NAS FRINCHAS DO TEMPO. Tempos de cinza
O risco da vida que, por coisa pouca muda nossas vidas…
Crónica 3024 - Meditação do T'Ching -17 de Maio de 2020
Por
T'Chingange - A Sul do M'Puto
Em um desses momentos nublados, às vezes, olhando o Mundo pela janela, atribuo a intromissão de Satanás nos acontecimentos maus que nos afectam. E, assim vendo os loendros dando flores de cores variadas converso com os ramos da amendoeira, bonita de verde e com amêndoas inchadas.
Lá nas alturas ouço um helicóptero zumbindo suas pás na direcção do deserto glorificando a sapiência humana que cria métodos no seu poder, de mudar as coisas, de estudar as lesmas, os ácaros e os aparentes e frágeis fios que suportam a aranha.
Aranha que ali fica horas a fio até que apareça o almoço. Acho que não foi Satanás que lhe concedeu estes poderes. Mas, então esta faculdade, foi lhe dada por quem? Conversando com meus botões, procuro no livro dos livros as metáforas ligadas por missangas de muitas falas...
Deus, já me havia concedido provas de que na natureza tudo tem um tempo e que este foi encaixotado numa máquina a que chamaram relógio. Não falei com Ele no discurso directo mas tive a premonição que ele tentava alinhavar meus zingarelhos do cerebelo.
Juntando meus estralhos, adjunto outras direcções para entender se os alhos com bugalhos são um remédio eficaz para eliminar um bicho feito gelatina invisível e com esporos que furam nossa paciência, estragando os negócios do reino, parando tantas nações. O maldito COVID 19.
Uma minudescência que ninguém consegue matar na suficiente perfeição. Isto é obra de quem? Do homem, do Satanás, de Deus? É um castigo às nossas promíscuas relações entre gentes, entre ideias, entre ideais!?
Isto não é pecaminoso? Embora advertido por falas silenciosas, sobre a resposta do desagrado divino sobre as nações, revejo - me um inocente ser, indefeso quanto baste para me colocar numa duvida: “Pequei muito!” - pecamos muito, Noé!?
A David do livro dos livros, foram dadas três opções de castigo: duas por meio de inimigos humanos mas, a terceira foi diretamente do Senhor. David, familiarizado com as guerras e a impiedade humana, entendia que, mesmo sendo castigando por Deus, Ele era infinitamente mais gracioso...
É sempre assim! Para tudo Nós queremos ter uma explicação; se calhar não a merecemos, Noé!? Somos propensos a assumir o papel de juízes implacáveis em relação a nossos semelhantes, enquanto Deus mescla justiça e misericórdia em Seu trato com eles e connosco. Pópilas! Exactamente da mesma forma em como eu junto imbambas, estranhos com zingarelhos!
Estamos sempre julgando e condenando pessoas, sem nos preocuparmos em calçar seus sapatos e, de seu ângulo, avaliar tudo quanto as afecta. Bem! Cá para mim isto começou nos Chinocas, ponto final! Pois! Mas nós somos interesseiros em nossas atitudes, sim!
Professores não se lembram de que foram alunos, patrões se esquecem de que foram empregados e cortam na escassez. Mas, na abastança ficaram com o todo, Noé! Gente que apregoa aos ventos seu Deus, omnipotente e justo mas, na hora do "para mim", aDeus! Só seus interesses contam - Hipocrisia, Noé!?
Pais perdem de vista o tempo em que foram filhos. Em um conflito interpessoal, assumimos posição de um lado sem ouvir o outro. Mas então se somos moldados pela disciplina de Deus, deveríamos sentir o afago restaurador da misericórdia, Noé!? Vou ali, já volto...
O Soba T'Chingange
DIVAGAÇÕES DO T´CHING
NA HORA DE APURAR VERGONHA - 23.01.2020
Por
T´Chingange – No Nordeste brasileiro
O sol tem ondas de ferroadas quentes que machucam na ida da vinda de nossos dias mas, muita gente entristece quando os meados de Janeiro esfriam o M´Puto. E, assim vamos como legítimos coitados, todos por demais devagar, na pasmacez da pasmaceira.
