NO KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
NA SEDE BAOBÁ de FALA KALADO
– NA SINGULARIDADE DOS KALUNDU***
- Crónica com ficção 3301 – 21ª de Várias Partes – 15.05.2022 – Republicação a 21.11.2022 em Lagoa do M´puto
Por T´Chingange – Em Arazede de Coimbra do M´Puto
Rosa Casado, a chefe de protocolo da Fundação Zumbi de N´Gola na sede do baobá - lugar do Imbondeiro entre União dos Palmares e o Morro da Barriga, telefonou-me para o número da secreta dando-me indicações que o senhor Brigadeiro e Porta-Voz da UNITA, Marcial Adriano N´Dachala, iria estar à minha espera no d´jango do jardim Imbondeiro. Fiquei verdadeiramente ansioso por este encontro já agendado mas sem data prévia. Há bem uns trinta e dois anos que não nos víamos; era eu nesse então, Presidente do Comité da Lagoa do M´Puto na Diáspora…
Neste agora e, desde a morte de Jonas Savimbi que Marcial N´Dachala se encontrava distante da politica activa. Reapareceu na véspera do Congresso da UNITA como director da campanha do candidato Lukamba Paulo “Gato” de quem é muito próximo. Ao longo da sua trajectória política, N´Dachala, desempenhou funções diplomáticas como representante adjunto da UNITA em Portugal, depois de ter estado no Senegal como bolseiro. Regressou ao país (Angola), na sequência dos acordos de Bicesse, tendo sido colocado como Secretario Provincial do Huambo.
É agora o brigadeiro reformado e responsável da pasta da Informação na sua função de Porta-voz do Partido do Galo Negro que, fez saber recentemente ter valido a pena ter “fé” num desfecho realista: O parecer favorável por parte do Tribunal Constitucional ao seu 13º congresso que foi, apesar do “pouco” tempo que restou para início da campanha eleitoral, a saída lógica, após tanta insensatez, embargo e procedimentos inauditos dentro do que é a lógica institucional…
Ao som de marimbas tocadas por gente ao vivo que aprendeu seu manuseamento bem á maneira de Cangandala, demos um forte abraço; abraço de manos velhos que a estória desavisou no tempo de inquietude, na perseguição e outros contratempos a que agora chamam de resiliência – um colorido de romantismo de vulgar pieguice. Mais kotas, recordamos momentos passados, reuniões frutíferas, muitas falas e, resiliências propositadas!
Recordei-lhe assim, olho no olho como auto felicitação por chegarmos até aqui com um galo de cerâmica no peito cantando nossa margem de intervenção. Eu como um Major Niassalês dentro das instâncias honoríficas, e ele, muito justamente como Brigadeiro aposentado em exercício político… de todos os itens agendados em minha cabeça, por agora só lhe fiz quatro perguntas:
P1. de T´Ching…: - Apesar de o TC se ter desmarcado de um alegado projecto de acórdão que foi posto a circular nas redes sociais, a UNITA tenciona agilizar mecanismos de fiscalização à ética deste poder?
P2. do T´Ching…: - É sabido; “aliás, a exemplo do Congresso anulado, o TC levou meses até o anotar”, salientei… Isto tem alguma normalidade?
P3. do T´Ching…: - Dá para perceber que o companheiro está um refinado diplomata com essa contenção de impulsos sem chamar o nome certo aos bois?!
P4. do T´Ching…: - Nossas intervenções irão continuar mas, eu que tenho estado vendo o panorama de longe e coadjuvado por gente precavida como Fernando Vumby aconselho prudência à nossa UNITA…! Depois desse discurso à nação por Adalberto da Costa Júnior, o brutamontes de João Lourenço, ficou muito cheio de raiva. Provavelmente vai até recorrer ao CAP =Tribunal Constitucional, para se vingar do banho que levou do ACJ...! O Indivíduo é rancoroso e vingativo...! Nada de excessos de confiança nestas instituições de Angola…! Este regime do M é capaz de tudo!
***Kalundu: - Uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza…
(A entrevista, pode continuar…)
O Soba T´Chingange
N`ZINGA E O FALA KALADO
– 6ª de Várias Partes – 20.04.2019
Por
T´Chingange - (No Nordeste brasileiro)
Ele, Fala Kalado, quis sabe de mim, do porquê de eu ter saído da Caála de forma quase abrupta. Reporta-se aos últimos dias do mês de Julho do ano de 1975. Tive de lhe explicar que tendo eu nesse então levado minha sogra a Luanda a fim de seguir para Lisboa com seu filho Honório Mestre, por pouco, não éramos fuzilados. Como assim!? Exclamou FC. Pois foi! Fomos em um autocarro da EVA - Empresa de Viação de Angola e no lugar de Muquitixe, a terra dos abacaxis, um controle de estrada mandou-nos parar.
:::::
Era um desses aleatórios controles que surgiram por toda a Angola e, normalmente feito por militares ou ex-guerrilheiros do movimento que era influente em essa zona. Não vou aqui dar todos os pormenores porque tu, sabes bem o que isso foi, o que isso era! Aquele, tratava-se de uma barragem montado por pseudo soldados impreparados para tal função; era um afecto ao MPLA mas, até podia ser da UNITA ou FNLA - todos se comportavam de uma forma despropositada. Era o poder a chegar impreparado e, a quem nunca o poderia vir a ter .
Estes controles eram já feitos à revelia de qualquer fiscalização por parte das autoridades portuguesas. Por vezes pediam os crachás do movimento a que pertenciam e isto era bem perigoso! Mesmo que o tivessem ninguém o mostrava por medo de reacções adversas assim fosse de quem ia connosco, ou deles. Um imbróglio de todo o tamanho e da qual nenhum de nós poderia ultrapassar por si só! Não existia legislação para isto, nem bom censo.
:::::
Era um "seja o que Deus quiser"! Era perigoso insinuar-se e, ou dar indicações de camarada, de irmão ou mostrar qualquer trejeito de desconformidade. Um cigarro por vezes, era uma boa oferta e, porque todos fumavam, assim se abria uma porta de boa vontade. Parece pouco mas, um cigarro poderia valer uma vida!
Foi assim que interpretei na altura porque aqueles militares de faz-de-conta estavam cheios de droga; via-se isso nos olhos, no cheiro, nas atitudes e, qualquer fagulha poderia fazer fogo. Com o autocarro estacionado na berma, mandaram descer todos os passageiros e que ficassem ali encostados na parede de uma casa recentemente incendiada. Iam fazer uma revista minuciosa às nossas bagagens!
:::::
Felizmente que ia ali um Furriel Negro, fardado ao jeito de um qualquer tropa de então em exercício no exército, talvez saído da Escola de Aplicação Militar de Angola (EAMA) aonde também eu tinha andado e, este apresentou-se como sendo do MPLA, mostrou seu crachá-cartão do movimento ou algo semelhante o que resultou em reunião.
Fosse como fossem as falas deles resultaram em deixar-nos ir via Luanda sem revistar nada. Num toca a subir de mim para comigo e todos num aijesus, Deus nos acuda - Foi um Milagre! Mas, a partir dali, foi um choque de arrasar: Casas e carros queimados ou desventrados, tudo parecendo abandonado sem gente a mexer-se; nenhum lugar para se comer o que quer que fosse.
:::::
A cidade do Dondo parecia abandonada - um holocausto! Seguiu-se-lhe todas as outras terreolas com idêntico aspecto,: Zenza do Itombe, Maria Teresa, Cassoalála, Cassoneca, Calomboloca, Catete, Viana e arredores de Luanda. Ver isto, foi o princípio do fim! Dali para a frente podíamos adivinhar: iríamos ficar sem médicos, enfermeiros, veterinários, gasolina para o carro, e técnicos nas várias áreas.
Sem escolas a funcionar, sem géneros para subsistir, tudo era muito arriscado e, havendo outra saída plausível seria o mais indicado - ponderar pela segurança! E havia: O Quadro Geral de Adidos para funcionários. Foi quando o pensamento como ao sabor do ar quente, rumou para nuvens menos escuras - Largar tudo e ir para o M´Puto, a metrópole, Lisboa, aonde quer que fosse, mesmo que começando tudo de novo e como órfãos da terra.
:::::
Por muito que amasse Angola, este amor não seria nunca comparável ao da família, mulher e dois filhos. Como eu, estavam bem mais de meio-milhão. Um cunhado mais ligado às instâncias politicas do M´Puto pois que era natural da mesma região, o Ribatejo com os oficiais de Abril, tais como Otelo saraiva de Carvalho entre outros: Metalúrgicos de pensamento de esquerda, organizados por Karl Marx ou Lenine via PCP. Avisado, o Branco de nome e tez, disse-me que saísse de Angola enquanto era tempo. Só que eu queria ficar! Mas, ele estava com a razão...
(Continua...)
O Soba T´Chingange
Urbano T´Chassamba (T) - O verdadeiro comandante das FALA
- T´Chingange (t) na Diáspora (Miai de Cima de Couripe- Brasil)
-Em ANGOLA o racismo oriundo da burrice (matumbice) é que nos remete ao estado de miséria que vivemos .Você não sabe que para ser Angolano Genuíno é primaz nascer em solo pátrio e não ser, negro, branco,mulato ou cor de rosa.Um negro que nasce na Inglaterra é Angolano? Deve ser Africano!!
:::::t2
CARTA DE T´CHASSANHA Carta Aberta aos militantes da UNITA e aos Angolanos em Geral - Angola não pode esperar mais...
:::::T5 - Drs Jonas Savimbi e Carlos Morgado
:::::T8 - Adalberto da Costa Junior
:::::T9 - Jonas Savimbi
:::::T12
:::::T13 - Samakuva e José Cat´chiungo
N`ZINGA E O CAVALO ALADO – 4ª de Várias Partes – 23.02.2019
Rodando a bobine em paratrás, voltei às notícias de Brazaville: Há quase 55 anos atrás desse tal de Nelito - Fala Kalado, receber instruções de Che Guevara
Por
T´Chingange - (No Nordeste brasileiro)
O curioso desta estória é de que em vez de andar para a frente anda para trás pois que só assim entenderão o que vem mais lá para diante e, que eu próprio nem sei! Nelito Soares* foi assassinado à queima-roupa na Vila-Alice pelos comandos Tugas já depois do 25 de Abril de 1974. Os registos são dúbios embora pense que teria sido um ano depois naquelas lutas de kwata-kwata aos dois movimentos genéricos de Angola. Era assim que estavam e estão conotados os pensamentos burgueses da Nomenclatura actual dos criadores dos “Pioneiros”
Assim se pensava ter sido até o misterioso encontro que agora é revelado a T´Chingange por Dreke, o médico Cubano que acompanhou "Ramón" até à Republica Popular do Kongo. "Esta é a história de um fracasso" importado por Cuba com a sua solidariedade internacionalista e, que muitos nem sabem porque, ou não querem saber, ou porque se estão nas tintas.
:::::
É assim que Che Guevara, inicia o seu relato sobre o movimento guerrilheiro que ajudou a organizar na República Democrática do Congo, em 1965, um supositório chamado de MPLA antes de ser morto na selva boliviana. A estória que me foi contada está registada no livro “Passagens da Guerra Revolucionária” que se tornou em nossos tempos em apenas uma nota de rodapé em minúsculas letras.
Na biografia do líder guerrilheiro Che Guevara de nome Ramón, surge numa outra perspectiva nas palavras de Victor Dreke. Este General aposentado com mais de oitenta anos, foi subcomandante do médico argentino, o Ché, na primeira operação cubana de apoio aos movimentos de libertação africanos.
:::::
Ché Guevara, prestigiado pela actuação na suposta “LCB - Lucha Contra Bandidos” entre os anos de 1959 a 1965, ficou assim como coisa ensombrada conhecido no combate a opositores financiados pela CIA. Nestas coisas sempre surgem americanos a confundir nossas verdadeiras estórias; os mestres da “Intelligentsia” no disfarce e os maiores troca-tintas impingindo-nos grafitis como sendo as verdadeiras estória do Mundo.
Pois então, não foram eles que ofereceram um rádio com tecnologia de ponta e que levou à morte de Jonas Savimbi no ano de 2002!? O Mundo não sabe porque não quer saber. Dreke servia no Exército Central, na cidade de Santa Clara, quando recebeu uma proposta que o levaria a África. Aceitou participar sem saber do que se tratava.
:::::
O pedido veio directamente de Fidel Castro: comandar uma missão especial e recrutar 100 jovens soldados que seguiriam para um destino ainda desconhecido! Eles surgiriam no momento certo! No envelope havia passaportes falsos, missivas diplomáticas e dólares verdes com a esfinge de George Washington, cabeça grande - "Havia uma instrução importante: deveriam ser negros, bem negros".
Dr. Dreke achou aquela referência racista mas já habituado a tropelias conta hoje com algum desencanto entremeada com picara graça. E, repete por várias vezes: - Isto decorreu na embaixada de Cuba, em Bruxelas. Mas, antes, o veterano frisa: -Quem aceitava, deveria dizer à família que iria para um treino na União Soviética, edecéteras e tal que não é para aqui chamado. Isto passasse na “Isla- lugar de El Pinar”. Esta descrição confunde os lugares e de repente, misturando Bruxelas com El Pinar lança-me em dúvidas periclitantes. Mas a coisa dada não se deve reclamar; isto para mim já era uma grande notícia.
:::::
Durante algumas semanas, os cem homens prepararam-se numa zona de mata sem acesso a energia eléctrica recebendo visitas frequentes de Fidel. Na véspera da partida, uma surpresa: Ele, Dr. Dreke militar, foi informado de que não estaria mais à frente da operação. Por ordem de Fidel, daria lugar a um comandante de nome Ramón, de quem o experiente militar nunca ouvira falar.
-"Pensei que fosse um soviético, porque éramos poucos comandantes naquela época, e eu nunca tinha ouvido falar de Ramón algum. Achei estranho, mas aceitei sem relutar", comenta Dreke. Vou ter de deixar o resto da estória para mais tarde pois que a polícia aqui do Bairro da Pajuçara no Nordeste brasileiro já fechou o trânsito na rua - não demora, irá passar o “Pinto da Madrugada” na orla da avenida, o calçadão.
O Carnaval aqui, é assim meus amigos! Fiquem aí sentados. O Fala Kalado um ex-falecido de nome Nelito Soares* e hoje Coronel, vai andar com o Che num lugar perto de Ponta Negra chamado de Luvungi da RPC- República Popular do Congo lá para trás nos anos de 1964 ou 1965. É aqui que encontra o Jonas Savimbi, um negro bem negro e, os rumos, lentamente, viram azimutes. Ainda não tenho bem a exacta certeza de como tudo acontece mas e como diz Murphy, o que tiver de ser, assim será…
:::::
Nota* Nelito Soares era funcionário da Imprensa Nacional de Angola – Cidade Alta da LUUA…
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LUUA XLIV - TEMPOS PARA ESQUECER – 27.08.2018
“A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – Nós e os mwangolés…
Por
T´Chingange - No M´Puto
Estávamos em fins de Julho do ano de mil novecentos e setenta e cinco. Costa Gomes - o Presidente Rolha da República do M´Puto (Portugal), nunca se comprometeu quanto ao concordar com Otelo Saraiva de Carvalho no envio de e, em força (uma intensidade Salazarenta) dos expedicionários cubanos para Angola. Garcia Marques do Alto Comando Caribenho refere isto mais tarde. A estória dum novo país a chamar-se de Angola, vai sendo desvendada aos poucos como coisa envergonhada e muito cheia de traições, tractos falaciosos e sucessivas enganações aos chamados colonos.
Agustin Quintana da 10ª Direcção e mais cinco oficiais cubanos chefiados por Argwelles, fazendo escala em Lisboa, chegavam a Luanda a 3 de Agosto de 1975. Estando já em Luanda com a família como desalojado e inscrito no Quadro Geral de Adidos, foi mais ou menos nesta proximidade de datas que me inscrevi na 13ª viajem da ponte “LuuaLix” por meio de uma Guia de Marcha a fim de embarcar para Lisboa. Nesta altura, ainda tinha esperanças fortes de voltar à Luua quando tudo ali acalmasse mas, ao invés disto fui cadastrado e crismado como Retornado assim que desci do avião no Aeroporto da portela em Lisboa. De branco de segunda fui promovido a Retornado. Haja Deus!
:::::
Dizia eu que estava em Luanda como deslocado de guerra e colocado no Palácio do Governo como Adido auxiliando como “destacado” nas tarefas de “repatriação” de cidadãos perseguidos pelos Movimentos ditos de Libertação com a principal envolvência do MPLA muito carregado de ódio e, que fomentado ou não, provocava escaramuças em todo o território, com maior incidência na capital - Luanda. Os desalojamentos em áreas suburbanas da Luua eram em catadupa incidindo sobre comerciantes fubeiros, taxistas, administrativos e genericamente todo aquele que tinham a tez de pela mais clara – brancos! Gente condenada a serem tratados como “OS TINHAS”, um palavreado que nem o gerúndio da língua pátria comportava …
Como “destacado” no palácio da Cidade Alta e com um Cartão de Identidade assinado por Leonel Cardoso, tinha permissão de me deslocar após o recolher obrigatório. Meu normal itinerário hera feito entra a Rua José Maria Antunes junto ao Rio Seco da Maianga com o número 22 e o Palácio do Governo com um Alto-Comissário a gerir a “Bagunça de Angola” que mais tarde apelidei de “Tundamunjila” – Thundá mun n´jila – vai prá tua terra, branco T´Chindere, seguido de “kwata-kwata” ou agarra, agarra que é branco.
:::::
Minha tarefa era essa, a de telefonar para o endereço certo a avisar que tal Fulano tinha embarque marcado na PONTE LUUALIX para tal dia e a tal hora; para que se preparasse e de modo próprio ou através de transporte fornecido pelo Alto-Comissário. Era uma viagem sem volta, só ida mesmo! Tudo era apontado para que a logística de meios proporcionassem sua saída. Eram normalmente Administradores de Concelho, Directores de serviços estatais, Chefes de posto Administrativo, jornalistas e ou individualidades refugiadas em pensões, hotéis, suas próprias casas ou em casa de familiares e amigos. Tudo gente hostilizada pelos Movimentos, assim fosse o MPLA, a UNITA ou a FNLA.
Havia outros cidadãos perseguidos e, por razões diversas. A bagunça instalada mais fazia lembrar uma escaramuça de formigas “kissonde” que anarquicamente e aleatoriamente procediam de forma desconexa; sem regras de protecção ou outras a adivinhar com agentes da PIDE misturados com os membros traidores da FUA (um pseudo movimento branco), colaboradores da Defesa Civil, Guardas de Fronteira e Reservas Estatais, Polícias brancos ou Fiscais de Caça. Os ódios raspavam um rancor desmedido e sem controlo.
:::::
Costa Gomes aceitou a demissão de Silva Cardoso nomeando interinamente Alto-Comissário Ferreira de Macedo, o homem que Rosa Coutinho e a CCPA queriam para este cargo. Este General e mais outro chamado de Carlos Fabião e um outro major de nome Canto e Castro iriam a Luanda estudar a situação. Nesta altura, as notícias eram desconexas e o tempo comia as palavras de ordem ventilando-as em desordens. Ninguém entendia o que se passava e quando sabia já aquilo que parecia ser tinha alterado para coisa-outra. Não havia como gerir este estado de coisas pois o descomando era verificado naquele agora.
Esta barafunda mais parecia ser propositada para confundir o medo que crescia em todos e, a cada dia, a cada hora, a cada minuto! Coisa diabólica difícil de se conceber. O maior herói de Angola e para a visão do MPLA deverá ser este traidor à pátria Lusa do M´Puto. A história de Portugal, para ser justa, terá de dar o título de traidor-maior a este Almirante Vermelho. Foi ele o feitor principal da página mais negra na história de Portugal, coisa nunca vista e com sequente lavagem em purificação pelos seus apaniguados do m´Puto.
:::::
Uma cambada da pior espécie que ainda hoje a quarenta e três anos de distância mantêm estatutos de gente VIP. E, não surge ninguém de peso a clarificar esta história de merda – de tugi, como se diz em kimbundo da Luua. Mais tarde veio a saber-se que assim era! Rosa Coutinho era o cérebro diabólico que tudo urdia, tudo subvertia para vingar sua tenaz heroicidade invertida em traidor de primeiríssima filiação, ele traía seus colegas de armas, seus patrícios para favorecer o Movimento MPLA.
Havia que atemorizar os brancos a fim de fazê-los fugir para aonde quer que fosse; o problema era de que não havia uma voz de comando fiável! Os governantes ali postos - em Angola, Generais de Aviário e gentes do PREC afecta ao PCP português, tinham em mente fazer sair os brancos de Angola. Costa Gomes deu plenos poderes a Rosa Coutinho que junto com Carlos Fabião e o major Canto e Castro para ir a Luanda estudar a situação.
:::::
Preparavam tudo para que a intervenção do exército expedicionário de Cuba não tivesse qualquer impedimento com a sub-reptícia desculpa e com o sufismo necessário para parecer o que não era para assim ser, porque o factor de tudo se fazer à “revelia do estado” era só uma coisa para tapear, enganar os inocentes opositores – nós, os indesejáveis colonos! Evidentemente!
No dia 28 de Julho de 1975 a FNLA e o MPLA aceitaram a saída dos deslocados desde que a evacuação fosse feita exclusivamente pelo Exército Português. Os primeiros a partir foram os cerca de duzentos militares da UNITA, funcionários do chamado Governo de Transição e familiares dos mesmos. No dia 31 de Julho havia uma coluna de 300 viaturas com cerca de meio milhar de refugiados em Nova Lisboa (actual Huambo).
Aqui não havia água ao domicílio e os cinco médicos temiam um surto de peste na cidade, devido aos inúmeros corpos mortos espalhados um pouco por todo o lado. O material e armamento do ELNA (exército da FNLA) decorrentes das rendições de Malange, seriam entregues pelas NT (Nossas Tropas) ao MPLA. A cidade de Malange foi abandonada por toda a população branca e preta que morava no asfalto. A 7 de Agosto de 1975, as mais de duzentas viaturas fizeram seu regresso a Luanda com todo o pessoal do Batalhão das NF ( Nossas Forças)…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
TEMPOS QUENTES - 22.07.2018
– BOOKTIQUE DO LIVRO – II
No Muquitixe da Munenga vi as estrias duma kalax bem à frente dos olhos… Foi aqui que o FIM se começou a desenhar…
Xicululu: Mau-olhado
Por
T´Chingange, vulgo António Monteiro
Nas frinchas do tempo, reconheço o fim - Falei assim com a minha empregada de Campala do Uganda. Olha Mery, infelizmente, tive de reconhecer o fim quando ele chegou! Mary, olhou-me com uma ternura idêntica àquele de uma outra empregada chamada de Mariana que tivemos na cidade da Caála. Foi neste então que lhe falei daquela mulher bonita e culta saída da Missão Católica do Kuando, lugar que fica a caminho da Cidade do Kuito, antigo Silva Porto.
