha de Miranda, ex-oficial da Companhia Búfalo da A. do Sul, o mesmo que sabe falar por estalidos…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3490 – 21.09.2023 – De Kasane a Catima Mulila no Hotel Zambezi River Lodge
- Escritos boligrafados da minha mochila, – Aleatóriamente no após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
A caminho de Katima Mulilo, cruzamos parte do Caprivi Game Reserve, uma faixa apresentanda no mapa como um dedo indicador apontando o Botswana. Com cerca de 180 Km de extensão com floresta de folha larga; a faixa, foi desenhada pelos britânicos em Berlim para poderem ter acesso a todas as suas possessões; Na sua maior extenção, esta faixa são duas linhas paralelas com 32 km de largura. Eles, os britânios, tinham a pretenção de unir Cape Town ao Cairo.
A faixa estende-se pela fronteira do Sul de Angola desde o rio Cubango ou Okavango até o rio Zambeze em Catima Mulilo e, que vai até Kasane de onde estamos saindo, lugar de encontro com o no rio Cuando, aqui chamado de Shobe. Vamos em sentido contrário ao rumo de Vitória Falls. O Delta do Okavango fica já do lado do Botswana, com ilhas dispersas, desaguando por assim dizer, naquilo que à séculos, foi um mar interior.
Já em Katima Mulilo resolvemos fazer compras no maior supermercado da cidade, pertencente ao Sr. Coimbra (já falecido), um refugiado Tuga ido de Angola logo após o 25 de Abril no M´Puto e sequente guerra do tundamunjila em N´Gola; parece que este senhor tinha uma qualquer ligação com a PIDE do M´Puto e numa primeira etapa de sua fuga assentou bivaque em Windohek, no Safári Motel do Sr Pimenta. Depois, rumou a Norte aonde se tornou aqui – em Catima Mulilo, um bem sucedido comerciante.
Tomamos contacto esporádico com a família Coimbra que tomava conta do negócio e depois dirigimo-nos até às margens do Zambeze aonde assentamos arraiais no Hotel Zambezi River Lodge de características tipicamente africanas e com acomodações para visitantes de mochila para camping, como nós. Foi bom ficar ali sentado na margem daquele Zambeze ainda manso cruzando pensamentos das terras do Fim-do-Mundo que no correr dos tempos pareciam ser só uma ilusão.
Éramos os exploradores bazungus, como diria a minha empregada Mery de Kampala: modernos com algumas mordomias como um canivete macgyver que tudo resolve e, seguindo as peugadas de Silva Porto, Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo ou Roberto Ivens. E, como foi bom pisar aquelas terras, ver manadas de elefantes raspando a terra impondo poder abanando as grandes orelhas a meter medo. Ao cair da noite fizemos o nosso brai com aquela carne saborosa de caça.
Carne comprada no supermercado da familia Coimbra, carne que só ali existia por aquelas paragens. E, como gostaria de repetir no futuro esta volta e mais uma vez - pensava assim ali sentado na beira do Zambeze admirando a kukia (pôr-do-sol) e, olhando-me nas rugas espelhadas nas quietas águas do Zambeze. E, só para mim, recordava o passado, da guerra do Tundamunjila de N´Gola, uma rebalderia chamada indevidamente de descolonização …
Recordava os Movimentos de Libertação, em particular da UNITA à qual pertenci e, que aqui descreverei de forma muito sintética, suficientemente sumária para preservar personagens como Dachala, Alcides Sakala, Zé Kat´chiungo e Adalberto da Costa Júnior; um mano Coordenador, que se salientou em Portugal na defesa da Unita tonando-se por voto popular e, com elevado mérito, em Presidente da UNITA e Presidente de Angola segundo os fieis relatos de vários Observadores Internacionais e dados internos do agora partido do Galo Negro – dados fidedignos e aferidos…
Isto de repetir o passado, acontece sim, porque o é necessário e, para no mínimo, ressarcir a verdade. Verdade que afeta bem mais de um milhão de gente maioritariamente boa e, indevidamente relegada ao esquecimento da razão - os chamados refugiados e retornados! Irei assim, decrevendo aos poucos, para não vulgarizar ou agudizar num só lote tal infortúnio e, inserindo-os nas várias viagens de agora e de mais tarde, aleatoriamente dum passado truculento e, até faladas em sentido contrário como se o fora uma marcha-à-ré, pois que quase foi assim que percorri o caminho que não nos levou a Dar-es-Salaam na Tanzânia. Bom! Isto será de atemporal descrição e, numa posterior forma de odisseia que fragmentada, bem pode remoer um futuro, num agora!
