Quinta-feira, 8 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 136

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3547 – 08.02.2024

O 11 de Novembro de 1975 no Huambo” - “A LONGA MARCHA” 

- Escritos boligrafados da minha mochila, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita1.jpg Proclamação de Independência paralela – No Ambriz e Huambo, Holden Roberto, líder da FNLA, proclamava a Independência da República Popular Democrática de Angola (RPDA) à meia-noite do dia 11 de Novembro, no Ambriz. Nesse mesmo dia, a independência da RPDA foi também proclamada em Huambo, por Jonas Savimbi, líder da UNITA.

Reconhecimento internacional e consequências das 3 prolamações: Logo depois das três declaração da independência em Luanda, Ambriz e Huambo, reiniciou-se a Guerra Civil Angolana (que já estava em curso desde Fevereiro de 1975) entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e, sobretudo, a UNITA não se conformaram nem com a sua derrota militar nem com a sua exclusão do sistema político.

mocanda32.jpg Uma parte considerável da população rural, especialmente a do Planalto Central e de algumas regiões do leste, fugiu para as cidades ou para outras regiões, inclusive países vizinhos. Em Fevereiro de 1976, deparamos com o rápido avanço do MPLA com cubanos para a tomada do Lobito, Benguela e Huambo à UNITA a sul e, a norte o Soyo, a antigo Santo António do Zaire sob a alçada da FNLA.

A seguir, o Comité Político da UNITA abandona Huambo e inicia a retirada para Sudeste. Savimbi inicia, juntamente com duas mil pessoas, aquilo a que se veio a chamar a “Longa Marcha”. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, viria a atingir o Cuelei só a 28 de Agosto, milhares de quilómetros percorridos, apenas com 79 resistentes.

unita2.jpg Lendo Fred Bridgland, este, conta o que a seguir se trancreve com a devida vénia de algumas passagens do que foi  “A Longa Marcha de Jonas Savimbi...”. Tudo começa a 8 de Fevereiro de 1976. Aconteceu quando as colunas blindadas de cubanos entraram no Huambo, o quartel-general político da UNITA, durante os seis meses anteriores.

Com a ocupação do Huambo, a vitória fora, virtualmente, completa para os cubanos e o MPLA. No dia seguinte, Savimbi abandonou o seu quartel-general no Bié e voou em direcção ao Leste, para o Luso... Ao principio da tarde do dia 10 de Fevereiro, o capitão “Bock” Sapalalo ouviu os camiões cubanos e do MPLA que se aproximavam da última ponte a norte do Luso...

unitao1.jpeg Alcides Sakala

Savimbi dormia, pela primeira vez em 70 horas, quando as primeiras bombas explodiram no Luso, às 4 da tarde. Foi acordado do seu sono profundo por Chiwale. A população estava em pânico. Savimbi convocou rapidamente uma reunião para lhes dizer que a UNITA iria retirar e organizar uma nova guerra de guerrilha.

Meia hora depois de terem caído os primeiros morteiros, três aviões MIG bombardearam violentamente a cidade tendo morrido cerca de 50 pessoas. Imediatamente após o ataque aéreo, foi ordenada a evacuação do Luso. Cerca das 5 horas e 15 minutos da tarde, os primeiros veículos da UNITA abandonavam a cidade: na coluna de carros diversos e Land-Rover seguiam cerca de 1000 guerrilheiros que Chiwale conseguira reunir. Alguns milhares de civis, com os seus haveres, seguiam pelas bermas da estrada. O cortejo tomou o rumo sul, em direcção a Gago Coutinho, que distava dali cerca de 350 quilómetros.

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:48
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Sábado, 28 de Outubro de 2023
VIAGENS . 98

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3509 – 28.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - “Tropas cubanas para Angola, já!”-  Nossas vidas têm muitos kitukus…

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

an1.jpeg Luanda - empresas e, até algo inédito, saído de gente que era publicamente notória como Deodoro Troufa Real, o arquitecto das rotundas (ainda vivo) assumindo posições Ad Hoc na Câmara Municipal de Luanda, toma foros de  revolucionário proporcionando uma nova direcção de gestão no município; genéricamente, via-se por toda a Luanda muitas outras técnicas modenas de marketing com profissionais incitando ou anuindo-se à desobediência.

Usando modos nada comuns até então, expulsando homens de bem de forma irregular e, muitos edecéteras que sempre se relembram no tempo  entre arrepios em nosso cerebelo…  Só a 5 Junho de 1975, se  operou uma primeira definição legal do estatuto de retornado, para determinar quem podia obter o apoio do Estado Português. Em primeiro lugar, devia ser cidadão português, segundo os requisitos da nova lei de nacionalidade de Junho de 1975.

ÁFRICA13.jpgComo em outros países, Portugal, ainda na charneira de se ter tornado um estado póscolonial, teve de redefinir os contornos do acesso à sua nacionalidade no contexto pós imperial ou colonial. Para ser reconhecido como retornado, devia-se também ter residido numa ex-colónia portuguesa, estar numa situação de carência e, por fim, ter chegado à antiga metrópole depois do dia 1 de setembro de 1974 .

Esta primeira definição foi complementada por uma resolução do 21 de outubro de 1975 estipulando absurdos que não se concretizaram. O M´Puto, era uma bagunça de governo tendo um chefe militar de nome Otelo Saraiva de Carvalho que se deslocou propositadamente  a Cuba pedindo a Fidel de Castro a intervenção de militares dessa Ilha na ajuda ao MPLA. O estratego do 25 de Abril, na altura comandante do COPCON e governador militar de Lisboa empenhou-se na visita, cuja concretização, foi aprovada pelo  Conselho de Revolução.

mocanda36.jpg A  ajuda de Cuba  veio a acontecer  mesmo antes do 11 de Novembro, por uma via revolucionária a que chamaram de PREC – Processo de Revolução em Curso que felizmente teve seu fim no 25 de Novembro de 75!  Otelo Saraiva de Carvalho regressou de Cuba, mais entusiasmado com o sonho do Poder Popular. Otelo não escondia que Fidel Castro e Che Guevara eram dois dos seus ídolos, confessando que admirava muito a experiência da revolução cubana. A postura da Nação através do CR-Conselho de Revolução não o foi por isso, inocente.  

Tendo apenas Raul Castro como testemunha, Fidel e Otelo dicidiram no sentido de Cuba enviar soldados em força para Angola, para mediar o conflito entre MPLA, UNITA e FNLA (uma falácia genuina, pois que só o MPLA veio a ser favorecido). Otelo aconselhou a Fidel preparar as tropas. No regresso a Lisboa, contou a conversa ao Presidente da República, o Marechal Costa Gomes (o rolha) pedindo-lhe que desse uma resposta urgente àquele líder cubano.

guerra9.jpg A resposta foi afirmativa na premissa de urgente. E, a hipocrisia deu nisto: Que se saiba, a resposta portuguesa nunca chegou a Havana. Costa Gomes afirmou que não se lembrava de nada. A revista VISÂO revelava em primeira mão os pormenores de uma conversa que se manteve secreta durante 20 anos: aquela em que o dirigente cubano anunciou a Otelo Saraiva de Carvalho, em Julho de 1975, o envio de tropas para Angola.

Segundo Luís Marinho da Revista VISÃO, a 19 de Outubro de 1975, um ou dois dias depois da Festa Nacional de Cuba (já não se recorda com exactidão do dia), Otelo foi convidado para um almoço privado com Fidel Castro e seu irmão, Raul. Num restaurante perto da estância turística de Varadero, chamado Los Canaviales, os três homens tiveram uma conversa que se manteria secreta. O assunto era Angola. A menos de cinco meses da data prevista para a independência da ex-colónia portuguesa, ganhava força o conflito militar entre MPLA, FNLA e UNITA, sem que Portugal conseguisse um mínimo de controlo. Otelo revela esse episódio, que influenciou no rumo do conflito angolano.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:56
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Domingo, 22 de Outubro de 2023
VIAGENS . 96

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3507 – 22.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

araujo85.jpg Em Luanda e no ano de 1975, uns nove meses antes do 11 de Novembro, as leis e ordens saiam já apodrecidas do Comando Militar; passeavam  mortos pelas ruas como contestação ao ritmo de salto zulu, as fábricas iam fechando, os taxistas eram mortos de forma barbara; o ambiente era de se cortar à faca-catana escaldante na insegurança generalizada no presente do indicativo, tornando o gerúndio numa incerta loucura de futuro imprevisível

Naqueles dias, o amanhã transtornava a sociedade numa ginasticada ideia de sem se saber como iria ser - a fuga. Os locais mais concorridos eram o Aeroporto de Belas e o Porto de Luanda. Destino: Um qualquer sitio - seja aonde for! Naquele tempo surgiram do nada, muitos rambos com fitas de cunhetes a tiracolo passeando desaforo e medo na companhia daqueles, alguns magalas esqueroidos, oficiais alferes, praças das NT e, salvo-seja "nossos irmãos" que diziam com frequência: Vocês colonos, vão-se foder!

RETORNAR13.jpgE, foi… Aconteceu! A cidade suja, pegajosa e desnorteada, cheirava a cansaço, a suor, a medo e coisas mortas esfrangalhadas pelos cães vadios. Naqueles dias de catinga ouvia-se noite fora os martelos encerrando vidas, encafifando pertences e recordações. Também se ouviam rajadas lá para cima, mais ao lado e na outra banda das barrocas do Miramar. Da ilha de Luanda podia ouvir-se rebentamentos, colunas de fumos lá num suposto lugar do Sambizanga ou Bairro Operário…

Também do Bungo, do Caputo, do Cazenga, da Terra Nova. Não! Não havia naquela terra de N´Gola, mais lugar para os Tugas e assimilados a estes! Não venham agora com tretas e esquecimentos! Se antes era perigoso ser preto, agora era muito perigoso ser-se branco… Não! O passado vale pelos seus actos, pelas atitudes! Não me vou agora enganar no posfácio da vida, dispor-me a calar, engolir inverdades à força.

poluição.jpg Bom! Eis que surgiu então um filho da puta com o nome de Rosa Coutinho que de raiva vermelha fez o que quis! Ele e seus pares do MFA pintaram e bordaram, gozaram à tripa forra com Spínola, fizeram dele um chinelo, um merdas muito cheio de prosápia armado em rambo, oficial de pingalim, monóculo e luvas reluzentes com um chapéu de banga, assim enfeitado de pedante de carnaval com um símbolo doirado.  Um Mobutu Sese Seko do M´Puto…

O Consul americano em Luanda por via de desacatos, tiros e rixas, um pouco por todo o lado da Luua disse nesse então: “…os acontecimentos ilustram bem como não gerir uma crise”. Pois então! “As autoridades militares, inacreditavelmente foram simplesmente inaptas para lidar com a situação”. Pois claro! A merda foi calculada, premeditada e facilitada!

retornar1.jpg Como podíamos nós encarar esta situação e dar rumo a falsidades… Como ficávamos nós acantonados sem resguardo no Prenda, no Kazenga, no Palanca, na Calemba, na Cuca, na Maianga, no bairro Mota ou no bairro Popular, como? E querem que me cale! Nem morto… já em fins de 1974, inícios de 1975, os desacatos sociais na forma de guerrilha, aproveitavam o baixar de braços e armas das forças armadas portuguesas. As Forças Irregulares dos movimentos tendo o MPLA à proa do terror, situadas na Luua capital, e um pouco por toda a Angola, alastraram até às cidades e vilas como N´Dalatando (Salazar), Huambo (Nova Lisboa), Lobito, Benguela e Lubango (Sá da Bandeira).

retornar12.jpg Os acontecimentos procediam ao mais leve desaire, ao mínimo pretexto e na maior parte das vezes porque se pretendia que assim o fosse. Negativamente e de forma exponencial o MPLA e a FNLA aliciavam as populações a fazer alastrar a subversão a todos os centros urbanos fazendo correr boatos complicando a vida de normalidade. Havia boatos, muxoxos e muitos corpos na morgue trazidos das cidades e fazendas do Norte. Eu T´Chingas, convivi com isto pois morava bem perto da Morgue do Hospital Maria Pia bem ao lado da Maianga…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:50
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Quarta-feira, 18 de Outubro de 2023
VIAGENS . 94

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3505 – 18.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

paulo0.jpg PERFIL ETNO-HISTÓRICO DO POVO ANGOLANO - II*

(…)- Foram Estados fortes pela alma do seu povo, que sempre acreditou ser povo da terra dos destemidos, dos guerreiros. Ao lado das narrações, lendas e adágios, a canção testifica o passado: Kapalandanda wa lila; wa lilila ofeko yahe yilo ofeka yoku  loya, ka loyele a tunde ko!... - Kapalandanda chorou, chorou pela sua terra... Esta  é terra de combate, quem não luta, saía! O que fica consubstancia a mensagem secular do grito da liberdade "TERRA E LUTA ARMADA".

LUNDA-CHOKWE: Ocupa as província da Lunda, parte do Moxico e está também dissiminado nas províncias do Cuando-Cubango, Huíla e leste do Bié e compreende os Lunda-Lua Chimbe, Lunda-Demba e Chokwe. A tradição conta que os Chokwe, negando ser tributários do Rei Lunda, expandiram-se numa vasta região do Moxico, Bié, Cuando-Cubando e Huíla. Antes da sua expanção, os Chokwe permaneceram estreitamente ligados ao Império Lunda, até que fundaram vários Estados. São comerciantes, caçadores e apicultores, o que faz da área dos Lunda-chokwe um centro comercial importante com os povos do planalto central até aos princípios deste século.

miss01.jpg NGANGUELA: Povoando as províncias do Cuando-Cubango, moxico e parte do Cunene e Huíla, o grupo étnico-linguístico Nganguela compreende os Luimbi, Luchaze, Bunda, Luvale, Mbuela, Kangala, Massi e Yavuma. Os Nganguela destacam-se como pescadores (os Luvale são exímios pescadores que não se deizam influenciar pela época do ano) e notáveis apicultores. Vivendo longe da costa do Atlântico  e num habitat disperso, os Nganguela só foram dominados pelos portugueses a partir dos anos de 1920, dominação esta que sofreu resistência dos Bunda, chefiados pelo seu dirigente Muene Bandu, assim como dos Nhemba, com  o Rei Chilhauku. Divididos em sub-grupos, não tiveram autoridade centralizada; contudo formaram importantes Reinos, dentre os quais se destacaram os Reinos do Kubango, de Massaka, ou da Raínha Lussinga, de Senge e dos Luvale, sob a prestigiosa dinastia Nhakatolo.

miss02.jpg NHANEKA-HUMBI: Vizinhos dos Ovimbundu e dos Ovambo os Nhaneka-Humbi espalharam-se por Províncias da Huíla e do Cunene e  compreendem entre outros, os Muíla, Humbi e Gambo. Dedicando-se à pastorícia e praticando uma fraca agricultura, de vida semi-nomada, tiveram reinos fortes que resistiram ao colonialismo.

OVAMBO: Ocupando a Província de Cunene, entre o paralelo 16ª e a fronteira com a Namíbia, é constituído por Kuanhamas, Kuamatuis, Evales e Kafimas. Praticando uma agricultura de subsistência, tem a sua base económica na criação de gado que, por factores climáticos e baixo nível de desenvolvimento, não se libertou da vida semi-nómada. Sente-se ainda o calor de Mandume, que conseguiu unir o povo e fazer resistência forte aos Portugueses até Stembro de 1917. A sua capital foi Onjiva, cujo nome foi novamente retomado em substituição de Pereira d`Eça, nome que fora dado pelos Portugueses.

araujo95.jpg HERERO: O Herero é também um dos grupos populacionais do nosso País que se  espalha na Província de Moçamedes, Sul de Benguela e Oeste de Huíla. Tal como seus vizinhos Nhaneca- Humbi e Ovambo, dedica-se à criação de gado. Cada um vê no gado graúdo o seu capital e nas crias o seu lucro final.

KUANGAR-BUKUSSO: O grupo linguístico Kuangar-Bukusso ocupa toda a faixa Sul da Província  do Cuando-Cubango. Agricultores pacientes devido à acção cíclica da estiagem, têm a sua economia na criação de gado. Também praticam a pesca nos rios Cubango e Cuando.

selos3.jpg OS VASSAQUELE: Os Vassequele constituem um grupo numericamente muito reduzido, que se encontra na Província do Cunene e no sul do Cuando-Cubango. Caçadores infatigáveis, têm sido nómadas ao longo dos tempos. Porém com a influência dos povos Bantu, quase todos adoptaram a vida sedentária, fazendo pequenas lavras, sem terem deixado a caça e a procura de fruta e mel. Os Vassaquele possuem uma linguagem especial, caracterizada por "clics" ou estalidos. Foram os autores das maravilhosas pinturas que se encontram nos rochedos, em muitas grutas do Sul de Angola, como na gruta do Chitundo-Hulo no deserto de Moçâmedes.

bordallo.jpgbordalo3.jpg Nota*: A étnia branca ariana que não faz parte deste rascunho etno,  surge com o inicio da colonização com Diogo Cão no ano de 1480, espahando-se por todo o territário da actual Angola. Legou internacionalmente ao país o ideoma português como oficial, tendo sido o aglutinador dos demais povos que usavam e, que ainda usam outros dialectos no contexto de relação regional. Esta étnia (os t´chinderes, xi-colonos – 500 mil), em numero elevado, viu-se obrigada a abandonar o país por via de uma chamada de DESCOLONIZAÇÃO dirigida por Portugal e, após as guerras  de Tundamunjila (Vai embora) e Civil, entre o MPLA e UNITA…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:40
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Quarta-feira, 16 de Agosto de 2023
VIAGENS . 56
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3466 – 16.08.2023
- Boligrafando estórias em NAMUTONI do Etoscha
–Ondundozonanandana - Foi no ano de 1999
Por:Namotoni01.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Namotoni03.jpg Não posso deixar de descrever sucintamente o forte Namutoni pois que faz parte do Park Etoscha, lugar aonde se bivacaram as tropas da Alemanha durante a segunda guerra mundial e que também teve uma forte acção durante as batalhas do sul de Angola quando da consolidação da fronteira com a Namíbia, do tempo em que para ali foram enviados muitos expedicionários portugueses. Teremos de recordar ao de leve esses tempos do início do século XIX, do que foi a batalha de Naulila e a leva de militares nesse então - Alguns, foram considerados, sim! Outros morreram desclassificados até ao tutano que virou cinza…

O Combate de Naulila, ou Desastre de Naulila, é a designação dada na historiografia portuguesa à batalha travada a 18 de Dezembro de 1914 em Naulila, sul de Angola, entre forças portuguesas e alemãs, inserido na Campanha alemã em Angola, da Primeira Guerra Mundial. O combate terminou com a derrota dos militares portugueses, com cerca de 70 mortos da parte portuguesa, entre oficiais e praças. As forças portuguesas foram então obrigadas a abandonar temporariamente o Cuamato e Humbe, territórios na fronteira entre a então colónia portuguesa de Angola e a colónia alemã do Sudoeste Africano.

Namotoni04.jpg Em consequência da perda de prestígio das forças portuguesas as populações de Huíla revoltaram-se contra a ocupação portuguesa. A crise instalada resolver-se-ia com o envio de uma força expedicionária por Portugal sob o comando do general Pereira d'Eça. A Grande Guerra, originou um conjunto de conflitos com raízes na corrida à ocupação da África que se seguiu à Conferência de Berlim de 1884-1885. Por via da entrada de novas potências coloniais em África, a obrigação de ocupação efectiva do território, colónia de Angola, levou às campanhas de pacificação, as quais se prolongaram por décadas.

Portugal assistiu com grande desconfiança e desagrado à ocupação de enormes extensões de território por outras potências dando origem ao conflito com o Império Britânico, que desembocou na ultimato britânico de 1890 em torno do Mapa Cor-de-Rosa, as Guerras Bóhers com o consequente avanço para norte dos bóhers sul-africanos e, por se tratar do surgimento de uma potência sem tradições coloniais em África, criando as colónias alemãs adjacentes – leia-se Namíbia.

Namotoni1.jpg A colónia do Sudoeste Africano Alemão a sul de Angola que impôs novas fronteiras, limitando as pretensões portuguesas naquelas regiões interferiu na missionação portuguesa com o aparecimento de missões protestantes suportadas por organizações alemãs. As razões para a desconfiança mútua que se sentia eram sérias: em causa estavam as fronteiras entre as colónias de Angola e do Sudoeste Africano Alemão (Damaralãndia). Um consenso alargado na classe política portuguesa sobre a necessidade de defender as colónias africanas, traduziu-se no envio, em Setembro de 1914, de forças expedicionárias para Angola.

Para Angola partiu um contingente de 1600 homens, comandado pelo tenente-coronel José Augusto Alves Roçadas, um militar africanista que entre 1904 e 1907 se distinguira no sul de Angola na campanha do Cuamato, uma longa e difícil campanha de pacificação contra os povos cuanhamas. Conhecedor daquele território, em 1914, regressou com a missão de guarnecer a região de fronteira com a colónia alemã da Damaralãndia, incumbido de evitar levantamentos indígenas e de proteger a fronteira.

naulila1.jpg As forças comandadas por Alves Roçadas desembarcaram em Moçâmedes a 27 de Setembro e a 1 de Outubro daquele ano. Em Novembro de 1914, já após os incidentes de Naulila e Cuangar, foram enviados mais 2800 homens para Angola e em Dezembro outros 4300 militares. Nos anos seguintes, o efectivo continuou a ser reforçado. Dos eventos anteriores que levaram ao confronto de Naulila iniciou-se a 18 de Outubro de 1914, quando um pelotão comandado pelo alferes Manuel Álvares Sereno, em patrulha junto à fronteira com a Damaralândia, um território integrado no Sudoeste Africano Alemão, encontrou a uma dúzia de quilómetros do posto de Naulila uma pequena força alemã, capitaneada pelo Dr. Hans Schultze-Jena, juiz e administrador do distrito de Outjo, que tinha entrado em Angola sem prévio aviso às autoridades portuguesas.

naulila3.jpgDe incidente em incidente, a indignação na colónia era enorme e os apelos à vingança sucederam-se. E, deu-se assim o ataque a Cuangar a 31 de Outubro de 1914. A primeira retaliação alemã surgiu logo a 31 de Outubro, quando uma força alemão, sob o comando do comissário de polícia Oswald Ostermann, do posto de polícia de Nkurenkuru, atacou Forte de Cuangar, um posto fronteiriço a leste de Naulila, destruindo o forte e matando, com recurso a metralhadoras, todo o pessoal que ali se encontrava e que não conseguiu fugir para o mato. Este incidente, que ficou conhecido como o "Massacre de Cuangar", marca o desencadear das hostilidades entre as forças portuguesas e alemãs ao longo da fronteira com a Damaralãndia, actual Ovambolândia e, tendo o forte de Namutoni como um lugar bivaque de base à retaguarda… Lugar que, por isso, requer um avivar da história Lusa-Tuga…

(Continua…)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:03
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Quinta-feira, 17 de Setembro de 2020
KALUNGA . IX

MOKANDAS XINGUILADAS NO TEMPO. Crónica 3060

Moçâmedes / Baía dos Tigres /Angola - OS “NOSSOS” CÃES SELVAGENS – 14.09.2020

- Xinguilar: Palavra angolana que significa entrar em transe em um ritual espiritual… 

Por:

tigres1 Teresa Sá Carneiro.jpg Teresa Sá Carneiro

kimbo 0.jpg As escolhas do Kimbo

tigre01.jpg Tive uma infância feliz e muitos cães à minha volta como não poderia deixar de ser. Desde muito pequenos, eu e meus irmãos, vivemos entre eles. O nosso 1º, o querido Lumumba, um “vira-latas” rafeiro, amoroso que chegou a nossa casa no colo do meu pai (lembro como se fosse hoje) foi o nosso companheiro fiel até à adolescência. Acredito ter sido algum presente de um cliente pobre pois, era assim que meu pai, advogado, recebia o pagamento por trabalhos que fazia. Davam-lhe presentes lindos, sem qualquer sombra de dúvida. Ao chegar a casa e ao pousá-lo no chão da varanda, imediatamente, o Lumumba escondeu-se atrás de um vaso de flores. Tenho esta imagem gravada na memória tal como a do último dia que o vimos com vida, também em nossa casa, muitos anos depois. Algum tempo depois tivemos o Bobi, lindo, grande, de pelo grosso cor castanho-caramelo, que chegou a nossa casa acompanhando um amigo nosso de infância e, nunca mais quis ir embora.

tigres2.jpg Dócil e igualmente amoroso, ao contrário do que se dizia sobre o temperamento da sua raça, ele era um cão da Baía dos Tigres, região de cães selvagens. Por este motivo questionava-se se seria uma raça boa para conviver com crianças pequenas mas, a verdade é que ele foi o nosso fiel companheiro, e tal como o Lumumba, o grande amigo daqueles tempos de infância. A Baía dos Tigres era uma península isolada no Distrito de Moçâmedes, que depois se transformou em ilha nos idos anos de 1940, sem nada produzir nem plantar nas suas areias secas. Não havia água em nenhum lugar. Uma história ligava estes cães de raça " Cão Tigre" à minha cidade de Moçâmedes, outrora um dos maiores centros de pesca de Angola e, depois abandonada - vila fantasma. A pequena vila foi fundada por pescadores do Algarve, por volta de 1860, mas séculos antes já tinha entrado nos mapas de portugueses e ingleses pela invulgar quantidade e qualidade de peixe, que lhe valeu a alcunha de "Great Fish Bay".

tigre5.jpg Conta-se que no inicio do século XX teria acontecido um surto de raiva em Moçâmedes, e que o governador da época teria dado ordem para se executar todos os cães da cidade. Muitos donos rebelaram-se contra aquela situação e não querendo perder seus animais de estimação, resolveram metê-los num navio na calada da noite e levá-los para um local longínquo onde não pudessem ser encontrados. Assim, rumaram até à Baía dos Tigres que consideraram ser o melhor lugar para deixá-los. Ali já existia uma raça selvagem de cães deixados pelos Holandeses, os Bóhers, quando da ocupação da África do Sul e com a chegada dos cães da minha cidade resultou no cruzamento que levou à raça “Tigres”. Imperava a lei da selva onde só os mais fortes sobreviveriam; tornaram-se uma raça diferente. Eram ferozes, naturalmente selvagens. Adaptaram-se ao meio e, sobreviviam.

tigre02.jpg Pelo hábito de nadar para encontrar alimento, tornaram-se excelentes nadadores. Eles bebiam água do cacimbo enquanto as gotículas não se misturavam com a água salgada. Era na crista das ondas do mar que encontravam essas gotículas adocicadas para matarem sua sede. E, assim esta raça, sobreviveu adaptando-se às condições agrestes daquele deserto, um canto das terras do fim do mundo. Viviam em matilhas, completamente isolados, alimentando-se de peixes e focas que vinham na Corrente Fria de Benguela desde a Costa dos Esqueletos - Cape Cross, aparentemente sem precisar de água para viver - ouvia meu pai dizer isso desde muito pequena, sobre aqueles cães.

tigre9.jpg Mas tudo não passava de uma cisma, acreditava eu! Viviam em nossas casas como qualquer outra raça, e não eram poucos, pela cidade. Realmente cães grandes (impunham um certo respeito) mas,  os domesticado, não faziam mal a ninguém.  Devo ao Bobi uma aventura da minha pré-adolescência; a minha guarda até altas horas de uma noite após ter chegado a casa depois de uma festa de aniversário de uma amiga. Meus pais tinham saído, meus irmãos já dormiam, e uma familiar que estava em casa com responsabilidade de me abrir a porta adormeceu; claro que fiquei do lado de fora. Sentei-me no chão da varanda sem saber o que fazer e já quase dormitando em cima da pedra, sinto o Bobi puxar-me pela roupa e, lá fui eu com ele. Levou-me até ao outro carro do meu pai que estava no fundo do quintal guardado na garagem da casa. Entrei, tonta de sono, deitei-me no banco de trás; ele sentou-se do lado de fora, de plantão. Sei que a porta do carro estava fechada mas não me lembro de ter sido eu a fazê-lo. Foi assim que meus pais me encontraram, já alta madrugada, mas só após terem ido àquela hora até casa da minha amiga aniversariante para saberem onde eu estava. Foi uma noite tensa! Este foi o Bobi o “feroz” cão Tigre que nos acompanhou por tantos, e tão felizes anos da nossas vidas.

tigre0.jpg Adenda 1 - Teresa Sá: Numa explicação mais detalhada acrescento o seguinte: de menor densidade, as gotículas de água doce ou seja, o orvalho da noite (o nosso cacimbo) depositadas em noites sem vento na crista das ondas, permaneciam por algum tempo sem se misturar com a água do mar. Era assim, logo pela manhã, bem cedo que os cães se jogavam ao mar para matarem a sede. Eram um relógio da natureza bem intrincado! Acredito que, em noites de vento esse orvalho não se depositasse e, eles quebrassem esse ritual lambendo as pedras roliças impregnadas desse cacimbo. É realmente muito interessante e estimulante pensar-se em tudo isto.

luderitz14.jpgAdenda 2 - José Augusto D. Ferreira: Conhecia a história dos cães "Baía-dos-Tigres". Eram, remotamente, descendentes dos "Cães d`Água" algarvios, levados de Portugal pelos pescadores que os utilizavam como auxiliares na pesca. À mistura com cães domésticos ou de estimação, foram levados clandestinamente para a Baía dos Tigres com a intenção de os resgatar mais tarde, por fazerem falta no trabalho. Pelo isolamento, cruzamentos sucessivos, e auto-selecção pela lei do mais forte, adquiriram características uniformizadas. Nos anos 50, o veterinário Dr. Abel Pratas, após a escolha e captura de vários exemplares selvagens, obteve o apuramento e a estabilização de uma nova raça de cães que, mantendo a designação "Baía-dos-Tigres", foi registada oficialmente. Tive a oportunidade de ver alguns deles em Luanda, numa das exposições realizadas para a divulgação da raça. Castanhos ou negros, pela pelagem e morfologia faziam lembrar os "Cães-de-Água", mas eram maiores. Julgo que a raça já não existe por vários motivos, entre eles a descolonização. É possível que os cães dos Bóers fossem da raça "Leão da Rodésia" (Ridgeback). Ver no Google em "Cães da raça Baía dos Tigres", na página "Gente do meu Tempo (Baú de Recordações)". O texto é longo mas interessante.

luandino2.jpg Adenda 3 - Anónimo: O nome de baía dos tigres deve-se ao facto de, por efeito dos ventos formarem-se nas dunas junto à praia listas a toda a altura das mesmas c/ alto e baixo-relevo, umas com a cor castanha da areia outras mais escuras, o que visto do mar lembrava a pele de um tigre.

A baía dos tigres tinha nos anos 60, administração e junta de freguesia, posto da guarda-fiscal, correios, hospital, delegação marítima escola primária, igreja de S. Martinho dos Tigres, um clube desportivo e recreativo, uma carreira aérea bissemanal. Inicialmente a vila era abastecida de água por navios da companhia portuguesa "Sociedade Geral" posteriormente com a conclusão das obras de captação na foz do rio Cunene, acabou o racionamento da água.

Foi uma festa a sua inauguração. Inúmeros habitantes dedicaram-se logo ao cultivo de pequenas hortas, plantio de árvores casuarinas. Tudo morreu, tudo foi abandonado com todas as incertezas antes e pós independência do país.

Foi pena pois muita gente, ainda hoje tem saudades daquela terra inóspita, difícil, que foi habitada por homens e mulheres, Madeirenses de coragem que ali investiram toda uma vida de trabalho e onde ficaram sepultados os seus antepassados.

Teresa Sá Carneiro - 14-9-2020



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:21
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Quarta-feira, 21 de Fevereiro de 2018
FRATERNIDADES . CXIX

METÁFORAS DA VIDA – 21.02.2018

- FOTOS AMARELECIDASSe, em um aleatório lugar vires um oprimido, não te surpreendas - Tem outro mais alto que o vigia… Estória dedicada ao poeta Eduardo Torres da Chibia, na Kizomba…

Por

soba0.jpegT´Chingange

Em um antigo dia fui passear com Edu a Ondjiva (Pereira Déça), uma fazenda de seu pai aonde vendiam carne de alongue e vendiam peixe frito ao pessoal da lavra e amanho das nemas; isto é do que me recordo. Íamos em um carro com a última tecnologia de ponta, meio madeira, meio lata grossa e pneus maciços, borracha do Amazonas com o nome de Nash que pegava no arranque com manivela. Mochilas no carro, acomodados, partimos ao som duma betoneira botando fumarolas às prestações.

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Tudo seria como o planeado e prometia até ser inesquecível; disfrutando da paisagem com uma nuvem de pó e gazes para assustar mosquitos das lonjuras, nós gozávamos das terras do fim-do-mundo; vistas secas das anharas via Rundu, início da Damaralãndia do Calahári. A luz que indica o super aquecimento do motor acendeu no painel frontal de nogueira encerada. Aquele vehículo estórico, propriedade de se pai, dizia-nos daquele jeito que algo estava errado. Estávamos uns bons quilómetros além Chibia.

nash6.jpg Mesmo entendendo pouco de mecânica, sabíamos que a luz do aquecimento aceso era sinal de algo errado e lá tivemos de encostar junto a uma n´nhiwa para sabermos a gravidade do sucedido. Decidimos abrir o capot e, assim ficamos a olhar o motor como um boi olha para um palácio; seria do radiador? Talvez! Seria da correia de distribuição? Talvez! Seria da biela? Seria da tíbia? Talvez? Talvez!

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No meio de tanto talvez, nosso monangamba Nepomuceno sugeriu assim: - Minino patrão Edu, melhor mesmo é fazer oração no nosso N´Zambi. Os minino, num sabe mesmo coisa nenhuma, eu acho melhor no então, catravêz … Catravêz o caraças disse Edu para o seu mona chateado da silva mas e, reconsiderando, pediu que cada qualmente rezasse no seu Santo ou Santa.

Torres0.jpg Bem! Eu rezei para Nossa Senhora da Muxima. Ele mesmo, Edu rezou para a Nossa Senhora de Fátima e Nepomuceno rezou ao seu rei N´Zambi. Ia na metade da minha inventada oração a Muxima quando num repentemente Nepomuceno descomplica nossos muxoxos de reza dizendo: -Olha só Patrãozinho…Vem lá uma carrinha Dodge! Assim era! No centro duma poeira medonha lá vinha um vehículo de tração a motor soprando pó prámata.

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Um homem moreno, alto e calvo com pronúncia de carcamano gweta parou atrás e acto repentino perguntou se necessitávamos de ajuda! As meias palavras de Edu foram suficientes para ele deduzir qual era a avaria. Sem muitos rodeios começou a espreitar o motor, ver tubos e, com cuidado foi folgando o tampão do radiador. Saiu dali uma fumaça quente do caraças.

nash4.jpg Deitou-se bem por debaixo do motor e apalpando o fundo do radiador disse: -Está qui! Não ficamos a saber bem o que quereria dizer e retirando da boca uma bola de chicle xwingame pressionou o negócio naquele que era o busílis da causa. Já de pé voltou a olhar umas borrachas, foi buscar à Dodge uns arames e com um alicate universal deu uns apertos no arame.

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Com um jerrican encheu nosso radiador (melhor dizendo do vehículo Nash) de água tapando o recipiente e ao concluir disse simplesmente: -Já está! Sem dizer mais nada tirou do bolso um cartão e, deu-o a Edu! Ele leu e, guardou! Claro que eu fiquei intrigado! O senhor carcamano disse goodbaye e, meteu-se a caminho logo após ter posto o Nash a trabalhar! Pareceu ser agora menos betoneira do que lá atrás.