:::::
Era ver Mariana fazendo seus deveres de casa com meu filho Marco (M´Fumo Manhanga) com menos de um ano, amarrado à sua cintura com um pano colorido e, com a esfinge de Mobutu Sesse Seco que tinha guardado ainda do tempo de tropa em Cabinda. De noite, ele, Marco que já andava, surripiava-se de nossa cama de casal ao encontro de sua Manana; era assim que ele a tratava! Quando reparávamos que já não estava, já o dia ia abrindo com o sol despontando do lado do Huambo, antiga Nova Lisboa. Morávamos na residência da escola primária, bem em frente à igreja de Robert Williams -Caála.
Mariana tinha toda a sua família em um bairro perto da Missão que visitávamos com alguma periodicidade; enquanto por ali estava com seus mais próximos, nós preenchíamos o tempo olhando as águas do lago da barragem que fornecia água à cidade do Huambo. Eram as cabeceiras do rio Kuando, o mesmo rio que visitei anos mais tarde no estremo da fronteira de Angola e, quando a caminho das Cataratas Victoria , bem no fim da faixa de Kaprivi.
:::::
Mary escutava-me com atenção pois que entrecortadamente dava pormenores que muito tinham a ver com sua cultura m´Bantu do Uganda; ria ou acenava concordando com minhas falas já ressequidas nas anharas e vastidões do planalto central de N´Gola. Com emoção recordei o convite que fizemos a Mariana no intuito de ir connosco para a Luua via M´Puto na metrópole que, nem conhecíamos no rigor de vida - Ela não poderia deixar sua família desamparada.
Com ela ficou o nosso cão, um serra da estrela e um montão de imbambas e até algum dinheiro que já neste então de pouco valia. O fim andava rápido demais e, nós sem sabermos bem para onde ir, tendo já perdido o comboio de refugiados para a Namíbia, lá acabamos por ir para Luanda num avião da TAAG abandonando tudo em caixotes destinados a lugar nenhum porque, simplesmente, nunca chegaram.
:::::
Barragens com tiros raivosos impediram por duas vezes sua passagem em Cacula, no cruzamento que ligava e liga o Planalto Central a Moçâmedes e Benguela. Foi assim que me contaram e assim vai ficar no pensamento até se dissipar no paralém. Só ficaram lembranças das gentes que como kissonde se dissiparam na geografia terreste formando a Diáspora que hoje conhecemos. Nunca mais tive notícias fidedignas dos amigos kamundongo da Junta Autónoma de Estradas entre outros. Só soube que Kalakata morreu de tiro. Passo à frente destes pormenores…
A pensar no como seria a vida lá na capital do Império, o M´Puto mal conhecido por nós antevia-se a solução mais plausível, menos sofrível, pensávamos assim ao som de granadas que rebentavam nos bairros, pela cidade, em todo o mato de Angola. A tempestade vingativa sobre os comerciantes fubeiros brancos subia de tom todos os dias. As raivas destes com os fubeiros e taxistas foram levadas em magotes de gente branca até o Palácio da Cidade Alta, lugar do Alto Comissário com mando do MFA.
:::::
Esta gente-comerciantes, andavam excitados num demasiado medo; Eles que viviam nos musseques, bairros negros suburbanos, conviviam mal com sua fama de trapaceiros. Pouco a pouco foram sendo expulsos de suas casas e, por via do medo de musseque, as rajadas desenhavam angústias tracejantes em forma de balas zunidoras de burlar vontades. Vamos lá! Diziam uns aos outros…e foram.
Os desalojados eram às dezenas de milhar. Despojados de seus negócios foram pedir ajuda a um governo que se sabia pactuar com os enraivecidos e, tudo se tornava muito tarde sem uma escassa hipótese de retroceder. Sim! Já tudo era demasiado tarde. Mas mesmo assim e dentro do palácio fizeram o traidor Rosa Coutinho subir para uma mesa a resguardar-se de tanto punho com vontade de se tornar soco. Muita sorte teve de não levar um tiro nos cornos salvo seja.
:::::
Aquele teatro de fingir guerra era uma inventação deste pulha, um desclassificado personagem a representar o MFA. Dando um pulo à frente na estória e, afim de não massacrar a minha empregada do Uganda, fui dizendo que tal e tal como o previsto dei comigo a fumar o medo e, num repente de assim dizer que se lixe, como todos os demais degluti o medo, comi-o! Olha, por agora não falo mais, disse eu a Mery de Campala.
Já cansado de esganar a saudade, de esganar a traição, de esganar a mentira daquela descolonização, ela deu-se conta e, sem enfado, muito pausadamente disse: - O seu azar, assim quase titubeando a verdade para não se ferir, o seu azar, notei a dificuldade de ir mais além; acenei-lhe assim-assim com o dedo indicador rodando, anda, desembucha! E, repete, o seu azar patrão… o seu azar foi ser branco! E, foi! Dei-lhe um abraço de agradecimento pela sua verdade…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LUUA XLII - TEMPOS PARA ESQUECER - 13.05.2018
“A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas” - Quase morri antes desta guerra em Kaluquembe; acho mesmo que fui para o além durante um pequeno espaço de tempo…
Por
T´Chingange
Quando no ano de 1974, se deu o 25 de Abril em Portugal, estava eu exercendo as funções de Topógrafo da Câmara Municipal da Caála (Robert Williams); chefiava a Secção de cadastro no referente a terras, urbanismo e obras já licenciadas. Minha mulher que era professora do ensino básico dava aulas no bairro Popular nº 1 confinando com o bairro Madame Bergman, muito próximo da estrada de Catete e confinando com o Bairro do Caputo perto da Terra Nova e Cemitério Novo.
:::::
Ela, Maria Emília dava aulas a 40 crianças dos quais, só duas eram brancas; filhos do merceeiro situado bem perto desta escola com o nº 22. Maria Emília imediatamente a seguir ao 25 de Abril ouvia alguns alunos em surdina, e na forma de muxoxos dizerem coisas desaforadas como: Vamos ficar com a casa da professora- Vamos ficar com o carro da professora, Vai para a tua terra, entre outras frases que ela fazia por não querer ouvir. Era um indício da tempestade que se aproximava. Três meses depois do vinticinco, em Julho de 1974 é destacada para a escola da Caála. Um alivio - a família Monteiro reunia-se de novo.
Aquelas crianças dos bairros suburbanos de Luanda eram a propósito instruídas em casa para assustarem seus professores; uma forma de rebeldia independentista curtida no seio de suas famílias; logicamente que seriam os pais senão a induzir os filhos, no mínimo eram conversas escutadas por estes. Fabricavam boatos que desencontravam a vida de todos. Eram já ensaios na preparação do Poder Popular. Maria Emília, já na Caála, contando isto a mim, dava para antever uma grande borrasca lá pela capital. Era o início da Guerra do Tundamunjila…
:::::
Após os primeiros encontros, negociações de cessar-fogo e acordos com os movimentos rebeldes e, já após aceitação da UNITA o professor Liuanhica da Catata, director de um colégio-missão, entra em contacto com vários elementos desta pequena cidade para formar o Comité da UNITA da Caála. Não me vou alongar muito nesta descrição mas, foi assim que fui eleito Secretário de Informação e Propaganda até que em uma remodelação dos Quadros, o próprio Jonas Savimbi me indigitou para Secretário de Relações Publicas do Comité.
Tenho contra vontade de expor isto para que todos vejam o empenho que fazia em permanecer em Angola e de uma forma activa. Nunca me arrependi de assim ter procedido até ter saído da Caála em Agosto de 1975; a UNITA teve ali, um comportamento exemplar. De forma breve posso dizer que o meu carro foi sabotado e, tudo indica por gente afecta ao MPLA. A carcaça do meu carro, um Renault major lá ficou na curva da morte do Cruzeiro de Kaluquembe.
:::::
Quase morri, acho mesmo que fui para o além durante um pequeno espaço de tempo mas, regressei com uma clavícula partida! Do carro nada se aproveitou e, tudo ardeu! Literalmente! Foi naquele acidente que o galo pintado de branco, símbolo da UNITA em fundo vermelho morreu! Foi o Doutor Parson, seu filho David e esposa da Missão do Bongo para lá do Longonjo, que me ataram uma ligadura a dar firmeza ao osso; osso que soldou por si, só com o tempo. Meu ombro esquerdo, por via disto, ficou mais curto em um centímetro. Aonde quer que estejam os Parson, mando os meus agradecimentos.
Porque já foram escritas 41 mokandas em um dilatado tempo convém aqui e agora recordar a cronologia da ENTREGA DE ANGOLA AO MPLA NO ANO DE 1975: 15 de janeiro . 1975 – Portugal, MPLA, FNLA e UNITA assinam os Acordos de Alvor, estabelecendo um governo de transição para a independência de Angola, o poder seria dividido entre as partes assinantes dos acordos. A independência ficou marcada para o dia 11 de Novembro do mesmo ano. - 31 de Janeiro . 1975 – Posse do Governo de Transição de Angola Como previsto pelos Acordos de Alvor. - 21 de Março . 1975 – Início dos confrontos entre MPLA e FNLA em Luanda e no norte de Angola.
:::::
- 13 de Junho . 1975 – Aprovação da Lei Fundamental pelo Governo de Transição de Angola. - 9 a 20 de julho . 1975 – Confrontos armados entre FNLA, UNITA e MPLA resultando na expulsão da FNLA e da UNITA de Luanda. – Agosto . 1975 – Suspensão dos Acordos de Alvor por Portugal. O governo passa a ser exercido por um alto-comissário. - 3 de Agosto . 1975 – Início da “Operação Iafeature”, consistindo numa aliança militar entre FNLA, UNITA, forças zairenses e sul-africanas, coordenada pela CIA, para combater o MPLA e conquistar o poder em Luanda no dia marcado para a independência. O governo caberia a uma coligação entre FNLA e UNITA.
- 4 de Agosto . 1975 – Jonas Savimbi anuncia oficialmente a entrada da UNITA na guerra civil. - 17 de setembro . 1975 – Chegada das primeiras forças regulares da África do Sul em apoio à UNITA. - 7 de Novembro . 1975 – Deslocamento aéreo de novas forças cubanas para Angola, através da Operação Carlota. - 11 de Novembro – Retirada das autoridades portuguesas de Angola. - O MPLA proclama em Luanda a independência da República Popular de Angola. - UNITA e FNLA proclamam a República Democrática de Angola, no Huambo.
:::::
Situemo-nos de novo a 10 de Novembro de 1975. A 100 metros da ponte de Quifangondo, dois camiões carregados de soldados zairenses morriam sem defesa possível. Uma Panhard foi atingida em cheio! Desta leva de soldados quase todos por ali ficaram mortos ou feridos com gravidade. Sem explicação a artilharia pesada Sul-africana abandonou a luta rebocando os obuses para lá do Caxito. Segundo Santos e Castro os Sul-africanos retiraram-se pelas 16 horas e 30 minutos com todo o material.
Deixaram os obuses sem culatras tendo sido recolhidos por um helicóptero que os levou até uma embarcação fundeada ao largo da costa do Ambriz. A Batalha de Quifangondo estava perdida. A FNLA fugiu mato adentro sem comando. No vale de Quifangondo os artilheiros cubanos que manobravam os “Órgãos Stálin” – lança foguetes 122 mm, tinham aniquilado a FNLA. As Brigada da FAPLA e da força Cubana estavam agora livres para enfrentar as tropas Sul-africanas e a UNITA que se aproximavam pelo lado Sul de Luanda.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
Mussendo - Um óbito no Huambo
Por
T´Chingange - No Nordest brasileiro
Uma homenagem aos meus auxiliares em campo da Câmara Municipal da Caála: - Pumuma, Jamba, Otaca, kumuna, Botomona, Francisco e Zacarias. A ferrugem do tempo calcinou projectos ali ao lado da pedra do sargento Canas a caminho do Quipeio, a ilha dos amores. O presidente Casimiro Gouveia nunca soube que era o Caluviáviri.
Jaka kapiango num mês bolorento, muita chuva, pouco dinheiro, maka na família, dívidas sem pagar no senhor Zeca gweta da loja do kimbo lá na Vila Flôr. Teve de dar nome na administração aonde devia impostos; quinze dias depois, seguia de contrato para a roça em Samtomé no vapor “Mouzinho”.
Na vida dele toda negra, só engordoreceu vontade de fazer seu sonho pois, só ajuntou no insuficiente para comprar uma junta de bois. Nem quase só, nenhuma coisa mesmo, nada ki kima n´go
:::::
Foi no Longonjo trabalhar terreno bom no plantio de milho mas, a velhice chegou antes do tempo certo. Ele, só desconseguia viver melhor do que queria; sempre escorria sua fraca sombra fazendo encontro com o sonho que tinha andado dormido no seu coração.
:::::
O tempo foi comendo lembranças da roça lá no Samtomé que, de muita sorte voltou no seu kimbo, suas botas, sua lavra, sua primeira, segunda e terceira mulher.
Num dia mais tarde, Jaka Capiango foi ficar só envelhecido de seco, castigos e fomes. Seu nome ficou de sucesso no livro de contratados no angariador da administração; um exemplo de sucesso apontado na palavra do senhor governador de distrito na Nova Lisboa.
:::::
Jaka morreu contraminado sugando cinzas em estória de saudade antiga, sua dicunji dos mares verdes de Samtomé; uma vida de nó em três voltas. No Santomé já só juntou mesmo chuva grossa mais mil chuvisquinhos e berros do capataz tuga peidador de bufas importadas do M´Puto.
:::::
Por muitas vezes saiu voando sombra negra de raiva no toque, zunido e uivo dum longo chicote; lentamente ia-se morrendo. Seus kambas kwachas lhe lembraram, boa pessoa, inchados de bolunga doce e t´xiçângua fermentada com paracuca a acompanhar.
Neste entretanto, o choro de lágrimas carpidadas, encarquilhavam mulheres de velhos rostos, simplesmente! Saí só falando calado “ m´bika ia kaputo, caputo ué*”. O Sol de Jaka se apagou entornado de escuridão que lhe torceu por demais seu coração.
* Escravo de branco, também é branco
Soba T´Chingange
ANGOLA – DO HUAMBO -– "Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo - nem ele me persegue, nem eu fujo dele, um dia a gente se encontra"
OS LUANDENSES NUNCA VIRAM COM BONS OLHOS, AS GENTES DO SUL DO PAÍS !
Por
Fernando Vumby … Fórum Livre Opinião & Justiça
Esta crónica, eu tinha que escrever qualquer dia, até porque conheço muita gente que sofreu apenas e simplesmente por ter tido um nome de origem sulano, curioso alguns até chegavam á ser barrados mesmo vivendo em Portugal, dependendo do tempo em que tinha fugido do país. Nem sei se na altura os tugas já estavam feitos com o regime vigente em Angola ou não, mas verdade é que, conheci casos de angolanos que foram repatriados com base nisto e, postos em Angola, acabaram eliminados.
:::::
Estou a preparar uma obra intitulada o (Drama de Eslome Joaquim) Um homem que tinha feito tudo para se livrar do regime, e mesmo posto fora do país, o azar continuou á persegui-lo até que acabou morto em Angola depois de ter sido forçado á regressar para o país. Um dia, tinha sim que escrever esta crónica pois ainda há muita fachada, muitos abraços fingidos entre uns e outros, muitas nomeações simuladas, posições ocupadas para se vender o peixe desde á muito considerado por podre como bom, etc… etc.
:::::
E até porque ainda existe uma certa resistência e dificuldades das gentes de origem sulana mesmo estando no MPLA e com cargos (importantes); por exemplo em exonerarem seus subordinados naturais de Luanda e pior se este for de carreira militar, dos tais generais do grupo dos intocáveis, conheço-os todos, tão bem e melhor que muitos. Se ate hoje fores á uma embaixada de Angola e dão conta que és do sul. A esfrega que apanhas se tiveres o azar em seres atendido por um kaluanda não será pera doce! Infelizmente as embaixadas foram transformadas em autênticos comités do MPLA.
Para não falar dos sulanos que ficam anos e anos sem promoção nas forças armadas, e se não forem lambe-botas ainda pior, pois ate acabam zombado pelos seus próprios colegas na unidade militar... Kota, esses sulanos dão pena, concluiu um jovem militar das FAA patenteado, enquanto o outro com mais idade numa roda de amigos dizia em voz alta e em bom-tom; " Há um tipo destes que veio da UNITA por ser ministro! "
:::::
QUEM DISSE, QUE ISTO ACABOU?
Mesmo estando-se em tempo de (reconciliação) nacional e de uma (paz) vista por canudo, há verdades que por nada deste mundo temos o direito de esconde-las ou pinta-las porque se diz que isto já pertence ao passado. Nasci e cresci em Luanda e sou do tempo em que para se desprezar e desrespeitar as gentes do sul nunca faltaram os termos e apelidos dos mais depreciativos possíveis que ate hoje ainda estou para saber quem colocava isto na cabeça dos luandenses.
:::::
Para os kaluandas todos que fossem do sul do país eram considerados como bailundos e á palavra bailundo (os baías) curiosamente ate chegaram á dar o significado de atrasado, burro, escravo, criado do branco e falso. Não sei se é pelo facto da maioria dos brancos na altura terem tido como preferência as gentes do sul do país, para trabalharem em suas casas como empregados domésticos internos os considerados por criados.
Ainda naquela altura alguns velhos do sul de Angola que chegavam e se fixavam em Luanda e já tinham dado conta de que o ser-se sulano, raramente não era interpretado como pior do que o numero da (prostituta), para salvarem á pele dos seus filhos de possíveis humilhações viram-se obrigados á fazerem novos registos para os mesmos trocando os nomes de família e passaram á crescer ate morrer com nomes como se fossem naturais de Luanda.
:::::
Sei que este é um tema que muita gente não gosta de abordar por receio em serem acusados de tribalistas, regionalistas ou coisas do género, eu não tenho kigila e vou continuar a abordar ate porque conheço pessoas que nasceram no Bié / Huambo / Bailundo cresceram em Luanda e morreram como naturais de Luanda e curioso com nomes que ate parecia que estavam reservados exclusivamente para os luandenses.
:::::
Cumpro com isto o dever moral e patriótico ao não esconder estas verdades ocultadas e manipuladas propositadamente para se vender a ilusão de que este espírito e comportamento já foram banidos das mentes de certas pessoas o que não é verdade. Poderia até mesmo mencionar alguns nomes de pessoas; que se não se tivessem protegido por detrás das novas cédulas pessoais teriam problemas. Às pressas e, se calhar nas guerras do kwata-kwata, quando o MPLA relacionava toda gente do sul como simpatizante, militante ou amigo da UNITA. A ser assim, hoje não estariam vivas.
Quem viveu em Luanda nesta altura sabe que houve até casos em que os próprios vizinhos eram os que denunciavam quem era e não era do sul de Angola, o relacionava como kwacha e raramente não dava á dica ao camarada com ordens para surrar tudo que era do sul. Curioso é mesmo havendo muita gente que já tinha aderido ao MPLA ainda nos tempos da guerrilha contra o regime português e, que depois ate se destacaram como grandes comandantes em frentes de combates contra o colonialismo português; foram subestimados pelo bureau político do mpla. Hoje a merda ainda é a mesma, muito embora com um cheiro um pouco diferente, muitos são os que partilham desta ideia!!!!!
As escolhas do Soba T´Chingange
TEMPOS PARA ESQUECER – 19.08.2016 - ANGOLA DA LUUA XIV . NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA. … Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo - “Consolidação do poder popular” na Luua…
Por
(…) A Força Aérea transportou o grosso do resto da fracção Chipenda para Gago Coutinho. Nos dias que se seguiram, foram as cantorias a enaltecer o herói Valodia assim ao jeito de rumba com bolero de Cuba do tipo que fez crescer a imagem do Che Guevara; a mística música, enaltecia as contendas da guerra provocando um estado de euforia misturando sonhos de libertação, incentivando o erguer de punhos, catanas e armas que rebentam casas, gentes de fazer fugir o capeta, como se estivessem a defender uma Baia de Cienfuegos.
Lá a Sul daquela Angola, fazendo meus trabalhos de urbanismo na Câmara Municipal da Caála, afligia-me tal situação. Era neste então Secretário de Informação e Propaganda da UNITA do Comité da Caála. Pensei que poderia assim contribuir para a boa ordem na região que até aqui se tinha mantido pacífica, o planalto do Huambo. Jonas Malheiro Savimbi "leader" da UNITA esperou ir a Nova Lisboa depois de estar legitimado pelo acordo de Alvor e, chegou triunfalmente tendo a recebê-lo mais de meio milhão de cidadãos. Esta recepção triunfal aconteceu a 28 de Janeiro de 1975.
:::::
Savimbi o “Mwata”, estava em alto neste então, sendo considerado o mais moderado e com ideias mais viradas para o progresso de Angola. Os militares do CR, portugueses, tentavam manobrar sua imagem tirando dividendos do confronto com um MPLA cada vez mais radical e raivoso. Savimbi ia acompanhado por seu secretário-geral do movimento, Miguel N´zau Puna, e doutros elementos ligados à UNITA; chegou ao aeroporto de Nova Lisboa (Huambo) cerca das 10.30 horas com uma surpreendente multidão a esperá-lo.
Os jornalistas que fizeram a cobertura do acontecimento referiram ter sido um espectáculo altamente elucidativo da "força" que aquele tinha no planalto central. Toda a zona do aeroporto estava apinhada de gente que, entretanto, qual rio caudaloso, se escoava por toda a parte nos quase três quilómetros que o separam da cidade propriamente dita. Neste tempo e até o mês de Junho sentia-me confiante mas, não foi possível conter a tarefa de rebelião que o MPLA todos os dias e à semelhança de Luanda fazia junto dos kimbos assediando gente, revirando-lhes a vontade da mente, alinhar com esta onda de e contra o dito colono que era sempre branco.
Sentia-me acarinhado entre aquela gente laboriosa da UNITA e, numa revisão de tarefas fui indigitado Secretário de Relações públicas! Durante a minha vigência tudo correu dentro de uma normalidade aceitável mas sentia que o câncer da liberdade era venenoso demais para continuar a ser um paraíso. Não me sentia convincente no suficiente. Pouco a pouco fui ficando nada confiante no futuro! E, mesmo falando em comícios dando tranquilidade, não me conseguia acreditar e fazer passar a mensagem a cem por cento! Os brancos, dia a dia abandonavam tudo! Fazendas, padaria, marcenaria serração e tudo o que se define como actividade comercial. O câncer alastrava…
:::::
Num repente já nem tinhamos médico, no outro dia já não havia enfermeiro; um e outro iam zarpando de avião, carro ou comboio. Ia ficando no dia-a-dia um deserto sem a gente capacitada para gerir o que quer que fosse; já não tinhamos veterinário nem mecânico que curiosamente ou não, já tinha vindo refugiado anos antes do Congo, e o desespero quer se queira ou não, um dia chega! Ninguém é permanentemente de ferro! Em uma ida na carreira EVA levei minha sogra a Luanda em Julho e, foi quando deparei com o caos à medida que me aproximava da Luua.
Havia controlo de zonas, primeiro da UNITA e depois para lá do Alto Ama eram da FNLA, do MPLA, assim uma coisa de filme tipo guerrilha do Ruanda como Tutsis e Hútus e marginalidades ao jeito de “apocalypse now” com gente não habilitada para zelar pela ordem, gente drogada que nem falar sabiam! Em Muquitixe mandaram sair os passageiros do machimbombo e ali ficamos encostados a uma casa esfolada de tiros; assim, esperamos que revoltassem nossas malas.
:::::
Um furriel camarada, farda portuguesa, negro de cor com afectos ao MPLA, a dado momento mostra seu cartão de mando conseguindo convencer a nos deixarem seguir. Estávamos ali brancos, mestiços e negros olhando de soslaio uns para os outros, tendo por fundo um paredão ruina de casa em adobe que bem poderia vir a ser o nosso sítio de dia final! Depois seguiram-se o Dondo, deserto queimado com cães rondando as quitandeiras que vendiam sobrevivência na forma de peixe seco; nada mais!
Nada de sandes, café ou o que fosse e, depois e muito pior, seguiram-se as povoações de Zenza do Itombe, Maria Teresa, Catete, Kassoneca, Colomboloca, e por fim Viana. Uf!... Finalmente, Luanda à vista! O holocausto foi tão cruel, a visão era tão catastrófica que fermentava na minha cabeça a fuga! Não via outra solução plausível. Aquilo era pior do que poderia imaginar; pior que mau ou péssimo! Deixei a sogra e regressei de avião a Nova Lisboa com a definitiva ideia de regressar ao M´Puto. Meu compadre neste meio tempo já estava na Namíbia no campo de refugiados.
:::::
Estava combinado ir com eles mas o comboio de viaturas não podia deixar de seguir seu rumo para Grootfontein com vigilância de uma das NF, forças portuguesas. Cheguei à Caála e descrevi aos meus parceiros manos do movimento que iria inscrever-me no Município nas listas dos Adidos. Falei com Kalakata, o chefe do destacamento militar de Robert Williams e fiz uma despedida de “mais-tarde-nos-veremos”. Kalakata viria a morrer em uma maka organizada, das muitas que sucediam e, um tiro perdido mandou-o pró paralém.
Aquele ataque às sedes do Chipenda em Luanda foi visto com o prelúdio do que aconteceria tanto à FNLA como à UNITA. Holden Roberto, com um tom bélico e a partir do Zaire fez um discurso de aviso ao MPLA de Luanda. Ele não estava ciente do poder de fogo dos comités da acção popular, vulgo “poder popular” dos bairros periféricos da Luua. Ele só fanfarronava de lá de longe com a protecção de Mobutu; seus maus concelheiros só queriam quimbombo com chuço (churrasco de galinha) no espeto…
:::::
Também ele não acreditava que seu exército bem equipado e formado, poderia ser saraivado de balas pela guerrilha urbana, pelas balas G3 ofertadas pelo Alto-comissário Rosa Coutinho e seus guedelhudos capangas formados no Sarajevo e Praga, oficiais progressistas do M´Puto que queriam virar o mundo do avesso; o nosso mundo! Este passado tão inglório, tão medroso, tão traiçoeiro, foi ficando um sítio demasiado perigoso!
Por detrás daquele poder popular estava gente com raivas sem freio, mulatos abandonados pelos pais, brancos sismosos de Che Guevara, vizinhos muito doentes nas filosofias esquizofrénicas e pretos que nem sabiam o que isto era, todos comandados além do Valodia, do Monstro Imortal, do Lúcio Lara, do Iko Carreira e uma parafernália de gentinha má e mesquinha, mal formados, também por militares de aviário formados em quarteis do M´Puto às ordens dum tal de Concelho da Revolução e adjacências…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
HUAMBO - Pude cheirar o azedo de sua morte, bufas importadas do M´Puto.
Mussendo: Conto curto de raiz popular, missiva em forma de mokanda (carta) do Kimbundo de Angola (N´gola) durante o tempo colonial (Arnaldo Santos foi seu 1º mestre).
Por
T´Chingange
Uns dias atrás, na devoração dos meus passados, ressurgi do nada como uma kianda na Ilha dos Amores do Quipeio e, o que vi, surpreendeu-me sobremaneira. Pude observar por detrás de chinguiços ressequidos e vissapas espinhosamente verdes, um militar vestido de caqui e zuarte com polainas de lona, tal como era usual nos soldados expedicionários do início do século XX para as Áfricas Coloniais. Este homem de antigas sarjas, tinha divisas de sargento também do tempo de Kaprandanda. Estranhei estar este militar um pouco afastado de seu bivaque situado no sopé da pedra Nganda la Kawe mas apercebi-me em seguida que ele não estava só. Apurando bem a visão pude ver um mulher desnuda debruçada na corrente de água fria e límpida; Aquela mulher negra de seios arrebitados com tudo no seu lugar, enfeitiçava seu mwana-pwó magala do M´Puto de nome Muenge. Entendi que ela o chamava assim porque correspondia ao nome Canas que era efectivamente o seu.
Soube por intermédio da minha sapiente kianda, uma múmia de nome Januário Pieter que aquele cafeco era filha do soba Wambu Kalunga, homem muito respeitado em todo o planalto do Huambo. Deu-me a conhecer que na segunda metade do ano de 1901, se deu início à revolta nos povos do Bailundo. Para lhe fazer frente, organizaram-se duas colunas de expedicionários. Uma saiu de Luanda sob o comando de Massano de Amorim, e a outra saiu de Benguela tendo no comando Teixeira Moutinho. Ambas suportaram longas marchas e duros combates, todos eles contados por vitórias. O sargento Canas pertencia a esta segunda coluna. Convêm aqui referir que a seguir à Conferência de Berlim de 1885, o governo Tuga desencadeou um conjunto de acções de âmbito militar, administrativo, de investigação e de delimitação de fronteiras e também de melhoria de infra-estruturas, comunicações e do comércio. Havia que formalizar no terreno a possessão da Colónia Angola a fim de assumir total soberania desta. As campanhas militares iriam estender-se até meados dos anos 30 do século vinte.
Este umbigamento do sargento Canas ou Muenge, embora se fizesse em surdina, não passou totalmente despercebido ao povo do soba Wambu Kalunga e no meio de toda esta vivência com cheiro de pólvora e ânimos exaltados, num dia de muito afago com N´Jingala, era este seu nome, surgiu-lhe à porta da libata um monandengue dizendo que os homens de Kahululo, o noivo consorte desta filhota do soba, após terem dançado toda a noite ao som dos tambores de guerra, muito cheios de bolunga de milho fermentada de raiva, estavam a caminho vindos do lugar do Longonjo preparados para a luta. - Verdade mesmo! Diz o monandengue cipaio. Eles estão muito cheios de revoltosa Luta! A pretexto disto e também dos impostos de cubata, os bóeres do sul, alinhavados com Bismarck, tinham insuflado raivas a estes por modo a se insubordinarem aos Tugas; para esse efeito forneceram-lhes armas de fogo, mausers, canhângulos e água do diabo ou ardente que lhes virava as cabeças ao avesso.
::::::::
Retirando-se às arrecuas das libatas e, com toda a sua disponível força, os homens de Canas Muenge, agrupam-se por grupos em um dos lados e usando as pedras roliças dispersas ao redor e na falda daquele monólito sem nome, só pedra grande e de respeito. Foi num então rápido e envolto num intenso cheiro de pólvora, balas em ricochete, ordens zoadas a eco e uivos medonhos; uma destas, apanhou-o levando-o num ápice à santa terrinha das Beiras. Antes do último suspiro lembrou-se das caldeiradas d´eirozes, da orelheira de porco com feijão branco, a açorda e caldo verde gordo e o bacalhau do Algarve. Seu último pensamento foi para a sua N´Jingala! A lápide que eu vi no sopé da pedra que passou a ter o seu nome, nada disto fala mas, pude cheirar o azedo de sua morte com bufas importadas do M´Puto e total esquecimento dos novos senhores, mwangolés esquecedores dos feitos Tugas.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
TEMPOS CINZENTOS - Ando a semear assobios mas, nos intervalos da vida, durmo!
MALAMBA: É a palavra.
Por
Um pedaço de mim nunca mais o terei! Ficou lá na Caála a devorar meus pensamentos, lá na Catata a perturbar minhas vivências, lá em Caluquembe afagando-me violentamente as rugas que gemem dentro de mim freneticamente. Quando descobrir que nunca é tarde de mais para lá voltar, regressarei com meus fugidos medos e vergonhas de roer, rogando à Nossa Senhora do Monte que a paz desça sobre mim; tapar o buraco das feridas, lamber a hóstia consagrada do peito e da vida que corre por debaixo dele; matar a traição espolinhada no esquecimento do capim e cardos iguais ao do nosso Senhor Cristo rodeando a capela da minha peregrinação; minha muxima do kwanza transladada para este monte.
Os nossos monumentos, aqueles que nos são próprios, são as tradições orais que morrem connosco mais velhos, mais kotas que o tempo faz desaparecer extinguindo-se esquecido. Hoje, em Angola, as autoridades tradicionais não possuem nem audiência, nem meios próprios de expressão. As instituições que sofrem irrupção agressiva da modernidade e falta de condução no plano institucional omitem o património oral dos mais velhos; a sobrevivência e revitalização que se quer permanente ficam aquém do desejado desperdiçando-se culturas tão cheias de valores; valores que não constam nas bibliotecas. O rico património linguístico de Angola que deveria ter um desenvolvimento harmonioso com a modernidade é escamoteado por ignorância; É curioso referir que os Tugas muito se empenharam para guardar essas riquezas através de secretarias criadas para o efeito com antropólogos e etnólogos.
A tradição oral, diz que Wambu kalunga foi um exímio caçador que se instalou na região da Caála, na província do Huambo, nas zonas do Ussombo, Makolo e Kondombe, aonde se radicou e umbigou com sua esposa. Não obstante ser um bom caçador, nunca chegou a assumir cargo de responsabilidade junto do soba Kalunga. Sabe-se todavia que um monumento foi erguido a sua memória e que os restos mortais de Wambu e mais duas raparigas que se acredita terem sido enterradas vivas com ele, pois assim era a tradição, continuam ainda hoje protegidos por anciões. O Mais velho Cipriano Kangandjo, um ancião muito respeitado, diz que Wambo, foi enterrado com honras devido a sua participação decisiva na batalha que se travou nas grandes pedras de Nganda la Kawe, entre os filiados de Kahululo, esposo de sua filha NJingala e os seus homens.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
UM ÓBITO NO HUAMBO - Jaka Kapiango, a vida, só lhe castigou
Mussendo: Conto curto de raiz popular, missiva em forma de mokanda (carta) do Kimbundo de Angola (N´gola) durante o tempo colonial (Arnaldo Santos foi seu 1º mestre).
Por
Esta estória é já uma segunda versão com ligeiras alterações para recordar e dar continuidade falando de tempos mais antigos; do tempo do sargento Canas, das pedras de Nganda la Kawe dos sobas Huambo Calunga e Cunhamgâmua e sua filha com pretensões de vir a ser branca, uma gweta assim como o mwana-pwó Canas. Uma homenagem aos meus auxiliares em campo da Câmara Municipal da Caála: - Pumuma, Jamba, Otaca, kumuna, Botomona, Francisco e Zacarias. A ferrugem do tempo calcinou projectos ali ao lado da pedra dde Nganda la Kaweo aonde o sargento Canas também foi enterrado; fica a caminho do Quipeio e, a ilha dos amores. O presidente Casimiro Gouveia nunca soube que era o Caluviáviri.
Jaka Kapiango num mês bolorento, muita chuva, pouco dinheiro, maka na família, dívidas sem pagar no senhor Zeca gweta da loja do kimbo lá na Vila Flor. Teve de dar nome na administração aonde devia impostos de cubata; quinze dias depois, seguia de contrato para a roça em Samtomé no vapor “Mouzinho”.
Na vida dele toda negra, só engordoreceu vontade de fazer seu sonho pois,... Só ajuntou o insuficiente para comprar uma junta de bois. Nem quase só, nenhuma coisa mesmo, nada ki kima n´go; foi no Longonjo trabalhar terreno bom no plantio de milho mas, a velhice chegou antes do tempo certo. Ele, só desconseguia viver melhor do que queria; sempre escorria sua fraca sombra fazendo encontro com o sonho que tinha andado dormir no seu coração. O tempo foi comendo lembranças da roça lá no Samtomé que, de muita sorte voltou no seu kimbo, suas botas, sua lavra, sua primeira, segunda e terceira mulher.
Num dia mais tarde Jaka Kapiango foi ficar só envelhecido de seco, castigos e fomes. Seu nome ficou de sucesso no livro de contratados no angariador da administração; um exemplo de sucesso apontado na palavra do senhor governador de distrito na Nova Lisboa. Jaka morreu contraminado sugando cinzas em estória de saudade antiga, sua dicunji dos mares verdes de Samtomé; uma vida de nó em três voltas. No Samtomé já só juntou mesmo chuva grossa mais mil chuvisquinhos e berros do capataz tuga peidador de bufas importadas do Puto. Por muitas vezes saiu voando sombra negra de raiva no toque, zunido e uivo dum longo chicote; lentamente ia-se morrendo.
Seus kambas kwachas lhe lembraram, boa pessoa, inchados de bolunga doce e t´chissângwa fermentada com paracuca a acompanhar. Neste entretanto, o choro de lágrimas encarquilhava mulheres de velhos rostos carpidando, simplesmente. Sai só falando calado “ m´bika ia kaputo, caputo ué”. O Sol de Jaka se apagou entornado de escuridão que lhe torceu por demais seu coração.
Glossário: m´bika ia kaputo, caputo ué: - escravo de branco, branco é!
O Soba T´Chingange
EM TERRAS DO SUMBE . Tempo de Macutas
Verdade ficcionada
Por
T´Chingange
Bandeira em 1780 - O Exército o Império Unido de Brasil, Portugal e Algarves é o segundo mais poderoso do mundo, depois do Exército Sino-japonês.
Fugindo daqui e dali vi-me agora em aflições porque o passado reconheceu-me na palidez enrugada da velhice. Com palavrões dentro da cabeça, tentei reconstruir minha já antiga inventação e com os nomes esvoaçando, mijando raiva de mim aos poucochinhos, fui buscar as novidades fracturadas com figas e juras por sangue de Cristo. Tive mesmo de espreitar minha vida pelo cano de meu revólver; uma vida estriada em verdades misturadas nas mentiras. Foi ai que o filho da mãe surgiu, engalanado com bandeiras, panos e guarda-sóis coloridos. Em ambiente de grande excitação e alegria vindo de Quilengues, surge um branco albino que parecia um demónio, cabelos sujos e espetados como capim velho. Vinha buscar barricas de aguardente e rolos de tabaco.
- Rei do Bailundo 19981977 - 1998 Manuel da Costa Ekuikui III
Eu, como secretário de fazenda de João de Câmara da Capitania-Geral do Reino de Angola com a ajuda do capataz José Nanquituka tinha de despachar rápidamente este rebelde mijão matumbo kazukuta com seus monandengues, porque não me era de fiar. Portando-me com o colar de dentes de javali ofertado pelo rei do Huambo Katchitiopololo Ekwikwi, monarca de muito respeito e respeitado,olhando para trás deste falso branco, pude ver que tinha consigo mais ausências de dignidade do que medo. Sua brancura indeferia-me com seus sorrisos matreiros de mentira chorada antes da lágrima. Já no terreiro fiz um sinal a Kaputo da Silva, o almoxarife missionário auxiliar, para que se aproximasse e, dei-lhe ordens para que procedesse á troca de géneros com estes demónios de Quilengues. Neste entretanto empoleirado nas horas das consequências com vénias de enrugada postura, o branco de fingir, dá umas ordens aos seus monandengues e, eis que salta um t´chingange para o terreiro empoleirado em antas, zingarelhos, enfeites de ossos de hiena e facóchero ao redor do corpo.
Entre 1876 e 1893, reinava no Bailundo Ekuikui II, substituto de Ekongo-Lyo-Hombo, quando o reino entrou em grande alvoroço. Foi numa altura em que, no planalto, os reinos iam caindo, um a um, nas mãos dos colonos portugueses. No ano de 1893, os emissários do reino Bailundu, dirigiram-se à embala de Ekuikui II dizendo-lhe que o reino estava em vias de ser atacado. Todos se recordavam da prisão feita pelos portugueses, do rei Cingi I um século antes (1780?). nesse então, o reino do Viyé, já estava há uma centena de anos submetido aos brancos.
Rainha D Maria I
Fazendo rodopios de dança espacial, gaifonas de feitiço e superstições secretas, ele salta e ressalta, gesticula traços com braços apitando uma estranha gaita até que, já cansado, estatela-se no chão, literalmente como forma de agradecimento à minha solene pessoa, o tchindele mwana-pwó do M´puto. Dois candengues colocam bem aos meus pés dois potes de mel silvestre e eu, agradecendo de mão virada para o pretobranco albino mando que lhe seja dada uma bandeira do M´Puto recentemente chegada de Loanda a mando da Rainha D. Maria I. Dando costas àquela turba pude observar que ordeiramente se dirigiam para o armazém das bebidas. Aquela noite o batuque prolongou-se mais para além do habitual; o kimbombo, t´chissângwa, marufo e bolungas várias faziam a alegria da vagabundagem. Não obstante ficar atento a possíveis alterações de ordem pública, recomendei pessoalmente ao Alferes da guarnição e presídio do Sumbe da foz do rio N´gunza, que mantivesse uns quantos cipaios a observar, até que aqueles kazukutas e seu chefe beiçudo, branco genérico se fossem para Quilengues.
(Ver glossário no final)
(Continua…)
O Soba T´Chingange
EM TERRAS DO SUMBE. Cemitério dos brancos
Verdade ficcionada
Por
T´Chingange
Decorridos uns bons anos em andanças de soberania por terras de entre Benguela e Loanda, agora ás ordens de João de Câmara da Capitania-Geral do Reino de Angola a concelho do seu antecessor António de Lencastre, Governador e Capitão-General de Angola, em inícios do ano de 1781 tive a incumbência deste de subir ao planalto, entender-me com os M´bundos e levar-lhes sementes de cereais com utensílios para o amanho da terra. Tinha a indicação de haver ali um soba rei de nome Katchitiopololo Ekwikwi, com vontade de dar ao seu povo melhorias através do aprendizado em novas culturas de milho, massambala, batata-doce e uma nova batata lisa que os brancos usavam em sua alimentação.
Cansado daquela terra de Sumbe, voraz sorvedouro que nunca se fartava de engolir gente, dei como bem-vinda tal tarefa expedicionária. Em um dia de Janeiro desloquei-me às terras de N´gunza a fim de requisitar o pardo José Nanquituka que anos antes por minha iniciativa e na qualidade de secretário, ali ficara a dar apoio ao soba Kabolo. Eis que logo à chegada ao kimbo, deparo com graciosos cafecos, meninas muito novas com os cabelos arranjados em tranças finas e colares que lhes caíam entre os mamilos arrebitados, pequenos e duros; de início esgueiraram-se mas, ouvindo-me falar em português e umbundo aproximaram-se na incerteza se entendiam o que eu estava gritando pois que lhes parecia ser o nome de seu pai Nanquitude. E, estavam certas. Após um formal abraço e apresentadas as questões que ali me levavam ficou assente avançarmos para o Bailundo no término das chuvas.
Este rei do Bailundo recebeu-nos com alguma indiferença num lugar chamado de Luimbale do Huambo e, só lá pelo quinto dia e após uma demonstração de como se trabalhava com o arado e manobrava os bois, é que nos deu o privilégio de, ainda que de longe, trocar umas palavras em Umbundu. Não obstante ter aceite a oferta de quatro bois, arreios, enxadas, plantas e sementes seleccionadas, marcou um encontro com seus sobas, kimbandas e macotas de Huambo, Catata, Longojo e Luimbale tendo-nos dado um salvo conduto na forma de colar com dentes de javali para termos um regresso sem problemas; a única coisa que ficou assegurada foi termos um novo encontro dentro de um ano; só após a recolha das sementeiras estariam em condições de nos dar abrigo e libertar a vinda de missionários e gente funante; O kimbanda kissombo, de boca sem dentes contorcido em esgares e simulacros de sorriso, transmitiu-nos essa mensagem. Para quem não estava em paz com os mwana-pwós, esta missão foi considerada um êxito.
(Ver glossário no final)
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
"LUANDA E OS RICOS - 4ª Parte " - Coisas da Luua
Isaias Samakuva
Presidente da UNITA
Os Ovimbundu (Ovi-m´bundu, singular Oci-m´bundu, adjectivo e idioma U-m´bundu) - prefixo umbundu "ovi", são uma etnia Bantu de Angola. Constituem 37% da população Angolana. Os seus subgrupos mais importantes são os M´balundu ("Bailundos"), os Wambo (Huambo), os Bieno, os Sele, os N´dulu, os Sambo e os Kakonda (Caconda). Os Ovimbundu ocupam hoje o planalto central de Angola e a faixa costeira adjacente, uma região que compreende as províncias do Huambo, Bié e Benguela. Os Ovimbundu com a colonização portuguesa, foram num processo lento de mobilidade moderna miscigenando-se com outras etnias assimilando assim muito da cultura ocidental. A partir do início do século XX, em seu territórios nasceram muitos filhos de colonos, mazombos que se consideram também filhos dessa terra, pugnam por ela dedicando-lhe aquele amor que nem sempre é reconhecido como genuino. É deste cruzamento de saberes que nasce a crioulalgem da qual os Ovimbundos não se podem desligar ou omitir.
Nação Ovibundu
Sendo a UNITA o partido mais representativo desta etnia e mazombos m´bundus, e tendo assento parlamentar na oposição ao partido no poder MPLA, cabe-lhe a tarefa de se exprimir perante a onda de contestação ao actual desgoverno de Angola. É nesta perspectiva que focamos aqui o alerta (demasiado suave) à Comunicão Social do seu ponto de vista nas palavras de Adalberto Júnior, porta voz deste partido:
Convocamos a Comunicação Social para mais uma vez exprimir a posição da UNITA sobre os crescentes protestos que os cidadãos realizam contra as violações dos seus direitos e a má governação do Executivo do Presidente Eduardo dos Santos. Em primeiro lugar, a UNITA saúda patrioticamente a coragem e a responsabilidade de todos os cidadãos angolanos que utilizam o direito à liberdade de expressão e o direito à manifestação para protestar contra o desemprego, a pobreza, a exclusão social, a corrupção, os atentados à democracia e outros males que enfermam a sociedade angolana.
O tempo de se forçarem muitos M´bundus a aceitar a contratação como mão-de-obra assalariada (e mal paga) nas plantações de café no Norte de Angola, fazem parte da história que se quer olvidar; por isso as circunstãncias actuais de desmando e perene apego ao poder dos mwangolés do MPLA, tornam-se razões suficientes para uma adesão da Nação Ovimbundu. A forte presença dos Ovimbundu nas cidades fora da sua região por via das guerras de emancipação, originaram naturalmente novos factos na história recente, conferindo uma postura nova na projecção nacional.
Alcides Sakala
Algumas das personalidades mais emblemáticas da história contemporânea de Angola são originárias dessa etnia, como Chipenda, Augusto Chipenda, Comte Kassange, Dom Zacarias Camuenho, Jonas Malheiro Savimbi, Marcolino Moco, Alcides Sacala entre tantos outros. Na literatura e cultura, os Ovimbundu e M´bundus mazombos ocupam um lugar de destaque no panorama artístico nacional tais como: N´dumduma Wa Lepi, Alda Lara, Cikakata M´balundu, T´chissica Artz, Sabino Henda, Bela T´chicola, Manuel Rui Monteiro, Pepetela e José Agualusa que nasceram nesta zona tradicionalmente habitadas por Ovibundus.
Na Comunicação Social membros desta etnia também ocupam uma posição de relevo: radialistas e jornalistas do triângulo Benguela-Huambo-Huíla, marcaram ou marcam presença na cena nacional, com destaque para Analtina Dias, Bela Malaquias, Patrícia Pacheco, Cristina Miranda, Mateus Gonçalves e Sebastião Coelho. A UNITA que continua a ter as suas raízes mais fortes entre os Ovimbundu, tendo Isaías Samakuva na presidência do partido, não pode ficar indiferente ao processo de mudança na vida pública e política. Não pode ficar eternamente subserviente ao poder da gazosa.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
AS ESCOLHAS DO KIMBO
“RED SCORPION - 4ª Parte”- Filme sobre Savimbi
Contrastes . Arlete Marques
Numa idade em que o cansaço da guerra e as frustrações já o afectavam, Savimbi resolveu ainda atirar-se a outra sobrinha de Ana Paulino, Sandra Kalufelo, na altura uma simples adolescente e da qual teve um filho. Foi Sandra quem criou as intrigas que levaram Savimbi a mandar matar barbaramente Ana Paulino Savimbi, que foi enterrada viva numa toca de animais. As mulheres foram o grande problema de Savimbi e dividem-se em aquelas que amou - e assumiu como "primeira-dama", mas que também, por razões que se desconhecem, foram as que mais odiou - e as amantes, talvez centenas. A primeira mulher com a qual Savimbi teve uma relação conjugal foi Estela Maungo, Sul-africana que lhe deu três filhas, uma das quais, Rosa Chikumbu Malheiro, reside nos Estados Unidos. Vimona Savimbi foi a primeira mulher assumida por Savimbi na véspera da independência de Angola e com a qual teve três filhos residentes em Luanda. Vimona morreu em 1984 no incêndio da sua cubata e, suspeita-se do envolvimento de Savimbi.
Raizes . Eleutério Sanches
Savimbi teve várias mulheres, mas deixou apenas três viúvas: Catarina Massanga, da qual teve um filho, Rafael Massanga Sakaita Savimbi, educado em França e visto como potencial líder da UNITA; Cândida Gato, que tem uma filha de Savimbi e vive nos Estados Unidos; e Valentina Seke, que acompanhava Savimbi no dia da sua morte e, quando do funeral, foi vista aos prantos pela televisão de Angola. Savimbi teve muitas amantes e, quando arranjava uma, muitas vezes a predecessora tinha um destino trágico: Olinda Kulanda, ex-locutora da Worgan, a rádio da UNITA, e Maria Ekulika, funcionária do protocolo da UNITA, apareceram mortas de modo estranho; Joana foi executada por ter transmitido uma doença venérea a Savimbi; acusada de feitiçaria, Eunice Sapassa foi morta no processo Setembro Vermelho; a mulata Tina Brito foi fuzilada por se ter recusado fazer um aborto (Savimbi não queria filhos mestiços); Gina Cassange foi morta por ciúmes; Cândida foi morta por ter enviado uma carta de amor interceptada pela Brinde, a Pide da UNITA, e Sessa Puna também foi morta por ter servido de intermediária entre Cândida e o amante.
Crioulidades . António Gomes
O Savimbi da etapa final, impiedoso e pronto a sacrificar centenas de vidas pela causa sua, era muito diferente do Savimbi inicial, carismático e amado pela sua tribo, os ovimbundos, que representam 40 por cento dos angolanos. Hoje em dia é difícil de perceber que este monstro tenha tido durante tantos anos tanto apoio dos Estados Unidos e de Portugal. Se não tivesse morrido, Savimbi teria talvez dado um novo Idi Amin, o “carniceiro do Uganda” ou o ridículo Jean-Bédel Bokassa, autoproclamado imperador da República Centro Africana, que dava os inimigos políticos a comer aos crocodilos de estimação e não se safava da fama de canibal. Andei muitos anos enganado, desconhecendo todos estes tristes acontecimentos de que só se ouviam rumores na forma de boatos, mujimbos que agora se tornam realidades. Não podemos andar enganados todo o tempo e, esse tempo chegou. A Unita felizmente tem muita gente de valor que tem muito a dar de positivo a Angola e, que ão se podem revelar neste espelho que quebrou.
Referência: The Portuguese Times (NET)
(Continua...)
O Soba T´Chingange
F
ÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
"O Senhor da Osga"
José Eduardo Agualusa, nasceu em 1960 na cidade de Huambo, em Angola. Estudou agronomia em Portugal, mas a sua grande paixão foi a escrita e o jornalismo. As suas ligações a Portugal e Brasil residem no facto de ser filho de pai português e mãe brasileira. Romancista, contista, cronista, poeta e jornalista, peregrinando seu tempo entre Luanda, Cidade do Cabo, Lisboa e Brasil refletiu as realidades desses lugares em metafóricos contos, descrevendo as intermináveis lutas pelo poder em Angola, dos direitos básicos esquecidos no mundo Lusófono, das riquezas mal distribuidas, das guerras e corruptos governantes tanto em Angola como no Brasil ou o Puto. Essas realidades foram transpostas em alguns dos seus livros que foram muito bem aceites no Brasil. Seus romances suaves, povoados de aventuras, contribuiram para o sucesso.
Os textos de Agualusa cheias de assombros, seduzem na surpreza das palavras que ganham vida formatando um estilo muito seu, que conquista, em cada uma de suas obras o leitor, sejam contos, romances, novelas ou crônicas. Tormou-se um escritor multifacetado, não se prendendo nas fronteiras de um qualquer estilo literário. Seus achamentos em Portugal, Brasil ou Angola, conferem-lhe um molde peculiar na escrita e formas de linguajar, misturas de gíria urbana com banga de Luanda e toda a misticidade negra e crioula, matuta ou parda, ora em certanias, ora em agrestes paisagens do nordeste brasileiro ou rústicas e graníticas aldeias Tugas.
Huambo
O município do Huambo foi fundado no dia 21 de Setembro 1912 pelo então governador Nolton de Matos. Encravada no planalto central, a cidade de Nova Lisboa, como era chamada, é hoje a sede da província com o mesmo nome. Huambo é de origem Ovimbundu, tendo sido Wambo Kalunga, fundador do reino do Wambo, o primeiro monarca da localidade. O Huambo está numa área rica em recursos hídricos, pois nele nascem e passam vários rios e riachos como o rio Calumbula, Kunhumgamua e o Kuhimayala.
Xi-colono .
Agualusa, omo escritor, é fundamentalmente na forma de dizer as coisas, em seu geito de contar estórias que incham a sua aurea carregada de uma profícua, mesmo intensa imagem dum guru da língua portuguesa. Quando não sabe, fabrica termos e, até põe osgas a falar umbundo, uma fusão de referências entrelaçadas de beleza, coerente até na forma de desperdiçar conversa; um entrelaçar de culturas, criando um ramalhete de ideias, unindo zumbis com kiandas e, pesos de consciência que não lhe são devidos nem queridos. É um mazombo magoado com o passado, descontente com o presente revivendo a beleza crioula, uma raíz virada ao arcomo ramos secos de imbondeiro penetrando num espaço meio negro, mei branco, um t´chindere desenraizado à força do seu planalto, um xi´colono profetizando justiça e justeza nas turbas mentes, perfurando o consciente e até o sub-consciente de quem desgoverna a cultura de sua terra. Agualusa é, ele próprio, o exemplo por excelência do crioulo. Ele sabe bem, que assim é, um feiticeiro com geito de kimbanda, passarinho na gaiola, feito gente na prisão.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
AS ESCOLHAS DA CONDESSA DO KIPEIO - TREZA R.
"Mário de Andrade (Brasil)"
(1893-11945) Foi um poeta, romancista,críticode arte, musicólogoe ensaista brasileiro
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já tenho agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Jabuticaba
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
Lasar Segall Emigrantes
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.
Só há que caminhar perto de coisas e pessoas de verdad;
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!
Treza R.
AS ESCOLHAS DA CONDESSA DO QUIPEIO - (TR)
A MULEMBA DA MALDIÇÃO
DE SEBASTIÃO COELHO – 4ª PARTE
“...quando a mulemba secar, o Huambo vai desaparecer,destruido pelos seus próprios filhos. E as riquezas do solo não serão para ninguém...”
DA MALDIÇÃO DE ALBANO CANTO DOS SANTOS, dos anos 20
UM KIMBO DO HUAMBO
O Viegas padeiro distribuia o pão quente em bicicleta. O Bento Agria, o “Faísca” arranjava e alugava bicicletas. Carro de praça havia dois. O do Almeidinha carpinteiro e o do Largo, molengão, para todo o serviço sem pressa. Só mais tarde o Loução Caçador, o Bessa Alfaiate e o Justino Relojoeiro viraram taxistas. Chupa-chupa gostoso era fabricado pelo Antunes da Bébé-Sadio. O kitandeiro 12 da Juleca continou a vender kitutes 13 de casa em casa.
O dr. Eurico era o médico dos pobres. Mas quem sabia mesmo curar o maculo 14 era a velha Quartin, com pomada de pó de raizes, que ela metia a dedo, tufa, tufa, no ânus dos meninos. A generosa irmã Cândida também curava o maculo dos adultos, espetando-lhes as hemorróidas com agulha de ouro, até ao dia em que alguém morreu e aí mandaram ela embora. Cirurgião de confiança era mesmo o Dr. Parsons, da missão do Bongo. Médico famoso para doenças de mulher só o dr. Strangwei, da missão americana da Chissamba.
OS COCOS DO SOBA
Nesse tempo desta recordação, o único fotógrafo de verdade era o Costa Melo, que sempre usava laço sobre colarinho engomado. Armava as suas próprias películas numa caixa “à la minute” e no momento de actuar, levantava a mão e avisava o cliente: -“ai vai, olha o passarinho”. E zás, fusilava um “flash” de puro magnésio. Já nessa época tinha carro, um incrível Ford Pontapé, com faróis a carboreto e capota de lona, segura aos guarda-lamas por correias de couro e fivelas de bronze.
O Baptista era o livreiro “sui generis” do burgo. Não sabia ler nem escrever, mas vendia livros. Vendia literatura a peso, sopesando os livros com a mão. E nunca faliu.
Ao lado da livraria, sempre aberta, porque aí se encontravam instalados os bilhares, estava o bar. No bar do Baptista reuniam-se as eminências da cidade, a tomar “saloios”, por whiski, uma mistura barata de conhaque e soda. Ao fim da tarde caiam o Papa Leonardos, um grego ricaço, contrabandista de mão de obra para o Bom Jesus 15; o Cunha Lima, director da Kapa, homem de sangue azul e modos finos; o Miguel Nepomuceno, advogado e garanhão do povo, o Horácio D... e o Correia S..., cornudos de profissão; o Abel, velho aspirante a intelectual e o velho Tavares Kapoko, intelectual de verdade e toda a outra fauna que integrava o zoológico da cidade, incluindo o Tubarão, o gordo “Tubarão Mendes - Tabelião”, como rezava a placa do notariado.
12 - Kitandeiro/a – Vendedor ambulante.
13 - Kitute – Doce. Doçaria. Coisa boa.
14 - Maculo – Doença no ânus devido à presença de oxiuros.
15 - Bom Jesús – Nome de uma açucareira famosa dessa época.
Nota: Contributo para a história do Huambo- Angola por SEBASTIÃO COELHO
Subscrito por
O Soba T´Chingange
KIMBO LAGOA
ALVARÁ
27 de Julho de 2010
Aos vinte e sete dias do mês de Julho do ano da Graça de 2010, em Terras Ultramarinas do Reino de Manikongo, no lugar “sítio do Pescador” em Vale D´el Rei, reunidos os súbditos do Kimbo de Lagoa com a digna presença de seus Vanguardistas, Nobreza e Gente Rica, reconhecem e ractificam a tomada de posse da CONDESSA DO QUIPEIO vulgo TEREZA RODRIGUES, título a ser reconhecido em toda a Globália.
Sendo comprovado estar o seu código genético impregado de paludismo de fina estirpe, o Soba T´chingange faz a entrega do presente “ALVARÁ” assinado por todos os presentes.
Neste dia, a 501 anos da posse do 1º Rei cristianizado com o nome de N´zinga-a-N´kuwu pelo Rei D. João I do Puto, é lavrado este akto para que fique registado na Torre do Zombo do Kimbo, com os nomes e kognomes de todos os presentes:
Soba T´Chingange
Visconde do Mussulu
Conde do Grafanil
Sobeta da Maianga
M´Fumo da Manhanga
Marquês do Limpopo
Cipaio-Mor N´Dalatando
Embaixador do Cacuacu "Boniboni"
Embaixador do Dirico
Kimbanda Komando Ninja HN . (O guardião da Torre do Zombo)
O Homem Rico "Mano Rodrigues"
A Princesa da Ilha dos Amores
A PRAIA DO SOBA . LAGOA
Em substituição de rosas de porcelana foram ofertadas duas rosas do puto a fim de dar dignidade ao akto
O Soba T´chingange
AS ESCOLHAS DA CONDESSA DO QUIPEIO - (TZ)
A MULEMBA DA MALDIÇÃO DE SEBASTIÃO COELHO
“...quando a mulemba secar, o Huambo vai desapa-recer,destruido pelos seus próprios filhos. E as riquezas do solo não serão para ninguém...” – 2ª PARTE
DA MALDIÇÃO DE ALBANO CANTO DOS SANTOS, dos anos 20
Nova Lisboa foi o nome com que a rebatizou o coronel Vicente Ferreira, ao decidir que a capital de Angola devia situar-se nesse ponto estratégico do Planalto Central. A lei ou portaria com a transferência de nome e da capital surgiu no Boletim Oficial no dia 21 de Setembro de 1927. Desde aí, esta data tornou-se o dia da cidade que só foi capital no papel, mas sempre foi cidade, porque nasceu cidade, a 12 de Agosto de 1912, por decisão do Alto Comissário da República Portuguesa, general Norton de Matos.
Acabava de chegar ao lugar o que seria o grande impulsor do progresso da região, o Caminho de Ferro de Benguela. Para celebrar o acontecimento, o general deslocou-se ao Huambo a fim de anunciar, pessoalmente, “in loco”, a fundação da nova cidade. Ele mesmo, de pé, sobre a tarimba montada frente ao barracão pomposamente designado gare ferro-viária, leu o auto fundacional, na presença dos primeiros habitantes europeus da cidade, dois homens e uma mulher. Logo a seguir e ali mesmo, o Alto Comissário lhes entregou, em mão, o rascunho da planta da nova urbe, traçado pelo seu próprio punho.
Dados geográficos, orográficos e hidrográficos de notavel precisão documentavam o projecto. A cidade seria implantada a sul da ferrovia, alcandorada sobre a linha divisória de águas da região. Não registava nenhum povoado nesse lugar e apenas dava conta da existência de uma incipiente mina de diamantes.
A CATATUA DO T´CHINGANGE - PINTURA DO SOBA
As sanzalas importantes, pertencentes ao forte sobado do Huambo, estavam anotadas e dispersas pelos arredores. Havia a embala 4 do soba 5 grande da Kissala, a duas léguas a ocidente, a do sobeta 6 Sanjepele, três léguas ao norte e a do Sumi, a umas cinco léguas a sul.
As sanzalas do Kalumanda, Karilongue, Kanhé, Kakeléua, Sakaála, Mukolokolo, Bomba e outras por aí, apareceram depois e foram bairros periféricos com entidade própria e nenhum aspecto de musseque 7. Os deterioros e a expansão incontenivel, são posteriores a esse tempo de que vos falo, quando o Paulino leiteiro ainda ia de casa em casa para entregar as bilhas de leite fresco. A lenha e o carvão chegavam na carroça do Sô Domingo, avisando: -“Toc, toc, toc. Cravão, cravão. Toc, toc, toc. Cravão, cravão mé- sióra !”. O rio da Granja era rio de água cristalina, que regava as hortas do Figueiredo e dava nome à única via alternativa entre a alta e a baixa. O grande “boulevard”, de duzentos metros de largura, era tão amplo que a vista curta das autoridades não suportou o desafio e o reduziu a um quarto.
A cidade, desenhada em meia lua, contemplava, em cada ponta, um centro cívico. No meio, o enorme vazio de tudo, estava reservado a projecto futuro. Tudo era futuro na futura cidade de concepção Nortoniana, de particular generosidade nos espaços. Os bairros, distantes uns dos outros, levariam tempo a unir-se, até conformarem, algum dia, a grande e moderna urbe, sonhada. Por enquanto, era um punhado de bairros à espera de serem uma cidade, dominada por zonas verdes e praças enormes.
4 - Embala – Cubata. Casa ou lugar onde vive o soba, nas tribus africanas.
5 - Soba – Chefe. Cacique. Régulo de tribu africana.
6 - Sobeta – Chefe Gentílico. Soba pequeño.
7 - Musseque – Favela. Bairro marginal.
Nota: Contributo para a história do Huambo- Angola por SEBASTIÃO COELHO
Subscrito por
O Soba T´Chingange
AS ESCOLHAS DA CONDESSA DO QUIPEIO -(TR)
A MULEMBA DA MALDIÇÃO . SEBASTIÃO COELHO
“...quando a mulemba secar, o Huambo vai desapa
-recer,destruido pelos seus próprios filhos.
E, as riquezas do solo não serão para ninguém...”
DA MALDIÇÃO DE ALBANO CANTO DOS SANTOS, dos anos 20
Nasci noutro bairro, mas, durante certo tempo da minha adolescência, vivi ao lado do campo de futebol do Sporting do Huambo. A minha rua estava coberta de jacarandás. Quando floresciam, lançavam sobre o pavimento um manto de flores lilazes, que amanheciam orvalhadas e estalavam, fofas, debaixo dos pés. Gostava de ver os jacarandás vestidos de flor, quando perdiam todas as folhas e as pétalas chuviscavam sobre as nossas cabeças, abanadas pelo vento suave do entardecer. Depois, já murchas, aninhavam-se ao longo dos muros em extensos cordões, deixando lugar para as flores novas. Eram milhões de flores que caiam em cada dia, as árvores envaidecidas a mostrar, cada uma delas, a sua pujança de vida.
Do outro lado da rua e além do aterro por onde passa o combóio, seguro de si e do seu caminho, estava o roseiral, acompanhando a via, encaixado entre esta e os cedros da sebe. Ultrapassado o muro verde, estendia-se, interminavel, no sentido este-oeste, a avenida do Colete. Do colete, porque todas as casas estavam só de um lado. Incluindo a Igreja Catedral, que estava em construção. As árvores da avenida eram acácias, que também brincavam de primavera, mas não perdiam as folhas, que pareciam mais verdes quando os ramos de flores brancas, amarelas, vermelhas ou alaranjadas, espreitavam pelo meio, a encher o ambiente de cores e olores.
O festival das rosas desafiantes de orgulho e de perfume, acompanhava a avenida para um lado e para o outro. A caminho da alta, logo depois da passagem de nível, havia um pequeno bosque e a seguir, os olhos embrenhavam-se no mundo dos cosmos, espectacular mancha de cores amontoadas de flores garridas que nem paleta de Matisse. Sem perfume, mas de grande beleza.
A avenida 5 de Outubro, a tal do colete, nascia na baixa, na continuação da estrada da Pauling e São João 1 e terminava na alta, no cruzamento próximo das casas do Samacaca, onde se dividia em duas.
Quem tomasse pelo lado esquerdo, desfilando ao longo das casas do Samacaca 2, desembo-cava nos anéis concentricos do jardim da alta. Continuando para a direita, ali perto estava o edificio do velho Teatro Peairo, que o tempo transformou na “Fábrica de Moagem”, onde tinha início a avenida Ferreira Viana, ladeada de casuarinas. Mas abaixo desenrolava-se o projecto de avenida, sem nome e sem casas que terminava cruzando para o outro lado da linha do CFB, para transformar-se na estrada da Caála. Também era o caminho do Matadouro e o caminho do Cemitério. Foi aqui, entre o Matadouro e o Cemitério, que eu nasci, numa pequena chitaca 3 dos arredores da cidade. Era longe para irmos ao “Ambo”, como diziamos, embora nesse tempo já se chamasse Nova Lisboa. Durante anos fiz esse percurso de muitos quilómetros, a pé ou em bicicleta. A alternativa era usar a berma da linha do combóio, que estava proibida para bicicletas. Ou, então, a pé, por um carreiro de gentio, atravessar a sanzala do Karilongue e descer e subir as empinadas encostas do rio, que se cruzava a vau. Ir e voltar do “Ambo” era uma viagem longa e cansadora de três a quatro horas, segundo a pressa e as pernas de cada um.
O MORRO DO CUNHAMGÂMUA . HUAMBO
1 - Pauling (Póling) e São João – Primitivos Bairros da ciade do Huambo.
2 - Samacaca - Nome de soba famoso. Alcunha de um velho colono, proprietário da correnteza de casas,
construidas umas ao lado das outras, em forma de comboio e que caracterizava essa zona da cidade do
Huambo: as casas do Samacaca.
3 - Chitaca ou Xitaca – Pequena fazenda. Quintal grande.
Nota: Contributo para a história do Huambo- Angola por SEBASTIÃO COELHO
Subscrito por
O Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA