NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - “SEXTA-FEIRA SANGRENTA”
Crónica 3624 – 12.09.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Nesta fase de descrição do tema da “sexta feira sangrenta” do ano de 1992 é oportuno dar a conhecer o que um velho amigo do “bairro Terra Nova da Luua” de nome Josué Pedrosa escreveu: « A técnica do MPLA, na eliminação de opositores, foi aprendida na ex-URSS e mantém-se até hoje. Quem não sabe o que A Neto fez para afastar Viriato da Cruz e assumir o poder no MPLA?...»
«… O envio dele á China constituiu uma sentença de morte, pois a China manteve-o em vigilância permanente e nunca o deixou sair de lá até á sua morte. Quando do congresso de Lusaka em que foi deposto e eleito Daniel Chipenda, de que adiantou? …»
«…Neto apresentou-se aos Tugas para negociar a independência como se fosse o líder e, a verdade, é que os corruptos/traidores do MFA, também só quiseram negociar com ele, constituindo o diálogo com Savimbi e Roberto, bem como os Acordos de Alvor, apenas formalidades para enganar a sociedade nacional e internacional…»
«… Neto foi um assassino e devia constar da história de Angola como tal. Nunca esquecerei as suas palavras no 27 de Maio de 1977: "não vamos perder tempo com julgamentos", faremos "justiça" imediata. E, há "pala" dessa decisão, aqueles que no MPLA, tinham ódio, rancor, inveja ou simplesmente cobiça e queriam apoderar-se de algo que lhes não pertencia, bastava acusar os donos de serem conspiradores… »
«… Leiam os livros de José Reis - Angola o 27 de Maio e Memórias de um Sobrevivente, um "sanguito" que se deixou embebedar pela revolução e que foi acusado de golpista, só não morrendo por mero acaso. Depois de libertado graças a um amigo que por mero acaso o viu preso, viria a descobrir que quem o acusou, o fez para se apoderar do apartamento que tinha nas Imgombotas… »
«…Ao tentar reavê-lo, disseram-lhe ao ouvido, é melhor deixares tudo como está, a vida é mais importante que um apartamento. Também de Carlos Taveira (Piri) S. Paulo, Prisões de Luanda, um bom relato do que então se vivia e fazia…»
«…Todos os que têm a escola Soviética, praticam os mesmos métodos para afastar os opositores, sejam eles Neto, JES, JL, Putin, Castro, Maduro ou outros que pertençam à mesma seita…» Fim de citação…
Partir do dia 22, 23 e 24 de Janeiro de 1993, os bairros da Petrangol, Labor e Palanca até as províncias onde bakongos eram radicados naquela data, foram atacados por parte de habitantes de Luanda, armados alguns dias antes pelo MPLA. Entretanto, o então governo dirigido pelo José Eduardo dos Santos, teria reconhecido oficialmente apenas 57 mortos.
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da adenda de Josué Pedrosa …
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - ELEIÇOES - “OS 3 DIAS DAS BRUXAS” - Crónica 3623 – 08.09.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Os votos foram contados, mas a UNITA não concordando, exigiram a recontagem, pois os primeiros resultados deixavam de fora a possibilidade de uma segunda volta das presidenciais a Savimbi. Os acontecimentos precipitaram-se e Savimbi teve de fugir de novo para o Huambo levando atrás de si uns esperançosos 40% nas eleições com os dados viciados, segundo a UNITA.
Lendo o Expresso do M´Puto: Savimbi ficou à espera por um curto tempo no Huambo e mais tarde, no seu refúgio da Jamba. Savimbi aguardava agora a marcação da segunda volta, que o levaria ao cume das suas aspirações. Após se saber os resultados “fraudulentos” e, da matança aos homens da UNITA, teria de haver uma segunda volta para as presidenciais, mas esta volta nunca se chegaria a realizar
Com sua riqueza em petróleo e diamantes, Angola é como uma grande carcaça inchada com os abutres girando no alto. Os antigos aliados de Savimbi estão mudando de lado, atraídos pelo aroma da moeda forte". Savimbi também expurgou alguns dos membros da UNITA, que ele pode ter visto como ameaças à sua liderança ou como questionadores de seu curso estratégico. Entre os mortos no expurgo relembram uma e outra vez Tito Chingunji…
Depois da fuga do Jonas Savimbi, nos fins de Novembro de 1992 para o Huambo, este reorganiza o comando da sua ala militar e, no espaço de poucos meses depois das primeiras eleições em Angola, ocupa as cidades do Uíge, M´banza Kongo, N´dalatando, Soyo, Caxito e mais tarde, depois de uma batalha de 55 dias, a segunda cidade de Angola, Huambo, obrigando o governo a ficar na defensiva.
No Gabão, em Libreville, Jonas Savimbi, Líder da UNITA, União Nacional para a Independência Total de Angola, José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola e Omar Bongo Ondimba reuniram-se dando as mãos, segundo a descrição do jornalista Carlos Albuquerque que fez a cobertura. A Savimbi foi-lhe proposta o lugar de Vice-Presidente.
E, sucedeu que após ter aceitado informalmente, a nomenclatura do MPLA, de imediato afirmou que haveria dois vice-presidentes: Um indicado pelo MPLA e o outro, por Savimbi, que logicamente ficaria preterido em uma segunda ou terceira linha na hierarquia… Só lhe restava recusar! O MPLA, sempre foi assim: inventando coisas tão diabólicas que nem lembram ao diabo…
Na óptica das probabilidades, haverá aqui uma situação incrível, pois que Savimbi poderia ter sido o primeiro Presidente de Angola eleito. Se ele tivesse aceitado, a realização da segunda volta das presidenciais, em 1992, nada nos garante que não tivesse ganho, ou mesmo, perdendo, nada nos diz que numa nova votação, saísse vencedor mas sempre o seria, uma perigosa suposição…
Por parte das instâncias internacionais sempre se verificou um certo aveludar ao comportamento da gente afecta ao MPLA, o lado “governamental”. Por ideários ou interesses obscuros estes, sempre eram os donos da verdade. Com sua máquina da informação lubrificada diziam (e dizem…), que mais lhe interessava; prosseguindo uma logística concertada em denegrir permanentemente a UNITA. Os posteriores conhecimentos dos factos vinham a confirmar a permanente contra-informação, métodos dissuasores e políticas de inteligência praticados por peritos oriundos da cortina comunista.
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto …
(Continua…)
O Soba T'Chingange
A ORDEM MUNDIAL VII – “Contradições do Império”
FRIVOLIDADES CONTEMPORÂNEAS
- Escritos boligrafados na desordem actual - Crónica 3622 - 06.09.2024
Por: T´Chingange (Otchingandji) - O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
EXPANSÃO DA AMÉRICA - A Compra da Louisiana, concluída em 1803, foi negociada por Robert Livingston, durante a presidência de Thomas Jefferson, o território foi adquirido da França por US $ 15.000.000. Uma pequena parte deste território foi cedida ao Reino Unido em 1818 em troca da Bacia do Rio Vermelho.
Mais desta área foi cedida à Espanha em 1819 com a compra da Florida, mas depois foi readquirida pela anexação do Texas e a Cessação Mexicana. Para terminar haverá a tecer duas importantes considerações a levar em conta: Fé e política, não se impõe nem se prescrevem porque mesmo recomendadas, ter-se-á em conta que ninguém que esteja privado de as possuir representará a verdade. É isto a democracia!...
A 30 de Abril de 1803 mais de 1300 quilómetros quadrados, duas vezes maior do que a França, passa ao controle dos Estados Unidos. Napoleão Bonaparte vendeu por 15 milhões de dó lares esse vasto território da Louisiana. Este vasto território inclui os estados actuais de Louisiana, Arkansas, Oklahoma, Missouri, Kansas, Iowa, Nebrasca, Dakota do Sul, Wyoming e Minesota.
Os Estados Unidos com Thomas Jefferson, dobrou a extinção do país sem queimar uma só libra de pólvora. Um ano depois daquela compra a Napoleão, num Maio de 1804 no rio Wood, os Capitães William Clark e Lewis, com mais de trinta homens formando o “Corps of Discovery“ desbravam o Noroeste alcançando o grande Oceano Pacífico em Janeiro de 1806.
Desta expedição resultou a anexação dos estados de Oregon e Idaho por conversações com os índios em troca de bugigangas e promessas. Os estados de Washington e Montana foram-lhes cedidos por seus primos Canadianos, tudo acordado com a Grã-Bretanha pais colonizador; um começo grandioso…
A expansão gringa com o tal “sonho Americano” vem desde 1806 quando Aarom Burr à revelia de Thomas Jefferson queria conquistar o México. Burr, o homem que queria ser rei pois, “ele tinha um sonho” recrutou uma numerosa milícia em Ohio mas foi barrado em seus intentos pelas forças da União a mando de Jefferson que não desejava nesse então problemas com as guarnições Espanholas da Nova Espanha.
Aquela ambição de Aaron Burr, veio a ser concretizada em 1844 que, a pretexto de proteger o Texas de Pancho Villa, num aberto repúdio ao decreto do General Santa Ana do México, que abolia a escravidão em terras mexicanas, o invade. Assim, os EUA são um país com 50 estados que cobrem uma vasta faixa da América do Norte, com o Alasca ao noroeste e o Havaí no Oceano Pacífico, estendendo a presença do país.
As principais cidades da costa atlântica são Nova York, um centro financeiro e cultural global, e a capital, Washington, DC. Chicago, uma metrópole do centro-oeste, que é conhecida por sua importante arquitectura, enquanto Los Angeles, na costa oeste, é famosa pelas produções cinematográficas de Hollywood…
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Nota*: Com alguns extractos do livro “A Ordem Mundial” de Henry Kissinger e consulta em Wikipédia…
Bibliografia consultada: América - A história e as contradições do império por Voltaire Shillings e na Google
(Continua, com intercaladas Viagens …)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* . ELEIÇOES - “OS 3 DIAS DAS BRUXAS”
- Crónica 3620 – 31.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Recorde-se: De 29 e 30 de Setembro de 1992 diz Filomena Lopes líder do Bloco Democrático, partido da oposição angolana: “foram naturalmente três dias horríveis", data em que se interrompeu o processo de paz em Angola. Fui apanhada de surpresa, sobretudo numa altura em que se tentava encontrar soluções políticas para o problema.
Filomena diz: - “Matava-se tudo. Matavam-se todos os que tivessem alguma ligação com a oposição. ”Milhares de apoiantes e dirigentes da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) são assassinados em Luanda e em outras localidades do país. Também há vítimas da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). “É a primeira vez, na história da guerra civil angolana, que políticos morrem em combate”, escreve o jornalista Emídio Fernando no livro Jonas Savimbi, “No Lado errado da História”.
Savimbi chamou a situação de "crise mais profunda" da UNITA desde a sua criação. Estima-se que talvez 120 mil pessoas tenham sido mortas nos dezoito meses após a eleição de 1992, quase metade do número de baixas dos dezasseis anos anteriores de guerra. Ambos os lados do conflito continuaram a cometer violações generalizadas e sistemáticas das leis de guerra.
A UNITA, em particular, foi culpada de bombardeios indiscriminados de cidades sitiadas, o que resultou em um grande número de mortos civis. As forças do governo do MPLA usaram o poder aéreo de maneira indiscriminada, provoando muitas mortes de civis…
O tema ainda é tabu em Angola e até desconhecido por muito jovens. Daí a importância de uma boa estratégia de reconciliação, desde que não se branqueie a verdade, defende Orlando Castro: “Estes massacres são os mais visíveis, quer os de 27 de Maio de 1977, quer os de 1992; são os mais visíveis pelo número de vítimas, mas o MPLA tem muitas outras histórias porque ao longo da guerra – embora a UNITA obviamente também tenha cometido grandes erros – o MPLA, até pelo poder militar que tinha, massacrou muita gente inocente.
“Foi uma nova tentativa de decapitar a UNITA”. Orlando Castro conta: "Na história do MPLA, os massacres, ou as purgas, ou o que se lhe quiser chamar, são uma regra estratégica do regime, mesmo até para os próprios simpatizantes do MPLA”. Essa prática vem-se verificando até aos dias de hoje (2024) segundo muitas versões contadas aqui e ali, em livros ou crónicas nos jornais e redes sociais.
Contadas até por gente fugida ao sistema, que sempre acusam o MPLA na utilização de venenos para eliminar parceiros ou amigos considerados insuspeitos. Quem lê o “Fórum de Liberdade” nas redes sociais de Fernando Vumby exilado na Alemanha, um antigo elemento da DISA - a polícia política do governo de Agostinho Neto, fica com os cabelos em pé...
Até hoje – ano de 2024, permanece por esclarecer quem ordenou o massacre após s eleiçõea. O número de vítimas também nunca foi confirmado, mas estima-se que tenham morrido entre 10 mil e 50 mil pessoas. Outros gráficos, baseadas em números da Igreja Católica, estimam que foram mortos de 25.000 a 40.000 partidários da UNITA e da FNLA…
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto …
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - ELEIÇOES ; “A TRAGÉDIA NOS 3 DIAS DAS BRUXAS”
- Crónica 3619 – 29.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
As eleições gerais angolanas ocorreram nos dias 29 e 30 de Setembro de 1992 para eleger o Presidente da República e a Assembleia Nacional. Foram as primeiras eleições multipartidárias, supostamente democráticas e livres realizadas no país. Ocorreram na sequência da assinatura dos Acordos de Bicesse de 31 de maio de 1991, que pretendia pôr fim ao impasse militar com mais de dezassete anos.
O MPLA ganha as eleições. Nem o candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos, nem o seu adversário, Jonas Savimbi, da UNITA, conseguiram maioria absoluta nas presidenciais. Os oito partidos de oposição, em particular a UNITA, rejeitaram os resultados como fraudulentos, o que se veio a verificar posteriormente segundo relatos de ocorrências, por impedimentos de fiscalização, destruição de urnas ou, por trâmites inconsequentes.
Uma vez que nem o candidato do MPLA nem o candidato da UNITA obtiveram a maioria absoluta requerida nas eleições presidenciais, uma segunda volta seria necessária de acordo com a constituição mas, à medida que ambas as partes intensificaram a retórica da guerra, o MPLA ataca posições da UNITA em Luanda.
A UNITA, questionou a equidade das eleições, apresentando provas das anomalias mas, a Comunidade Internacional e os países dos PALOPS assobiaram para o lado; assim era no Mundo, o início do barlavento esquerdista com a postura moderada de pseudo socialista! Seguiram-se combates que levaram à morte de muitos membros proeminentes da UNITA como Jeremias Chitunda, Elias Salupeto Pena e Aliceres Mango Alicerces, que foram retirados do seu veículo e mortos a tiros.
Milhares de eleitores da UNITA e da Frente Nacional de Libertação de Angola, FNLA, foram massacrados em todo o país pelas forças do MPLA ao longo de três dias… Esses três dias que ocorreram de 30 de Outubro a 1 de Novembro de 1992 em Luanda, ficariam conhecidos como o MASSACRE DO DIA DAS BRUXAS,
O massacre dizimou muitos membros dos grupos étnicos Ovimbundu e Bakongo, historicamente tidos como adversários do MPLA. O jornalista e analista político Orlando Castro afirmaria que, nessa altura, o MPLA tentou “neutralizar todos os que pensavam de maneira diferente do regime”.
Um observador oficial viria a escrever que nestas primeiras eleições em Angola, havia pouca supervisão da ONU, que 500 mil eleitores da UNITA foram embargados ao voto e, que havia 100 assembleias de voto clandestinas. Em um atentado no Huambo, é assassinado o poeta Fernando Franco Marcelino. Neste atentado é ferido com gravidade a poetiza Zaida Daskalos.
O “Terra Angolana” – o jornal da UNITA, em sua edição de 31 de Outubro, atribui ao MPLA a autoria deste crime, o que é duvidoso pois que eram pessoas muito conhecidas em Angola e, desde sempre ligadas ao MPLA. Neste meio tempo é também assassinado no Huambo o médico e escritor David Bernardino, homem ligado à esquerda pelo Movimento Democrático do Huambo – um apêndice do MPLA desde o seu nascimento…
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto …
(Continua…)
O Soba T'Chingange
A ORDEM MUNDIAL VI - Henry Kissinger*
FRIVOLIDADES CONTEMPORÂNEAS
- Escritos boligrafados na desordem actual - Crónica 3618 - 27.08.2024
Por: T´Chingange (Otchingandji) - O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Todos se lembram do Aiatolá Ruhollah Musavi Khomeini, falecido em Teerão a 3 de Junho de 1989; que foi essa autoridade religiosa xiita iraniana, líder espiritual e político da Revolução Iraniana de 1979 e, que depôs Mohammad Reza Pahlavi, na altura o Xá do Irã, Xá Reza Pahlavi até a sua morte.
Existe porém a diferença entre Xeque, aquele que estudou a Xaria em uma universidade islâmica, e o Aiatolá. Este último, Aiatolá significa "sinais de Alá" ou "sinais de Deus". Ou seja, o Aiatolá é o expoente do conhecimento dentro do Islã Xiita. Xeque ou sheik é um "ancião; chefe, soberano" é um fórmula honorífica em língua árabe, com o significado de "líder" ou "governador".
Normalmente, uma pessoa é conhecida por Xeique quando se especializou nos ensinamentos do Islão, podendo ter à sua responsabilidade os cuidados de uma mesquita, conduzir orações, realizar casamentos e outras funções. "Xeque", com este significado, é uma pessoa versada no Islã, um erudito.
Xeque é comumente utilizado para designar o chefe de uma tribo que herda esse título de seu pai, ou um estudioso islâmico, que alcança esse título depois de se formar na escola básica islâmica. Seu papel, do Xeque ou Xeique, nas antigas tribos de beduínos era a de um líder espiritual-político e, em certos casos, militar (equivalente a um capelão).
Dando um salto em frente, temos o “imperativo de revolução islâmica” que em Teerão, a capital e principal cidade da República Islâmica do Irão, de forma a permitir cooperação transfronteiriça entre Sunitas e Xiitas em nome de interesses antiocidentais mais amplos, nomeadamente o armamento pelo Irão do grupo Sunita, jihadistas Hamas contra Israel e, também segundo alguns relatos, dos Talibãs do Afganistão.
