Sexta-feira, 1 de Março de 2024
VIAGENS . 144

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3555 – 01.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita01.jpg Nesta marcha desesperante, eu branco, descrevo-a imaginando-me  a comer raspas de cascas de mandioca, o vai e vem na volta da contra volta,  já cansado de esganar a saudade, de esganar a traição, de esganar a mentira da descolonização, ela, esta coisa, deu-se conta e, sem enfado, muito pausadamente disse-me: - O seu azar, assim quase titubeando a verdade para não se ferir, o seu azar, notei a dificuldade de ir mais além; acenei-lhe assim-assim com o dedo indicador rodando, anda, desembucha! E, repete, o seu azar patrão… o seu azar foi ser um branco mazombo!  E, foi!

Na diáspora, prometi a mim mesmo não me enganar continuando a ser eu próprio peneirando as opiniões, gerindo silêncios e, mesmo estando naquele então no exterior de Angola, fiz trabalho fiel por quem acreditava ser o futuro em Angola. Saí da UNITA mas, ela continuou comigo recordando grandes nomes com quem tive o privilégio de lidar como Carlos Morgado, Kalakata, Alcides Sakala, José Kachiungo Marcial Dachala ou Adalberto Júnior entre tantos outros. Savimbi, o líder, sempre será visto em um leque alargado que vai do génio ao monstro mas, a UNITA foi mesmo seu grande legado: o da liberdade…

guerri3.jpg Mas lá,  às margens do Cuito, em Agosto de 76, Savimbi transmitiu ordens para que eles que ficaram na outra margem, se escondessem na mata; a travessia reiniciar-se-ia na noite seguinte. Foram lançadas granadas para dentro do rio para afastar os hipopótamos e, provavelmente, elas teriam sido ouvidas pelas patrulha inimigas.  Ele temia que os cubanos e o MPLA estivessem na área no dia a seguir.

Na margem ocidental, Savimbi conduziu seu próprio grupo desmembrado através da anhara, deixando atrás de si rastos bem visíveis no capim, coberto de pó e geada. Aqui, de noite, as temperaturas baixam do zero graus; os soldados não tinham fardas para mudar as calças ensopadas em água gelada. Os únicos cobertores que cada um levava também estavam molhados, que para além de serem frios, estavam rasgados. Qualquer um de nós, fica por esta real descrição feito uma pedra de gelo.

unita04.jpeg Assim foi! Muitos estavam enregelados depois de terem passado o pântano com as inerentes dificuldades do rio e, de tal forma que mal podiam falar. «Estavam exaustos, mal alimentados e tinham as faces encovadas». Savimbi continuava a marchar entre a  frente e  a retaguarda da coluna, exortando o povo a seguir em frente, com coragem, em direcção à mata , onde teriam de chegar antes do nascer do sol. Deu ordens à sua ordenança para dar suas roupas de reserva aos soldados mas, seus oficiais superiores esconderam dele um conjunto completo para seu próprio uso.

Savimbi calculara que a marcha através da anhara demoraria cerca de meia hora. Em verdade, demorou três horas, dadas as condições de fraqueza da coluna. Cerca das seis horas e trinta minutos da manhã, quando o sol começou a despontar, estavam ainda a meio do capim, pelo que tiveram de reunir forças extras para correr até à mata cerrada. Mais tarde, nessa mesma manhã, dois helicópteros de fabrico soviético MI-8, chegaram ao local aonde fora feita a travessia do rio Cuito.

piram3.jpg Pairaram a pouca altura do solo e, de cada um deles saltaram quinze a vinte militares cubanos. Felizmente, para a gente de Savimbi, o sol brilhava num céu sem nuvens, secando o gelo que anteriormente tornava bastante visíveis os rastos da UNITA através do capim. Era o dia três de Agosto de 1976 – Jonas Savimbi, um negro angolano, em tempo estudante de medicina na Universidade de Lisboa, licenciado pela Universidade de Lausanne, líder de guerrilha, sentava-se perto da margem esquerda do rio Cuito, no interior de Angola…

Estava-se no solstício de Inverno na África Austral, quando as temperaturas nocturnas  descem abaixo de zero. Savimbi, acalentava em seus braços, um adolescente guerrilheiro que delirava, morrendo de frio e exaustão depois de ter sofrido no corpo a tortura de uma  enregelante travessia do rio, que lhe tolhera os membros.  Não poderia existir maneira mais deprimente de o líder dos guerrilheiros celebrar o seu 42º aniversário… 

Nota: - “Transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:52
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Quarta-feira, 21 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 141

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3552 – 21.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

nasc3.jpgEnquanto transcrevo a “Longa Marcha de Savimbi”  na Luanda de então, a vida mantinha-se claustrofóbica, periclitante e sem saídas fáceis para a província; os corredores aéreos encontravam-se ameaçados. Iam abrindo lojas de kinguilas nos muros de quintais, o trânsito ia ficando já com algum parque automóvel moderno e caro, também muito mais caótico. O  contraste da “cidade capital e o musseque” iam ficando entre o abandono e a  deterioração com amontoados de chapas de zinco e placas ratadas de fibrocimento.

Ainda se podia visualizar entrelaçadas com velhas portas arrancadas de um qualquer armazém as aduelas de barris de vinho “Camilo Alves” idos do M´Puto e até latas espalmadas de azeite galo ou, latas das grandes de  tinta pintal, com ripas de madeira das antigas caixas de sardinha ou atum  importadas de  Portimão do M´Puto. No centro da Luua as caixas de elevadores dos prédios mais antigos, iam ficando atulhados de lixo vasculhado por gatos e ratos com  o mau cheiro inerente…

luanda6.jpg As ruas da baixa da Luua iam ficavam envoltas em nuvens de fumo com cheiro intenso de gasóleo queimado saído dos escapes de geradores construídos a partir de velhos motores de GMCês, Magiros e Fordes e outras ainda não seleccionados pelos cubanos para levar para Cuba; assim, património como coisas de “tecnologia de ponta”, assim consideradas lá na ilha – troféus de guerra para o Fidel. Esta guerra de Angola que nos era servida, não se diferenciava das atrocidades do Corno de África ou das escaramuças do Iraque.

Mas, lá nas matas do Moxico  a “Longa Marcha” continuava com seu líder – o melhor chefe de guerrilha em África. Enquanto Savimbi instruía seus oficiais, o condutor de gado reapareceu como por milagre com a manada de rezes. Savimbi, mandou-o directamente em direcção a sudoeste, caminho que ele pensava seguir com a sua própria coluna. Quando tudo ficou pronto, Savimbi ordenou às colunas de Samalambo e Chimbijika que partissem: a primeira para nordeste e a segunda para noroeste.

Cubango1.jpg Cerca de quatro horas e trinta minutos da manhã, ambas as colunas e toda a gente da coluna de Savimbi, excepto o próprio Savimbi e os cinquenta homens que constituíam a sua retaguarda, tinham partido; a seguir, ele ordenou à retaguarda que também partisse. A coluna de Savimbi não parou de andar até às três horas e trinta minutos da tarde para um descanso, mas já ao romper de um novo dia, os caminhantes ouviram explosões  e  tiroteio na direcção do local de onde tinham descansado na mata.

Os batedores disseram que os cubanos tinham sobrevoado o local, fazendo disparos de metralhadora dos helicópteros. Decididamente, mais tarde os cubanos informaram dirigirem as suas buscas em direcção às colunas de engodo. O resultado do desencontro com o MPLA e os cubanos, resultou no desmembrar a coluna original de Savimbi em cinco grupos. As crianças, as mulheres e a sua  escolta de guerrilheiros permaneceram sem o serem detectados ou molestados durante várias semanas, na que ficou sendo a “aldeia segura” porque nunca o foi visitada por tropas inimigas.

cubango2.jpg O grupo de Chivinga formada por cinquenta pessoas, manteve imobilizadas as tropas do MPLA, precisamente a norte de Chissima; durante várias horas e, até Chivinga ter sido ferido numa coxa: Em consequência disso dispensaram levando o comandante mas, não conseguiram reunir-se às colunas principais, nem mesmo com a coluna das crianças e mulheres. Só meses depois é que Savimbi recebeu mensagens de que as mulheres, as crenças e Chivinga com seus homens, estavam a salvo.

Quanto ao major Samalambo e ao capitão Chimbijika, estes, conduziram as suas colunas de forma segura para longe do perigo. Durante uma semana, a coluna de Savimbi não enfrentou problemas, excepto quando da travessia atribulada do rio Cuanavale: aí, eles tiveram de derrubar várias árvores para construir uma jangada que os ajudou a atravessar o canal de águas profundas. Isto, deixou-os expostos em campo aberto, durante algumas horas, mas o inimigo não apareceu. Aqui chegados direi (do relator): que a logística do MPLA já nesta fase, alegava ser o dono da história seguindo subserviente à mentirosa versão russa.  Isto iria continuar sem se vislumbrar um sine die, com revolta musculada de todo o mundo democrático ocidental – eternas fragilidades das democracias…

Nota: -  Com “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:55
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Quarta-feira, 17 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 127

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3538 – 17.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila - Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

matrindindi1.jpg Eu, era um dos que preparava essas listas de embarque – Guias de Marcha para o M´Puto, sem retorno - GUIAS DE DESEMBARAÇO. Naquela Luanda, pairava no ar promessas de morte, vinganças avulsas; continuavam as manifestações com mortos transportados em macas reclamando por insegurança e coisas variadas agitadas com catanas de furia.

Tudo o era feito, para seguir as novas técnicas de meter medo com horror; instrucções seguidas pela cartilha de Rosa Coutinho. No aeroporto de Belas já neste início de Agosto de Setentaecinco, podia ver-se milhares de famílias pernoitando de qualquer jeito junto aos seus haveres no largo frontal da zona do check-in e jardins do aeroporto, malas, caixotes e bugigangas.

soba23.jpg Ali permaneciam dia e noite protegidas com cobertos de lonas presas a caixotes usando como banheiro áreas improvisadas ou as bissapas, arbustos circundantes do jardim; o cheiro era nauseabundo. É confrangedor só de pensar em estas turbas de gente que às pressas colocaram umas peças de roupa, uns agasalhos, umas fotos de recordação prontos a ir ao encontro dum desconhecido maior que o mundo.

E, as despedidas de gente serviçal, vizinhos ou até um amigo próximo que por ali iam ficando – na Luua: toma lá a chave do meu carro, da minha casa, cuida dos animais meu amigo João, Napumoceno, num catravês de incógnitas,  num porque não sei quando voltarei, nem se volte. Na mira de voltar havia mesmo falas muito penetradas de sonhos…

soba05.jpg Olha pelos meus cães, o aspirina mais o tarzan que ficam na casota lá junto ao gerador e perto do galinheiro. Doeu e ainda dói! Coisas de partir o coração aconteciam como sendo coisa pouca – a frieza das pessoas, do governo, da Metrópole em um todo, afligiam-nos sobremaneira. Minha revolta era imensa!

No dia 4 de Agosto de 1975, na cidade da Gabela os partidos entram em confrontos e a população organiza uma caravana; com mais de duzentos veículos, serão acompanhados por militares portugueses e da UNITA, escoltados até à cidade de Nova Lisboa (Huambo). Savimbi mandava retirar o seu pessoal político e militar d Luua. Pediu à Marinha e à Força Aérea para que evacuassem todos os seus militares das FALA e apoiantes na via para o Sul - de todos os que se mantinham para além de Luanda, Carmona, Ambriz, Cabinda e santo António do Zaire.

dia230.jpg A partir do dia 9 de Agosto de 1975 o Governo de Transição de Angola ficava reduzido ao MPLA  e à parte portuguesa. Ainda faltavam 94 dias para o dia da independência, o 11 de Novembro de 1975. O novo Ministro dos Negócios Estrangeiros no V Governo Provisório (1975) de Portugal, Mário Ruivo, reconhecia oficialmente o Óbito do Acordo do Alvor.

Para tal proclamaram o estado de emergência com a criação de uma Junta Governativa para substituir o defunto Governo de Transição que só durou cerca de seis meses. Neste molho de brócolos, o Governo de Transição foi extinto mesmo sem que para tal estivesse autorizada a sua substituição em caso de incapacidade. Mais uma medida no âmbito revolucionário feita em cima do joelho pelos generais e políticos de aviário. E, o Mundo assistia a isto!

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:53
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Sábado, 30 de Dezembro de 2023
VIAGENS 122

A CHUVA E O BOM TEMPO - NO M´PUTO

ENTRE O NATAL E O NOVO ANOCrónica 3533 - 30.12.2023

- No intervalo de viagens nem sempre é necessária a culpa para se ficar culpado…. Um chapéu de chuva, sempre dá geito…

Por: T´Chingange . Em Arazede do M´Puto

cangulo0.jpg Os sintomas do mal, revelam-se em características inquietantes pelas instabilidades politica e laboral na mistura do flagelo das guerras e da caristia da vida envolta em desemprego  prolongado. O mal fermenta-se na psicose gerada pela instabilidade apontada adicionada a outros males como a precaridade quase instituída; isto para não entrar no capítulo da educação, formação, investigação, assistência na doença e lóbis incestuosos nas várias frentes da governação.

Avós, pais e filhos têm de se organizar nestes inteiros condicionamentos de vida. Ninguém está certo da vitória no que concerne à nossa liberdade em nossa existência. Estamos sempre pendentes das medidas dos poderosos que por nossa mão (entenda-se o povo), alcançaram o poder; refiro-me aos políticos. No final, a culpa não é de ninguém e morre sempre solteira…

canguixe1.jpg Não poderemos libertar-nos dos sintomas conhecidos e de outros por conhecer, se não atacarmos a moléstia pela raiz sabendo que mesmo estas continuam a crescer de uma forma imprevisível! Nem sempre os diagnósticos estabelecidos pelos especialistas dão a necessária confiança à convicção de que um homem independente é honesto.

O clã familiar, cada vez mais tem de se organizar como e, para harmonizar sua existência humana tendo de partilhar sua reforma com um filho, com um neto, a um mais próximo a fim de se superar nas sucessivas crises. E uma crise não é singularmente diferente das precedentes porque dependem de circunstâncias novas. Isso! Condicionadas pelo fulgurante progresso da corrupção, da cunha e, aonde o homem, mulher, a família se vê neste tipo de economia dita liberal.

fifa3.jpg A lei da gasosa, sim! Obrigado/a no retirar migalhas ao salário sem sempre conseguir garantir as vitais necessidades. Dos ganhos, sessenta por cento, vão direitinhos para pagar a máquina estatal que subsidia partidos, fundações, observatórios e tantos outros afins de e a bem da nação… Balelas! Uma guerra de impostos taxas e sobretaxas; incestuosas atribuições…

O desemprego aumenta e a confiança no patronato diminui; diminui a confiança nos bancos, da participação pública nestes e depois… depois os bancos irão ser obrigados a sessar seus pagamentos, a diminuir os juros. E, dirão porque o público retira os depósitos, a economia fica bloqueada e edecéteras complicadíssimos de entender…

dia003.jpg Eles, os bancos convencionam-se em garantir seus fundos de prevenção dando-nos 0,01 por cento nos depósitos ao ano, cobrando-se de todas as tarefas inimagináveis. O que não nos dão, vai direitinho para o seu fundo de garantia, para pagar a trafulhices de venderem peidos de velha como se fossem ovos moles. Agora, dão-nos 3,5 por cento para tapar fendas da inflação que anda lá muito mais acima.    

As crises decerto darão dinheiro a alguém! Algum país, algum grupo ou contas de paraísos fiscais ficarão a abarrotar! Até no M´Puto há superávite - o termo genérico que se dá a uma conta de balanço de entidades com finalidades econômicas ou da administração pública que, em geral, corresponde à conta "lucro do exercício" dos balanços ....  E, andamos todos a chiar – que a vida está cara!?. As crises são preparadas de tempos, a tempos para nos esfriarem os bolsos. Os donos do Mundo, os donos disto tudo sempre estarão amparados pelos políticos eleitos. A inteligência é a capacidade de nos adaptarmos a tudo isto aceitando o roubo, a taxa, o imposto e alcavalas como coisa clara e instituída. Esforcem-se para não  ter um  Novo Ano periclitante! Fui…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:02
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Sexta-feira, 22 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 121

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3532 – 22.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

t´chingange 0.jpg Ainda sobre a tese de Pesarat Correia – Nesse quadro qual era o papel de Portugal? – Portugal ia diminuindo a sua presença militar em Angola, no cumprimento dos Acordos do Alvor, acção que devia ser compensada com os movimentos de libertação a contribuirem para a formação de uma força militar mista.

Ora, os movimentos de libertação (destaque para o MPLA, o grande infractor…) em vez de procederem nos termos acordados em Alvor participando nessa força, armaram-se constituindo exércitos partidários e entraram em guerra civil, com apoios externos, perante a impotência de Portugal.

cross2.jpg Já próximo ao 11 de Novembro, o Zaire via USA entra pelo norte em apoio da FNLA; depois a Sul, a África do Sul ao lado da UNITA e mais tarde Cuba a apoiar o MPLA – O Acordo do Alvor foi rasgado pelas partes…(fim de citação de Pesarat Correia).

Quanto ao "Documento dos Nove" foi em verdade, a primeira demonstração publica de divergências no seio do MFA e a marcação de uma posição clara contra a tentativa de tomada de poder pelo PCP “o caminho que as coisas estavam a tomar, isto é, o caminho de levar Portugal a tornar-se um país cada vez mais próximo do modelo soviético”.

dia220.jpg Aquele "Documento dos Nove", defendia um entendimento à esquerda, do qual o PCP não estava à partida excluído, desde que colocasse de lado os seus intentos hegemónicos, de forma a “conduzir o país na ordem democrática e na ordem económica e social”. Para terminar com essa tal de tese de Pesarat Correia refiro o que diz em seu final: “A participação de Portugal na descolonização nas colónias de África foi a que tinha de ser feita” -  Esta foi a frase de Melo Antunes que acompanho, diz Pesarat Correia. Nunca tão poucos decidiram por tantos na passividade e  anuência de um povo do M´Puto gerido por um rolha e um louco - Costa Gomes e Vasco Gonçalves…

E, pude assim ver-me no mato de Angola, quando uma delegação do MFA foi ao Lungué Bungo em 15 de Junho de 1974 negociar a cessação das hostilidades com a UNITA; Foi aqui que Portugal reconheceu a UNITA como movimento de libertação. E pude visulizar Savimbi a defender a transição de Angola para a sua independência em sete anos e dizendo preto no branco que angola não dispunha de quadros e, nem os movimentos estavam preparados para governar a curto prazo.

mud13.jpg O nosso entre aspas, presidente Rolha Costa Gomes referiu então que: “Se fossem cinco já ficava contente. Até dois anos seria tão bom!”. Afinal quem prevaricou no pensamento? O matumbo pré-mwata da mata ou o Sua Excelência, o Rolha Presidente do M´Puto! Hoje tudo, mesmo tudo, pode virar verdade num milionésimo de segundo e logologo virar uma descarada mentira! Eu, T´Chingange, sempre o disse: é muito perigoso pensar!...

Mas, e, então aonde ficam os dez mandamentos!? Nós ficamos só assim, feitos sementes; numa obra dum acaso iludido assim como um imbondeiro de raízes ao ar. Sem nunca ter interpretado as intermitências da morte ou separação de duas febres sem arco-íris. Arco que por linhas tortas me é explicado por Deus, num espesso nevoeiro e aos soluços! Sempre! Bem que tudo o  podia ser, bem mais claro, sem ter que puxar pela minha cachimónia de fundir a cuca!

Usukula mundué ú hima kujibha nzapá... Tradução: lavar a cabeça ao macaco é desperdiçar sabão! Mensagem: Por mais conselho que se dê ao tolo, jamais chegará a sábio! Aiué…

(Continua…)

O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:30
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Sábado, 7 de Outubro de 2023
VIAGENS . 88

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3499 – 07.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

okavango5.jpegEstudioso ao jeito de ermitão, mergulho nas barrocas mais fundas do saber para interpretar sapiência, ensaiando-me no mundo em que habito. Eu, que nem quero lembrar que algures morri em Kaluquembe na Curva da Morte e, que por isso só choro, uma forma honrosa de pintar a tela de pintura do passado… Preocupando-me sim com a RAIZ que alimenta a árvore – Zeca, meu mano, diz que muito cavo para contar quantas são,  as raízes, como se alimentam, se são ou não envenenadas por ervas daninhas que, sempre  crescem do nada, fazendo  secar veios de vida…

Estou a escrever bué de falas contendo o mel de ukamba, gelado de morango, cheiros aromáticos com mirra e alfazema e da madeira takula que cheira a chocolate com capim santo, também chamado de principe ou caxinde. Das terras deste maravilhoso mato, das vendas tascas, shop de João Miranda do Divundo e Shitemo e outras mais, aonde faziam pão amassado na noite, ao ritmo dos cantares da coruja e de muitas  bichezas desconhecidas…

ngoi2.jpg Vendas tabernas, mukifos ou shop´s com o chão muito cheio de farinha de fuba, varrida com sarravo de mateba e um chinguiço fazendo de cabo semi torto amarrado mesmo na própria casca mole;  num paraíso verde  com marulas e acácias de espinhos e vagens parecendo a fava rica que todos no M´puto conhecem por alfarroba… Como diria Zé Mamoero da Maianga sentir-me fascinado por pessoas extraordináris da qual jamais esquecerei por seu carinho boé, dado pela concha feita com suas mãos juntas, que recebi e empanturrei no meu muxima de contente - aiué.