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3489 – 19.09.2023 No Shoba Safari Lodge de Kasane
- Escritos boligrafados da minha mochila, em KASANE, às margens do Cunene e Shobe – Entre os anos de 1999 a 2018
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Pois! E, porque me deparei com falas de lugares já passados e, não descritos aqui, abro um parêntesis para tapar e rever essa lacuna: Dias atrás muitos cheios de pó, chegamos a Nata no Botswana, bifurcação tendo pela esquerda via Namíbia, lugar aonde já passamos de Epupa Falls e Delta do Okavango e, pela direita atravessando várias reservas até chegar a Kasane às margens do rio Shobe que em Angola se chama de Cuando. Pois foi por aqui que viemos até aqui – a Kasane.
Pernoitamos ali, em Nata, no Pelican Lodge aonde se recolheu informação com outros aventureiros bazungus, de qual o melhor caminho a seguir e outros detalhes. Tinhamos a opção de acampar ou ficar em um dos chalés e, optamos por alugar dois destes. O alojamento dispõe de restaurante à la carte onde comemos à base de carne de caça, uma sempre boa opção.
Aqui o Pelican, oferece passeios panorâmicos para o Santuário de Pássaros em Nata dentro das Salinas Makgadikgadi mas, nossa intenção era continuar até o santuário do Shobe e Kazungula. Durante o Jantar, um grupo de bailarinos tradicionais deu uma prova da dança tipicamente africana com tambores com alguns detalhes de danças usadas pelos mineiros na tradição da dança "gumboot" do Soweto e Lesoto; cantar e dançar os ritmos do Botswana - Diversão especialmente dirijida para um grupo de bazungus idos da europa, ali hospedados.
Era suposto encontrarmos muitos animais no percurso, um domingo, ao atravessarmos as reservas de Tamfupa, Sibuyu, Kazuma e Nogatsaa mas, os quilómetros foram desvanecendo a avidez e os olhos já cansados de tanta secura entre um gole e outro de água de garrafa, foram escorrendo conversas de profecias ainda mal entendidas.
E, veio à tona aquelas profecias sobre a Inglaterra e África do Sul; aquela que diz que a Inglaterra será atingida por 7 pragas quando a 3ª Guerra Mundial estiver próxima. Isto já o foi contado lá atrás, por isso passarei à descrição da tal Ilha com uma bandeira gigante do Botswana no meio do Shobe e, na qual andamos vendo confortavelmente no barco do Shoba Safari Lodge de Kasane.
Aquela ilha que tem o nome de Sidudu/ Kazakili Island esteve até há questão de poucos anos em disputa na definição de fronteiras pois que a Namíbia reclamava como sendo sua mas, o Tribunal Internacional deu posse definitiva ao Botswana. Aqui está a justificação de tão grande mastro naquela planura tão verde e tão cheia de animais.