O Al-Qaeda também encontra aqui margem para actuar a partir do Irão. Sunitas e Xiitas estão geralmente de acordo em derrubar a ordem mundial vigente. Ao longo do século XXI em todo o Médio Oriente, os ideários são idênticos ao que é proposto pelos aiatolas políticos do Irão. No Irão as ideias dos políticos sempre se reconfiguram como fonte da revolução religiosa.
No discurso do aiotolá Ali Khamenei, sempre descrevem que «o futuro pertence ao islão». A enfâse destas posturas não deverão ser postas nas disputas ideológicas, mas na conquista ideológica e, sempre se colocam como sendo os campeões dos povos oprimidos mantendo o que afirmam ser uma luta épica contra a “América, o saqueador mundial”… E, contra o “sionismo e Israel”.
Nestas narrativas, sempre afirmam «A paz é só para aqueles que seguem o caminho da verdade». Maomé, o profeta, já assim o dizia no século VII. Todos seremos vitimas da guerra santa islâmica, assim é dito, abertamente mas, os ocidentais, para alguns observadores, tentam passar-nos a mensagem de como sendo só de cariz “metafórico”…
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Nota*: Com alguns extractos do livro “A Ordem Mundial” de Henry Kissinger e consulta em Wikipédia…
(Continua, com intercaladas Viagens …)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - CAMPANHA CONFLITUOSA…
- Crónica 3617 – 25.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Em Luanda a FNLA condena veementemente a agressão sofrida por Batista Fula, seu membro, brutalmente agredido. Também aqui a mídia enfeudada no MPLA, descreve esta ocorrência com um ilustre desconhecido, com o nítido fito de influenciar a gente da rua.
Gente de Luanda, para acirrar os ânimos; tudo para dar forma consistente e permanente – e, agora usando o adjectivo “brutalmente” , sabendo nós. que o MPLA não suportava a FNLA… O maior incidente da campanha eleitoral foi a captura, pela UNITA, de onze elementos da guarda pessoal de Dos Santos.
Nesta caldeirada de preparação ao ódio os órgãos de informação do “governo ou colados a este”, justificam que o comportamento dos homens de Savimbi foi comunicado a este “tardiamente” e, segundo palavras ditas por ele, Jonas Savimbi…
Ainda em Setembro de 1992, chega a Lisboa uma queixa informal da UNITA, sobre o envolvimento de uma empresa portuguesa de distribuição alimentar, sediada no Porto, presumivelmente envolvida no fornecimento de material de guerra à Polícia anti motim angolana - os designados Ninjas - trinta mil homens treinados por espanhóis.
Sobre este caso, não houve grande desenvolvimento, assim como quase nada foi explicado acerca do cargueiro “Cecil Lulo” tripulado por dinamarqueses e filipinos, ostentando pavilhão das Bahamas e operado pela empresa dinamarquesa J. Pulsen, localizada no porto de Ponta Delgada (Açores), com um carregamento de armas; diz-se que provavelmente embarcadas em uma base militar dos Estados Unidos da América e, com destino a Luanda.
A escassos dias do termo da campanha eleitoral a Conferência Episcopal Angolana difunde uma mensagem intitulada “As portas da II Republica”. Nela, os bispos afirmam que “a igreja, não tem de apresentar nenhum candidato”, mas exortam ao voto consciente.
No entanto reafirmam: “ Não devem merecer a preferência dos cristãos os que violam os direitos humanos e os que delapidam os bens públicos, seja por que via for”. A UNITA percebe que a mensagem se lhe cola e, acusa a igreja católica de favorecer o MPLA, ao mesmo tempo que que dirige ataques pouco abonatórios à representante das Nações Unidas Margareta Anstee…
E, acusam.na de “estar comprada pelo MPLA, com diamantes”. As mulheres da OMA – Organização da Mulher Angolana, afecta ao MPLA, saem à rua manifestando o seu apoio aos bispos e à própria observadora Anstee. Numa grande manifestação, exigem “ a consciência democrática e perdão sem violência”; eram práticas comuns e concertadas pelo Bureau Politico do partido no poder governamental…
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto …
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - CAMPANHA CONFLITUOSA…
- Crónica 3616 – 23.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
No segundo dia de campanha eleitoral, soldados da UNITA atacam o Governo Provincial do Kuito. Com os governantes a reagir, o incidente salda-se por 20 militares e 10 civis mortos. Nesse mesmo dia e no Huambo, numa emboscada à caravana automóvel de Kundy Payama, director da campanha do MPLA, falece o Secretário Provincial da Juventude do MPLA e, cinco pessoas, ficaram feridas com gravidade.
Aqueles acontecimentos motivaram um comunicado dos Observadores Internacionais e membros da Missão das Nações Unidas UNAVEM II. Recorde-se que a UNAVEM I, fiscalizava a retirada das tropas cubanas expedicionárias. E, ambas Missões, condenaram as atitudes da UNITA e do MPLA.
A oito de Setembro de 1992, Eduardo dos Santos e Savimbi, acordam no principio de criação de um governo de Unidade Nacional, independentemente do resultado das eleições. Ambos se comprometem na extinção dos seus exércitos antes do escrutínio. Dez dias depois Margaret Anstee e Butos Ghali na qualidade de representantes em Angola, enviam um relatório ao Conselho de Segurança ONU.
O relatório denunciava que apenas 41% das forças amadas da UNITA tinham sido desmobilizadas e, apenas 19% das Forças Armadas Unificadas tinham sido constituídas. O mesmo documento menciona que foi mais rápida a formação pelo lado das forças governamentais sendo de 45% do lado do MPLA e 24% do lado da UNITA.
Aquele percentual correspondia à soma de cerca de 72 mil militares; um número àquem do total. Nesse então e no Huambo, mais de uma centena de homens fortemente armados da UNITA, mantêm-se posicionados ao redor da residência de Jonas Savimbi. A CCPM - Comissão Conjunta Político-militar, interfere. A UNITA confirma dizendo que são homens”da segurança pessoal de Savimbi”…
A CMVF – Comissão Mista de Verificação e Fiscalização do cessar fogo, apura que o contingente e respectivo material de guerra, havia entrado na cidade do Humbo sem o conhecimento da UNAVEM. À medida que decorria a campanha eleitoral, tropas da UNITA tomam posições de salvaguarda no Centro e Sul de Angola expulsando o MPLA de vários municípios.
Em Caxito, a poucos quilómetros a Norte de Luanda, soldados da UNITA, envolvem-se com a polícia. É notória a tendência da informação/fonte dita governamental e de jornalistas enfeudados na ideologia marxista, fazerem tendencialmente descrições negativas ao Partido do Galo Negro e, “passando de lado “ quando o caso envolve gente, militares e governantes afectos ao MPLA.
Essa dita midia colada aos ditames do MPLA dá conhecimento de que a UNITA ataca uma caravana do Fórum Democrático Angolano em Benguela; afirmam que em ambos os casos, Caxito e Benguela, causaram dezenas de feridos entre a população civil. População que continuava armada pelo MPLA formando milícias treinadas por seus militares coadjuvados por mercenários portugueses e descendentes mazombos de colonos. Também é notória a postura da UNAVEM que sempre diz ter “havido provocações da UNITA” e, sempre adicionando o adjectivo “exagerado” na descrição. Quanto ao MPLA, nadica de nada…
Ilustrações aletórias de Costa Araùjo
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
(Continua…)
O Soba T'Chingange
A ORDEM MUNDIAL V - Henry Kissinger*
FRIVOLIDADES CONTEMPORÂNEAS
- Escritos boligrafados na desordem actual - Crónica 3614 - 19.08.2024
Depois de uma larga ausência (desde 17.03.2020), volto de novo ao range rede, da minha preguiça!
Por: T´Chingange (Otchingandji) - O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Um calvário de angústia com repúdio à aceitação de coexistência, conducente a um futuro incerto. Tudo porque duas gerações de árabes foram educados na convicção de que o Estado de Israel é um usurpador ilegítimo do património muçulmano. Anwar Al-Sadat em 1979 teve uma visão de estadista com base em um interesse nacional egípcio: Olhar mais além desse confronto e, celebrar um acordo de paz com Israel.
Anwar, por este motivo, pagou com a vida dois anos mais tarde às mãos de radicais islamitas das forças armadas – O mesmo destino estava reservado a Yitzhak, um rabino e primeiro chefe do governo israelita a assinar um acordo de paz com a OLP – Organização de Libertação da Palestina. Foi assassinado por um estudante radical israelita, decorridos que estavam 14 anos após a morte de Sadat.
Hoje, os territórios palestinos e, particularmente na região de GAZA, os grupos Hezbollah e Amas, mantêm o poder politico e militar proclamando a JIHAD como dever religioso de pôr fim à “ocupação sionista” como sempre o disseram… A questão fundamental resume-se à possibilidade de coexistência de dois estados – Israel e Palestina. Dois conceitos de Ordem Mundial em um espaço exíguo, situado entre o rio Jordão e o Mar Mediterrâneo.
Uma ordem regional que só floresceu aquando as principais partes tiveram narrativas convergentes, das questões que lhes respeitavam, definitivamente, uma convergência ilusória no Mádio Oriente. Quanto à Arábia Saudita, tem mostrado uma postura de disfarçada vulnerabilidade, recorrendo à opacidade, mantendo um distanciamento da chamada linha da frente dos conflitos.
E, contribuindo também para o processo de paz no Médio Oriente, deixando a outros, o trabalho das negociações. Mantêm assim amizade com os Estados Unidos e seus primos espalhados no Globo, especialmente os inseridos na Europa. Convém relembrar que Al-Qaeda é uma organização terrorista, fundamentalista islâmica internacional, que tem a sua atuação principalmente baseada em ataques terroristas…
Isso! Al-Qaeda que mataram milhares de pessoas pelo mundo. Uma forma de pressionar governos ocidentais a desocupar áreas ricas em petróleo, ouro, diamantes, cobre, turmalina em alguns países do oriente médio. Foi o responsável pelo pior ataque aos Estados Unidos da América em 11 de setembro de 2001 e que culminou com uma caçada sem precedentes ao terrorista chefe Osama bin Laden.
Organização fundamentalista Islâmica que foi fundada em meados de Agosto de 1988 por Osama Bin Laden, Abdullah Azzam, e vários outros combatentes da guerra soviética-afegã, constituída por células colaborativas e independentes infiltradas na Europa, Estados Unidos e Ásia, entre estudantes universitários simpatizantes doutrinados por esse regime terrorista e, visando disputar o poder geopolítico no Médio Oriente e, até constituir bases na Europa e América.
Todo este imbróglio de grupos e organizações surgem como tendo a figura do Aiatola como o maior, considerando as leis do Islão xiita - o mais alto dignitário na hierarquia religiosa. É um título dado apenas àqueles que têm merecimento, quer seja por aclamação ou nomeação de outro Aiatola ou indicação de um xeque. Para ser um aiatola, além de conhecimento e discernimento, ele deve ser descendente directo de Maomé. Tretas….
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Nota*: Com alguns extractos do livro “A Ordem Mundial” de Henry Kissinger e consulta em Wikipédia…
(Continua, com intercaladas Viagens …)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3611 – 10.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Nesta situação, José Eduardo dos Santos pede ajuda aos comandantes das tropas cubanas em Angola (general Polo e Risquete, secretário do CC do Partido Comunista Cubano), mas estes, depois de avaliarem a situação, consideraram indesejável a participação dos militares cubanos nos combates.
Propuseram, então, que as tropas cubanas reforçassem posições na linha onde estavam instalados (ou seja, na linha do Caminho de Ferro de Benguela) e que as tropas governamentais, a fim de conservarem as suas forças, recuassem até essa linha e não deixassem o adversário atravessá-la. Este plano foi enviado a Fidel Castro, que o apoiou.
Valentin Varennikov revela a carta que Fidel Castro enviou a José Eduardo dos Santos a este propósito: «Caro irmão! São necessárias Forças Armadas para conservar a jovem república. Se perecerem as Forças Armadas, perecerá também a república.
Por isso, por muito doloroso que seja, nós, na situação actual, só temos uma saída: retirar as tuas tropas para a linha do Caminho de Ferro de Benguela e, nessa posição, juntamente com os nossos combatentes, realizar o grande combate com o adversário.
Estou convencido de que ele será derrotado e as tropas de Angola, depois, poderão expulsar os sul-africanos do seu país. Só o recuo das tropas para a linha citada pode salvá-las da derrota e, desse modo, salvar a república.» O Presidente angolano enviou imediatamente essa carta para Moscovo, pedindo conselho, mas apoiando as recomendações de Fidel Castro.
Isso levou a uma convocação urgente de uma reunião do Bureau Político do Comité Central do PCUS, onde Boris Ponomariov, secretário do CC, interveio para apoiar a posição de Fidel Castro. lúri Andropov, Secretário-Geral do PCUS, declarou: «damos o nosso acordo prévio, mas os militares precisam de ponderar tudo mais uma vez e informar-nos.»
Valentin Varennikov afirma ter discordado da decisão de Fidel Castro e apresenta os seus argumentos: «Primeiro, as tropas de Angola estavam prontas e em condições de defender o seu Estado; segundo, o recuo dessas tropas provocaria um prejuízo moral irreparável entre os soldados e os oficiais considerariam isso uma traição;
Biker ... Terceiro, sentindo o sangue, depois do recuo das tropas governamentais, os lobos sul-africanos continuariam a avançar, até Luanda inclusive; quarto, recuar até à linha das guarnições significaria um recuo de 300 a 500 quilómetros. Por outras palavras, era preciso entregar sem combate ao adversário um terço do país...»
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
(Continua…)
O Soba T'Chingange
A ORDEM MUNDIAL IV - Henry Kissinger*
FRIVOLIDADES CONTEMPORÂNEAS
- Escritos boligrafados na desordem actual - Crónica 3610 - 08.07.2024
Depois de uma larga ausência (desde 17.03.2020), volto de novo ao range rede, da minha preguiça!
Por: T´Chingange (Otchingandji) - O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
A União Europeia instituiria em 2002 uma moeda comum - o Euro, apresentando-se como uma estrutura politica formatando em 2004 uma europa unida, inteira e livre, disposta a dirimir divergências mediante mecanismos pacíficos, controlando sua moeda e suas fronteiras, e corporizando o conceito dominante de Ordem Mundial. Neste meio tempo, o mundo muçulmano continua a viver uma situação de inevitável conflito com o mundo exterior.
Mantendo o conceito de “jihad”, tentam espalhar a mensagem do Islão como busca espiritual para glorificar seus princípios religiosos legados pelo profeta Maomé. Como um dever indiscutível, vinculam seus fieis a expandir sua fé pela guerra. Fazem-se ouvir em gritos de união congregando minorias armadas do Líbano, da Síria, do Iraque, da Líbia, do Iémen, do Afeganistão e, do Paquistão. Hodiernamente vivenciamos esta realidade…
Por todo o mundo, grupos terroristas, tentam impor sua ideologia; pouco a pouco, assentam arraiais nas principais cidades da Europa alterando e adulterando regras de imperativos religiosos afastando cidadãos indígenas que, paulatinamente o vão sendo, arredados de sua normalidade no meio de uma apatia governamental. Paris, Lisboa, Madrid entre outras cidades europeias veem-se confrontadas com crimes em plenas praças e alamedas parecendo ser um parque de campismo anárquico com latrinas a céu aberto…
Enquanto ao longo do tempo a cristandade se torna em um conceito filosófico e histórico, no mundo árabe, invasor tolerado pela imigração descontrolada, originam um princípio operacional na estratégia de alterar a ordem regional e internacional, não distinguindo o “que é de César” ou “o que é de Deus”. Este debate de como é ou de como vai ser, está muito longe do seu fim; em verdade está começando!
O mundo muçulmano continuará a viver numa situação de inevitável conflito com o resto do mundo – dos não seguidores de Maomé; O resto do mundo Ocidental! As elites do mando, nunca irão conseguir compreender essas paixões revolucionárias; pode pressupor-se até que essas posturas extremistas o são, meramente metafóricas, ou ditas a título de poderem chegar a negociações.
Em verdade, estas e aqueloutras ideias dos fundamentalistas islâmicos, representam verdades que sempre se irão sobrepor às regras e normas da Ordem Global Internacional… Servirão de toque de chamada para radicais jihadistas, principalmente do Médio Oriente tais como: Al-Qaeda, Hamas, Hezbollah talibãs, Hizb ut-Talmir e, ainda os Boko Haran da Nigéria.
E, ainda as várias milícias extremistas da Síria Jabhat al-Nusra ou pelo Estado islâmico do Iraque - os seguidores dos radicais egípcios que assassinaram o presidente Anwar al-Sadat. Recorde-se que Anwar al-Sadat foi assassinado por via de este ter celebrado a paz com Israel. Para que conste, o jihadistas acham-se no dever de transformar o “dar al Harb” no mundo dos infiéis num conceito de ordem interminável de um “dar al-Islam”...
E, entre si, muçulmanos deflagram velhas tensões, coisas de séculos que despertam conflitos milenares entre xiitas e sunitas multiplicando-se em atrocidades e, aonde os sobreviventes se refugiam em enclaves étnicos e sectários. A actualidade faz querer saber que a existência de Israel e os seus feitos militares têm sido sentidos como uma humilhação para todo o mundo árabe; e claro, segue-se as ambições palestinianas de autodeterminação e prossecução pelos governos árabe vizinhos.
Nota*: Com alguns extractos do livro “A Ordem Mundial” de Henry Kissinger e consulta em Wikipédia…
(Continua, com intercaladas Viagens …)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3577 – 13.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Um novo livro escrito por Carlos Taveira detalha os horrores e o dia a dia na prisão de São Paulo de Luanda antes e depois do 27 de Maio de 1977. Quando o “autocarro do amor” chegava à prisão de São Paulo de Luanda os presos sentiam o terror e o medo de que eles poderiam ser os próximos a serem levados para a morte num local desconhecido.
Carlos Taveira, o autor do livro, que esteve ali detido mais de dois anos disse: Que recordou como os presos jogavam xadrez comunicando de cela para cela através das sanitas nas celas que eram buracos no chão e serviam de câmara de eco. Taveira foi preso em Dezembro de 1976 sob acusação de pertencer à Organização Comunista de Angola, OCA, que se opunha à presença soviética e cubana em Angola, portanto antes da tentativa de golpe de Nito Alves em 27 de Maio de 1977.
A cadeia foi tomada de assalto por elementos ligados a Nito Alves para soltar os seus apoiantes que ali se encontravam presos.“vivemos debaixo de fogo quatro ou cinco horas”, recordou Taveira sublinhando que os apoiantes de Nito Alves apoiavam “ideias opostas da OCA” por se considerarem marxistas da linha soviética…
Os apoiantes de Nito, “quando entraram disseram-nos que nos iam matar nesse dia”. Membros da chamada Revolta Activa que ali se encontravam detidos foram também ameaçados de morte pelos aderentes de Nito Alves . “Quando nos puseram contra uma parede”, recordou – pareceu-nos ser o fim…
“Todos os que entraram depois do 27 de Maio passaram pela sala de torturas; alguns foram barbaramente torturados e alguns morreram de tortura, enquanto outros eram levados simplesmente à noite para serem mortos”, recordou. O escritor disse: Até ao 27 de Maio, “não havia tortura” na prisão porque o dirigente da policia politica DISA, que lá se encontrava, Helder Neto, “não acreditava nisso”
Helder Neto, preferia tentar “recuperar“ os presos para trabalhar com eles. “Helder, suicidou-se no 27 de Maio – só depois se deu início na tortura em cheio", contou. “Havia entre nós um grande medo. Cada vez que aparecia o tal “autocarro do amor” para levar gente para ser fuzilada havia um ambiente de terror”. Disse recordando que, numa noite foram levados 16 ex-políciais para serem fuzilados. “Foram levados debaixo de pancada até ao “autocarro do amor” e os 16 numa noite desapareceram”, recordou.
Agora, sou eu que digo: Meu pai Manuel - “o cabeças”, que foi para a praia errada chamada de Angola num vapor chamado de Mouzinho de Albuquerque no ano de 1950, como colono, ali ficou até este 27 de Maio de 1977. Na ida para o Banco de Angola aonde exercia a função de segurança noturno, foi desapossado de sua arma walther P99, raptado e levado para lá do aeroporto de Belas aonde o encheram de pancada, vulgo porrada; e, havia ali, uns quantos mais, amontoados, esperando o toque final – a morte…
Ali, no chão, desmaiado, num magote, deram-lhe um tiro de rajada atingindo decerto os demais! Era noite. Teve a sorte de uma aleatóriria bala não lhe ter atingido órgãos vitais, alojando-se no joelho. Arrastou-se pela noite até se recolhido por uma patrulha mista de cubanos e militares do MPLA. O médico do Banco de Angola (Boavida), não vendo possibilidades de Manuel ser socorrido ali, no Hospital Maria Pia e, por via de estar repleto de muita gente moribunda, deu-lhe uma licença a prazo, metendo-o no avião da TAP a caminho do M´Puto. . Dias depois fui esperá-lo no Aeroporto da Portela em Lisboa, ainda com a bala no corpo…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3555 – 01.03.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Nesta marcha desesperante, eu branco, descrevo-a imaginando-me a comer raspas de cascas de mandioca, o vai e vem na volta da contra volta, já cansado de esganar a saudade, de esganar a traição, de esganar a mentira da descolonização, ela, esta coisa, deu-se conta e, sem enfado, muito pausadamente disse-me: - O seu azar, assim quase titubeando a verdade para não se ferir, o seu azar, notei a dificuldade de ir mais além; acenei-lhe assim-assim com o dedo indicador rodando, anda, desembucha! E, repete, o seu azar patrão… o seu azar foi ser um branco mazombo! E, foi!
Na diáspora, prometi a mim mesmo não me enganar continuando a ser eu próprio peneirando as opiniões, gerindo silêncios e, mesmo estando naquele então no exterior de Angola, fiz trabalho fiel por quem acreditava ser o futuro em Angola. Saí da UNITA mas, ela continuou comigo recordando grandes nomes com quem tive o privilégio de lidar como Carlos Morgado, Kalakata, Alcides Sakala, José Kachiungo Marcial Dachala ou Adalberto Júnior entre tantos outros. Savimbi, o líder, sempre será visto em um leque alargado que vai do génio ao monstro mas, a UNITA foi mesmo seu grande legado: o da liberdade…
Mas lá, às margens do Cuito, em Agosto de 76, Savimbi transmitiu ordens para que eles que ficaram na outra margem, se escondessem na mata; a travessia reiniciar-se-ia na noite seguinte. Foram lançadas granadas para dentro do rio para afastar os hipopótamos e, provavelmente, elas teriam sido ouvidas pelas patrulha inimigas. Ele temia que os cubanos e o MPLA estivessem na área no dia a seguir.
Na margem ocidental, Savimbi conduziu seu próprio grupo desmembrado através da anhara, deixando atrás de si rastos bem visíveis no capim, coberto de pó e geada. Aqui, de noite, as temperaturas baixam do zero graus; os soldados não tinham fardas para mudar as calças ensopadas em água gelada. Os únicos cobertores que cada um levava também estavam molhados, que para além de serem frios, estavam rasgados. Qualquer um de nós, fica por esta real descrição feito uma pedra de gelo.
Assim foi! Muitos estavam enregelados depois de terem passado o pântano com as inerentes dificuldades do rio e, de tal forma que mal podiam falar. «Estavam exaustos, mal alimentados e tinham as faces encovadas». Savimbi continuava a marchar entre a frente e a retaguarda da coluna, exortando o povo a seguir em frente, com coragem, em direcção à mata , onde teriam de chegar antes do nascer do sol. Deu ordens à sua ordenança para dar suas roupas de reserva aos soldados mas, seus oficiais superiores esconderam dele um conjunto completo para seu próprio uso.
Savimbi calculara que a marcha através da anhara demoraria cerca de meia hora. Em verdade, demorou três horas, dadas as condições de fraqueza da coluna. Cerca das seis horas e trinta minutos da manhã, quando o sol começou a despontar, estavam ainda a meio do capim, pelo que tiveram de reunir forças extras para correr até à mata cerrada. Mais tarde, nessa mesma manhã, dois helicópteros de fabrico soviético MI-8, chegaram ao local aonde fora feita a travessia do rio Cuito.
Pairaram a pouca altura do solo e, de cada um deles saltaram quinze a vinte militares cubanos. Felizmente, para a gente de Savimbi, o sol brilhava num céu sem nuvens, secando o gelo que anteriormente tornava bastante visíveis os rastos da UNITA através do capim. Era o dia três de Agosto de 1976 – Jonas Savimbi, um negro angolano, em tempo estudante de medicina na Universidade de Lisboa, licenciado pela Universidade de Lausanne, líder de guerrilha, sentava-se perto da margem esquerda do rio Cuito, no interior de Angola…
Estava-se no solstício de Inverno na África Austral, quando as temperaturas nocturnas descem abaixo de zero. Savimbi, acalentava em seus braços, um adolescente guerrilheiro que delirava, morrendo de frio e exaustão depois de ter sofrido no corpo a tortura de uma enregelante travessia do rio, que lhe tolhera os membros. Não poderia existir maneira mais deprimente de o líder dos guerrilheiros celebrar o seu 42º aniversário…
Nota: - “Transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3552 – 21.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Enquanto transcrevo a “Longa Marcha de Savimbi” na Luanda de então, a vida mantinha-se claustrofóbica, periclitante e sem saídas fáceis para a província; os corredores aéreos encontravam-se ameaçados. Iam abrindo lojas de kinguilas nos muros de quintais, o trânsito ia ficando já com algum parque automóvel moderno e caro, também muito mais caótico. O contraste da “cidade capital e o musseque” iam ficando entre o abandono e a deterioração com amontoados de chapas de zinco e placas ratadas de fibrocimento.
Ainda se podia visualizar entrelaçadas com velhas portas arrancadas de um qualquer armazém as aduelas de barris de vinho “Camilo Alves” idos do M´Puto e até latas espalmadas de azeite galo ou, latas das grandes de tinta pintal, com ripas de madeira das antigas caixas de sardinha ou atum importadas de Portimão do M´Puto. No centro da Luua as caixas de elevadores dos prédios mais antigos, iam ficando atulhados de lixo vasculhado por gatos e ratos com o mau cheiro inerente…
As ruas da baixa da Luua iam ficavam envoltas em nuvens de fumo com cheiro intenso de gasóleo queimado saído dos escapes de geradores construídos a partir de velhos motores de GMCês, Magiros e Fordes e outras ainda não seleccionados pelos cubanos para levar para Cuba; assim, património como coisas de “tecnologia de ponta”, assim consideradas lá na ilha – troféus de guerra para o Fidel. Esta guerra de Angola que nos era servida, não se diferenciava das atrocidades do Corno de África ou das escaramuças do Iraque.
Mas, lá nas matas do Moxico a “Longa Marcha” continuava com seu líder – o melhor chefe de guerrilha em África. Enquanto Savimbi instruía seus oficiais, o condutor de gado reapareceu como por milagre com a manada de rezes. Savimbi, mandou-o directamente em direcção a sudoeste, caminho que ele pensava seguir com a sua própria coluna. Quando tudo ficou pronto, Savimbi ordenou às colunas de Samalambo e Chimbijika que partissem: a primeira para nordeste e a segunda para noroeste.
Cerca de quatro horas e trinta minutos da manhã, ambas as colunas e toda a gente da coluna de Savimbi, excepto o próprio Savimbi e os cinquenta homens que constituíam a sua retaguarda, tinham partido; a seguir, ele ordenou à retaguarda que também partisse. A coluna de Savimbi não parou de andar até às três horas e trinta minutos da tarde para um descanso, mas já ao romper de um novo dia, os caminhantes ouviram explosões e tiroteio na direcção do local de onde tinham descansado na mata.
Os batedores disseram que os cubanos tinham sobrevoado o local, fazendo disparos de metralhadora dos helicópteros. Decididamente, mais tarde os cubanos informaram dirigirem as suas buscas em direcção às colunas de engodo. O resultado do desencontro com o MPLA e os cubanos, resultou no desmembrar a coluna original de Savimbi em cinco grupos. As crianças, as mulheres e a sua escolta de guerrilheiros permaneceram sem o serem detectados ou molestados durante várias semanas, na que ficou sendo a “aldeia segura” porque nunca o foi visitada por tropas inimigas.
O grupo de Chivinga formada por cinquenta pessoas, manteve imobilizadas as tropas do MPLA, precisamente a norte de Chissima; durante várias horas e, até Chivinga ter sido ferido numa coxa: Em consequência disso dispensaram levando o comandante mas, não conseguiram reunir-se às colunas principais, nem mesmo com a coluna das crianças e mulheres. Só meses depois é que Savimbi recebeu mensagens de que as mulheres, as crenças e Chivinga com seus homens, estavam a salvo.
Quanto ao major Samalambo e ao capitão Chimbijika, estes, conduziram as suas colunas de forma segura para longe do perigo. Durante uma semana, a coluna de Savimbi não enfrentou problemas, excepto quando da travessia atribulada do rio Cuanavale: aí, eles tiveram de derrubar várias árvores para construir uma jangada que os ajudou a atravessar o canal de águas profundas. Isto, deixou-os expostos em campo aberto, durante algumas horas, mas o inimigo não apareceu. Aqui chegados direi (do relator): que a logística do MPLA já nesta fase, alegava ser o dono da história seguindo subserviente à mentirosa versão russa. Isto iria continuar sem se vislumbrar um sine die, com revolta musculada de todo o mundo democrático ocidental – eternas fragilidades das democracias…
Nota: - Com “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3538 – 17.01.2024
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila - Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Eu, era um dos que preparava essas listas de embarque – Guias de Marcha para o M´Puto, sem retorno - GUIAS DE DESEMBARAÇO. Naquela Luanda, pairava no ar promessas de morte, vinganças avulsas; continuavam as manifestações com mortos transportados em macas reclamando por insegurança e coisas variadas agitadas com catanas de furia.
Tudo o era feito, para seguir as novas técnicas de meter medo com horror; instrucções seguidas pela cartilha de Rosa Coutinho. No aeroporto de Belas já neste início de Agosto de Setentaecinco, podia ver-se milhares de famílias pernoitando de qualquer jeito junto aos seus haveres no largo frontal da zona do check-in e jardins do aeroporto, malas, caixotes e bugigangas.
Ali permaneciam dia e noite protegidas com cobertos de lonas presas a caixotes usando como banheiro áreas improvisadas ou as bissapas, arbustos circundantes do jardim; o cheiro era nauseabundo. É confrangedor só de pensar em estas turbas de gente que às pressas colocaram umas peças de roupa, uns agasalhos, umas fotos de recordação prontos a ir ao encontro dum desconhecido maior que o mundo.
E, as despedidas de gente serviçal, vizinhos ou até um amigo próximo que por ali iam ficando – na Luua: toma lá a chave do meu carro, da minha casa, cuida dos animais meu amigo João, Napumoceno, num catravês de incógnitas, num porque não sei quando voltarei, nem se volte. Na mira de voltar havia mesmo falas muito penetradas de sonhos…
Olha pelos meus cães, o aspirina mais o tarzan que ficam na casota lá junto ao gerador e perto do galinheiro. Doeu e ainda dói! Coisas de partir o coração aconteciam como sendo coisa pouca – a frieza das pessoas, do governo, da Metrópole em um todo, afligiam-nos sobremaneira. Minha revolta era imensa!
No dia 4 de Agosto de 1975, na cidade da Gabela os partidos entram em confrontos e a população organiza uma caravana; com mais de duzentos veículos, serão acompanhados por militares portugueses e da UNITA, escoltados até à cidade de Nova Lisboa (Huambo). Savimbi mandava retirar o seu pessoal político e militar d Luua. Pediu à Marinha e à Força Aérea para que evacuassem todos os seus militares das FALA e apoiantes na via para o Sul - de todos os que se mantinham para além de Luanda, Carmona, Ambriz, Cabinda e santo António do Zaire.
A partir do dia 9 de Agosto de 1975 o Governo de Transição de Angola ficava reduzido ao MPLA e à parte portuguesa. Ainda faltavam 94 dias para o dia da independência, o 11 de Novembro de 1975. O novo Ministro dos Negócios Estrangeiros no V Governo Provisório (1975) de Portugal, Mário Ruivo, reconhecia oficialmente o Óbito do Acordo do Alvor.
Para tal proclamaram o estado de emergência com a criação de uma Junta Governativa para substituir o defunto Governo de Transição que só durou cerca de seis meses. Neste molho de brócolos, o Governo de Transição foi extinto mesmo sem que para tal estivesse autorizada a sua substituição em caso de incapacidade. Mais uma medida no âmbito revolucionário feita em cima do joelho pelos generais e políticos de aviário. E, o Mundo assistia a isto!
(Continua…)
O Soba T´Chingange
A CHUVA E O BOM TEMPO - NO M´PUTO
ENTRE O NATAL E O NOVO ANO – Crónica 3533 - 30.12.2023
- No intervalo de viagens nem sempre é necessária a culpa para se ficar culpado…. Um chapéu de chuva, sempre dá geito…
Por: T´Chingange . Em Arazede do M´Puto
Os sintomas do mal, revelam-se em características inquietantes pelas instabilidades politica e laboral na mistura do flagelo das guerras e da caristia da vida envolta em desemprego prolongado. O mal fermenta-se na psicose gerada pela instabilidade apontada adicionada a outros males como a precaridade quase instituída; isto para não entrar no capítulo da educação, formação, investigação, assistência na doença e lóbis incestuosos nas várias frentes da governação.
Avós, pais e filhos têm de se organizar nestes inteiros condicionamentos de vida. Ninguém está certo da vitória no que concerne à nossa liberdade em nossa existência. Estamos sempre pendentes das medidas dos poderosos que por nossa mão (entenda-se o povo), alcançaram o poder; refiro-me aos políticos. No final, a culpa não é de ninguém e morre sempre solteira…
Não poderemos libertar-nos dos sintomas conhecidos e de outros por conhecer, se não atacarmos a moléstia pela raiz sabendo que mesmo estas continuam a crescer de uma forma imprevisível! Nem sempre os diagnósticos estabelecidos pelos especialistas dão a necessária confiança à convicção de que um homem independente é honesto.
O clã familiar, cada vez mais tem de se organizar como e, para harmonizar sua existência humana tendo de partilhar sua reforma com um filho, com um neto, a um mais próximo a fim de se superar nas sucessivas crises. E uma crise não é singularmente diferente das precedentes porque dependem de circunstâncias novas. Isso! Condicionadas pelo fulgurante progresso da corrupção, da cunha e, aonde o homem, mulher, a família se vê neste tipo de economia dita liberal.
A lei da gasosa, sim! Obrigado/a no retirar migalhas ao salário sem sempre conseguir garantir as vitais necessidades. Dos ganhos, sessenta por cento, vão direitinhos para pagar a máquina estatal que subsidia partidos, fundações, observatórios e tantos outros afins de e a bem da nação… Balelas! Uma guerra de impostos taxas e sobretaxas; incestuosas atribuições…
O desemprego aumenta e a confiança no patronato diminui; diminui a confiança nos bancos, da participação pública nestes e depois… depois os bancos irão ser obrigados a sessar seus pagamentos, a diminuir os juros. E, dirão porque o público retira os depósitos, a economia fica bloqueada e edecéteras complicadíssimos de entender…
Eles, os bancos convencionam-se em garantir seus fundos de prevenção dando-nos 0,01 por cento nos depósitos ao ano, cobrando-se de todas as tarefas inimagináveis. O que não nos dão, vai direitinho para o seu fundo de garantia, para pagar a trafulhices de venderem peidos de velha como se fossem ovos moles. Agora, dão-nos 3,5 por cento para tapar fendas da inflação que anda lá muito mais acima.
As crises decerto darão dinheiro a alguém! Algum país, algum grupo ou contas de paraísos fiscais ficarão a abarrotar! Até no M´Puto há superávite - o termo genérico que se dá a uma conta de balanço de entidades com finalidades econômicas ou da administração pública que, em geral, corresponde à conta "lucro do exercício" dos balanços .... E, andamos todos a chiar – que a vida está cara!?. As crises são preparadas de tempos, a tempos para nos esfriarem os bolsos. Os donos do Mundo, os donos disto tudo sempre estarão amparados pelos políticos eleitos. A inteligência é a capacidade de nos adaptarmos a tudo isto aceitando o roubo, a taxa, o imposto e alcavalas como coisa clara e instituída. Esforcem-se para não ter um Novo Ano periclitante! Fui…
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3532 – 22.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Ainda sobre a tese de Pesarat Correia – Nesse quadro qual era o papel de Portugal? – Portugal ia diminuindo a sua presença militar em Angola, no cumprimento dos Acordos do Alvor, acção que devia ser compensada com os movimentos de libertação a contribuirem para a formação de uma força militar mista.