Foi assim mesmo  que reiniciamos aqueles tempos - TEMPOS PARA NÃO ESQUECER – Assim aconteceu: Sentados no alpendre da casa do Mukwé, totalmente feita em madeira, kibaba ou zazange das matas do Cubango, e ainda falando do século XX, olhando o mesmo rio Cubango (Okavango); rangíamos falas assim  como o soalho feito com reforço de undianuno sentados em  cadeiras de takula…

paulo7.jpg Recordar agora como se fosse anteontem, que o soba de Sambia de nome Palata de Massaca foi dado por consentimento o nome de D. António Maria de Fontes Pereira de Mello, que, ao soba do Aimalua do Cuangar foi dado o nome de D. Luís Bondoso Pinto Ribeiro e Montes Claros e, ao N´Hangau do Dirico que ficou a chamar-se D. Afonso Enriques de Aljobarrota Atoleiros e Valverde. Parece mentira mas, é verdade! Acho até que andaram a gozar com o futuro – Nós…

Ao sabor de um café colhido, secado, torrado e moído no local, T´Chinange, João Miranda e Oliveira do Mucusso, conversávamos sobre a terra da qual fomos obrigados a abandonar. Os três, eramos da mesma opinião: Muitos dos “libertadores de 75” os mwangolés de hoje, sonhavam com a casa, o lugar de director, o carro, os privilégios e as posições dos colonos, até alguns que so vendiam peixe frito ou carne seca lá no mato, talqualmete!

t´chiku3.jpg Podem até dizer outras coisas mas, o tempo assim como o azeite em água, trás a verdade ao de cima. E aqui, longe no tempo, lembrávamos sim, o passado para que no futuro não só chovessem inverdades, manobras e coisas ruins que sempre  teimam subrair as versões fidedignas. A conversa começava de novo a animar retirando de cada qual as verdades  situadas nas ranhuras do cerebelo, tal e qual como o poejo cresce entres as fissuras dum chão cimentado…

Assim, ouço e falo cativo, vestido com os meus panos, agarrado aos búzios, amuletos, à undenge ami mu moamba, desse antigo lugar – Mayanga da Luua ai-iu-é, no uuabuama chão colonial, hoje independente, chão Angolano. kuatiça o Ngoma! Assim os ouço ao longe, ao perto, no apeto, consolando muxima ami, que velozmente envelhece, que ainda dá batidas ora, leves, ora fortes do atu, no seu Kimbundu. Malembelembe ainda tece esteiras, missangas, planta flores coloridas no quintal iguais ao jardim da Dona Elisabete no lugar de Shitemo  com  capim caxinde debaixo de tamarindo…

moc4.jpg GLOSSÁRIO: Kituku - mistério; Kúkia – sol nascente; Ndandu – parente; N´dongu - canoa; Ngana NZambi - Senhor, Deus; Malembelembe - muito devagar, com cautela; Undenge ami um moamba - minha infância de moamba; Uuabuama – maravilhoso; Kuatiça o ngoma! – Toquem os tambores……

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:29
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Sexta-feira, 6 de Outubro de 2023
KAZUMBI DE BORUNDANGA . XVI

O mito do Orçamento

- As teorias da VITIMOLOGIA, DA MENTIRA E DA RECIPROCIDADE, sempre formulam um discurso sem substância…

Crónica 3498 – 06.10.2023

 Por: T'Chingange (Otchingandji) na Lagoa do M´Puto

BORUNDANGA3.jpg No Mundo, tudo está ficando muito igual no trato da mentira e, em uma qualquer vez, numa nova vez, sempre se lhe juntarão formas diversificadas nos diferenciados edecéteras. Num repente estratégico ela, a mentira passa a ser um mito enfiado na logística como se o fosse um tema de crédito saldado duma banal excentricidade.

Tal como as contas certas, a mentira na sua voracidade, encaixa sem esforço num novo orçamento, assim haja taxas suficientes – simples! Amarfanhados, os mitos sempre ficarão na mesma sacola do pão que sem o fermento certo e ajustado, se tornará pedra ao segundo ou terceiro dia. Pouco a pouco nos habituaremos à mentira tal como ao pão rijo do qual sempre se poderá fazer umas sopas de leite ou uma açorda.

Aqui no M´Puto, pela sobrevivência, até nos mitos somos verdadeiramente pobres. E o mito “socialista” ficará no saco misturado com as côdeas de ambição que ao jeito de partido-estado nos forçam na falsa suavidade feita lei. Os PALOP`s estão também cheios destes mitos: em Angola tomam o nome de “gasosa”, no Brasil o mito dos “sesta básica” e aqui “salário miserabilista”.

tuiui3.jpg Em psicologia social, reciprocidade refere-se a responder uma acção positiva com outra acção positiva, e responder uma acção negativa com outra negativa. Acções recíprocas positivas diferenciam-se de acções altruístas visto que ocorrem somente como decorrência de outras acções positivas e diferenciam-se de uma dádiva social.

A sociedade torna-se assim em uma bolha vitimista, que a ser retratada fica sujeita a um PRR - O tão propalado Plano de Recuperação e Resiliência, um programa de aplicação nacional, com um período de execução até 2026 e que visará implementar um conjunto de reformas e investimentos destinados a repor o crescimento económico sustentado! Assim o dizem.

O objectivo de convergência do M´Puto com a restante Europa, ao longo da próxima década, permanentemente revogados, tornar-se-ão nesse mistério de queixa das gentes que convém desmistificar para bem da sociedade. O valor de ordens que sustentam a sociedade, é uma realidade objectiva criada pelas leis da natureza em que na igualdade das pessoas, sempre aparecerão algumas mais iguais. Tenho a certeza!

tuiui2.jpg O factor pobre e rico, não tem de ser aqui evidenciados porque assim o dizem: O povo é um todo. Há sim outros indicadores que recaem sobre os líderes que concederão a seu belo prazer a esperança ou expectativa de sempre, darem respostas positivas futuras a seus pares, compadres e a costumeira corrupção, já tão vivenciada na partidocracia ou psocracia…

Lembrarei aqui os dizeres de um amigo chamado de José Canhoto: “Uma traça invisível corrói a minha mente fazendo-me perguntas às quais não sei responder porque para as respostas às verdades com as quais sou questionado não as tenho, e as poucas que conheço são relativas. O paraíso celestial não existe é uma ilusão, e quando alguém o atinge é sempre na terra e por breves momentos, e não depois de morto”. Mais diz:” Há alturas em que não me importo que me roubem o mundo desde que me deixem saborear a viver o momento”.,,

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:54
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Quarta-feira, 6 de Setembro de 2023
VIAGENS . 71

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3481 – 05.09.2023

- Escritos boligrafados da minha mochila - Em Maun Rest Camp, cidade de Maun no Delta do Okavango…

Por maun001.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

maun9.jpg Aqui andamos remendando longos silêncios remoídos na sustentação das mentiras ou verdades sobre africanos, sua terra e sua origem, gente com gestores, chefes sofríveis por desclasificados; como entender tudo numa longínqua aridez de secura politica, geográfica e climática, um investimento de leveza desocupada, fazendo nada ou parecendo nada fazer, subsidiada pelo G7. Os cadernos coloniais referem que nestas suas correrias e naquele tempo de descobertas, estes, vendiam ao desbarato dentes de elefantes, borracha, escravos e mel.

Recordar que o major de infantaria, o sertanejo Alexandre de Serpa Pinto, realizou a viagem de Luanda ao Natal, em 1879; que também, os oficiais de marinha Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, em 1885 exploraram todo o sertão de Moçâmedes a Quelimane, num percurso de 4.500 milhas no intuito de ligar Benguela de Angola à Beira de Moçambique passando por Tete às margens do rio Zambeze e, terminando ali às margens do Oceano Indico.

maun04.jpg Estas viagens causaram a admiração da Europa e glorificaram o nome de Portugal mas… Mas, tem sempre um mas! Naquele tempo havia um Inglês que dizia que aquilo era tudo dele – do país dele chamado de Reino Unido; chamava-se Cecil Rodes e este, pretendia fazer uma linha de caminho-de-ferro desde a Cidade do Cabo nas terras descritas pelos portugueses como do Adamastor ou das Tormenta até ao Cairo no Egipto.

Pois este, não fez, nem deixou fazer. Um imbróglio que mete o tal mapa Cor-de-Rosa que nunca desabrochou como flor. E, tudo apenas para numa farsa diplomática cortar o mapa Tuga a meio... Sabemos desde esses tempos idos  que este "rail" chega à Tanzânia mas, diga-se que mais depressa chegaram os portugueses com o CFB (Caminho de Ferro de Benguela) à fronteira do Zaire no rio Luau (antiga Republica Popular do Congo)...

Em terras do fim do mundo, no Botswana, convêm relembrar que os aborigenes habitantes ancestrais, foram os bosquimanos (bushmens), khoisans, caçadores-recolectores que se espalharam pelo grande Kalahári e Karo. Em uma outra minha viágem anterior, tive oportunidade de observar estes indígenas errantes no seu meio natural. Foi no Kalahári Gemsbok National Park entre Twee Rivieren e Bokspits, um lugar ermo, divisão de fronteira, picada em mulola de um rio seco aonde só corre água quando chove: paramos ali para fornecer água a esses pequenos seres de tês parda, secos de carnes, vestindo pequena tanga tapa-rabos. Andava então à procura do caracal – um gato grande com as orelhas empinadas, que acabamos por avistar.

maun05.jpg Deslocavam-se em pequenos grupos com algumas lanças, apetrechos simples aonde as mulheres se distinguiam por levar ornamentos na forma de zingarelhos nos artelhos. Enchemos suas cabaças entre linguajar de estalidos do geito de makankala misturados com sopros de suspirose aspirações gututrais do qual nada entendemos.

As mulheres levavam corotos, imbambas de cozinha e trastes envoltos num saco em cabedal que era suportado nas costas por uma tira que se ajustava à testa. Agradou-me ver as várias etnias, brancos, negros e mestiços, muçulmanos e cristãos, laborarem o progresso sem tumulto. Ao invés disto, em Angola a gadanha da morte feito catana, para muitos e, para vergonha de Portugal, coisas manobradas por capitães de aviário em uma abrilada enviesada, felizmente, não chegou aqui ao país Botswana.

maun9.jpg Admirei-me até, nesse então, ver organogramas, gráficos que representam a estrutura formal do governo, com algumas caras brancas, coisa que a propósito foi posta de lado em Angola, terra dum Tundamunjila vergonhoso chamado indevidamente de descolonização; Ali, em Angola, a maldade, chegou antes do tempo. Por isso a necessidade de filosofar falas, porque no consciente do povo subjugado – NóS - fica a repulsa, nojo, repugnância e asco de governantes que se perpetuaram imerecidamente no poder do M´Puto…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:29
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Domingo, 27 de Agosto de 2023
VIAGENS . 64

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3474 – 27.08.2023 - Foi no ano de 1999

- Escritos boligrafados da minha mochila - dois himbas fotografavam a morte da minha infância…

Porkunene.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

ARAUJO216.jpg Ainda nas margens do rio Cunene, para lá da picada pedregosa, sentados em penedo elevado, com uma expressão de circunstância infantil sorriam com naturalidade ao meu espanto. Eu, um turista t´chindere, nas terras do fim-do-mundo a ser fotografado por pastores hereros de tanga. Aqui há coisa! Estou a ficar chanfrado! Passado dos carretos! Háka. Himbas - cafecos do kunene.

Pressentia-se vagamente o aparecer da tarde aonde a calma esmorecia um pouco a sombra dos troncos retorcidos de embondeiro alongando-se pela terra gretada e poeirenta. No horizonte desenhavam-se seios erectos reluzindo fogo entre pedregulhos de onde nasciam cactos em forma de candelabros. O silêncio da planura ondulava uma aprovada expectativa impassível, estirando labaredas num céu incendiando o horizonte.

edu59.jpgAs narinas arfavam nervosamente o suave cheiro de capim que de pontas viradas ao céu davam término em abrupta falésia; lá em baixo, na margem fustigada pelas ondas de águas rápidas farfalhavam mornices de verão pisoteadas por “nemas” chifrudas em movimentos leves, até graciosos. Era o rio Cunene.

Naquele instante e depois – em todos os instantes, sentia que me afastavam de tudo de quanto amava, e chorei disfarçadamente como se nunca mais ali voltasse. Dissimuladamente, limpava-me assim, como se finge limpar o suor.  De novo e agora, a nostalgia das terras do fim-do-mundo transcenderam no tempo fantasmagórico longos bocejos feitos admiração.

A partir dali iria passar por Fiume – um pedaço de estado livre, depois o “Epupa Falls do Okavango em Sepupa)” já no Botswana mais o Delta do Okavango. O rio Cubango ou Okavango que em seu curso, passou a a desbravar aventuras ora seguindo mansamente, ora rápidamente entre desenhadas figuras em  rochas com espuma branca e, mais longe não pude ir, nem voar

ÁFRICA18.jpgFaltava um todo o terreno ou um ultra leve para prosseguir a ver as quedas feitas rápidos,  deslumbrantes deste rio que vai para o Delta. Demasiado descuidado no agora, tempo de regenerações, usando pensos higiénicos fosforescentes dando bufadelas coloridas como os carroceiros boéres mais a sul; dos hábitos quase secretos que só eu mesmo abençoo entre as porcarias pálidas que se evaporam nas notícias mentirosas poluidoras  do Mundo.

Não se deve abandonar o nada de que se goste, e por amor amarrámo-nos às coisas da natureza como se ama alguém que nos é querido. Naquela universidade ou diversidade, aprendemos que as plantas comunicam entre si, por isso o elefante tem de andar muito, e contra o vento para que a coisa apetitosa, deixe de o ser.

epupa01.jpg Eu explico: - As plantas saborosas ao elefante são devastadas até ao extermínio e estas por feromonas lançadas ao vento, avisam as demais da mesma espécie que rápidamente passam a ter um sabor desagradável, expelindo ou misturando na sua seiva fluidos repugnantes ao sabor; o paquiderme “Jamba” predador, tem assim de contornar a selva ocupando um grande espaço da mata. E. fiquei a saber da importância que tem o salalé na limpeza da floresta eliminando troncos e folhas em decomposição, criando nutrientes para outras espécies se desenvolverem com mais pujança.

(Continua)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:07
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Sábado, 26 de Agosto de 2023
VIAGENS . 63

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3473 – 26.08.2023 - Foi no ano de 1999

- Escritos boligrafados da minha mochila - Aquele Bóere* das batatas do Vaal deveria ter mesmo olhos nos pés!

Por baú de coiro1.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

BATATAS4.jpg Aqui há diamantes? Perguntei à suricata empinada numa pequena elevação que nada me disse, pudera! Sem se importar com essa brilhante pedra que ofusca gentes, fugiu para um dos muitos buracos ali espalhados; terra fresca denotando trabalho árduo para assim se refrescar daquele calor tórrido; calor que chega a ir a mais de cinquenta graus no pico do verão. Coisa para se dizer, Pópilas!

Pois aqui, damo-nos conta de que afinal, sempre há povos a descrever teorias ou filosofias novas clareadas por meio de metáforas que a natureza lhes ensina. Aquela de os pés dos bóeres têm olhos vuzumunava minha kuca com lantejoulas rupestes. Nestes espaços abertos dissociamo-nos dos conflitos sociais; das metáforas criadas pelo homem a justificar coisas sempre compreendidas numa forma de agradar.

BATATAS6.jpg As artes criativas dos homens continuarão a florescer com brilhantes expressões saídas da imaginação; novos níveis de conflito ou sedução e, porque a arte por vezes é a mentira a nos mostrar a verdade. Ué… Lembrei-me do professor Souares, um espiritualista com manias de mwata a enfeitar minha testa com unguentos de salsaparrilha e xixi de guaxinim fedorento, tentando resolver meus problemas de mau-olhado.

Este eterno conflito foi-nos legado pela inteligência que tende a evoluir no tumulto com velhas ou novas criticas - velhas teses ou teorias diferentes deste mwata Kimbanda da mututa que me quer desfrisar uns kumbús como assim, na saúde, na doença e o escambau… Um teste de vida de tendência evolutiva legada por Deus, porque pensar o contrário disto, será decerto uma imperdoável heresia. Nos vínculos efectivos do antes, agora, depois e, enquanto gente, vamos rever humanidades antigas de quando passamos de animais quadrupedes a pessoas com mais de 600 centímetros cúbicos de capacidade craniana. Se agora temos 1.500 centímetros cúbicos de capacidade, tudo leva em crer que no futuro, nossas cabeças serão tão grandes que só se nascera de operação cesária.

BATATAS5.jpg Este problema sempre presente e cada vez mais remanescente, não reside na natureza nem na existência de Deus mas, nas origens biológicas que pela mente cataloga o auge evolutivo na biosfera. Poderá dizer-se nesta pequena imagem de vida real que cada homem está por assim dizer num estreito nicho como numa burocracia de curral. A parede deste nicho esmaga-nos individualmente a personalidade levando-nos a não poder extravasar nossa euforia como se fossemos bois confinados só a mugir até serem defuntados com um urro levado na ponta dum facão. Por ali, entre os khoisans, busquimanos, que se saiba, nunca andou  sequer um profeta escrevendo na areia qualquer mandamento…

As nossas atitudes em relação às coisas, reflectem critérios de valor fundamentais tornando a relação homem-coisa em algo cada vez mais transitório. Se eu fosse professor catedrático teria de vasculhar os termos para não falar tão fora dos parâmetros convencionais. A ideia de usar um produto-coisa uma única vez ou durante um curto espaço de tempo, substitui-lo ou deitá-lo ao lixo, contraria a sociedade ou os indivíduos com uma herança de pobreza.

batatas8.jpg As gentes do meu tempo, septuagenárias, que nasceram antes da invenção do plástico e do aparecimento do transistor, muito antes de haver computadores e inteligência artificial e ajuda dos algoritmos, não estão tão habituadas a produtos de utilizar e deitar fora; até conservam seus casamentos para lá dos cinquenta ou mais anos; preferem reciclar a vontade de fazer querer, em detrimento do só querer. Hodiernamente já nem vou a casamentos para não me sentir defraudado com a curta duração do umbigamento; quando muito, mando um pouco do meu laço de solidariedade com umas escassas centenas de kumbú para não o ser ovelha ranhosa na família… 

Comecei esta em querer falar no homem das batatas da África do Sul mas tudo escorregou na ladeira mais fácil a fim de não perturbar as mentes, pois sempre ouvi dizer que a fé move montanhas. E, num lugar ermo como este do Calahári, aonde o estio é brutal, um homem semeou batatas no deserto e, porque acreditou em Seu Senhor, foi abençoado com toneladas de tubérculos. Contaram-me, vi até um filme que mostrava aquela arides. Ao seu redor havia descrença e a surpresa apanhou-os de boca aberta; Também eu  fiquei confuso vendo tanta batata saída da terra. Terra que, com  vento, só leventava pó. Este bóere do Vaal devia ter mesmo, olhos nos pés!

khoisan04.jpg Bibliorafia: Bóere: Na África do Sul, os bôeres (africânderes) foram a base social principal do regime do apartheid, que durante muitas décadas vingou na África do Sul. Ao mesmo tempo, foram o grupo chave para o desenvolvimento económico da África do Sul e a posição de vantagem deste país na economia mundial… (Dados da Wikipédia…)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:34
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Sexta-feira, 11 de Agosto de 2023
VIAGENS . 52

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3462 – 11.08.2023

- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha - Em Ondundozonanandana  -  Foi no ano de 1999

Por himba3.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

div3.jpgDa tenda para o buraco de observação e, um céu carregado de estrelas que nos tremelicavam olhares, de entusiasmo, nem nos apercebemos. Era a tranquilidade da natureza envolta em muitas coisas a serem descobertas. Nos dias que se seguiram, percorremos as picadas assinaladas e, de forma a ver o maior número de animais, que íamos registando num prospecto.

O leão era sempre o mais procurado e, quando alguém os descobria assinalavam-nos aos demais colocando também um pionés (percevejo) no quadro-mapa (placard) da base Okaukuejo. Esta base era em verdade um buraco com água rodeado de disfarçadas bancadas aonde o visitante turista observava em segurança os animais da savana que ali iam beber.

himba7.jpg É em verdade um conjunto de chalés e locais de campismo aonde os visitantes podem andar em segurança pois que está rodeado de duas fiadas de arame farpado e rede com corrente continua para os Big Five (Os quatro grandes animais) e qualquer um outro, que possa atacar o animal homem; É como se o fosse um galinheiro grande no meio de um deserto savana só que, neste caso eram os observadores (nós) que se mantinham encerrados entre as seis da tarde e as seis da manhã.

A adrenalina escorregava-nos a partir dos olhos, atentos a qualquer movimento ou montículo estranho no meio do capim. E, demos as voltas de Namotoni e Alali parando em um e outro para descansarmos, relaxando à sombra fresca das acácias, tomarmos um café ou comer-se qualquer coisa rápida porque, não havia tempo a perder.

etosha1.jpgEsta reserva do “ETOSHA PAN” foi há muitos anos atrás um lago abastecido pelas águas do rio Cunene que aqui as vazavam, trazidas do planalto central da Angola - à semelhança das águas do rio Cubango (Okavango) que desaguam no Delta do Botswana, um lago interior que também iremos visitar por terra e por ar. Por um acidente cósmico, o rio Cunene foi desviado do seu curso para o Oceano Atlântico.

Este antigo lago do Etoscha é agora uma das grandes reservas aonde se podem ver um grande número de espécimes, suplantando a meu ver, a Reserva do “kruguer Park” na África do Sul. Este é o melhor destino para quem quiser ver animais em quantidade e em curto espaço de tempo. É claro que temos o Quénia, N’Goro-Goro, Delta do Okavango, e muitas outras mais pequenas reservas mas, como o Etoscha não há igual.

rundu1.jpeg Tínhamos ainda um longo percurso a percorrer em terras da Namíbia e, o nosso próximo destino era a casa do Mais Velho Miranda Khoisan e da Dona Elisabette (falecida recentemente – em 2023) na margem direita do Okavango no lugar do Shitemo. Sucede que a caminho do Rundu a maioria da tribo T´Chingas que era agora composta de Ricar Manhanga, Isabel Manhanga, Ibib - sobeta, Marco M´fumo Manhanga, todos decidiram variar o azimute ao rumo. Por vontade aplaudida do Soba, todos quiseram ir até às Quedas do Ruacaná em terras de gente Himba

deserto04.jpg Com medo de estragarmos as recordações dum mar de areia fina já passado, movemos todos finas camadas de nostalgia ainda recente, adormecidas na memória fresca, de forma aleatória. Da muita coisa dum cada olhar de duna ondeando a nossa própria sombra como rugas conformadas com o tempo que não pára nunca. Ouvimos também, às vezes, estalidos numa estranha argola, as estrelas do nosso templo (nossa testa) e, a areia escorregando na ampulheta das nossas vidas…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:14
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Terça-feira, 25 de Julho de 2023
VIAGENS . 36

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA

- " DOS TEMPOS DE DIPANDA“  - Crónica 3446 – 25.07.2023

- Verdade ficcionada

Pornamibia22.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

N´Tumbo0.jpg Oshakati, ficava na direcção contrária à faixa de Kaprivi, uma faixa de linha recta saída do Divundo junto ao rio Cubango (Okavango) até o rio Zambeze com cerca de 405 km de comprimento e 30 km de largura. Tem a forma de frigideira e fica situada no nordeste da Namíbia formando as duas regiões namibianas denominadas de Kavango e Kaprivi

Tinha indicações que havia um tal senhor Rocha que fugido do Sul de Angola ali se estabeleceu com um restaurante e uma fiada de casas térreas que eram alugadas a baixo custo a refugiados; foi para ali que me dirigi e aonde me refastelei com uma caldeirada de cabrito. Enquanto a família comia, uns quantos olheiros miravam e ouviam atentamente o que se passava entre nós; gente deslocada de Angola que vivia de expedientes e bufaria…

n´guzo2.jpg Rocha era ainda um rapaz novo; sentou-se em nossa mesa e conversamos um longo tempo, fruto da minha insistência na recolha de informações. Rocha falou abertamente do sonho em se fazer rico, construir um hotel em condições e negociar com diamantes quando lhe fosse possível. A empatia foi tal que não se coibiu de falar o que quer que fosse…

Aconselhou-me a ficar num dos quartos de Bicho da Ponte do Charuto (Estômbar do M´Puto) logo no fundo da rua, pois que ele estava com os alojamentos repletos de gente saída de Angola. Em África parece tudo ser perto pois que tudo se sabe; carências de notícias levam à união e a fraternidade dando a isto, uma característica única no mundo; Em nenhum lado do grande globo se encontra esta postura e este facto é a razão do porque, ninguém se esquece desses locais aonde a vida tem socalcos diferenciados assim como se estivéssemos num permanente mundo de Indiana Jones, coisa de cinema com senas a correr numa mina do tipo de kimberly …

okakau1.jpg Daqueles aromas, do som do mato, do chorar da hiena, do uivar do mabeco e até o cacarejar das capotas com o “tou-fraca, tou-fraca…” mais o por do sol atrás duns chinguiços, cassuneiras ressequidas e mato estéril. Rocha estava a par da odisseia de João Miranda do Mukwé e acabei por ouvir um pouco mais da sua fuga das terras do fim-do-mundo, zonas do Calai, Dírico e do Rundu:

Quando Miranda chegou ao Mucusso e passou a fronteira para o Sudoeste Africano, as autoridades sul-africanas actuaram com rapidez. O comando Sul-africano do Rundu, enviou prontamente tropas para receber a família no Calai. A família Miranda estava salva. O comandante da polícia local, o inspector Erasmos, instalou os Miranda numa “guest house” do Governo, nesse tempo Namíbia, ainda estava debaixo da alçada Sul-africana.

div4.jpg Nessa mesma tarde apareceu o general Loots, reformado, combatente da II Guerra Mundial, acompanhado por um oficial português, madeirense, o tenente Silva. João Miranda foi entrevistado e no final informaram-no de que receberia no fim do mês um ordenado, relativo ao primeiro dia em que fugira de Angola. Para a Intelligence Sul-africana era de grande valor ter um homem que dominasse a fala por estalidos dos khoisan (bosquímanos), que fosse conhecedor da área e tivesse tido um agraciado valor militar – era o caso. 

A família foi depois transferida para Grootfontein, já no interior norte da colónia, para maior protecção. - Julgo que é ali que eles estão agora! Afirmou Rocha. Com esta informação a minha odisseia teria outro rumo; Teria toda a noite para pensar como prosseguir no dia a seguir; agora iria à procura do senhor Bicho para me instalar. O Okavango seria nosso destino, Mukwé, não muito longe do Rundo cidade, eram os rumores mais aproximados de seu bivaque (“acampamento”) - Não seria assim tão difícil encontrar um comerciante branco junto ao rio Cubango…   

(Continua…)

Glossário: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.

O Soba  T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:08
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Terça-feira, 18 de Julho de 2023
VIAGENS . 29

CASSOALÁLA – ANGOLA - Outros tempos (1924)

Crónica 3439 – 18.07.2023 - HISTÓRIAS DA TZÉ-TZÉ . Parte 

Tempos de quitanda e tipóia       

Por tzé7.jpg T´Chingange (Otchingandji)Em Arazede do M´Puto

tzé0.jpg Naquele dia de véspera natalícia o dia estava húmido em Coimbra do M´Puto. Busquei coisa não encontrada e, perdido o autocarro sete com destino ao Tovim, decidi-me já cansado a subir a ladeira; após a avenida da Republica, passo a Cruz de Celes e mais acima, não muito longe de Santo António dos Olivais o cheiro da Petisca de Celas tentou-me a entrar.

Petisca é uma das muitas casas de meio pasto, meio tasca, aonde se juntam uns quantos resistentes da vida; já velhotes, cruzam conhecimentos na conversa da palavra malamba. Serve de sedativo à vida, vida regada com um carrascão de Cabriz que, nem é mau.

Pedi um pratinho de arroz de sanchas (míscaros) com uma carne que desfiava em gostura e, sentei-me em frente daquele senhor; por falta de lugar solicitei àquele tal que aparentava ter uns quase setenta anos e, o faça o favor veio logo a seguir.

tzé6.jpg Estava desejoso de companhia. Não foi necessário muita conversa para logo me fazer a pergunta se, se tinha vindo de Angola. Talvez pela pronúncia ou a forma trópico-cordial da minha abordagem, assim começou o inesperado diálogo da qual é objecto desta escrita na forma de malambas (palavras). Este senhor tinha o nome de Conceição Muralha…

Muralha fala-me com paixão dos tempos em que no Lobito e, sendo despachante oficial, levava uma vida restingada naquela falsa ilha de que tanto se recordava e… que já o seu avô cronista de tempos idos falava. Eram tempos de tipóia, disse ele. Lá por volta de 1924 em terras de Benguela de onde era natural, o seu avô teve de ir em tipóia de Quipupa até Dombe Grande.

tzé1.jpg Na companhia de João Lara e, numa extensão de sete léguas, tiveram de atravessar o rio Caporolo aos ombros daqueles fortes mondombes; mondombes, diz em esclarecimento, eram os indígenas naturais do Dombe e, continuou recordando feitos! Feitos dele próprio, mas mais de seu avô que em missão oficial tinha ido a Angola no navio Pátria recolher informações de várias actividades - Um repórter da escrita, acentua!

- Quem foi o seu avô? Pergunto curioso, a fim de recolher mais dados sobre este tema. E, a isto respondeu: - Pedro Muralha!... E, se quiser, uma vez que o vejo tão interessado, posso ceder-lhe o livro que editou há setenta e oito anos. Deixe ver?! Isso mesmo, em 1935 nasci eu em Benguela, tinha o meu pai uns vinte anos mas isso, não importa para o caso. Fiquei curioso!

255.jpg A.ROXO ... Quem diria!? Na normal ocorrência, um desvio na rota e eis que deparo com este inesperado encontro. A completar o senhor Conceição emprestou-me o dito livro, cópia que ele prezava em que todos tivessem conhecimento. Ainda não li aquelas crónicas todas mas alcançada a página 149, não resisto transcrever alguns trechos desta leitura que descreve na margem do Cuanza as ambiências duma Quitanda (mercado), os jacarés e a tzé-tzé…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:53
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Sexta-feira, 7 de Julho de 2023
VIAGENS . 23

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA

– Na piscina da Pajuçara, tive a companhia de uma tartaruga com bem um metro de diâmetro…

Crónica 3431 – 07.07.2023 

Porpaju3.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Na Lagoa do M´Puto

pajuçara02.jpg Em minha hidroginástica matinal na piscina da Pajuçara, tive a companhia de uma tartaruga com bem um metro de diâmetro, tomando em conta que sua cabeça que emergiu várias vezes, era do tamanho de um coco de meio porte. Foi a única parte de seu corpo que emergiu da água bastante turva. E, por a água estar turva, não deu para ver o corpo integral a uns escassos 4 metros. O turbilhão de ondas que batem no recife, tornam a água muito cheia de pequenas partículas que se soltam de entre as rochas dando a cor esverdeada à água.

A cabeça desta tartaruga parecia um camuflado castanho os quais se salientavam os olhos por serem grandes e luzidios. Este acontecimento deu-se em cinco dias alternados perfazendo nove aparições e sempre emitindo um som forte de aspiração de água ou o enchimento de seus pulmões – um sopro que me meteu medo pela primeira vez pois que estava sem pé na altura de água e também o foi novidade.

Entretanto chega o pescador de bicicleta andando na areia compactada de molhada e, por ali estacionou perto do meu local com o património do Conde do Grafanil, composto de uma cadeira inclinável e o chapéu-de-sol e chuva quando ela cai molhada; claro que também ali estavam meus chinelos de pé, a mochila, a flanela, a chave do mukifo - tudo tapado com a toalha mexicana. Chegado ali pelas 5 e 50 horas dou assim abertura à praia ainda deserta de chapéus e gente.

viagens2.jpg Por vezes cai um cacimbo que aqui tem o nome de garoa; nestes dias mais chuvosos esta chuva de molha-tolos dá algum desconforto mas não demora muito o sol desponta inchado de 27 ou 28 graus e, que em certos dias de verão pode mesmo ir até aos 32 graus. Quando a água está quase um espelho é muito agradável andar na água sem pé para lá e para cá ora fazendo de rã ora fazendo de jacaré e por vezes de hipopótamo. Assim e lentamente faço percorrer o chapéu branco com riscas verdes do Palmeiras Futebol Club treinado pelo português Abel Ferreira, ora indo para poente ora para nascente.

O pescador, senhor Zeverino do Jaraguá, entra na água com sua rede de cerco com os seus cem metros; assim enrolada dum certo jeito, espeta um pau comprido na areia que tem o início da rede e, andando com água acima do peito vai dispondo a rede paralelamente à borda água fechando-a mais à frente nesses tais cem metros. Vejo esta tarefa mais ao largo distinguindo a rede pelas bolas brancas de esferovite que proporcionam o boiar da rede. Do fundo os chumbos dispostos ao longo da mesma rede veda por assim dizer a zona do cerco.

viagens3.jpg A finalidade é fazer com que os peixes ali fiquem presos; para esse efeito Zeferino bate na água fazendo com que o peixe se enfie na rede; Não tem sido muito feliz nos dias que tenho observado sua tarefa e por vezes vêm caranguejos chamados de ciris. Mesmo que nada pesque, ginastica seu físico dando vida à sua hora extra. A operação de bater a água é feita simultaneamente com o fecho da rede de forma lenta e na forma circulada de caracol até que já junta é carregada aos ombros para a areia aonde com gestos certos a vai dispondo em monte sacudindo as alas e retirando o pescado quando o há.

Um Trabalho que nem sempre o é eficaz mas, que traduz a verdadeira lei da vida, mexer-se recolhendo o proveito e em simultâneo absorvendo a seda da água com o iodo matinal e a tal de vitamina D com outros sais que nem é necessário enumerar, ressarcindo vontades de resiliência na nata do batom branco das ondas que não muito longe batem nos recifes, formando uma linha branca que confrontar mais álem o horizonte com o azul escuro da água e o escuro azul do céu.   

viagens4.jpg Lá pelas nove horas, com chapéus de todas as cores dispostos ao longo da praia desde a Ponta dos Corais até o Jaraguá com seu Porto Açucareiro, é a hora certa para regressar ao mukifo. É a partir das nove horas que chegam os vendedores ambulantes com panos galhardos de cor, redes, ostras no gelo, camarão ou skol fria – espigas de milho cozido, óculos de sol, bolas e bóias e toda a catrefada de coisas que se possam imaginar. A vida, não é assim tão fácil para estes camelós…

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:07
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Terça-feira, 20 de Junho de 2023
KAZUMBI DE BORUNDANGA . XV

O Mundo actual tornou-se um espaço complicado

- A teoria da VITIMOLOGIA - Vitimização pela cor é um discurso na contramão…

Crónica 3429 - a 20.06.2023

 Por Avillez2.jpg T'Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió (Nordeste do Brasil)

BORUNDANGA3.jpg Em Kizomba-Diáspora-Angola, um grupo social do qual sou administrador, (página iniciada por mim já algum tempo), pude ler uma referência ao dia da CRIANÇA AFRICANA e, estranhando ser especificamente um outro dia, havendo já um DIA DA CRIANÇA – de todas as crianças, insurgi-me contra o facto de se diferenciar nos dias e nos géneros étnicos. Porque li: Comemorado 15 dias depois do Dia Mundial da Criança, o Dia Internacional da Criança Africana chama-se a atenção para a realidade de milhares de crianças africanas que todos os dias são vítimas de violência, exploração e abuso.” - Este dia é celebrado a 16 de Junho já que foi neste dia, em 1976, que se registou o massacre do Soweto, em Joanesburgo, na África do Sul.

O meu chamamento foi assim descrito “Porquê haver um dia distinto para a criança africana!? Não basta o dia da criança - de toda a criança... A ser assim teríamos bem uns trezentos e cinquenta e um dias da criança. Posto isto, decidi fazer auscultação e pesquisa do assunto tão badalado nos dias que correm e, pude chegar à escrita que se segue.

araujo189.jpg As pesquisas de vitimização constituem um importante instrumento para estimar a prevalência da vitimização pelos chamados crimes tradicionais, de opinião, causa tendencial ou por influenciação tão em voga. E o papel da sua autocolocação em risco. Chamar a atenção para a necessidade de se atender às necessidades hipotéticas de supostas vítimas, por danos históricos, causas passadas ou por desvios padrão no comportamento social no intuito de obter benesses através de ressarcimento.

E, por sequência ter assistência psicológica, ficar em realce, ter melhor cotação para algo, criação de centros de atendimento com dinheiro públicos, ou outras, pondo em detrimento outras visões ou conceitos pré-formatados. Tudo apresentado por meio de um sistema de palavras postas de uma maneira lógica ou dedutiva, em que a pena ou dó, pode deturpar a natureza e causas pelo apelo sistemático à vitimização. Um tema do maior interesse social nos dias de hoje.

aaa3.jpg Vitimização pela cor é um discurso na contramão dos movimentos anti-racistas insurgindo-se de forma permanente e, recorrendo a vitimização por vezes fantasiosa, usando a cor da pele à falta de outro suporte como justificativa para a falta de oportunidade, entre muitas outras vertentes sociais para obter mais-valias.

Vitimização torna-se assim em uma bolha vitimista, que tem de ser retratada sem esse mistério de queixa que convém desmistificar para bem da sociedade. O valor de ordens que sustentam a sociedade, é uma realidade objectiva criada pelas leis da natureza em que na igualdade das pessoas, sempre aparecerão algumas mais iguais. O factor cor, não tem de ser aqui evidenciado. Há sim outros indicadores que recaem mais sobre os líderes de países africanos...”

beldr5.jpg Resta saber se efectivamente a UNICEF pactua com esta postura discriminatória porque pude ler: «««Todos os anos este dia* merece a atenção da UNICEF e de outras organizações mundiais que organizam eventos variados, tendo em vista a defesa dos direitos da criança em África e no mundo". In Google»»»

Nota* Pergunta-se: qual o dia?

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:27
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Segunda-feira, 19 de Junho de 2023
OT´CHIPULULU . 9

T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DA MENTIRA – Parte 2

TAP - TROIKA AÉREA PERNICIOSA - Mau-olhado

- Crónica 3428 – 19.06.2023

Por vacas voadoras.jpg T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil

temer3.jpg O valor de ordens que sustentam a sociedade, é uma realidade objectiva criada pelas leis da natureza em que na igualdade das pessoas, sempre haverá algumas mais iguais. Estes, dedicarão a maior parte de suas energias a explicar como verdadeira tal e qual como a estória da “Alice no país das maravilhas”, sem se limitarem ao espaço que temos à nossa disposição!

Seguindo o estudo académico do Professor Fernando G. Sampaio Reitor da Escola Superior de Geopolítica e Estratégia - Cidadão Emérito de Porto Alegre (Brasil) e, tendo chegado às falas com muitos “itens” dos quais já foram revelados lguns, pelo que continuamos com os restantes (alguns dos quais de forma abreviada) e, que se seguem: TEORIA DA MENTIRA  (2001)…

Íten7. Portanto, a Mentira não e uma falsa opinião, nem um engano ou descuido ou questão de crença. Mentir, é um acto deliberado.

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Íten8. Tanto é deliberado, que se pode mentir dizendo a verdade, contanto que se queira enganar o outro com o que esta sendo dito, pois, o essencial na questão é que a mentira seja levada sempre, no sentido de fazer crer, ao alvo da mentira, aquilo que se deseja para ele - o alvo

Ítem9. A mentira é, pois, muito ligada à noção de crença, daí derivando para a questão da formação da opinião.

Íten10. De onde concluímos que a mentira é destinada a criar um clima, na opinião pública ou geral que favoreça o emissor da mentira e, naturalmente, desfavoreça o alvo do emissor.

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Íten11. A mentira deve, pois, criar um ambiente, que seja positivo para aqueles que se valem dela e isto implica em prejuízo ou derrota por parte dos que aceitam esta mentira.

Iten12. Voltando ao aspecto estratégico da questão da Mentira, vejamos o seguinte: se precisamos tomar decisões para traçar uma estratégia, é necessário que venhamos a obter as informações necessárias e corretas, para que possamos tomar as decisões acertadas. Caso contrário, nossa Estratégia fracassará.

Íten 12A. Eis, aí, a base onde se insere a utilidade da Mentira, para o adversário que resolve derrotar-nos: Sabemos que a nossa conduta é determinada, basicamente, por dois elementos: a) o nosso desejo; b) as informações que dispomos, para realizar o nosso desejo, o que nos leva ao seguinte esquema: desejo e informação conduz ao vector de conduta…

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Íten13. Se um inimigo, adversário ou mesmo o próprio organizador das decisões estratégicas, não tiver acesso às informações básicas e corretas para a condução das operações (seja em que plano for, tanto suas operações militares quanto comerciais ou políticas), a sua conduta resultará inadequada e a sua estratégia falhará.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:31
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Sábado, 17 de Junho de 2023
OT´CHIPULULU . 8

T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DA MENTIRA – Parte 1

TAP - TROIKA AÉREA PERNICIOSA - Mau-olhado

- Crónica 3426 – 17.06.2023

Por boia2.jpgT´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil

demo1.jpg A mentira, usada na forma sofisticada de sonegar a informação, terá de se aceitar como uma nova corrente de democracia (inovadora’). Será?! Plastificando nossa mente, após conhecermos narrativas espantosamente dissimuladas, assim acaba por virar uma verdadeira revolução de indignação, Lá teremos de estudar esta genérica maneira de estar, socializante! No intuito de me inteirar de como as tricas podem bem suplantar as troikas, dei-me ao trabalho de pesquisar tudo o que é sabido acerca da mentira, seu uso e nuances adjacentes, sem sair do plausível em questão de “seriedade”.

Nesta balela costumeira e vezeira como se coisa vulgar o fosse, sairá decerto muito mal na teoria da ciniquisse (vocábulo novíssimo). Chego assim a dados credíveis em tese, de aceitar que, governar, é fazer crer, de acordo com a famosa frase atribuída a Maquiavel. Deste modo consultei via net o Professor Fernando G. Sampaio Reitor da Escola Superior de Geopolítica e Estratégia - Cidadão Emérito de Porto Alegre tendo chegado às falas com muitos “itens”, que se seguem: TEORIA DA MENTIRA  (2001)…

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Íten1. Governar é fazer crer, famosa frase atribuída a Maquiavel, que nos leva ao centro deste debate, que denominamos de Teoria da Mentira, no sentido em que a Mentira, como instrumento, possui o seu próprio corpo de normas, sua própria estruturação e metodologia, já experimentada, ao longo dos séculos, na arte de governar e, por extensão, na subversão dos governos e das instituições.

Íten2. O conhecimento da Teoria da Mentira é Estratégico. Julgamos fundamental ao estudioso da estratégia no conhecimento do funcionamento da Mentira, já que, não podemos basear nenhuma estratégia em falsidades, em erros, em inverdades, pois então, esta estratégia, estará definitivamente fadado ao fracasso.

Íten3. Por isto, estamos com o professor Robert A. Dahl, que em sua análise política afirmou que “pretender uma análise objectiva da política pressupõe que se dê valor à verdade... é preciso acreditar que vale a pena distinguir o verdadeiro do falso”.

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Íten4. É justamente, então, que entra a Teoria da Mentira: o objectivo da mentira é impedir-nos de distinguir o verdadeiro do falso. É confundir, é iludir, é enganar e, assim, nos levar a tomar decisões erradas (para nós), mas que beneficiam quem criou e espalhou a mentira.

Íten5. A mentira é, portanto, arma valiosa no arsenal de qualquer beligerante ou assemelhado e serve, tanto para a guerra como classicamente entendida, como para a propaganda política podendo ter utilidade, assim, tanto no conflito externo como nas lutas políticas internas.

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Íten6. O que é mentir? Por definição, a mentira é o discurso contrário à verdade, efectuado com o objectivo de enganar. Daí concluímos que o elaborador da mentira conhece a verdade e efectua deformações intencionais sobre o verdadeiro, para atingir o seu objectivo.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



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Sexta-feira, 16 de Junho de 2023
N´GUZU . LXIV

CONHECER MELHOR O BRASIL

– TROPEIROS

Parte - Crónica 3425 – 16.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por tropeiros2.jpg T´Chingange (Otchingandji) Na Pajuçara de Maceió

tropeiros8.jpg Dom José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal já no tempo de D. José I tinha feito uma leitura da situação do Portugal decadente e, fez saber da necessidade de se mudar a capital e a corte para o Brasil, de onde vinham os grandes recursos da balança comercial. O facto de a França estar numa viragem cultural e política, por via da revolução de 1789, que terminou com a realeza magnânimo e promíscua com a decapitação de Maria Antonieta e, mais tarde as invasões Napoleónicas, favoreceram a concretização da ida da corte, do ainda príncipe regente D. João VI, para o Brasil.

De forma apressada fizeram-se ao mar, com protecção da marinha Inglesa, um dia antes da chegada das forças francesas com o comando de Junot. Lisboa, a capital do Império, era uma beleza vista do rio Tejo mas, dentro das ruas e ruelas, o bafio e o mau cheiro era deprimente; pela noite atirava-se pelas janelas de Alfama, Mouraria e outros bairros, penicadas de dejectos humanos, urina ou águas saponáceas.

tropeiros9.jpg Foi neste quadro que, D. João VI, sua corte, nobres, algum clero, dependentes privilegiados, largaram do Tejo. As Musas e Ninfas, Tágides daquele rio deveriam estar muito ocupadas em um qualquer outro lugar; talvez andassem encavalitadas nos botos do Amazonas. O dia 27 de Novembro de 1807 naquele cais da Ribeira foi agitado; com as presas nem tudo se pode levar para bordo, as forças francesas já tinham passado a linha de Torres. Na viagem com tempestades, imundice, água estagnada, velas rasgadas, mastros podres, carne bolorenta e piolhos a viagem fez-se, até que a 7 de Março de 1808 no início da tarde, parte da esquadra do Príncipe Regente chega à baia de Guanabara no Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro, à semelhança de Lisboa, era deslumbrante com seus morros de escandalosa verdura e 60 000 habitantes, dos quais 13 000 eram escravos, os excrementos também aqui, corriam com água suja pelo meio da rua; também aqui se atirava tudo para essa sargeta, com porcos chafurdando e galinhas repenicando. Havia muitas crianças deambulando, pois naquele tempo só havia o coito interrompido como salvaguarda da linha zero; a era ”light”, o látex, o método tântrico e o sexo digital viriam muito mais tarde. Havia bostas largadas por bestas, cavalos e mulas dos muitos tropeiros almocreves.

tropeiros6.png  Pois é destes almocreves tropeiros que ocuparei as falas seguintes.  Tropeiro é o termo referido na historiografia brasileira à actividade relacionada com tropas de mulas criadas nos campos de elevada salinidade, terras planas do Rio Grande do Sul. Devido à salinidade estes pastos foram criadouro de manadas de mulas reservando os bons pastos para o outro gado dos quais se extraia leite, peles e a própria carne. Devido a existirem muitos burros xucros, termo para definir animais ainda selvagens, aproveitaram sua rusticidade para transportarem em seu dorso mercadorias. Em verdade também não havia vias e os charcos eram mais que muitos dificultando o uso de carroças.

As mulas xucras podiam percorrer cerca de dois mil quilómetros subindo e descendo encostas agrestes e suportando invernadas agressivas nos campos do Paraná. Saídos do Sul, chegavam a Sorocava, cidade situada perto de São Paulo, exércitos de tropeiros conduzindo suas mulas, concentrando-se naquela que era a maior feira a Sul do Brasil no início do século XIX. Os condutores destas tropas tinham uma dieta que consistia na própria carga que as mulas carregavam: carne-seca, charque, carne de sol, feijão e angu de milho, farinha de mandioca, café, açúcar e melaço deste, na forma de rapadura – produtos metidos em sacos de sisal para se ajustarem ao dorso das mulas cargueiras.

tropeiros7.jpg Calcula-se que cerca de vinte mil muares eram negociados anualmente nessa feira anual de Sorocava, havendo anotações de se transaccionarem 100 mil no ano de 1850. Dom Pedro II, neto de D. João VI, era neste então o imperador do Brasil, entre 1840 e 1889, período no qual o país passou por muitas transformações como a Guerra do Paraguai e a abolição do trabalho escravo. Da feira de Sorocava eram comercializadas milhares destes animais para o resto do Brasil e, li que na região de Jaguari de Minas Gerais foram importadas 12 mil destas “bestas”. Sem trem nem estradas, o recurso era adquirir estes animais para transportarem grandes cargas em longas distâncias.

As chamadas tropas eram compostas pelo condutor-chefe, companheiros, cozinheiros fazendo-se acompanhar por cães; estes eram usados para evitarem a dispersão das mulas xucras. Algumas destas mulas eram designadas de madrinhas, porque por hábito tornavam-se experientes na condução do restante lote de muares sendo dispostas de forma intercalada para melhor gestão da fila de pirilau de mulas, umas atrás das demais. Estas mulas eram normalmente enfeitadas com arreios de prata, guizos no peitoril e chapéu de plumas na cabeça. Talvez não o fossem em todo o percurso mas assim eram arreadas de bonitas para fazerem boa figura na feira.

(Continua)

O Soba T´Chingange      



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:03
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Quinta-feira, 15 de Junho de 2023
OT´CHIPULULU . 7

T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DO CINISMO

GALAMBICES - Mau-olhado - KAICÓ é gelo com açúcar!

KIBOM é um sorvete; BALEIZÃO era um gelado...

- Crónica 3424 – 15.06.2023

Poraraujo153.jpg T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil

CINISMO02.webp Karl Marx gostava de Kaicó! Com sua balalaika de vestir, referia-se ao “novo homem” que deveria emergir do triunfo da ideologia comunista. Isso aconteceria depois do triunfo histórico dos oprimidos sobre os opressores. Mas, que tem o Kaicó a ver com comunistas? É que eles também gostam do Olá e do KIBOM! A criação do novo homem, para Marx, era vista puramente em termos materialistas. O “novo homem e a nova sociedade” seriam possíveis apenas pela derrota do capitalismo. Os meios de produção como fábricas e terras, por exemplo, não deveriam ser propriedade de uma pessoa, mas de toda a sociedade .

Pois é! Alguns aproveitaram-se! Era o cinismo puro de quem vende água com açúcar consumindo-a só para fingir. É aqui que teremos de ir analisar essa forma de estar que não sendo nova, sempre engana. Há quatro razões de, porque os "cínicos" são assim chamados. Primeiro por causa da indiferença de seu modo de vida, pois fazem um culto à indiferença e, assim como os cães, comem e fazem amor em público, andam descalços e dormem em barris nas encruzilhadas.

cinismo01.jpg A segunda razão é que o cão é um animal sem pudor, e os cínicos fazem um culto á falta de pudor, não como sendo falta de modéstia, mas como sendo superior a ela. A terceira razão é que o cão é um bom guarda e eles guardam os princípios de sua filosofia. A quarta razão é que o cão é um animal exigente que pode distinguir entre os seus amigos e inimigos. Portanto, eles reconhecem como amigos aqueles que são adequados à filosofia, e os recebem gentilmente, enquanto os inaptos são afugentados por ele, assim como os cães fazem, ladrando contra eles.

No marxismo, para se chegar ao “novo homem”, é imperativo que se transformem primeiro as condições externas dos oprimidos. A história, contudo, não está do lado da visão marxista do homem - Danou-se!? Então, para conhecer o cinismo ou ciniquismo (palavra nova), teremos de ir até Diógenes, o filósofo que se tornou um mendigo habitando nas ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; teria vivido num grande barril, um lugar de fingir ser uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto. Pópilas, afinal isto de se ser cínico já vem lá muito detrás.

kibon1.jpgEm cada lugar em que a revolução foi vitoriosa, quer na Rússia, na China ou em Cuba, o que se verificou não foi o surgimento do “novo homem" usando o cinismo até à exaustão, assim o surgimento do “novo opressor que curiosamente também gostam do KIBOM; chegou o Maduro à Venezuela, que curiosamente ou nem tanto, também gosta do Kaicó. Dizem os papalvos que com ele gravitam, que o mesmo é vítima de uma visão superficial do homem ocidental porque não levam em conta o verdadeiro pecado... E, o mundo começou com pecado, lembram-se! Só que ele, Maduro, moita-carrasco, finge que Cristo é um grande seu amigo para lá do molusco – O mundo vai-se calar de cansado e vamos, que vamos. 

Soube-se que o Kibom, o Baleizão, o Kaicó naquele tempo não existiam para todos, porque o gelo era demasiado caro. Ele, o Diógenas continuou a buscar o ideal cínico da auto-suficiência, uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias da civilização. Até custa acreditar que naqueles tempos houvesse isso de civilização mas, fogo à peça: Por acreditar que a virtude era melhor revelada na acção e não na teoria, sua vida consistiu-se numa campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais, do que ele via como uma sociedade corrupta; custa até acreditar nestas versões que tudo indica, ser uma grande inventação.

kibon01.jpg O cinismo espalhou-se durante a ascensão do Império Romano no século I, tornando-se em um quase movimento de massas, e assim, os cínicos eram encontrados mendigando e pregando ao longo das cidades do império. A coisa pegou! Mas, a doutrina finalmente desapareceu no final do século V, embora alguns afirmem que o cristianismo primitivo adoptou muitas de suas ideias ascéticas e retóricas. Que falta nos faz o “se bem me lembro – Vitorino Amnésico”. A auto emancipação do marxismo falha porque espera, ao mesmo tempo, muito e muito pouco: muito do homem, que consistentemente transforma sua capacidade criativa em fins de poder e, isso revolta alguns! É porque alguns são mais iguais que outros, NOÉ!?

kibon2.jpg Assim, antes de sermos brancos ou negros, ricos ou pobres, educados ou sem estudo, somos criaturas que gostamos de Kaicó, de Olá, de Baleizão ou de KIBOM sem termos de ir à loja do povo pedir solicitudes! E, porque hoje é de feira amanhã forçosamente será uma outra feira!? Com ou sem comunistas, o tempo continuará, sabem! Elementar - Tomara que não chova, chuva molhada... Amanhã penso comer um KIBOM como se fora Baleizão... Mas, ir a Cuba - nunca mais!... Só mesmo a Cuba libre. Ser enganado uma vez, chega!

Resumo: CINISMO: É A FILOSOFIA A SERVIÇO DA ÉTICA BASEADA NAS ATITUDES

FUI…

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:02
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Terça-feira, 13 de Junho de 2023
VIAGENS . 22

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBAXICULULU DO M`PUTO

TEMPOS CÍNICOS – Crónica 3423 – 14.06.2023 

Por144.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

cão1.jpg Para os muçulmanos hodiernos, Fátima – a Santa, é a filha mais velha de Maomé. Isto, se não for cinismo, é quase uma heresia, um absurdo ou contra-senso. É assim como uma picada de alforreca, daquelas malignas, que deixam riscas para justificar que, a mortificação do corpo desta ou outra forma, foi originária de Deus para superar o espírito. Se nos abstrairmos de maldade, de gazes radioactivos do xénon ou crípton poderemos encontrar formas menos sofisticadas de sonegar alguma informação e, de uma vez, gerir o silêncio, o que nos levará a ficar com a mente plastificada.  

Se não formos desta para melhor, uma contradição cínica, nunca encontrarei verisimilhanças com a verdade de uma morte não provocada nas características da nossa essência. Se as pessoas compreendessem que os direitos humanos só existem na imaginação, não haveria o perigo de a nossa sociedade colapsar, falir, desmoronar ou implodir…

maian4.jpg Nós, gente, não possuímos direitos tão naturais quanto as aranhas, osgas, hienas ou elefantes; estaremos portanto sempre e, como gente, a correr o risco de colapsar – kiákiákiá, um faz-me rir. Pude ler mais ou menos deste jeito, no livro de Yuval Harari espicaçando minha veia erudita. E, porque dependemos de mitos, e os mitos ultrapassam-nos, quando as pessoas deixam de neles, acreditar. Não é interessante este cinismo?!

Uma vontade feita ordem imaginada, não pode ter sustentação se não tiver a existência de seguidores ou verdadeiros crentes. Sabemos que um só sacerdote, muitas vezes, realiza o trabalho de uma boa centena de soldados, quando no meio de uma guerra ou em mudanças de cariz social, se rebatem conceitos de princípios políticos. 

eleuterio sanches.jpg  Os juízes, os agentes policiais, soldados e carcereiros, não conseguem manter uma ordem em suas tarefas se seguirem essas mesmas ordens imaginadas, na qual não acreditam. Sendo assim, alguns ou muitos de nós, teremos de tomar como verdadeiras essas ordens, para que tudo não fique em suspenso de deixar prescrever a realidade e, até acreditar entre aspas que sim, pode haver alternativa a um plano só imaginado.

Se transpusermos estes principios para o nosso hodierno viver, no pequeno rectângulo chamado de Portugal, veremos que as actividades políticas de governo, de cai governo, de vamos ver como tudo fica, é quase como investir num mercado de acções, activismo de um verdadeiro cinismo porque o é antidemocrático e, de absoluto desprovimento de sentido. Chegados aqui vamos recordar o filósofo grego que fundou a escola cínica e que vivia metido numa pipa…

retornar4.jpg Ora, foi um tal de Diógenas que, visitado por Alexandre - o Grande, encontrou o mestre das falas relaxando ao Sol, bem no cimo de sua pipa. Engraçado!  Alexandre, o Grande, perguntou o que podia fazer por e ele, Diógenes respondeu ao conquistador todo-poderoso -“ Sim, pode fazer algo por mim: - Por favor chegue-se um pouco para o lado, porque me tapa a luz do Sol”. Bem! Podemos transportar este cinismo colocando no lugar de Diógenes o nosso Primeiro-ministro Costa e como Alexandre o nosso presidente Marcelo R. Sousa.

Isto se, considerarmos a vivência actual em que verificamos que “nem o Estado morre, nem a gente almoça”. É por isso que os cínicos não constroem impérios e, será por isso que, uma ordem imaginada só pode ser mantida, se grandes segmentos da populaça, em especial da “elite socialista”, do actual “Estado de forças”, acreditassem verdadeiramente nela, a ordem imaginada. Só mesmo para concluir: O cristianismo não teria durado 2023 anos, se a maior parte dos bispos, padres e afins, não acreditassem em Cristo…

cinismo1.jpg Nota: Diógenes de Sinope, conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia; um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Ele acreditava que a virtude, era melhor revelada na acção e não na teoria…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:54
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MUJIMBO . CXXII

FRINCHAS DO TEMPO – NO DIA DE CAMÕES

– Crónica 3422 – 13.06.2023

MINHA SINGULARIDADE POR UM DIA - “T´CHINGANGE”

PorARAUJO248.jpg T´Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió

maianga0.jpg Por um dia fui Camões! Posso explicar: O quinto Centenário da morte do Infante D. Henrique teve dez anos de festividades um pouco por todo o mundo da lusofonia que culminou a dois de Junho de 1960 o ano de seu falecimento, Foi neste ano que se instituiu a Ordem do Infante D. Henrique. Depois deste intróito relembro o ano de 1954, ano em que em Luanda, toda a mocidade estudantil do nível preparatório participou em sua comemoração na Escola Primária nº 8, junto à Liga Africana da Vila Alice. Creio que tinha os meus nove anos de idade e, quando a minha capital do Império era a MUTAMBA…

Teria os meus nove anos quando me escolheram para ser a figura principal do teatro escolar da Luua na Escola nº 8 da Vila Alice – a figura teatral era a do Infante Dom Henrique, o propulsor da navegação portuguesa. Estudava eu na Escola de Aplicação e Ensaios situada na rotunda de D, Afonso Henriques, situada bem em frente do Sindicato dos Metalúrgicos, início da Rua do Cazuno que ligava a Mutamba à Cidade Alta com o Palácio do Governador, passando pela Casa dos Rapazes; era também o início da Avenida Álvaro Ferreira, que passava mais acima pelo Cine Restauração e a Escola José Anchieta aonde estudou meu irmão Zé Kitunda e, tendo na parte posterior o belo jardim do Parque Heróis de Chaves. A mesma terminava no alto e de frente do Hospital Maria Pia

maful3.jpg O Cine teatro Restauração passou a ser a Assembleia Nacional depois da independência a 11 d Novembro do ano de 1975. Bem perto ficava o Largo Serpa Pinto de onde saia uma rua que subindo, ia dar ao Liceu Salvador Correia, uma rampa bem acentuada e aonde os candengues da Maianga, iam fazer corridas de fórmula um de fingir em rodas de rolamentos. Esta Luanda antiga ainda só deveria ter uns 90.000 habitantes pois que todas as ruas da Maianga estavam por asfaltar desde o sinaleiro bem perto ao Colégio Moderno aonde também andei algum tempo.

Nesta escola ocorreu até então a maior concentração de alunos do ensino primário das escolas do distrito de Luanda da então Província Ultramarina de Angola. Sendo eu a figura de destaque em representação de Camões, tive de apresentar os vários cenários descritos na obra do maior poeta português. E, foram as cenas do Reino de Castela e de Leão, de Egas Moniz, do Adamastor com Bartolomeu Dias mais Vasco da Gama, da Índia e da Ilha dos Amores.

cine tropical1.jpgOs versos que já sabia de cor, fingia ler “As armas e os Varões assinalados, que da Ocidental praia Lusitana, por mares nunca dantes navegados, chegaram mais álem da Tapurbana”. O grande átrio da Escola nº 8, estava repleto de candengues de bata branca, batendo palmas, rindo e exercitando o conhecimento para lá dos horizontes da Mutamba. Posso ainda sentir o cheiro forte do grude da cola de marceneiro que colou ao meu rosto barbas e bigode, e também sentir o tecido branco de zuarte em foles, esticado com farinha de trigo e passado ao ferro de engomar; tecido teso que era a bonita coleira ondulada, que o poeta usava.

Involuntariamente, fui snifado com aquela cola que talvez evoluísse; contínuo sem saber se me alterou partículas dos músculos moles e, até do meu cerebelo. Ver o Tonito filho da Dona Arminda do Rio Seco da Maianga, vizinhos do Almeida das Vacas um antigo degredado colonial, naquele papel maior da história, era algo fora de previsão. Bom! Agora com os meus 78 anos de idade passo até recordar esse evento com um brilho no canto do olho. Ainda haverá gente por aí na diáspora que se lembrará desses idos tempos…

mouzinho1.jpg Nesse dia de festa, foi dado a cada um dos alunos assistentes ao teatro um saco de guloseimas e até houve distribuição de sapatos quedes, patrocínio de publicidade da fábrica Macambira. Gostava de usar estes quedes na gimnástica dada pelo Professor Montês na Escola Industrial de Luanda; em verdade sempre que se proporcionava, usava-os com agrado, pois eram leves e frescos.

mud13.jpg E, porque pude ser lembrado por mais um dia das Comunidades, posso falar ao de leve o quanto senti ser desgarrado de uma terra que era minha e, só porque era filho de colonos idos pela Companhia Nacional de Navegação num barco de nome Mouzinho de Albuquerque e, também por ser branco fui quase obrigado a abandonar. Só ao de leve posso lembrar que anos mais tarde (1975), me ofertaram um bilhete de avião na ponte Luualix, só de ida para o M´Puto! Algo feio que os generais de aviário fizeram, numa visão tão contrária àquela epopeia de Camões. Não tinha de o ser assim, pois foi mau para quem foi e para quem ficou. Fui!

O Soba T´Chingange         



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:56
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Segunda-feira, 12 de Junho de 2023
N´GUZU . LXIII

CONHECER MELHOR O BRASIL  QUILOMBOS

Parte - Crónica 3421 – 12.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por spring1.jpgT´Chingange (Otchingandji)Na Pajuçara de Maceió

kil9.jpgNem sempre a relação entre quilombolas (moradores do quilombo) eram as melhores, dependendo muito do seu lí der ou do Concelho de Mais-Velhos que no d`jango (lapa grande) determinavam as leis ou regras. Por vezes havia contratempos com os escravos residentes de linhagem e, origem de parte diferentes, de onde eles, ou seus ancestrais, saíram.

Em geral, os quilombos possuíam economia própria e tinham algum sucesso no comércio de seus excedentes destacando-se destes o quilombo Moquim no norte fluminense entre outros espalhados pelo país em áreas de mineração a céu abeto, combinando com a agricultura de subsistência o garimpo de pedras preciosas e ouro. Entre estes e as sanzalas próximas, surgiam vendeiros e taberneiros dando aos quilombos melhor condição de fixação de vida.

kilo12.jpg Muitos quilombos do Maranhão envolveram-se em agitações políticas entre a população livre que, após a independência entre 1838 e 1841 foram intensas, designando-se na história com o nome de Balaiadas. Mais a norte de São Luiz do Maranhão, grupos de quilombolas organizaram-se em comunidades camponesas construindo sua memória com identidade protegidos pela imensidão das matas atlântica e amazónica.

E, sempre no sentido Norte, estenderam sua influência e organização aos quilombos vizinhos do vizinho território de Suriname e outros centros urbanos dispostos ao longo da costa marítima com uma forte interferência de índios indígenas com os quais se miscigenaram. A partir da metade do século XIX, estes grupos tomaram cada vez mais um carácter reivindicativo, reunindo escravos de uma mesma fazenda, negociando directamente as condições de cativeiro.

kilo01.jpgComo uma associação de Mais-Velhos, discutiam sua progressiva liberdade com o senhor “coronel”- o dono do sítio, ou um outro posto de mando social á revelia das instituições governamentais. Em outos casos os quilombos, passaram a desafiar a legitimidade da ordem esclavagista forçando os representantes da autoridade a alterarem os propósitos ou procedimentos que até aí não eram contestados.

Neste contexto as insurreições escravas, assessoradas pelos quilombolas forjavam técnicas de fuga colectiva quando a negociações ficavam emperradas; Manuel Congo, foi um dos líderes escravos que montava novas estratégias de fuga através das matas circundantes próximo ao lugar de Vassouras no vale da Paraíba – actual estado com a capital em João Pessoa. Em 1867 em Vianna do Maranhão, quilombos, desceram do morro para agitar a escravidão das sanzalas, exigindo a abolição na sua forma mais simples de soltura.

QUILOMBO5.jpg Na repressão aos quilombos actuavam milhares de capitães-do-mato (capatazes de fazenda), e a maior parte de efectivos policiais com ou sem volantes, das vilas e cidades de todo o Brasil. Os capitães-do-mato usavam cães de fila para perseguir fugitivos e, eram-no muito eficazes pelo faro, pelo porte e pela fúria. O quilombo de Vila Matias em Santos, liderado por Pai Filipe, sobressaiu em seu movimento abolicionista paulista tonando-se peça fundamental nas estratégias de soltura no eixo São Paulo - Santos. O quilombo urbano de Jabaquara situado em plena Cidade de Santos, foi símbolo maior pelas alianças assumidas entre escravos e movimentos abolicionistas tendo um forte peso no término de escravidão em todo o Brasil.

FIM

O Soba T´Chingange           



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Domingo, 11 de Junho de 2023
VIAGENS . 21

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBAXICULULU ANTIGO

TEMPOS CUSPILHADAS – Crónica 3420 – 11.06.2023 

Porsilas3.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

acácia rubra2.jpeg NÃO SIRVAS A QUEM SERVIU, NEM PEÇAS A QUEM PEDIU - Diz a Lei de Murphy "Se alguma coisa pode dar errado, assim o será!" - Se usarmos a analogia de Darwin pela “Selecção Natural” para definir sociologicamente a humanidade, constatamos de que, os mais ricos ou fisicamente mais bem constituídos estarão sempre em melhor posição para sobreviver ou vencer, em detrimento dos mais pobres, débeis, vulneráveis ou impreparados. Os experientes e instruídos vencerão sempre os seus oponentes menos municiados intelectualmente nos desafios que a vida tiver para oferecer, quando estes se candidatarem a testes selectivos ou psicotécnicos.

As pessoas que já nasceram vencidos, vergados pelo infortúnio ou por e via de sua incapacidade financeira, tibieza ou destreza, tornam-se presas fáceis de exploradores e oportunistas. A grande maioria do mercado de trabalho tecnologicamente não qualificado, contenta-se com profissionais de segunda ou terceira. Não existem segredos de vida escritos em compêndios ou cartilhas em que se aprenda como sobreviver neste mundo cão.

FK3.jpg O ideal será que cada um satisfizesse as suas necessidades independentemente das suas habilitações. Mesmo estes, em um lado qualquer do globo, encontrarão quem os sugue de forma desmesurada, não lhe dando acesso ou recursos para passar de certos limites, tornando-os permanentemente dependentes. Salvo raras excepções o destino destes temerosos, será sempre o de serem empregados dos outros…

Contrariamente às leis da natureza que ilusoriamente nos fazem acreditar porque nascidos pelo mesmo local, nossas vivências e destinos serão igualitários. Assim não é! Assim não o será! Nada poderia ser mais falso quando os dogmas são imbuídos na ilusão dum universo restrito no conceito dum Deus. Alguns eleitos terão o condão de viverem rodeados dum luxo que o dinheiro pode comprar. Alguns mais corajosos ainda terão o atrevimento, ousadia e a veleidade de pensarem que reúnem as condições para se aventurarem a fazer alpinismo social sem umas cordas na forma de cunhas.

Fraternidades0.jpg A grande maioria fica-se pelo caminho, vencidos e desencorajados, pois os trilhos estão minados com engodos: ou me serves ou…. E, aqui a frase fica sempre camuflada num muxoxo (uma exclamação de bater com a língua no palato…) incompleto. Alguns muito bem preparados psicologicamente conseguem heróica e atrevidamente chegar ao topo mas nunca serão aceites pelas elites que falam ou parecem ter um Deus exclusivo…

O único factor que mantem o equilíbrio mundial, impede revoltas e que as massas trabalhadoras se apoderem das riquezas que elas próprias geram para enriquecer terceiros, é a ESPERANÇA de que as sociedades por moto próprio se tornem reformistas, humanitárias, fraternas, solidárias e igualitárias. Normalmente vão dar-se mal com esse hipotético socialismo! É que isso, não existe!….

lundu2.jpg E, como ninguém enriquece apenas pelo suor do seu rosto e fruto do seu trabalho, só existem três formas de chegar a esse desiderato, ou pela exploração do trabalho de terceiros pagando-lhes ordenados miserabilistas, de forma fraudulenta, por meios ilícito, ou através de um golpe de sorte acertando no totobola, lotaria, raspadinha ou euro milhões. Há sim, um outro meio: - Entrar na política…

Todos querem ser ricos; assim, foi inteligentemente criado por estes que “a riqueza não traz felicidade”. Na mente dos pobres ou remediados existe a triste ilusão de que um dia a sorte lhes baterá á porta e que também poderão comer caviar, faisão ou lagosta, regando as suas opíparas refeições com champanhe D. Peringnon. Sim! Que até podem comer picanha todos os dias da semana… Na labuta fora de seus países como emigrantes, irão regressar á Terra Prometida um dia e à medida que envelhece dá-se conta das leis! Das leis imutáveis pelas quais o mundo está organizado e construído que, são apenas duas, ou se nasce rico ou pobre, uns mandam e fazem as leis, outros obedecem e cumprem-nas. O ser-se criado de quem já serviu não se augura em um bom fim. O seu, a seu dono! Fui…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:58
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Sábado, 10 de Junho de 2023
VIAGENS . 20

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA“MILAGRANDO A VIDA”

TEMPOS CUSPILHADAS – Crónica 3419 – 10.06.2023 

Por roxo138.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

roxo135.jpg A felicidade, a realidade do conhecimento, os fundamentos e a aplicação da justiça ou existência de Deus, cria conflitos intermináveis em opiniões na tentativa de se ultimarem todos os impasses. Uns, por virtude de inteligência, são prudentes, outros acreditam na resolução pela força e, outros sempre continuarão fanáticos desconhecendo a propósito, o lado da opção certa.

Agora mesmo ocorreu-me aquela estória de uma tal senhora estar a ser infiel ao marido; eles eram sim, casados de papel passado e no regime de adquiridos. Comentava-se que o marido sabia mas fingia não saber! Ora, ora, diz um comum amigo perante isto: “Cornos que dão de comer - deixá-los crescer”. Cismando nisto, até acabo por concordar que há gente bem metafórica. Vejo até neste acaso uma quase parábola certeiríssima – que serve como uma luva…

roxo145.jpg Achei assim que neste contexto, a paródia quase parábola é tão verdadeira que se pode aplicar a muitos outros casos, como fonte de razão. O modo como tudo fundamentamos, como construímos a imagem, contribuirá para se ver o mundo na perfeita razoabilidade em assim se viver no engano. Neste correr de ideias que coamos em nossos comportamentos “chifrudos”, não nos damos conta no quanto somos servis à opinião na forma de narrativas …

Quantas e quantas vezes, ficamos por dizer o que nos apraz para não contrariar a opinião de alguém a quem temos respeito, amizade ou simples obediência. Na maioria das vezes somos susceptíveis a abrir mãos de nossa própria vontade, vivência ou juízo de valor baseado num ponto de vista pessoal ou subjectivo, em troca de reproduzir um quadro geral de imagens, dizeres ou esquemas que consideramos insuportáveis; uma plausível explicação da realidade que pode ser física, social, histórica mas e, principalmente da realidade política.

Roxo155.jpg Posso jurar que tenho procurado ser o mais frontal mas, sempre evito machucar por subestimação quem pensa de forma diferente; a propósito, mudo o rumo da conversa optando por defraudar minha opinião para não desjustificar-me na convicção. Não raras vezes, me surpreendo procurando leituras que me justifiquem, sem usar um método de falsidade.

Critico-me muitas vezes e até procuro investigar-me da justeza, pelo surgimento duma qualquer ideia que me circunscreve. Talvez por isso, nem sempre consiga manter o brilho com o certo vigor na formulação desse sentido, o que nos descapacita pela mordaça. Quantas e quantas pessoas se portam assim e, por isso aqui transcrevo só para que conste porque daqui não virá mal á nação.

roxo151.jpg Para que conste e a bem da nação, era como se dizia antigamente, no tempo em que empenhavam as barbas pelo uso das palavras. Claro que me perturba analisar as raízes da mentira que tantos repetem até que pela força, se torne verdade – uma pura alquimia de falácia. Isto de assim viver sem tumulto, não é fácil; a tarefa de explicar os fundamentos de algumas visões no mundo, cada vez se torna mais difícil.

Mais difícil e, que nos obriga a construir uma ou mais narrativas por forma a nos ajudar a evitar replicar outras opiniões, que sabemos de antemão o serem verdades inequívocas. É demasiado enfadonho encolher ombros como um deixa andar, animado de voluntariedade na espontaneidade do pensamento, todo e qualquer frescor de concepção. Deve ser tarde para mudar!

Ilutrações aleatórias de Assunção Roxo...

O Soba T´Chingange     



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:06
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Terça-feira, 6 de Junho de 2023
MOAMBA . LVIII

A NUDEZ DA VIDA – COISA APÓCRIFAS E PEIAS DE SISAL

“Somos uma sopa nutritiva…”

Crónica 3415 – 06.06.2023 na Pajuçara de Maceió - Brasil

Por:kimbo 0.jpgT'Chingange – (Otchingandji) 

kilo8.jpg Na era tecnocientífica dos nómadas digitais e inteligência artificial, com a robótica e o tal de 5G, a liberdade adquiriu um novo sentido à semelhança de um adulto emergindo da infância fumada com papel de celofane, embrulhando barbas de milho de fingir cigarros fumados por adultos; agora há sim uma gama de escolha muito mais ampla de todos os produtos imaginados, assim o seja esses tais de cigarros electrónicos que devem matar mais que os normais. Sendo assim, temos um número maior de utentes e intervenientes, seja na admiração, seja no compartilhamento de risos e responsabilidades.

Nada demonstra que nos tenha sido atribuído um destino ou um propósito especial, ou que nos tenha sido outorgado uma segunda vida depois de terminada a que presentemente, cada qual, vive. Por uma qualquer razão, uns cientistas dizem que fomos criados não por uma inteligência sobrenatural mas, pelo acaso e pela necessidade, numa espécie de entre milhões de outros existentes na biosfera da terra. Bem! Eu, não considero plausível esta tão simplória forma de singularidade.

kilo01.jpg Outros, dizem que fomos criados por extra terrestes que nos harmonizaram tal como somos e, num ciclo de tempo que já o foi mais avançado do que hoje na tecnicidade Ipso facto, uma expressão latina que significa “pelo próprio facto” ou seja, que um certo efeito é uma consequência directa da acção em causa, um blàblàblá, filosófico na arte de engavelar ciências.do facto. Se lermos Gênesis 2,7 o texto diz: Então Iahweh, Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente. Foi Jahvista que modelou esta história no segundo capítulo da Bíblia.

Por isso, antes que a terra me coma, eu como a terra em comprimidos de argila, posso explicar: A frase hebraica que a Bíblia traduz como “argila do solo” é “apar min-hadamah” - apar pode ser traduzido como “poeira” e min-hadamah como “do solo”. APAR é o mesmo vocábulo usado para a frase muito conhecida por nós, presente em Génesis 3,19: pois tu és pó e em pó te tornarás. Numa época muito passada e, de muita tecnicidade em conhecimentos nucleares, isso da fricção de iões e catiões e edecéteras que nem convém escalpelizar, bem que podemos tagarelar que nossa destruição, um destes dias acontece, talqualmente como aquela grande explosão fez da mulher de Ló uma estatua de sal (ou pó).

kilo4.jpg Pópilas! Se aquela atomicidade de então já fala isso, comparando a nuclearidade de hoje que é exponencialmente mais elevada, estamos mesmo muito lixados, quilhados, tramados mesmo! Feito ao bife. Prefiro acreditar no Deus omnipresente e omnisciente e seu filho Jesus, que há dois mil e vinte e três anos, os homens chicotearam como se o fora um animal e, que  pregaram numa cruz de madeira de oliveira, pregos artesanais batidos na forja com aquela maldade de raiva torcida em cordas de folhas de cacto, do mesmo sisal com que hoje se fazem as nossas peias - Baraço, correia com que se prendem os pés dos animais de carga.

Ainda há outros científicos que afirmam que nossa origem vem duma alga. Afinal, temos mais facilidade para aceitar a ideia de que os seres vivos se originaram e evoluíram a partir de outros seres vivos. Essa visão fundamenta a teoria da biogénese. As moléculas orgânicas dos seres vivos teriam evoluído a partir de organizações moleculares acreditando-se na hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos (também conhecida como Teoria heterotrófica).

kilo6.jpg As narrativas da ciência são tão variadas que há um sem número de versões arcaicas impregnadas de religiosidade que confundem as ideologias com cientificidade. Digam o que disserem, eu sempre irei dizer que a Natureza e Deus são um só mistério que nós humanos nunca nos iremos definir por completo. Nada indica que Eva e Adão fossem símios; eram alvos e sem pelos como os nossos primos peludos chamados de chimpanzés e orangotangos. As muitas versões irão continuar apócrifas no meu raso entendimento. Creio que só o somos enquanto somos depois, viramos nada. Somos sim o final de muitas curvas e contracurvas derivados desses tais de australopitecos com um cérebro que evoluiu até se criar a presente civilização.

kilo3.jpg É que na atmosfera da Terra Primitiva não havia oxigénio (O2) nem n nitrogénio (N2), sendo o ar composto de gases como metano (CH4), amónia (NH3), hidrogénio (H2) e vapores de água (H2O). Ora não havendo oxigénio, não havia uma camada protectora de ozónio (O3) e, isso significava que além da luz visível, a superfície do Planeta era bombardeada por raios ultravioletas com a temperatura, bastante elevada. Sob o efeito adicional de tempestades eléctricas constantes, as moléculas mais simples teriam sofrido reacções químicas e alcançado níveis de organização mais complexas produzindo uma "sopa nutritiva" repleta de açúcares simples, aminoácidos, ácidos e nucleosídeos. Agora para confundir ainda mais, diz-se que o mundo não tem bordos, não tem fim e, há até um buraco negro que anda a chupar energias. Isto complicou…

Fui!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:04
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N´GUZU . LX

CONHECER MELHOR O BRASIL

– CANDOMBLÉ

Parte - Crónica 3414 – 05.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por luua27.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

kilo01.jpgAinda sobre candomblés e, para terminar, sempre relacionando estes fenómenos sociais às tradições de raiz bantu, recordar-se agora que na cidade de Rio de Janeiro, a presença deste povo de N´Gola foi preponderante na primeira metade do século XIX, aonde a expressão candomblé teve mais evidência.

Nas últimas décadas desse século, um número expressivo de escravos baianos chegam ali pelo tráfico interno esclavagista. Isto, não significa que “casas de fortuna, zungus, cangerês e casas de feiticeiros”, como eram chamados, não reunissem adeptos para cerimonias religiosas afro-brasileiras próximas aos candomblés da Bahia.

Repare-se na novidade de apresentar estas culturas na progressão de afro-africanas para afro-brasileiras, mais-valias de origem da costa africana e mais propriamente dos reinos de N´Gola de Matamba, Muxima e Benguela. Entre muitos feiticeiros da cidade do Rio de Janeiro no século XIX destacou-se na década de 1870 um famoso curandeiro e adivinho com o nome de Juca Rosa.

kilo4.jpg Este, em suas cerimónias, estavam presentes práticas de diferentes origens, iorubás, católicos e bantus. Recorde-se que em Angola em meados do século XX sobressaiu o nome de Sambo, um ervanário, raizeiro e curandeiro do planalto central de Angola. Eu, que saí de Angola no ano de 1975, ainda tomo chás que ele indicou para tomar a fim de atrapalhar o avanço de vária malazengas; habitualmente tomo os chás de “caxinde e de brututo” para estabilizar meu esqueleto. E, a ele devo a prática de comer a terra antes que ela me coma - a argila verde…   

Mas, e quanto a Juca, a casa dele, era frequentada por muitas pessoas, em geral negros pobres mas, também representantes da elite e até nobreza. Em redor de seus ritos e cânticos, havia animais a serem sacrificados, havia velas e um altar disposto para teatrar a imagem de Nossa Senhora e do Senhor do Bonfim.

kilo7.jpg Havia muitos tambores chamados de macumbas, fumos com cheiros de ervas com arruda e outras de tranquilizar espíritos mais o preparo de banhos e feitura de amuletos, uma verdadeira parafernália de poderes defumados e perfumados. Em outras partes do Brasil oitocentista, o chamado candomblé seria conhecido por outras designações como: Batuque no rio Grande do Sul, e xangô em Recife e Alagoas.

Para além desses locais de cultos organizados, a vida religiosa dos descendentes de africanos, escravos ou libertos do período Imperial, era fortemente marcada pela crença do sobrenatural e no poder de determinados objectos para protecção, sorte e felicidade. Por isso, a força de tantas festas religiosas, do culto aos santos, das promessas, das bênçãos e responsos, betinhos e patuás e bolsas de mandinga. 

kilo8.jpg Mandinga, era a designação de um grupo étnico de origem guineense, praticantes do Islão, com o hábito de carregar junto ao peito pendurado em um cordão, pequeno pedaço de couro com inscrições de trechos do Alcorão, que negros de outras etnias denominavam patuá (pópia). Do outro lado do Atlântico, em Angola, podem ser verificadas as mesmas práticas só que, mudando nos nomes tais como kazukuteiros e gente dada ao trambique, raizeiros ou curandeiros que fazem milagres…  

FIM

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:51
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Sexta-feira, 2 de Junho de 2023
VIAGENS . 19

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA“MILAGRANDO A VIDA”

TEMPOS CUSPILHADAS – Crónica 3411 – 02.06.2023 

- Subsidiamo-nos por bagatelas…istopassa, deixandar

Por araujo27.jpg ´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

dia89.jpg Nossas vidas são estórias armadilhadas de segredos, de não digas nada, istopassa, que não é importante; juntando lixo com luxo procura-se sossegar a vida andando entre os pingos da chuva, agradando como a história diz, a gregos e a troianos; não fales porque te podem queimar, e edecéteras medrosos, para poder levar uma vida mais fácil!

Em dado momento, somos carneiros que seguimos como manda o governo, o líder, a religião, subsidiando-nos por bagatelas… Não há maneira de sair deste imbróglio de viver a modernidade, falar da história tão engravidada de idiotas erros de cálculo e, ficar-se indiferente, assobiando para o lado - parecendo concordar com tudo, para não obstruir uma amizade, duas e, ou muitas mais.

tonito 20.jpg Talvez, cada um de nós interveniente na contestação, se interrogue: - serei eu que estou errado? Mas, então porque é que as pessoas (a maioria) não falam!? Que indiferença é esta de não se ser metal ou metalóide, de se ser ou não e, dar a conhecer - ser de esquerda ou de direita; ficar assim escondido na obscuridade, simplesmente encolhendo os ombros da precaução.

Embatocar num deixandar- Nem carne nem peixe – uns morcões! Mas que raiva! E, as forças provocatórias de mudança, para pior ou melhor, que libertam o mundo das formas que ninguém tampouco poderia imaginar. Ninguém quer forjar a revolução procurando uma dependência humana – mas depois queixam-se: Ai que a vida está cara! É mesmo, a precaução não tem ombros…

mulaa2.jpg O carapau está ao triplo do preço; e, muitos outros têem de ir ao mato defecar, suportar o mau cheiro dos excedentes de todos e carregar baldes de água sob o inclemente sol. É mesmo uma grande chatice, atiçada por fungos, bichos de pé com salmonelas, a modernidade alheia a passear.

Nesta modernidade, os académicos não conseguem evitar os factores não materiais como a ideologia ou a cultura. E, em dada altura sabe-se por suficientes provas, de que as guerras nem são provocadas por haver escassez de alimentos ou por pressões demográficas, mas por um qualquer doido desmotivado de fé e, porque simplesmente assim o quer.

Eu, que sou vitima de uma revolução, por muito que lhe remexa, não encontro pistas reveladoras de uma verdade verdadeira. E, surgem novas obrigações, novas habituações, novas modas e exigências do qual não conseguimos mais viver sem elas – as modernidades. Agora que tudo é feito por computador, não há mais cartas, escasseiam os selos, também escasseiam os balcões…

TORRES15.jpg Os balcões de atendimento e, num repentemente estando onde quer que seja, no sossego, o zumbido de um drone faz-se ouvir, passa para lá, volta e gira, talvez filme, talvez leia, talvez vigile. Isto já me passa dos limites. É sim a modernidade, uma vida mais fácil, uma vida melhor – o futuro. O plano é esse!? O futuro tona-se paulatinamente num dos principais actores no palco da mente humana…

O Soba T`Chingange      



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:03
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Quinta-feira, 1 de Junho de 2023
MUXOXO . LXVI

TEMPO COM CINSAS – A Democracia tende para o Totalitarismo

Crónica 3410 – 01.06.2023

Por picasso3.jpg T´Chingange (Otchingandji…) Na Pajuçara de Maceió - Brasil

Congo0.jpgResumidamente: A Democracia é um regime político em que os cidadãos usam seus direitos políticos participando igualmente, enquanto o Totalitarismo é caracterizado por um dirigente, que se apoia num único partido (ou uma maioria), deixando o povo em conflito e, culpando sempre um “outro” nos desaires.

Sendo assim, o totalitarismo pode bem ser considerado um acontecimento típico de modernidade que surge encapotado ou trasvestido, entrelaçado com muitas e diversificadas leis, acordos, relatórios ou despachos que saem da base como picos de um cacto de matriz democrática.

Assim sendo, a modernidade chega ao limite da inventação no que leva a perguntar se não herdamos no imaginário, entre muitas, um das formas fraudulentas de conceber “a política”. Esta referência à imaginação totalitária advém de uma noção equivocada de que a verdade absoluta deve ser resolvida por um acto político com uso à mentira ou narrativa; uma exposição de factos, uma narração, um conto ou uma história.

DIA73.jpg Narrativa ou mentira em que a realidade vem embrulhada em celofane. Surge assim a intenção firme de como fazer promessa em dar apoio com 100 ficando assim assinado e noticiado mas, na prática desses 100 cativam-se na fonte 50, defraudando obviamente as espectativas de um prometimento. Usar deste jeito, uma prática extractivista do trabalho do povo (+ de 50% do produto) - actividades de colecta mais além dos habituais produtos naturais, sejam eles de origem animal, vegetal ou mineral…

Este acto de sub-reptícia é um tipo de encoberta violência que mesmo sendo morna, não pode ser simplesmente compreendida como um subproduto da imaginação totalitária mas que, está sim na sua raiz socialista! Teremos por isso de fazer uma reflexão filosófica investigando conceitos à medida que eles se apresentam na forma constante de variedade de fenómenos observados.

coelho5.jpg Fenómenos que surgem não por mero capricho de curiosidade intelectual mas, pelo firme desejo de compreender experiências de governação seguindo um ideário pré concebido na inverdade, um pecado quase capital – técnica socialista!

E, interrogamo-nos: - mas que tipo de democracia é esta que nos força a aguentar passivamente a “engolindo sapos”, provocando uma desordem na razão pelos fenómenos que surgem com erros de caprichos. Caprichos com a bastante arrogância que nos levam em crer que sua capacidade especulativa passa de prenúncio a anúncio de um problema real.

alcaçuz2.jpg Condição que consequentemente se tornam em “actos políticos totalitários”. É isto que vivenciamos hoje em Portugal em que a fórmula E= mc2 (Estado = Marcelo x Costa ao quadrado) é simplesmente clausurada. Neste ensaio banalizado em bomba atómica teremos de considerar os factores de fragilidade impostos pelo próprio limite do medo – um delicado limite pessoal de quem pode, mas, não quer!

O medo é que guarda a vinha; assim ficamos…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:35
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Quarta-feira, 31 de Maio de 2023
N´GUZU - LVIII

 

CONHECER MELHOR O BRASILCANDOMBLÉ

Parte - Crónica 3409 – 31.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por candomblé6.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

roxo206.jpgAR - As diferentes identificações dos candomblés entretanto, não impediram que solidariedades mais amplas fo- - ssem ali tecidas, entre africanos e crioulos, entre escravos e homens livres e entre negros e homens brancos de posses, incluindo autoridades - algo difícil de ocorrer em outros espaços sociais. Tal solidariedade também se expressou em termos religiosos pois as divindades de origem africana e os santos católicos eram reunidos no mesmo espaço de culto.

Para lutarem contra a opressão e discriminação, os afro-brasileiros criaram uma das religiões mais tolerantes e flexíveis diversificando matrizes cuja raiz ainda existe em Angola e, sendo praticada nos dias de hoje com o nome de Tocoismo. Interessa por gora, dar um resumo desta prática que foi motivo de perseguição pelas autoridades coloniais portuguesas, antes da independência a 11 de Novembro do ano de 1975.

tonito05.jpg  Tocoismo é um movimento formado por seguidores do “profeta angolano” Simão Gonçalves Toco (1918-1984). Igreja constituída administrativa-mente de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo. Trata-se de um dos maiores movimentos cristãos em Angola, contando igualmente com sucursais em vários outros países. Simão Toco, concluiu os estudos liceais no Liceu Salvador Correia em Luanda. Terá conhecido um acontecimento milagroso que lhe despoletou a  missão religiosa: o encontro com Deus em Catete em 17 de Abril de 1935.

Tendo ido para Leopoldville (Congo Belga) para colaborar com uma missão local, dirigiu um coro musical com cantores zombos, oriundos da mesma região dele - Maquela do Zombo. A este coro dará o título de Coro de Kibokolo. Em um momento de “vento tremido” em que o Espírito Santo desceu em África, por sua invocação, a igreja cristã foi “relembrada”, de forma a retomar o caminho da igreja original do tempo dos Apóstolos.

ROXO133.jpgar -  Expandindo sua actuação, por esta altura, ano de 1990, é inaugurada a primeira Igreja Tocoísta em Lisboa, pouco tempo depois, seguir-lhe-iam núcleos em Madrid, Paris, Londres e Roterdão…O Tocoismo sendo um tema de religiosidade a descrever lá mais à frente, daremos um salto para dar continuidade do tal de Candomblé no Brasil.

Assim, apesar de toda a tradição que pretendem ostentar e manter vivas, sendo considerados como uma constituição central de representação politica, reinvenção cultural e negociação dos negros na Baia oitocentista. Os candomblés foram quase sempre vistos pelas autoridades da época um bárbaro costume religioso de africanos, preponderantes entre os escravos da Bahia na primeira metade do século XIX.

pombinho15.jpg Se no período colonial os motivos para a condenação dos encontros religiosos negros conhecido como calundus, baseavam-se na suspeição de que neles, havia feitiçaria. Quanto a esta insinuação de feitiçaria com prática de seita, também Simon Toco teve problemas com as autoridades administrativas lá em Angola, pois que num dado dia e em um momento, sentiram um vento diferente começando a tremer.

 Assim, realizando supostos milagres invocando algumas passagens bíblicas tal como se podem observar nos dias de hoje em muitas igrejas; igrejas que curam com cuspo no rosto e coisas bem difíceis de o serem credíveis pela lógica que os olhos observam e que os ouvidos escutam. No Brasil em uma carta oficial, no ano de 1824, apesar de se estabelecer a tolerância para as religiões não católicas, desde que os cultos fossem domésticos, esteve longe de garantir a liberdade religiosa para os escravos e libertos, pois a concessão estava obviamente voltada, para outras religiões importadas de nações europeias.

(Continua)

O Soba T´Chingange  



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:19
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Terça-feira, 30 de Maio de 2023
MOAMBA . LVII

A NUDEZ DA VIDAPETER, o "pai da administração moderna"…

Crónica 3408 – 30.05.2023 na Pajuçara de Maceió - Brasil

Porfig3.jpg T'Chingange – (Otchingandji) 

kimbo3.jpg A história é fundamental! Só sei que cada vez mais seremos governados por gente que já foi competente, um degrau mais abaixo, porque o foi bom, antes de ocupar este último cargo. Antes de ser o que hoje é; assim o sejam presidente, primeiro-ministro, ministro, secretário de estado ou essa nova sigla de CEO - gestores responsáveis pelo cumprimento de funções específicas, tais como marketing, finanças, operações, desenvolvimento de recursos humanos e tecnologias de informação que poderão também ser chamados de Vice-Presidentes… Pois então, considerando Laurence Johnston Peter, o autor de um princípio que tem seu próprio nome, poderemos assim, comparar.

Melhor dizendo: Segundo o “princípio da incompetência”, num sistema hierárquico, todo funcionário (PS) tende a ser promovido até ao seu nível de incompetência. Aí, pude dar-me por bem informado. A gente do mando, um Presidente ou um Primeiro-Ministro, tende logicamente a atingir os seus objectivos organizando e planeando os recursos da Nação da forma que melhor permita a vida do vulgar cidadão - organizando as estratégias politicas e de marketing, como um todo sem recorrer à falácia à mentira ou compadrio entre seus pares sem despifarrar o saco de dinheiro de todos nós.

engraxador2.jpgEles, os da máxima competência de Portugal, não devem ter lido o receituário de Peter. E, é sim! É fundamental para melhor compreensão em como tudo pode ou poderia ser diferente, para todos termos um melhor futuro. Com efeito, nenhuma compreensão histórica se pode furtar de uma criteriosa metodologia teórica, para explicar os fenómenos na dinâmica do tempo. A frustração surge quando um encarregado auxiliar é bom em sua função e, ao subir na carreira passando a chefe, é uma desilusão. Uma falha na nossa sociedade. Só em muitos raros casos têem o condão de chegar a ser ESTADISTAS. Nesta fase de entendimento terei de recorrer ao que disse Marcelo Caetano em seu tempo: "Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência"…

 - Afirmações virais de Marcello Caetano são autênticas? E não é que acertou mesmo?! Sobre o vinticinco de Abril, disse Marcelo Caetano, último primeiro-ministro do anterior regime, tendo acrescentado: “…reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional”. Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração em massa”; “Veremos alçados ao poder, meninos mimados, escroques de toda a espécie. A maioria não servirá para criados de quarto chegando a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República”. Lê-se na segunda parte da citação atribuída a Marcello Caetano naquele texto viral.

araujo112.jpg As crenças motivaram reacções que foram antecipadas pelos poderes da imaginação. Este acto de imaginar, consiste justamente na tentativa de dar vida à própria realidade imaginada. Tomar em conta que “a unidade e a realidade absolutas, podem nem sempre, iludir-nos”. É certo! O poder moderador em toda a Globália, vai ter em mãos a chave de toda a organização politica, o nível de equilíbrio e harmonia de todos os poderes com altas e enérgicas atribuições, para que o desempenho seja mesmo elevado.

Quem poderia supor que em qualquer dessas atribuições não convém prescindir de um maduro Conselho e de um profundo esclarecimento. Se a justiça vai mal, se desleixa sua função, fazendo da prescrição de crime um “modus operandi”, perde assim sua independência na troca de benesses, arranjos e baldrocas com o governo, assim o seja de direita ou esquerda; tudo então, na justiça, terá de ser revisto para mudar os paradigmas, revisando talvez a constituição.

oxo136.jpg A título de garantia às liberdades públicas terão de forçosamente remexer nas leis, acabar com os megas processos judiciais e técnicas dilatórias e de falsas situações que a todos tolhem de vicissitudes. A revolução mansa do vinticinco teve o nome de “revolução dos cravos” – ora sucede que pelo andar dos acontecimentos do Governo maioritário do PS, se está a cair na radicalização de poder chamar a essa morna arruada de “revolução para escravos” de hoje, pois que estamos a ser governados com sinais totalitários similares às práticas sociais de “coronéis do Brasil” dos séculos XIX e XX.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:28
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Segunda-feira, 29 de Maio de 2023
N´GUZU - LVII

CONHECER MELHOR O BRASILCANDOMBLÉ

Parte - Crónica 3407 – 29.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por candomblé.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

candomblé5.jpg Na passagem do século XIX para o XX, os etnólogos definiam o Candomblé como sendo a única forma organizada baseada na mitologia Jeje-ioruba, do que se conhecia do fetichismo africano na Bahia. Numa nova perspectiva poder-se-ia definir o candomblé como uma das maiores instituições religiosas criadas pelos afro-brasileiros na Bahia desde o início do século XIX quando pela primeira vez foram feitas referências à expressão em documentos policiais.

Em certos bairros das cidades, aonde contavam com a cumplicidade dos vizinhos próximos a quilombos urbanos e cortiços de libertos ou fujões associados a líderes de rebelião, que podiam estar relacionados a irmandades católicas, inicialmente formadas por africanos.

ARAUJO227.jpg  Era surpreendente a extraordinária resistência e vitalidade dessas crenças chamadas de africanas, especialmente depois da abolição de escravidão no ano de 1.888. Observou-se ainda que os candomblés em geral atraiam pessoas importantes a despeito de constantes reclamações da imprensa e medidas repressivas das autoridades.

Gente ligada a questões sociológicas, afirmavam nesse tempo que os candomblés, iriam permanecer por longo tempo, mesmo depois do desaparecimento dos velhos cotas africanos. No século XX, ressurgiram velhos candomblés modificados, confirmando as previsões tornando-se até uma das maiores manifestações de religiosidade afro-brasileira e uma das bases de afirmação de uma identidade especificamente afro-baiana.

ARAUJO222.jpg Se os candomblés partilham muitas características comuns, como o culto aos orixás e santos católicos, a execução de uma série de festas, iniciações, incorporação de santos e obrigações através de seus ritos, ritmos, cânticos e tambores sagrados. Ritos que cada qual possuía vida e história própria, assim como segredos invioláveis.

Embora o termo candomblé apresente evidente filiação linguística ao mundo africano banto, os seus terreiros podiam identificar-se como herdeiros de diferentes tradições africanas, apresentando certas fontes culturais comuns como o “queto” pertencente ao que se costumava chamar de cultura “nagõ”; a mais influente nos candomblés.

candomblé3.jpg A tradição de Daomé originou o “Jeje” enquanto Angola fez sobressair a cultura banta. Por muito tempo, os antropólogos e membros do “povo santo”, defenderam a tese de que os candomblés nagõs, foram os que mantiveram a forma mais autêntica das tradições africanas na Bahia. Isto implicou a construção de uma hierarquia entre os candomblés com alguma desvalorização de outras práticas religiosas afro-brasileiras.

Estas, foram relegadas ao campo das “ inferiores misturas” por veze rotuladas de sincréticas – que combinam princípios de diversas doutrinas ou de concepções heterogéneas. Entretanto diversos estudos evidenciaram o quanto esta auto-identidade “pureza” resulta de uma recriação de identidade do próprio grupo, fundamentais para legitimarem seu prestigioso culto, assim como para a solidariedade da “família-de-santo”.

(Continua)

O Soba T´Chingange  

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:34
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Domingo, 28 de Maio de 2023
MOAMBA . LVI

A NUDEZ DA VIDA – O MPLA DA LUUA inventava a maka!

Crónica 3406 – 28.05.2023 na Pajuçara de Maceió - Brasil

Por valentina3.jpg T'Chingange – (Otchingandji) 

maximbombo.jpeg A história é fundamental para a compreensão de nós mesmos enquanto imaginamos constantemente como tudo poderia ser diferente, melhor no futuro. Tem a função de nos fazer lembrar o tempo todo do que fomos e somos capazes; do que aconteceu de uma certa forma e que nunca deveria ter acontecido daquele modo. Compreender a história requer o minucioso trabalho de reconstrução dos factos e, escalpelizar por meio de estudos de documentos, tratados, acordos, actas, crónicas, decretos de lei, e posturas, para daí não se enveredar pelo pendor especulativo ou inventivo para outras periclitãncias.

Quantos e quantos tratados ou acordos assinados pelas partes não foram depositados logo no dia seguinte no caixote do lixo – e, tudo feito por gente dita responsável. Militares de alta patente que garantiram quase com juras, que tudo; tudo seria feito em conformidade. Estou a lembrar-me do Acordo de Alvor assinado pelos intervenientes da descolonização na Penina (MFA,MPLA, UNITA e FNLA) obedecendo às cláusulas desse tal de MFA – Movimento das Forças Armadas do M´Puto. Nada foi cumprido como estava formatado na Angola de há 49 anos atrás

mavinga1.jpg As feras foram largadas das jaulas com a lei 7 barra 74 do MFA. E, agora vamos fazer o quê para o M´Puto!? As NT - Nossas Tropas já não eram nossas. Davam cunhetes, canhões e até carros de combate numa perfeita cooperação de entreajuda FAP- FAPLA mandando prólixo os acordos de Alvor, assinados na Penina. O MPLA da Luua inventava a maka! Inventava os pioneiros! Depois o Poder Popular! E surgiu o Kaporroto, o kuduro e a victória é certa. Eles já tinham inventado o monstro Imortal, o Valodia e o Monacaxito. Por fim o MPLA ficou com o poder e a guerra sangrenta, de onde eu e minha família saímos.

Tudo foi largado ao desbarato destruindo a vida a mais de um milhar de cidadãos, juntando nesta desventura a Província Ultramarina de Angola do mar Atlântico e a de Moçambique no Oceâneo Indico. O tempo passou, aparentemente curou feridas, muitos morreram com esse desgosto a fazer de câncer, sem o ser. Os perseverantes trilharam caminhos na terra matriz ou na diáspora; um pouco por todo o mundo. Eu, por exemplo, acabei por ir para a Venezuela na alçada do CIME – Comité Internacional de Migrações Europeias. Felizmente, dei-me bem naquele então em que governava o país Carlos Andrés Peres.

mavinga2.jpg Foi um momento alto da minha carreira! Foi ali que realizei o meu pé-de-meia e que originou meu trilho de vida digna. Não obstante sempre mantive o sonho de voltar a Angola mas, a guerra civil que durou mais de trinta anos não o permitiria. E, o resumo é este: eu, saí de África, mas África não saiu de mim! Estando em Venezuela de Andrés Peres, entretanto no M´Puto o lema era "a terra a quem a trabalha". Na Rádio Renascença os trabalhadores avançam para a greve. O Conselho de Estado fazia reuniões atrás de reuniões.

A bem do povo e em nome da Junta de Salvação Nacional e do MFA, o almirante Rosa Coutinho, ligado ao PCP, aparece aos conselheiros de Estado, civis e militares, a sugerir legislação revolucionária. Qual? "Que o MFA não seja a expressão de um simples levantamento militar". De igual modo, o almirante Pinheiro de Azevedo que não lidava bem com aquela revolução, em tom jocoso levanta-se, esbraceja. "Os Srs. conselheiros civis assinaram a sua sentença de morte! Puseram em causa a Revolução!"

mavinga4.png Na imprensa, na televisão e na rádio destacam-se notícias denunciando a sabotagem económica, a fuga de capitais para o estrangeiro. Esta breve estória da história deve funcionar como uma âncora mas, neste meu caso tive a sorte de seguir os atalhos certos na hora que o tinha de ser. Esta âncora não me deixou naufragar sob a ilusória segurança de pretensões e crenças, lamentando todo o mal.

Recorrendo agora à história sem a pretensão de esmiuçar casos mais específicos de regimes, governos que adulteraram regras na ideal linha civilizadora, num mundo em que me considero “Cidadão do Mundo” antes de tudo. E, sempre, sempre submetido de esperança de um mundo mais livre e justo. Sim! Porque a memória consiste na capacidade em trazer de volta ao presente as representações construídas no passado. A ilusão permanece mas, meu sonho esvai-se…

O Soba T´Chingange   

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:17
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Sábado, 27 de Maio de 2023
A CHUVA E O BOM TEMPO . CXXXIV

NAS FRINCHAS DA GLOBÁLIA

Crónica 3405 de 27.05.2023 - Na Pajuçara do Brasil

Um homem sem a liberdade de ser e agir, por mais que conheça ou possua, não é nada…

O PERIGO É AMARELOVêm lentos e, com DISSIMULAÇÃO Parte

Por Christopher Wray, Director do Departamento Federal de Investigação Instituto Hudson

Por escolha de:ara3.jpgT´Chingange (Otchingandji)

arco iris2.jpg Dos mais de trinta países devedores à CHINA, maioritariamente africanos, sobressaem: 1º- Angola com US$ 42,6 bilhões: 2º - Etiópia com US$ 13,7 bilhões; 3º- Zâmbia com US$ 9,8 bilhões e Quénia com US$ 9,2 bilhões. Não demorará que parte de seu património passe a ser gerida directamente pela China…

Este tipo de característica deveria dar às empresas americanas uma pausa quando elas consideram trabalhar com corporações chinesas como a Huawei - e deveria dar a todos os americanos uma pausa, também, quando confiam nos dispositivos e redes de uma empresa deste tipo. Como o maior fabricante mundial de equipamentos de telecomunicações, a Huawei tem amplo acesso a muito do que as empresas americanas fazem na China. Também tem sido acusada nos Estados Unidos de conspiração de extorsão e, como alegado na acusação, tem repetidamente roubado propriedade intelectual de empresas americanas, obstruído a justiça e mentido ao governo dos EUA e seus parceiros comerciais, incluindo bancos.

máscaras3.jpg As alegações são claras: Huawei é um ladrão de propriedade intelectual em série, com um padrão e prática de desconsiderar tanto o Estado de Direito quanto os direitos de suas vítimas. Devo dizer que certamente chamou minha atenção a leitura de um artigo recente que descreve as palavras do fundador da Huawei, Ren Zhengfei, sobre a mentalidade da empresa. Em um centro de pesquisa e desenvolvimento da Huawei, ele disse aos funcionários que, para garantir a sobrevivência da empresa, eles precisam - e cito: “avançar, matando à medida que avançamos, para deixar um rastro de sangue”. Ele também disse aos funcionários que a Huawei entrou, para citar, “num estado de guerra”. Certamente, espero que ele não possa ter significado isso literalmente, mas não é um tom encorajador, dado o comportamento criminoso repetido da empresa.

Em nosso mundo moderno, talvez não haja perspectivas mais ameaçadoras do que a capacidade de um governo estrangeiro hostil de comprometer as infraestruturas e os dispositivos de nosso país. Se empresas chinesas como a Huawei tiverem acesso irrestrito às nossas infraestruturas de telecomunicações, elas poderão colectar qualquer informação sua que atravesse seus dispositivos ou redes. Pior ainda: eles não teriam outra escolha senão entregá-la ao governo chinês, se lhes fosse pedido - as protecções de privacidade e do devido processo que são sagradas nos Estados Unidos são simplesmente inexistentes na China.

sacag4.jpg Respondendo Com Eficácia à Ameaça - O governo chinês está envolvido em uma ampla e diversificada campanha de roubo e influência maligna e pode executar essa campanha com eficiência autoritária. Eles são calculistas. Eles são persistentes. Eles são pacientes. E não estão sujeitos às restrições justas de uma sociedade aberta e democrática ou ao Estado de direito. A China, liderada pelo Partido Comunista Chinês, vai continuar tentando se apropriar indevidamente de nossas ideias, influenciar nossos formuladores de políticas, manipular nossa opinião pública e roubar nossos dados. Eles usarão uma abordagem de todas as ferramentas e de todos os sectores - e isso exige nossa própria abordagem de todas as ferramentas e de todos os sectores como resposta.

Nossos funcionários do FBI estão trabalhando todos os dias para proteger as empresas de nossa nação, nossas universidades, nossas redes de computadores e nossas ideias e inovações. Para fazer isso, estamos utilizando um amplo conjunto de técnicas - desde nossas autoridades policiais tradicionais até nossas capacidades de inteligência. E vou notar brevemente que estamos tendo um sucesso real. Com a ajuda de vários de nossos parceiros estrangeiros, prendemos alvos em todo o mundo. Nossas investigações e os processos judiciais resultantes expuseram a experiência adquirida e as técnicas que os chineses usam, aumentando a conscientização da ameaça e as defesas de nossas indústrias. Elas também mostram nossa determinação e capacidade de atribuir esses crimes aos responsáveis.

144.jpg Uma coisa é fazer afirmações - mas em nosso sistema de justiça, quando uma pessoa ou uma corporação é investigada e depois indiciada por um crime, temos que provar a verdade da alegação além de uma dúvida razoável. A verdade é importante - e assim, estes indiciamentos criminais são importantes. E vimos como nossos processos criminais uniram outras nações à nossa causa - o que é crucial para persuadir o governo chinês a mudar seu comportamento.

Também estamos trabalhando mais do que nunca com agências parceiras aqui nos Estados Unidos e com nossos parceiros no exterior. Não podemos fazer isso, sozinhos; precisamos de uma resposta de toda a sociedade – de todo o mundo. É por isso que nós, nas comunidades de inteligência e segurança pública, estamos trabalhando mais do que nunca para dar às empresas, universidades e ao próprio povo americano as informações de que precisam para tomar suas próprias decisões e proteger seus bens mais valiosos.

sistelo7.jpg Confrontar esta ameaça efectivamente não significa que não devamos fazer negócios com os chineses. Não significa que não devamos receber visitantes chineses. Não significa que não devamos receber estudantes chineses ou coexistir com a China no cenário mundial. Mas significa que, quando a China violar nossas leis penais e normas internacionais, não vamos tolerar isso, muito menos permitir. O FBI e nossos parceiros em todo o governo dos Estados Unidos responsabilizarão a China e protegerão a inovação, as ideias e o modo de vida de nossa nação com a ajuda e a vigilância do povo americano.

Christopher Wray, Director do Departamento Federal de Investigação Instituto Hudson.- Obrigado por me aceitarem aqui, hoje…

FIM

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:13
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Quinta-feira, 25 de Maio de 2023
A CHUVA E O BOM TEMPO . CXXXIII

NAS FRINCHAS DA GLOBÁLIA

Crónica 3403 de 25.05.2023 - Na Pajuçara do Brasil

Um homem sem a liberdade de ser e agir, por mais que conheça ou possua, não é nada…

O PERIGO É AMARELO – Vêm lentos e, com DISSIMULAÇÃO… 3ª Parte

Poraraujo160.jpgT´Chingange (Otchingandji)

perola3.jpg Dos mais de trinta países devedores à CHINA, maioritariamente africanos, sobressaem: 1º- Angola com US$ 42,6 bilhões: 2º - Etiópia com US$ 13,7 bilhões; 3º- Zâmbia com US$ 9,8 bilhões e Quénia com US$ 9,2 bilhões. Não demorará que parte de seu património passem a ser geridos directamente pela China…

(…) A vingança! Isso só por si, é ruim no suficiente. Mas o Partido Comunista Chinês muitas vezes não para por aí; ele não pode parar por aí se quiser permanecer no poder - por isso usa sua influência ainda mais perniciosamente. Se a campanha de influência mais directa e ostensiva da China não surtir efeito, eles às vezes se voltam para esforços indirectos, dissimulados e enganosos de influência. Para continuar com a ilustração da autoridade americana com planos de viagem que o Partido Comunista Chinês não quer, a China trabalhará incansavelmente para identificar as pessoas mais próximas a essa autoridade - as pessoas em quem ela mais confia.

CONFRARIA3.jpg A China trabalhará então para influenciar essas pessoas a agir em nome da China como intermediários para influenciar a autoridade. Os intermediários cooptados poderão então sussurrar no ouvido do oficial e tentar influenciar os planos de viagem ou posições públicas do oficial sobre a política chinesa. Estes intermediários, é claro, não estão dizendo à autoridade americana e as demais Ocidentais, que são instrumentos do Partido Comunista Chinês - e pior ainda, alguns destes intermediários podem nem perceber que estão sendo usados, porque, também eles foram enganados. Em última análise, a China não hesita em usar a fumaça, os espelhos e a má condução para influenciar os americanos e os demais pelo Globo. Da mesma forma, a China frequentemente empurra académicos e jornalistas à autocensura, se eles quiserem viajar para a China.

E vimos o Partido Comunista Chinês pressionar a mídia global e, em especial a americana e, os gigantes do desporto a ignorar ou reprimir as críticas às ambições da China em relação a Hong Kong ou Taiwan. Este tipo de coisaS está acontecendo repetidas vezes, em todo o Mundo. Infelizmente a pandemia não conseguiu impedir nada disso - de facto, ouvimos de autoridades federais, estaduais e até mesmo locais que os diplomatas chineses estão insistindo agressivamente no apoio à China para lidar com a crise da COVID-19.

CHINOCAS1.jpg Sim, isto está acontecendo tanto em nível federal quanto estadual. Não há muito tempo, tivemos um senador estadual americano que, recentemente foi até solicitado a incluir uma resolução apoiando a resposta da China à pandemia. Ameaças ao Estado de Direito na América - O ponto principal é este: Todas essas pressões aparentemente inconsequentes somam-se a um ambiente político no qual os americanos se vêem à mercê do Partido Comunista Chinês. Durante todo esse tempo, o governo chinês e o Partido Comunista violaram descaradamente normas bem estabelecidas e o Estado de Direito.

Desde 2014, o secretário-geral chinês Xi Jinping, tem liderado um programa conhecido como “Caça à Raposa”. Agora, a China descreve a Caça à Raposa como um tipo de campanha internacional anticorrupção – e, não é assim. Em vez disso, a Caça à Raposa é uma oferta abrangente do Secretário-geral Xi para atingir cidadãos chineses que ele vê como ameaças e que vivem fora da China, em todo o mundo. Estamos falando de rivais políticos, dissidentes e críticos que procuram expor as extensas violações dos direitos humanos na China. Centenas de vítimas da Caça à Raposa que eles visam moram aqui mesmo nos Estados Unidos e muitos são cidadãos americanos ou portadores de “Green Card”.

CHINOCAS2.jpg Bem!? Em Portugal será o “Golden Card” com direito a cidadania sem sequer saberem dizer um “Bom Dia” ou “Obrigado”. O governo chinês quer forçá-los a voltar à China e as tácticas chinesas para conseguir coisas chocantes. Quando não for possível localizar um alvo da Caça à Raposa, o governo chinês envia um emissário para visitar a família do alvo aqui nos Estados Unidos ou lá aonde o seja, por esses países, seja na Europa ou África. Qual a mensagem que eles mandaram transmitir? O alvo tinha ou tem duas opções: voltar à China imediatamente ou cometer suicídio. E o que acontece quando os alvos da Caça à Raposa se recusam a retornar à China? No passado, seus familiares, tanto fora quanto na China, foram ou são ameaçados, coagidos e os que voltarem à China são até presos para serem usados como influência ou enviados para um campo de reabilitação.

Christopher Wray, Director do Departamento Federal de Investigação Instituto Hudson: -Vou aproveitar esta oportunidade para observar que, se você acredita que o governo chinês está visando você - que você é uma vítima potencial da Caça à Raposa - por favor, procure o escritório do FBI mais próximo de você. Compreendendo como uma nação poderia se engajar nestas tácticas, chego à terceira coisa que o povo americano precisa se lembrar: que a China tem um sistema fundamentalmente diferente do nosso - e está fazendo tudo o que pode para explorar a abertura do nosso, ao mesmo tempo em que aproveita seu próprio sistema fechado. Muitas das distinções que têm grande significado aqui nos Estados Unidos são ténues ou quase inexistentes na China - estou falando de distinções entre o governo e o Partido Comunista Chinês, entre os sectores civil e militar e entre o estado e o sector “privado”.

CHINOCAS3.jpg Por um lado, um grande número de grandes empresas chinesas são empresas estatais - literalmente de propriedade do governo e, portanto, do Partido. E, mesmo que não sejam, as leis da China permitem que seu governo obrigue qualquer empresa chinesa a fornecer qualquer informação que solicite - inclusive dados de cidadãos americanos. Por certo o mesmo acontecerá pelos países da América do Sul, África e Europa. Além disso, as empresas chinesas de tamanho significativo são legalmente obrigadas a ter “células” do Partido Comunista dentro delas para mantê-las alinhadas. Ainda mais alarmante é o facto de que células do Partido Comunista têm sido estabelecidas em algumas empresas americanas que operam na China como um custo de fazer negócios lá…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:47
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Quarta-feira, 24 de Maio de 2023
VIAGENS . 18

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “SONHAJANDO A VIDA”

TEMPOS CUSPILHADAS – Crónica 3402 – 24.05.2023 

- ATÉ CHEGAR AO PARAISO, TIVEMOS O PURGATÓRIO…

Por:chicor1.jpg T´Chingange (Otchingandji) – No Bom Concelho de Pernambuco

santi1.jpg Li algures de que a mortificação do corpo acontece para superação do espírito. Se para os cristãos ir desde longe para Fátima será sempre por uma promessa em troca de um benesse que se concretiza, uma cura, um milagre de mudança, uma esperança que se realiza. Os muçulmanos também necessitaram de inventar que Nossa Senhora era filha de Maomé. Anos a fio andei tentando seguir a pé pelos caminhos conhecidos até Santiago de Compostela mas tal desejo sempre se vetou ao esquecimento na hora que nunca surgiu.

Já fui de carro várias vezes a Santiago, mas não será de nenhum valor acrescentado o facto de ir na comodidade de um carro. Até fui lá no dia 25 de Julho, dia da consagração de São Tiago que calhando a um domingo, a porta santa da Catedral é aberta excepcionalmente nesse ano; foi o caso do ano de 2010. Juntei-me assim a histórias de cavaleiros Templários, um misto de religiosidade e desafio, buscando o autentico de si mesmo num percurso de estilos romântico e gótico, como um monge beneditino cruzando montanhas, rios, cidades e bosques de pinheiros, faias e trigais só em pensamento.

PAPAL4.jpgRecordar a Catedral de Santiago de Compostela aonde desde a idade média se juntavam peregrinos idos de toda a Europa. O Bota-fumeiro gigante balouçando no átrio principal-altar da Catedral, que era nem mais nem menos para fazer desaparecer o cheiro nauseabundo que acompanhava os viajantes. Hoje, não podemos imaginar o fedor que soprava então por entre aqueles antigos prédios das muitas cidades, do estrume acumulado nas travessas, becos com matilhas de cães mordiscando restos como se abutres fossem.

Também das centenas de carroças despejando toneladas de excrementos que por ali iam sendo pasto de milhares de moscas com milhões de bactérias. Pois foi assim que fizemos no chegar ao sítio da xácara do Senhor Ferreira, um homem que a vida curtiu entre bizarrias de superstições misturadas com aflições; e desta feita, eu, Arrais de Bustos e Ana de União dos Palmares, terras de Zumbi, da nação de N´gola lá no Morro dos Macacos numa serra chamada de Barriga. Agora a descrição passa a ser dele a relembrar seus artigos de antigamente com o nome de Arico Siarra:  

santiago3.jpeg COMO TRANSFORMAR UM Fim-de-semana NUMA EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL! - Tenho consciência de que escrevo este texto um tanto ou quanto húmido de tanta garoa (cacimbo). Por isso, concluo a recomendar que cada um o leia com o humor possível, já que a nós, nos bastam nossas roupas molhadas, os buracos e as lamas rupestres mas, as estrelas vão com prazer para a tão dedicada hospitalidade de Aldaide e António, pais de Quitèria. Pois, neste fim-de-semana (de 19 a 22/04/023) fomos até um município de Pernambuco divisa com Alagoas – “O Paraíso”…

Se tivéssemos ido por União teríamos demorado menos mas, tivemos que ir por Arapiraca, a fim de pegarmos uma pessoa da família que visitamos, o que nos exigiu mais tempo. Foi uma viagem muito desafiante. Destino? Cidade de Bom Conselho. Do centro daquela cidade até o sítio de nossos anfitriões, demoramos uma hora a chegar. Existem apenas quatro casas: moram lá, pais e filhos. Alto da montanha e, sempre subindo, sempre resvalando. 

santiago1.jpeg Faltou pouco para chegar ao céu! Passamos em seis porteiras por via da criação de gado pastando por lá. Depois que passamos a antepenúltima porteira, o carro começou a derrapar na bosta do gado e argila e parou. Tivemos que carregar nossas atrangalhas (bikuatas, tralhas) às costas, uns 800 metros de subida com o chão todo bosteado... E, tome chuva! Nunca pensei viver tão dignificante experiência pingando que nem um pinto no baptismo.

Nem sei, como agradecer esta oportunidade de podermos avaliar toda a nossa capacidade de resistência física e mental, com chuva durante três dias e duas noites (o diluvio). Sem dúvida nutrimos a certeza de que teremos condições de viver ainda bons anos, sem percalços fatais! Para a impecável hospitalidade encontrada, nota mil e um.... Conseguiram extrair água pura das pedras, para nos servir açucarada de cayena. Da parte de Deus, que a forneceu na forma de garoa cacimbada, um bem-haja para toda aquela família visitada a saber para além dos citados; Docas (o voluntário), e Francisco (o churrasqueio e bebedor de pitu) - filhos, assim como para com o nosso amigo Monteiro T´Chingange o coordenador-mor, desta desafiante aventura

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T´Chingange (O Zelador-Mor do Zumbi de N´Gola)

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:13
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Terça-feira, 23 de Maio de 2023
N´GUZU - LVI

CONHECER MELHOR O BRASIL BATUQUES

Parte - Crónica 3401 – 23.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por tonito16.jpgT´Chingange (Otchingandji) Na Pajuçara de Maceió

kilo01.jpg Nestes encontros, celebravam identidades étnicas e até mesmo ensaios de levantes (revoltas). Algumas revoltas aconteceram ou foram planeadas para os dias de festa, como o grande levante dos Malês da Bahia no ano de 1835; esta aconteceu com o ciclo das festas de Nossa Senhora do Bonfim e com a celebração muçulmana do ramadão. A disposição que os escravos apresentavam para realizar os batuques, dificultavam as autoridades pelo efeito de dissimulação, bem à madeira moderna da política chinesa...

Isto indica que em volta da subordinação e resistência havia sempre reticências pela forma ordeira com que tudo faziam por sequência da disciplina laboral, uma forma de treino permanente que dava motivos de preocupação nas alturas dos batuques: dali poderia advir sempre algo de surpresa ou espanto. Nos municípios do Império sempre procuravam estar estabelecidos com preocupação mas nem sempre havia anuência ou unanimidade entre os detentores do mando.

socie2.jpg O controlo sobre a festa negra, sempre requeria cuidados reforçados. No Rio de Janeiro, capital do Império eram proibidos os ajuntamentos de pessoas, mais propriamente de escravos; com “tocatas, danças e vozerias” facilitavam-se os “batuques, cantorias e dança de pretos dentro das casas e xácaras”, desde que não perturbassem os vizinhos.

Em uma das principais áreas da cafeicultura chamada de Vassouras, no século XIX, as posturas permitiam “ danças e candomblés” apenas para escravos de uma só fazenda; sobre o caxambu (um derivado de batuque), existiam proibições nas ruas e casas das cidades mas, era autorizado pela polícia no meio rural. Em Porto Alegre, o código se posturas, não abria excepções, proibindo “batuques, zungus e candomblés” em qualquer local e hora.

ROXO13.jpg As posturas das cidades de Pernambuco, também seguiam esta linha mais dura do sul do Império proibindo as “danças de pretos escravos ou maracatus” nas ruas e praças, os “sambas ou batuques de caixa” em casas públicas ou particulares, assim como a “farsas públicas” – origem do bumba-meu-boi. As diferentes restrições por posturas municipais, longe de controlarem os batuques, revelavam um impasse entre senhores e autoridades sobre a melhor forma de se lidar com aqueles…

Na Bahia quando os indícios de rebelião chegavam a vias de facto, na década de 1830, os “batuques lundus” de negros foram terminantemente proibidos em qualquer hora e local, Surpreendentemente, com seus contínuos ressurgimentos, a Assembleia Provincial, em 1885, determinou a proibição de “batuques e vozeiras em casas públicas”.

praga3.jpg Ao longo do período Imperial, do “Brasil, do mundo Luso, Oriente, Timor, África, Algarves e edecéteras de escambau”, o batuque sempre haveria de encontrar um espaço como o candomblé, nas negociações entre autoridades que vigiavam e, a liberação para a diversão, ainda a melhor forma de controlar os conflitos entre os senhores coronéis e os escravos. Relembrar que os Povos Lusófonos eram comandados a partir do Rio de Janeiro.

Registe-se neste epílogo do assunto batuques, que na Colonia de Angola, o procedimento era análogo e, posso ainda lembrar-me do controlo feito por auxiliares da Administração do Posto, em Luanda, os cipaios africanos que exerciam sua autoridade usando bastões chamados de cassetetes. Era normal vermos estes polícias de Bairro, africanos com um chapéu de cofió enfiado na cabeça, cor vermelha e, tendo uns fios a penderem para os lados. Estávamos então no inico da segunda metade do século XX. A jurisdição da Maianga era o Posto de Belas e, nesse então, era o famoso chefe Poeira que mandava na cipaiada.

FIM

O Soba T´Chingange                             



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:31
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Segunda-feira, 22 de Maio de 2023
VIAGENS . 17

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “SONHAJANDO A VIDA”

TEMPOS CUSPILHADAS - A natureza tem suas normas! Com tantas experiências o sapo Cururu tornou-se canibal …

Crónica 3400 – 22.05.2023  

Porsapo1.gifT´Chingange (Otchingandji) - Na Pajuçara de Maceió do Brasil

corimba4.jpg Desde que o mundo é mundo, milhares de milhões de seres humanos, armados de ramos, de mata-moscas milhares de venenos caseiros, acabaram por chegar aos sprays vaporizados para travar guerra implacável com formigas diligentes, carrapatos ousados, nojentos ratos e baratas furtivas mais escaravelhos insensatos. Lá na minha horta todos os santos dias tenho de mirar as folhas de couve senão, senão fico sem caldo verde.

Neste grande palco aonde se desenvolve a história da humanidade, o bicho homem acumulou cada vez mais coisas, uns classificados patrimónios de trastes e outros de difícil ou impossível locomoção. E, foi juntando muitos corotos, muitas imbambas que chegaram ao futuro. Para tal tiveram de inventar o planeamento para que tudo tivesse ordem no sentido da criação. As ligações de ele com ele e ela com ela com os desígnios de LGBTYL+ ainda não eram reconhecidos nos cartórios como uma união de facto.

DIA76.jpg Inventaram o comércio, a compra e a venda de coisas ou géneros distribuindo ou retraindo riquezas, favores, invejas, vinganças, ofensas e retaliações a estas. Inventaram o trabalho, a semana das 40 horas e depois 35; o trabalho em casa, o nomadismo digital recente, preguiça, a inveja, a cobiça e, deram início á economia, o apego ao poder mentindo socialisticamente com truques de encarecer a dívida. Formaram grupos a que chamaram partidos e como gangues fizeram roubo com repartição de benesses furando o saco de dinheiro.

Estranhamente surgiu a compra de divida, juntaram os impostos com taxas e alcavalas chegando ao tecto de gastos para vedar o despilfarro. Surgiu a ansiedade, a subsidiodependência, o cabaz de compras mais o auxílio extraordinário e normalizaram o preço dos ansiolíticos para superar as tensões, as mazelas ouvidas lidas e engolidas. Surgiram os especialistas da mente, peritos em trepanação em frio, especialistas do sono, do bocejo, da terapia do relax e da levitação, técnicos do riso e da clavícula.

Namibia4.jpg Surgiram vendedores de banha da cobra, quimbandas a granel, “personal trainer” e dentistas ao domicílio. Diversificaram as colheitas, as mudas e milhares de novas químicas para matar desde o pulgão à cochinilha mais fungos, parasitas e bichezas de toda a espécie com bichos de mil pés e filárias chamando a isto, maravilhas transgénicas; passaram a manusear as sementes, alterando-as, introduzindo-lhe logologo o veneno a só despontar na hora do desabrochar ou do florir …

Colocaram rosas e cravos nas fileiras de parreiras para antecipadamente se poder detectar as doenças nos bagos de uva, deram-lhe musica para adocicar a casta, anti ácaros, anti fungos e muitos edecéteras especificados por enólogos e carrapatologos. Coisas chamadas de fitogénicas a fim de se ter a máxima rentabilidade. Nesta evolução de coisas e tratamentos ouve desaires. Em um dado momento a Austrália levou do Canadá 102 sapos para matarem os besouros do milho; estes alimentando-se das pragas aumentaram vertiginosamente seu número, passando também a serem pragas.

monteiro4.jpg Já havia sapos por todo o lado, nas casas, nos demais pastos e o gado começou a morrer por via da baba destes que era venenosa. Então levaram milhares de cobras de um outro país que comiam aqueles sapos. Sucede que estas cobras que comiam sapos, ao degluti-las um que fosse, morriam envenenadas. Este tipo de sapos tinha um veneno no seu costado. Acabaram por ficar sem cobras e os milhões de sapos, aumentaram em número ao ponto de perderem o controlo. Acabaram por fazer caça aos mesmos triturando-os em grandes tanques para fazer biodiesel. Tudo isto começou lá no ano de 1930. Os sapos-cururus se multiplicaram “como praga” às custas de outras espécies. Suas glândulas de veneno são altamente tóxicas e assim, derrotam facilmente os oponentes predadores…

Agora, para surpresa dos cientistas, os mesmos sapos-cururus estão se transformando em canibais implacáveis. Segundo um novo estudo experimental, a selecção natural tem favorecido girinos que comem outros girinos da própria espécie. Os girinos do sapo-cururu que costumavam alimentar-se de algas e matéria orgânica em decomposição agora é o que é! Os iniciais 102 sapos individuais que foram originalmente introduzidos no passado agora, a espécie já soma mais de 200 milhões de exemplares. Para além de os usarem como combustível, testam outras hipóteses. Se tivessem cumprido com a lei de Deus na ordem natural das coisas, nada disto aconteceria noé!?  

O Soba T´Chingange  



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:41
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Quinta-feira, 18 de Maio de 2023
N´GUZU - LIV

CONHECER MELHOR O BRASIL – BATUQUES

Parte - Crónica 3397 – 18.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)

Por amendo5.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió

festa 2.jpg Batuque, é dança com acompanhamento de tambores. Era ao longo do século XIX, genericamente, para designar danças, músicas e tambores negros de características populares. Em criança, candengue e, na ainda colónia de Angola, capital de Luanda, morando eu no subúrbio (Maianga) e perto de alguns musseques (favela aquilombada), podia ouvir o toque de tambores durante as noites de sábado para domingo. Fui influenciado por esses firmes traços do povo banto que legou ao mundo e em especial ao Brasil, além da música, a forma de nutrição, folclore e a sua mística.

Enquanto em São Tomé, mulheres com lenços amarrados na cabeça como baianas desfilam seus longos e largos vestidos coloridos, com os seus balangandans, com seus tabuleiros à cabeça, com doces, batendo os pés com os bons sapatos que Deus lhes deu, exibem a sua dança do Kongo ao som do batuque. Isto da Lusofonia, aqui descrito, não é mais do que o auto do Cucumbi ou Kongo na forma de cavalhada ou Folia de Reis, relembrando as batalhas de funantes em que prenderam a irmã da rainha N´Zinga. Pois assim, foi em terras de N´Dongo, no bastião dos nobres de Pungo Andongo numa batalha chamada de M´bwila do outro lado do Atlântico.

Francês1.jpgFoi, a raiva dançada ao estilo de capoeira que os escravos de N´Gola levaram para o Brasil, encrespada nos tempos, de fedorentos porões de navios, lembranças do chicote no poste da sanzala, dos grilhões, da canga e infortúnio; era a camangula e a bassula com finta e a esquindiva que depois de transferida foi cantada com um fio e um pau, instrumento chamado de berimbau. Sim! Foi aí em Lândana do enclave de Cabinda, com os originais povos imbindas, que tudo começou. No centro da paliçada chamada de terreiro (sambódromo), o Rei traja gibão e calças brancas e manto azul bordado, tendo na cabeça uma coroa dourada tal e qual como o rei N´Zinga-a-N´Kuvo, baptizado em 1509, o primeiro rei a ser cristianizado pelos Tugas.

Esse rei, N´Zinga-a-N´Kuvo tomando o nome de Dom Afonso I deu a seu filho, o nome cristão de Henrique; foi mandado para Portugal estudar as artes da magia da Cruz, tendo dali regressado em 1521 padre de estola com todos os rituais. Vale a pena referir essa luta da bassula, finta ou esquindiva utilizada pelos pescadores imbindas do Kongo (Cabindas e Boma do N´zaire).

frances.jpg Foram também os Muxiloandas da ilha da Mazenga da baia de Loanda e Mussulo (Kaluandas ou Camondongos) da região dos Dembos e foz dos rios Dande, Bengo e Kwanza que como escravos, levaram isso para o Brasil derivando na Capoeira, uma forma de dança para ludibriar o patrão fazendeiro, usando a falsa ginástica de dança como luta com um dá e um larga sem agarrar, usando a força do adversário com suaves e mágicos “toques de bassula” ou “toque de finta”. A “negralhada” seminua dançava e cantava alegremente, livre do senhor do engenho e do feitor com seus ralhos (era assim que diziam seus patrões)

E o batuque veio junto, com as galinhas d´Angola, o pregão que surgiu já depois da proibição do tráfico de escravos. Dizia o pregoeiro mazombo, indo de fazenda a fazenda, de engenho a engenho; não quer comprar, coronel? Esta festa negra chamada de batuque, poderá ser vista como sinonimo de Lundus, sambas, caxambus e maracatus, segundo as variações regionais. As posturas municipais do Rio e São Paulo, documentam discussões nas câmaras, jornais e relatos de viajantes como sendo os batuques uma reunião de negros – escravos, africanos ou libertos, em variadas ocasiões.

FRANCES2.jpg Aos domingos e dias santos, nos locais, nas fazendas, nos cortiços da periferia das cidades, podem observar-se momentos altos desse costume. Surgem associações de batuques conhecidos como “danças de pretos” ou “baile do Kongo” que reafirmam o quanto esta prática estava envolvida com valores culturais trazidos de África, expressando nesse então, uma identidade muito distante das marcas alcançadas pela “civilização” europeia salientando-se visões preconceituosas.

Embora não se referisse nessa época, o termo de preconceito, veio no correr do tempo a se relacionar com o racismo. Por outro lado, foi a partir destas associações que surgiram as “escolas de samba” originando o carnaval - evento tão afamado no mundo cujas características deram ao Brasil a quase exclusividade. De lembrar que tendo sido os europeus, mais propriamente os portugueses, a levarem o entrudo com cavalhadas para as colónias de Angla e Moçambique, estes, por sua vez - os indígenas locais, deram largas a seus teatros de fingir, terminando nestes batuques.

(Continua…)

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:02
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Quarta-feira, 17 de Maio de 2023
A CHUVA E O BOM TEMPO . CXXXII

NAS FRINCHAS DA VIDA

Crónica 3396 de 17.05.2023 - Na Pajuçara do Brasil

Um homem sem a liberdade de ser e agir, por mais que conheça ou possua, não é nada…

O PERIGO É AMARELO – Vêm lentos e, com DISSIMULAÇÃO… 3ª Parte

Por berlim1.jpgT´Chingange (Otchingandji)

dia69.jpg A China, mais propriamente o Partido Comunista Chinês usa para manipular os americanos, o que chamamos de influência estrangeira maligna. Agora, a influência estrangeira tradicional é uma actividade diplomática normal e legal, tipicamente conduzida através dos canais diplomáticos. Mas os esforços malignos de influência estrangeira são tentativas subversivas, não declaradas, criminosas ou coercivas de influenciar as políticas de nosso governo (USA), deturpar o discurso público de nosso país e minar a confiança em nossos processos e valores democráticos. Isto é a prática em todo o Ocidente.

GRÈCIA DA EUROPA – PORTO DE PIREU - Percorrendo a costa em uma pequena lancha, encontramos uma fila de enormes navios porta-contentores alinhados no horizonte aguardando ancoradouro. Um gigantesco estacionamento aquático, cheio de centenas de milhares de toneladas de mercadorias chinesas, que em breve serão enviadas para todos os cantos da Europa. O boom no Pireu! Incluindo oportunidades de emprego para os habitantes locais, isto reflecte uma transformação mais ampla nas fortunas financeiras da Grécia. Por agora, o país tem uma das economias da União Europeia que mais crescem.

CHINOCAS2.jpg Mas, não é só na Grécia que os chineses estão investindo bilhões; tudo começa assim - o dinheiro que vai volta para se multiplicar. Na Sérvia em uma colina com vista para a cidade de Bor é possível pensar que fomos transportados para uma província chinesa. Há gritos em mandarim, as bandeiras são vermelhas e, estão colocados em casarões que lembram templos chineses. A mina de cobre que define a projecção cultural do local, está a ser inundada de dinheiro. Devido à extracção do metal, a água de alguns lagos e reservatórios locais, apresentam um tom carregado de ferrugem. Da fábrica de pneus Ling Long, organizações sem fins lucrativos, denunciaram a condições que ali se praticam: “é visível o tráfico de pessoas com exploração de trabalhadores, coisa nunca vivenciada por ali”. Esta prática deverá servir de alerta para o resto da Europa, diz um responsável local dessa ONG Sérvia.

Apesar de todas as críticas dirigidas à China, há quem na Croácia, dê boas referências a esta cooperação entre o Ocidente e a República Popular da China. Pode observar-se em um Domingo haver grande azáfama na ponte de Peljesac, camiões que passam colocando vigas no tabuleiro da mesma. O maior projecto de infraestruturas da Croácia que unirá a península de Peljesac ao continente Croata. Actualmente o percurso faz-se através da vizinha Bósnia. A maior parte da conta desta nova ponte foi paga por Bruxelas, capital financeira da Europa da qual a Croácia é membro! Para espanto, esta ponte foi construída em Pequim, até o último parafuso. Como se a Europa não tivesse as condições requeridas para a executar – brada aos céus! E, o exército de trabalhadores na obra, é todo Chinês! Sério que estou escandalizado e seriamente preocupado.

sardinha01.jpg

                                A licitação da estatal chinesa The China Road and Bridge Corporation, foi 20% mais barata que seu concorrente mais próximo. Rivais europeus, acusaram irregularidades, mas não conseguiram impedir o negócio. A Casa Branca de Biden herdando uma guerra comercial com a China do governo de Donald Trump, não suavizou sua postura sobre Pequim em muitas áreas e pediu à Europa que se afaste do financiamento da China. Houve diligências para recolher dados sobre o que pensa Pequim, a nível de alto escalão, mas nenhum dos cinco embaixadores chineses abordados, estavam disponíveis; nos momentos certos; eles, sabem gerir silêncios.  

Seja dentro da UE, como a Servia e a Croácia ou em sua periferia, como a Servia e Montenegro, as nações europeias, terão que pesar os prós e os contras de firmar acordos com os chineses. As análises por parte de Bruxelas têm de o ser mais firmes em defesa da Europa; com eles, todo o sofisma não será suficiente para acalmar sua dissimulação. Isto, já é uma guerra branca e, poucos se encorajam a fazer valer seus pontos de vista. Eu, que sou um pé-de-chinelo, vejo isto! O facto de o melhor amigo declarado do presidente Xi Jinping ser Vladimir Putin, o homem que mergulhou a Europa em sua maio crise de segurança desde a Segunda Guerra Mundial, é um factor que pesará em todas as decisões tomadas! Fiquem atentos…

ROXO165.jpg Os diplomatas chineses usam tanto a pressão económica aberta e crua, como intermediários aparentemente independentes para pressionar as preferências da China sobre as autoridades americanas. Quanto a Taiwan, a China não quer ver os Estados Unidos a planearem qualquer aproximação a este território por modo a legitimá-lo, algo naturalmente contrário à política chinesa de “Uma só China”. E, Então, o que faz a China? Bem, a China tem influência sobre os constituintes daquela autoridade - empresas americanas, académicos e membros da mídia em que todos têm razões legítimas e compreensíveis para querer ter acesso aos parceiros e mercados chineses – Hipocrisia!

E, devido à natureza autoritária do Partido Comunista Chinês, a China tem imenso poder sobre aqueles mesmos parceiros e mercados. Irá tentar influenciar as autoridades americanas e de Bruxelas da UE de forma ostensiva e directa. Pode advertir abertamente que, se um mandatário, funcionário americano prosseguir e, fizer viagem a Taiwan, ela, irá descontar em uma empresa do estado de origem dessa autoridade; irá reter a licença de fabricação da empresa na China o que, pode ser economicamente desastroso para uma qualquer suposta a empresa… A vingança serve-se fria!

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:00
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Terça-feira, 16 de Maio de 2023
VIAGENS . 15

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “SONHAJANDO A VIDA”

Estado = Marcelo x Costa² - REINVENTANDO O FUTURO DO *M´PUTO

Crónica 3395 – 16.05.2023 – A EQUAÇÃO ATÓMICA

Por dia63.jpg T´Chingange (Otchingandji) Na Pajuçara de Maceió do Brasil

dy23.jpg Ainda não fui ao futuro! Ando só a vislumbrá-lo. O primeiro LAR, conhecido do homem nos primórdios, muito antes do AC - Antes de Cristo, foram os montes, os rios, os bosques e o firmamento. Progressivamente sua táctica recolectora mudou, fixando-se num espaço encurtado, domesticou lobos e outros animais que foram suporte de sua resiliência, coisa ainda desconhecida nesse então. Domesticaram ovelhas e vacas agasalhando-os próximo de seu lar para lhes proporcionarem aquecimento. As grutas e cavernas foram sendo abandonadas na procura de novos pastos para alimentação de seus animais domésticos; buscaram terras mais férteis para cultivar hortas e macieiras. Para além doutros indígenas, havia um tal de Adão umbigado com a Eva e, foram estes os percursores do futuro.

Este prólogo de vida teve mau inicio porque cometeram logologo o pecado original; a única coisa que lhes foi proibida! Lixaram tudo. Saltando este prólogo, todos tiveram de se disciplinar criando regras. A partir dai a ligação ao LAR requereu ajudas extras, recursos de vizinhos, tornando-se no traço distintivo psicológico de criatura humana. Nesses tempos ele, era ele e, ela era ela. Ele tinha um caroço no pescoço por castigo daquele tal erro e, que por isso ficou a “maça de Adão” e ela, castigada com dois contrapesos de procriação com o nome de seios ou mamas.

dia35.jpg Bom! A partir desse pecado, surgiu o stresse, a inveja, a mentira, o egoísmo e um sem número de coisas ainda desconhecidas mas, sempre com o sentido de melhorarem relações entre si, tornando-se até afáveis, solidários mas e também, raivosos ao ponto de usarem coisas afiadas e que, espetadas causavam morte. Utensílios em cobre, em ferro em madeira e até ossos como por exemplo tíbias.

Dentro dos lares meteram lajedos aonde queimavam lenha para aquecimento pois o frio era muito e, foi quando e porque dali saia fumo, passaram a se chamar de “fogos” – porque em verdade, não há fumo sem fogo! Ali havia gente. No decorrer dos anos e séculos, abriram clareiras pelo abate de árvores. Inventaram a enxada, fizeram canais, faziam monturos perto dos fogos com restos de comida e ramos juntando-lhe esterco dos animais. Esta compostura melhorava suas colheitas de legumes vários menos a batata porque se desconhecia tal tubérculo.

ARAUJO232.jpg Passaram a viver em lugares cada vez mais seguros protegendo-se nos píncaros das fráguas com ameias a que chamaram de castelos. A roda já era usada em cangulos, carros de mão e carretas puxadas por bois cornudos dando lugar ao ciclo da vida organizada com estratégias e segredos. As ervas daninhas foram arrancadas, nasceram cactos, folhas e raízes comestíveis, foram defumados fogos com arruda para espantar maus-olhados, outras para curar maleitas.

Os raizeiros testaram cascas de árvore como o ipê roxo, o doutor e o doutorzinho que tudo cura mais o samba caetá, a salsa e o coentro para dar cheios e sabores, outras para delas se fazer azeite, pomadas ou lamas de curar. Exterminaram bichos rastejantes, roedores, baratas e centopeias de mil pés. Das peles fizeram canoas a servir de sapatos, chapéus e alforges. Higienizaram com rudimentos de folhas com mamona, amaciaram as carnes com folhas de mamão. Com tudo isto, criaram ilhas artificiais.

dia65.jpg Fizeram artefactos e acumularam conhecimentos com tralhas fazendo vassouras de giestas e baldes pintados a verniz natural, cabazes entrançados com arte, fizeram cajados e bengalas e um sem número de coisas que hoje dão dinheiro a artesãos e no qual nem damos o real valor tais como agulhas feitas em madeira ou ossos, linhas entrançadas saídas de cascas. Foram tempos de superstição, ainda nem se falava em um Deus omnipresente ou omnipotente. É quando surge um homem que apregoa, faz milagres , das pedras saem peixes e pães para matar a fome.

E num mundo estranho aparecem astrólogos e outros cientistas a dizer que o mundo não tem bordos, não tem nem cinco nem quatro linhas, não tem fim, estudam as estrelas a anos-luz de distância. Entretanto matam aquele homem com o nome de Cristo que por coisa pouca cruxificam pregado numa cruz e com pregos artesanais de muito comprimento. E num repente um homem sábio e matemático, descobre a fórmula do epílogo com o nome de Albert Einstein. É ela: E=mc². Entre o início de prólogo e o fim de epílogo decorrem nossas vidas na espectativa de que Deus é forçoso que exista e, que por favor, venha cá abaixo meter ordem nisto…

Notas - * M´Puto é Portugal

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:42
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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