Justiça ali e aqui nenhuma, não tem. E a que tem, só o Senhor leva, faz ou rasga. Mas, quem é esse Senhor? Talvez um jacaré que choca! Ué, aiué, mas jacaré choca!? Choca sim! Choca o quê? Os ovos d´oiro da Isabel! E, o jacaré é Tuga? Ui, tem por demasiado…
Surripiando aqui e ali miúdas palavras, relutando-me entre o gostar ou não, apuro vergonhas que surgem repetidas por todos e, ao mesmo tempo, como se fossemos autómatos robôs de uma máquina de informação ÁDHOKAS – que vem de “ad hoc” … Todo o mundo dá o seu palpite na ciniqueira geral comandada pelos fazedores de notícias.
Cada qual com seu dedo, sua unha, seu pedaço de assuntos externos que nada contam na sua, nossa felicidade, como num assim de uma soma de pontos com números somando subtracções de milhões, esmiuçando ou tentando saber a decência do caso num verdadeiro ciúme amargoso…
Estas desconformidades de sintonia, forçosamente turvam minhas, nossas mentes. Euzinho, legitimo de raça indefinidamente ariana também possuo minhas franquezas por muito que tente deduzir em lisas, as farsas, reforçando-me de munições porque, óh gente, simplesmente não quero sufragar-me nos desaires alheios.
Pois é! Não sou mesmo homem de meio-dia com orvalhos de me tirar o tino, de me esbugalhar os olhos nas fracas naturezas de um sem fim de lorotas salivadas. Agora, todo o mundo fala do naco da Isabel dos Santos, dos seu ovos d´oirados – que coisa!?
Todos ficam assim e assado, lambendo, rechupando, engrossando um nojo, nojento! É bem verdade que ela não me merece um pingo de DÓ, nem tanto nem tampouco. A questão é a de que todos sabiam e todos calavam - Maldito kumbú! Há cúmplices, não há!?
Só não quero mesmo que mexam no meu bolso mas, tem por aí muito rufia das nossas caixas bancárias e afins que viciam com incesto minhas poupanças, só pode ser, ouvi dizer – E, são Tugas de primeiríssima linha; gente de gola alta e coturno intocável. Não toquem no meu bolso, tá! Já chega de ser sujigado…
E, daí da notícia e fofocas, abrirem-se gavetas com choros ranhosos, ou mesmo gavetões, com ossários feitos do pó esquecido no propósito propositado de não mais falar como se fossem asas p´ra boi voar! Se a vida é uma sentença com um princípio e um fim, não conseguiremos ouvir o grito da vida se sentirmos remorsos daquilo que não fizemos, ou daquilo que poderíamos ter feito; E, afinal quem deu cobertura a todos esses desaires de engenharia financeira, trapaceira de roubar o desinfeliz!?
Não podemos assumir a culpa dos pais, dos colonos, nem dos pais de outros pais na geração perdida, sempre petrificada pelos políticos da Luua e da Liz. Oi, não se fala nisso. Na percepção das vitais contingências, compostas nas coincidências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, que determinam o futuro próximo e distante. Nem sempre se escolheu dedo ou arado nem por onde fazer o rego que por coisa pouca mudou nossas vidas para engordar galifões e galifonas…
Ilustrações de Costa Araújo
O Soba T´Chingange
Porque cada homem é um mundo, tem que ao tempo, dar-se tempo…"O cabrito come o capim só do sítio onde está amarrado" – 04-11.2018
Por
T´Chingange – Em Moçambique (Bilene)
Estávamos a 28 de Setembro de 2018. Em África e sempre rumo ao Norte, de safari Lodge em safari Lodge, e desde o Choba no Botswana, às margens do rio com o mesmo nome, chegamos a Vitória Falls - quedas do Rio Zambeze e, à boleia do Comandante Vissapa... Também aqui em áfrica, como diz a sombra esquerda de Saramago, o tempo não é uma corda que se possa medir nó a nó.
É uma superfície oblíqua e ondulante, dependente da memória de cada qual, da saudade das capotas a atravessar a estrada às centenas mais os olongos a dar saltos por cima dos carros. O sol, o ar, a água, e a terra, têm de ser considerados permanentemente parte de nós. O sol é a verdadeira fonte da vida e, ao invés do que alguns conceituados doutorados dizem, ele não é prejudicial.