Pudemos assim ver as margens do rio Cuando a confrontar com o parque Kasika da Namíbia e o canal Shobe no lado do Botswana. Esta missão exploradora serve somente para revestir-me de uma armadura contra as megalomanias daqueles que julgam possuir todas as chaves de abrir todos os becos, todas as quelhas, todas as picadas sem declarar seu próprio fisco à sua alma. Sei porque digo isto mas, saiu, saindo…
O Rio Cuando e o canal Shoba desaguam no rio Zambeze e, é aqui em Kazungula, mesmo ao lado, que confinam quatro países: Botswana, Namíbia (ponta da faixa de Kaprivi), Zâmbia e Zimbabwé. Foi um dos momentos altos como uma odisseia das potholes (buracos); aí estão os bazungus, mais que muitos, a pagar caro para ver a natureza. Há gente de todas as nacionalidades mas, maioritariamente da Comunidade Europeia. Troquei impressões com três espanhóis que amavelmente nos deram indicações sobre trajectos por conhecer. Bola pra a fente! Agora sim, iremos de volta ao Okavango passando por Catima Mulilo…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3462 – 11.08.2023
- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha - Em Ondundozonanandana - Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Da tenda para o buraco de observação e, um céu carregado de estrelas que nos tremelicavam olhares, de entusiasmo, nem nos apercebemos. Era a tranquilidade da natureza envolta em muitas coisas a serem descobertas. Nos dias que se seguiram, percorremos as picadas assinaladas e, de forma a ver o maior número de animais, que íamos registando num prospecto.
O leão era sempre o mais procurado e, quando alguém os descobria assinalavam-nos aos demais colocando também um pionés (percevejo) no quadro-mapa (placard) da base Okaukuejo. Esta base era em verdade um buraco com água rodeado de disfarçadas bancadas aonde o visitante turista observava em segurança os animais da savana que ali iam beber.
É em verdade um conjunto de chalés e locais de campismo aonde os visitantes podem andar em segurança pois que está rodeado de duas fiadas de arame farpado e rede com corrente continua para os Big Five (Os quatro grandes animais) e qualquer um outro, que possa atacar o animal homem; É como se o fosse um galinheiro grande no meio de um deserto savana só que, neste caso eram os observadores (nós) que se mantinham encerrados entre as seis da tarde e as seis da manhã.
A adrenalina escorregava-nos a partir dos olhos, atentos a qualquer movimento ou montículo estranho no meio do capim. E, demos as voltas de Namotoni e Alali parando em um e outro para descansarmos, relaxando à sombra fresca das acácias, tomarmos um café ou comer-se qualquer coisa rápida porque, não havia tempo a perder.
Esta reserva do “ETOSHA PAN” foi há muitos anos atrás um lago abastecido pelas águas do rio Cunene que aqui as vazavam, trazidas do planalto central da Angola - à semelhança das águas do rio Cubango (Okavango) que desaguam no Delta do Botswana, um lago interior que também iremos visitar por terra e por ar. Por um acidente cósmico, o rio Cunene foi desviado do seu curso para o Oceano Atlântico.
Este antigo lago do Etoscha é agora uma das grandes reservas aonde se podem ver um grande número de espécimes, suplantando a meu ver, a Reserva do “kruguer Park” na África do Sul. Este é o melhor destino para quem quiser ver animais em quantidade e em curto espaço de tempo. É claro que temos o Quénia, N’Goro-Goro, Delta do Okavango, e muitas outras mais pequenas reservas mas, como o Etoscha não há igual.
Tínhamos ainda um longo percurso a percorrer em terras da Namíbia e, o nosso próximo destino era a casa do Mais Velho Miranda Khoisan e da Dona Elisabette (falecida recentemente – em 2023) na margem direita do Okavango no lugar do Shitemo. Sucede que a caminho do Rundu a maioria da tribo T´Chingas que era agora composta de Ricar Manhanga, Isabel Manhanga, Ibib - sobeta, Marco M´fumo Manhanga, todos decidiram variar o azimute ao rumo. Por vontade aplaudida do Soba, todos quiseram ir até às Quedas do Ruacaná em terras de gente Himba…
Com medo de estragarmos as recordações dum mar de areia fina já passado, movemos todos finas camadas de nostalgia ainda recente, adormecidas na memória fresca, de forma aleatória. Da muita coisa dum cada olhar de duna ondeando a nossa própria sombra como rugas conformadas com o tempo que não pára nunca. Ouvimos também, às vezes, estalidos numa estranha argola, as estrelas do nosso templo (nossa testa) e, a areia escorregando na ampulheta das nossas vidas…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA
- " DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3446 – 25.07.2023
- Verdade ficcionada
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Oshakati, ficava na direcção contrária à faixa de Kaprivi, uma faixa de linha recta saída do Divundo junto ao rio Cubango (Okavango) até o rio Zambeze com cerca de 405 km de comprimento e 30 km de largura. Tem a forma de frigideira e fica situada no nordeste da Namíbia formando as duas regiões namibianas denominadas de Kavango e Kaprivi.