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Já o Dodge ia longe quando pedi a Edu que me mostrasse o cartão que ele lhe dera! E, pude ler com surpresa “Mecânico assistente de Nossa Senhora de Fátima”. Podem acreditar, fiquei num deslumbramento de boca aberta! Afinal a oração do Edu resultou mesmo. Sem aceitar um centavo sequer, chegou, meteu o chicle no lugar, fez o que tinha de fazer e bazou! Foi-se!

chibia.jpg E, olhem que por ali havia leões, solitários e hienas esfomeadas; os terroristas mesmo, só chegaram ali depois de 1975, feitos outros ET´s cavalgando cavalos de ferro marca M´Puto com bazucas e granadas Braço de Prata. Agora e à distância do estórico vehícuo Nash pergunto-me se aquele mecânico era mesmo gente, um santo, uma kianda, assombração ou o meu amigo ET da galáxia EC-325… E, porquê as rezas não tiveram resultado neste mais recente tempo com guerrilheiros emancipalistas da terra. O que não faz a fé!?…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:36
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Domingo, 15 de Novembro de 2015
MISSOSSO . XVIII

ANGOLA . MATRINDINDI - O RUDOLFO VALENTINO DO KALUMBIRI - Para matar saudade… 1ª de 2 Partes

Por

DY0.jpgDy - Dionísio de Sousa  (Reis Vissapa) - O autor de Ninguém é Santo e de África, é uma bênção e um veneno (frase)…

matrindindi.jpg O Sábado chegou soalheiro ao planalto da Huíla secando as gotículas de orvalho remanescentes da madrugada, nas folhas dos mutiátes. Com ele chegou também a febre da rebita no Kalumbiri ao cair da noite. Era habitual deslocar-me às várias rebitas da periferia do Lubango, tais como o Copacabana, Junior 54 e o não menos famoso Salão Grenat, podia dizer-se que eu era um frequentador assíduo destes locais onde se podia dar ao pé sem preconceitos com a lavadeira ou a criada lá de e encontrar amigos de todas as raças e credos. Rudolfo Epalanga tivera uma curta passagem pela casa da minha avó supostamente aos doze anos pois não havia documento que o comprovasse. E foi curta pois um dia foi buscar o terno para o almoço à casa da Dona Jacinta e de regresso perdeu-se em “Vírgulas” e “ Dribles” num terreiro próximo, e a minha avó não foi de modas e mandou-o para o olho da rua.

matri1.jpg Tal atitude demasiado conservadora não afectou a nossa amizade e continuámos amigos tal o nome “Epalanga” significa. Claro para mim nunca se chamou Rudolfo mas sim Matrindindi. Em verdade vos digo que esta alcunha tinha muita razão de ser pois o Rudolfo era escorreito como um bicho pau e tinha uns braços e pernas bastante longos que terminavam respectivamente nuns pés e numas mãos de dedos impressionantemente compridos. Rapaz de recursos vários teve vários empregos ao longo da sua adolescência e maior idade. Passou pela administração de concelho como aspirante a cipaio, passagem efêmera aliás pois no dia em que o chefe de posto o mandou dar umas palmatoadas a um congênere, negou-se a fazê-lo e foi para a indigência num ápice.

matri3.jpg Durante uns tempos foi continuo na maternidade algo que o inspirou a trabalhar num posto clínico do interior até ao dia em que o Dr. Barbosa o apanhou à sua secretária a aviar receitas com toda a tranquilidade. Ainda foi padeiro e ajudante na camioneta da carreira para Benguela. Em boa verdade podia dizer-se que era um “Self-made man”.  Encontrei-o por volta das seis da tarde desse Sábado já com os seus vinte e dois anos consumidos e lá vinha ele todo aperaltado o que levava a minha avó a dizer: - Esse Rudolfo é um grande “Portuguesão” – Mas avó o Matrindindi é bom rapaz e se gosta de se vestir bem qual é o grilo. – Atenuava eu. – Um bom grilo dou-te eu pelas orelhas, é mas é um vadio sem vergonha como tu. Pirava-me a grande velocidade por que nesta matéria a minha avó era intransigente.

matri2.jpg - Então, Matrindindi vejo que hoje é dia de rebita, vens todo bem posto. – Sabes como é Joca eu gosto muito de dançar, principalmente tango e valsa. - Respondeu-me com um sorriso. As calças cinzentas de cotim assentavam-lhe que nem uma luva e os sapatos “Keds” brilhavam de brancos ao lusco-fusco, besuntados com um produto que era vendido na sapataria do Sequeira. De tantas pintadelas a lona já virara couro e acho que num dos sapatos havia um buraquito matreiro na sola, pois ao apagar a beata que atirei para o chão deu um salto inesperado.

sol4.jpeg Que se desenganem aqueles que pensam que nesses tempos a música da rebita era merengue. Havia muita pouca música africana que acabou só por surgir mais tarde com o duo “Ouro Negro” e o “África Ritmos”. Era frequente o baião do Luís Gonzaga” ou do “Sivuca” e muito Roberto Carlos dos primórdios e o Albertinho Fortuna punha o Matrindindi a dançar tango como ninguém. Parecia uma pena de capota a esvoaçar ao vento tal a leveza como conduzia a dama. Um primor na valsa e posso testemunhar que nas marchas e no baião era imbatível. Eu, pé de chumbo inveterado, ficava siderado com a sua arte. Para mim ele era o Rudolfo Valentino em pessoa.

(Continua...)

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:27
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Sábado, 31 de Outubro de 2015
MUJIMBO . CVI

ANGOLA A crise financeira  em Angola está a agravar os problemas da fome e da seca, sobretudo, na parte sul do país.

soba0.jpegAs escolhas de T´Chingange

Fonte: VOA - Voz da América

 A situação é especialmente grave na zona dos Gambos na província da Huíla

quipá2.jpg O economista Alves da Rocha refere que o país vive um desequilíbrio das receitas para o Orçamento Geral do Estado; são notáveis as consequências resultantes da falta de fontes alternativas para responder os actuais desafios, por via da baixa do preço do petróleo no mercado internacional. O também Director do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola advoga que a ausência de fontes alternativas imediata, remete o país para uma situação «séria de crise» que vai exigir à maioria do povo grandes sacrifícios. «Como sempre em todas as crises e em todos os países é no elo mais fraco onde as coisas quebram» frisou.

fome1.jpg Os sacrifícios já começaram a ser sentidos pelos agricultores dos Gambos, no interior da província da Huíla, conforme informa o Padre Pio Wakussanga, da Associação Construindo Comunidades. O sacerdote apontou a emigração dos jovens do Kuvale, Hakavona, Mhambue e Mwila para Luanda, e outras partes do território angolano à procura de melhores condições de vida, mas o sonho nem sempre é realizado.

fome7.jpg Com a desaceleração da economia, o padre Pio Wakussanga diz-nos que a problemática da fome persiste na província da Huíla o que obrigou muitas pessoas a recorrer aos frutos silvestres para se alimentarem. A falta de apoio das autoridades é revoltante. As comunidades mais afectadas, segundo o Coordenador da Associação Construindo Comunidades são o Kuvale e Hakavona, do grupo etnolinguístico Herero. «Com a fome vem a desnutrição, vem a subalimentação e, vêm outros problemas que ela provoca, vem as tensões entre grupos... A fome está a atingir idosos», afirmou.

fome2.jpg Vários são os projectos criados pelas autoridades a fim de promover o combate à fome e a pobreza, porém alguns não alcançam o sucesso desejado. Yuri Chipuio é Director Nacional de Apoio ao Combate á Pobreza do Ministério do Comércio e falou sobre estes projectos que inclui a constituição de lojas e a oferta de kits diversos às populações mais carenciadas do interior. Em face desta situação económica, o docente universitário Josué Chilundulu defende que é necessário sair do discurso para a prática. Chilundulu advoga a exploração das terras férteis em Angola para além dos recursos marítimos e minerais para a melhoria da qualidade de vida.

fome4.jpg A aposta num ambiente de negócio que garanta a diversificação da produção nacional é uma das melhores saídas para a situação socioeconómica precária que o país experimenta. Josué Chilundulu defende a melhoria dos indicadores sociais, a necessidade de fomentar o desenvolvimento do tecido social e humano. Para o académico «é muito triste vermos os angolanos a sofrerem com pobreza quando se esbanja dinheiro para coisas fúteis que só agradam aos governantes.

fome8.jpg «Nós temos o Caminho de Ferro de Benguela que dá acesso a zona do Congo Democrático e a uma parte da Zâmbia que não tem mar» e nisto, disse o docente o país precisa de “tirar proveito das vantagens perante seus vizinhos”. A aposta na agricultura familiar, na criação de um banco de dados, na introdução de novas culturas agrícolas, serão as alternativas recomendadas pelo Coordenador da Associação referida. «Os apoios chegam atrasados, as sementes não chegam atempadamente, não há um banco de dados que nos diga que precisamos de X toneladas de alimentos para dar a X pessoas, de X toneladas de sementes e qual o tipo de sementes», lamentou.

As opções do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:37
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Quinta-feira, 9 de Outubro de 2014
FRATERNIDADES . LXIX

ANGOLA – HUILA – N´DIGIVA  Ongweva na cascata da Hungueria

Por

torres8.jpgEduardo Torres

torr1.jpgCada um de nós é um pedaço da história vivida em Angola, não interessa a importância que possa representar, ela por si só, vale o que vale, e esse valor não lhe pode ser retirado. Já, que nos tiraram tudo, ao menos deixem que o tempo não apague a nossa presença em Angola. Respeitem, ao menos, a saudade, a ongweva. Estou tranquilamente sentado, aqui no meu sofá do M´Puto preferido, após o regresso de um passeio e, lembrei-me casualmente da possibilidade de escrever o nome de todos os pássaros recordando a felicidade de catraio lá no Lubango, um teste à minha memória.

torr8.jpgtorres 6.jpg

Começo pelos pardais, as tintenas num võo de equilíbrio e rasante sobre o capinzal, os bom-senhores, os bicos de prata e de lacre, os bigodinhos, as viuvinhas do Humbe, os cardiais, os canários, os bituites, catuites ou peitos celestes, as zanguinhas, os papa-figos, as chiricuatas, as bengalinhas, os periquitos republicanos, os beija-flores ou colibris, os caramanchões, as rolas da madeira, os pombos verdes, e talvez me venha a recordar de mais alguns, mas por agora esgotei o repertório. Recordo-me da primeira vez que visitei a cascata da Hungueria. Muito jovem ainda, numa altura em que o asfalto era apenas uma miragem, para lá chegar tinha-se que abandonar a viatura bem longe, caminhar-se por uma vereda de pedra solta, piso difícil, por entre o arvoredo onde o chilrear da passarada era uma constante.

torr4.jpgtorr2.jpg

E, depois desembocar num lugar de sonho, com a água límpida a cair em cascata, por entre o granito escuro, cair imparável para formar um pequeno lago salpicando a água por entre os espaços da pedra, até se perder na terra sequiosa. Lembro-me de ter ficado espantado com tanta beleza; talhada rudemente no granito, uma obra secular e duradoura; não me cansei de a olhar, ao ponto de ainda hoje a ver em pensamento, magestoso, tal como da primeira vez que a vi. Recordo-a frequentemente com saudade quando algo me perturba! Sua grandiosidade reside do como surgiu, sem que a mão do ser humano ali interviesse. Voltei lá mais vezes, mas nunca mais tive a sensação de ser surpreendido como fora na primeira vez, tão jovem ainda, que das outras pouco me lembro, e dessa, nunca me esqueci

As opções do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:15
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Terça-feira, 29 de Julho de 2014
FRATERNIDADES . LXIV

África profundaNo topo da Serra da Leba 

Por

Eduardo Torres Eduardo Torres

  Na vertigem do tempo as recordações quando fortes não se perdem da memória. Relembro o meu lema na estrada: quem andar mais depressa do que eu ultrapassa-me, quem andar mais devagar, será ultrapassado! Não altero a média que pretendo fazer, por andar de acordo com o que os outros andam... Tive oportunidade de ver uma fotografia publicada na página do amigo José Melo, da Capelinha da Senhora do Monte e, recordo-me de quantas vezes subi até ela, galgando a enorme escadaria e, hoje, sinto que mais vezes o deveria ter feito! Estive vezes sem conta no lugar da Esplanada Capela, com o Rogério de Castro e o Homero de Figueiredo, acompanhando as obras do projecto do Arquitecto Ludovice; Ruivo era o encarregado das obras da Câmara de Sá da Bandeira. Fui eu e o Homero, que no local da sua implantação, colocamos a Bandeira a ser descerrada no acto de inauguração.

 A minha ligação àquela terra, é tão forte, não apenas por lá ter nascido e feito a minha vida, mas porque estou eternamente ligado a acontecimentos que me marcaram a vida profissional, tais como a estátua de João de Almeida, o busto do governador Silva Carvalho, junto ao Bairro de Sto. António, o elemento em memória do Marquês de Sá da Bandeira, alguns deles, já vandalizados, quando deveriam figurar num qualquer museu a contar a história da colonização, os bairros Camisão, de Sto. António, do Benfica, e outros de menor dimensão; também as centenas de projectos de moradias, ou blocos mistos, que deram origem a construções que ficaram lá com a minha marca e a do Cido Conde, do qual me orgulho por ter contribuído; ajudar a crescer no desenvolvimento a terra que me viu nascer.

J   Algo que nesse então, tinha esse dever e, cumpri-o com o que me foi possível; nem os meus filhos e meus netos, sabem quantas moradias, quantos blocos nasceram de projectos elaborados até às tantas da noite … Nem é isso que interessa! O que subsistiu foi o meu prazer de ter contribuído, tranquilidade da minha consciência ao invés do que muitos dizem. Sim! Muitos afirmam que todos nós estávamos ali para roubar os indígenas e, se casos hão, e houve, eu e muitos em nada disso contribuímos para além do sistema colonial da qual não éramos achados. Até desconhecíamos que éramos os veículos dessa politica! Também acho que a rebelião ao estado de submissão da colónia era evidente e, isso também me ruía e, no entanto tudo me passou ao lado, contrafeito e revoltado com os senhores do mando que lá longe, dum terreiro do Paço que desconhecia, que de lá muito longe, destruíram milhares de vidas mas, não quero ir por aqui! Este raciocínio atormenta a minha teoria do esquecimento, nada fiz de mal, nada me atormenta!

(Continua…)

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:23
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Sexta-feira, 25 de Julho de 2014
FRATERNIDADES . LXIII

África profunda - Subindo a Serra da Leba 

Por

Eduardo Torres E Eduardo Torres

 Quando se começava a subir a serra da Leba, pela estrada antiga, a caminho de Mossâmedes, atingindo o ponto mais alto, para depois começar a desce-la, era um espectáculo deslumbrante, ver muito ao fundo, a Humbia com as suas casas em miniatura, e a estrada, de terra batida com muitas pedras, a serpentear, surgindo cada curva com um precipício paralelo à encosta, e ver o arvoredo como escorregando por ela, cada árvore tornando-se mais pequena, consoante a distância da descida, ia aumentando; os travões eram só para aconchegar, porque era a caixa de velocidades que funcionava, como controle da viatura.

  Uma serra perigosamente difícil de descer ou subir, mas um traçado, todo ele de encanto e de uma beleza, tão natural como espectacular. Com o novo traçado da estrada asfaltada, num trajecto diferente, não vou dizer que a viagem perdeu encanto, mas desapareceu aquele espírito de aventura, porque se alteraram profundamente os condicionalismos, oferecidos, quer num caso, quer noutro. Aquele pedaço de África, deixou de ser uma fera livre, passou a ser parcialmente domesticada, pelo progresso. Deixou de ser ela determinante no tempo de uma viagem, fomos nós que passamos a beneficiar dessa vantagem, a determinarmos o tempo que cada um poderia percorrer determinado percurso. Hoje, que o tempo já passou, e talvez por isso, sinto mais saudades do das dificuldades do que o da fartura. Um, por se tornar demasiado fácil, quase não de dá por ele, o outro, porque é o inverso, nunca mais se esquece.

Mal comparado, é como um indivíduo habituado à cidade e que por qualquer circunstância, acaba por ir viver para o mato, comerciante, talvez, nos primeiros tempos, vem com assiduidade a cidade, sente a falta dela, vive fora do seu habitat. Mas o tempo vai passando, atrás duns anos, outros virão, e muda completamente o sistema de vida. Torna-se numa espécie de animal selvagem, ganha os princípios da liberdade, aprende os segredos da selva, mata um animal para comer uns bons bifes ao almoço, e já só admite visitar a cidade, por necessidade, quanto mais viver nela. Como animal de hábitos, os seus, alteraram-se profundamente! Angola foi-se habituando ao progresso, porque nós tínhamos necessidade dele. Ela foi-se moldando aos nossos interesses, e as histórias de antigamente não passam mais do que isso. Ficaram as saudades delas, porque foram vividas numa época diferente, porque diferentes eram os tempos. A saudade é um sentimento, cujo tempo de validade termina ao mesmo tempo que o ciclo de vida.

(Continua…)

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:34
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Domingo, 9 de Março de 2014
MOKANDA DA LUUA . XXIII

ANGOLA HUILA . O REINO DOS “CAMURÇOS

Por

  Dy - Dionísio de Sousa  (Reis Vissapa)

Se havia algo que era um símbolo de convivência social naquele longínquo planalto da Huíla eram as vilas que rodeavam o Lubango e onde cresceu e morou tanta gente boa. As minhas raízes são “Chibienses” e “Huílanas” algo que me dá e sempre dará imenso orgulho. Eu e o meu primo Jinguba temos muita coisa para contar acerca dessas datas festivas, diria mesmo coisas do arco-da-velha. O encanto dos bailaricos era muito mais apelativo e vencia com facilidade qualquer resistência mais temerosa. Os recintos de festa eram todos irmãos gémeos em matéria de arquitectura e decoração desde a Bibala, Humpata, Chibia, Palanca, Caconda, Caluquembe, etc.

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De forma rectangular, telhado de capim e estrutura em madeira de aspecto rústico. A decoração também não fugia à regra com correntes de argolas de papel de seda partindo do centro e atravessando os salões em todas as direcções. Os bares com uma série de tábuas empoleiradas em barricas de vinho, faziam as vezes de balcão, uns tantos alguidares de cores garridas para lavar os copos com um camarada respeitável para servir a clientela. Na entrada para o recinto, estreita e única, estava outro cidadão cobrando uns patacos por uns bocadinhos de papel de cor indefinida a servir de senhas. Tudo de um encantamento invulgar; mesas dispostas ao redor da pista ornadas com jarrinhas com malmequeres silvestres.

 O grande virtuosismo destas festas, eram as orquestras ou conjuntos dependendo do elitismo da comissão organizadora. As bandas eram compostas de músicos que de pai para filho, se foram dedicando à sanfona, bateria, violão e até ao violino ou trompete. Os microfones gemiam de dor fazendo ranger os dentes aos dançarinos. Após o um, dois e três os músicos, cada um para seu lado iniciavam com a marcha da Carmélia Alves sucedendo-se Luís Gonzaga num baião sertanejo. O “Calhambeque” do Roberto era apoteose total do pessoal acelerando nas Cucas e Nocais e o ambiente tornava-se demasiado volátil, propício à confusão; a nossa perna ousava-se entre as pernas das meninas num baião forrobodó. A marcha, não permitia muita aproximação aos “Maboques” das meninas, coisa chata. Por serem precedidos por jogos amigáveis do futebol da tarde entre “Nativos” e “Estrangeiros” do Lubango, era vulgar aparecerem no recinto umas carolas enfeitadas com ligaduras e não raro uns braços ao peito.

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- Porque raio é que o Mosca o nosso guarda-redes havia de se lembrar de atravessar o campo todo e marcar o décimo segundo golo aos Camurços? Onze zero já chegavam muito bem. – Comentou o Jinguba que tinha no cocuruto uma cicatriz de trinta e dois pontos fruto de uma pedrada de um fanático do Humpata Futebol Clube. Duma vez, a turba enfurecida atrás do autocarro arremessou tudo o que tinham à mão, desde o vulgar calhau, garrafas de Macieira vazias e até cadeiras; nesta feita, o Jinguba amolgou-se. Outra vez e, em Caconda onde cumpríamos o serviço militar foi agendado um jogo de futebol de salão entre os Magalas e os “ Nativos” escolhidos na rapaziada local. Um comerciante da terra e velho amigo dos meus tios fez questão de convidar a nossa equipe para uma almoçarada de leitão à moda da Bairrada. Uns Martinis de entrada e algumas garrafas de Cartaxo deixaram-nos maravilhados e gratos. Eu conhecendo histórias da “Peça” devia ter desconfiado de tanta gentileza. Estávamos a envergar o equipamento quando o Jinguba deu o toque a rebate borrando-se pelas pernas baixo e dando inicio a um corrupio geral às latrinas do quartel que acabaram por entupir com tanta caca. Claro que anémicos e desidratados levámos uma coça de seis a zero dos “Nativos de Caconda”.

 Certo dia, sem nada de interesse no Lubango resolvemos ir ao arraial do “Reino dos Camurços”. Eu e o Jinguba montámos no meu Mini-Moke e lá fomos empinocados para a Humpata com camisinhas de botãozinho no colarinho e calças à boca-de-sino e claro,… Brilcream para sustentar as popas. O recinto estava praticamente vazio mas, havia uma quantidade aceitável de moçoilas que nos olharam com alguma cortezia. Tudo foi bem até o Nelson Ned começar a entoar no gira-discos, “ Tarde de Domingo”. Quando o romântico brasileiro se calou o descontentamento estava estampado no rosto dos velhos e das velhas que não tinham apreciado lá muito a nossa maneira de agarrar suas filhinhas, convenhamos com algum aperto. Fiz sinal ao Jinguba para irmos até ao bar e de caminho segredei-lhe que o ambiente estava pesado… pronuncio de desgraça.

Sandula - Caluquembe: CALUQUEMBE – De povoação a vila ... Os bravos de Caluquembe

Nestes lugares, toda a gente é família… Um é primo de Beltrano que por sua vez é primo de Sicrano e por aí fora; por essa razão não é fácil arranjar aliados em tempo de fuga.

 - Duas Cucas por favor. – Solicitou gentilmente o Jinguba, tendo presente na memória o azarado jogo de futebol. O cavalheiro de suíças longas, pele curtida e um farto bigode negro olhou-nos como se fossemos uma praga de salalé, enquanto retirava de uma celha apinhada de gelo as duas cervejas. Pespegou com elas na tábua do balcão com tanta força que foi um milagre não se estilhaçarem; este gesto ameaçador devia-nos ter alertado para encetarmos uma fuga a duzentos à hora. Quando o Jinguba em má hora pediu dois copos ao Humpatense e estes os colocou à nossa frente sujos de vinho, senti um arrepio na espinha - Mas esses estão sujos de vinho; reclamou à cautela o meu amigo - Estão quê? Eu já te dou os sujos. – Rosnou o Camurço. Não pensei duas vezes, larguei uma nota de cinco escudos no balcão e gritei ao Jinguba: – Foge que se faz tarde “mermão”. Acho que bati a milha até à porta estreita do recinto onde levei um pontapé nos fundilhos do primo do Bigodes. Abençoado Mini-Moke que não tem portas e onde entrámos de mergulho. O ponteiro bateu nos cento e oitenta a descer a serra.

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Soba T´Chingange



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Terça-feira, 21 de Janeiro de 2014
MOKANDA DA LUUA . XXI

ANGOLA JOANA MISSANGAUMA HISTÒRIA D AMOR

Por

 Dy - Dionísio de Sousa  (Reis Vissapa)

O conto de hoje pode dizer alguma coisa a algumas pessoas.

Os dois longos anos de comissão em Angola tinham sido passados entre o Úcua e o Piri e algumas raras surtidas a Luanda quando recebia o pré. O lugarejo, encravado na serra da Lousã onde nascera e onde vivera até á a maioridade, tinha-se eclipsado da memória desde o dia em que o Uíge acostara o corpanzil de aço ao cais da capital angolana para um merecido descanso, depois da longa travessia do atlântico, carregando no bojo milhares magalas de pela rosada e fardas de caqui. O coração soltou-se do meu peito e palpitou feito vadio por entre as palmeiras do Paulo Dias de Novais, nadando alvoraçado nas águas cálidas da baía. O cordão umbilical quebrou-se naquele instante de magia rara.

Ficus thonningii Meti consciente o requerimento para ficar em Angola. Para trás apenas parentes afastados que tinham encarado a minha orfandade como um gasto adicional e inesperado. Rumei para sul na rota imaginária dos sobreiros e pinheiros da serra continental e acabei no planalto da Huíla deslumbrado com a sua ossatura majestosa, as suas cascatas, os grotescos embondeiros e a sombra benfazeja das suas mulembas. A loja do mato era pequena mas era minha. Duas portas, três janelas e a cor de tijolo pespegada nas paredes para disfarçar o pó da terra vermelha e fértil. No pátio interior, a cacimba namorava uma mulemba gigante que sombreava a cozinha edificada no exterior. Pela madrugada os bois gentios mugiam clamando por liberdade e pasto, chocalhando as hastes enormes. O odor da terra embriagava-me quando madrugava para os soltar.

 A primeira vez que ela se aproximou do balcão com a timidez de uma gazela, os meus olhos perderam-se no seu colo ondulante bordado com um humilde colar de missangas. A pele mulata não permitiu o vislumbre de qualquer rubor, mas as pestanas negras ocultaram por segundos as íris cor de erva e só voltei a vê-las quando me pediu para lhe vender umas tantas contas de vidro colorido. Depois de rebuscar por entre os rolos de tabaco de odor almiscarado, os remendos para as bicicletas, as samacacas e frascos de brilhantina ofereci-lhe as miçangas rejeitando a nota que ela me queria dar.

 Foram tempos inolvidáveis. De mãos entrelaçadas víamos o sol deitar-se ao embalo da chilreada dos tentilhões e do arrulho namoradeiro das rolas. O Padre Mateus obrigara o Luís Chaves e a Joana Barros a sacramentarem o seu amor na igreja da vila. Nessa noite a lua nasceu deitada, preguiçosa pronta a ser emprenhada pelo céu estrelado. Estou no meu lugarejo encafuado algures na Lousã. A menina de pele trigueira e olhos cor de erva folheia o álbum de fotografias desbotadas. – Quem é esta? – É a vovó – Como se chama – Joana Missanga como tu. – Está aonde? – Está lá longe onde a lua nasce deitada. - Porquê que não está aqui, porquê que estás a chorar vovô, estás a molhar a fotografia. – Pronto não te deixo ver mais.

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Sábado, 4 de Janeiro de 2014
MOKANDA DA LUUA . XX

ANGOLA A MUTOPA DO SECULO KINJONGO

Por

  Dy – Dionísio de Sousa  (Reis Vissapa)

Pirilampo entrou a correr desenfreado no kimbo do século Kinjongo como se tivesse dado de caras com uma Kazumbi ao atravessar o rio Capitão, zona mal afamada onde constava que volta e meia as almas penadas em grande abundância infernizavam as noites. Os gritos entrecortados com soluços engasgados alvoroçaram o pessoal das cubatas que deveriam ouvir-se lá para os lados do Santo António. O meu amigo Pirilampo estava literalmente siderado. As pupilas negras pareciam dois mirangolos maduros e o branco dos olhos duplicara, as lágrimas abundantes desciam em cascata pelas faces negras misturando-se com o muco opalino que teimava em escorrer das narinas. As primeiras varejeiras já começavam a esvoaçar em redor da cara lacrimejante do Pirilampo antevendo uma refeição fluida. A Josefina que moía grão no pilão, parou a sua actividade e o Elias Linguiça libertou-se da sua mangonha habitual, ambos com uma curiosidade reticente. O velho século Kinjongo nem se mexeu da cadeira manca de assento em pele de boi. A mutopa jazia indolente entalada na boca caboba, deixando escapar do fornilho um fumo indelével que atravessava as faces rugosas perdendo-se nos olhos semi-cerrados do velho século.

 - Eu vai morrer tia, eu vai morrer mesmo, gritava o Pirilampo. – Todo o mundo vai morrer, Surucucu te picou, ou quê? – Comentou fleumático o mangonheiro Linguiça. - Vai morrer mesmo, vai morrer mesmo Elias. – A voz sumida do meu amigo situava-o já às portas do céu. Tudo começara com uma caçada aos cardeais que pejavam um charco das redondezas. Depois de muita fisgada sem sucesso, pois as aves escarlates resguardavam-se com esperteza no canavial, resolvemos seguir em direcção ao solar da Prima Rosa onde abundavam T´chiricuátas, Tentenas, Bicos-de-lacre e outra caça mais acessível. Caminhávamos descalços pelo carreiro evitando com destreza as makutas e o feijão maluco, quando uma sombra pairou por segundos sobre a cabeça do Pirilampo numa espécie de mini eclipse, perdendo-se em seguida em direcção à serra. O meu amigo negro ficou cinzento quando viu que a enorme águia que descrevia círculos planando na imensidão dos céus e a que chamávamos Manta, fora esta a causadora do sucedido.  

 Rezava a lenda que numa situação destas o atingido por esta sombra malévola da dita Manta deixaria sem apelo nem agravo este mundo numa questão de dias, e os candengues mais velhos passavam a vida a avisar-nos deste perigo eminente. Esclarecida a tia Josefina, o Linguiça e o século Kinjongo de tão grande desgraça, o Elias alvitrou que talvez não fosse má ideia fazer um Zumbi para salvar o Pirilampo dos quintos do inferno. Esta sugestão não era de modo algum inocente, pois tal cerimónia significava que uns bons litros de Macau, umas garrafas de vinho Royal e o abate de um dos bois do Kinjongo podiam abalar a pacatez chata do Kimbo e melhorar o habitual menu de pirão e esparregado de Lombi. Nos olhos do meu companheiro de caça acendeu-se uma luzinha de esperança e manifestou a sua gratidão ao mangonheiro com sucessivos – Muito obrigado tio, muito obrigado tio. Com as costas da mão deslocou metade do ranho para a bochecha direita e outra metade para esquerda. Foi então que o século Kinjongo abandonou o seu estado aparentemente cataléptico, tirou a mutopa dos beiços carmíneos e chamou o Pirilampo, que respeitosamente se aproximou dele com as mãos inquietas esfregando uma na outra e o olhar cabisbaixo de um garrote pronto para o matadouro.

 O século passou-lhe o cachimbo mutopa para as mãos e ordenou-lhe que inspirasse a maconha com força durante uns dez minutos que quase certo se libertaria de tão terrível maldição. Acho que o Pirilampo andou tonto durante uns dias com o milongo do Kinjongo mas graças a Deus continuou vivinho da silva acompanhando-me nas caçadas aos cardeais. O Linguiça, falhada a tentativa de um forró, voltou a hibernar na sua esteira de caniço espalmado. Relativamente à Josefina, à falta de melhor, lá ia cozinhando na sua panela de barro negro pirão de massango e esparregado de Lombi. Quanto a mim, ainda hoje quando vejo um passaroco de dimensões invulgares a planar nos céus deste mundo, apresso-me a esconder-me no alpendre mais próximo, é que aqui na terra dos brancos não há daquela maconha milagrosa que fumegava na mutopa do século Kinjongo.

Reis Vissapa

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Sábado, 3 de Agosto de 2013
MUSSENDO DO PUTO . XXX

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 KIMBO LAGOA                       

ENCONTRO DE CHICORONHOS

Por
  Dy – Dionísio de Sousa  (Reis Vissapa)

Um abração para todos, do Dionísio… Cheguei!

Já lá vão trinta e muitos anos que o fenómeno se repete anualmente. As gentes da minha terra aguardam o segundo fim-de-semana de Julho, com a mesma sofreguidão com que os brasileiros aguardam o carnaval. Muitos montam o acampamento logo à sexta-feira na mata de D. Leonor onde as faias curvadas pelo vento substituem os “Mucibes”, os “Embondeiros” e as “Mulembas” da nossa terra. Venho sempre carregando os fantasmas que me atormentam há décadas em busca dos duendes e das fadas que iluminaram a minha juventude e o passado distante. Vejo-os chegar galhofeiros carregando as merendas e chilreando estórias como um bando de andorinhas em migração. Já foram milhares, hoje são menos. Lastimo os que já partiram para as terras do Kaprandanda, mas lastimo mais os que deixaram de vir sabe lá Deus do porquê.
 Faz anos que temos o lugar marcado onde quatro dezenas ou mais de amigos partilham a euforia do momento. Cada família traz o que a sua condição financeira permite, mas todos sem excepção trazem o espírito limpo, uma predisposição única para gozarem o momento e partilharem estórias. Por norma procura de imediato os meus companheiros de infância, o Joaquim a Aleluia e o Humberto. A Aleluia tem uma filha casada com um polaco e desse enlace nasceu um neto que eu alcunhei de “Polandeiro” a simbiose entre “Mapundeiro” e “Polaco”. Tenho de gerir bem o tempo para dar abraços, conversa e emoção a todos os que chegam. Do palco já montado, o Capelão busca no órgão as primeiras notas para a rebita da noite; um verdadeiro ícone desse maravilhoso evento. Exclamações diversas sucedem-se. – Tu estás velho irmão – Já não te via desde a escola sessenta. – Eh pá conheço a tua cara, mas já não me lembro do nome. – Sou o fulano filho do sicrano da Mitcha. Etc, etc.

 Vamos ver as minhas primas de Capangombe, convido eu. E eis que encontro o Pintinho e tal como nos anos transactos pico-o: – Este camarada punha chumbadas na barriga dos “Boca Larga” para aumentar o peso dos bichos e assim ganhar uma taça no concurso de pesca da barragem de Quipungo. – E tu apanhavas o peixe à sexta-feira e guardava-los na água para o apresentares no concurso de Domingo. Vigarista! Mais à frente o pai do Chico, grande amigo de sempre, o velho Magalhães do Kaviongo” – Está quase cego diz-me o Chico, mas olha que ele conhece-te bem. Os primeiros números do quino rasgam o éter. – Dois patinhos, dois, dois, vinte e dois. É quase impossível não regressar às festas da senhora do Monte. Encontro o Faria, o Correia, o Roque e outros tantos a quem presto a minha mais sincera homenagem por manterem de pé este evento. – Não te esqueças de pagar as quotas. Diz-me um deles. É uma amálgama de gente, milionários, ricos, médios, médios baixos e pobres. Pretos, mulatos, brancos e interinos, epíteto que um amigo meu usa quando o chamo de mulato do C..... – Eu sou interino, estou à espera de ser branco. Diz-me sem preconceitos nem complexos.

Foto À noite a rebita arranca a um ritmo arrasador. Massemba, merengue e salsa para dar vender e pelo meio as marchinhas lusitanas que fazem levantar o pó. E é nesse recinto onde se dança que se vê a minha Gente, que se mistura como sempre se misturou, que se diverte como sempre se divertiu, que usa e abusa dos “Etílicos” como sempre abusou e a que em todos anos que participei deste acontecimento, nunca vi uma desordem, uma escaramuça, uma falta de respeito, ao contrário do que acontece quase sempre em locais de diversão deste fatídico país. Fico orgulhoso dela quando homenageiam os mortos na missa de Domingo e faço uma prece para que eles estejam nas chanas de Deus lá na nossa África distante. Quase quatro décadas e nunca “Os Vendilhões da Pátria” deram importância alguma a este maravilhoso encontro. Lastimo-os e desprezo-os, tinham muito a aprender com todos nós.

Reis Vissapa

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Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:00
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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