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Não é o sol que provoca o câncer de pele mas sim os muitos venenos que ingerimos. A terra é um laboratório de vida porque purifica, regenera e dá energia. Andamos a lavar nossas almas, a entender o nunca visto e até ouvir o inimaginável. O corpo é em verdade o pára-choques das emoções com arrelias, tendo entre outros males o medo como um veneno que num qualquer jeito, terá de suportar as crises cíclicas ou as provocadas pelos homens.
Sendo hoje domingo, 4 de Novembro, aqui estou sentado defronte desta magnifica manhã e, tendo um mar bonito da praia do Bilene do Distrito de Gaza, recordando o ontem recente para não me fugir da memória, falando também com a osga que sempre me olha inchando o papo e, salpicando falas na forma de estalos como se fosse de origem khoisan.
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E, se Deus salva as almas, e não os corpos, teremos de ser nós a resguardarmo-nos porque, nem sempre é necessária a culpa para se ficar culpado e, embora o Senhor esteja em toda a parte, é de ter em conta de que Ele às vezes parece não ter tempo para nos olhar de frente. E, foi hoje que visitamos a casa museu de Eduardo Ruiz com uma mulemba radiante mesmo em frente do seu Complexo Palmeiras. Uma amabilidade na forma de gente que fez o favor de nos esclarecer sobre o problema que áfrica atravessa de momento. Também ele quer vender seu Complexo por dois milhões, tendo o banco calculado seu património em oito milhões. Tudo tem um porquê!
Teremos por isso de nos fixarmos na fé, sem aquela inquietude de nos afligirmos com o próximo, ou ficar nesse estranho silêncio, uma forma de ver o princípio do nada, ouvir desaforos e, esperando as mudanças no tempo para os ressecar... Ao longo da costa e, a partir da Cidade da Beira para Sul, vimos lugares bem bonitos, empreendimentos maioritariamente propriedade de Sul-africanos quase às moscas, sub-aproveitados e, em sua maior parte com ar decadente ou simplesmente vetados ao abando.
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Adaptando-nos ao luto do preto, podemos ver que parece também ser branco. A moeda do Zimbabwé é o dólar americano! Emitiram uma moeda assim tipo fotocópia, com o mesmo valor mas só de fingir pois que só é válida aqui. Não tem qualquer silhueta de gente – só 3 pedras encavalitadas… As notícias da Internet vão dizendo que o país está empenhado com os chineses e que estes a qualquer momento, irão tomar conta de algo para recuperar o empréstimo. Também tivemos de comprar gasolina em tambor de plástico porque as bombas não tinham...
A China emprestou bilhões ao Djibouti, que não conseguiu pagar, por via disso a China confiscou o porto nacional como garantia de pagamento. Também fez um empréstimo às Maldivas e esta não lhes conseguiu pagar; por isso mais de 38% das estâncias turísticas que eram pertença do estado, agora pertencem à China.
O Quénia viu 70% dos seus recursos minerais, minas passarem para controle Chinês, porque foram incapazes de pagar a dívida. E, estando aqui em Moçambique será legítimo perguntar o que acontecerá senão pagarem a divida bilionária à China? Por tudo o que vi, quase posso apostar que África vai passar para os chinocas – É só uma questão de tempo…
O Soba T´Chingange
ANGOLA - TEMPO DE CINSAS . !Porque não esqueço - Memórias do FB - 14 de Março de 2016 - Quando os heróis ficam bronze até os nomes mudam…
Por
EDUARDO TORRES - Um Chicoronho de 3ª geração
Porque não esqueço, ao invés, tenho bem presentes acontecimentos que fazem a história da minha vida. Os meus antepassados foram para Angola em condições adversas, as pessoas da primeira colónia de que faziam parte os meus bisavós Pereira, ela grávida da minha avó Vitorina, desembarcaram e tiveram de palmilhar a pé ou em condições diferentes mas pouco mais cómodas, até atingirem o planalto da Huila, no local chamado Barracões, no ano de 1885.
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O meu pai, natural de Cantanhede, embarcou para Angola como militar, desembarcando em Moçâmedes em 1917, calculo de que modo terá também alcançado o Lubango. O planalto oferecia condições diferentes, era saudável devido ao clima ser ameno, que o diferenciava de grande parte do território, agressivo, onde as doenças como a biliosa, a malária e o clima quente e húmido permitiam dificuldades de toda a ordem. Quem não estava na melhor forma física era mais sujeita a sofrer as agruras da terra; Pessoas que vinham de outras paragens, duma civilização que nada tinha a ver com esta nova realidade eram atreitas a febres e outras mazelas.
As próprias necessidades as tornavam solidárias, porque era absolutamente necessário que isso acontecesse. Eu próprio, nascido numa época diferente, numa cidade já bem delineada, ainda usando o chafariz para abastecimento de água potável , ou o candeeiro Petromax a petróleo e velas, porque a electricidade haveria de chegar, beneficiei, mesmo assim, com todas as limitações inerentes à época , de regalias que faziam esquecer as dificuldades, já que o meu pai dispunha de uma viatura Nash, que nos permitia dar passeios ou fazer viagens em estradas difíceis.
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Autênticas picadas rasgadas na selva, nas savanas ou nas florestas, mas sempre com a possibilidade de se verem animais diversos, que constituíam uma fauna farta e admirável. Os pontões, quando os havia sobre as mulolas, na maior parte dos casos eram formados por troncos de madeira de árvores cortadas ali por perto, ou então restava o atravessar em jangadas como sucedia no Rio Cunene.
Mas havia outras compensações; Angola oferecia em cada lugar, em cada momento uma surpresa já que a natureza a dotara de uma beleza impressionante, perigosa até, mas talvez por isso, desejada e admirada. No meu tempo de criança, as estradas tinha melhorado, bem rasgadas, ligando as principais cidades; contudo, constituía ainda uma aventura viajar por elas, especialmente no tempo das grandes chuvas.
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Fora destas, outras preocupações havia, como cuidar da saúde, com medicamentos caseiros, como chás, quantas vezes intragáveis. Tão pequeno era ainda, tomava um comprimido de quinino que me punha os ouvidos a zumbir, purgantes de óleo de rícino que me obrigavam durante o dia a estar a caldos de galinha sem sal ou as garrafas de litro de óleo de fígado de bacalhau, tomadas a colheres de sopa durante a época do frio.
As constipações curavam-se também com escalda pés, uma bacia com água bem quente e cinza, onde se mergulhavam os pés, para depois se enrolarem numa manta, em seguida para a cama, e transpirar durante a noite para no dia seguinte estar melhor, tomando mel, limão e rodelas de cenoura, em xarope de paladar agradável.
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Ou tricalcina, um pó branco diluído em água para fortalecer os ossos, já que água da nascente era pura demais, sem o cálcio necessário, para o efeito. Usar o permanganato e o álcool puro para as feridas, as papas de linhaça, e outras mezinhas que foram desaparecendo, quando após o final da segunda guerra surgiu a penicilina, cuja invenção permitiu outro desenvolvimento.
Desenvolvimento que deu origem a outros medicamentos derivados, como as sulfamidas que desapareceram do mercado farmacêutico, e que tantas vezes e com bons resultados foram usadas em diversos tratamentos. E o quinino, umas bolachas amarelas e amargas como trevisco! A resoquina ou Kamoquina para o paludismo que nesse então eram chamadas de maleitas, como assim era conhecido no M´Puto. Tanta coisa mudou depois, mas ficará para outra altura….
EDU
OUTROS TEMPOS – 31 de Janeiro de 2015 – Devaneio … Memórias do FB - Quando os heróis ficam bronze até os nomes mudam…
As escolhas de T´Chingange
Por
EDUARDO TORRES - Um Xicoronho de 3ª geração
Há largos anos, nessa Angola imensa onde as cachoeiras derramam água por entre rochedos seculares e, em que o verde da floresta se confunde numa só cor, grandiosidade da sua dimensão, as savanas beijam ventos formando a linha do horizonte; vasto e longínquo. Uma dança que transcende o imaginário em movimento formando duna. Duna que depois se transfere de um lugar para um outro. E, num repente surge uma n´tumbo, a planta única do Namibe com o nome mundialmente conhecido por Welwitschia Mirabilis.
Num céu em que o sol surge brilhante e quente, céu de azul único por vezes povoado de imensas nuvens negras e medonhas, raios a se cruzarem a na tempestade tipicamente africana. Num planalto situado na cadeia montanhosa da Chela, um punhado de homens e mulheres, desembarcados em Moçâmedes e, vindos da ilha da Madeira ali bivacaram suas vidas. Da pérola do Atlântico levaram sonhos de conseguirem uma nova pérola em África.
Em um continente tão diferente da ilha que tinham deixado, tão distante, com eles foi a saudade, crença forte, fé de valentia. Talhados para a sobrevivência e também a dor, obedeceram a um sonho que o tempo alimentava. E foi assim, temperados pelo esforço sobre-humano que regaram a terra com lágrimas de pioneiros, com empenho e vontade de vencer.
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E, concretizaram seu sonho! Primeiro num pequeno lugar, chamado Lubango dos barracões, depois e já com novo folgo, anseio e oportunidade em outros lugares com salubridade. E, é naquela capela da Senhora do Monte, que relembram os idos tempos de incertos dias lá da sua ilha, da côdea de pão e das levadas movendo moinhos.
Aquela imagem de Nossa Senhora que com eles veio para lhes dar segurança, lá estava pendurada no alto a lhes dar esse alento, que só a fé alimenta. Depois surgiu nova realidade e Lubango passou a ser Sá da Bandeira em homenagem a um político da Metrópole. Aqui, longe da cidade que me viu nascer, sinto-me cada vez mais orgulhoso de ser descendente directo de gente das mais diversas têmperas, que permitiram tornar possível um sonho que virou uma realidade que não acaba aqui.
EDU
Compilado e formatado por T´Chingange
ONGWEVA - EM ANGOLA É SAUDADE - Férias na Humpata
As escolhas de T`Chingange
Por Eduardo Torres – Um Xicoronho de 3ª geração - Deus quando nos permitiu a faculdade de pensar garantiu-nos também o uso dessa liberdade …
Nos meus tempos de criança, quando ia passar férias na Humpata, na casa dos meus avós, havia na entrada para a sala um caramanchão de roseiral de rosas brancas, duas grandes amoreiras e depois seguia-se um grande jardim, com muitas açucenas, lírios, roseiras, dálias e outras espécies de plantas cujas flores espalhavam um aroma que perfumava o ar.
Dava prazer respira-lo sentindo aquele aroma entrar pelas narinas e perder-se nos pulmões para apaziguar a alma. O Jardim era separado da vala de água que corria junto à rua por uma vedação de arame que ligavam prumos de madeira separados igualmente em dois ou três entre si, e em cujos arames se desenvolvia uma silva de amora silvestre, que pretas ou vermelhas eram sempre saborosas.
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Longitudinalmente desenrolava-se um pomar, com um caminho pelo meio a dividi-lo, e quem caminhasse para o fim dele, iria encontrar uma grande área de terreno destinada exclusivamente à sementeira de trigo, aveia ou centeio. No pomar havia quase toda a qualidade de árvores frutíferas, desde as saborosas pêras do Natal, que maduras duravam apenas uma semana, pois logo ficavam bichadas, tipo de pêras que nunca comi em mais nenhum lugar, a não ser na Humpata e no Lubango.
Havia os damascos, os pêssegos, brancos, amarelos e de salta-caroço, as ameixas brancas e vermelhas os figos brancos pingo de mel e os a que chamavam lampos, com a passarada a chilrear dando alegria ao ambiente, com as chiricuatas e os papa-figos sempre à espreita de uma oportunidade para saciarem o seu apetite.
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Depois, mais à tarde pegava na minha pequena bicicleta Ralley e pedalava pela rua, que terminava junto da igreja de S. Sebastião, numa bifurcação que era a saída para Sã da Bandeira ou para o outro lado onde ia apanhar a rua que passava à frente da propriedade do meu tio Torrinha, duas ruas paralelas que delimitavam a zona mais povoada da vila.
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Na parte de cima ficava a escola, o Posto Administrativo, a casa e o moinho do Camaco, a propriedade do Zé Pio, um cego que indicava com a precisão possível o lugar de cada árvore, os castanheiros dos ouriços, o comércio do Abrunhosa, enfim…
Tempo que figurará sempre na minha memória, porque não é possível apagá-lo... A família Nóbrega era numerosa, e espalhava-se desde a fazenda de S. Januário, o Café para o fogo, a fazenda do Bartolomeu de Paiva junto dos eucaliptos. À entrada da vila havia um grande lago; recordações de hoje, como se as tivesse vivido ontem...
EDU
ONGWEVA DE ANGOLA ... SAUDADE - Os chefes de Posto e os Comerciantes do Mato - A história de Angola é uma epopeia feita a caminhar, ou andar em tipóia...
As ecolhas de T´Chingange
Por: Eduardo Torres – Um Xicoronho de 3ª geração - Deus quando nos permitiu a faculdade de pensar garantiu-nos também o uso dessa liberdade
Quando escrevo sobre factos da minha vida em África, as histórias reais vão para além de mim. Angola, tem um significado mais abrangente, porque nasci e vivi nela quarenta e dois anos, e nesse espaço de tempo que compreendeu a minha vida até chegado o momento de abandoná-la, criança ainda ouvi o meu pai contar estórias! Da forma como viviam, de uma maneira geral os Chefes de Posto, em especial porque eram colocados em locais ou transferidos para Postos sem as mínimas condições.
Uma epopeia ou saga que deve ser enaltecida por quem ainda vive e a viveu e, porque seguramente será deturpada ou minimizada pelos novos senhores que a governam. Os chefes de Posto, entre outros administrativos acompanhados de familiares, a maior parte deles com filhos pequenos, sem hipótese de assistência médica e escola, estavam instalados para permutar gestão com os nativos intermediando os funantes.
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Os comerciantes do Mato, por sua vez, não viviam em melhores condições. Foi a forma encontrada de estabelecer soberania estabelecendo uma ordem social de quanto baste. Em caso de doença, na maior parte dos casos, beneficiavam esporadicamente do contacto com camionistas que transportavam mercadorias para as lojas. Hoje o funcionalismo e não só reclama das condições em seu trabalho mas estes nem sempre tinham viatura própria; pode parecer um absurdo mas assim era.
Tinham a seu favor o facto de ter sido aquela, sua opção de escolha de sua colocação. O lugar onde se haviam de se instalar, segundo critérios generalizados era o de servir melhor em primeiro lugar seus interesses e segundo regras emanadas da Administração. Estabelecer também com os nativos da região condições de negócio segundo regras de reciprocidade ou concorrência. Enfim, normas de vida civilizada!
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A importância que advinha de serem pontos de ocupação, soberania em terras do fim do mundo. Naquele isolamento, era içada todos os dias a Bandeira Portuguesa que simbolizava a Ordem, a autoridade e justiça. A protecção necessária a um progresso, independentemente de ser um pequeno aglomerado populacional, kimbo ou apenas e unicamente um Posto Administrativo. Era ali a verdadeira loja do cidadão, se compararmos isto aos dias de hoje.
Por assim dizer representava a presença dos portugueses nos mais variados e isolados pontos da imensidão angolana. Os sacrifícios e valentia de como encararam os momentos nada fáceis, eram corroborados por eles mesmos no enaltecimento da Fé e da Esperança, vertentes sempre presentes na defesa duma Portugalidade nem sempre presente pelo poder e lei longínqua.
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Quantas vezes e, porque lhes faltava tudo a vida ficava traduzida em morte. Na dimensão desse território, cabiam as biliosas, a doença do sono provocada pela mosca tsé-tsé, a malária e outras doenças tropicais que eram combatidas com o quinino, uns comprimidos do tamanho de hóstias, chás de plantas medicinais, e medicamentos primários, situações idênticas às dos colonos que vindos da Madeira fundaram a cidade onde nasci., Lubango.
Era suficiente descer a serra até Vila Arriaga, para se sujeitar, se a sorte não fosse bastante, para se morrer de uma biliosa, como foi o caso de um dos meus melhores amigos e colegas da escola primária, filho do Secretário Administrativo da vila. Era costume dizer-se que terra de imbondeiro não era terra saudável.
Até nisto, essa árvore grotesca e especial da flora de Angola, era o símbolo de se viver ou morrer, consoante a doença de que se viesse a padecer. Os climas saudáveis eram os dos planaltos mas, mesmo nestes, havia periclitantes cuidados com a saúde. Angola mudou muito desde os meus tempos de criança até a deixar. Mas, até sair nesse então, os administrativos continuavam a viver em muitos Postos isolados, em kimbos ou lugares de comércio e varejo beneficiando nos últimos tempos de acessibilidades com correio e outras condições que lhes faltavam antes, em meus tempos de menino e, eu já sou século…
EDU
Compilação e formatação do soba T´Chingange
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