Tinha indicações que havia um tal senhor Rocha que fugido do Sul de Angola ali se estabeleceu com um restaurante e uma fiada de casas térreas que eram alugadas a baixo custo a refugiados; foi para ali que me dirigi e aonde me refastelei com uma caldeirada de cabrito. Enquanto a família comia, uns quantos olheiros miravam e ouviam atentamente o que se passava entre nós; gente deslocada de Angola que vivia de expedientes e bufaria…
Rocha era ainda um rapaz novo; sentou-se em nossa mesa e conversamos um longo tempo, fruto da minha insistência na recolha de informações. Rocha falou abertamente do sonho em se fazer rico, construir um hotel em condições e negociar com diamantes quando lhe fosse possível. A empatia foi tal que não se coibiu de falar o que quer que fosse…
Aconselhou-me a ficar num dos quartos de Bicho da Ponte do Charuto (Estômbar do M´Puto) logo no fundo da rua, pois que ele estava com os alojamentos repletos de gente saída de Angola. Em África parece tudo ser perto pois que tudo se sabe; carências de notícias levam à união e a fraternidade dando a isto, uma característica única no mundo; Em nenhum lado do grande globo se encontra esta postura e este facto é a razão do porque, ninguém se esquece desses locais aonde a vida tem socalcos diferenciados assim como se estivéssemos num permanente mundo de Indiana Jones, coisa de cinema com senas a correr numa mina do tipo de kimberly …
Daqueles aromas, do som do mato, do chorar da hiena, do uivar do mabeco e até o cacarejar das capotas com o “tou-fraca, tou-fraca…” mais o por do sol atrás duns chinguiços, cassuneiras ressequidas e mato estéril. Rocha estava a par da odisseia de João Miranda do Mukwé e acabei por ouvir um pouco mais da sua fuga das terras do fim-do-mundo, zonas do Calai, Dírico e do Rundu: …
Quando Miranda chegou ao Mucusso e passou a fronteira para o Sudoeste Africano, as autoridades sul-africanas actuaram com rapidez. O comando Sul-africano do Rundu, enviou prontamente tropas para receber a família no Calai. A família Miranda estava salva. O comandante da polícia local, o inspector Erasmos, instalou os Miranda numa “guest house” do Governo, nesse tempo Namíbia, ainda estava debaixo da alçada Sul-africana.
Nessa mesma tarde apareceu o general Loots, reformado, combatente da II Guerra Mundial, acompanhado por um oficial português, madeirense, o tenente Silva. João Miranda foi entrevistado e no final informaram-no de que receberia no fim do mês um ordenado, relativo ao primeiro dia em que fugira de Angola. Para a Intelligence Sul-africana era de grande valor ter um homem que dominasse a fala por estalidos dos khoisan (bosquímanos), que fosse conhecedor da área e tivesse tido um agraciado valor militar – era o caso.
A família foi depois transferida para Grootfontein, já no interior norte da colónia, para maior protecção. - Julgo que é ali que eles estão agora! Afirmou Rocha. Com esta informação a minha odisseia teria outro rumo; Teria toda a noite para pensar como prosseguir no dia a seguir; agora iria à procura do senhor Bicho para me instalar. O Okavango seria nosso destino, Mukwé, não muito longe do Rundo cidade, eram os rumores mais aproximados de seu bivaque (“acampamento”) - Não seria assim tão difícil encontrar um comerciante branco junto ao rio Cubango…
(Continua…)
Glossário: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.
O Soba T´Chingange
MALAMBAS NAS FRINCHAS DO TEMPO – No rio OKAVANGO, dou-me conta do quanto meu sovaco cheira a catinga…
Crónica 3444 – 23.07.2023 - MALAMBA: É a palavra.