Ora, os movimentos de libertação (destaque para o MPLA, o grande infractor…) em vez de procederem nos termos acordados em Alvor participando nessa força, armaram-se constituindo exércitos partidários e entraram em guerra civil, com apoios externos, perante a impotência de Portugal.
Já próximo ao 11 de Novembro, o Zaire via USA entra pelo norte em apoio da FNLA; depois a Sul, a África do Sul ao lado da UNITA e mais tarde Cuba a apoiar o MPLA – O Acordo do Alvor foi rasgado pelas partes…(fim de citação de Pesarat Correia).
Quanto ao "Documento dos Nove" foi em verdade, a primeira demonstração publica de divergências no seio do MFA e a marcação de uma posição clara contra a tentativa de tomada de poder pelo PCP “o caminho que as coisas estavam a tomar, isto é, o caminho de levar Portugal a tornar-se um país cada vez mais próximo do modelo soviético”.
Aquele "Documento dos Nove", defendia um entendimento à esquerda, do qual o PCP não estava à partida excluído, desde que colocasse de lado os seus intentos hegemónicos, de forma a “conduzir o país na ordem democrática e na ordem económica e social”. Para terminar com essa tal de tese de Pesarat Correia refiro o que diz em seu final: “A participação de Portugal na descolonização nas colónias de África foi a que tinha de ser feita” - Esta foi a frase de Melo Antunes que acompanho, diz Pesarat Correia. Nunca tão poucos decidiram por tantos na passividade e anuência de um povo do M´Puto gerido por um rolha e um louco - Costa Gomes e Vasco Gonçalves…
E, pude assim ver-me no mato de Angola, quando uma delegação do MFA foi ao Lungué Bungo em 15 de Junho de 1974 negociar a cessação das hostilidades com a UNITA; Foi aqui que Portugal reconheceu a UNITA como movimento de libertação. E pude visulizar Savimbi a defender a transição de Angola para a sua independência em sete anos e dizendo preto no branco que angola não dispunha de quadros e, nem os movimentos estavam preparados para governar a curto prazo.
O nosso entre aspas, presidente Rolha Costa Gomes referiu então que: “Se fossem cinco já ficava contente. Até dois anos seria tão bom!”. Afinal quem prevaricou no pensamento? O matumbo pré-mwata da mata ou o Sua Excelência, o Rolha Presidente do M´Puto! Hoje tudo, mesmo tudo, pode virar verdade num milionésimo de segundo e logologo virar uma descarada mentira! Eu, T´Chingange, sempre o disse: é muito perigoso pensar!...
Mas, e, então aonde ficam os dez mandamentos!? Nós ficamos só assim, feitos sementes; numa obra dum acaso iludido assim como um imbondeiro de raízes ao ar. Sem nunca ter interpretado as intermitências da morte ou separação de duas febres sem arco-íris. Arco que por linhas tortas me é explicado por Deus, num espesso nevoeiro e aos soluços! Sempre! Bem que tudo o podia ser, bem mais claro, sem ter que puxar pela minha cachimónia de fundir a cuca!
Usukula mundué ú hima kujibha nzapá... Tradução: lavar a cabeça ao macaco é desperdiçar sabão! Mensagem: Por mais conselho que se dê ao tolo, jamais chegará a sábio! Aiué…
(Continua…)
O Soba T´Chingange - (Otchingandji)
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3499 – 07.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Estudioso ao jeito de ermitão, mergulho nas barrocas mais fundas do saber para interpretar sapiência, ensaiando-me no mundo em que habito. Eu, que nem quero lembrar que algures morri em Kaluquembe na Curva da Morte e, que por isso só choro, uma forma honrosa de pintar a tela de pintura do passado… Preocupando-me sim com a RAIZ que alimenta a árvore – Zeca, meu mano, diz que muito cavo para contar quantas são, as raízes, como se alimentam, se são ou não envenenadas por ervas daninhas que, sempre crescem do nada, fazendo secar veios de vida…
Estou a escrever bué de falas contendo o mel de ukamba, gelado de morango, cheiros aromáticos com mirra e alfazema e da madeira takula que cheira a chocolate com capim santo, também chamado de principe ou caxinde. Das terras deste maravilhoso mato, das vendas tascas, shop de João Miranda do Divundo e Shitemo e outras mais, aonde faziam pão amassado na noite, ao ritmo dos cantares da coruja e de muitas bichezas desconhecidas…
Vendas tabernas, mukifos ou shop´s com o chão muito cheio de farinha de fuba, varrida com sarravo de mateba e um chinguiço fazendo de cabo semi torto amarrado mesmo na própria casca mole; num paraíso verde com marulas e acácias de espinhos e vagens parecendo a fava rica que todos no M´puto conhecem por alfarroba… Como diria Zé Mamoero da Maianga sentir-me fascinado por pessoas extraordináris da qual jamais esquecerei por seu carinho boé, dado pela concha feita com suas mãos juntas, que recebi e empanturrei no meu muxima de contente - aiué.
Foi assim mesmo que reiniciamos aqueles tempos - TEMPOS PARA NÃO ESQUECER – Assim aconteceu: Sentados no alpendre da casa do Mukwé, totalmente feita em madeira, kibaba ou zazange das matas do Cubango, e ainda falando do século XX, olhando o mesmo rio Cubango (Okavango); rangíamos falas assim como o soalho feito com reforço de undianuno sentados em cadeiras de takula…
Recordar agora como se fosse anteontem, que o soba de Sambia de nome Palata de Massaca foi dado por consentimento o nome de D. António Maria de Fontes Pereira de Mello, que, ao soba do Aimalua do Cuangar foi dado o nome de D. Luís Bondoso Pinto Ribeiro e Montes Claros e, ao N´Hangau do Dirico que ficou a chamar-se D. Afonso Enriques de Aljobarrota Atoleiros e Valverde. Parece mentira mas, é verdade! Acho até que andaram a gozar com o futuro – Nós…
Ao sabor de um café colhido, secado, torrado e moído no local, T´Chinange, João Miranda e Oliveira do Mucusso, conversávamos sobre a terra da qual fomos obrigados a abandonar. Os três, eramos da mesma opinião: Muitos dos “libertadores de 75” os mwangolés de hoje, sonhavam com a casa, o lugar de director, o carro, os privilégios e as posições dos colonos, até alguns que so vendiam peixe frito ou carne seca lá no mato, talqualmete!
Podem até dizer outras coisas mas, o tempo assim como o azeite em água, trás a verdade ao de cima. E aqui, longe no tempo, lembrávamos sim, o passado para que no futuro não só chovessem inverdades, manobras e coisas ruins que sempre teimam subrair as versões fidedignas. A conversa começava de novo a animar retirando de cada qual as verdades situadas nas ranhuras do cerebelo, tal e qual como o poejo cresce entres as fissuras dum chão cimentado…
Assim, ouço e falo cativo, vestido com os meus panos, agarrado aos búzios, amuletos, à undenge ami mu moamba, desse antigo lugar – Mayanga da Luua ai-iu-é, no uuabuama chão colonial, hoje independente, chão Angolano. kuatiça o Ngoma! Assim os ouço ao longe, ao perto, no apeto, consolando muxima ami, que velozmente envelhece, que ainda dá batidas ora, leves, ora fortes do atu, no seu Kimbundu. Malembelembe ainda tece esteiras, missangas, planta flores coloridas no quintal iguais ao jardim da Dona Elisabete no lugar de Shitemo com capim caxinde debaixo de tamarindo…
GLOSSÁRIO: Kituku - mistério; Kúkia – sol nascente; Ndandu – parente; N´dongu - canoa; Ngana NZambi - Senhor, Deus; Malembelembe - muito devagar, com cautela; Undenge ami um moamba - minha infância de moamba; Uuabuama – maravilhoso; Kuatiça o ngoma! – Toquem os tambores……
(Continua…)
O Soba T´Chingange
O mito do Orçamento
- As teorias da VITIMOLOGIA, DA MENTIRA E DA RECIPROCIDADE, sempre formulam um discurso sem substância…
Crónica 3498 – 06.10.2023
Por: T'Chingange (Otchingandji) na Lagoa do M´Puto
No Mundo, tudo está ficando muito igual no trato da mentira e, em uma qualquer vez, numa nova vez, sempre se lhe juntarão formas diversificadas nos diferenciados edecéteras. Num repente estratégico ela, a mentira passa a ser um mito enfiado na logística como se o fosse um tema de crédito saldado duma banal excentricidade.
Tal como as contas certas, a mentira na sua voracidade, encaixa sem esforço num novo orçamento, assim haja taxas suficientes – simples! Amarfanhados, os mitos sempre ficarão na mesma sacola do pão que sem o fermento certo e ajustado, se tornará pedra ao segundo ou terceiro dia. Pouco a pouco nos habituaremos à mentira tal como ao pão rijo do qual sempre se poderá fazer umas sopas de leite ou uma açorda.
Aqui no M´Puto, pela sobrevivência, até nos mitos somos verdadeiramente pobres. E o mito “socialista” ficará no saco misturado com as côdeas de ambição que ao jeito de partido-estado nos forçam na falsa suavidade feita lei. Os PALOP`s estão também cheios destes mitos: em Angola tomam o nome de “gasosa”, no Brasil o mito dos “sesta básica” e aqui “salário miserabilista”.
Em psicologia social, reciprocidade refere-se a responder uma acção positiva com outra acção positiva, e responder uma acção negativa com outra negativa. Acções recíprocas positivas diferenciam-se de acções altruístas visto que ocorrem somente como decorrência de outras acções positivas e diferenciam-se de uma dádiva social.
A sociedade torna-se assim em uma bolha vitimista, que a ser retratada fica sujeita a um PRR - O tão propalado Plano de Recuperação e Resiliência, um programa de aplicação nacional, com um período de execução até 2026 e que visará implementar um conjunto de reformas e investimentos destinados a repor o crescimento económico sustentado! Assim o dizem.
O objectivo de convergência do M´Puto com a restante Europa, ao longo da próxima década, permanentemente revogados, tornar-se-ão nesse mistério de queixa das gentes que convém desmistificar para bem da sociedade. O valor de ordens que sustentam a sociedade, é uma realidade objectiva criada pelas leis da natureza em que na igualdade das pessoas, sempre aparecerão algumas mais iguais. Tenho a certeza!
O factor pobre e rico, não tem de ser aqui evidenciados porque assim o dizem: O povo é um todo. Há sim outros indicadores que recaem sobre os líderes que concederão a seu belo prazer a esperança ou expectativa de sempre, darem respostas positivas futuras a seus pares, compadres e a costumeira corrupção, já tão vivenciada na partidocracia ou psocracia…
Lembrarei aqui os dizeres de um amigo chamado de José Canhoto: “Uma traça invisível corrói a minha mente fazendo-me perguntas às quais não sei responder porque para as respostas às verdades com as quais sou questionado não as tenho, e as poucas que conheço são relativas. O paraíso celestial não existe é uma ilusão, e quando alguém o atinge é sempre na terra e por breves momentos, e não depois de morto”. Mais diz:” Há alturas em que não me importo que me roubem o mundo desde que me deixem saborear a viver o momento”.,,
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3481 – 05.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - Em Maun Rest Camp, cidade de Maun no Delta do Okavango…
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Aqui andamos remendando longos silêncios remoídos na sustentação das mentiras ou verdades sobre africanos, sua terra e sua origem, gente com gestores, chefes sofríveis por desclasificados; como entender tudo numa longínqua aridez de secura politica, geográfica e climática, um investimento de leveza desocupada, fazendo nada ou parecendo nada fazer, subsidiada pelo G7. Os cadernos coloniais referem que nestas suas correrias e naquele tempo de descobertas, estes, vendiam ao desbarato dentes de elefantes, borracha, escravos e mel.
Recordar que o major de infantaria, o sertanejo Alexandre de Serpa Pinto, realizou a viagem de Luanda ao Natal, em 1879; que também, os oficiais de marinha Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, em 1885 exploraram todo o sertão de Moçâmedes a Quelimane, num percurso de 4.500 milhas no intuito de ligar Benguela de Angola à Beira de Moçambique passando por Tete às margens do rio Zambeze e, terminando ali às margens do Oceano Indico.
Estas viagens causaram a admiração da Europa e glorificaram o nome de Portugal mas… Mas, tem sempre um mas! Naquele tempo havia um Inglês que dizia que aquilo era tudo dele – do país dele chamado de Reino Unido; chamava-se Cecil Rodes e este, pretendia fazer uma linha de caminho-de-ferro desde a Cidade do Cabo nas terras descritas pelos portugueses como do Adamastor ou das Tormenta até ao Cairo no Egipto.
Pois este, não fez, nem deixou fazer. Um imbróglio que mete o tal mapa Cor-de-Rosa que nunca desabrochou como flor. E, tudo apenas para numa farsa diplomática cortar o mapa Tuga a meio... Sabemos desde esses tempos idos que este "rail" chega à Tanzânia mas, diga-se que mais depressa chegaram os portugueses com o CFB (Caminho de Ferro de Benguela) à fronteira do Zaire no rio Luau (antiga Republica Popular do Congo)...
Em terras do fim do mundo, no Botswana, convêm relembrar que os aborigenes habitantes ancestrais, foram os bosquimanos (bushmens), khoisans, caçadores-recolectores que se espalharam pelo grande Kalahári e Karo. Em uma outra minha viágem anterior, tive oportunidade de observar estes indígenas errantes no seu meio natural. Foi no Kalahári Gemsbok National Park entre Twee Rivieren e Bokspits, um lugar ermo, divisão de fronteira, picada em mulola de um rio seco aonde só corre água quando chove: paramos ali para fornecer água a esses pequenos seres de tês parda, secos de carnes, vestindo pequena tanga tapa-rabos. Andava então à procura do caracal – um gato grande com as orelhas empinadas, que acabamos por avistar.
Deslocavam-se em pequenos grupos com algumas lanças, apetrechos simples aonde as mulheres se distinguiam por levar ornamentos na forma de zingarelhos nos artelhos. Enchemos suas cabaças entre linguajar de estalidos do geito de makankala misturados com sopros de suspirose aspirações gututrais do qual nada entendemos.
As mulheres levavam corotos, imbambas de cozinha e trastes envoltos num saco em cabedal que era suportado nas costas por uma tira que se ajustava à testa. Agradou-me ver as várias etnias, brancos, negros e mestiços, muçulmanos e cristãos, laborarem o progresso sem tumulto. Ao invés disto, em Angola a gadanha da morte feito catana, para muitos e, para vergonha de Portugal, coisas manobradas por capitães de aviário em uma abrilada enviesada, felizmente, não chegou aqui ao país Botswana.
Admirei-me até, nesse então, ver organogramas, gráficos que representam a estrutura formal do governo, com algumas caras brancas, coisa que a propósito foi posta de lado em Angola, terra dum Tundamunjila vergonhoso chamado indevidamente de descolonização; Ali, em Angola, a maldade, chegou antes do tempo. Por isso a necessidade de filosofar falas, porque no consciente do povo subjugado – NóS - fica a repulsa, nojo, repugnância e asco de governantes que se perpetuaram imerecidamente no poder do M´Puto…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3474 – 27.08.2023 - Foi no ano de 1999
- Escritos boligrafados da minha mochila - dois himbas fotografavam a morte da minha infância…
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Ainda nas margens do rio Cunene, para lá da picada pedregosa, sentados em penedo elevado, com uma expressão de circunstância infantil sorriam com naturalidade ao meu espanto. Eu, um turista t´chindere, nas terras do fim-do-mundo a ser fotografado por pastores hereros de tanga. Aqui há coisa! Estou a ficar chanfrado! Passado dos carretos! Háka. Himbas - cafecos do kunene.
Pressentia-se vagamente o aparecer da tarde aonde a calma esmorecia um pouco a sombra dos troncos retorcidos de embondeiro alongando-se pela terra gretada e poeirenta. No horizonte desenhavam-se seios erectos reluzindo fogo entre pedregulhos de onde nasciam cactos em forma de candelabros. O silêncio da planura ondulava uma aprovada expectativa impassível, estirando labaredas num céu incendiando o horizonte.
As narinas arfavam nervosamente o suave cheiro de capim que de pontas viradas ao céu davam término em abrupta falésia; lá em baixo, na margem fustigada pelas ondas de águas rápidas farfalhavam mornices de verão pisoteadas por “nemas” chifrudas em movimentos leves, até graciosos. Era o rio Cunene.
Naquele instante e depois – em todos os instantes, sentia que me afastavam de tudo de quanto amava, e chorei disfarçadamente como se nunca mais ali voltasse. Dissimuladamente, limpava-me assim, como se finge limpar o suor. De novo e agora, a nostalgia das terras do fim-do-mundo transcenderam no tempo fantasmagórico longos bocejos feitos admiração.
A partir dali iria passar por Fiume – um pedaço de estado livre, depois o “Epupa Falls do Okavango em Sepupa)” já no Botswana mais o Delta do Okavango. O rio Cubango ou Okavango que em seu curso, passou a a desbravar aventuras ora seguindo mansamente, ora rápidamente entre desenhadas figuras em rochas com espuma branca e, mais longe não pude ir, nem voar
Faltava um todo o terreno ou um ultra leve para prosseguir a ver as quedas feitas rápidos, deslumbrantes deste rio que vai para o Delta. Demasiado descuidado no agora, tempo de regenerações, usando pensos higiénicos fosforescentes dando bufadelas coloridas como os carroceiros boéres mais a sul; dos hábitos quase secretos que só eu mesmo abençoo entre as porcarias pálidas que se evaporam nas notícias mentirosas poluidoras do Mundo.
Não se deve abandonar o nada de que se goste, e por amor amarrámo-nos às coisas da natureza como se ama alguém que nos é querido. Naquela universidade ou diversidade, aprendemos que as plantas comunicam entre si, por isso o elefante tem de andar muito, e contra o vento para que a coisa apetitosa, deixe de o ser.
Eu explico: - As plantas saborosas ao elefante são devastadas até ao extermínio e estas por feromonas lançadas ao vento, avisam as demais da mesma espécie que rápidamente passam a ter um sabor desagradável, expelindo ou misturando na sua seiva fluidos repugnantes ao sabor; o paquiderme “Jamba” predador, tem assim de contornar a selva ocupando um grande espaço da mata. E. fiquei a saber da importância que tem o salalé na limpeza da floresta eliminando troncos e folhas em decomposição, criando nutrientes para outras espécies se desenvolverem com mais pujança.
(Continua)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3473 – 26.08.2023 - Foi no ano de 1999
- Escritos boligrafados da minha mochila - Aquele Bóere* das batatas do Vaal deveria ter mesmo olhos nos pés!
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Aqui há diamantes? Perguntei à suricata empinada numa pequena elevação que nada me disse, pudera! Sem se importar com essa brilhante pedra que ofusca gentes, fugiu para um dos muitos buracos ali espalhados; terra fresca denotando trabalho árduo para assim se refrescar daquele calor tórrido; calor que chega a ir a mais de cinquenta graus no pico do verão. Coisa para se dizer, Pópilas!
Pois aqui, damo-nos conta de que afinal, sempre há povos a descrever teorias ou filosofias novas clareadas por meio de metáforas que a natureza lhes ensina. Aquela de os pés dos bóeres têm olhos vuzumunava minha kuca com lantejoulas rupestes. Nestes espaços abertos dissociamo-nos dos conflitos sociais; das metáforas criadas pelo homem a justificar coisas sempre compreendidas numa forma de agradar.
As artes criativas dos homens continuarão a florescer com brilhantes expressões saídas da imaginação; novos níveis de conflito ou sedução e, porque a arte por vezes é a mentira a nos mostrar a verdade. Ué… Lembrei-me do professor Souares, um espiritualista com manias de mwata a enfeitar minha testa com unguentos de salsaparrilha e xixi de guaxinim fedorento, tentando resolver meus problemas de mau-olhado.
Este eterno conflito foi-nos legado pela inteligência que tende a evoluir no tumulto com velhas ou novas criticas - velhas teses ou teorias diferentes deste mwata Kimbanda da mututa que me quer desfrisar uns kumbús como assim, na saúde, na doença e o escambau… Um teste de vida de tendência evolutiva legada por Deus, porque pensar o contrário disto, será decerto uma imperdoável heresia. Nos vínculos efectivos do antes, agora, depois e, enquanto gente, vamos rever humanidades antigas de quando passamos de animais quadrupedes a pessoas com mais de 600 centímetros cúbicos de capacidade craniana. Se agora temos 1.500 centímetros cúbicos de capacidade, tudo leva em crer que no futuro, nossas cabeças serão tão grandes que só se nascera de operação cesária.
Este problema sempre presente e cada vez mais remanescente, não reside na natureza nem na existência de Deus mas, nas origens biológicas que pela mente cataloga o auge evolutivo na biosfera. Poderá dizer-se nesta pequena imagem de vida real que cada homem está por assim dizer num estreito nicho como numa burocracia de curral. A parede deste nicho esmaga-nos individualmente a personalidade levando-nos a não poder extravasar nossa euforia como se fossemos bois confinados só a mugir até serem defuntados com um urro levado na ponta dum facão. Por ali, entre os khoisans, busquimanos, que se saiba, nunca andou sequer um profeta escrevendo na areia qualquer mandamento…
As nossas atitudes em relação às coisas, reflectem critérios de valor fundamentais tornando a relação homem-coisa em algo cada vez mais transitório. Se eu fosse professor catedrático teria de vasculhar os termos para não falar tão fora dos parâmetros convencionais. A ideia de usar um produto-coisa uma única vez ou durante um curto espaço de tempo, substitui-lo ou deitá-lo ao lixo, contraria a sociedade ou os indivíduos com uma herança de pobreza.
As gentes do meu tempo, septuagenárias, que nasceram antes da invenção do plástico e do aparecimento do transistor, muito antes de haver computadores e inteligência artificial e ajuda dos algoritmos, não estão tão habituadas a produtos de utilizar e deitar fora; até conservam seus casamentos para lá dos cinquenta ou mais anos; preferem reciclar a vontade de fazer querer, em detrimento do só querer. Hodiernamente já nem vou a casamentos para não me sentir defraudado com a curta duração do umbigamento; quando muito, mando um pouco do meu laço de solidariedade com umas escassas centenas de kumbú para não o ser ovelha ranhosa na família…
Comecei esta em querer falar no homem das batatas da África do Sul mas tudo escorregou na ladeira mais fácil a fim de não perturbar as mentes, pois sempre ouvi dizer que a fé move montanhas. E, num lugar ermo como este do Calahári, aonde o estio é brutal, um homem semeou batatas no deserto e, porque acreditou em Seu Senhor, foi abençoado com toneladas de tubérculos. Contaram-me, vi até um filme que mostrava aquela arides. Ao seu redor havia descrença e a surpresa apanhou-os de boca aberta; Também eu fiquei confuso vendo tanta batata saída da terra. Terra que, com vento, só leventava pó. Este bóere do Vaal devia ter mesmo, olhos nos pés!
Bibliorafia: Bóere: Na África do Sul, os bôeres (africânderes) foram a base social principal do regime do apartheid, que durante muitas décadas vingou na África do Sul. Ao mesmo tempo, foram o grupo chave para o desenvolvimento económico da África do Sul e a posição de vantagem deste país na economia mundial… (Dados da Wikipédia…)
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3462 – 11.08.2023
- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha - Em Ondundozonanandana - Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Da tenda para o buraco de observação e, um céu carregado de estrelas que nos tremelicavam olhares, de entusiasmo, nem nos apercebemos. Era a tranquilidade da natureza envolta em muitas coisas a serem descobertas. Nos dias que se seguiram, percorremos as picadas assinaladas e, de forma a ver o maior número de animais, que íamos registando num prospecto.
O leão era sempre o mais procurado e, quando alguém os descobria assinalavam-nos aos demais colocando também um pionés (percevejo) no quadro-mapa (placard) da base Okaukuejo. Esta base era em verdade um buraco com água rodeado de disfarçadas bancadas aonde o visitante turista observava em segurança os animais da savana que ali iam beber.
É em verdade um conjunto de chalés e locais de campismo aonde os visitantes podem andar em segurança pois que está rodeado de duas fiadas de arame farpado e rede com corrente continua para os Big Five (Os quatro grandes animais) e qualquer um outro, que possa atacar o animal homem; É como se o fosse um galinheiro grande no meio de um deserto savana só que, neste caso eram os observadores (nós) que se mantinham encerrados entre as seis da tarde e as seis da manhã.
A adrenalina escorregava-nos a partir dos olhos, atentos a qualquer movimento ou montículo estranho no meio do capim. E, demos as voltas de Namotoni e Alali parando em um e outro para descansarmos, relaxando à sombra fresca das acácias, tomarmos um café ou comer-se qualquer coisa rápida porque, não havia tempo a perder.
Esta reserva do “ETOSHA PAN” foi há muitos anos atrás um lago abastecido pelas águas do rio Cunene que aqui as vazavam, trazidas do planalto central da Angola - à semelhança das águas do rio Cubango (Okavango) que desaguam no Delta do Botswana, um lago interior que também iremos visitar por terra e por ar. Por um acidente cósmico, o rio Cunene foi desviado do seu curso para o Oceano Atlântico.
Este antigo lago do Etoscha é agora uma das grandes reservas aonde se podem ver um grande número de espécimes, suplantando a meu ver, a Reserva do “kruguer Park” na África do Sul. Este é o melhor destino para quem quiser ver animais em quantidade e em curto espaço de tempo. É claro que temos o Quénia, N’Goro-Goro, Delta do Okavango, e muitas outras mais pequenas reservas mas, como o Etoscha não há igual.
Tínhamos ainda um longo percurso a percorrer em terras da Namíbia e, o nosso próximo destino era a casa do Mais Velho Miranda Khoisan e da Dona Elisabette (falecida recentemente – em 2023) na margem direita do Okavango no lugar do Shitemo. Sucede que a caminho do Rundu a maioria da tribo T´Chingas que era agora composta de Ricar Manhanga, Isabel Manhanga, Ibib - sobeta, Marco M´fumo Manhanga, todos decidiram variar o azimute ao rumo. Por vontade aplaudida do Soba, todos quiseram ir até às Quedas do Ruacaná em terras de gente Himba…
Com medo de estragarmos as recordações dum mar de areia fina já passado, movemos todos finas camadas de nostalgia ainda recente, adormecidas na memória fresca, de forma aleatória. Da muita coisa dum cada olhar de duna ondeando a nossa própria sombra como rugas conformadas com o tempo que não pára nunca. Ouvimos também, às vezes, estalidos numa estranha argola, as estrelas do nosso templo (nossa testa) e, a areia escorregando na ampulheta das nossas vidas…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA
- " DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3446 – 25.07.2023
- Verdade ficcionada
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Oshakati, ficava na direcção contrária à faixa de Kaprivi, uma faixa de linha recta saída do Divundo junto ao rio Cubango (Okavango) até o rio Zambeze com cerca de 405 km de comprimento e 30 km de largura. Tem a forma de frigideira e fica situada no nordeste da Namíbia formando as duas regiões namibianas denominadas de Kavango e Kaprivi.
Tinha indicações que havia um tal senhor Rocha que fugido do Sul de Angola ali se estabeleceu com um restaurante e uma fiada de casas térreas que eram alugadas a baixo custo a refugiados; foi para ali que me dirigi e aonde me refastelei com uma caldeirada de cabrito. Enquanto a família comia, uns quantos olheiros miravam e ouviam atentamente o que se passava entre nós; gente deslocada de Angola que vivia de expedientes e bufaria…
Rocha era ainda um rapaz novo; sentou-se em nossa mesa e conversamos um longo tempo, fruto da minha insistência na recolha de informações. Rocha falou abertamente do sonho em se fazer rico, construir um hotel em condições e negociar com diamantes quando lhe fosse possível. A empatia foi tal que não se coibiu de falar o que quer que fosse…
Aconselhou-me a ficar num dos quartos de Bicho da Ponte do Charuto (Estômbar do M´Puto) logo no fundo da rua, pois que ele estava com os alojamentos repletos de gente saída de Angola. Em África parece tudo ser perto pois que tudo se sabe; carências de notícias levam à união e a fraternidade dando a isto, uma característica única no mundo; Em nenhum lado do grande globo se encontra esta postura e este facto é a razão do porque, ninguém se esquece desses locais aonde a vida tem socalcos diferenciados assim como se estivéssemos num permanente mundo de Indiana Jones, coisa de cinema com senas a correr numa mina do tipo de kimberly …
Daqueles aromas, do som do mato, do chorar da hiena, do uivar do mabeco e até o cacarejar das capotas com o “tou-fraca, tou-fraca…” mais o por do sol atrás duns chinguiços, cassuneiras ressequidas e mato estéril. Rocha estava a par da odisseia de João Miranda do Mukwé e acabei por ouvir um pouco mais da sua fuga das terras do fim-do-mundo, zonas do Calai, Dírico e do Rundu: …
Quando Miranda chegou ao Mucusso e passou a fronteira para o Sudoeste Africano, as autoridades sul-africanas actuaram com rapidez. O comando Sul-africano do Rundu, enviou prontamente tropas para receber a família no Calai. A família Miranda estava salva. O comandante da polícia local, o inspector Erasmos, instalou os Miranda numa “guest house” do Governo, nesse tempo Namíbia, ainda estava debaixo da alçada Sul-africana.
Nessa mesma tarde apareceu o general Loots, reformado, combatente da II Guerra Mundial, acompanhado por um oficial português, madeirense, o tenente Silva. João Miranda foi entrevistado e no final informaram-no de que receberia no fim do mês um ordenado, relativo ao primeiro dia em que fugira de Angola. Para a Intelligence Sul-africana era de grande valor ter um homem que dominasse a fala por estalidos dos khoisan (bosquímanos), que fosse conhecedor da área e tivesse tido um agraciado valor militar – era o caso.
A família foi depois transferida para Grootfontein, já no interior norte da colónia, para maior protecção. - Julgo que é ali que eles estão agora! Afirmou Rocha. Com esta informação a minha odisseia teria outro rumo; Teria toda a noite para pensar como prosseguir no dia a seguir; agora iria à procura do senhor Bicho para me instalar. O Okavango seria nosso destino, Mukwé, não muito longe do Rundo cidade, eram os rumores mais aproximados de seu bivaque (“acampamento”) - Não seria assim tão difícil encontrar um comerciante branco junto ao rio Cubango…
(Continua…)
Glossário: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.
O Soba T´Chingange
CASSOALÁLA – ANGOLA - Outros tempos (1924)
Crónica 3439 – 18.07.2023 - HISTÓRIAS DA TZÉ-TZÉ . 1ª Parte
Tempos de quitanda e tipóia
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Arazede do M´Puto
Naquele dia de véspera natalícia o dia estava húmido em Coimbra do M´Puto. Busquei coisa não encontrada e, perdido o autocarro sete com destino ao Tovim, decidi-me já cansado a subir a ladeira; após a avenida da Republica, passo a Cruz de Celes e mais acima, não muito longe de Santo António dos Olivais o cheiro da Petisca de Celas tentou-me a entrar.
Petisca é uma das muitas casas de meio pasto, meio tasca, aonde se juntam uns quantos resistentes da vida; já velhotes, cruzam conhecimentos na conversa da palavra malamba. Serve de sedativo à vida, vida regada com um carrascão de Cabriz que, nem é mau.
Pedi um pratinho de arroz de sanchas (míscaros) com uma carne que desfiava em gostura e, sentei-me em frente daquele senhor; por falta de lugar solicitei àquele tal que aparentava ter uns quase setenta anos e, o faça o favor veio logo a seguir.
Estava desejoso de companhia. Não foi necessário muita conversa para logo me fazer a pergunta se, se tinha vindo de Angola. Talvez pela pronúncia ou a forma trópico-cordial da minha abordagem, assim começou o inesperado diálogo da qual é objecto desta escrita na forma de malambas (palavras). Este senhor tinha o nome de Conceição Muralha…
Muralha fala-me com paixão dos tempos em que no Lobito e, sendo despachante oficial, levava uma vida restingada naquela falsa ilha de que tanto se recordava e… que já o seu avô cronista de tempos idos falava. Eram tempos de tipóia, disse ele. Lá por volta de 1924 em terras de Benguela de onde era natural, o seu avô teve de ir em tipóia de Quipupa até Dombe Grande.
Na companhia de João Lara e, numa extensão de sete léguas, tiveram de atravessar o rio Caporolo aos ombros daqueles fortes mondombes; mondombes, diz em esclarecimento, eram os indígenas naturais do Dombe e, continuou recordando feitos! Feitos dele próprio, mas mais de seu avô que em missão oficial tinha ido a Angola no navio Pátria recolher informações de várias actividades - Um repórter da escrita, acentua!
- Quem foi o seu avô? Pergunto curioso, a fim de recolher mais dados sobre este tema. E, a isto respondeu: - Pedro Muralha!... E, se quiser, uma vez que o vejo tão interessado, posso ceder-lhe o livro que editou há setenta e oito anos. Deixe ver?! Isso mesmo, em 1935 nasci eu em Benguela, tinha o meu pai uns vinte anos mas isso, não importa para o caso. Fiquei curioso!
A.ROXO ... Quem diria!? Na normal ocorrência, um desvio na rota e eis que deparo com este inesperado encontro. A completar o senhor Conceição emprestou-me o dito livro, cópia que ele prezava em que todos tivessem conhecimento. Ainda não li aquelas crónicas todas mas alcançada a página 149, não resisto transcrever alguns trechos desta leitura que descreve na margem do Cuanza as ambiências duma Quitanda (mercado), os jacarés e a tzé-tzé…
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA
– Na piscina da Pajuçara, tive a companhia de uma tartaruga com bem um metro de diâmetro…
Crónica 3431 – 07.07.2023
PorT´Chingange (Otchingandji) – Na Lagoa do M´Puto
Em minha hidroginástica matinal na piscina da Pajuçara, tive a companhia de uma tartaruga com bem um metro de diâmetro, tomando em conta que sua cabeça que emergiu várias vezes, era do tamanho de um coco de meio porte. Foi a única parte de seu corpo que emergiu da água bastante turva. E, por a água estar turva, não deu para ver o corpo integral a uns escassos 4 metros. O turbilhão de ondas que batem no recife, tornam a água muito cheia de pequenas partículas que se soltam de entre as rochas dando a cor esverdeada à água.
A cabeça desta tartaruga parecia um camuflado castanho os quais se salientavam os olhos por serem grandes e luzidios. Este acontecimento deu-se em cinco dias alternados perfazendo nove aparições e sempre emitindo um som forte de aspiração de água ou o enchimento de seus pulmões – um sopro que me meteu medo pela primeira vez pois que estava sem pé na altura de água e também o foi novidade.
Entretanto chega o pescador de bicicleta andando na areia compactada de molhada e, por ali estacionou perto do meu local com o património do Conde do Grafanil, composto de uma cadeira inclinável e o chapéu-de-sol e chuva quando ela cai molhada; claro que também ali estavam meus chinelos de pé, a mochila, a flanela, a chave do mukifo - tudo tapado com a toalha mexicana. Chegado ali pelas 5 e 50 horas dou assim abertura à praia ainda deserta de chapéus e gente.
Por vezes cai um cacimbo que aqui tem o nome de garoa; nestes dias mais chuvosos esta chuva de molha-tolos dá algum desconforto mas não demora muito o sol desponta inchado de 27 ou 28 graus e, que em certos dias de verão pode mesmo ir até aos 32 graus. Quando a água está quase um espelho é muito agradável andar na água sem pé para lá e para cá ora fazendo de rã ora fazendo de jacaré e por vezes de hipopótamo. Assim e lentamente faço percorrer o chapéu branco com riscas verdes do Palmeiras Futebol Club treinado pelo português Abel Ferreira, ora indo para poente ora para nascente.
O pescador, senhor Zeverino do Jaraguá, entra na água com sua rede de cerco com os seus cem metros; assim enrolada dum certo jeito, espeta um pau comprido na areia que tem o início da rede e, andando com água acima do peito vai dispondo a rede paralelamente à borda água fechando-a mais à frente nesses tais cem metros. Vejo esta tarefa mais ao largo distinguindo a rede pelas bolas brancas de esferovite que proporcionam o boiar da rede. Do fundo os chumbos dispostos ao longo da mesma rede veda por assim dizer a zona do cerco.
A finalidade é fazer com que os peixes ali fiquem presos; para esse efeito Zeferino bate na água fazendo com que o peixe se enfie na rede; Não tem sido muito feliz nos dias que tenho observado sua tarefa e por vezes vêm caranguejos chamados de ciris. Mesmo que nada pesque, ginastica seu físico dando vida à sua hora extra. A operação de bater a água é feita simultaneamente com o fecho da rede de forma lenta e na forma circulada de caracol até que já junta é carregada aos ombros para a areia aonde com gestos certos a vai dispondo em monte sacudindo as alas e retirando o pescado quando o há.
Um Trabalho que nem sempre o é eficaz mas, que traduz a verdadeira lei da vida, mexer-se recolhendo o proveito e em simultâneo absorvendo a seda da água com o iodo matinal e a tal de vitamina D com outros sais que nem é necessário enumerar, ressarcindo vontades de resiliência na nata do batom branco das ondas que não muito longe batem nos recifes, formando uma linha branca que confrontar mais álem o horizonte com o azul escuro da água e o escuro azul do céu.
Lá pelas nove horas, com chapéus de todas as cores dispostos ao longo da praia desde a Ponta dos Corais até o Jaraguá com seu Porto Açucareiro, é a hora certa para regressar ao mukifo. É a partir das nove horas que chegam os vendedores ambulantes com panos galhardos de cor, redes, ostras no gelo, camarão ou skol fria – espigas de milho cozido, óculos de sol, bolas e bóias e toda a catrefada de coisas que se possam imaginar. A vida, não é assim tão fácil para estes camelós…
O Soba T´Chingange
O Mundo actual tornou-se um espaço complicado
- A teoria da VITIMOLOGIA - Vitimização pela cor é um discurso na contramão…
Crónica 3429 - a 20.06.2023
Por T'Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió (Nordeste do Brasil)
Em Kizomba-Diáspora-Angola, um grupo social do qual sou administrador, (página iniciada por mim já algum tempo), pude ler uma referência ao dia da CRIANÇA AFRICANA e, estranhando ser especificamente um outro dia, havendo já um DIA DA CRIANÇA – de todas as crianças, insurgi-me contra o facto de se diferenciar nos dias e nos géneros étnicos. Porque li: “Comemorado 15 dias depois do Dia Mundial da Criança, o Dia Internacional da Criança Africana chama-se a atenção para a realidade de milhares de crianças africanas que todos os dias são vítimas de violência, exploração e abuso.” - Este dia é celebrado a 16 de Junho já que foi neste dia, em 1976, que se registou o massacre do Soweto, em Joanesburgo, na África do Sul.
O meu chamamento foi assim descrito “Porquê haver um dia distinto para a criança africana!? Não basta o dia da criança - de toda a criança... A ser assim teríamos bem uns trezentos e cinquenta e um dias da criança. Posto isto, decidi fazer auscultação e pesquisa do assunto tão badalado nos dias que correm e, pude chegar à escrita que se segue.
As pesquisas de vitimização constituem um importante instrumento para estimar a prevalência da vitimização pelos chamados crimes tradicionais, de opinião, causa tendencial ou por influenciação tão em voga. E o papel da sua autocolocação em risco. Chamar a atenção para a necessidade de se atender às necessidades hipotéticas de supostas vítimas, por danos históricos, causas passadas ou por desvios padrão no comportamento social no intuito de obter benesses através de ressarcimento.
E, por sequência ter assistência psicológica, ficar em realce, ter melhor cotação para algo, criação de centros de atendimento com dinheiro públicos, ou outras, pondo em detrimento outras visões ou conceitos pré-formatados. Tudo apresentado por meio de um sistema de palavras postas de uma maneira lógica ou dedutiva, em que a pena ou dó, pode deturpar a natureza e causas pelo apelo sistemático à vitimização. Um tema do maior interesse social nos dias de hoje.
Vitimização pela cor é um discurso na contramão dos movimentos anti-racistas insurgindo-se de forma permanente e, recorrendo a vitimização por vezes fantasiosa, usando a cor da pele à falta de outro suporte como justificativa para a falta de oportunidade, entre muitas outras vertentes sociais para obter mais-valias.
Vitimização torna-se assim em uma bolha vitimista, que tem de ser retratada sem esse mistério de queixa que convém desmistificar para bem da sociedade. O valor de ordens que sustentam a sociedade, é uma realidade objectiva criada pelas leis da natureza em que na igualdade das pessoas, sempre aparecerão algumas mais iguais. O factor cor, não tem de ser aqui evidenciado. Há sim outros indicadores que recaem mais sobre os líderes de países africanos...”
Resta saber se efectivamente a UNICEF pactua com esta postura discriminatória porque pude ler: «««Todos os anos este dia* merece a atenção da UNICEF e de outras organizações mundiais que organizam eventos variados, tendo em vista a defesa dos direitos da criança em África e no mundo". In Google»»»
Nota* Pergunta-se: qual o dia?
O Soba T´Chingange
T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DA MENTIRA – Parte 2
TAP - TROIKA AÉREA PERNICIOSA - Mau-olhado
- Crónica 3428 – 19.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil
O valor de ordens que sustentam a sociedade, é uma realidade objectiva criada pelas leis da natureza em que na igualdade das pessoas, sempre haverá algumas mais iguais. Estes, dedicarão a maior parte de suas energias a explicar como verdadeira tal e qual como a estória da “Alice no país das maravilhas”, sem se limitarem ao espaço que temos à nossa disposição!
Seguindo o estudo académico do Professor Fernando G. Sampaio Reitor da Escola Superior de Geopolítica e Estratégia - Cidadão Emérito de Porto Alegre (Brasil) e, tendo chegado às falas com muitos “itens” dos quais já foram revelados lguns, pelo que continuamos com os restantes (alguns dos quais de forma abreviada) e, que se seguem: TEORIA DA MENTIRA (2001)…
Íten7. Portanto, a Mentira não e uma falsa opinião, nem um engano ou descuido ou questão de crença. Mentir, é um acto deliberado.
Íten8. Tanto é deliberado, que se pode mentir dizendo a verdade, contanto que se queira enganar o outro com o que esta sendo dito, pois, o essencial na questão é que a mentira seja levada sempre, no sentido de fazer crer, ao alvo da mentira, aquilo que se deseja para ele - o alvo
Ítem9. A mentira é, pois, muito ligada à noção de crença, daí derivando para a questão da formação da opinião.
Íten10. De onde concluímos que a mentira é destinada a criar um clima, na opinião pública ou geral que favoreça o emissor da mentira e, naturalmente, desfavoreça o alvo do emissor.
Íten11. A mentira deve, pois, criar um ambiente, que seja positivo para aqueles que se valem dela e isto implica em prejuízo ou derrota por parte dos que aceitam esta mentira.
Iten12. Voltando ao aspecto estratégico da questão da Mentira, vejamos o seguinte: se precisamos tomar decisões para traçar uma estratégia, é necessário que venhamos a obter as informações necessárias e corretas, para que possamos tomar as decisões acertadas. Caso contrário, nossa Estratégia fracassará.
Íten 12A. Eis, aí, a base onde se insere a utilidade da Mentira, para o adversário que resolve derrotar-nos: Sabemos que a nossa conduta é determinada, basicamente, por dois elementos: a) o nosso desejo; b) as informações que dispomos, para realizar o nosso desejo, o que nos leva ao seguinte esquema: desejo e informação conduz ao vector de conduta…
Íten13. Se um inimigo, adversário ou mesmo o próprio organizador das decisões estratégicas, não tiver acesso às informações básicas e corretas para a condução das operações (seja em que plano for, tanto suas operações militares quanto comerciais ou políticas), a sua conduta resultará inadequada e a sua estratégia falhará.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DA MENTIRA – Parte 1
TAP - TROIKA AÉREA PERNICIOSA - Mau-olhado
- Crónica 3426 – 17.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil
A mentira, usada na forma sofisticada de sonegar a informação, terá de se aceitar como uma nova corrente de democracia (inovadora’). Será?! Plastificando nossa mente, após conhecermos narrativas espantosamente dissimuladas, assim acaba por virar uma verdadeira revolução de indignação, Lá teremos de estudar esta genérica maneira de estar, socializante! No intuito de me inteirar de como as tricas podem bem suplantar as troikas, dei-me ao trabalho de pesquisar tudo o que é sabido acerca da mentira, seu uso e nuances adjacentes, sem sair do plausível em questão de “seriedade”.
Nesta balela costumeira e vezeira como se coisa vulgar o fosse, sairá decerto muito mal na teoria da ciniquisse (vocábulo novíssimo). Chego assim a dados credíveis em tese, de aceitar que, governar, é fazer crer, de acordo com a famosa frase atribuída a Maquiavel. Deste modo consultei via net o Professor Fernando G. Sampaio Reitor da Escola Superior de Geopolítica e Estratégia - Cidadão Emérito de Porto Alegre tendo chegado às falas com muitos “itens”, que se seguem: TEORIA DA MENTIRA (2001)…
Íten1. Governar é fazer crer, famosa frase atribuída a Maquiavel, que nos leva ao centro deste debate, que denominamos de Teoria da Mentira, no sentido em que a Mentira, como instrumento, possui o seu próprio corpo de normas, sua própria estruturação e metodologia, já experimentada, ao longo dos séculos, na arte de governar e, por extensão, na subversão dos governos e das instituições.
Íten2. O conhecimento da Teoria da Mentira é Estratégico. Julgamos fundamental ao estudioso da estratégia no conhecimento do funcionamento da Mentira, já que, não podemos basear nenhuma estratégia em falsidades, em erros, em inverdades, pois então, esta estratégia, estará definitivamente fadado ao fracasso.
Íten3. Por isto, estamos com o professor Robert A. Dahl, que em sua análise política afirmou que “pretender uma análise objectiva da política pressupõe que se dê valor à verdade... é preciso acreditar que vale a pena distinguir o verdadeiro do falso”.
Íten4. É justamente, então, que entra a Teoria da Mentira: o objectivo da mentira é impedir-nos de distinguir o verdadeiro do falso. É confundir, é iludir, é enganar e, assim, nos levar a tomar decisões erradas (para nós), mas que beneficiam quem criou e espalhou a mentira.
Íten5. A mentira é, portanto, arma valiosa no arsenal de qualquer beligerante ou assemelhado e serve, tanto para a guerra como classicamente entendida, como para a propaganda política podendo ter utilidade, assim, tanto no conflito externo como nas lutas políticas internas.
Íten6. O que é mentir? Por definição, a mentira é o discurso contrário à verdade, efectuado com o objectivo de enganar. Daí concluímos que o elaborador da mentira conhece a verdade e efectua deformações intencionais sobre o verdadeiro, para atingir o seu objectivo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL
– TROPEIROS
1ª Parte - Crónica 3425 – 16.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Dom José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal já no tempo de D. José I tinha feito uma leitura da situação do Portugal decadente e, fez saber da necessidade de se mudar a capital e a corte para o Brasil, de onde vinham os grandes recursos da balança comercial. O facto de a França estar numa viragem cultural e política, por via da revolução de 1789, que terminou com a realeza magnânimo e promíscua com a decapitação de Maria Antonieta e, mais tarde as invasões Napoleónicas, favoreceram a concretização da ida da corte, do ainda príncipe regente D. João VI, para o Brasil.
De forma apressada fizeram-se ao mar, com protecção da marinha Inglesa, um dia antes da chegada das forças francesas com o comando de Junot. Lisboa, a capital do Império, era uma beleza vista do rio Tejo mas, dentro das ruas e ruelas, o bafio e o mau cheiro era deprimente; pela noite atirava-se pelas janelas de Alfama, Mouraria e outros bairros, penicadas de dejectos humanos, urina ou águas saponáceas.
Foi neste quadro que, D. João VI, sua corte, nobres, algum clero, dependentes privilegiados, largaram do Tejo. As Musas e Ninfas, Tágides daquele rio deveriam estar muito ocupadas em um qualquer outro lugar; talvez andassem encavalitadas nos botos do Amazonas. O dia 27 de Novembro de 1807 naquele cais da Ribeira foi agitado; com as presas nem tudo se pode levar para bordo, as forças francesas já tinham passado a linha de Torres. Na viagem com tempestades, imundice, água estagnada, velas rasgadas, mastros podres, carne bolorenta e piolhos a viagem fez-se, até que a 7 de Março de 1808 no início da tarde, parte da esquadra do Príncipe Regente chega à baia de Guanabara no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, à semelhança de Lisboa, era deslumbrante com seus morros de escandalosa verdura e 60 000 habitantes, dos quais 13 000 eram escravos, os excrementos também aqui, corriam com água suja pelo meio da rua; também aqui se atirava tudo para essa sargeta, com porcos chafurdando e galinhas repenicando. Havia muitas crianças deambulando, pois naquele tempo só havia o coito interrompido como salvaguarda da linha zero; a era ”light”, o látex, o método tântrico e o sexo digital viriam muito mais tarde. Havia bostas largadas por bestas, cavalos e mulas dos muitos tropeiros almocreves.
Pois é destes almocreves tropeiros que ocuparei as falas seguintes. Tropeiro é o termo referido na historiografia brasileira à actividade relacionada com tropas de mulas criadas nos campos de elevada salinidade, terras planas do Rio Grande do Sul. Devido à salinidade estes pastos foram criadouro de manadas de mulas reservando os bons pastos para o outro gado dos quais se extraia leite, peles e a própria carne. Devido a existirem muitos burros xucros, termo para definir animais ainda selvagens, aproveitaram sua rusticidade para transportarem em seu dorso mercadorias. Em verdade também não havia vias e os charcos eram mais que muitos dificultando o uso de carroças.
As mulas xucras podiam percorrer cerca de dois mil quilómetros subindo e descendo encostas agrestes e suportando invernadas agressivas nos campos do Paraná. Saídos do Sul, chegavam a Sorocava, cidade situada perto de São Paulo, exércitos de tropeiros conduzindo suas mulas, concentrando-se naquela que era a maior feira a Sul do Brasil no início do século XIX. Os condutores destas tropas tinham uma dieta que consistia na própria carga que as mulas carregavam: carne-seca, charque, carne de sol, feijão e angu de milho, farinha de mandioca, café, açúcar e melaço deste, na forma de rapadura – produtos metidos em sacos de sisal para se ajustarem ao dorso das mulas cargueiras.
Calcula-se que cerca de vinte mil muares eram negociados anualmente nessa feira anual de Sorocava, havendo anotações de se transaccionarem 100 mil no ano de 1850. Dom Pedro II, neto de D. João VI, era neste então o imperador do Brasil, entre 1840 e 1889, período no qual o país passou por muitas transformações como a Guerra do Paraguai e a abolição do trabalho escravo. Da feira de Sorocava eram comercializadas milhares destes animais para o resto do Brasil e, li que na região de Jaguari de Minas Gerais foram importadas 12 mil destas “bestas”. Sem trem nem estradas, o recurso era adquirir estes animais para transportarem grandes cargas em longas distâncias.
As chamadas tropas eram compostas pelo condutor-chefe, companheiros, cozinheiros fazendo-se acompanhar por cães; estes eram usados para evitarem a dispersão das mulas xucras. Algumas destas mulas eram designadas de madrinhas, porque por hábito tornavam-se experientes na condução do restante lote de muares sendo dispostas de forma intercalada para melhor gestão da fila de pirilau de mulas, umas atrás das demais. Estas mulas eram normalmente enfeitadas com arreios de prata, guizos no peitoril e chapéu de plumas na cabeça. Talvez não o fossem em todo o percurso mas assim eram arreadas de bonitas para fazerem boa figura na feira.
(Continua)
O Soba T´Chingange
T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DO CINISMO
GALAMBICES - Mau-olhado - KAICÓ é gelo com açúcar!
KIBOM é um sorvete; BALEIZÃO era um gelado...
- Crónica 3424 – 15.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil
Karl Marx gostava de Kaicó! Com sua balalaika de vestir, referia-se ao “novo homem” que deveria emergir do triunfo da ideologia comunista. Isso aconteceria depois do triunfo histórico dos oprimidos sobre os opressores. Mas, que tem o Kaicó a ver com comunistas? É que eles também gostam do Olá e do KIBOM! A criação do novo homem, para Marx, era vista puramente em termos materialistas. O “novo homem e a nova sociedade” seriam possíveis apenas pela derrota do capitalismo. Os meios de produção como fábricas e terras, por exemplo, não deveriam ser propriedade de uma pessoa, mas de toda a sociedade .
Pois é! Alguns aproveitaram-se! Era o cinismo puro de quem vende água com açúcar consumindo-a só para fingir. É aqui que teremos de ir analisar essa forma de estar que não sendo nova, sempre engana. Há quatro razões de, porque os "cínicos" são assim chamados. Primeiro por causa da indiferença de seu modo de vida, pois fazem um culto à indiferença e, assim como os cães, comem e fazem amor em público, andam descalços e dormem em barris nas encruzilhadas.
A segunda razão é que o cão é um animal sem pudor, e os cínicos fazem um culto á falta de pudor, não como sendo falta de modéstia, mas como sendo superior a ela. A terceira razão é que o cão é um bom guarda e eles guardam os princípios de sua filosofia. A quarta razão é que o cão é um animal exigente que pode distinguir entre os seus amigos e inimigos. Portanto, eles reconhecem como amigos aqueles que são adequados à filosofia, e os recebem gentilmente, enquanto os inaptos são afugentados por ele, assim como os cães fazem, ladrando contra eles.
No marxismo, para se chegar ao “novo homem”, é imperativo que se transformem primeiro as condições externas dos oprimidos. A história, contudo, não está do lado da visão marxista do homem - Danou-se!? Então, para conhecer o cinismo ou ciniquismo (palavra nova), teremos de ir até Diógenes, o filósofo que se tornou um mendigo habitando nas ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; teria vivido num grande barril, um lugar de fingir ser uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto. Pópilas, afinal isto de se ser cínico já vem lá muito detrás.
Em cada lugar em que a revolução foi vitoriosa, quer na Rússia, na China ou em Cuba, o que se verificou não foi o surgimento do “novo homem" usando o cinismo até à exaustão, assim o surgimento do “novo opressor que curiosamente também gostam do KIBOM; chegou o Maduro à Venezuela, que curiosamente ou nem tanto, também gosta do Kaicó. Dizem os papalvos que com ele gravitam, que o mesmo é vítima de uma visão superficial do homem ocidental porque não levam em conta o verdadeiro pecado... E, o mundo começou com pecado, lembram-se! Só que ele, Maduro, moita-carrasco, finge que Cristo é um grande seu amigo para lá do molusco – O mundo vai-se calar de cansado e vamos, que vamos.
Soube-se que o Kibom, o Baleizão, o Kaicó naquele tempo não existiam para todos, porque o gelo era demasiado caro. Ele, o Diógenas continuou a buscar o ideal cínico da auto-suficiência, uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias da civilização. Até custa acreditar que naqueles tempos houvesse isso de civilização mas, fogo à peça: Por acreditar que a virtude era melhor revelada na acção e não na teoria, sua vida consistiu-se numa campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais, do que ele via como uma sociedade corrupta; custa até acreditar nestas versões que tudo indica, ser uma grande inventação.
O cinismo espalhou-se durante a ascensão do Império Romano no século I, tornando-se em um quase movimento de massas, e assim, os cínicos eram encontrados mendigando e pregando ao longo das cidades do império. A coisa pegou! Mas, a doutrina finalmente desapareceu no final do século V, embora alguns afirmem que o cristianismo primitivo adoptou muitas de suas ideias ascéticas e retóricas. Que falta nos faz o “se bem me lembro – Vitorino Amnésico”. A auto emancipação do marxismo falha porque espera, ao mesmo tempo, muito e muito pouco: muito do homem, que consistentemente transforma sua capacidade criativa em fins de poder e, isso revolta alguns! É porque alguns são mais iguais que outros, NOÉ!?
Assim, antes de sermos brancos ou negros, ricos ou pobres, educados ou sem estudo, somos criaturas que gostamos de Kaicó, de Olá, de Baleizão ou de KIBOM sem termos de ir à loja do povo pedir solicitudes! E, porque hoje é de feira amanhã forçosamente será uma outra feira!? Com ou sem comunistas, o tempo continuará, sabem! Elementar - Tomara que não chova, chuva molhada... Amanhã penso comer um KIBOM como se fora Baleizão... Mas, ir a Cuba - nunca mais!... Só mesmo a Cuba libre. Ser enganado uma vez, chega!
Resumo: CINISMO: É A FILOSOFIA A SERVIÇO DA ÉTICA BASEADA NAS ATITUDES
FUI…
O Soba T'Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – XICULULU DO M`PUTO
TEMPOS CÍNICOS – Crónica 3423 – 14.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Para os muçulmanos hodiernos, Fátima – a Santa, é a filha mais velha de Maomé. Isto, se não for cinismo, é quase uma heresia, um absurdo ou contra-senso. É assim como uma picada de alforreca, daquelas malignas, que deixam riscas para justificar que, a mortificação do corpo desta ou outra forma, foi originária de Deus para superar o espírito. Se nos abstrairmos de maldade, de gazes radioactivos do xénon ou crípton poderemos encontrar formas menos sofisticadas de sonegar alguma informação e, de uma vez, gerir o silêncio, o que nos levará a ficar com a mente plastificada.
Se não formos desta para melhor, uma contradição cínica, nunca encontrarei verisimilhanças com a verdade de uma morte não provocada nas características da nossa essência. Se as pessoas compreendessem que os direitos humanos só existem na imaginação, não haveria o perigo de a nossa sociedade colapsar, falir, desmoronar ou implodir…
Nós, gente, não possuímos direitos tão naturais quanto as aranhas, osgas, hienas ou elefantes; estaremos portanto sempre e, como gente, a correr o risco de colapsar – kiákiákiá, um faz-me rir. Pude ler mais ou menos deste jeito, no livro de Yuval Harari espicaçando minha veia erudita. E, porque dependemos de mitos, e os mitos ultrapassam-nos, quando as pessoas deixam de neles, acreditar. Não é interessante este cinismo?!
Uma vontade feita ordem imaginada, não pode ter sustentação se não tiver a existência de seguidores ou verdadeiros crentes. Sabemos que um só sacerdote, muitas vezes, realiza o trabalho de uma boa centena de soldados, quando no meio de uma guerra ou em mudanças de cariz social, se rebatem conceitos de princípios políticos.
Os juízes, os agentes policiais, soldados e carcereiros, não conseguem manter uma ordem em suas tarefas se seguirem essas mesmas ordens imaginadas, na qual não acreditam. Sendo assim, alguns ou muitos de nós, teremos de tomar como verdadeiras essas ordens, para que tudo não fique em suspenso de deixar prescrever a realidade e, até acreditar entre aspas que sim, pode haver alternativa a um plano só imaginado.
Se transpusermos estes principios para o nosso hodierno viver, no pequeno rectângulo chamado de Portugal, veremos que as actividades políticas de governo, de cai governo, de vamos ver como tudo fica, é quase como investir num mercado de acções, activismo de um verdadeiro cinismo porque o é antidemocrático e, de absoluto desprovimento de sentido. Chegados aqui vamos recordar o filósofo grego que fundou a escola cínica e que vivia metido numa pipa…
Ora, foi um tal de Diógenas que, visitado por Alexandre - o Grande, encontrou o mestre das falas relaxando ao Sol, bem no cimo de sua pipa. Engraçado! Alexandre, o Grande, perguntou o que podia fazer por e ele, Diógenes respondeu ao conquistador todo-poderoso -“ Sim, pode fazer algo por mim: - Por favor chegue-se um pouco para o lado, porque me tapa a luz do Sol”. Bem! Podemos transportar este cinismo colocando no lugar de Diógenes o nosso Primeiro-ministro Costa e como Alexandre o nosso presidente Marcelo R. Sousa.
Isto se, considerarmos a vivência actual em que verificamos que “nem o Estado morre, nem a gente almoça”. É por isso que os cínicos não constroem impérios e, será por isso que, uma ordem imaginada só pode ser mantida, se grandes segmentos da populaça, em especial da “elite socialista”, do actual “Estado de forças”, acreditassem verdadeiramente nela, a ordem imaginada. Só mesmo para concluir: O cristianismo não teria durado 2023 anos, se a maior parte dos bispos, padres e afins, não acreditassem em Cristo…
Nota: Diógenes de Sinope, conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia; um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Ele acreditava que a virtude, era melhor revelada na acção e não na teoria…
O Soba T´Chingange
FRINCHAS DO TEMPO – NO DIA DE CAMÕES
– Crónica 3422 – 13.06.2023
MINHA SINGULARIDADE POR UM DIA - “T´CHINGANGE”
Por T´Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió
Por um dia fui Camões! Posso explicar: O quinto Centenário da morte do Infante D. Henrique teve dez anos de festividades um pouco por todo o mundo da lusofonia que culminou a dois de Junho de 1960 o ano de seu falecimento, Foi neste ano que se instituiu a Ordem do Infante D. Henrique. Depois deste intróito relembro o ano de 1954, ano em que em Luanda, toda a mocidade estudantil do nível preparatório participou em sua comemoração na Escola Primária nº 8, junto à Liga Africana da Vila Alice. Creio que tinha os meus nove anos de idade e, quando a minha capital do Império era a MUTAMBA…
Teria os meus nove anos quando me escolheram para ser a figura principal do teatro escolar da Luua na Escola nº 8 da Vila Alice – a figura teatral era a do Infante Dom Henrique, o propulsor da navegação portuguesa. Estudava eu na Escola de Aplicação e Ensaios situada na rotunda de D, Afonso Henriques, situada bem em frente do Sindicato dos Metalúrgicos, início da Rua do Cazuno que ligava a Mutamba à Cidade Alta com o Palácio do Governador, passando pela Casa dos Rapazes; era também o início da Avenida Álvaro Ferreira, que passava mais acima pelo Cine Restauração e a Escola José Anchieta aonde estudou meu irmão Zé Kitunda e, tendo na parte posterior o belo jardim do Parque Heróis de Chaves. A mesma terminava no alto e de frente do Hospital Maria Pia
O Cine teatro Restauração passou a ser a Assembleia Nacional depois da independência a 11 d Novembro do ano de 1975. Bem perto ficava o Largo Serpa Pinto de onde saia uma rua que subindo, ia dar ao Liceu Salvador Correia, uma rampa bem acentuada e aonde os candengues da Maianga, iam fazer corridas de fórmula um de fingir em rodas de rolamentos. Esta Luanda antiga ainda só deveria ter uns 90.000 habitantes pois que todas as ruas da Maianga estavam por asfaltar desde o sinaleiro bem perto ao Colégio Moderno aonde também andei algum tempo.
Nesta escola ocorreu até então a maior concentração de alunos do ensino primário das escolas do distrito de Luanda da então Província Ultramarina de Angola. Sendo eu a figura de destaque em representação de Camões, tive de apresentar os vários cenários descritos na obra do maior poeta português. E, foram as cenas do Reino de Castela e de Leão, de Egas Moniz, do Adamastor com Bartolomeu Dias mais Vasco da Gama, da Índia e da Ilha dos Amores.
Os versos que já sabia de cor, fingia ler “As armas e os Varões assinalados, que da Ocidental praia Lusitana, por mares nunca dantes navegados, chegaram mais álem da Tapurbana”. O grande átrio da Escola nº 8, estava repleto de candengues de bata branca, batendo palmas, rindo e exercitando o conhecimento para lá dos horizontes da Mutamba. Posso ainda sentir o cheiro forte do grude da cola de marceneiro que colou ao meu rosto barbas e bigode, e também sentir o tecido branco de zuarte em foles, esticado com farinha de trigo e passado ao ferro de engomar; tecido teso que era a bonita coleira ondulada, que o poeta usava.
Involuntariamente, fui snifado com aquela cola que talvez evoluísse; contínuo sem saber se me alterou partículas dos músculos moles e, até do meu cerebelo. Ver o Tonito filho da Dona Arminda do Rio Seco da Maianga, vizinhos do Almeida das Vacas um antigo degredado colonial, naquele papel maior da história, era algo fora de previsão. Bom! Agora com os meus 78 anos de idade passo até recordar esse evento com um brilho no canto do olho. Ainda haverá gente por aí na diáspora que se lembrará desses idos tempos…
Nesse dia de festa, foi dado a cada um dos alunos assistentes ao teatro um saco de guloseimas e até houve distribuição de sapatos quedes, patrocínio de publicidade da fábrica Macambira. Gostava de usar estes quedes na gimnástica dada pelo Professor Montês na Escola Industrial de Luanda; em verdade sempre que se proporcionava, usava-os com agrado, pois eram leves e frescos.
E, porque pude ser lembrado por mais um dia das Comunidades, posso falar ao de leve o quanto senti ser desgarrado de uma terra que era minha e, só porque era filho de colonos idos pela Companhia Nacional de Navegação num barco de nome Mouzinho de Albuquerque e, também por ser branco fui quase obrigado a abandonar. Só ao de leve posso lembrar que anos mais tarde (1975), me ofertaram um bilhete de avião na ponte Luualix, só de ida para o M´Puto! Algo feio que os generais de aviário fizeram, numa visão tão contrária àquela epopeia de Camões. Não tinha de o ser assim, pois foi mau para quem foi e para quem ficou. Fui!
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL – QUILOMBOS
3ª Parte - Crónica 3421 – 12.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Nem sempre a relação entre quilombolas (moradores do quilombo) eram as melhores, dependendo muito do seu lí der ou do Concelho de Mais-Velhos que no d`jango (lapa grande) determinavam as leis ou regras. Por vezes havia contratempos com os escravos residentes de linhagem e, origem de parte diferentes, de onde eles, ou seus ancestrais, saíram.
Em geral, os quilombos possuíam economia própria e tinham algum sucesso no comércio de seus excedentes destacando-se destes o quilombo Moquim no norte fluminense entre outros espalhados pelo país em áreas de mineração a céu abeto, combinando com a agricultura de subsistência o garimpo de pedras preciosas e ouro. Entre estes e as sanzalas próximas, surgiam vendeiros e taberneiros dando aos quilombos melhor condição de fixação de vida.
Muitos quilombos do Maranhão envolveram-se em agitações políticas entre a população livre que, após a independência entre 1838 e 1841 foram intensas, designando-se na história com o nome de Balaiadas. Mais a norte de São Luiz do Maranhão, grupos de quilombolas organizaram-se em comunidades camponesas construindo sua memória com identidade protegidos pela imensidão das matas atlântica e amazónica.
E, sempre no sentido Norte, estenderam sua influência e organização aos quilombos vizinhos do vizinho território de Suriname e outros centros urbanos dispostos ao longo da costa marítima com uma forte interferência de índios indígenas com os quais se miscigenaram. A partir da metade do século XIX, estes grupos tomaram cada vez mais um carácter reivindicativo, reunindo escravos de uma mesma fazenda, negociando directamente as condições de cativeiro.
Como uma associação de Mais-Velhos, discutiam sua progressiva liberdade com o senhor “coronel”- o dono do sítio, ou um outro posto de mando social á revelia das instituições governamentais. Em outos casos os quilombos, passaram a desafiar a legitimidade da ordem esclavagista forçando os representantes da autoridade a alterarem os propósitos ou procedimentos que até aí não eram contestados.
Neste contexto as insurreições escravas, assessoradas pelos quilombolas forjavam técnicas de fuga colectiva quando a negociações ficavam emperradas; Manuel Congo, foi um dos líderes escravos que montava novas estratégias de fuga através das matas circundantes próximo ao lugar de Vassouras no vale da Paraíba – actual estado com a capital em João Pessoa. Em 1867 em Vianna do Maranhão, quilombos, desceram do morro para agitar a escravidão das sanzalas, exigindo a abolição na sua forma mais simples de soltura.
Na repressão aos quilombos actuavam milhares de capitães-do-mato (capatazes de fazenda), e a maior parte de efectivos policiais com ou sem volantes, das vilas e cidades de todo o Brasil. Os capitães-do-mato usavam cães de fila para perseguir fugitivos e, eram-no muito eficazes pelo faro, pelo porte e pela fúria. O quilombo de Vila Matias em Santos, liderado por Pai Filipe, sobressaiu em seu movimento abolicionista paulista tonando-se peça fundamental nas estratégias de soltura no eixo São Paulo - Santos. O quilombo urbano de Jabaquara situado em plena Cidade de Santos, foi símbolo maior pelas alianças assumidas entre escravos e movimentos abolicionistas tendo um forte peso no término de escravidão em todo o Brasil.
FIM
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – XICULULU ANTIGO
TEMPOS CUSPILHADAS – Crónica 3420 – 11.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
NÃO SIRVAS A QUEM SERVIU, NEM PEÇAS A QUEM PEDIU - Diz a Lei de Murphy "Se alguma coisa pode dar errado, assim o será!" - Se usarmos a analogia de Darwin pela “Selecção Natural” para definir sociologicamente a humanidade, constatamos de que, os mais ricos ou fisicamente mais bem constituídos estarão sempre em melhor posição para sobreviver ou vencer, em detrimento dos mais pobres, débeis, vulneráveis ou impreparados. Os experientes e instruídos vencerão sempre os seus oponentes menos municiados intelectualmente nos desafios que a vida tiver para oferecer, quando estes se candidatarem a testes selectivos ou psicotécnicos.
As pessoas que já nasceram vencidos, vergados pelo infortúnio ou por e via de sua incapacidade financeira, tibieza ou destreza, tornam-se presas fáceis de exploradores e oportunistas. A grande maioria do mercado de trabalho tecnologicamente não qualificado, contenta-se com profissionais de segunda ou terceira. Não existem segredos de vida escritos em compêndios ou cartilhas em que se aprenda como sobreviver neste mundo cão.
O ideal será que cada um satisfizesse as suas necessidades independentemente das suas habilitações. Mesmo estes, em um lado qualquer do globo, encontrarão quem os sugue de forma desmesurada, não lhe dando acesso ou recursos para passar de certos limites, tornando-os permanentemente dependentes. Salvo raras excepções o destino destes temerosos, será sempre o de serem empregados dos outros…
Contrariamente às leis da natureza que ilusoriamente nos fazem acreditar porque nascidos pelo mesmo local, nossas vivências e destinos serão igualitários. Assim não é! Assim não o será! Nada poderia ser mais falso quando os dogmas são imbuídos na ilusão dum universo restrito no conceito dum Deus. Alguns eleitos terão o condão de viverem rodeados dum luxo que o dinheiro pode comprar. Alguns mais corajosos ainda terão o atrevimento, ousadia e a veleidade de pensarem que reúnem as condições para se aventurarem a fazer alpinismo social sem umas cordas na forma de cunhas.
A grande maioria fica-se pelo caminho, vencidos e desencorajados, pois os trilhos estão minados com engodos: ou me serves ou…. E, aqui a frase fica sempre camuflada num muxoxo (uma exclamação de bater com a língua no palato…) incompleto. Alguns muito bem preparados psicologicamente conseguem heróica e atrevidamente chegar ao topo mas nunca serão aceites pelas elites que falam ou parecem ter um Deus exclusivo…
O único factor que mantem o equilíbrio mundial, impede revoltas e que as massas trabalhadoras se apoderem das riquezas que elas próprias geram para enriquecer terceiros, é a ESPERANÇA de que as sociedades por moto próprio se tornem reformistas, humanitárias, fraternas, solidárias e igualitárias. Normalmente vão dar-se mal com esse hipotético socialismo! É que isso, não existe!….
E, como ninguém enriquece apenas pelo suor do seu rosto e fruto do seu trabalho, só existem três formas de chegar a esse desiderato, ou pela exploração do trabalho de terceiros pagando-lhes ordenados miserabilistas, de forma fraudulenta, por meios ilícito, ou através de um golpe de sorte acertando no totobola, lotaria, raspadinha ou euro milhões. Há sim, um outro meio: - Entrar na política…
Todos querem ser ricos; assim, foi inteligentemente criado por estes que “a riqueza não traz felicidade”. Na mente dos pobres ou remediados existe a triste ilusão de que um dia a sorte lhes baterá á porta e que também poderão comer caviar, faisão ou lagosta, regando as suas opíparas refeições com champanhe D. Peringnon. Sim! Que até podem comer picanha todos os dias da semana… Na labuta fora de seus países como emigrantes, irão regressar á Terra Prometida um dia e à medida que envelhece dá-se conta das leis! Das leis imutáveis pelas quais o mundo está organizado e construído que, são apenas duas, ou se nasce rico ou pobre, uns mandam e fazem as leis, outros obedecem e cumprem-nas. O ser-se criado de quem já serviu não se augura em um bom fim. O seu, a seu dono! Fui…
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “MILAGRANDO A VIDA”
TEMPOS CUSPILHADAS – Crónica 3419 – 10.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
A felicidade, a realidade do conhecimento, os fundamentos e a aplicação da justiça ou existência de Deus, cria conflitos intermináveis em opiniões na tentativa de se ultimarem todos os impasses. Uns, por virtude de inteligência, são prudentes, outros acreditam na resolução pela força e, outros sempre continuarão fanáticos desconhecendo a propósito, o lado da opção certa.
Agora mesmo ocorreu-me aquela estória de uma tal senhora estar a ser infiel ao marido; eles eram sim, casados de papel passado e no regime de adquiridos. Comentava-se que o marido sabia mas fingia não saber! Ora, ora, diz um comum amigo perante isto: “Cornos que dão de comer - deixá-los crescer”. Cismando nisto, até acabo por concordar que há gente bem metafórica. Vejo até neste acaso uma quase parábola certeiríssima – que serve como uma luva…
Achei assim que neste contexto, a paródia quase parábola é tão verdadeira que se pode aplicar a muitos outros casos, como fonte de razão. O modo como tudo fundamentamos, como construímos a imagem, contribuirá para se ver o mundo na perfeita razoabilidade em assim se viver no engano. Neste correr de ideias que coamos em nossos comportamentos “chifrudos”, não nos damos conta no quanto somos servis à opinião na forma de narrativas …
Quantas e quantas vezes, ficamos por dizer o que nos apraz para não contrariar a opinião de alguém a quem temos respeito, amizade ou simples obediência. Na maioria das vezes somos susceptíveis a abrir mãos de nossa própria vontade, vivência ou juízo de valor baseado num ponto de vista pessoal ou subjectivo, em troca de reproduzir um quadro geral de imagens, dizeres ou esquemas que consideramos insuportáveis; uma plausível explicação da realidade que pode ser física, social, histórica mas e, principalmente da realidade política.
Posso jurar que tenho procurado ser o mais frontal mas, sempre evito machucar por subestimação quem pensa de forma diferente; a propósito, mudo o rumo da conversa optando por defraudar minha opinião para não desjustificar-me na convicção. Não raras vezes, me surpreendo procurando leituras que me justifiquem, sem usar um método de falsidade.
Critico-me muitas vezes e até procuro investigar-me da justeza, pelo surgimento duma qualquer ideia que me circunscreve. Talvez por isso, nem sempre consiga manter o brilho com o certo vigor na formulação desse sentido, o que nos descapacita pela mordaça. Quantas e quantas pessoas se portam assim e, por isso aqui transcrevo só para que conste porque daqui não virá mal á nação.
Para que conste e a bem da nação, era como se dizia antigamente, no tempo em que empenhavam as barbas pelo uso das palavras. Claro que me perturba analisar as raízes da mentira que tantos repetem até que pela força, se torne verdade – uma pura alquimia de falácia. Isto de assim viver sem tumulto, não é fácil; a tarefa de explicar os fundamentos de algumas visões no mundo, cada vez se torna mais difícil.
Mais difícil e, que nos obriga a construir uma ou mais narrativas por forma a nos ajudar a evitar replicar outras opiniões, que sabemos de antemão o serem verdades inequívocas. É demasiado enfadonho encolher ombros como um deixa andar, animado de voluntariedade na espontaneidade do pensamento, todo e qualquer frescor de concepção. Deve ser tarde para mudar!
Ilutrações aleatórias de Assunção Roxo...
O Soba T´Chingange
A NUDEZ DA VIDA – COISA APÓCRIFAS E PEIAS DE SISAL
“Somos uma sopa nutritiva…”
Crónica 3415 – 06.06.2023 na Pajuçara de Maceió - Brasil
Por:T'Chingange – (Otchingandji)
Na era tecnocientífica dos nómadas digitais e inteligência artificial, com a robótica e o tal de 5G, a liberdade adquiriu um novo sentido à semelhança de um adulto emergindo da infância fumada com papel de celofane, embrulhando barbas de milho de fingir cigarros fumados por adultos; agora há sim uma gama de escolha muito mais ampla de todos os produtos imaginados, assim o seja esses tais de cigarros electrónicos que devem matar mais que os normais. Sendo assim, temos um número maior de utentes e intervenientes, seja na admiração, seja no compartilhamento de risos e responsabilidades.
Nada demonstra que nos tenha sido atribuído um destino ou um propósito especial, ou que nos tenha sido outorgado uma segunda vida depois de terminada a que presentemente, cada qual, vive. Por uma qualquer razão, uns cientistas dizem que fomos criados não por uma inteligência sobrenatural mas, pelo acaso e pela necessidade, numa espécie de entre milhões de outros existentes na biosfera da terra. Bem! Eu, não considero plausível esta tão simplória forma de singularidade.
Outros, dizem que fomos criados por extra terrestes que nos harmonizaram tal como somos e, num ciclo de tempo que já o foi mais avançado do que hoje na tecnicidade Ipso facto, uma expressão latina que significa “pelo próprio facto” ou seja, que um certo efeito é uma consequência directa da acção em causa, um blàblàblá, filosófico na arte de engavelar ciências.do facto. Se lermos Gênesis 2,7 o texto diz: Então Iahweh, Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente. Foi Jahvista que modelou esta história no segundo capítulo da Bíblia.
Por isso, antes que a terra me coma, eu como a terra em comprimidos de argila, posso explicar: A frase hebraica que a Bíblia traduz como “argila do solo” é “apar min-hadamah” - apar pode ser traduzido como “poeira” e min-hadamah como “do solo”. APAR é o mesmo vocábulo usado para a frase muito conhecida por nós, presente em Génesis 3,19: pois tu és pó e em pó te tornarás. Numa época muito passada e, de muita tecnicidade em conhecimentos nucleares, isso da fricção de iões e catiões e edecéteras que nem convém escalpelizar, bem que podemos tagarelar que nossa destruição, um destes dias acontece, talqualmente como aquela grande explosão fez da mulher de Ló uma estatua de sal (ou pó).
Pópilas! Se aquela atomicidade de então já fala isso, comparando a nuclearidade de hoje que é exponencialmente mais elevada, estamos mesmo muito lixados, quilhados, tramados mesmo! Feito ao bife. Prefiro acreditar no Deus omnipresente e omnisciente e seu filho Jesus, que há dois mil e vinte e três anos, os homens chicotearam como se o fora um animal e, que pregaram numa cruz de madeira de oliveira, pregos artesanais batidos na forja com aquela maldade de raiva torcida em cordas de folhas de cacto, do mesmo sisal com que hoje se fazem as nossas peias - Baraço, correia com que se prendem os pés dos animais de carga.
Ainda há outros científicos que afirmam que nossa origem vem duma alga. Afinal, temos mais facilidade para aceitar a ideia de que os seres vivos se originaram e evoluíram a partir de outros seres vivos. Essa visão fundamenta a teoria da biogénese. As moléculas orgânicas dos seres vivos teriam evoluído a partir de organizações moleculares acreditando-se na hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos (também conhecida como Teoria heterotrófica).
As narrativas da ciência são tão variadas que há um sem número de versões arcaicas impregnadas de religiosidade que confundem as ideologias com cientificidade. Digam o que disserem, eu sempre irei dizer que a Natureza e Deus são um só mistério que nós humanos nunca nos iremos definir por completo. Nada indica que Eva e Adão fossem símios; eram alvos e sem pelos como os nossos primos peludos chamados de chimpanzés e orangotangos. As muitas versões irão continuar apócrifas no meu raso entendimento. Creio que só o somos enquanto somos depois, viramos nada. Somos sim o final de muitas curvas e contracurvas derivados desses tais de australopitecos com um cérebro que evoluiu até se criar a presente civilização.
É que na atmosfera da Terra Primitiva não havia oxigénio (O2) nem n nitrogénio (N2), sendo o ar composto de gases como metano (CH4), amónia (NH3), hidrogénio (H2) e vapores de água (H2O). Ora não havendo oxigénio, não havia uma camada protectora de ozónio (O3) e, isso significava que além da luz visível, a superfície do Planeta era bombardeada por raios ultravioletas com a temperatura, bastante elevada. Sob o efeito adicional de tempestades eléctricas constantes, as moléculas mais simples teriam sofrido reacções químicas e alcançado níveis de organização mais complexas produzindo uma "sopa nutritiva" repleta de açúcares simples, aminoácidos, ácidos e nucleosídeos. Agora para confundir ainda mais, diz-se que o mundo não tem bordos, não tem fim e, há até um buraco negro que anda a chupar energias. Isto complicou…
Fui!
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL
– CANDOMBLÉ
4ª Parte - Crónica 3414 – 05.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Ainda sobre candomblés e, para terminar, sempre relacionando estes fenómenos sociais às tradições de raiz bantu, recordar-se agora que na cidade de Rio de Janeiro, a presença deste povo de N´Gola foi preponderante na primeira metade do século XIX, aonde a expressão candomblé teve mais evidência.
Nas últimas décadas desse século, um número expressivo de escravos baianos chegam ali pelo tráfico interno esclavagista. Isto, não significa que “casas de fortuna, zungus, cangerês e casas de feiticeiros”, como eram chamados, não reunissem adeptos para cerimonias religiosas afro-brasileiras próximas aos candomblés da Bahia.
Repare-se na novidade de apresentar estas culturas na progressão de afro-africanas para afro-brasileiras, mais-valias de origem da costa africana e mais propriamente dos reinos de N´Gola de Matamba, Muxima e Benguela. Entre muitos feiticeiros da cidade do Rio de Janeiro no século XIX destacou-se na década de 1870 um famoso curandeiro e adivinho com o nome de Juca Rosa.
Este, em suas cerimónias, estavam presentes práticas de diferentes origens, iorubás, católicos e bantus. Recorde-se que em Angola em meados do século XX sobressaiu o nome de Sambo, um ervanário, raizeiro e curandeiro do planalto central de Angola. Eu, que saí de Angola no ano de 1975, ainda tomo chás que ele indicou para tomar a fim de atrapalhar o avanço de vária malazengas; habitualmente tomo os chás de “caxinde e de brututo” para estabilizar meu esqueleto. E, a ele devo a prática de comer a terra antes que ela me coma - a argila verde…
Mas, e quanto a Juca, a casa dele, era frequentada por muitas pessoas, em geral negros pobres mas, também representantes da elite e até nobreza. Em redor de seus ritos e cânticos, havia animais a serem sacrificados, havia velas e um altar disposto para teatrar a imagem de Nossa Senhora e do Senhor do Bonfim.
Havia muitos tambores chamados de macumbas, fumos com cheiros de ervas com arruda e outras de tranquilizar espíritos mais o preparo de banhos e feitura de amuletos, uma verdadeira parafernália de poderes defumados e perfumados. Em outras partes do Brasil oitocentista, o chamado candomblé seria conhecido por outras designações como: Batuque no rio Grande do Sul, e xangô em Recife e Alagoas.
Para além desses locais de cultos organizados, a vida religiosa dos descendentes de africanos, escravos ou libertos do período Imperial, era fortemente marcada pela crença do sobrenatural e no poder de determinados objectos para protecção, sorte e felicidade. Por isso, a força de tantas festas religiosas, do culto aos santos, das promessas, das bênçãos e responsos, betinhos e patuás e bolsas de mandinga.
Mandinga, era a designação de um grupo étnico de origem guineense, praticantes do Islão, com o hábito de carregar junto ao peito pendurado em um cordão, pequeno pedaço de couro com inscrições de trechos do Alcorão, que negros de outras etnias denominavam patuá (pópia). Do outro lado do Atlântico, em Angola, podem ser verificadas as mesmas práticas só que, mudando nos nomes tais como kazukuteiros e gente dada ao trambique, raizeiros ou curandeiros que fazem milagres…
FIM
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “MILAGRANDO A VIDA”
TEMPOS CUSPILHADAS – Crónica 3411 – 02.06.2023
- Subsidiamo-nos por bagatelas…istopassa, deixandar
Por ´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Nossas vidas são estórias armadilhadas de segredos, de não digas nada, istopassa, que não é importante; juntando lixo com luxo procura-se sossegar a vida andando entre os pingos da chuva, agradando como a história diz, a gregos e a troianos; não fales porque te podem queimar, e edecéteras medrosos, para poder levar uma vida mais fácil!
Em dado momento, somos carneiros que seguimos como manda o governo, o líder, a religião, subsidiando-nos por bagatelas… Não há maneira de sair deste imbróglio de viver a modernidade, falar da história tão engravidada de idiotas erros de cálculo e, ficar-se indiferente, assobiando para o lado - parecendo concordar com tudo, para não obstruir uma amizade, duas e, ou muitas mais.
Talvez, cada um de nós interveniente na contestação, se interrogue: - serei eu que estou errado? Mas, então porque é que as pessoas (a maioria) não falam!? Que indiferença é esta de não se ser metal ou metalóide, de se ser ou não e, dar a conhecer - ser de esquerda ou de direita; ficar assim escondido na obscuridade, simplesmente encolhendo os ombros da precaução.
Embatocar num deixandar- Nem carne nem peixe – uns morcões! Mas que raiva! E, as forças provocatórias de mudança, para pior ou melhor, que libertam o mundo das formas que ninguém tampouco poderia imaginar. Ninguém quer forjar a revolução procurando uma dependência humana – mas depois queixam-se: Ai que a vida está cara! É mesmo, a precaução não tem ombros…
O carapau está ao triplo do preço; e, muitos outros têem de ir ao mato defecar, suportar o mau cheiro dos excedentes de todos e carregar baldes de água sob o inclemente sol. É mesmo uma grande chatice, atiçada por fungos, bichos de pé com salmonelas, a modernidade alheia a passear.
Nesta modernidade, os académicos não conseguem evitar os factores não materiais como a ideologia ou a cultura. E, em dada altura sabe-se por suficientes provas, de que as guerras nem são provocadas por haver escassez de alimentos ou por pressões demográficas, mas por um qualquer doido desmotivado de fé e, porque simplesmente assim o quer.
Eu, que sou vitima de uma revolução, por muito que lhe remexa, não encontro pistas reveladoras de uma verdade verdadeira. E, surgem novas obrigações, novas habituações, novas modas e exigências do qual não conseguimos mais viver sem elas – as modernidades. Agora que tudo é feito por computador, não há mais cartas, escasseiam os selos, também escasseiam os balcões…
Os balcões de atendimento e, num repentemente estando onde quer que seja, no sossego, o zumbido de um drone faz-se ouvir, passa para lá, volta e gira, talvez filme, talvez leia, talvez vigile. Isto já me passa dos limites. É sim a modernidade, uma vida mais fácil, uma vida melhor – o futuro. O plano é esse!? O futuro tona-se paulatinamente num dos principais actores no palco da mente humana…
O Soba T`Chingange
TEMPO COM CINSAS – A Democracia tende para o Totalitarismo
Crónica 3410 – 01.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji…) Na Pajuçara de Maceió - Brasil
Resumidamente: A Democracia é um regime político em que os cidadãos usam seus direitos políticos participando igualmente, enquanto o Totalitarismo é caracterizado por um dirigente, que se apoia num único partido (ou uma maioria), deixando o povo em conflito e, culpando sempre um “outro” nos desaires.
Sendo assim, o totalitarismo pode bem ser considerado um acontecimento típico de modernidade que surge encapotado ou trasvestido, entrelaçado com muitas e diversificadas leis, acordos, relatórios ou despachos que saem da base como picos de um cacto de matriz democrática.
Assim sendo, a modernidade chega ao limite da inventação no que leva a perguntar se não herdamos no imaginário, entre muitas, um das formas fraudulentas de conceber “a política”. Esta referência à imaginação totalitária advém de uma noção equivocada de que a verdade absoluta deve ser resolvida por um acto político com uso à mentira ou narrativa; uma exposição de factos, uma narração, um conto ou uma história.
Narrativa ou mentira em que a realidade vem embrulhada em celofane. Surge assim a intenção firme de como fazer promessa em dar apoio com 100 ficando assim assinado e noticiado mas, na prática desses 100 cativam-se na fonte 50, defraudando obviamente as espectativas de um prometimento. Usar deste jeito, uma prática extractivista do trabalho do povo (+ de 50% do produto) - actividades de colecta mais além dos habituais produtos naturais, sejam eles de origem animal, vegetal ou mineral…
Este acto de sub-reptícia é um tipo de encoberta violência que mesmo sendo morna, não pode ser simplesmente compreendida como um subproduto da imaginação totalitária mas que, está sim na sua raiz socialista! Teremos por isso de fazer uma reflexão filosófica investigando conceitos à medida que eles se apresentam na forma constante de variedade de fenómenos observados.
Fenómenos que surgem não por mero capricho de curiosidade intelectual mas, pelo firme desejo de compreender experiências de governação seguindo um ideário pré concebido na inverdade, um pecado quase capital – técnica socialista!
E, interrogamo-nos: - mas que tipo de democracia é esta que nos força a aguentar passivamente a “engolindo sapos”, provocando uma desordem na razão pelos fenómenos que surgem com erros de caprichos. Caprichos com a bastante arrogância que nos levam em crer que sua capacidade especulativa passa de prenúncio a anúncio de um problema real.
Condição que consequentemente se tornam em “actos políticos totalitários”. É isto que vivenciamos hoje em Portugal em que a fórmula E= mc2 (Estado = Marcelo x Costa ao quadrado) é simplesmente clausurada. Neste ensaio banalizado em bomba atómica teremos de considerar os factores de fragilidade impostos pelo próprio limite do medo – um delicado limite pessoal de quem pode, mas, não quer!
O medo é que guarda a vinha; assim ficamos…
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