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Em busca da verdade, muitas vezes acontece-nos não fazermos perguntas por ainda não estarmos preparados para ouvir as respostas e nem sempre o é assim porque simplesmente, por vezes sentimos medo a elas; podemos enumerá-las ou até suspirá-las mas, todo o ser humano em alguns momentos de sua vida têm coisas boas e outras más que se enfileiram ao jeito de missangas atrás uma das outras.
Um rosário do tempo e através dele que como um terço, rezamos ou fingimos rezar porque como se diz, atrás do tempo vem o tempo e depois da tempestade vem a bonança. E, porque se diz que a justiça é cega, surda e muda, pelo que se sabe também anda meia calçada e meia descalça para fingir que agrada a humildes descamisados e ricos encoirados.
Mas, pelo sim pelo não, usamos amuletos da sorte para nos enganarmos nas figas, no corno, na meia-lua, na estrela de David penduradas ao pescoço ou uma ferradura velha de burro ou cavalo, pendurada do lado detrás da porta de entrada de nossas casas.
Por via de duvidas também usamos amuletos da sorte na forma duma nota de dólar, um santinho, uma qualquer nossa senhora da aparecida mais responsos escondidos em forros de malas e maletas. Até uma vagem envernizada de feijão maluco serve para o efeito! O místico junta-se com a Cruz e o Cristo numa caixa, asfixiando-O o tempo todo.
E, sempre picado em sua coroa de medonhos espinhos com um credo na ponta das falas, um cuzcredo (!?) com interrogação juntas na exclamação. No meio da algazarra das palavras, dos apelos, dos gritos ou cânticos, haverá sempre uma insatisfeita curiosidade, perguntas sem respostas ou maneiras mentirosas de dizer a verdade…
Verdade que nem sempre achamos lógica ou patética nem sempre merecedora de ser levada ao cutelo ou ao fogo da veracidade porque, simplesmente nós não somos guardiões nem usamos beber do crime no rio da vida. Amolecendo a preguiça num chinchorro (rede), a trinta metros do rio Okavango ou Cubango, do outro lado Mucusso.
Dou-me conta do quanto meu sovaco cheira a catinga, odor em tudo igual a todas as outras catingas dos negros corpos de África. E, assim, aqui estou de livre e espontânea vontade como um emigrante e muito enfeitiçado pelas gentes acolhedoras; gentes que como eu, saíram dessa imensidão dos matos de Angola, de lonjuras percorridas em velhos Dodges, GMC, Willis, land-Rover, Fords ou Chevroletes, terra de onde se parte sem querer partir e já partindo, arrependido depois por não ter ficado.
Um homem e uma mulher, sexagenários andando através do mato, savanas de África sem fim, um mar de acácias, espinheiras em montes ardentes, campos sem cultivo intensivo, lugares habitados por kudus, búfalos, zebras e leões, sabendo de antemão, que o deserto não é só aquilo que a nossa mente se costumou a interiorizar, pelo que se lê ou pelo que se ouve, sempre na vontade e na natureza nas coisas de Deus. Como vamos nós próprios destrinçar a verdade dentro da nossa própria imensidão, nos assuntos de crenças e impiedades de bens tão profusos nas regras do Mundo.
O Soba T´Chingange
MALAMBAS DAS FRINCHAS DO TEMPO – No Okavango River e o risco ou o rego que, por coisa pouca muda nossas vidas…
Crónica 3443 – 22.07.2023 - MALAMBA: É a palavra.
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Se a vida é uma sentença com um princípio e um fim, não conseguiremos ouvir o grito da vida se sentirmos remorsos daquilo que não fizemos, ou daquilo que poderíamos ter feito; não podemos assumir a culpa dos pais, nem dos pais de outros pais. Na percepção parcial das vitais contingências, tecidas e compostas nas coincidências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinaram o futuro próximo e mais distante.
Cada um de nós foi o que foi por uma coisa pequena, que sem se lembrar do primeiro choro, outros choros se lhe seguiram e, como um risco feito no chão, nem sempre se escolheu dedo ou arado nem por onde fazer o rego que por coisa pouca mudou nossas vidas. Sem perder tempo com enigmas, aceitei o convite da Ana Maria para passear ao longo do Kavango até quase o Botswana a visitar rápidos e remansos das chanas deste, já com as águas do Kuito, águas escuras que vão inundar o Delta do Okavango.
Um mar muito antigo a dar vida aos muitos N´dovus ou jambas que conhecemos por elefantes, entre hipopótamos búfalos e, outras variadas espécimes. Pela picada de macadame encrespada de ondinhas já para lá do Divundo, dos vários cuca-shops* e cola-colas dos chineses, passamos locais de kimbos dispersos e lodges junto ao rio como o Rainbow Lodge, Nunda River, Ngepi Camp, Ndhovu Safari, mas foi no Mahango Safari Lodge escondido no denso arvoredo verde e bem na margem do rio, aonde subimos numa barcaça…
Mesa posta supimpa, para as catorze almas e alminhas do clã Miranda degustarem um bem surtido e nutrido breakfast com iguarias de crepes e outras ternuras mais adultas. Já de regresso, de novo nos internamos numa sinuosa picada de areia a visitar um lugar já conhecido como Suclabo Lodge propriedade duma madame de nome Suzi mas, agora com o nome de Divava Okavango Lodge e Spa, cinco estrelas de “elegant style and luxury”.
Cumcatano, disse eu depois de pisar o paradisíaco sítio cheio de coisas “good” logo a seguir a cubatas feitas de barro e capim com dois por dois metros, e muito matutar de como caberia ali um par de gente sem os pés encolhidos. Eu, João, Bruno e seu tio Alemão Franz lá fomos em uma pequena balsa com motor à popa e um bafana enfarpelado de caqui, seu chapéu de carcamano do Divava, um surtido de águas, refrescos e cervejas na caixa térmica.
Entre margens de exuberante verde, altas árvores, chegamos á base dos rápidos do Popa Falls. Naquela turbulência e com nossas canas de carretos, zingarelhos e estralhos, amostras bizarras e bizarrocas, farfalhudas com penas ou reluzentes, atiramos e recolhemos, atiramos e recolhemos e, por aí, repetido sem nada pescar e, eis que o campeão João num truz recolhe um peixe tigre cheio de dentes pontiagudos aí com uns dois quilos que, foi tudo na soma da pescaria, um tigre e três nadas.
E porque é vulgar dizer-se que os gestos não totalmente sinceros vão sempre atrasados, agradeci logo tais luxuriosas horas de lazer a Ana Maria e seus dois filhos quase carcamanos, mas com rusticidade na traça mirandesa, bragançana ou transmontana em seus sotaques, falas e cantorias. Soe dizer-se que todo o acto humano interfere com a vontade de Deus por mais insignificante que seja e, neste dia de Domingo, quatro de Janeiro do ano da graça de 2015 assim foi…
Só fui livre para poder ser castigado na míngua da pesca com um escassíssimo nada. Também nisto, não posso ter remorsos! Um dia de cada vez com encontros decisivos de nula ou muita importância, um simples dia de vida com rooibos tea and rusk bread, Windhoek lager, biltong bóher e bacorinho no espeto, assado pelo Thinus de Outjo, o mais genuíno carcamano bóher da família Miranda.
(Continuarei pelo Okavango – Terras do fim do mundo, Rundu em dialecto Ovambo…)
Bibliografia: Cuca-chopes: - Muito pequenas bodegas; vendas à margem das estradas que têem cerveja e bolachas já fora de tempo, Coca-Cola e fuba; Kavango: - Rio que faz fronteira entre a Namíbia e Angola, que deu o nome à região; Bafana: - natural da região, normalmente negro na cor; Zingarelhos e estralhos: - apetrechos de pescador; Rooibos: Chá de capim do Calahári; Bóher: de origem Holandesa saído da colonização da Companhia das Índias Orientais…
Nota: Com um levado agradecimento à familia Miranda que no Divundo da Namíbia,me deram guarida grátis! Terra de xirikwatas, um pássaro que come jindungo - foi Dona Elisabette , recenteente falecida que me deu ese conhecimento com o mais bonito riso que senti naquelas terrs do fim-do-mundo... Ao amigo Miranda um abraço XXL...
O Soba T´Chingange.
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA